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Mission: ƒ

Summary:

Uma espiã precisando formar família para realizar uma missão, e uma assassina de aluguel querendo o mesmo com o motivo de se camuflar. E, assim, Ha Sooyoung e Kim Jungeun acabaram casando e tendo a família mais (dis)funcional com uma irmã/cunhada espiã e uma filha telepata. Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que os segredos as separem.

Notes:

E mais uma história se inicia nesse momento. Tenho muito carinho por esse plot e essas personagens e posso garantir que vai ser algo muito divertido de acompanhar. Boa leitura!!

A playlist está nas notas finais.

(See the end of the work for more notes.)

Chapter 1: Irmãs

Summary:

Arco 1: Prólogo (1/3)

Chapter Text

                                                             

 

13 anos atrás...

                                                             

 

O céu parecia um pouco mais claro depois de alguns dias. A cidade ainda se mantinha boa parte destruída e carros do exército eram vistos transportando tanto suprimentos quanto pessoas de um lado para o outro.

Nos poucos prédios que ainda se mantinham de pé, um enorme número de crianças e adolescentes se encontravam agrupados na esperança de algum dia encontrarem seus pais.

E, entre aquelas crianças, naquela enorme sala meio escura, com chão de madeira e janelas esburacadas, duas meninas se mantinham uma ao lado da outra. A primeira era mais velha, de cabelos longos e castanhos, alta, usando jeans e uma blusa branca, ambos sujos. Já a mais nova, que era bem mais baixinha, portava um vestido azul, agora sujo, e os cabelos escuros presos em um rabo de cavalo. Elas eram irmãs e, diferente de muitos ali, pelo menos podiam contar uma com a outra.

No dia do bombardeio, a mais velha tinha ido levar a caçula para tomar sorvete após o almoço. Sua mãe havia dado alguns trocados e assim saíram de mãos dadas pelas calçadas. Em questão de alguns minutos, uma enorme comoção se alastrou pela cidade.

A mais velha não sabe como fez isso, mas conseguiu escapar da morte e proteger a outra. Infelizmente, ao chegarem em casa, o lugar pegava fogo. O pai das duas já havia morrido naquela mesma guerra por ter sido convocado como um soldado, antes ele era somente um contador, portanto, agora estavam completamente sozinhas.

E ficariam ainda mais.

No dia anterior, um grupo de pessoas do governo chegou naquele abrigo de crianças. Eles confirmaram o óbito dos pais de muitos ali, inclusive das irmãs, além da perca de documentos. As coisas ainda não eram digitalizadas, logo era como se houvessem perdido também a identidade. Em algum momento aquelas pessoas poderiam resolver aquilo, mas não é como se tivessem pressa.

“Você vai mesmo amanhã?” A caçula perguntou, segurando os joelhos.

A mais velha, imersa em pensamentos, piscou algumas vezes por ter ouvido a voz suave da outra.

“Não tenho escolha, estamos nas mãos do governo, Chaewon.”

A menor bufou.

“Então vamos fugir juntas, eu não vou dar trabalho.”

“Não mesmo, o mundo está de cabeça para baixo.” A maior encarou a garotinha. Elas cochichavam. “Você vai para o orfanato com as outras crianças menores e eu vou ao outro com as mais velhas. Lá eu vou fugir, arranjar algum dinheiro e te tirar do seu. As pessoas não vão querer me adotar de qualquer forma, eu já tenho quinze anos. E, se houvesse a possibilidade, não iriam adotar nós duas juntas.”

“Mas e se me adotarem, Sooyoung?”

“Eu vou te encontrar. Você é uma garota muito inteligente, mais do que eu, se duvidar.” A mais velha deu um pequeno sorriso, que foi correspondido pela outra menina. “Chaewon, eu sei que vai saber se cuidar também.”

“E se eu não conseguir e virar estatística?”

Sooyoung arqueou uma sobrancelha. Ela já deveria ter se acostumado com os comentários excêntricos daquela menina de sete anos.

“Estatística? De onde tirou esse termo?”

“Lendo, eu tenho boa memória.” A menor deu de ombros. “Eu tenho muitos talentos.”

“Memória é um deles então?”

“Talvez... Eu também conseguia convencer a vovó de que eu não existia.” A falta de expressão no rosto da caçula, algo muito comum, fazia Sooyoung segurar um pequeno riso.

Só Chaewon para a fazer rir em um momento como aquele. Seu coração também ia se partindo cada vez que lembrava da separação no dia seguinte. Chaewon chorou na morte da mãe, mas ainda assim segurava muito suas emoções como sempre. Sooyoung tinha medo de como a menor reagiria no outro dia. Ela tinha medo de como reagiria também.

“Nós vamos mesmo nos encontrar?” Chaewon perguntou após um tempo de silêncio.

“Óbvio que vamos.”

“Promete?” A menor ofereceu o mindinho, que foi segurado pelo da maior imediatamente.

“Prometo.”

 

 

 

 

 

 

 

Dias presentes...

 

“Bela tacada, senhor.” A mulher alta disse com o típico sorriso sem mostrar os dentes. Ela caminhava pelo enorme campo de golfe, usando um vestido esportivo azul, tênis brancos e um boné de mesma cor, segurando o taco por cima de um dos ombros.

Seu cansaço era disfarçado com sucesso, apesar de já ter perdido a conta de quantas vezes bocejou. Aquela era uma missão simples e, no momento, somente precisava se manter naquela partida entediante de golfe, onde seu adversário demorava mais do que o necessário em uma tacada.

Ela estava entediada. Vidas de espiões podiam ser calmas, mas não custava nada pelo menos ter uns vinhos caros, mulheres bonitas e explosões de vez em quando.

Uma certeza é: Ela queria ir embora.

Era um dia de domingo cedinho e ela já estava naquele hotel, que se podia ver ao longe, desde a sexta. Tudo para jogar uma partida de golfe com aquele idoso corpulento portando calças beges, chapéu de palha, camisa polo azul e mocassins.

O carrinho que usavam para se transportar pelo campo estava há alguns metros e a partida, pelo menos, já estava muito perto do final, basicamente só faltava mais uma tacada para a mulher o vencer, caso ela fosse boa o bastante.

E, diferente do homem, ela não perdeu tempo em se posicionar e atirar a bola, que fez uma trajetória de parábola, quicou em cima da bola adversária e entrou no buraco.

“Foi um bom jogo.” Ela mantinha aquele sorriso. Nada parecia fazer com que o tirasse do rosto. Enquanto isso, o homem se mantinha em completo choque com a jogada.

“Você, por acaso, é profissional?” Ele perguntava com os olhos arregalados.

“Ah, não.” A mulher soltou uma leve risada. “É só hobby.”

Aquele homem era Astolfo Casso, empresário, e político supostamente envolvido em um esquema de lavagem de dinheiro. Era supostamente, pois a mulher ainda não havia coletado as provas, que estariam no quarto daquele homem, pois o hotel havia sido o ponto de encontro para uma tal reunião de negócios.

Aquele senhor era muito fechado de certa forma e a única maneira foi atraí-lo pelo golfe, algo que a mulher já sabia com antecedência, afinal... Ela era uma espiã.

Por isso conferia a maquiagem em seu rosto ao tocá-lo. Seu rosto podia assumir várias aparências devido às máscaras.

Uma profissão criada para fins governamentais, principalmente em guerras, algo que causava suspeitas em vários países e faziam pessoas serem presas só pelo fato de serem solteiras, pois enxergavam isso como uma brecha para serem espiãs. No fim, era uma profissão valorizada, mas muito perigosa.

“Podemos marcar de termos uma nova partida, o que acha?” O homem disse ao apertar a mão da mulher.

“Talvez.” Ela juntou um pouco as sobrancelhas. “Eu sou uma pessoa muito ocupada com a minha empresa, não faço ideia de quando irei ter tempo novamente, mas quem sabe algum dia.”

“Claro, claro.” Ele ria. “Sua empresa de roupas, não é?”

“Sim, preciso trabalhar muito para ser reconhecida.” Aquilo era obviamente uma mentira. E ela era muito boa nisso.

“Com certeza vai conseguir.”

A conversa tinha um tom simpático, apesar da mulher já estar com pouca paciência naquela altura. E ela deu graças quando finalmente pode se retirar.

Já havia conseguido pegar e trocar o celular, de dentro do bolso dele, por outro fazia umas duas horas. Agora bastava ir até a sala de funcionários, trocar de lugar com a camareira, pegar a chave reserva e coletar os documentos da reunião que ocorreu na noite anterior.

E, por ser uma missão simples, obviamente realizou aquilo com certa velocidade e facilidade. Em poucas horas já estava dirigindo para o aeroporto, lembrando de que haviam a falado sobre uma missão grande ocorrer a qualquer momento. Provavelmente iria parar nas suas mãos, então só tentava descobrir quando, pois já faziam alguns meses.

A mulher batucava no volante enquanto dirigia, ouvindo uma música qualquer na rádio. Mais uma missão cumprida, sem máscara para a incomodar e dinheiro na conta, então estava tudo indo nos conformes.

Sooyoung era o que chamavam de espiã nível especial. Um histórico perfeito de notas e performance, nenhuma missão terminava em falha. Ela também era conhecida por nunca perder a compostura e sempre ter um plano B.

Era basicamente uma profissional perfeita.

Agora seu objetivo era ir ao aeroporto e pegar seu próximo voo, pois a caçada por informação basicamente nunca parava.

E informação é poder. Esse é o lema da EGO.

Uma agência não governamental que abrigava, em sua maioria, pessoas vítimas de guerra e cansadas de tais conflitos. Poucos agentes se conhecem pessoalmente, diferente da alta cúpula, que é formada por ex-soldados, ex-ministros, banqueiros, ecônomos, historiadores e outros estudiosos. Há um mistério também sobre quem comanda tal organização, a única certeza era de se tratar de uma pessoa muito rica...

E isso, na verdade, não interessava a mulher estacionando o carro naquele momento.

Sooyoung saiu do veículo alugado, podendo assim o devolver à locadora no estacionamento do aeroporto, um processo simples e rápido, logo ela estava andando com sua mala de rodinhas, preta e de exterior rígido. A saia, o blazer, os saltos pretos e óculos escuros a davam um ar de empresária, uma muito simpática por sinal.

A primeira parada foi ir à uma máquina para sacar dinheiro. O grupo tinha um banco trabalhando para eles, logo os agentes possuíam contas lá.

E felizmente Sooyoung podia ter algo assim, pois seus documentos, que se perderam quando criança, nunca haviam sido recuperados ou refeitos, contudo, quando foi recrutada pela EGO, a organização cuidou desse trabalho.

Seu nome ainda era Sooyoung, uma mulher de vinte e oito anos aparentemente normal, com ensino superior completo e doutorado. Porém, caso vá procurar algo sobre ela... Não irá encontrar nenhum registro, assim como ela surgia nos lugares, ela sumia, igual a um fantasma.

Por conta disso, a alteração de certos dados podia ser feita. Seus sobrenomes podiam variar e ainda tinha a possibilidade de assumir outros nomes como Yves. Podia também ser professora, psicóloga, babá e a lista se estendia, dependia somente da missão.

Após a retirada do dinheiro, ela pode caminhar até uma cafeteria no meio do segundo andar daquele aeroporto. Uma jovem baixinha de cabelos descoloridos, mascando chiclete e rosto cansado a atendeu.

“Um chá mate gelado com duas doses de leite... E adicione bolinhas de tapioca e mirtilo, por favor.” Nem o sorriso simpático da mais alta foi capaz de tirar uma dose de bom humor daquela atendente.

“Três kons e sessenta kales.” Ela abriu a mão na direção da agente, que entregou o dinheiro sem pestanejar.

A próxima parada agora era checar o cronograma dos voos. A EGO possuía uma empresa aérea trabalhando somente para eles também, então isso facilitava um pouco mais. Sooyoung observava a tela justamente estourando as bolinhas na boca.

Dez bolinhas de tapioca, cinco de mirtilo. Ela pensava. Voo de dez horas e cinco minutos. Sooyoung levou os olhos até o canudo. Vermelho com branco, linhas diagonais... Bandeira da Vircélia.

E o único voo para aquele país, possuindo o mesmo horário informado, era para a capital Verni.

Sooyoung, ainda como aquele típico sorriso, arqueou um pouco as sobrancelhas. Adorava quando envolvia capitais grandes, pois era sinal de missão desafiadora. E, depois dessas missões desafiadoras, podia esperar uns dois meses de férias só para curtir por aí como uma das recompensas.

O voo foi tranquilo, nada que já não fosse acostumada, além de durar somente três horas. Por se tratar de uma missão na capital, ela sabia que seria buscada por alguém. No caso, ela quase não reconheceu o homem robusto, tendo um bigode grande. A certeza só veio, pois ele mostrou a moeda dourada da organização, contendo uma espécie de hexagrama com uma flor de lótus dentro.

“Quase não te reconheci com esse bigode ridículo.” Sooyoung disse ao entrar no carro.

“Pô, eu comprei ele numa loja perto de casa.” Seu nome era Taecyeon, um homem forte, quase na casa dos quarenta, usando camisa verde, boina e calças jeans, que falava ao olhar Sooyoung rapidamente pelo retrovisor central enquanto dirigia.

“Essa é a sua cidade então, você não tinha dito sobre antes. Bom lugar para ficar fixo. Está fazendo outra coisa, além de ser transportador?” Sim, ele não era um agente, mas sim um dos chamados transportadores. Sua função era deslocar os agentes e suprimentos, se necessário.

“Sou taxista, fica mais fácil.”

“E conseguiu ficar mais próximo do seu filho? Sei que foi por ele.”

“É, foi. Está melhor do que antes.” Ele deu de ombros.

“Que bom... E para onde vamos?”

“É um condomínio de luxo. Deixaram um apartamento de luxo para você.”

Sooyoung comprimiu os lábios. Aquilo era sinal de missão importante.

“Você é esperto e tem anos de experiência, por acaso tem alguma noção do que isso se trata?”

“Bem, eu sou seu transportador oficial, fora isso, não faço ideia.”

“Estranho.” Sooyoung olhava pela janela, ela ainda usava os óculos escuros.

“Mas a função principal é sua... Geralmente é assim quando é algo nível especial, que só você pode resolver, Snake.”

Aquele era um segundo codinome dentro da organização, dentro dela os agentes só usavam duas nomenclaturas: numeração e apelido, seus primeiros nomes ficavam ocultos para outros agentes. Transportadores, e outras funções aliadas, não sabiam seus nomes reais, somente esses tais apelidos. E mesmo se contassem os ditos como verdadeiros, duvidariam.

“Existem muitas coisas que só eu posso resolver, ninguém me passa no ranking.”

“A única que ameaça seu lugar é a número 11.”

“De novo essa garota...” Sooyoung riu anasalado.

“Creio que ainda não pegou seu posto porque é mais jovem e você tem mais experiência.”

“Se ela fosse boa já teria me superado sem isso.”

“É, pode ser.” Taecyeon falou antes de puxar o freio de mão na frente de um condomínio. “Área nobre e tranquila, cobertura.” Ele retirou uma chave do porta luvas e a entregou. Sooyoung já havia aberto a mala que ia consigo no banco traseiro, então o deu os documentos e o celular da missão anterior. “Tenha cuidado.”

“É, eu sei.” A mulher saía do carro e colocava a mala de pé no chão.

“E não esqueça o jornal do dia.”

“Com certeza.” Seu tom era um pouco cansado.

E, assim, o homem deu partida no veículo a deixando para trás.

O jornal significava algo que já havia percebido, ou seja, se havia um transportador, havia também um mercante.

Agora a vista de Sooyoung era o portão de ferro do condomínio, que guardava um prédio, bege com marrom e branco, de doze andares. Cada andar possuía dois apartamentos, exceto a cobertura. Se esforçando um pouco para ver, ela podia notar o teto pontiagudo de onde ficaria.

Mas, antes de entrar, ela checou os arredores e visualizou uma banca do outro lado da rua. Além da suposta pessoa responsável pelo local, havia mais alguns cidadãos olhando produtos.

Sooyoung não pensou duas vezes antes de se aproximar, pois precisava do jornal.

“Bom dia, poderia me dar a edição de hoje?” Ela apontou para os jornais ao lado da mulher por trás do balcão, que folheava uma revista.

Aquela pessoa usava tênis brancos, jeans azuis, camisa xadrez vermelha e um colete azul acolchoado. Os cabelos curtos e castanhos se encontravam bem alinhados e ela também usava óculos de grau redondinhos.

“Na hora.” A mulher se virou e pegou o produto, logo o entregando para a outra. “Cinquenta kales.”

Sooyoung rapidamente puxou a moeda de dentro do blazer.

“Nunca te vi por aqui.” A atendente disse ao colocar a moeda na máquina registradora.

“Acabei de me mudar a trabalho.”

“Sei... Vai morar aí?” Ela apontou para o condomínio.

“Sim.” Sooyoung mantinha o sorriso.

“Ótimo lugar, a vizinhança também é boa. Trabalha com o quê?”

“Sou uma das novas Procuradoras no Banco Karteri.”

“Entendi.” Ela parecia um pouco impressionada. “Se eu precisar de ajuda lá no banco, então já sei que posso te chamar.”

“É, talvez...” Sooyoung pendeu um pouco a cabeça. “É dona daqui?”

“Sim, sou. Essa banca era do meu pai, mas herdei depois que ele faleceu.”

“Sinto muito.”

“Obrigada, já fazem cinco anos, então tudo bem.”

“Pois eu vou indo...” Sooyoung comprimiu os lábios e ia puxando a mala. “Espera.” Ela se virou rapidamente para encarar a dona do estabelecimento. “Qual é o seu nome mesmo?”

“Haseul, Cho Haseul.”

“Prazer em te conhecer, Haseul, sou Sooyoung.”

“O prazer é meu Sooyoung.” A mulher disse ao acenar já que a mais alta já andava rumo ao condomínio.

Enquanto transitava pelo caminho arborizado do térreo, Sooyoung ficava aliviada de que sua colaboradora, ou mercante, seria Haseul e esperava que as pessoas naquele estabelecimento não tivessem desconfiado de nada, pois conseguiam ser bem convincentes.

