Chapter 1: Você sabe que conhece essa música!
Chapter by MasterTenie (Asttralhell)
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Mamma mia, here I go again
Capítulo 1 – Você sabe que conhece essa música!
Os deuses abençoaram Skopelos com mais um dia perfeito de sol naquela manhã de Abril.
Porém, Aphrodite acordara pensando que bem que eles poderiam tê-lo abençoado mesmo era com uma enxurrada de dinheiro.
-Mas bem que mamãe me disse que eu ia terminar assim, devendo até as calças – resmungou, o quadril encostado na pia baixa demais da pequena cozinha, segurando uma caneca de café em uma mão, enquanto a outra repousava em um dos muitos bolsos do macacão jeans.
Sorriu ao pensar que, pelo menos, sua mãe jamais imaginou que ele fosse ficar miserável naquela bela ilha mediterrânea, em um hotelzinho adorável e com dois filhos maravilhosos.
Pensando bem, se isso era estar na pior...
Aphrodite não pensou mais naquilo, porque não queria chegar à conclusão de que, na verdade, estava bem na pior mesmo.
A ilha era linda, tinha sido locação de um musical famoso, mas ele não viu dinheiro nenhum da coisa toda; o hotel era maravilhoso há 20 anos, quando o comprou, porque agora estava caindo aos pedaços.
Só não tinha nada que reclamar dos meninos – seus meninos, pensou, todo sorrisos.
Ikki era um pouco voluntarioso, às vezes até um tanto bruto, isso era verdade, mas ele não deixava de ser um menino bom. Dite não andava muito contente com o casamento do primogênito com aquela menina da ilha, Esmeralda, mas todo pai quer mais para os filhos, afinal.
Shun, por outro lado, era um menino adorável e com jogo de cintura social, nem parecia que tinha sido criado por ele junto com Ikki. Parecia um santo, com aqueles olhões escuros dele, mas vivia para cima e para baixo com aquele rapaz, Hyoga, e os dois viviam num tal de pegar sem se apegar com metade da ilha.
“Pelo menos, ele me jurou que usa camisinha”, pensou Dite, evitando pensar que ele também vivia pegando sem se apegar na idade deles, mas agora que era um velho cinquentão, ele achava os jovens tão... Jovens.
No rádio, os primeiros acordes daquela música animada que ele adorava quando era mais moço. Aquela... Como era o nome? Pelos deuses, como pôde se esquecer? Aquela música!
-Kära nån! – exclamou, dando um soco inconformado no ar – Como é possível?
O café tremulou dentro da caneca, o que fê-lo conter um pouquinho a euforia de sua não-lembrança. Resmungou que deveria ser a idade.
-Que idade, pa? Você é jovem ainda!
Dite deu um sorriso para seu caçula, tão alto quanto ele mesmo, os cabelos castanhos presos em um rabo-de-cavalo. O rapaz tinha alguma coisa em sua expressão, algo diferente.
-Tá com cara de quem aprontou, menino – ele segura seu rosto por um momento, olhos espremidos.
-Aprontando? A essa hora da manhã, pa?
Ah, aqueles olhões! Ele entendia bem como Hyoga fazia o que o menino queria.
Ele riu, convencendo-o ainda mais de que o filho tinha culpa no cartório sim!
-Aiaiai, você sabe que eu pego essas coisas, né? Vocês aprontam, mas, ó – ele disse, esticando a mão vazia para o filho – as coisas vêm na minha mão!
-Uhum, pa, você é onipresente e onisciente nesta ilha.
Aphrodite reitera que está certo e eles sabem disso, enquanto os dois seguem sua rotina matinal, permeada pelo som de colheres e xícaras e reclamações pontuais sobre coisas da vida.
-Você lembra o nome dessa música, Shun?
-Dancing queen, pa. É bem da sua época.
Aphrodite endireitou-se em seu lugar, fingindo ultraje.
-Escuta bem aqui, menino! Minha época foram os anos 90, eu era muito menininho quando essa música saiu. E eu lembro porque como você esquece a primeira vez que você ouve Dancing Queen?
-Pode esquecer a última vez, mas a primeira – Shun ri.
-Shush, menino – Dite acertou-o com um pano de prato – Eu te espero pra me ajudar com aquelas janelas do segundo andar, ok?
-Precisa ser cedo? Eu vou encontrar o Hyoga e-
-Ih, já vi tudo – falou, batendo as costas de uma mão na palma da outra.
-PA! – Shun exclamou, chocado com a audácia, ficando vermelho até às orelhas.
Os dois se encararam em perfeita imobilidade antes de gargalharem.
Dite abanou-se, ainda rindo.
-Escuta, depois do almoço, então. Mas precisa correr com isso, temos algumas semanas até o casório do Ikki e eu quero deixar esse hotel resplandecente!
Ele bagunça os cabelos de Shun e lhe dá um beijo na testa antes de sair para mais um dia de trabalho.
Shun torce a boca, um tanto contrariado. Ele e Hyoga se davam bem – e, como diriam os mais velhos, se davam bem com as gatinhas, os gatinhos, es gatinhes – mas não era nada tão tórrido quanto as pessoas ao redor deles pensavam.
Às vezes, era. Às vezes, não era nada.
Parecia que as pessoas esqueciam como era estar com alguém! Nem tudo é sexo selvagem e comida boa, pô!