Contudo, mais uma certeza surgia: Haseul sempre esteve nas suas missões mais importantes, então poderia se preparar para uma bomba. No momento, pelo menos, estava satisfeita com sua equipe.

E sua apreensão com meros civis era o fato da política antiespionagem em Vircélia ser encorajada pelo governo, então a população participava de muitas denúncias.

Sooyoung entrou no elevador que ia direto para a cobertura, inserindo sua chave para acioná-lo. E assim o elevador abriu suas portas já dentro da sua nova residência. O chão de mármore e as paredes tinham detalhes em madeira e um papel de parede bege. Alguns vasos de plantas artificiais também enfeitavam a área perto do elevador e o caminho até as portas.

Eram dois andares, sendo que o segundo portava somente a cozinha e uma pequena área externa com hidromassagem, enquanto embaixo ficavam sala, quartos e outra área externa com piscina. O interior da casa ficava resguardado por paredes e portas de vidro, que contrastavam bem com as cores amadeiradas.

Sooyoung o local ainda escuro por conta das cortinas fechadas. Seu corpo começava a sentir um certo cansaço após fechar a porta, pois querendo ou não, poderia descansar um pouco por ali.

“Mãos para cima.”

Uma voz meio áspera, ainda assim suave, permeou naquela escuridão. Sooyoung podia muito bem pressentir a pessoa segurando uma arma na direção de sua cabeça.

“Calma.” A mulher obedeceu ao pedido. Não estava nenhum pouco nervosa, provavelmente era um mal entendido, a EGO não seria descuidada assim.

“Atmen und...”

“Ego sein.” Sooyoung respondeu imediatamente. Somente agentes sabiam daquele código.

“Então é você que me mandaram esperar?” Ainda assim a arma não havia sido recolhida.

“Te mandaram me esperar?” Sooyoung se mantinha imóvel, olhando para a frente e com os braços levantados, sendo que segurava o jornal em uma das mãos.

“Não sabia disso?”

“Não...”

“Pelo jeito é uma missão em conjunto.” O barulho denunciava a arma sendo guardada e sons de passos indo até uma das cortinas.

Sooyoung piscou algumas vezes por conta da luz entrando pela cortina recém-aberta.

“Eu sou a onz-... Sooyoung?” A jovem, que agora podia ser visualizada, era mais baixa, tinha cabelos loiros, usava calças jeans e blusa listrada. Sua expressão era quase uma incógnita.

Já Sooyoung geralmente não tirava aquele sorriso convencido do rosto, porém foi impossível não o desfazer.

“Chaewon?!”

“Está de brincadeira.” A mais baixa assentia negativamente.

As duas não sabiam muito bem o que falar ou como reagirem. Era um enorme conflito de emoções. Sooyoung, a irmã mais velha que não cumpriu sua promessa e Chaewon, a caçula com sentimentos de traição.

Haviam se passado treze anos. Ambas trabalhavam para a mesma organização, basicamente estariam na mesma missão... Que baita coincidência.

“Achei que estava morta.” Chaewon disse ao caminhar até uma das poltronas de couro na sala, sentando-se. “Na verdade, era melhor pensar nisso do que na teoria de você ter me largado.”

“Eu não larguei você.” Sooyoung revirou os olhos ao ir até o sofá, sentar-se e colocar o jornal em cima da mesa de centro.

“E eu não sou a Chaewon que você conhece, sou somente uma alucinação, um clone, um plano, um conjunto de ideias... Um conceito.” A mais jovem dizia calmamente.

“Eu realmente não larguei você... E estou feliz de te ver, sério.”

“Não parece.”

“Você também não parece! E eu só não sei o que falar, beleza?” Sooyoung cruzou as pernas. “Sempre tentei te achar e agora descubro isso... Agente 11.”

“Agente 9.” Chaewon arqueou levemente as sobrancelhas.

“Vamos conversar?”

“Não, você não me interessa, a missão é prioridade, preciso saber no que enfiaram a gente dessa vez.”

Sooyoung obviamente se sentiu um pouco ofendida, mas engoliu o orgulho. Ainda tentava lidar com o fato de ver sua querida caçula ali na sua frente. Chaewon havia crescido bem.

“Chegou aqui quando?”

“Ontem. A síndica é uma velhinha de oitenta anos que passa o dia assistindo canal católico, mas parece responsável...”

“Deve ser por isso que ninguém veio falar comigo.”

“Falei com ele ontem. Disse que era uma estudante e esperava um parente. E também já inspecionei todo o apartamento.”

“Boa.”

“Claro que é boa.”

Sooyoung coçou levemente os olhos antes de se levantar ir até a área de serviços do apartamento, a cabeça ainda bem conturbada pelo reencontro repentino.

No geral, aquela residência era grande, mobiliada com móveis de madeira, lustre bonito na sala, uma boa televisão, estofados de couro, paredes claras e chão de porcelanato. Era aconchegante.

E felizmente a mulher achou o que procurava naquele lugar, talvez devesse ter perguntado à Chaewon antes, mas preferiu logo fazer sozinha, já que durante muito tempo foi assim. Era o costume.

“Vamos ver o que querem.” Sooyoung carregava um ferro de passar em uma das mãos. O próximo passo era usar o ferro aquecido e passar levemente sobre a primeira manchete, que falava sobre o assassinato de um dono de cassino. O calor faria a mensagem oculta aparecer.

“Código Morse. É a frequência do rádio.” Chaewon pontuou. “Eu pego o meu ou você pega o seu?”

“Minha mala já está ali ao lado do elevador, então é mais fácil.”

Portanto, ao ir até a mala, Sooyoung retirou uma maleta de couro, algo escondido por baixo das roupas. E, ao abri-la em cima da mesinha, elas podiam visualizar o rádio de frequência e fones de ouvido.

A mais velha ajustou o volume, pois iriam ouvir em estéreo, e colocou a frequência indicada.

“Boa tarde.” Uma voz distorcida falava com elas pelo rádio, era a pessoa responsável pela EGO. “Vejo que já chegaram e se encontraram.”

“É, um ótimo encontro.” Chaewon dizia sem pesar.

“Por que nunca me contou sobre a minha irmã ser uma das agentes?” Sooyoung bufava. “Eu sempre pedi informações sobre ela.”

“Pedia, é?” A mais nova franzia os lábios.

“É, eu pedia, você não?”

“Por que caralhos eu ia pedir informação sobre a minha irmã que me largou?”

“Eu não te larguei!”

“Senhoritas...” A voz interrompeu a mini tensão que se formava entre as duas. “E, respondendo sua pergunta, Snake... Protocolo, não revelamos informações de outros agentes, esqueceu? Não gostamos de misturar sentimentos e reuniões familiares não são nossos objetivos, porém vai que nos façam mudar de ideia.”

“Mas por que agora?”

“Vocês irão precisar se aproximar de um cara perigoso, Ministro da Defesa: Son Youngsoo.”

“E eu preciso de reforços para isso? E minha irmã? Por que misturar família nisso? Só por sermos as melhores no ranking? Pode ser arriscado” Sooyoung segurou um pequeno riso. Chaewon juntava as sobrancelhas para mostrar descontentamento.

“Nunca vi você desse jeito, isso realmente te afetou... Mas, é, vocês são nossas melhores e sabemos que serão profissionais, foram treinadas para isso. E nós cremos que precise de reforços sim. Esse cara é complicado, nós desconfiamos de uma arma extremamente perigosa sendo desenvolvida pela equipe dele, além de sua ascensão política. O problema mesmo é chegar perto.”

“E existe alguma brecha?” A mais velha perguntou após alguns segundos de silêncio.

“Ele basicamente não aparece em eventos públicos, no máximo em festas privadas... Na escola da filha mais nova dele.”

“Quantos anos?”

“Dezessete anos.”

“Então a 11 vai se passar por adolescente e...”

“Não, a Princess vai cuidar da filha mais velha e assim assegurar uma segunda alternativa.”

Sooyoung olhou rapidamente para a irmã ao ouvir o segundo codinome da mesma.

“Mas... Como fica a situação da caçula?”

“Primeiramente, a escola onde a garota estuda é a melhor do país, o índice de aprovação na prova de entrada é 5%.”

“Eu conseguiria passar, mas como você acha que eu vou tentar me passar por adolescente?

“Você não vai, Snake.”

Sooyoung ficou levemente confusa com tal afirmação.

“Snake, a prova é em um mês. Até lá, arranje um adolescente e case com alguém, vai precisar de uma pessoa para ser seu par se quiser passar na entrevista, que é a segunda fase...”

“Espera aí!” Sooyoung tinha os olhos arregalados. “Como assim eu vou ter que arranjar alguém para casar e um adolescente em um mês?!”

“Essa missão é para assegurar a harmonia no mundo, Snake, você precisa fazer isso e sei que vai conseguir, pois é a nossa melhor... Com todo respeito, Princess.”

“Agora eu me sinto muito bem de ser a segunda no ranking.” Chaewon sorriu levemente.

“Olha...” Sooyoung suspirou. “Tudo bem, eu faço, esse é meu trabalho. Tem coisas importantes em jogo. Não sei como caralhos vou fazer isso, mas vou dar um jeito.” Ela nem sabia se acreditava naquilo que falava, mas aquele era seu orgulho trabalhando de forma quase inconsciente.

“Isso mesmo. As informações extras desse caso estão no seu quarto e a mercante também irá ajudá-la.”

“Sem problema.”

“Espero que consigam completar essa missão, já vai ser um pouco mais fácil por serem as melhores da organização e irmãs de verdade.”

As duas se entreolharam. Enquanto Chaewon tinha uma leve feição de desdém, Sooyoung engolia em seco.

“Creio que devem ter muito a conversar e combinar, até mais.”

E assim a chamada terminou.

“Boa sorte.” Chaewon se levantou logo em seguida.

“Ei, nós precisamos conversar, Chaewon, para onde está indo?

“Para o meu quarto, quem vai casar e ter filho é você.”

Sooyoung abriu a boca algumas vezes em descrença, principalmente após a mais jovem fechar uma das portas no corredor.

Um belo começo para uma bela família.

Só podia ser piada, era o que Sooyoung pensava. Mal havia processado o fato de finalmente ver sua irmã na sua frente, viva. Pensava se deveria abraça-la, pois tinha muita vontade, mas, pelo jeito, a garota não queria conversa. E não era difícil de entender os motivos dela. No fim, se tornava uma situação, no mínimo, esquisita.

Eram muitos problemas para resolver agora, muitos mesmo.

“Ela fala que a família é problema meu, mas ela vai ser tia.” Sooyoung se jogou com as costas no sofá.

Enquanto isso, em um dos quartos, Chaewon socou o travesseiro rapidamente após trancar a porta, logo respirando fundo.

Talvez devesse colocar laxante no café de Sooyoung no outro dia somente para começar seu ato de vingança. Bem quando finalmente estava conseguindo deixar toda essa história para trás, lá estava Sooyoung vivinha na sua frente.

Os xingamentos vinham rapidamente em sua cabeça, assim como uma espécie de alívio e saudade, era confuso. Se a vida tivesse sido um pouco mais justa, teriam se encontrado em um dos centros de treinamento, mas isso não aconteceu. Ficava brava com a EGO, mas não conseguia passar por cima das políticas do lugar, sempre foi assim, além disso, sem a organização, Chaewon provavelmente não teria muita coisa na vida.

“E ainda fica me subestimando.” Ela sussurrava ao andar pelo enorme quarto. “Esse tempo todo sumida e é isso que me fala, sorte dela não ter me enfrentado nos treinamentos, em combate eu ainda sou a melhor.”

É, orgulho é algo vívido nas duas.

“Merda.” Ela sentou no colchão. “Eu vou ser tia.”

Chapter 2: mãe e filha

Summary:

Arco 1: Prólogo (2/3)

Notes:

Informação importante: Pensamentos lidos pela Yeojin estão em itálico e negrito!

Boa leitura!!!!

(See the end of the chapter for more notes.)

Chapter Text

                                                             

 

Os primeiros aromas dentro do grande apartamento, no dia seguinte, eram deliciosos, mas insuficientes para deixar Chaewon de bom humor, se é que seria possível. A garota, usando um conjunto de moletom cinza, transitava até a cozinha com as mãos nos bolsos da calça, e acabou por fazer uma careta ao perceber a irmã mais velha aparentemente se divertindo enquanto lia o jornal e bebericava café.

“Bom dia.” Sooyoung, portando calças jeans e blusa social azul, a direcionou um sorriso, mas foi completamente ignorada.

Chaewon sentou-se à mesa silenciosamente, começando a aproveitar a refeição composta por ovos, frutas, geleias, torradas e queijos. Em sua cabeça, ela só pensava em como era bom sua irmã saber cozinhar, pois, dependendo dela, deixaria Sooyoung passar fome.

Sooyoung alternava sua atenção entre a irmã, o jornal em mãos e a xícara de café ao seu lado no balcão.

“Eu fiz suco, pois sei que não gosta de café. Se quiser, compro chá gelado depois.” Chaewon virou o rosto lentamente na direção da irmã, a expressão ilegível. “E não tente colocar laxante no meu café. Sei que está no seu bolso.” O pequeno sorriso de Sooyoung era irritante.

Assim como Sooyoung não poderia subestimar Chaewon, o mesmo não se podia ser feito ao contrário.

A loira respirou fundo antes de finalmente sentar-se à mesa. Não estava somente um pouco surpresa pela mais velha ter descoberto o laxante, mas pelo fato de se lembrar do café.

“Não ache que vou te agradecer por isso.” Chaewon finalmente falou.

“Ah, isso não é nenhum favor.” A mulher passava as mãos pelos fios longos e ondulados nas pontas. “Aliás, gostei do seu cabelo. Esse douradinho combina com você.”

“Claro que fica, acha que eu iria andar feia por aí?”

Chaewon somente revirou os olhos bruscamente antes de continuar o assunto.

“Esse jornal já é o de hoje?”

“Sim, é. Fui na Haseul cedinho.”

“Algo novo?”

“Somente um monte de detalhes, mas não vou ficar falando tudo, vamos ir fazendo um de cada vez.”

“Tudo bem, titia.” Chaewon revirava os olhos ao bebericar um pouco de suco.

“A titia é você.” Sooyoung tinha um sorriso convencido. “Primeiro, acho bom nós escolhermos um sobrenome.”

“É realmente melhor usarmos nossos nomes reais dessa vez para não acontecer algum erro... Não que eu fosse cometer algum.”

“Bom que pensamos igual, então sim, vamos usá-los, falta somente escolher um sobrenome.”

“Olhou a lista de sobrenomes?” Chaewon colocava geleia em uma torrada, a animação de sua voz era...Contagiante.

“Eu chequei antes de dormir e eu ainda não usei Ha, e você?”

“Não lembro de ter usado esse.”

“Pois então está escolhido. Ha Sooyoung.” A mais alta apontou para si e depois para a garota. “Ha Chaewon.”

“Dividir o mesmo sobrenome com você de novo me dá vontade de vomitar.”

“Linda conversa para um começo de manhã e no meio da refeição. Perdeu a educação, irmãzinha?”

“E você perdeu a noção?” Chaewon a deu um olhar torto. “Você some por todo esse tempo e agora volta ainda de piadinha para cima de mim e me chamando de irmãzinha? Nós não temos intimidade nenhuma para isso, você é uma estranha.”

Sooyoung não transpareceu, mas algo dentro de si começava a doer, como se estivesse a corroendo. Chaewon era sua pessoa favorita no mundo desde que a viu na maternidade pela primeira vez e agora... Por mais que ainda enxergasse características de quando ela era menor, muito tempo se passou e a garota estava realmente diferente, não só por causa do trauma do suposto abandono e o amadurecimento. A EGO também fez seu trabalho.

“Você ouviu ontem, a EGO não me deu informações sobre a sua situação, eu procurei por você.” Sooyoung usou um tom sério. Algo raro. “Eu só cheguei tarde demais naquele orfanato, se eu tivesse chegado mais cedo... Ou, se depois que entrasse na EGO, eu ligasse os pontos por não achar mais nenhuma informação sua, nem de óbito, mesmo estando dentro da organização...”

“Se é uma agente ruim assim, então saia do primeiro lugar.”

“Chaewon, é sério... Você é minha irmã, eu infelizmente me guio mais por emoção quando te envolve.”

“Chega disso.” Chaewon bateu com o copo de suco na mesa. “Não quero falar sobre o passado.”

“Chaewon, nós precisamos...”

“Não.” Sooyoung não sabia que a mais nova poderia ter uma feição tão assustadora daquele jeito. “A missão primeiro.”

“Ok, ok.” Sooyoung balançou um pouco a cabeça e decidiu beber o conteúdo da xícara de uma vez. “A Haseul também me passou uma lista de orfanatos não registrados e a de solteiros na cidade.”

“É mais fácil ir atrás de adolescentes primeiro.”

“Também acho. Vou precisar preparar ela para os exames de admissão também, provavelmente vai ser um pouco mais difícil por ser no meio do ano, eles permitem menos alunos ainda. Você vai comigo?”

“Nem ferrando. Eu preciso conferir como ficou minha matrícula e essas outras baboseiras na universidade. Vou entrar como transferida.”

“Verdade, você tem uma missão própria... Mas isso não se resolve fácil e pela internet?”

“Sim, mas eu não quero ir com você. Tenho coisas mais importantes depois disso.”

“Como o quê?”

“Fazer pôsteres de uma vaca chamada Vai-vem, candidata a vereadora, e espalhar nos grupos de mensagens compostos por pessoas com mais de sessenta anos não parece bom para você?”

O jeito sério com que Chaewon falava e o silêncio em seguida fez Sooyoung suspirar cansada.

“Entendi, você não vai e sei que muito menos vai ajudar com a questão da prova de admissão, mas é bom ser gentil com a pessoa que eu vou trazer.”

“Vou prender no teto e fingir que é uma piñata, então acertar com um extintor.” A garota colocava mais uma torrada na boca.

“Não começa.” Sooyoung arregalou levemente os olhos, algo que fez a mais nova dar um pequeno sorriso.

Chaewon era uma pessoa excêntrica na visão de Sooyoung, seu humor era deveras quebrado, sempre foi extremamente sincera, e o jeito com que se comportava e se expressava poderia levantar contradições entre a maioria das pessoas. Muitas vezes ela parava na diretoria quando mais nova pelo fato de as crianças interpretarem a garota de forma errada... Ou simplesmente Chaewon era realmente ácida.

Às vezes não se conseguia saber quando ela falava sério ou brincava. Sooyoung só conseguia diferenciar, pois quando ela estava sendo séria, Chaewon mordia o interior das bochechas.

Felizmente ela não fez isso quando falou da pinãta.

“Me passa seu telefone.” Sooyoung disse antes de sair do cômodo. A mais nova a encarou por alguns segundos antes de assentir.

“Pela missão.”

Sooyoung ficou feliz ao receber o contato, pois ajudaria a fixar mais ainda o fato de sua irmã realmente estar ali perto, viva.

“Por que está chorando?” Chaewon tinha uma das sobrancelhas arqueadas em sua direção. “Coisa de frouxa.”

Sooyoung somente riu.

Depois de alguns minutos, Chaewon se retirou do recinto, assim como Sooyoung. O silêncio até que não havia sido tão desconfortável assim. A espiã agora tinha uma lista em mãos, a colocando rapidamente dentro da bolsa. Ela teria um grande dia.

Enquanto isso, já durante a tarde, em uma parte suburbana da capital, uma garota, usando jeans, casaco laranja e converses surrados, andava pelas ruas checando as notas de dinheiro em mãos. Ela havia passado a tarde no fliperama ganhando dinheiro de garotos sabichões que achavam poder quebrar seu recorde no Mortal Kombat.

“Acho que vou poder comprar uma pizza hoje.” Ela sorria pequeno. Falando em pequeno, a garota era baixinha, lábios cheios e com o cabelo escuro preso em um rabo de cavalo.

Sua caminhada só parou abruptamente ao se deparar com um carro chique na frente da sua casa que, na verdade, se tratava de um orfanato. Depois de anos naquele lugar, ela tinha uma certeza: Se a idosa do orfanato não estava luxando, então só poderia significar uma coisa...

“Você pode olhar por todo o lugar sem problemas, vai que encontre alguma do seu interesse.” Uma senhorinha, de cabelos curtos e brancos, rosto cansado, usando um vestido florido e cardigan roxo, dizia para Sooyoung.

A mulher mais jovem carregava o sobretudo bege em um dos braços e sorria sem retirar os óculos escuros. O local era uma casa de dois andares no subúrbio da cidade, quase região metropolitana. Havia pouca vizinhança por ali, permitindo com que fosse uma residência espaçosa e murada. Lá dentro existiam muitos cômodos, apesar de velhos, além de um enorme jardim nos fundos.

Crianças pequenas corriam de um lado para o outro, mas sem fazer muito barulho. Sooyoung vagava o olho por ali na tentativa de achar alguém combinando com o perfil procurado.

E por mais que seu coração quebrasse ao ver tantas crianças órfãs e sem documentos por aí, ela precisava focar no que precisava ser feito. Infelizmente, mais iriam chegar conforme o tempo passava, não muito tempo atrás o país de Vircélia estava envolvido em mais um conflito, além disso, é um estado com histórico de possuir tendências imperialistas fortes.

Então, talvez, se a missão for completada, Sooyoung poderia ajudar aqueles órfãos e muitas outras pessoas inocentes.

Aquele era o sétimo orfanato que visitava, já era em torno de umas três e meia da tarde, ela até precisou comer em algum restaurante pela cidade. Não é como se não existissem mais orfanatos para procurar no dia seguinte, mas precisava achar logo quem almejava, pois não poderia perder tempo. Cada segundo valia.

Sooyoung vasculhou os andares de cima e, no máximo, achou umas crianças de doze anos jogando baralho em um dos quartos. O último lugar que ela resolveu checar foi justamente o jardim nos fundos.

E, do lado de fora, a garota se encontrava no topo de uma das árvores por ali. Seus olhos meio arredondados se encontravam semicerrados enquanto observava aquela estranha adentrando o jardim.

Não era todo dia que o orfanato recebia alguém por ali.

Aliás, estranhava o fato de ela somente olhar para as crianças e nem mesmo tentar algum tipo de conversa... Estranho se ela realmente estiver atrás de adotar alguém. A garota conhecia tantas crianças incríveis naquele orfanato que estranhava muito o fato daquela mulher não ter se decidido ainda.

Mais estranho ainda quando viu ela se dirigir até a dona do orfanato. Yeojin somente arqueou as sobrancelhas com o conteúdo dito, mas nem se prontificou a esconder-se entre as folhas, o que a fez ser encontrada pelo olhar cansado da idosa. Agora elas já estavam bem próximas da mais jovem.

“Sra. Sooyoung, aquela ali é a Yeojin, fez dezessete no final do ano passado. Ela foi deixada na minha porta com quatro anos de idade. Vive saindo daqui para não sei onde, parece um gato de rua, talvez puxou isso dos pais, ela é um pouco atrapalhada, intrometida...”

Yeojin alternava o olhar entre a idosa e a mulher alta ao lado. Ela já estava se preparando para começar a bater boca com a senhora pela péssima propaganda quando...

Ela está na idade perfeita.

Yeojin realmente não ouviu errado quando a mulher tinha perguntado quem era a pessoa mais velha no orfanato para a idosa.

E mais um detalhe: Sim, Yeojin leu o pensamento de Sooyoung. E a espiã não fazia ideia de que aquela garota baixinha descendo da árvore e a encarando de maneira desconfiada possuía... Certas habilidades mentais.

Aliás, ela não havia sido deixada na porta do orfanato, a própria Yeojin ouviu a senhora falando de ter um orfanato enquanto vagava pelas ruas usando roupas brancas do laboratório de onde havia fugido. Ela mesma bateu na porta.

Com essa altura, nem parece que tem dezessete.

Yeojin fez uma pequena careta com o pensamento alheio. Se tinha algo que ela lembrava direito era sua idade, pois seu aniversário era o único dia que as pessoas daquele laboratório eram mais gentis consigo.

“Você sabe ler e escrever?” Sooyoung perguntou para a menor, que resolveu ignorar completamente o comentário mental.

“Sei...” Respondeu ao inflar as bochechas.

Ótimo, agora é só treinar ela para o exame de admissão da Escola Sonatine e fazer ela se aproximar da Son Yerim. Boa Agente 9, parece que seu trabalho por aqui está terminado. Essa missão vai dar certo e o mundo irá ser salvo, tudo tranquilo.

Yeojin rapidamente encarou os próprios pés ao se dar conta do que ouviu. Aquela mulher era uma espiã? Mais do que isso... Yeojin era uma ferramenta para a missão? A menor não podia acreditar naquilo... Pelo menos ela havia falado sobre salvar o mundo... Isso deveria ser boa coisa, deveria né?

“Você quer vir comigo?” Sooyoung deu seu sorriso mais simpático para a garota.

“Não acho que seja uma boa ideia...” A idosa interviu. “Provavelmente vai devolvê-la, não ouviu o que eu disse?”

“Acredito que é melhor ter a experiência antes de assumir as coisas. Além disso, um filho não herda os pecados do pai.” Sooyoung deu de ombros. “O que me diz, Yeojin? Quer ser minha filha? Não há nada de errado em adotar uma adolescente.”

Os pensamentos de Sooyoung não denunciavam mentira para Yeojin, ou seja, por mais que ela realmente só seja uma ferramenta... Sooyoung acreditava naquilo que dizia no momento.

E não é como se Yeojin possuísse uma opção melhor. Durante seus anos no orfanato, ela viu várias crianças sendo adotadas e os adolescentes, ao fazerem dezoito, acabavam precisando sair, mesmo aquele lugar sendo não registrado. Então, com o passar do tempo, e sem ninguém querendo a adotar... Aquela era sua primeira chance de nenhuma.

Yeojin também iria fazer dezoito naquele ano e, pelo menos, iria ter alguma chance com Sooyoung de certa forma. Então deveria fazer poucas perguntas e só aproveitar a família nova e a boa escola no currículo para assim seguir em frente com alguma segurança. Não era uma escolha difícil. Qualquer coisa seria melhor do que continuar ali.

“Aceito.” Yeojin sorriu sem mostrar os dentes.

Sooyoung estava feliz com a resposta.

“Não se preocupe, eu vou arranjar tudo direitinho. Pode arrumar suas coisas, vamos para casa hoje.”

“De certa forma, fico feliz que essa pirralha vai estar fora daqui.” A idosa revirava os olhos ao voltar para a casa.

Algumas crianças observavam de longe a interação daquelas duas fazia um tempo.

“Não ligue para ela.” Sooyoung disse ao notar a mais nova assumindo uma feição de brava. “Acho melhor só ir pegar suas coisas, você tem celular?”

Yeojin aliviou a postura e colocou as mãos nos bolsos do casaco.

“Eu tenho um de segunda mão que ganhei de um moleque apostando lá no fliperama, é para lá que eu ia.” Ela retirou o objeto do bolso de trás da calça. Um celular de tela trincada.

“Você é boa em videogames?” Sooyoung demonstrava certo interesse.

“É, sou.” Yeojin guardou o telefone no mesmo lugar.

“Ótimo, depois eu vou ver se te compro um videogame, por enquanto, acho que vou te dar um celular novo.”

“Sério?” Yeojin pareceu mais animada.

“Uhum.” Sooyoung sorriu com os olhos.

“Mas, moça... Por que quer me adotar?” Yeojin sabia que deveria manter poucas perguntas, mas talvez Sooyoung a achasse estranha caso não questionasse nada, ela provavelmente teria a resposta na ponta da língua.

“Nunca tive filhos, mas tenho vontade, então pensei em alguém da sua idade, pois também não tenho muito tempo caso fosse criança. Inclusive, moro com minha irmã mais nova, ela é alguns anos mais velha do que você.”

“Entendi, você é casada?”

“Em breve, muito em breve, vou me casar.”

“Ok...” Yeojin fez um bico.

“E você tem alguma memória de antes desse orfanato?”

Hã...? Se você está falando sobre o fato de eu ter sido criada em um laboratório e passar o dia em uma sala branca mexendo com latinha de refrigerante e adivinhando desenho, então sim.

“Não.” Yeojin assentiu negativamente.

“Ok, então.”

Menos problemas.

Acredito que não tenha mesmo.

"E seu nome agora é Ha Yeojin.”

“Ha?”

“Isso... E pode me chamar de mãe Soo.”

Yeojin tentava controlar a boca aberta ao entrar no carro, pois nunca tinha tido a chance de algo assim. Mal podia acreditar que aquele plot de filme estaria acontecendo consigo. Aliás, Sooyoung realmente tinha o ar de espiã passado nos filmes, porém, aquilo não era um filme.

E se Yeojin morresse? A garota agarrava o cinto de segurança, apertando entre os dedos. E se ela a devolvesse? Entrar em Sonatine, a escola de riquinho, era outros quinhentos e Yeojin nunca nem havia ido propriamente para a escola... O que tinha na cabeça?

Contanto que eu finja não saber a identidade dela, então não vai precisar de queima de arquivo, eu só preciso não voltar para o orfanato.

Era o que pensava para se tranquilizar.

E assim elas acabaram fazendo um certo passeio pela cidade, já que precisaram resolver o probleminha com o celular da garota. Assim, acabaram chegando no condomínio no início da noite.

“Caramba.” Yeojin deixou escapar quando chegaram na entrada do prédio, indo estacionarem no subterrâneo.

“Gostou?”

“Uhum.” Ela assentia, começando a ficar bem animada.

Agora as duas saíam do veículo e pegavam as bagagens de Yeojin, no caso, uma mala e uma mochila, já que não tinha muita coisa.

“Seu ensino foi no orfanato?” Ela dizia enquanto caminhavam pelo estacionamento do prédio. As duas só carregavam uma mala e uma mochila, Yeojin não tinha muita coisa.

“É...” Yeojin ficou claramente um pouco desconfortável. “Meio que foi sozinha, a velha só ensinava o básico do básico.”

“Relaxa, não tem problema, eu já esperava algo assim. Vai ser trabalhoso, mas você consegue.”

“Sei que vou precisar ir para a escola, ainda tenho idade.”

“Sim, óbvio que vai, precisa experienciar a escola pelo menos por um semestre, ter a chance de ir em um baile, fazer parte de clubes e se formar.” Sooyoung afagou rapidamente os cabelos de Yeojin enquanto entravam no elevador.

Yeojin sorriu pequeno ouvindo aquilo. Ela realmente só estava ali para cumprir um papel, mas gostava da sensação de ter alguém assim se preocupando e tendo certas expectativas consigo.

“Eu vou para qual?”

“Sonatine.”

É, eu sabia.

“Sempre foi meu sonho estudar lá, creio que vai ser ótimo para você.”

“Eu já ouvi um pessoal no fliperama falando que é escolinha de rico, mas que também era bem difícil de entrar porque as provas são difíceis.”

“É, isso é verdade, mas você é uma Ha agora, não precisa se preocupar com isso.”

Para uma espiã no meio de uma missão... Ela até que está levando jeito nesse papo de mãe.

“Obrigada pelo celular de novo.” Yeojin dizia, tentando não parecer uma pateta vendo Sooyoung desbloquear o elevador para a cobertura. O novo dispositivo já estava em seu bolso. Elas demoraram um tempo na loja para Yeojin já deixar o celular com todas as suas coisas e entregar o velho para conseguir um desconto.

“Por nada. Nós ainda precisamos ir no shopping comprar algumas roupas novas e sapatos para você.”

“Ah... Muito obrigada.”

“Isso não é nada.” O carisma de Sooyoung era contagiante. “Chegamos!” A mais velha da casa anunciou assim que as portas do elevador se abriram.

A garota ficou impressionada quando adentrou o apartamento. Nunca havia visto algo assim de perto, nem pensou em ter uma chance dessas na vida. Ela poderia pedir para ser beliscada agora. Porém, logo ouviu passadas pela casa e acabou notando mais uma pessoa.

Yeojin colocou o melhor sorriso no rosto visto que existia uma garota um pouco mais velha que si, porém não tão alta, no caminho para se sentar no sofá. Ela tinha o controle da televisão nas mãos. A feição de desdém da outra fazia com que a nova integrante da família segurasse firme nas alças da mochila velha.

“Chaewon, essa aqui é a Yeojin.” Sooyoung sorriu ao mostrar sua nova adição.

“Prazer em te conhecer.” A menor sorriu.

Ela realmente tem a idade certa?

“Olha só... Minha irmã e o hamster dela.”

A mais jovem arregalou os olhos para a de cabelos dourados.

“Respeito, Chaewon, essa é a sua sobrinha.”

Ela é tão pequena, do tamanho de uma piñata.

“Você é do tamanho de uma piñata.” A Ha do meio disse com um pequeno sorriso.

Pelo menos ela é sincera.

“Yeojin, vai indo para o seu quarto.” Sooyoung cortou a conversa antes que algo mais acontecesse. “Existem seis quartos por aí, mas o seu é o primeiro da esquerda. Depois que se instalar vem para cá, vou pedir pizza, você disse que gosta.”

“Ok!” Yeojin assentiu feliz, mas ainda encarou Chaewon uma última vez com uma feição mais fechada.

Que foi? Quer acordar com uma cobra debaixo do cobertor?

“Que foi? Quer acordar com uma cobra debaixo do cobertor?”

A mais nova arregalou os olhos.

EU VOU MORRER.

Ah não, Chaewon...Assim você assusta a menina.

“Chaewon, pelo amor de deus...” Sooyoung coçou a cabeça. “Não se assuste com ela, Chaewon pode ser um pouco excêntrica. Pode desconsiderar essas ameaças e apelidos. E Chaewon, pare com isso, você não é mais uma criança.”

Que seja.

A Ha do meio somente deu de ombros e seguiu para o sofá.

“Sinta-se em casa, sobrinha.” Chaewon tinha um tom monótono.

É cada coisa.

Yeojin somente pegou sua mala e seguiu sem mais perguntas para seu quarto, deixando as mais velhas sozinhas na sala e tendo uma certeza: Trancar a porta quando for dormir. Com o tempo iria se acostumar, Chaewon não poderia ferrar com a missão, pois com certeza sabia disso. Não surpreenderia se Chaewon também fosse uma espiã.

“Parabéns, Sooyoung, uma parte da missão foi feita. Já falou de Sonatine para ela? Para começo de conversa, ela nem parece ter dezessete.” Chaewon disse ao se jogar no sofá.

“Ela tem, pelo menos é o que consta nos arquivos, a garota só é pequena mesmo. E, sim, já falei, está tudo bem. Passei um tempo com ela hoje, Yeojin é uma boa pessoa. Agora, por favor, tenta se comportar, pelo menos ficar na sua.”

“Uau, Ha Sooyoung já está agindo como mamãe coruja.”

“Chaewon, é sério, você não precisa ficar assustando a menina. Ela precisa se sentir bem na própria casa até para ser mais colaborativa.”

“Eu não sou um monstro, ok? Ela só precisa se acostumar que sou brincalhona.” Chaewon sorriu sem mostrar os dentes. “Ela logo vai ver que sou uma tia muito querida.” O riso anasalado de Chaewon fez Sooyoung revirar os olhos. “É sério, pode confiar em mim, eu não sou uma traidora que nem você.”

“Vai me atacar assim de forma gratuita?”

“Vou.” Chaewon sorriu grande. “Mas não se preocupe, porque não tem humilhação no mundo que eu possa fazer capaz de bater o fato de você precisar casar com alguém em tempo recorde.” A jovem finalmente ligou a televisão.

“Nem me lembre.” Sooyoung suspirou de forma cansada. “Vou pedir a pizza.”

 

 

 

 

Falando em casamento, uma certa candidata se encontrava em uma parte deveras movimentada da cidade.

“Você tem noção de quantos Capitães América existem nesse negócio?” A assassina de aluguel RedSix, se encontrava no topo de um prédio ao pátio onde se realizava um evento de cosplay.

A mulher de cabelos platinados, olhos castanhos, maquiagem um pouco pesada, roupas e luvas pretas, escuta e uma enorme sniper possuindo mira telescópica e infravermelha, ouvia algumas dicas sobre seu alvo naquela noite. Dificilmente era assim, ela geralmente já recebia um nome, um rosto. RedSix não recebia muitas missões onde executava instruções no lugar. Essas com certeza não eram suas favoritas.