Porém, não era para dar uns amassos que eles iam se encontrar daquela vez.
A turma toda ia se encontrar na praia para discutir a vida e as artimanhas do excelentíssimo Aphrodite Magnusson, com 50 anos quase recém-completados, querido dono do hotelzinho mais maltratadinho de Skopelos.
E é isso o que você ganha por guardar diários velhos e um monte de tranqueiras do passado: seus filhos descobrem seus diários de juventude, em que você conta tudo sobre os seus três ex-namorados, e sobre como sua irmã furou seu olho três vezes consecutivas.
Mas família é família, né?
A gente perdoa.
Certo?
Bom, sim. Às vezes. Mais ou menos. É complicado.
O que a história de Dite e suas três paixões tinha de muito era confusão, nem os envolvidos estavam muito certos do que aconteceu.
Mas era algo mais ou menos assim:
Aphrodite era o filho único de um importante diplomata e sua esposa engajada em filantropia.
No verão de seu primeiro ano, os pais adotaram Michiko Kido, a órfã de dois anos de um casal amigo que falecera. Assim, os Magnusson viraram uma linda família de capa de revista, com seu casalzinho sempre vestido combinando, frequentando as melhores escolas e os maiores bailes de caridade, o casamento perfeito.
Dite e Michí eram inseparáveis, mas irreconciliáveis. Muito diferentes, esses dois, diziam.
E eles sabiam. Mas se amavam demais e viviam grudados.
Eis que chegou o verão de 1996 e Aphrodite conheceu Lino Vitali – cujo nome de batismo Aphrodite repetiu mil vezes quando eles terminaram, de ódio e de tristeza. Lino era um italiano lindíssimo, mas metido a não poder mais.
Ainda em 1996, Dite conheceu um espanhol chamado Shura Delgado, que trabalhava igual um louco na discoteca que os irmãos Magnusson frequentavam.
1996, Estocolmo: Aphrodite conhece Milo Diakos, um grego muito relaxado até a página dois, como bom escorpiano. E incrível na cama, como muito escorpiano.
Cada um desses belos exemplares de homem também conheceu Michiko Kido-Magnusson, e aí... Aí só lendo para saber!
E tudo bem, afinal, o próprio Aphrodite escreveu tudinho!
Chapter 2: Conta mais, conta mais
Chapter by Asttralhell
Notes:
Obrigada à pessoa anônima que deixou kudos no primeiro capítulo mais de 4 anos depois de eu postar. Depois disso, a ideia de levar à cabo a fanfic dos meus sonhos não parou.
Dedicado à Tharys, com quem escrevi muitas coisas e aprendi várias outras.
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-Ele saiu?
-Saiu – Shun respondeu, tão atento aos sinais de uma possível volta de Aphrodite que se surpreendeu quando Hyoga o beijou.
-Bom dia pra você também – ele disse, dando-lhe aquele sorriso de canto.
-Vamos, não temos tempo para folgar, Hyoga – ele ralhou – se ele imagina o que a gente tá fazendo, meu pai vai enfartar!
-Claro, baby, desculpa – ele diz, enlaçando-o pela cintura – os meninos já, já estão aqui.
Shun rolou os olhos e tambolirou os dedos nos braços de Hyoga. Olhou para um lado, depois para o outro, e tascou-lhe um beijão de tirar o fôlego.
Foram interrompidos por um pigarro irritado.
-Aí o velho cola aí, e a gente diz o que pra ele, Shun?
Ikki crispou a boca como só ele. Impaciente, sempre.
-Ah, Ikki, não ia ser a primeira vez que ele pega a gente se pegando. Isso aqui ia ser o de menos de explicar!
Ikki estreitou os olhos, sentindo aquela fúria ardente que só um irmão mais velho que acaba de perder para o irmão mais novo consegue sentir.
-Ele tá aqui? – sussurra Seiya, cauteloso.
Ele era sempre acusado, e com razão, de dar muito na cara quando eles aprontavam quando moleques. Então, ele se esforçava para ser o menos suspeito desde sempre – sem sucessos.
-Não, né, mas se a gente ficar de conversa, ele é capaz de chegar – Ikki reclamou, puxando Seiya e Shiryu para dentro da cozinha iluminada pelo Sol.
-Aoba, povo – Shiryu começou – me explica de novo pra que a gente vai assaltar o passado do tio de novo. É pra uma daquelas homenagens com foto? O único projetor da ilha pifou faz tempo.
-A gente quer achar o nosso pai – Ikki disparou na lata.
-O seu pai, Ikki – Shun corrigiu – eu tô bem de boas com o pa que eu já tenho.
-Mas... Pra quê?
A pergunta era uma unanimidade entre Shun, Hyoga, Shiryu e Seiya.
Aphrodite tinha sido nada além de um pai dedicado e esforçado todos aqueles anos, mesmo sendo, na verdade, tio deles. Mas pai é quem cria, o que era muito claro para Shun especificamente.
O que todo mundo achava um pouco estranho: como um escandinavo branquelo, de olhos azuis e loiríssimo era parente de dois japonesinhos mestiços que pareciam com tudo, menos com ele?
Aphrodite nem pestanejava: são os filhos da minha irmã, eles são meus sobrinhos, eles são Magnusson, você pode ver.
E na certidão, se alguém implicasse, estava lá: Kido-Magnusson.