“Ele fuma.”

“Que informação útil.”

“Anda mancando e estala os dedos com frequência, é canhoto.”

RedSix sabia que essas missões específicas eram as mais fáceis de se terem erros, por isso acabava nas mãos de pessoas experientes como ela. E realmente não foi difícil de localizar o alvo com poucos detalhes. Seu raciocínio durante o trabalho era preciso e, melhor do que isso somente seus reflexos.

“Alvo abatido.” A assassina dizia usando de um tom seco.

Pessoas no pátio começavam a correr com a queda repentina de um jovem no chão e o sangue. O tiro não deveria ter sido exatamente ouvido por conta do silenciador.

“Bom trabalho. Os clientes já transferiram o dinheiro.” E assim, mais um serviço para a ECLIPSE foi realizado.

Aquela foi a última coisa que ouviu antes de desligar a escuta. RedSix, retirava as luvas, desmontava sua arma e abria uma maleta na forma de um contrabaixo. Ela retirou o instrumento e usou o fundo falso para organizar a arma e a escuta, depois disso o colocou de volta e se preparou para descer pelas escadas como se nada tivesse acontecido.

Agora ela era Kim Jungeun, uma mulher bonita, não muito alta, de lábios bem desenhados, que trabalhava na administração dos correios da cidade durante o dia e substituía usuários de contrabaixos em bares algumas vezes durante a noite.

E Jungeun rapidamente chegou ao térreo sem ser percebida. As luzes da cidade faziam com que fosse muito mais perceptível as fivelas de prata no abdômen, as correntes no pescoço, as calças de couro e as botas possuindo um leve salto, além da bolsa que carregava com dois chaveiros de bolas de sinuca: vermelho e verde.

Sua volta para casa foi tranquila, Jungeun resolveu por pegar um táxi. Ela iria simplesmente voltar para sua vida monótona em um apartamento localizado no bairro perto do centro.

Durante o caminho, ela encarava a bolsa contendo seus equipamentos. O seu real trabalho que a acompanhava desde a adolescência.

Ela pensava qual seria seu destino se não precisasse atravessar a fronteira com seus pais ainda criancinha depois do bombardeio em Rassel.

E, depois de assumir o manto de RedSix, foi ficando cada vez mais reclusa, evitando estar próxima demais das pessoas e sempre vivendo da maneira mais quieta possível para não levantar suspeitas. Seria mentira dizer que Jungeun não queria um pouco mais de normalidade para sua vida, a única coisa ligeiramente boa era saber que se sujar servia para tornar o mundo um lugar menos pior.

É isso que a ECLIPSE promete.

“Boa noite.” Ela disse ao sair do táxi.

Jungeun encarou o prédio marrom de cinco andares que morava. Os apartamentos eram pequenos e ali era geralmente uma vizinhança calma, porém, luzes vermelhas e azuis refletiam nas paredes e muros. Alguns de seus vizinhos se encontravam na entrada do lugar.

“O que aconteceu?” Jungeun se aproximou de uma mulher na faixa dos quarenta, seu corpo era envolvido por um robe de seda longo. Provavelmente só saiu da cama e desceu direto.

“O Changsoo foi preso.” Ela cochichou.

“O Changsoo do terceiro andar?”

“Sim.”

“E por qual motivo?”

“Ele vivia sozinho no prédio, você sabe, não falava realmente com ninguém e aí começaram a desconfiar dele. Prenderam ele sob suspeita de espionagem.”

“Ah...” Jungeun abriu a boca ao entender a situação. “Fico surpresa.”

“Se quiser um conselho... Seria bom você casar, não suspeito de ti, nem nada, sempre foi gentil com todo mundo, mas nada é garantido nesse mundo. Infelizmente estar chegando na casa dos trinta e vivendo sozinha pode fazer alguém da vizinhança suspeitar como aconteceu com o Changsoo... Talvez se ele fosse casado, sei lá. As nações estão sempre muito tensas, você sabe...”

“É, eu sei...” Jungeun sabia que aquela mulher falava bastante, mas pior era ter certeza sobre o fato de ela não estar errada. Por mais que tentasse manter as aparências, seria questão de tempo até alguém levantar uma sobrancelha para ela.

E, talvez, realmente fosse uma boa ideia pensar em se casar para sua segurança... Agora com quem era o grande problema.

Notes:

Espero que tenham gostado, vejo vocês em breve!

Chapter 3: esposas

Summary:

Arco 1: Prólogo (3/3)

Notes:

Boa leitura!!

(See the end of the chapter for more notes.)

Chapter Text

                                                                     

 

Haseul estava acostumada com o movimento na sua banca de revistas. De todos os disfarces que precisou tomar, aquele era de longe o mais tranquilo. Observar as pessoas e suas rotinas nunca deixava de perder a graça em sua visão, principalmente quando existia uma espiã do outro lado da rua.

“O jornal do dia, por favor.” O pagamento já era colocado na bancada por Sooyoung, que sorria sem mostrar os dentes.

“Aqui.” Haseul devolveu o gesto, acabando por pegar uma revista lacrada embaixo do seu balcão. “A sua assinatura chegou.”

“Fico feliz. Tenha um bom dia.” A mulher pegou a sacola com os itens e não perdeu tempo em atravessar a rua.

Haseul riu anasalado, logo tampando a própria vista com a parte política do jornal.

Do outro lado da rua, Sooyoung voltava para o condomínio assobiando. Os documentos de Yeojin, e os direcionamentos das provas de Sonatine estavam em suas mãos, algo ótimo para uma menina como Yeojin que nunca havia ido para a escola.

“Ugh.” A mulher ouviu assim que adentrou a sala.

“Encontrei exatamente quem eu queria.” Ela abriu os braços. “Entrega isso aqui para a Yeojin.”

“Sai dessa, não é trabalho isso meu.” Chaewon pegava o controle da televisão para se mostrar com menos paciência.

“Você está nessa também, precisa mostrar ser a pessoa mais normal possível.” Sooyoung sussurrou. “É isso ou olhar a lista de solteiros.”

Chaewon alternou o olhar entre sua irmã e a televisão, então para a revista lacrada.

“Ok, mas eu ainda não tenho obrigação, o que custa você ir lá?”

“Pois vou justamente olhar as listas de solteiros, me ajuda. Só isso, Chaewon...” A mulher cruzou os braços. “Esse é o básico de uma missão envolvendo disfarce, não sei se sabe.”

Chaewon praticamente rosnou, pegando a revista e rasgando o plástico para enfim colocar as mãos no envelope dobrado lá dentro.

“Que saco.” E saiu pisando forte até os quartos.

“Nunca falha.” Sooyoung riu, já sentando-se no sofá.

Poderia sim ir deixar, mas queria tentar aproximar aquelas duas. Chaewon poderia estar levando tudo isso com muita amargura, mas possuir uma dinâmica entre as duas era essencial para essa missão funcionar. Afinal, mais uma pessoa se juntaria à família e Yeojin e Chaewon deveriam interagir da forma mais natural possível.

Quem foi o imbecil que inventou isso de prova personalizada? Não dá nem para colar!

“Ei, pirralha.” Yeojin, que se mantinha na escrivaninha com os cabelos presos, usando short jeans e blusa larga, enquanto batucava com a lapiseira no caderno, prendeu a respiração por notar quem era.

“Fala, Chaewon.” A mais nova deu um sorriso sem graça ao se virar na cadeira giratória para encarar a outra, que portava um casaco de moletom enorme que ia até o joelho.

“Toma.” A loira a estendeu um envelope laranja. Yeojin ficou tão aflita que acabou não reparando no item trazido pela garota.

“O que é isso?”

“São os tópicos das provas e os seus documentos. Minha irmã quer realmente o melhor para você.” O tom bem animado de Chaewon, para não dizer o contrário, deixava a situação estranha.

Era isso ou ter que ficar procurando gente para minha irmã casar.

“Valeu.” A menor recolheu o envelope sem fazer mais perguntas, afinal, ela não queria nunca incomodar Chaewon. Além disso, já sabia bem o motivo de sua querida tia ter ido ao seu quarto quando demonstrava bem querer ficar o mais longe de si.

Não demorou muito tempo até Yeojin sacar exatamente o que Chaewon e Sooyoung estavam planejando em termos de missão, fora a relação de irmãs reais que tinham. A mais nova perdia as contas de quantas vezes ouvia Chaewon xingando a mais velha e remoendo situações passadas, chegava a ser triste de ouvir.

Por enquanto, Yeojin continuava estudando, ou ao menos tentando, e aprendendo a se acostumar com a rotina no apartamento. Sooyoung era uma ótima responsável, enquanto Chaewon a assustava um pouco, mas nada que não pudesse se habituar com mais tempo.

Pelo menos agora tinha uma chance de futuro e seu próprio quarto, que era deveras espaçoso. As paredes eram brancas, agora contendo um pôster de Mortal Kombat dado por Sooyoung no dia anterior, os móveis de madeira possuíam coloração escura e sua cama era grande o suficiente para dormir se mexendo bruscamente sem risco de cair. A garota tinha um espaço para estudar perto da janela, uma televisão, um notebook e ar condicionado, então sim, Yeojin poderia se acostumar fácil.

“Sinceramente...” Yeojin, que já havia se virado com o envelope para o abrir, parou sua ação para prestar atenção na tal tia. Chaewon não era de puxar assunto. “Por que aceitou vir com a minha irmã?”

A falta de pensamento e o tom baixo chegava a ser um pouco assustador.

“Mas por qual motivo eu não viria?” A mais nova decidiu ser sincera. “Eu vivia em um orfanato caindo aos pedaços sem nenhum pingo de noção do que iria fazer no futuro.”

“Não estranha a minha irmã? Do nada querendo você nessa Sonatine?”

Ué, porra, você quer foder a missão? Sua missão não se segura sozinha não.

“Estranhar? Ela é uma mulher adulta, faz o que quiser... Ela quis ser minha mãe e me colocar em uma boa escola como uma boa mãe.” Yeojin deu de ombros.

Sim, uma ótima mãe, tomara que não seja tão boa quanto foi como irmã!

Você precisa de terapia.

“Sabe que ela vai se casar, não é?”

“Ela disse que está se relacionando com alguém faz um tempo.” Yeojin se virou para a escrivaninha com os tais tópicos e documentos.

Se eu te contasse...

Não precisa contar, eu já sei.

“Pois é, eu não sei se vai ter festa ou se vão viajar.” Chaewon fez um pequeno bico, observando as costas da outra. “Até que uma festa não seria ruim.”

“Não vi ela comentar sobre lua de mel.”

Lua de choro.

“Hum.” Chaewon se aproximava ao colocar as mãos nos bolsos do casaco, enquanto a outra retirava as folhas do envelope.

Puta merda, isso são umas cinquenta páginas em fonte doze! Ah! Minhas fotos nos documentos ficaram boas... MAS, PORRA, CINQUENTA PÁGINAS!”

“A questão três está errada.” Chaewon disse sutilmente ao visualizar o caderno da outra ao pender a cabeça. Yeojin não notou a mais velha se aproximando e acabou dando um pequeno pulinho. “Você é burra? Isso é básico do básico.”

“Então me ensina.” A mais nova disse após revirar os olhos disfarçadamente. “Você é minha tia.”

Ah, sua merdinha...

“Te vira.”

“Mas tia...” Yeojin tinha um tom levemente triste. A garota não sabia de onde havia tirado coragem, talvez fosse o fato de poder gritar por Sooyoung caso Chaewon resolvesse partir para a agressão.

Mas Chaewon não alterou a expressão, como sempre, simplesmente respirou de forma cansada.

“Eu sou sua tia tão quanto um cachorro saltitante que invade um jogo de futebol.”

Yeojin acabou por franzir a testa.

“Mas isso não faz sentido.”

“Exatamente... Assim como eu ser sua tia.”

Chaewon saiu do cômodo se sentindo um pouco mais vitoriosa, mas ainda respirando fundo com aquela dita pirralha testando sua paciência. Na sua cabeça, estava convivendo com duas malucas. Uma Sooyoung e outra Sooyoung rebaixada.

E a garota logo franziu o cenho ao perceber a mais velha deixando as listas de solteiro e indo para frente do espelho. Chaewon acabou por ignorar e sentou-se no sofá, tentando focar no jornal, mas acabava por prestar mais atenção na irmã, que tinha um certo comportamento engraçado.

Agora já faziam minutos que Chaewon encarava sua irmã colocando os sapatos, os óculos escuros e arqueando as mangas da camisa social, enquanto se encarava de forma ameaçadora no espelho perto da cozinha.

Chaewon via a situação com uma das sobrancelhas arqueadas ao estar esparramada no sofá. As fichas de solteiros podiam serem vistas um pouco espalhadas na mesinha de centro feita de vidro.

“Vai para onde?” Chaewon perguntou sem muito interesse.

“Para o campo de batalha, uma missão muito importante.”

“Sei.” A mais nova finalmente levou seus olhos até as fichas, sua irmã parecia ter mexido nos documentos e ela notava uma ficha por cima das outras. “Gostou dessa loira?”

“O quê?” Sooyoung ainda se encarava no espelho.

“Essa mulher aqui...” Ela pegou a ficha em mãos. “Até marcou com caneta.”

“Ah, sei.”

“Sabe, é?”

“É, eu sei. Só achei ela interessante.”

Chaewon suspirou.

“Não é para se apaixonar, Sooyoung, isso é somente uma missão. Seria mais fácil uma pessoa menos bonita e um pouco irritante.”

“Eu sei me virar, Chaewon, e é óbvio que vou aproveitar qualquer oportunidade de deixar essa missão mais tragável. E não preciso que fique me lembrando das coisas, Chaewon.”

“Ok, não está mais aqui quem falou.” O modo defensivo fazia a garota perceber que Sooyoung por um momento estava sim esquecendo ser uma missão. Ela era uma grande romântica, ainda não vai esquecido desse detalhe.

E Chaewon sabia porque essa missão era tão difícil e irritante... Não havia nada mais tentador para espiões do que a vida mundana.

“Muitas vezes parece que você quer que eu falhe nessa missão.”

“É, eu até que gostaria.” Chaewon deu de ombros. “Conseguiria me virar caso saísse de cena, então facilmente conquistaria meu posto de primeira no ranking.”

“A EGO odiaria esse desfecho para a missão, essa é de longe a mais meticulosa.”

“Por isso mesmo eu disse que gostaria, não que vou fazer acontecer, mas assim... Zoar com a sua cara durante esse tempo está entre os meus planos.” Chaewon deixou escapar um pequeno riso, algo que fez a mais alta se virar e a encarar.

“Vou ignorar isso completamente pelo bem da minha saúde física e mental.”

Aquilo fez Chaewon sorrir levemente.

“Mas para onde você está indo?”

“Já falei, um lugar importante. Quer ir comigo?”

“Uau, minha irmã querendo estabelecer um laço aqui... Mas ainda não me disse que lugar é esse.”

“Supermercado... Dia de promoção.”

O silêncio a seguir se permeou por alguns segundos até Chaewon simplesmente recolher os documentos na mesa de vidro e começar a caminhar para seu quarto.

“Ei! O que vai fazer com isso?”

“Procurar alguém para você, tenho que garantir ser uma pessoa pelo menos decente para conviver, boa sorte fazendo compras.”

“Supermercado não é tão ruim assim!”

“Com você sim. Peça para a sua filha.” A voz da garota se distanciava mais por estar subindo as escadas.

“Só porque eu te deixava na fila enquanto ia atrás dos produtos! Eu batia recordes de tempo, Chaewon!”

“Quem tem filha para alimentar é você, eu me viro.” E assim, a mais nova se trancou no quarto.

Bem, Sooyoung parou para pensar um pouco, realmente precisava da opinião de Yeojin, pois não tinha um panorama completo do que ela gostava de comer. O que mais havia notado na jovem, além de amar vídeo game, é o fato de amar desenhar.

“Oi, filhota.” A mais velha adentrou o cômodo enquanto sorria sem mostrar os dentes. Yeojin havia se virado com uma expressão mais leve. A garota, por mais que quisesse evitar se apegar, tendo em vista aquilo ser só uma missão e aquelas pessoas serem ótimas atrizes, sentia-se realmente bem em ter Sooyoung como sua responsável.

“Olá.” A menor comprimiu os lábios. “Vai sair?”

“Vou ao supermercado, queria saber se quer alguma coisa.”

“Ah... Não, eu acho, nunca fui de fazer compras...” A garota comprimiu os lábios. Realmente comia o que tinha nos armários e geladeira do orfanato, no máximo comprava pizza quando descolava uns trocados jogando no fliperama.

“Pois eu vou atrás de coisas legais para você experimentar!” Sooyoung acabou se animando com a ideia de ver as reações de Yeojin com certos alimentos. “Tem umas comidinhas muito boas.”

“Ótimo.” Yeojin sorriu pequeno.

“E como vão os estudos?” A maior se recompôs um pouco antes de se aproximar da mesa. “Viu os tópicos? Tem algumas questões de provas anteriores.”

“Sim, vi.” A caçula levou os olhos aos papéis e seu tom tinha certa pitada de preocupação.

É, ela está assustada.

    “Olha, quando eu chegar...” Sooyoung levou uma das mãos até a cabeça da garota. “Eu te ajudo com tudo isso, creio que preciso passar um tempo extra ensinando você. É minha função.”

Sooyoung parece tão legal falando desse jeito...

“E o seu trabalho?”

“Sou eficiente, vou dar conta. Estude com calma, pause quando for necessário e não se apavore.” Sooyoung afagou os cabelos de Yeojin, que deixou escapar uma pequena risada.

Meio complicado não achar que vou MORRER com isso, mas eu vou tentar.

“Aliá, Soo-” Yeojin pausou ao notar o sutil levantar de sobrancelhas da mais velha. “Mãe.”

“Diga.”

Tomara que ela se acostume logo em me chamar assim, porque não podem ter falhas.

É, eu sei, estou tentando aqui.

“Você falou sobre uma entrevista caso eu passe na prova... Vai dizer que sou adotada? Essa galera rica é cheia de frescura, então não sei.”