-Nunca entendi esse rolo do seu pai, caras – Seiya bocejou, enquanto eles desciam todos juntos para a praia, matando um dia de serviço enquanto a vila estava razoavelmente cheia de turistas que não poupavam olhadelas aos belos rapazes “locais”.
-A mãe foi adotada pelos nossos avós ainda bebê quase, que ela existe pra ele desde que ele se lembra, que nunca viveu sem a irmã.
Aquilo faz Ikki pausar.
Ele teve que aprender a viver sem ela, afinal.
-Então vocês nem são parent-
-Cala a boca, Seiya – Shun dispara, sem saco, ajeitando uma sacola de tecido no ombro – na verdade, a gente é parente. Segundo os diários do pai.
Shun trazia dentro de uma sacola de pano alguns diários que Aphrodite guardava em um baú junto com lembranças da época em que foi de uma banda, trabalhou no Brasil e até com fotos de quando os próprios pais e avós eram jovens.
-Eu queria que meu pai estivesse aqui para levar a Esmeralda ao altar. Pra me ver casando. Pra estar aqui uma vez na vida.
Os amigos contiveram a vontade de se entreolhar. Fosse como fosse, Hyoga, Shiryu e Seiya concordavam que aquela parecia uma brincadeira que ia dar em choro.
-Olha, Ikki, ‘cê vai achar um saco, me xingar pra caralho, mas olha: tu tem pai pra isso, Ikki.
Hyoga aceitou placidamente enquanto Ikki o mandava à merda.
-É pedir demais pela verdade?
-Não, senhor – Hyoga levanta as mãos em derrota – não tá mais aqui quem falou.
Passaram por duas senhoras e deram seus bom-dias, enquanto olhavam por cima do ombro como quem é perseguido.
-É, esses meninos só têm tamanho mesmo – comentou uma tiazinha para a outra, em seu caminho para reclamarem com Aphrodite que alguma coisa deu errado com o encanamento da parte delas da cidade.
Dite vivia de bicos entre um hóspede e outro.
Conserta um encanamento aqui, arruma uma fiação dali, e segue a vida.
Aquele macacão era um cinto de utilidades, praticamente.
O homem ia para cima e para baixo o dia todo, resolvendo todo a sorte de pepino.
Naquele dia, ele ia terminar resolvendo uma parte das janelas do segundo andar sozinho, porque seus filhos, na praia, iam esquecer dele enquanto lembravam vividamente dele.
Os rapazes se ajeitaram em um tipo de círculo na areia, enquanto Shun abria com cuidado a sacola ao redor de alguns diários e álbuns de fotos pequenos.
-Depois preciso devolver tudo certinho lá pro pa, nada de estragar – alertou, como se falasse com crianças.
-Mas... E aí?
-Andamos lendo as incríveis aventuras do pa... A gente achou três caras. Achamos eles na internet – Shun anunciou, exibindo um caderno muito sério de couro para os outros verem.
-E convidamos pro casamento – Ikki completou, orgulhoso do plano.
-Oi? Calma, a gente não ia procurar o pai de vocês? – Shiryu perguntou, achando aquilo tudo cada vez mais bizarro.
-Do Ikki – Shun corrigiu.
-E se vocês convidaram um bando de pedófilos?
A pergunta de Seiya tinha um fundo de sentido, mas não muito, considerando que o mais novo deles estava com 25 anos.
-Olha, não é por nada, mas poderia ser um louco mesmo – Hyoga comentou, o rosto franzido.
Os irmãos deram de ombros depois de um segundo.
-A gente tem certeza que eles são os caras – disse Shun, em um tom que deveria ser tranquilizador, mas não tranquilizou ninguém.
-Bom – Shiryu sentou-se relaxadamente – vamos aos fatos.
Ikki bateu palma uma vez e esfregou as mãos, como quem está pronto para lidar um pratão da melhor comida do mundo.
Aphrodite Magnusson, nascido em 1975 em Estocolmo, filho de Gustaf e Ingrid.
Meu nome era uma promessa.
A mãe queria tanto uma filha a qualquer custo, que prometeu dar o nome da deusa do amor e da beleza para ela quando nascesse.
Teve que ficar comigo mesmo, ninguém conseguiu dissuadi-la e, depois disso, ela não teve mais filho ou filha algum.
Sr. Magnusson era diplomata e Sra. Magnusson era uma ávida participante de eventos sociais e de caridade. Ambos cornos, o que não deveria doer, já que era recíproco.
Mas doía – pelo menos, na minha mãe.
Eu só sei da história de ouvir contar, mas quando os Magnusson adotaram uma linda menininha de mãe japonesa, mamãe não parava de dizer que tinha certeza que o pai era sueco. Para mim, e para o mundo, ela era apenas a órfã de um querido casal de amigos.
Para a maioria das pessoas do círculo dos meus pais, a história era outra.
Eu não conhecia uma vida sem a Michí. Ela estava lá em todas as minhas memórias, ela até julgava, mas não era cruel, e ela me apoiava.
As indiretas da mãe começaram a fazer sentido conforme eu ficava mais velho, mas o cabo de guerra de Seu Gustaf e Dona Ingrid não me interessava nadinha.
Eu amava Michiko e estávamos sempre juntos: no começo, como bibelôs de mamãe, vestidos com roupas combinando e exibindo nossos talentos de criança rica em bailes de caridade e jantares; depois, na adolescência, vivíamos unidos por uma animosidade contra nossa mãe, além da vontade adolescente de deixar nossos pais de cabelo em pé.