“É algo a se pensar.”

    “E aí?”

“Para todos os fins, você é minha filha e ponto final. Vamos nos prender nessa narrativa.”

“Sua namorada sabe sobre mim?”

Porra, eu esqueço que ela já sabe desse detalhe. É muito para a minha cabeça.

Eu só estou tentando te ajudar aqui a não avacalhar as coisas.

“Conheci ela quando já estava decidida a adotar. Eu morava em outro lugar, nos conhecemos pela internet.”

“Entendi. Então ela está de boa?”

“Isso mesmo. Toda essa situação não tem nem quatro meses e se ela aceita eu ter uma filha, tranquilo.”

É bom ela parar as perguntas.

Mas se eu não perguntar, pode ser que me ache muito burra ou muito suspeita!

“Mãe.” Yeojin suspirou após os segundos de silêncio. “Tudo bem. Fico feliz por você ter encontrado uma pessoa tão compreensiva.”

“Sério?” Sooyoung piscou algumas vezes.

“Sim. Não está atrapalhando ninguém. Sou sua filha e ponto final, certo? Até Sonatine você pensa em algo, a gente não precisa trazer o fato de eu ser adotada o tempo todo. Acho que sua namorada entenderia também.” A garota a deu um olhar simpático.

Que menina de ouro, obrigada eu .

Só quero ficar viva, obrigada.

“Isso mesmo.” Sooyoung sorriu.

“Mas pelo visto quatro meses de webnamoro é o suficiente para querer se casar, não é? Parando para pensar eu nem sei o nome dela...”

CHEGA!

PAREI!

“O amor é engraçado, filha, muito engraçado.” A mulher começou a dar pequenos passos para trás, portando um sorriso amarelo. “Um dia você vai entender... E logo você descobre o nome dela... Até mais tarde.” A mais velha finalmente começou a se retirar do quarto.

Hora de ir para a guerra.

Quê?! Que guerra?!

Yeojin chacoalhou a cabeça levemente, tentando ignorar aquele pensamento. Pelo menos tinha uma certeza: Ainda precisaria se fingir de otária muitas vezes.

E do lado de fora, Sooyoung caminhava até o elevador de saída, pensando em como Yeojin seguia com todo aquele plano. Ou era muito estúpida ou muito gentil... E preferia pensar na segunda opção.

Tempos depois, Sooyoung entrava no enorme supermercado empurrando um carrinho. O vento frio do ar-condicionado a deixou um pouco mais à vontade.

Uma leve melodia de jazz tocava pelo ambiente enquanto famílias e pessoas sozinhas vagavam entre os corredores atrás dos melhores preços. Uma voz no alto-falante anunciava algumas promoções, além de placas de carros que trancavam outros no estacionamento.

Sooyoung tamborilava com os dedos no apoio do carrinho enquanto ia passando pelos corredores e colocando diversos produtos para levar. Mesmo após anos, ela ainda recordava das coisas favoritas de Chaewon. E muito do que cozinhava para a irmã quando mais nova, agora ela queria fazer o mesmo por Yeojin.

“Pêssegos em calda.” Sooyoung sussurrou para si mesma ao passar perto dos enlatados.

Aquele era um produto de extremo gosto pessoal, seu humor muitas vezes dependia daqueles pêssegos desde pequena e eles deveriam ser de uma marca específica. Sua relação com aquele alimento era tão forte que o cheiro faria Chaewon lembrar da mais velha mesmo vivendo separadas por muito tempo. Era uma lembrança do laço das duas e de seu país natal.

E Sooyoung visualizou a lata. A única lata. Mas estava tudo bem, pois seria sua.

Contudo, outra mão agarrou o objeto ao mesmo tempo.

“Com licença?” Sooyoung se virou para a estranha.

Uma mulher mais baixa, loira perolada, de belos lábios avermelhados. Ela usava calças jeans, tênis branco e suéter preto, além de portar uma bolsinha lateral. No momento, sua feição se baseava em uma sobrancelha arqueada.

“Eu peguei primeiro.” A estranha disse, ignorando a feição fechada, quase ameaçadora, de Sooyoung.

 

A espiã estava sim brava pelo fato de estar disputando a última lata dos seus queridos pêssegos, mas agora ela começava a reconhecer aquele rosto. Seria difícil não. Ela era a moça da ficha que Chaewon pontuou mais cedo e que a própria Sooyoung havia marcado com caneta.

O momento era uma chance em um milhão. Poderia simplesmente brigar com a mulher e perder uma pretendente ou aproveitar a oportunidade para dar continuidade à missão.

“ISSO É UM ASSALTO!”

Tal declaração vinda de outro corredor chamou a atenção das duas, mas nada que as fizessem soltar a lata. Uma certa correria começava pelo estabelecimento e ainda assim se mantinham naquela disputa.

“Olha, estão fazendo um assalto, solta logo.” A loira disse calmamente.

“Solta você.” Sooyoung repetiu o mesmo tom.

“Eu realmente preciso de pêssegos. São muito importantes para mim.”

“Para mim também.” Sooyoung retrucou.

As duas pareciam travar uma certa batalha de olhares enquanto seguravam aquela lata. Enquanto isso, a confusão aumentava no local.

“Por favor, eu tive um péssimo dia de trabalho ontem, eu preciso disso.”

“Eu tenho uma filha.”

A loira piscou os olhos rapidamente com aquela afirmação.

“EI, VOCÊS!”

A dupla encarou o homem vestido de preto, usando máscara de porco e segurando um bastão de ferro. Ele vinha pelas costas de Sooyoung. A estranha aproveitou a entrada do bandido para puxar a lata, mas a Ha continuava segurando firme. Sorte que aquilo não era um problema para a loira, portanto, ela trouxe a mais alta para perto de si e foi rápida o suficiente em acertar o capanga no estômago com um chute.

“Belo golpe.” Sooyoung comprimiu os lábios.

“Não ache que nosso problema foi resolvido.”

“Em nenhum momento disse isso.”

Mais um dos bandidos se aproximavam das duas e Sooyoung, ainda encarando a loira, pegou outra lata e arremessou em cheio na cara do homem. A Ha aproveitou a queda para começar a puxar a mulher por outros lugares, pois logo mais iriam vir ver a demora esquisita daqueles dois.

“Você parece muito jovem para ser mãe.” A loira retomou a conversa enquanto se movimentavam ainda segurando a mesma lata.

“São as coisas da vida.”

“Então é casada?”

“Não.”

“Divorciada?”

“Não...” Sooyoung franziu a testa. “Ela é adotada.”

“Ah, entendi. Criança?”

“Dezessete anos.”

“Então pode ficar sem pêssego.”

“Eu também gosto.”

“Então para de usar ela para conseguir as coisas.” Nisso, as duas se abaixaram, tendo em vista que um bandido foi tentar as acertar com um taco de beisebol. Então, elas aproveitaram a abertura para acertarem um soco com a lata.

“Não vi nenhum deles com arma de fogo ainda.”

“Pois é, nem eu. Você tem uma boa pontaria.”

“Você é forte. Teve algum treinamento?”

“Meus pais me colocaram para aprender artes marciais desde nova. Defesa pessoal e essas coisas.”

“Entendi, meu pai me levava para caçar.”

“Tem um vindo pela esquerda.”

“Consegue chutar?”

“Me dê impulso.”

Sooyoung não respondeu, ela basicamente apoiou a mão livre no braço de Jungeun e a jogou na direção do bandido, que foi acertado em cheio por um chute embaixo do queixo.

“Qual é o seu nome?” A loira finalmente perguntou.

“Sooyoung. Ha Sooyoung.”

A estranha assentiu com um leve sorriso.

“Kim Jungeun.”

A apresentação ocorreu na parte de frios, algo que ocasionou o espancamento de um bandido com um saco de frango.

“Poderíamos estabelecer uma trégua enquanto isso não acaba, não acha?” Sooyoung sugeriu. “Logo a polícia chega.”

“Depende. Quem vai segurar o pêssego?”

Naquele momento, sirenes de polícia podiam serem ouvidas ao longe.

“Quando isso aqui acabar, vamos comer juntas.”

Jungeun pareceu ponderar por um momento e levou a mão, junta da de Sooyoung e a lata, para em cima de um dos freezers.

“Vamos deixar aqui e ir atrás de ajudar a polícia.”

“Ótimo.” A Ha sorriu sem mostras os dentes.

E ambas retiraram as mãos ao mesmo tempo do objeto.

 

                                                         

“Então você gosta de pêssegos por conta dos seus pais?” Sooyoung questionou ao se encostarem em seu carro no estacionamento, felizmente as compras das duas não haviam sido comprometidas. A dupla já havia perdido um bom tempo respondendo as perguntas da polícia. E elas comiam os pêssegos com a ajuda de um canivete, que Jungeun sempre levava consigo nos bolsos.

“Sim. É algo que me faz lembrar deles. Eles faleceram em um acidente de carro.” Jungeun dizia ao colocar mais um pedaço da fruta na boca. Suas sacolas estavam no banco de trás do carro de Sooyoung, enquanto as da Ha se encontravam no porta-malas.

“Entendi, sinto muito.”

“E você?”

“Eu era um pouco esquentadinha quando menor e minha mãe me dava pêssegos para relaxar.”

“Ela está viva?”

“Meus pais também faleceram. Meu pai em um acidente e minha mãe por um problema de saúde.”

“Sinto muito também.”

“Tudo bem.” Sooyoung comprimiu os lábios e mordeu um dos pêssegos.

“Muito engraçado ver a polícia de perto novamente.”

Aquilo atraiu a atenção da Ha.

“Aconteceu algo?”

“Um dia desses meu vizinho foi preso, aquelas suspeitas de espionagem.”

“Ele morava sozinho? Me deixa adivinhar, era solteiro?”

“Sim, isso mesmo, de praxe.”

“Coitado.”

“Pois é. Alguém do prédio denunciou.”

“E você vive sozinha?”

“Sim.” Jungeun desviava o olhar sutilmente. “E essa questão está sendo um pé no saco.”

“Imagino.”

“E sua filha, como ela é?”

“Ah...” Sooyoung sorriu sem graça. “Ela é ótima... Eu sempre quis ser mãe, sabe? O mundo tem muitos órfãos, penso muito nisso de oferecer oportunidades, entende?”

“Interessante mesmo... E admirável.” Jungeun arqueou as sobrancelhas. “E você trabalha com o quê?”

“Sou Procuradora em um banco.”

“Uau.” A expressão de Jungeun foi genuína, pois aquilo denunciava uma ótima condição financeira.

“E você?”

“Sou funcionária pública dos correios, mas de vez em quando toco em restaurantes.”

“Você tem banda?” Sooyoung ficou ligeiramente surpresa.

“Não, não.” Jungeun sorriu um pouco. “Eu cubro alguns músicos quando eles faltam. É um hobby.”

“Legal. E você toca o quê?”

“Baixo.”

“Um belo instrumento.”

“É, eu também acho.” A Kim coçou atrás da orelha. “E você mora sozinha com a garota?”

“Eu, ela e minha irmã mais nova. Ela é universitária.”

“Parece uma casa animada.”

“Até que sim.” Sooyoung riu, mas os óculos tampavam seu olhar levemente arregalado. “No momento tem que ficar bem calma, porque eu estou tentando colocar minha filha em Sonatine, ela precisa estudar.”

“A escola de riquinhos?”

“Sim... Eu valorizo muito educação. Ela estudava em uma ótima escola na nossa antiga cidade, então nada mais justo do que vir para a melhor daqui.”

“Acho isso respeitável.”

“Pois é, mas eu preciso de alguém para ser o outro responsável pela minha filha. Tem uma entrevista e lá é uma daquelas escolas conservadoras, entende? Mãe solteira pode ser um problema.”

“Acho esse tipo de coisa idiotice, mas naquela escola... É, pode ser um problema.”

“Eu vou ver como consigo desenrolar isso, sabe? Tem um quarto vago lá em casa.”

“Sei.”

“Nem que eu precisasse pagar.” Sooyoung comprimiu os lábios. “Mas tem essa questão de perseguição por causa disso de espionagem. Bom se manterem em alerta, mas acho injusto na maioria das vezes.”

“É, também concordo.”

Jungeun começava a ver uma oportunidade, que não passou despercebida em termos de também ser uma vontade de Sooyoung. Ambas poderiam se beneficiar daquilo. Sooyoung não parecia má pessoa, muito menos espiã, afinal, tinha uma família para cuidar e isso complicaria sua tarefa de espionagem.

Era inegável que o encontro das duas foi estranho, todo aquele desenrolar do assalto não havia sido diferente. A conversa de agora também seguia os mesmos padrões. Porém, Jungeun conseguiu captar somente a função de mãe preocupada, enquanto Sooyoung aproveitava o fato de Jungeun ser alguém classificada como opção pela EGO, logo poderia se manter mais segura.

Agora, no fundo, elas sabiam que aquilo tudo era meio suspeito. Seus instintos eram afiados, mas ambas tentavam proteger suas identidades e seus interesses.

Elas olhavam demais para si mesmas ao invés de reparar na outra.

“Você quer casar comigo?” Assim como quando pegaram a lata de pêssegos, elas agora não perceberam quem havia dito aquilo primeiro.

Elas riram com o fato de fazerem aquela pergunta ao mesmo tempo, mas elas sabiam que, apesar da reação, falavam muito sério.

                                                         

                                                         

                                                         

Chaewon, que havia mandado mensagem após ver as notícias, revirava os olhos agora. Pensava quem seria a esposa de Sooyoung? Talvez aquela loira? Seria muita sorte, talvez pitada do destino? Chaewon gostaria de se manter mais cética. Se manteria em alerta com a nova integrante, isso era verdade.

Porém, gostar dela? Somente se fosse a mãe distante e fria que ela nunca teve, ou seja, não ficar no seu pé.

Enquanto isso, Sooyoung caminhava com Jungeun por um parque após almoçarem. A espiã achava o desenrolar de certas coisas engraçado, mas preferia abraçar as oportunidades da vida. Jungeun era legal, calma, gentil, meiga e extremamente bonita. Sooyoung havia gostado dela, sua intuição com as fichas não estava errada.

E Jungeun poderia dizer o mesmo daquela mulher mais alta e de sorriso tão encantador. Sua mente ainda estava um pouco confusa, pois nem mesmo havia se dado a chance de ir em um encontro na vida, mas ali estava. Sentia-se até um pouco nervosa. Aquela com certeza foi a ida ao mercado mais esquisita. Agora só precisava montar a mentira perfeita para seus vizinhos, caso perguntem da mudança.

  


   

E uma semana se passou.

Sooyoung finalmente conseguiu. Ela havia adotado uma filha e sua nova esposa se encontrava morando com elas a partir do dia de hoje.

Aquele era um dia feliz para ela, apesar de infeliz para Chaewon. As quatro estavam almoçando na mesa da cozinha. As mais novas nas laterais e as mais velhas nas extremidades.

Yeojin conheceu Jungeun uns dias atrás e acabou gostando da mulher, não foi um encontro muito longo também. Aquela era a primeira vez que realmente convivia com a nova loira.

E, por enquanto, estava tudo bem. Todas usavam roupas confortáveis e passavam os pratos de comida pela mesa. Chaewon não queria estar comendo ali, mas acabou indo depois de Sooyoung cumprir a promessa de não falar com ela por uma semana.

“Espero que goste de morar com a gente.” Sooyoung sorriu na direção de Jungeun.

“Ah, com certeza.” Jungeun devolveu o sorriso. Ela se sentia um pouco nervosa, principalmente ao estar agora morando em um lugar tão chique.

Yeojin ficou ligeiramente feliz. Ela sentia um pouco de pena daquela mulher estar sendo usada por sua mãe, mesmo que Sooyoung fosse uma ótima pessoa.

Agora não vão poder me acusar de espionagem e acabarem descobrindo que sou uma assassina trabalhando na ECLIPSE.

A mais nova começou a se engasgar violentamente na mesa e Chaewon segurou uma pequena risada.

“Você está bem, Yeojin?” Jungeun perguntou para a menor. Sooyoung também entrou em alerta.

“Está sim...” A garota se recompôs, mas seu olhar ainda estava um pouco assustado.

Calma, eu não posso demonstrar que percebi alguma coisa sequer. Calma, Yeojin, CALMA. QUE INFERNO, ELA É UMA ASSASSINA? Espera, mas seria uma serial killer ou? Ela disse que trabalha para uma tal de ECLIPSE, será que isso é uma organização tipo a que a Sooyoung trabalha? Eu preciso ficar de olho e prestar atenção se vou ter que avisar, por enquanto não posso ser precipitada porque isso pode colocar a missão em risco. QUE BAGUNÇA.

“Acho bom fazermos um brinde?” Sooyoung levantou a taça de vinho.

ISSO LÁ É HORA DE BRINDE, MULHER! EU VOU MORRER, VOCÊ VAI MORRER, VAI TODO MUNDO MORRER.

“Boa ideia.” Jungeun repetiu o gesto.

Chaewon levantou a própria taça depois de ser cutucada com o pé de Sooyoung por baixo da mesa. Sua boa vontade era admirável.

“Um brinde a nossa família!” Sooyoung disse antes de finalmente finalizarem o rito.

E assim elas se tornaram a família Ha, um grupo diferenciado e empenhado em manter as tais aparências. Duas espiãs, uma assassina, e uma garota com capacidades psíquicas... Agora elas precisavam continuar até a missão acabar ou até os segredos as separarem.

 

 

Que porra de família é essa?

Notes:

E nossa família está montada! Espero que tenham gostado e vejo vocês em breve!

Chapter 4: burocracias

Summary:

Arco 2: Luzes e Câmeras (1/2)

Notes:

Boa leitura!!!

(See the end of the chapter for more notes.)

Chapter Text

                                                             

 

Semanas depois...  

 

“Está tudo pronto?” A voz distorcida perguntava.

Sooyoung se mantinha com as pernas em cima da mesinha em seu quarto. A mulher reportava para EGO utilizando o rádio enquanto visualizava alguns detalhes da cidade pela fresta nas cortinas. Ela portava calças escuras, blusa, de mangas longas, gola alta e um blazer. Tal traje podia ser visto como refinado e realmente precisava causar essa impressão ao levar Yeojin para fazer a prova de admissão em Sonatine mais tarde.

“Ela se esforçou bastante, então sim, tudo depende dela. Creio que fiz o possível a ensinando também.”

“É bom essa garota conseguir, não esqueça que lá é nossa melhor chance de se aproximar do YoungSoo, além de outras pessoas importantes, vindas de todas as partes do mundo, que tem seus filhos estudando lá.”

“Ciente.”

“E sua esposa, Snake? Tudo bem?”

Por uma fração de segundo: Um grito fino ao fundo podia ser ouvido. Fazia um tempo que algumas vozes reverberavam no corredor.

“O que foi isso?”

“Nada demais. Deve ser a televisão.”

“Ok, então. Enfim, continue.”

“Ela é ótima. Nada de anormal. Se estava na lista de Haseul, então posso confiar. A partir do momento que notei ser uma das solteiras, eu comecei a agir de uma maneira mais calculada. Quando saímos do mercado, eu sabia que iria me casar com ela.”

“Você disse que ela sabe se defender bem.”

“Isso é verdade. Isso me fez ficar um pouco desconfiada, é certo, mas depois vi medalhas de artes marciais e outras coisas nas caixas dela. Ainda assim me mantenho em alerta, pois fui treinada dessa forma. No fim, nós temos mais a ganhar juntas do que separadas.”

“Use a Princess para ficar de olho em qualquer anormalidade.”

“Ela não confia nem em mim, então não preciso pedir.” Sooyoung suspirou.

“Tente mudar isso com o tempo. A Princess não aceita ordens de outros agentes, ela se dispõe a cooperar.”

“Isso eu sei muito bem sobre a minha irmã.”

“Então faça ela cooperar.”

Dessa vez o grito foi muito mais audível. Sooyoung chegou a encarar a porta atrás de si.

“Acho que isso não é a televisão, é bom ir olhar.”

“É, eu vou.” Sooyoung juntou as sobrancelhas e tinha um tom cansado. Aquela era a voz de Yeojin, provavelmente Chaewon estava implicando. “Desligando.” E assim, o rádio foi colocado de lado.

Sooyoung finalmente saiu do quarto dando de cara com Chaewon encostada na parede e Jungeun segurando a maçaneta da porta de Yeojin. Ambas usavam roupas confortáveis por não precisarem ir até Sonatine.

“Pessoal, mas que gritaria é essa?” Foi a primeira coisa que disse.

“Sua filha não quer sair.” Chaewon falava com desdém, meio desapontada com o fato de Jungeun causar tanto medo na caçula só por tocar na maçaneta. “Ela gritou porque a Jungeun tentou abrir a porta.” Parecia até que Jungeun era a pior pessoa nesse mundo, sendo esse um motivo suficiente para ser tornar pessoa favorita de Chaewon.

“Eu só mexi na maçaneta.” A Kim dizia de forma um pouco nervosa. “Não tentei forçar nada.”

Sooyoung colocou as mãos na cintura e simplesmente suspirou. Sua feição não aparentava irritação.

“Tudo bem. Ela só deve estar nervosa.” Sooyoung foi caminhando até a porta da garota fazendo com que a outra loira se afastasse. “Yeojin?” A Ha chamou pela mais nova, que finalmente respondeu.

“Oi?”

“Pode abrir a porta? Já vão dar sete horas, você precisa comer antes de irmos. A prova começa às oito.”

Um silêncio se seguiu dentro do cômodo, mas logo uma fresta do local pode ser vista.

“Posso entrar?” Sooyoung perguntou no tom mais amigável possível. A mais nova assentiu e abriu o mínimo para somente a mais alta passar.

O quarto de Yeojin felizmente se mantinha organizado. A garota também já estava arrumada com os cabelos soltos, calças jeans, blusa branca de mangas longas e um sobretudo xadrez. Nem parecia aquela jovem pé rapada naquele orfanato.

“Sei que está nervosa, mas precisa ser forte.” Sooyoung juntou as mãos na frente do corpo.

Por favor, Yeojin, a missão...

“É, eu sei... Eu só...”

Tinha uma assassina mexendo na minha maçaneta!

“Respira.” A mais velha se aproximou e repousou as mãos nos ombros da garota. “Você estudou o que podia, não tem como fugir da prova nessa altura do campeonato. Evite ficar estressada antes, por isso, vamos comer e ir até a escola.”

Aquilo era praticamente um texto pronto, mas o jeito com que Sooyoung falava o deixava natural, calmo e reconfortante. Yeojin só conseguia assentir com tudo sendo dito.

“Vai conseguir.” Sooyoung deu um pequeno sorriso. “Você é minha filha, sei que vai.”

“É, eu vou.” Yeojin comprimiu os lábios.

Vou tentar.

    O clima estava bom para um dia tão decisivo. Yeojin checava os bolsos pela décima vez a fim de confirmar os papéis e documentos para entrar na sala. Seriam quatro horas de prova. A garota também levava uma mochila com água e sanduíches, que ela só levou depois de ver Sooyoung provando enquanto Jungeun preparava.

O veículo foi estacionado perto de outros carros caros, e elas caminhavam pelo espaço bem adornado com flores. Aquela escola parecia ser um espaço separado de toda a cidade. E Yeojin ficou impressionada ao ver o prédio principal, que tinha a aparência de um castelo do século XVII feito com pedras e possuindo torres de teto pontudo. Uma estátua de cunho religioso podia ser vista no centro do enorme jardim e a mais nova notava vários jovens bem arrumados passando por perto. Sooyoung e Yeojin acabaram parando próximas de uma lixeira metálica pesada. A partir dali, somente a garota poderia ir.

“Agora é com você.” Sooyoung olhou para a menor. “Respira fundo, leia com calma e está tudo bem caso não dê certo, ok?”

Não está tudo bem, mas eu não quero que se desespere.

Eu sei que não está!

“Vou me esforçar.” Yeojin afirmou com sinceridade. Ela realmente precisava passar ali e não era somente pela missão da mulher.

“É assim que se fala.” Sooyoung puxou a garota para um abraço, que foi correspondido.

A paz mundial está nas suas mãos.

CARA!

Yeojin subitamente se sentiu sufocada naquele abraço e o seu estômago embrulhou, a ansiedade estava a atropelando. Todos os pensamentos negativos do mundo cruzavam sua cabeça enquanto ela encarava um objeto por perto.

EU VOU MORRER!

As duas, e outras pessoas ao redor, acabaram se assustando com um barulho forte e abrupto. A lixeira metálica caiu sozinha e foi, no mínimo, bem esquisito.

Sabendo como essa escola é, vão revistar isso aí.

Ah...

“Talvez seja um sinal de boa sorte.” Sooyoung se virou para Yeojin.

“É, talvez...”

Já na cobertura, Chaewon se mantinha sentada à mesa da cozinha, mirando Jungeun fazendo um bolo. Não era difícil perceber como ela tentava se encaixar nos padrões de mãe e esposa perfeita, fazendo Chaewon se perguntar em como ninguém quer ser a mãe fria e narcisista por pura implicância. Enquanto isso, Jungeun notava a outra a observando, mas focando seus olhos na tela do celular. De todos os lugares na casa, Chaewon estava ali, mesmo quando parecia preferir estar sozinha.

“Chaewon, você está com fome?” Jungeun resolveu quebrar o gelo ainda estando de costas.

“Não.” Chaewon tinha os olhos no celular. A garota era mestre na arte de não parecer se importar.

“Pensei que queria.”

“Só porque estou na cozinha?”

“É.”

“E eu não posso ficar na cozinha?”

“Pode.”

“Pois eu vou ficar.”

“Tudo bem.”

Jungeun franziu a testa momentaneamente e voltou a bater o bolo ao mesmo tempo que pensava em algo para falar. Era bom aproveitar a chance de se aproximar da cunhada.

E esses pensamentos duraram até o momento em que levou o bolo ao forno. Jungeun viu agora uma oportunidade de consultar o celular atrás de perguntas, talvez Chaewon não gostasse de uma aproximação muito comum, portanto, navegou nos confins do Google.

“Chaewon...” Jungeun guardou o telefone no bolso. “Você acredita em extraterrestre?”

A Ha mais nova cruzou as pernas sem parar de mexer no celular.

“Sim, sou um.” Aquilo fez Jungeun revirar os olhos.

“Você visitaria o Jurassic Park se ele existisse?”

“Mas ele não existe.”

“E se existisse?”

“Não existe.”

Jungeun suspirou, então foi preparando a próxima pergunta.

“O que você faria se pudesse ir ao espaço?”

“Eu não iria.”

“Você acaba ficando presa em...”

“Isso nunca aconteceria comigo.”

“O que você faria se encontrasse um lobo na floresta?”

“Por que caralhos eu iria em uma floresta?” Chaewon finalmente resolveu encarar Jungeun. “Olha, eu sei que está tentando estabelecer um laço entre nós e muito provavelmente isso não vai rolar, mas como eu estou ficando com pena, então... Está fazendo esse bolo tentando agradar a Yeojin?”

Jungeun, ainda processando o fato de perder totalmente contra Chaewon naquele pequeno jogo, assentiu.

“Ela parece não gostar de mim.” A Kim realmente soava desapontada.

“Vejo isso como vantagem.”

“É sério, Chaewon. Sua irmã é ótima, a Yeojin também é uma boa menina e acho muito fofo elas duas, eu só queria participar mais até por causa da entrevista da escola.”

“Minha irmã?” A mais jovem segurou um pequeno riso.

Jungeun pendeu levemente a cabeça, não era a primeira vez que notava certa amargura de Chaewon com a mais velha.

“Ela fez alguma coisa recentemente?”

“Nada.”

Chaewon queria muito bem esculachar a própria irmã naquele momento, mas ela precisava prezar pela missão. Ferrar com a sua irmã, tudo ok, mas envolver terceiros era fora de cogitação. Chaewon continuava sendo uma espiã de elite.

“Ela se importa muito com você. Me falou muito bem de ti, se quer saber. Eu gostaria de ter tido irmãos.”

Chaewon mexia os ombros ao tomar ciência da sua irmã falando sobre si, porém, parou ao ouvir a última declaração.

“Você nunca falou da sua família.”

“Nos falamos pouco, então não, mas fiquei sabendo do que aconteceu com a de vocês.”

Chaewon olhou para os lados em óbvio desconforto.

“Mas e a sua...Onde estão?” A Ha logo devolveu.

“Meus pais faleceram em um acidente.” Jungeun deu um sorriso sem graça.

A mais nova ficou levemente surpresa com a informação.

“Por isso falo isso sobre irmãos, entende? Sempre fui sozinha. Fico com um pouco de inveja por ter tido uma irmã tão atenciosa. Eu respeito muito a Sooyoung.”

Jungeun falou aquilo com um pequeno sorriso e não conseguia decifrar a expressão de Chaewon. A mulher entendeu muito menos quando Chaewon simplesmente se levantou e foi até os quartos sem dizer uma palavra.

“Ótimo, agora ela me odeia também.” Sussurrou.

Enquanto isso, Sooyoung se mantinha no pátio da instituição, observando as outras pessoas por ali esperando os filhos. Conseguia reconhecer vários rostos por conta dos arquivos da EGO. Empresários de todos os tipos de ramos, atores, músicos, funcionários públicos, políticos, ali era um ótimo ambiente para aumentar sua lista de contatos com toda certeza.

Ao mesmo tempo, a tensão do exame parecia afetar também os adultos, que se mantinham quietos e calados. Os contatos poderiam ficar para o momento em que seus filhos efetivamente entrassem. Sooyoung aproveitou o momento para entrar no site oficial de Sonatine, observando o corpo docente mais uma vez. E ainda bem que fez, pois notou algo, no mínimo, bem interessante.

                                                             

                                                             

                                                             

                                                             

Sooyoung bufou ao colocar o celular de volta ao bolso. Em algum momento precisariam conversar sobre aquilo direito. Chaewon precisava saber que não foi largada e Sooyoung não havia parado de a procurar em nenhum momento. A coisa que mais fez durante a vida foi tentar encontrar a irmã caçula. Já na cobertura, Chaewon preferia não pensar no assunto, na verdade, começava a achar que a fria e narcisista era ela, algo até legal em sua cabeça.

Por fim, Sooyoung preferiu ir ao carro e tirar um cochilo, ajustando o alarme no celular. Seriam longas horas.

E era impossível não se sentir drenada após aquela prova. Yeojin nem sentia vontade de falar sobre as questões, nem mesmo acerca de como aquela escola era belíssima por dentro.

“Você está bem?” Sooyoung, ainda meio sonolenta do cochilo, chamou a atenção da menor que nem parecia ter percebido chegar perto da estátua.

“É, estou. Meu cérebro fritou.” A mais nova deu um pequeno sorriso.

“Imagino. Você precisa descansar com certeza, mas o resultado sai em algumas horas, então vamos almoçar por aqui perto.”

“Ok.” Yeojin piscou algumas vezes antes de caminhar até o estacionamento.

O passeio no carro até a escola havia sido um pouco longo, mas como foram somente comer pela região, agora durou bem menos. Yeojin ainda não tinha se acostumado com aqueles arredores tão nobres, ela já morava em uma região cara, mas a sensação não ia embora. A garota via uma estrada subindo um monte e sabia que ali era onde ficavam enormes mansões, provavelmente a tal Yerim morasse por ali, assim como outros estudantes.

“Dizem que aqui tem um ótimo joelho de porco.” Sooyoung desceu do carro feliz em finalmente estar indo comer um pouco. A partir de um momento, a espera naquela escola havia se tornado cansativa.

Yeojin saiu praticamente no automático e somente seguiu a mais velha para dentro do restaurante. O local era incrivelmente aconchegante com todos aqueles móveis de madeira, as grandes janelas de vidro e luzes levemente amareladas.

As duas resolveram se sentar no segundo andar, perto da janela. Yeojin observava a rua e as pessoas transitando, um pouco ao longe podia se ver Sonatine. Sua cabeça estava um pouco melhor agora e já começava a pensar que tipos de pessoas e quais acontecimentos a esperavam naquele lugar, se é que iria passar.

Seria legal fazer amigos...

“Não precisa ficar tensa, ok?” Sooyoung chamou a atenção da mais nova. “Você fez o seu melhor, não esquenta, só aproveite o resto do dia.”

“Tudo bem...” Yeojin sorriu pequeno, tentando não parecer nervosa. Ela sabia que teria muitos riscos caso não passasse, mas talvez a melhor opção fosse somente colocar sua cabeça onde estava.

E, bem, era um belo lugar. Nunca em sua vida imaginou entrar em um local como aquele. Muito menos com a suposta melhor espiã do mundo. Era engraçado como mesmo Sooyoung tendo uma profissão suspeita daquelas, ela ainda passava uma tremenda sensação de segurança. Yeojin pensava na sorte que teve ao ter uma responsável como ela.

“O pedido.” Um homem de bigode, e roupa social, se aproximou com bandejas na mesa, após uns trinta minutos de espera.

“Pode comer.” Sooyoung apontava animada para a comida na mesa. “Já provou isso aqui?”

“Não mesmo, nunca nem pensei em pisar nesse bairro. Era só lenda urbana na minha cabeça.” Yeojin acabou por se servir e finalmente levar um pedaço de carne até a boca. “Cacete.” Ela sussurrou.

Sooyoung acabou escutando, mas somente riu baixinho.

“Bom, né?”

“Demais.”

“Sabe, eu também não achava que ia ter essas coisas.” Sooyoung disse depois de comer um pouco. Aquilo chamou a atenção de Yeojin. “Eu nunca fui rica, mas vivia de maneira bem confortável, aí meus pais faleceram e ficou difícil. Difícil para caramba.”

“Sinto muito.”

“Não precisa disso. Aliás, o ponto é que isso casa com o fato de você estranhar esse lugar. Não pensar em ter a oportunidade. Você felizmente teve uma, assim como eu, infelizmente não acontece com todo mundo.”

“Você foi para algum orfanato depois que eles se foram?”

É a chance de descobrir um pouco mais, eu nunca soube mais do que o fato de ter deixado a Chaewon em um por anos.

“Não.” Sooyoung puxou a taça de vinho para perto da boca. “Eu já era mais velha, então fui atrás de trabalho porque as chances de adoção eram mínimas.”

“Disso eu entendo.” Yeojin assentiu. “Mas e a Chaewon?”

“A Chaewon foi para um, mas aí eu trabalhei, juntei um dinheiro e tirei ela de lá. Depois, foi só mais luta.”

Era isso que deveria ter acontecido.

Sinto muito... Apesar de ainda não ter contado a fofoca direito.

“Vaca vai-vem, vaca vai-vem, se você quer Verni melhor, é só de ir na vaca, que ela vem.”

A dupla se encarou por um momento antes de observar um carro velho, carregando um paredão de som com o slogan da tal vaca. Foi inevitável não começarem a rir.

Essa Chaewon...

Eu não acredito, Chaewon.

                                                             

                                                             

Jungeun agora encarava o relógio da sala, meio nervosa, porque as duas já deveriam ter chegado. Pelo menos se sentia menos desconfortável com Chaewon, pois a garota chegou a falar um ‘foi mal’, algo meio esquisito, mas que suavizou a conversa de mais cedo. Jungeun não sabia, mas Chaewon só queria garantir um pedaço de bolo, porém, melhor não falar.

E, quando finalmente chegaram, Sooyoung e Yeojin não esperavam serem recebidas por uma Jungeun sorridente, segurando um enorme bolo de chocolate e Chaewon soltando confete com a cara mais lisa do mundo.

O ambiente parecia animado, mas Sooyoung e Yeojin não aparentavam estarem tão felizes assim, algo que causou um certo desconforto em Jungeun.

Não me digam...

“Ela não...” A Kim começou, mas não ousava terminar. Já Chaewon jogou o cano de confete com força no chão.

Eu aceitei a tarefa humilhante de estourar essa merda...

Nisso, mãe e filha se olharam, então finalmente disseram o que aconteceu.

“EU PASSEI!” Yeojin gritou com os braços para cima.

Foi por pouco, mas passei!

“Ela passou!” Sooyoung acabou se abaixando um pouco para poder levantar Yeojin, que se agarrava na mais velha, querendo também evitar contato com a Kim.