Enquanto Dona Ingrid ficava queimando fusíveis mentais com a possibilidade sinceramente perturbadora de nós dois, meio-irmãos, estarmos nos pegando, nem passava por sua cabeça que eu era gay – o que, para Michiko, não era nem uma questão.
Ela era minha aliada.
Foi um tiro pela culatra: mamãe me paparicou e tentou me jogar contra Michiko por tanto tempo, mas isso nunca funcionou.
Eventualmente, mamãe mandou cada um para um colégio interno onde outros filhos de figurões importantes iam. Sozinho pela primeira vez, conheci Aldebaran Paranhos Cavalcanti, filho de um diplomata brasileiro alocado na Suécia.
Minha primeira reação foi: uau!
O que o rapaz não tinha? Moreno, alto, com cabelos grossos e compridos, olhos verdes como a primavera... E um sorriso. Ah, aquele sorriso derretia até pedra!
Deba foi meu primeiro beijo e, depois, meu melhor amigo.
Eu falava dele sem parar para Michí e nós até nos animávamos com a possibilidade de ele gostar de Michiko – afinal, era ele mesmo quem dizia que gostava de meninos e meninas (e, nesses muitos anos de amizade, eu conheci os boys e as minas dele todos, o homem merece alguém que o ame do tamanho do coração dele).
Ele foi o primeiro sinal de que a gente talvez estivesse em rota de colisão.
No Natal antes de começarmos no colegial, deixar Aldebaran e Michiko sozinhos resultou em um grande desconforto para ambos.
“Eu não beijei porque é tua irmã”, Aldebaran disse rapidamente, o sueco se atropelando em sua língua por conta do embaraço.
“Você é um marmanjo mais de um palmo mais alto que ela, não faça essa cara”, eu cruzei os braços, pouco convencido, “ela que não quis te beijar e agora você tá bravo!”
“Juro pela minha mãe mortinha que não fui eu”, ele se ofendeu comigo.
Ele nunca jurava pela mãe. Era coisa séria.
-Pera – Seiya pausou a conversa – ele tava nessa escola cheia de caras que ele beijou... Aí ele levou esse cara e a mãe de vocês furou o olho dele imediatamente?
-Eu não diria isso assim – Ikki começou, na defensiva.
-É, foi isso – Hyoga falou, sustentando o olhar de secar planta do outro – eles tinham um gosto extremamente igual pra homem.
Shun deu um soco de leve no ombro avermelhado do rapaz.
-Ainda é nossa mãe, não olhem pra ela e fiquem “ooooh, essa piranha furou os olhos do irmão”, ou coisas assim. Ele também piranhou bastante, o pa.
-Então o tio não vai ter problema nenhum em ver esses três sujeitos que vocês chamaram no casamento, certo?
Shiryu não queria só esfaquear, queria torcer a faca também.
-Bom...
Por fim, eu só disse que faria muito gosto que eles ficassem juntos quando Michí mudasse de ideia. Deba nunca mais nem tocou no assunto, disse que lavava as mãos.
Era legal, passar o tempo juntos e ter um novo cúmplice de travessuras.
Saíamos por aí à noite, enchendo a cara e fumando um, trocando figurinha sobre caras gatos que beijavam bem ou bem mal. Rapidinho as figurinhas evoluíram pra caras que sabiam chupar, que socavam fofo, que...
Uma coisa é importante dizer: Aldebaran tinha a mãe mais sorrateira que eu já conheci.
A mulher era a favor de todas as liberdades que o marido não podia nem pensar, devia ter um exemplar de O Capital escondido dentro de uma bíblia. Ela rapidamente pegou no ar que estávamos fazendo mais do que dançar e contrabandeava camisinhas para a gente, fazia todo mundo jurar de pé junto que não ia transar sem e ainda soltava um “Deus me livre!” com aquele sotaque forte dela.
A Dona Maria das Graças era sensacional.
Entendo porque Deba nunca jurava por ela a menos que soubesse que estava dizendo a verdade.
E nós saímos, dançamos, bebemos... E fomos crescendo.
Eu usava o cabelo grande o bastante para ter um belo topete e me barbeava impecavelmente – o que quer que eu chamasse de barba, porque aquilo era uma piada. Andava por aí com pullovers cor pastel e bermudas cáqui.
Michí usava meias com sandálias e um permanente estilo Procura-se Susan Desesperadamente, sempre de batom vermelho escondendo os aparelhos fixos.
Eu e Michiko saíamos às compras por cremes para espinhas e para o cabelo, roupas da moda e, claro, caras gatos.
Mas éramos apenas dois adolescentes desengonçados e hesitantes, se jogando de cabeça na vida.
Nada podia esconder a falta de graça de um corpo que está crescendo em si mesmo, nada podia esconder os olhos brilhantes e mistificados com toda a vida pela frente, a hesitação ou a pressa na fala, nas ações, como se pulássemos de decisão em decisão.
Éramos verdes em tudo ainda, mas a imaturidade era nosso direito inalienável e nós a usávamos como uma armadura contra as durezas do mundo.
E nós fomos crescendo.
Eu fui para a faculdade que meu pai quis e tinha um estágio que me entediava. Michí era a irmã extravagante, com seu emprego em uma revista de moda e suas roupas escandalosas.
Deba virou advogado, mas antes de finalmente se firmar no trabalho, teve uma série de odd jobs, incluindo a época em que fomos de uma banda cover do ABBA.
No verão de 1996, com 21 anos, meu caminho finalmente se cruzou com os três grandes amores da minha vida – todos em um verão só.
-Tell me more, tell me more – cantarolou Shiryu.
-E bote more nisso aí – Shun suspirou.
Skopelos era linda e cheia de promessas.
Todo mundo queria me falar sobre como ali havia uma fonte de Afrodite que abençoava os casais com amor eterno. Mas você precisava achar a tal fonte primeiro, claro.
“Igual seu nome!”
Eu ria, aquilo era tão divertido.
Eu era um turista branquelo com um rabo-de-cavalo e uma camisa branca com 4 botões abertos. Tudo me divertia.
Havia tantas línguas sendo faladas aqui no hotel – tantas línguas para aprender de jeitos interessantes.
Já de saída, no meu primeiro dia, esbarrei em um homem da minha altura, moreno de cabelos charmosamente matizados de cinza, usando óculos dentro do hotel.
-Kaliméra – cumprimentei-o em um grego sofrível, porque ele era um gato e eu não ia deixar passar.
Ele, meu vizinho de porta, se deteve apenas para me medir de cima a baixo e, sem expressar qualquer reação, continuou seu caminho em seu passo elegante.
Ele não sorria nunca, a menos que quisesse algo. Eu já ia descobrir isso.
Sabe o que acontece quando você esfrega o doce na cara de uma criança e depois tira?
É, agora a criança vai mover montanhas pra ter o maldito doce.
Eu não quero soar exibido, mas eu estava enroscado com Lino Vitali, filho de um império de vinícolas, até o final daquela noite.
E, meu deus, ele era bom. Aquele era um perigo, podia virar uma obsessão.
Precisei contar à Michí tudo o que acontecera. Nós estávamos absolutamente sozinhos naquela viagem, sem ninguém para nos incomodar.
Ela tinha tido suas próprias aventuras com esse grego, Milo. Ela falava dele com a excitação de quem ia explodir em um número musical sobre amores de verão a qualquer momento.
Ah, Dite, ele é tão engraçado! E meu deus, acho que nunca beijei ninguém feito ele, eu quase derreti! E, ah, nossa, ele é um amor... E aquele cabelão lindo dele!
E eu certamente não soava menos Sandra Dee do que ela.
Vi de relance, naquela noite, a cara do tal grego e, realmente, Michiko não era nada boba. Ele tinha um cabelão louro impressionante.
Tínhamos 21 e estávamos naquela ilha linda sem nenhuma boa intenção. O verão ia ser incrível!
E eu estava lá, todo enredado nos charmes do italiano, querendo entender porque os amigos o chamavam de Mask, querendo que ele me contasse coisas importantes sobre ele enquanto estávamos deitados juntos, querendo a todo custo que ele sorrisse para mim, não porque eu era – e eu cito – “a melhor foda da minha vida”, mas porque eu era... Eu.
Aquilo saiu de mão muito rápido, em uma semana eu já estava pronto pra largar tudo na Suécia e ir pro meio das videiras com Lino.
Rápido demais, eu já queria que Lino Vitali me amasse porque, bom, eu sou um idiota: eu já amava ele, como só se ama alguém com 21 anos e nenhum juízo.
E foi aí que as coisas ficaram ruins.
-A audiência não gosta de trope de traição!
-Mas aí não tinha história, Seiya.
Um dia pra zarparmos de Skopelos e eu dou de cara com Lino Vitali saindo do meu quarto.
Não era incomum, mas o que era errado era que eu não estava no quarto. Mas Michiko estava.
Kära nån! Eu arrastando um bonde pelo homem, querendo seguir o desgraçado até a Itália, e ela simplesmente...
Desse jeito? Assim?
E o desgraçado sabia que ela era minha irmã. Via a gente junto todo o tempo e eu achei que ele estava brincando quando falou se tínhamos problema em dividir!
-E ele diz: Como eu odeio a Michí agora. Eu nunca mais quero olhar na cara dela! E eu não quero nunca mais pisar nesse inferno de ilha!
Shun suspirou antes de acrescentar:
-E cá estamos. Ele mal consegue considerar a ideia de sair da ilha!
-Mas eles já estavam se pegando nas costas do tio ou aquilo foi uma vez?
Shun deu de ombros.
-Aqui não dá pra saber. Mas não é a última vez que esse italiano aparece, ele volta depois.
De volta a Estocolmo, eu estou um caco. E puto, nossa, como eu tô puto!
Michiko diz que só rolou e eu só digo que não deveria ter rolado. E ponto!
Kära nån!
Mas nada como um novo lance pra curar o outro lance.
Direto íamos eu e Michí a um barzinho, o Autobahn. E direto a gente reparava nos meninos da staff, sempre muito bonitinhos.
Eles têm uma adição nova: Shura Delgado.
“Que diabos de nome é Shura? Você não deveria chamar Alejandro ou algo assim?”
Ele se apoia no balcão e quase encosta a testa na minha antes de falar, o hálito de menta e cigarro:
“Se eu não achasse que seu nome combina com a sua beleza, poderia dizer a mesma coisa.”