Jungeun acabou dando pulinhos, mas antes teve o bolo retirado de suas mãos por Chaewon, que corria para a cozinha a fim de retirar um pedaço.

 

 

 

 

Missão cumprida.

Notes:

Espero que tenham gostado, vejo vocês em breve.

Chapter 5: S.O.S canino

Summary:

Arco 2: Luzes e Câmeras (2/2)

Notes:

E vamos de mais um...

(See the end of the chapter for more notes.)

Chapter Text

                                                         

 

Alguns dias depois, Jungeun chegou do trabalho sendo recepcionada por uma reunião de família na sala. Pelo jeito só faltava ela. Agora ela se mantinha praticamente imóvel ao lado de Yeojin no sofá. E não era muito difícil perceber a caçula se colocando o mais longe possível da outra. Enquanto isso, Chaewon estava jogada em uma das poltronas e Sooyoung se encontrava de pé no meio do cômodo, portando seus óculos de grau finos e arredondados, que só usava quando estava em casa.

Somente a Kim usava roupas mais arrumadas por ter acabado de voltar do trabalho. Aliás, ela retirava os saltos sutilmente para não atrapalhar qualquer que seja a linha de raciocínio correndo no cérebro daquelas três.

“A entrevista é amanhã, sábado.” Sooyoung começou. “Nós precisamos nos destacar de alguma forma e já elaborei uma história muito comovente. Jungeun e Yeojin, sei que ainda não são muito próximas, mas quero que demonstrem uma boa relação, eu já sei muito bem o meu papel.”

“E a Chaewon?” Jungeun disse após levantar a mão timidamente.

“Ela vai ficar no lugar dela, ela só está aqui porque... Por que você está aqui mesmo?” Sooyoung se virou para a irmã com os braços cruzados.

“Posso mais não?” Chaewon fez uma mínima careta.

Aquilo foi o suficiente para Jungeun e a própria Sooyoung não tentarem puxar mais assunto com a jovem.

“Enfim.” Sooyoung bateu uma palma. “Essa escola gosta de fazer investigações por contra própria e com certeza checaram o que eu queria, no caso, a questão de eu ser viúva de um soldado. Então vou meter toda aquela baboseira de meritocracia, gente rica adora isso. Por fim, eu conheci a Jungeun que foi a minha luz no fim do túnel para a felicidade. Mais tarde, vou acertar mais detalhes com você, Jungeun, provavelmente vai precisar mentir sua idade só para começar e não ficar estranho.”

“Ok...” A Kim assentia um pouco em choque. “Mas você é realmente viúva?”

“Não, não, eu só preciso deixar minha história comovente o suficiente para amolecer os professores. Eu ser bem-sucedida hoje em dia é a cereja do bolo.”

Enganar Sonatine... Parece algo que uma espiã conseguiria.

AIGH

“Sabe, Jungeun.” Yeojin olhou diretamente para a Kim, algo que a causou surpresa. “Minha mãe é muito inteligente, até mesmo foi Presidente do Conselho Estudantil na época de escola. Estudava e trabalhava para cuidar da irmã dela. Além disso, precisou aprender a se virar muito cedo, você deve saber como é difícil não cair nos papos de malandro por aí, então não estranhe os planos dela.”

Faz sentido.

“Entendi.”

Não entendi muito bem o motivo do discurso, nem porque ela inventou essa mentira de presidente, mas boa, garota.

Cuidou de mim o caralho!

Agora não, Chaewon!

“Vamos conversar melhor sobre como iremos fazer amanhã.” Sooyoung finalmente puxou outra poltrona para mais perto do sofá. “Amanhã é um dia decisivo.”

“E ninguém vai comentar o fato de você ter que se passar por uma quarentona?” Chaewon sorriu de maneira convencida enquanto abraçava um travesseiro.

A certa animação da garota só morreu quando as outras três a lançaram olhares nada felizes.

Depois da reunião, Chaewon aumentou um pouco mais o volume da televisão. Yeojin respirava fundo antes de se levantar e ir para o andar de cima. Já que a sua nova mãe não havia tentado nada estranho esses dias, então poderia focar totalmente no plano. E Jungeun conseguia notar que a caçula estava muito séria sobre isso e prometia a si mesma que iria fazer de tudo para ajudar a garota.

Sooyoung se mantinha no sofá, observando cada uma ir para uma parte da cobertura. Seu trabalho no dia estava feito, os detalhes com Chaewon já haviam sido ajustados mais cedo. Sooyoung sabia que o segredo para o sucesso naquele momento era mentir o mínimo possível. Se usasse a conversa de viúva para Yeojin e Jungeun como algo verídico, ia ser uma mentira de perna bem curta e ela sabia que não poderia subestimá-las.

“Hum?” Sooyoung se alertou, colocando a mão no celular, que vibrava. Chaewon também percebeu e a encarou rapidamente. Um torpedo denunciava uma ligação da EGO no seu quarto, pronta para ser atendida.

“Melhor ir logo.” Chaewon disse antes de voltar a atenção para o filme.

Aquilo fez Sooyoung sentir uma leve desconfiança. EGO ligando durante uma sexta só podia significar uma coisa.

“Lembra do Astolfo? O cara do golfe?” Sooyoung ouvia a pergunta no escuro de seu quarto.

“Como esquecer?” A mulher soltou uma leve risada.

“Então... O parceiro de negócios dele irá fechar acordos amanhã de manhã. Ele vai vender aquelas informações militares e foi confirmado que retirou o produto hoje do cofre secreto dele no banco. No momento, ele está na cobertura dele, região nobre. Não precisa se preocupar com as câmeras, nem com certos detalhes, nós já resolvemos tudo e temos uma equipe boa hoje, só foque em pegar o tal produto e sair de lá, não se importe com os outros. Taecyeon deve estar chegando aí em vinte minutos, ele está com todas as informações adicionais no carro.”

“Achei que iria me deixar de fora por eu estar lidando com a missão aqui.”

“Sua missão não te torna exclusiva. Esse é o seu emprego, só você pode lidar com algumas missões, essa é uma delas. Pelo menos as que envolvem o país de Vircélia, vamos tentar te manter sempre aí.”

“Isso vale para a Chaewon.”

“Claro. Ela também não vai ficar sem trabalhar, mas hoje não é o dia dela.”

“Se você diz...”

Sooyoung nem precisou desligar, pois a EGO foi mais rápida. A mulher bateu nas próprias bochechas para se manter mais alerta, então focou em trocar de roupa.

Quando saiu do quarto, Chaewon ainda estava na sala de estar. A mais nova logo virou o rosto ao sentir o cheiro de perfume da irmã, que adorava aqueles aromas amadeirados enquanto usava camisas sociais e sobretudos, como agora.

“Vai sair também?” Chaewon perguntava sem muito interesse.

“Como assim também? A Yeojin saiu?”

“Ah não, essa já está no quarto desde aquela hora, eu estou falando da sua esposa.”

“Ela saiu?” Sooyoung piscou os olhos rapidamente.

“Achei que soubesse. Ela saiu toda arrumada, maquiagem pesada, calça de couro e tudo, carregando um instrumento nas costas. Bem coisa de mulheres gostosas.”

“Ela disse para onde ia?”

“Não, eu também não perguntei porque não tenho interesse.”

“E em mim tem?”

“Por mais mulherenga e papudinha que você pareça e até seja, ainda assim é uma mulher muito certinha. Sair para a farra um dia antes de uma missão importante não combina com você, então com certeza é uma missão.”

“Só fica calada tudo bem, depois eu conto.”

“Faz o que quiser. Só queria confirmar ser uma missão. Se você não vai ficar parada, muito menos vão me deixar em paz.”

“É, pode esperar uma missão chegando no seu colo.”

“Fica tranquila, não vai ser nada que eu não consiga lidar.”

“Você pelo menos gosta de tudo isso?”

“Tem seus lados positivos e negativos como qualquer outra coisa... Eu com certeza não esperei esse desfecho para a minha vida, mas está tudo bem. Já me acostumei e agora gosto de pensar que uma pessoa interessante como eu só poderia ter um emprego tão interessante quanto.”

“Ótimo, manter a autoestima alta é uma boa estratégia nessa linha de trabalho.” Sooyoung disse antes de finalmente sair pela porta. Ela sabia que Chaewon não se esforçaria mais em nada para continuar a conversa, também não é como se Sooyoung não tivesse uma missão para resolver.

E Taecyeon já estava na frente do condomínio com aquele bigode ridículo novamente.

O que era um espião senão um bandido de colarinho branco gourmet.

 

Duas caras

Rua Dr. Adam Neron, Verni

21h20

 

 

Somsak trabalha em um dos prédios mais luxuosos da cidade. O homem chegou em Verni com o objetivo de conseguir uma condição de vida melhor e caiu em uma vaga como zelador na área nobre. O salário não era dos melhores, na verdade, se arrependia de ter saído de seu país natal, mas agora evitava pensar nisso, ele se achava errado de cogitar tal ideia por conta da idade, afinal, já possuía sessenta e oito anos.

Felizmente o emprego o deu muitos companheiros de trabalho. Somsak chegou até mesmo a conhecer diversas celebridades e isso era um tópico a se gabar. Pelo menos o homem nunca se sentia sozinho, nem mesmo quando ia trabalhar cobrindo o turno da noite como agora.

“Boa noite.” Somsak disse ao cumprimentar o porteiro da vez.

O zelador usava seu típico macacão cinza da empresa terceirizada, tinha um boné preto cobrindo os cabelos brancos e carregava uma mochila leve, azul marinho. Portanto, faltava somente fazer seu caminho de sempre. Usou de seu cartão para passar pela catraca reluzente e depois seguiu para o elevador de serviço, após passar pela recepção meio vazia composta de quadros chiques e detalhes em ouro contrastando com o mármore branco do piso e paredes.

Somsak geralmente deixava seus materiais no andar da cobertura, onde havia uma sala só para isso. De lá, ele vinha limpando cada andar em ordem decrescente.

Aquele prédio era um dos mais antigos da cidade, mas um dos mais bem conservados. Seu luxo também chamava atenção da alta sociedade e estrangeiros. Somsak se sentia bem por trabalhar ali de alguma forma, talvez fosse uma maneira de tentar se confortar.

O andar da cobertura possuía dois apartamentos, ambos enormes e extremamente caros.

Somsak foi até a salinha, perto de onde saiu no elevador de serviço, e pegou seu balde, esfregão e produtos de limpeza. Felizmente conhecia muito bem os moradores dali, e eles não iriam se incomodar caso o encontrassem no corredor durante aquele horário, até por estar somente fazendo seu trabalho.

“Boa noite, senhor Somsak.” O zelador se virou para encarar o segurança na porta do 1602. Um homem alto, de terno, e cabelo quase raspado.

“Boa noite.” Somsak o direcionou um pequeno sorriso antes de continuar no trabalho.

“Você andou malhando? A sua barriga de cerveja sumiu.” O segurança brincou e Somsak logo riu da tal piada.

“Pois é, rapaz, a gente vai criando vergonha.” Rapidamente o único som do corredor era o esfregão percorrendo o piso.

O único som até Somsak começar a tossir ferozmente, algo que chamou atenção do segurança.

“Tudo bem, senhor?” O homem se aproximou do zelador de maneira realmente preocupada, afinal, Somsak era um senhorzinho.

Por conta da crise de tosses, Somsak acabou se curvando um pouco e o segurança veio por colocar uma das mãos nas costas do idoso, que se apoiou no mais novo sem pensar duas vezes. Somsak se segurou rapidamente na nuca do rapaz.

O segurança continuava tentando entender a situação e ver que medida poderia tomar, ele já cogitava puxar o celular para chamar uma ambulância, mas simplesmente sentiu uma tontura forte que o fez cair no chão rapidamente.

O acesso de tosse parou.

Somsak puxou o corpo do segurança até a salinha onde ficavam os produtos, e pegou o pequeno bracelete prateado no pulso do jovem. Aquele item servia como uma chave para a cobertura 1602, que possuía uma espécie de fechadura eletrônica. E, antes de sair do cômodo, o idoso ainda conferiu o adesivo na nuca do rapaz, aquele era um ótimo tranquilizante.

Acesso liberado. Somsak estava dentro do apartamento.

O idoso percebeu o local vazio, provavelmente estariam todos no terraço. A segurança de lá sim deveria estar mais reforçada. Por isso, antes, decidiu explorar mais aquela residência.

O escritório do proprietário ficava na última sala do corredor esquerdo. Todo aquele apartamento era escuro por conta dos móveis, e muitos itens caros e esquisitos decoravam os ambientes.

A porta do tal escritório tinha uma fechadura um pouco mais diferenciada, mas Somsak sabia que se tratava de um leitor de íris e retina, e aquilo tornaria seu trabalho um pouquinho mais complicado.

Somsak então pensou em uma maneira de ir até o terraço sem precisar passar pelas escadas, onde já se podia ouvir seguranças conversando. O idoso se dirigiu para a varanda. O vento, que soprou por lá ao empurrar a porta de correr, era impressionante.

A altura do parapeito era suficiente para alcançar o segundo parapeito com um pouco de impulso. E foi isso que fez. Somsak simplesmente se posicionou usando de um equilíbrio perfeito e saltou delicadamente para encaixar as mãos no pedaço de ferro vertical do segundo parapeito.

Somsak daria adeus caso errasse qualquer movimento, contudo, ele estava nenhum pouco preocupado. Seus próximos passos se baseavam em usar esses pedaços de ferro verticais para contornar a estrutura até onde desse.

O idoso finalmente se colocou no terraço quando percebeu uma espreguiçadeira, que poderia usar para ficar atrás ao subir.

O problema foi que todos os barulhos de conversa e movimentação no terraço haviam cessado. Somsak achou o fato, no mínimo, estranho. Por conta disso, o homem achou o melhor jeito de tentar escapar a cabeça por trás da cadeira.

E, pelo jeito, alguém havia derrubado aqueles seguranças enquanto Somsak executava a tarefa de subir até ali. Ainda assim, por mais que tivesse uma noção do motivo de tal acontecimento, o idoso foi cuidadoso ao transitar pela enorme área do terraço, que continha muitas mesas, cadeiras e uma grande piscina.

Somsak sabia que deveria ter ficado esperto, pois logo uma figura saiu de uma das sombras. O proprietário do apartamento, um homem não muito mais velho do que Somsak, usando terno branco e sendo corpulento. Ele vociferava contra o trabalhador.

Porém, não foi o suficiente para pegar o zelador de surpresa. Somsak rapidamente se agachou para acertar uma rasteira, o golpe fez com que o adversário tropeçasse e caísse no chão, mas a queda havia sido adiantada por um tiro na cabeça.

Um tiro silencioso, mas que Somsak notou o curso do vento, por isso olhou para o outro prédio ali perto. Uma pequena luz brilhou de um dos andares rapidamente, mas logo sumiu completamente.

Somsak entendeu que aquilo era serviço do resto da equipe. Pelo menos seria um trabalho a menos.

“Como foi lá dentro?” O idoso ouviu assim que entrou no táxi, que começava a transitar pela região sem pressa.

“Nada demais. A EGO falou de uma equipe boa... E falaram a verdade, certeza de que usaram as corujas.” O motorista percebia o timbre se alterando na medida em que Sooyoung retirava a máscara e o modificador de voz. “Aqui.” A mulher pegou um envelope de dentro da mochila azul marinho.

“Obrigado.” Taecyeon recebeu o item e foi logo o colocando debaixo do banco.

Corujas era como a EGO chamava os assassinos de aluguel da ECLIPSE. Vez ou outra, quando os interesses se cruzavam, as duas organizações juntavam forças... Ou se repeliam. Era uma relação praticamente parasitária dos dois lados.

“Agora se puder subir o divisor para eu me trocar...”

“Ah, claro, na hora.” O motorista sorria pequeno ao encarar o retrovisor e subir o divisor. “Quer ir para casa?” Ele dizia voltando a dirigir.

“Não... Me dê só um segundo.” Pelo horário, talvez ainda desse tempo.

“Ok, mas saiba que não vou poder buscar, a missão do dia terminou e preciso ir pegar meu filho, esse final de semana é meu.”

“Sei, sei.”

Foi fácil saber que o seu colega não queria continuar no assunto, por isso foi logo pegando o celular enquanto ainda trocava de roupa.

                                                         

Sooyoung adentrou o bar indicado por telefone, que não era muito longe de onde veio. O ambiente era aconchegante e, no momento, uma música baixa reverberava pelas caixas de som espalhadas. Luzes amareladas combinavam com o tom amadeirado e as paredes escuras.

A espiã vagava por entre as mesas até os fundos do local, onde deveria estar o palco. Aos poucos, ela notava o número de clientes aumentando, muito provavelmente por conta da música ao vivo.

Um garçom veio a atender assim que decidiu se acomodar na mesa mais ao canto. Sooyoung optou por um drink recomendado pelo moço e simplesmente relaxou na cadeira. E seu pedido veio chegar exatamente quando as luzes foram diminuindo para dar ênfase ao palco.

Sooyoung apoiou os cotovelos na mesa para poder prestar mais atenção. A entrada da banda foi sendo ajustada e a mulher conseguia observar Jungeun, que estava exatamente da forma como Chaewon descreveu. A Kim se encontrava extremamente bonita.

A Ha nunca havia visto a outra tão bem arrumada e possuindo um visual agressivo, aquela visão a fazia pender a cabeça e bebericar o drink com certa timidez. E essa timidez só aumentou quando encontrou os olhos da Kim, que deu um sorriso singelo na direção da esposa de mentirinha. Sooyoung, além de também retribuir o sorriso, ainda acenou.

Aquela mínima comunicação só encontrou seu fim quando a banda finalmente iniciou o repertório. Sooyoung aproveitou para notar melhor as pessoas, que se levantavam a fim de dançarem, ou simplesmente cantarem alto com bebida em mãos.

E uma animação maior começou ao final quando a tal banda ‘Wonder Girls’ tocou uma canção bem diferente daquelas que vinha executando. A música foi ovacionada desde o início e as pessoas cantavam em plenos pulmões.