Eu só não gostei do nome dele enquanto estava fora da minha boca pedindo pra não parar.
-Jesus amado – Shiryu resmunga – E tem os detalhes sórdidos aí também?
-Eu estou poupando vocês dos detalhes – Shun riu – mas eles são todos bastante... Detalhados. Eu manteria pra bater uma pelos velhos tempos.
-Shun! – Ikki reclamou, chocado.
Os rapazes riram.
-Mas sério, Shun, vamos parar com essa imagem aí do tio, porque depois a gente vai ter que olhar na cara dele e eu não quero ficar pensando que o tio Dite guarda diários picantes pra bater punheta pro passado glorioso dele – Shiryu disse, o cabelão preto preso todinho para longe dos olhos.
-Vocês não sabem se divertir!
-Não quero pensar nos seus pais assim – Hyoga resmungou de brincadeira.
-Eu não quero pensar no pa assim, Shun, resume isso – Ikki resmungou de verdade.
Eu não soube que Michí esteve com Shura até que ela apareceu grávida, se essa é a grande questão. Não, eu não sabia.
Mas, como também não éramos fixos nem nada, e eu não fui nenhum santo, o Shura doeu menos.
O que eu soube por um período de alguns meses foi que Shura era durão e as pessoas o respeitavam e ele, bom, ele as respeitava de volta enquanto todo mundo estivesse fazendo sua parte direitinho.
Ele era um pouco certinho demais com as coisas dele: o trabalho na Autobahn, o intercâmbio, os estudos. Estava sempre com alguma coisa por terminar, mas que seria entregue na hora.
E eu sabia que Shura não represava sorrisos. Ele sorria por me ver, pra mim.
Ele só não sorria sem necessidade.
Quando o intercâmbio acabasse, eu ia ter que deixar Shura ir.
Ou eu poderia segui-lo até a Espanha e conhecer sua família que ligava tarde da noite berrando porque finalmente conseguiam se falar.
Mas aí Lino Vitali brotou no nosso convívio e, bom, as coisas ficaram complicadas.
-Claro que, “às vezes, eu me pergunto o que seria se eu não tivesse estragado tudo e tivesse ido com ele”.
Todos concordaram.
-Pai atrás da Porta Número 2.
-Bom, mas Shura não saiu da Suécia assim, de boas – Hyoga apontou – ele disse que estragou tudo.
-Sim, ele escreveu isso.
1996, Estocolmo: eu estou me esgueirando para fora do armário de vassouras da Autobahn com Shura quando Lino Vitali entra como se fosse dono da noite, com Michiko a tiracolo.
Aquilo vai acabar com o meu dia – no dia seguinte, claro.
O desgraçado está com um sorriso de orelha a orelha, eu quero que um raio o acerte agora!
Vou embora, não explico o porquê para Shura.
Em outro bar, em outro lugar, estou mexendo meu copo vazio e pensando por que eu fui querer tanto assim um italiano safado, sem coração, sem vergonha, sem...
“Alguém com a sua beleza não deveria ficar de copo vazio”, diz a voz forte e aveludada, “posso te pagar algo?”
Viro o rosto para olhar e eu reconheço aqueles olhos azuis, o cabelão loiro-escuro ondeando ao redor dele, o sorriso fácil.
“Desculpa, mas você, por acaso, não se chama Milo. Chama?”
“Se eu não me chamasse, trataria de mudar meu nome agora”, ele ri, um som leve que parece levantar o peso dos meus ombros.
Eu vi Milo Diakos em Skopelos e Michiko era doida por ele, até ele ir embora sem deixar recado. Dizem que grego é tudo safado – mas, também, colados ali nos italianos, não duvido.
(Com licença, eu estou sendo bicha má porque eu não sei lidar com os meus sentimentos!)
“Eu te vi. Em Skopelos”, eu respondo quase como que num transe.
“Nada! Eu nunca ia esquecer alguém como você.”
O rapaz é um jogador e, bom, eu estou pra jogo.
“Ah, você diz isso pra todo mundo”, eu provoco, me inclinando em sua direção.
“Eu estou falando sério. Queria ter te encontrado em Skopelos, te mostrado o que a Grécia tem de bom.”
“Eu consigo ver bem aqui o que a Grécia tem de bom. Ela está até exportando!”
A risada de Milo era uma coisa de arrepiar. Parecia que vinha lá do fundo e reverberava, era lindo de ouvir.
A mão dele agarrou a minha coxa e, depois disso, eu não me responsabilizava mais.
-A audiência não gosta – Seiya começou.
-É, mas ninguém estava, sabe, namorando ninguém. Eles estavam...
-Se pegando loucamente – disse Ikki, com a estranheza de uma pessoa que estava interessada apenas na mesma pessoa desde os 15 anos.
-E depois se sentindo ressentidos uns com os outros...
-Bom, pa é muito bom em guardar ressentimento – Shun deu de ombros – parece que tá guardando um tesouro.
-E vocês chamaram esses tais de italiano, cubano-
-É espanhol – Ikki corrigiu
-Espanhol, que seja, e grego para virem aqui – Shiryu apontou para os dois – sabendo que o pai de vocês não está nada feliz com eles?
Os irmãos se encararam.
-Vocês pelo menos são filhos do mesmo pai?
Hyoga jogou areia em Seiya.
-Cala a boca, cara.
-Eu acho que não, mas o Ikki não gosta dessa conversa – Shun diz, folheando outro diário de couro gasto – eu não podia dizer não pra ele, ele quer conhecer o pai. Acho que tem o direito.
Ikki olhou-o com carinho por um momento.
-E o que aconteceu depois?
Boa pergunta, Seiya.
Aconteceu o caos.
Eu não presto. Eu transei com o cara que minha irmã gostava, eu não presto!
Não sou melhor que ela porque fiz isso nas costas dela e não pretendo contar.
Ao mesmo tempo, eu dormi com outro cara nas costas do Shura... Não é como se a gente namorasse nem nada, mas porra.
Por outro lado, ele era capaz de fazer um homem explodir em um Summer Nights no meio da rua. Ele era tudo aquilo mesmo.
Michiko podia deitar e rolar com aquele italiano.
Essa era a época em que tínhamos uma banda cover do ABBA todo verão, quando Aldebaran vinha da faculdade para nos encontrar e a gente vivia nossas vidinhas de ricos entediados.
Aldebaran estava preso à alguns compromissos no Brasil, depois de o pai dele ter se aposentado, e quando chegou à Estocolmo, eu já tinha ido embora de mala e cuia para a Grécia atrás do grego.
-Mas rapaz – Seiya começou, cauteloso – esse nem era o cara por quem ele tava mais a fim!
-Esse não é o cara com quem você queria que ele ficasse, confessa. Todo mundo tá torcendo pra um cara diferente aqui – Shiryu riu – Ikki, já escolheu o pai favorito?
-Ah, vá cagar, Shiryu!
-Mas você não tem um favorito? Eu gosto do espanhol, ele parece muito decente – Shun disse.
Ikki fechou a cara.
-Isso é um assunto sério! E se algum deles está morrendo de câncer agora mesmo?
-Pelo Facebook deles, não parece que seja o caso – Hyoga comentou, depois de ter ajudado Shun a procurar os três homens no computador ancião do hotel de madrugada, quando Aphrodite achava que eles só estavam se pegando.
-Admite que você tá curioso, que mal tem?
-Que mal vai ter a hora que esses caras pisarem na ilha e o tio souber disso – Shiryu parecia extremamente divertido com a possível confusão que os esperava.
-Ele foi com o grego para... A Grécia?
Ikki cortou a conversa.
-Foi. E eles tinham terminado antes do final do verão.
Os rapazes se entreolharam.
-E termina assim? O grande verão de amores do tio termina desse jeito?
-É, Seiya. Anticlimático, eu entendo.
-Mas a história não termina aí.
-A do Ikki? Não. Ela começou aqui.
Shun coloca o diário em suas mãos dentro da sacola com cuidado e pega um pequeno álbum de fotos com um pôr-do-sol na capa. Ele folheia com reverência e então abre em duas fotos, apontando para a que está embaixo.
-Aqui é Natal de 1996, em Estocolmo. Quando pa reencontrou a nossa mãe.
-Ela já estava grávida de mim.
-A nossa avó a colocou pra fora de casa.
-Espera aí! Entre o verão e o Natal, é bastante tempo. O que aconteceu?
Eu peguei minhas coisas e não voltei para casa.
Sem a benção do meu pai, arrumei toda sorte de emprego esquisito e aprendi a fazer várias coisas que, calculei, não iam me servir para nada quando voltasse para casa e voltasse para o caminho de virar um diplomata como Seu Gustaf.
Eventualmente estava em Salvador, Brasil, na casa dos Paranhos, cantando com Aldebaran em barzinhos e ficando amigo dessa menina de intercâmbio que estava na casa deles, Marin.
Eventualmente estávamos os três cantando por aí e correndo risco de deserção.
“Mas você não devia voltar e falar com a tua irmã, Dite?”
Aldebaran achava um absurdo eu não ter voltado para casa, e um absurdo ainda maior eu brigar com minha irmã por homem.
“Você fala como se você fosse próximo das suas irmãs”, eu rebatia, emputecido.
Deba tem 2 irmãos mais velhos e 2 irmãs mais novas, está ali bem no meio da turma. Ele não é muito próximo de nenhum deles, e sempre me dizia que achava bonita a relação que eu tinha com Michí.
Mas eu tinha 21 anos e estava de ego ferido.
Cheguei a ficar de mal dele quando ele ligou para Michiko e contou onde eu estava. Só não fiquei mais de mal porque ele conseguiu sozinho convencer meu pai de que eu estava aprendendo muito com o pai dele sobre o papel de um diplomata e não sei mais o quê... Por ora, eu não estava deserdado.
E então, pleno verão brasileiro, Aldebaran me obriga a receber uma ligação de Michiko.
“Di, eu tô grávida”, ela diz, com a voz chorosa.
Mamãe deve ter adorado ouvir isso.
“Como- Não me responde, eu entendi”, atalhei rapidinho, “isso é ruim?”
“É bem ruim.”
“A mãe sabe disso?”
“Ela vai me pôr na rua, Di!”
“Não, não, calma!”
Agora eu estou em pânico. Ela vai colocar a Michiko para fora, porque é o sonho de consumo da vida dela chutar a Michiko de casa.
“Quem é o pai? Vocês casam e fica tudo bem, certo?”
Eu olho para Aldebaran como quem pergunta “é assim que funciona com os héteros, né?” E ele mexe a cabeça imperceptivelmente.
Não, não é.
“Tá, mas o pai não vai deixar a mãe... Quem é o pai, Michiko? Eu conheço?”
“Sim.”
Sim? Só isso?
“Você conhece os três.”
“Oi?”
O rolo com o Vitali estava até que constante, mas sendo ele indiferente como era, Michiko logo ficou caidinha pela sinceridade de Shura Delgado, que não sabia exatamente o que havia feito para que eu o odiasse, mas aceitava que as coisas eram como eram.
Nessa de estar com um e com outro, Milo Diakos reapareceu em Estocolmo. E, vocês sabem, ele tem o magnetismo do Sol. E ela gostava dele...
E como desgraça pouca é bobagem, Shura voltou para a Espanha, Lino voltou para as vinícolas da família, e Milo desapareceu sem deixar recado – de novo.
“Toda a conversa da sua mãe sobre camisinha foi só conversa mesmo, viu”, reclamei com Aldebaran, que provavelmente já sabia o que estava acontecendo e decidiu que não tinha comentários a respeito.
“Não conta pra mãe. Tô indo pra casa”, falei para Michiko antes de desligar.
-E tua avó botou a mãe de vocês pra fora?
-O nosso avô não deixou, mas aí o velho não durou – Ikki deu de ombros – Aí ela jogou a parte de herança na cara da minha mãe e mandou ela sumir.
-É o que conta a história.
-E o Shun?
Ele folheia o álbum e mostra uma foto em que estão os dois com a mãe.
-Aqui. Eu nasci 3 anos depois.
-E o seu pai?
-Eu tenho pai – bufa – e definitivamente não é o cara que não quis nem me dar sobrenome. Eu só estou ajudando o Ikki porque isso significa muito pra ele.
Ikki se estica para bagunçar os cabelos do irmão.
-Tá – Seiya começa, como quem faz contas – o pai do Ikki pode ser o italiano do vinho...
-Lino Vitali. Pa diz que o nome real dele é horroroso, mas não diz qual é o nome.
-Tem uma foto dele no álbum, pega aí, Shun – Ikki diz.
A turma se amontoa para ver a foto, tirada de surpresa, de um rapaz alto e moreno, de óculos escuros, e os lábios rígidos segurando um cigarro aceso.
-Entendo o apelo – Hyoga comenta e um murmúrio de concordância passa pela turma
-Aí tem o espanhol trabalhador – Seiya levanta um segundo dedo da mão.
Shun folheia rapidamente atrás de uma foto de um jovem Aphrodite, os olhões azuis fechados por um riso, ao lado de um rapaz ainda mais alto, moreno e de olhos escuros, com um sorriso tímido.
-Também entendo o apelo desse.
-Ele tem cara de gente boa – diz Shiryu, que tem um favorito.
-E aí o grego safado – Seiya ergue o anelar.
Após um momento, Shun chega em uma foto de Milo Diakos e Aphrodite Magnusson abraçados sobre lençóis coloridos, o sol clareando os olhos de ambos.
-Não tinha uma menos assim, não? O homem pode ser meu pai – Ikki reclama.
-Definitivamente entendo o apelo – Shiryu diz antes que Hyoga o faça.
Os rapazes riem.
-São meus pais, caralho – Ikki reclama.
-Tomara que isso não termine com você órfão três vezes, amor – diz uma voz cristalina.
Os cinco se assustam com a presença de Esmeralda, cujas mãos pequenas apoiam-se nos ombros de Ikki.
-Seu pai vai ficar muito bravo – ela comenta, inclinando-se para olhá-lo, o cabelão dourado caindo atrás de si.
-Ah, ele que aprenda a não guardar segredos!
-É bobagem vocês brigarem por isso, amor.
-Ah, tenta botar isso na cabeça dele – Shun reclama, arrumando os diários e álbuns dentro da sacola.
-Ele nem gosta de você, por que você defende ele?
-Ele gosta de mim, ele só gostaria que você... Ele quer o melhor pra você!
Ikki se põe de pé e enlaça a mocinha pela cintura, dando-lhe um beijo rápido.
-Você é o melhor pra mim – ele diz, tirando a franja dos olhos dela.
-AAAAAH VÁ!
Os meninos reclamam que ele está sendo meloso e riem da situação.
Shiryu se põe de pé, já atrasado para seu trabalho com o velho relojoeiro da ilha. Ele apressa Seiya, que também está atrasado.
Shun se lembra do que prometera ao pai e sai em disparada depois de dar um selinho em Hyoga.
-E NÃO ESQUEÇAM – grita de longe – ELES CHEGAM HOJE NO BARCO ATHENA! ÀS QUATRO!
Shiryu encara Ikki com certa censura.
-Eles chegam hoje?
O rapaz dá de ombros, sob os olhares censuradores dos amigos e da noiva.
-É. Hoje mesmo.
-E eles sabem que são convidados de um casamento?
-Sim. O próprio Aphrodite os convidou – Ikki responde como quem não se arrepende de nada.
-O quê?!
Atrasado para seu encontro com as janelas, Aphrodite sente as orelhas queimarem.
-Hmmm, hoje eu tô cotado – resmunga, apressando o passo sob o sol radiante de Skopelos.
Pipezinha on Chapter 1 Mon 29 Sep 2025 10:31PM UTC
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