Sooyoung nunca escutou a música chamada ‘Why So Lonely’, não é como se também gastasse muito tempo prestando atenção no cenário musical. Com uma rápida pesquisa no celular, Sooyoung viu que a banda ali tocando não era muito famosa, mas emplacava alguns sucessos na própria capital. Era o suficiente para explicar a festividade das pessoas, que gritavam, dançavam e cantavam fervorosamente. O bar parecia mais uma boate naquele momento.

A música não era ruim, nenhum pouco. Sooyoung se viu movimentando a cabeça no ritmo da melodia enquanto focava os olhos na maneira em como Jungeun dedilhava as cordas do instrumento. A Kim tocava de olhos fechados na maior parte do tempo e possuía uma extrema tranquilidade.

Jungeun não fazia parte da banda, estava somente cobrindo uma das integrantes que não pode ir, mas ainda assim se mantinha tranquila, mesmo sendo a primeira vez que tocava com aquelas mulheres, apesar de a conhecê-las por um pouco mais de tempo devido aos contatos com outras bandas.

No geral, Jungeun era sim uma pessoa tranquila e, agora, esse traço estava mais do que evidente para Sooyoung, talvez fosse o motivo para aceitar toda essa loucura de se casar com basicamente uma estranha e assumir o papel materno de uma garota de dezessete anos também estranha.

Sooyoung se colocou de pé quando o show acabou. A banda realmente merecia palmas, as músicas e a performance foram muito satisfatórias, valeria os drinks e o dinheiro do couvert.

“Bom show.” A Ha falou assim que Jungeun sentou-se na cadeira ao lado. A outra aparentava estar um pouco cansada e já colocava o compartimento do instrumento apoiado na mesa.

“Obrigada.” Jungeun sorriu pequeno. O evento havia terminado fazia quase meia hora, mas a mulher ainda precisou acertar coisas com a banda e falar com alguns clientes do bar que insistiam em trocar ideia com o grupo.

“Quer comer ou beber alguma coisa? Acho que faria bem depois de passar duas horas tocando.”

“Eu bebi água nos intervalos e não é como se eu estivesse sentindo muita fome agora. Eu também deixei um pedaço de pizza na geladeira.”

“Ah...” Sooyoung assentiu.

“Acho que não é muito bom a gente demorar demais, porque tem a entrevista amanhã de manhã.”

“É verdade, a entrevista... Mas bem que a gente podia sair para jantar qualquer dia desses.” Sooyoung apoiou o rosto em uma das mãos enquanto olhava para a Kim, que simplesmente desviava o olhar.

“Hum, pode ser.”

Jungeun apertava os próprios dedos. Por conta de seus serviços como assassina, esses tipos de situações cotidianas como encontros eram praticamente escassos, ela não podia se dar ao luxo de ter algo assim. Apesar disso, ali estava ela... Casada.

Mas isso não diminuiu a falta de experiência com isso.

“E relaxa sobre a entrevista, vai dar certo. Basta ser tranquila que nem quando está tocando.”

“É, eu vou tentar. A Yeojin parece estar com muitas expectativas.”

“Ela se esforçou muito para passar na prova, então falta pouco, é normal.”

“Tomara que finja bem amanhã, porque não é muito mistério que ela me odeia.”

Sooyoung simplesmente arregalou os olhos levemente com aquela fala.

“Como assim te odeia? A Yeojin não te odeia.” A mulher soltou leves risinhos de descrença. “Ela só é adolescente e está se acostumando com outra adulta dentro de casa, ela não tem motivo para te odiar.”

“Então ela tem medo.”

“Medo de quê? Você é uma assassina por acaso?”

Jungeun felizmente era muito bem instruída para não dar muito sinais quando acontecia algo do tipo, então simplesmente franziu a testa.

“Não.”

“Então ela não tem motivo para isso. Estou dizendo, é só questão de costume.”

“Vou tentar ser mais receptiva.”

“É, isso pode ajudar.”

“Jungeun, aqui.” Uma mulher de cropped, jaqueta de couro, saia e botas, se aproximou da mesa. Os cabelos dela eram curtos e meio ondulados. Era a guitarrista. “Essa é a sua parte.” Um envelope pequeno foi colocado nas mãos da Kim. “Obrigada por ter coberto a Sunmi hoje. Eu sabia que conseguiria fazer um bom trabalho.”

“Sem problemas.” Jungeun sorriu pequeno ao receber o pagamento.

“Quem é essa? Nunca te vi acompanhada.” A mulher tinha um leve olhar sugestivo, o suficiente para Jungeun ficar um pouco nervosa.

“Eu sou a esposa dela, Ha Sooyoung.” A espiã ofereceu um aperto de mãos, que foi correspondido pela mulher, agora, em choque.

“Esposa? Desde quando você é casada? Nem para chamar a gente...” A musicista cruzou os braços.

“Nós queríamos fazer tudo bem discreto.” Sooyoung disse simpaticamente enquanto rodeava os ombros de Jungeun com um dos braços.

“Parabéns pelo casamento. Jungeun sempre foi tão calada e quieta quando a encontrávamos com outras bandas.”

“É o jeitinho dela.” Sooyoung riu.

Jungeun simplesmente colocava o sorriso mais amarelo que tinha.

“Pois aproveitem a noite, parabéns pelo casamento, foi um prazer te conhecer, Sooyoung.”

“Obrigada, e o prazer é meu.” A Ha viu a mulher se distanciar, então se virou para a Kim. “Ela parece ser bem legal.”

“É, ela é.” Jungeun ainda se mantinha um pouco sem jeito.

“Desculpa se te fiz ficar desconfortável.” Sooyoung retirou o braço dos ombros da outra.

“Tudo bem, eu não fiquei desconfortável. É só que... É tudo meio novo.”

“Olha só, você tem mais a ver com a Yeojin do que pensava, pelo menos no quesito falta de costume.”

“É... Da próxima vez eu não vou congelar... Não é bom desconfiarem da gente.”

“Pois é, principalmente amanhã. Mas relaxa, ok?” Sooyoung se levantou, ela já havia pagado a conta mesmo. “Tudo no seu tempo, eu espero por você.” A mulher estendeu a mão para a Kim.

Aquilo fez com que Jungeun desse um sorriso sincero, além de aceitar a mão estendida, assim como o sentimento de que bastava ser ela mesma.

Por fim, as duas caminharam pelas ruas de mãos dadas enquanto procuravam por um táxi para voltarem para casa.

E enfim chegou o dia.

Sooyoung e Yeojin estavam mais caladas, focadas, já Jungeun, apesar de também não falar, se deslumbrava com a grandeza e beleza da instituição. Era quase como se sugasse a sua vitalidade. Enquanto isso, Sooyoung avaliava a segurança do local mediana, tanto interna quanto externa. O professor com o cachorro estava lá e, pelos seus cálculos, só seriam três vagas disponíveis.

Precisava checar o lado B no certo tempo que restava.

                                                         

                                                         

                                                         

Chaewon, trajada de preto, bufou ao guardar o celular. Agora ela voltava a observar aquelas três no corredor através dos binóculos. Sentia um pouco de náusea com aquela vista, principalmente ao notar as três rindo juntas. Chaewon se sentiu uma intrusa, somente uma ferramenta.

“Ugh.” Foi o som que acabou emitindo.

E a família Ha foi recepcionada por três professores da casa algum tempo depois. A sala de entrevistas era um enorme escritório, contendo diversas prateleiras cheias de livros, as paredes possuíam um papel de parede bege, e os móveis eram de madeira escura. Um enorme lustre de cristal pairava sobre os enormes sofás e poltronas no centro do cômodo.

“Por favor, se acomodem.” Um senhorzinho de bigode e terno verde sinalizou o sofá de frente para onde ele e os outros dois professores estavam.

As três, muito bem arrumadas, sorriram simpaticamente antes finalmente se acomodarem. Outro detalhe importante seria o fato de um dos professores, um calvo que usava terno cinza, estar com um cachorro, até nisso Sooyoung teve sorte.

“Bom, Ha Yeojin.” O terceiro professor, que usava terno azul marinho e possuía um enorme topete, começou a falar. “Nós sorteamos perguntas para que responda, então sinta-se à vontade para fazer isso sem pressa.” A garota, sentada entre as adultas, somente assentiu demonstrando calma. “Quais são os três adjetivos que mais descrevem a sua personalidade?”

Ótimo, treinamos essa.

Amém.

“Gosto dos meus afazeres muito organizados, não acredito que se pode executar um bom trabalho sem ter isso em mente. Além disso, procuro sempre aplicar o máximo de criatividade, por exemplo, gosto muito de desenhar como hobby, então exercito tanto organização, quanto criatividade. Por fim, creio que um ser humano necessite ser flexível para lidar com todos os tipos de adversidade como quando uma senhora se machucou na rua e desviei meu caminho para ajudá-la. Consegui fazer isso sem nenhuma dificuldade.”

Boa, garota.

Caralho, eu decorei mesmo.

As perguntas, após a primeira, foram ficando fáceis para Yeojin, que se sentia cada vez mais confortável. O treinamento com Sooyoung de como responder aquele questionário havia sido extremamente útil. Os avaliadores também pareciam adorar.

“Senhora Ha Sooyoung.” O professor de topete se virou para a mais alta das três. “Nós lemos com antecedência sobre a sua situação e não podemos deixar de sentir a mais alta admiração por você. Cuidar de uma criança após perder o marido para guerra e, além disso, estudar e trabalhar conseguindo atingir uma posição de sucesso hoje em dia... Realmente admirável. Nem mesmo parece ter a idade que tem.”

“Isso me deixa feliz, fico grata que pensem isso.”

“Disciplina é algo que não faltou para você e creio que sua filha compartilhe do mesmo princípio.”

“Com certeza.”

“Então temos Ha Jungeun, sua esposa, que a conheceu anos depois. Funcionária Pública. Creio que ela deva ter colaborado para a educação de Yeojin, apesar de tocar em bares.”

Babaca .

Puta merda.

“Com certeza, minha união com Jungeun foi baseada na ideia de soma. E não ache que ela tocar em bares seja algo ruim, nunca houve nenhum problema quanto a isso.”

“Desculpe a forma como falei, não é querendo assumir nada. Mas então... Como foi aceitar um casamento com uma responsabilidade de criar a filha de outra pessoa?” Ele havia se virado para Jungeun, que se mantinha calma.

“Sou uma pessoa muito metódica e não aceito nada que não possa lidar. Posso dizer que Yeojin não é a filha de outra pessoa, ela é minha filha, tenho muito orgulho dela.”

“E você, Yeojin? Gostou do casamento?”

“Jungeun é uma ótima pessoa e foi muito importante para a minha formação.”

“Ainda lembra do seu pai? Você preferiria que fosse ele aqui?”

Hã?

Mas que tipo de pergunta é essa? Não foi difícil ouvir Sooyoung também ficar indignada.

Isso foi babaca, pior que eles estão realmente falando sério com essa pergunta.

“Não lembro muito do meu pai e ele vai ser o que foi. Ninguém é substituível, essa é a minha família, não uma empresa. A Jungeun é minha mãe e eu não iria querer outra pessoa no lugar dela.” Yeojin controlou um pouco o tom de voz para não soar agressiva e a resposta, felizmente, pareceu agradar os professores. Sooyoung sorriu pequeno e Jungeun aparentava estar um pouco emocionada.

Yeojin... Eu não sabia que pensava assim... Obrigada.

Isso não significa que eu estou 100% bem em conviver com você!

O resto da entrevista seguiu o padrão mais normalizado. As três saíram da sala satisfeitas com o resultado, agora bastava mais um passo para conquistarem uma vaga certa, pois as probabilidades ainda eram muito baixas.

“Estou orgulhosa de vocês, foram muito bem.” Sooyoung falou enquanto caminhava com as outras duas pelos longos corredores de piso compostos por assoalho de madeira e paredes em tom pêssego.

“Missão dada é missão cumprida.” Yeojin fez uma pequena continência. As mais velhas acabaram por sorrirem.

Mal sabe você, Yeojin.

Sei sim.

As três retornaram para o salão principal como o comitê de entrevistas indicou. O cômodo era enorme e seguia o mesmo padrão dos corredores, além de grandes lustres de cristal tornando o lugar com mais aspecto de palácio. E, felizmente, não demorou muito até os professores retornarem ao palco montado no fundo. As entrevistas haviam terminado.

O professor do cachorro, que havia se provado um homem muito calado durante a entrevista, tinha seu amigo canino no chão, preso por uma coleira de veludo. O animal possuía uma bela postura, parece até uma estátua.

“Ficamos muito felizes de recebê-los hoje.” Uma mulher de meia idade, muito elegante, falava para o público. “As informações serão reavaliadas e iremos ligar para divulgar os resultados em três dias. Até lá-”

Um apagão.

Alguns gritos reverberaram pelo salão. Sooyoung puxou Yeojin e Jungeun para perto enquanto a escuridão acontecia, algo que durou cerca de vinte segundos. Quando as luzes retornaram, o público parecia um pouco mais calmo até um dos professores gritar: “O meu cachorro sumiu!”

Aquele anúncio foi responsável por deixar todos em alerta e alguns segundos em silêncio se passaram. Sooyoung sabia que iriam acionar a segurança do prédio, então precisava atrair um pouco de atenção.

“Creio que não devam ter ido muito longe!” Sooyoung ergueu a mão, atraindo atenção das outras pessoas. “Podemos sair e procurar por ele junto com os seguranças, é o mínimo que podemos fazer por um compatriota.”

A gentil sugestão foi aceita por boa parte dos presentes. Sooyoung sabia que aquela seria a recepção, principalmente por, na verdade, ter iniciado uma busca ao tesouro. As famílias fariam de tudo para encontrar o cachorro, ele poderia ser uma peça fundamental para a aprovação.

“Vamos procurar.” Sooyoung falou baixo para Yeojin e Jungeun. “Nós pode-”.

“Se alguém pegou esse animal, só pode ter sido pelo teto, então a saída mais lógica é os fundos, eu consigo correr até lá.” Jungeun disse rapidamente enquanto colocava as mãos nos joelhos em uma espécie de alongamento.

Ah... Sooyoung soou impressionada

Os olhos dela estão um pouco assustadores...

“Bom raciocínio.” Sooyoung deu tapinhas nas costas de Jungeun. “Acredito que isso tudo seja um teatro para nos testar, então precisamos encontrar o cachorro.”

“Penso o mesmo, somente um ataque coordenado por algum tipo de agente especial para pegarem o cachorro facilmente desse jeito.” A Kim continuava. “Não existe nem motivo para roubarem um cachorro, por mais que as famílias sejam ricas, não acho que investiriam nesse tipo de coisa... A não ser que existam pessoas infiltradas, mas, de novo, um cachorro? Ele tem um chip ou algo assim?”

Eu realmente não devo subestimar ela.

A Sooyoung não tem ideia do quanto cavou a própria cova quando se casou com essa.

“E mexer com Sonatine, é mexer com muitos outros ricos, isso é realmente um teste.” Sooyoung pontuou. “Jungeun, fundos. Eu vou pela frente. Yeojin, quero que cheque os prédios perto do gramado.” A mulher fez questão de encarar a mais nova por mais tempo, como se quisesse estabelecer uma conexão telepática.

Eu entendi, não precisa espremer a testa desse jeito para eu entender.

Yeojin bloqueou os pensamentos alheios assim que saiu correndo em busca do cachorro, pois um lugar com muitas pessoas poderia a sobrecarregar. Felizmente conseguia ter controle sobre isso, além disso, não é como se algum pensamento fosse ser útil no momento.

A garota sabia qual seria o ponto onde Chaewon deixaria o animal, por isso foi correndo sem muita preocupação pelo campus. Pelo que percebeu, poucas pessoas também estavam procurando naquela região.

O único problema era o fato de: O cachorro não se encontrava lá.

Merda...

O medo da garota havia se confirmado, Chaewon tinha feito alguma gracinha durante a missão e isso com certeza resultaria em alguma confusão mais tarde. Porém, o foco agora era retornar até Sooyoung.

“Não achei o cachorro.” Yeojin pode visualizar uma feição quase de pânico no rosto da mais velha.

“Como assim não achou o cachorro?” Sooyoung engolia em seco. “Quer dizer, sério que não estava lá?”

“Não mesmo.”   

Eu não acredito que a Chaewon fez isso. Bem que era muito bom para ser verdade.

“Vai que a Jungeun achou alguma coisa.” Yeojin tentou dar um pouco de esperança e acabou por ver a figura da loira logo se aproximando. “Falando nela.”

“E aí?” Sooyoung possuía certa expectativa na voz.

“Encontrei.” Jungeun respirou fundo, contudo não aparentava estar muito cansada. “Mas ele está no telhado.”

“O quê?!” Sooyoung e Yeojin acabaram por se expressarem ao mesmo tempo.

“Mas dá para pegar. Eu poderia ter feito isso, porém seria mais interessante a Yeojin fazer isso... Nenhum dos ricaços vai se colocar em um topo de telhado.”

Sooyoung ficou ligeiramente surpresa, pois em nenhum momento deu foco em colocar Yeojin para buscar o cachorro, nem mesmo falou desse detalhe para Jungeun, já que seria um acontecimento premeditado por Chaewon se ela não tivesse vacilado.

“Consegue pegar o cachorro, Yeojin?” A mais alta das três se virou para a caçula.

“Nada que seja problema.” Yeojin disse aquilo com certa confiança, afinal, tinha costume de escalar árvores e muros.

Uma certa comoção já se formava perto do prédio médio onde o cachorro se mantinha de pé, amedrontado. Aquela locação servia como um galpão para guardar materiais.

Sooyoung e Jungeun se juntaram ao povo, enquanto isso, Yeojin subia em uma árvore nos fundos a fim de saltar para o telhado.

Vamos lá, Yeojin, nada de novo.

Apesar das roupas chiques, elas ainda não eram suficientes para atrapalharem a garota e suas habilidades. Yeojin já havia passado muitas tardes correndo por ruas, saltando cercas, deslizando em telhados e escalando árvores ao se meter em algumas pequenas confusões pela cidade.

“Calma, amiguinho.” A jovem falava ao se aproximar do animal, bem devagar. Ela podia ouvir as pessoas embaixo comentando sobre a situação.

Não era difícil notar que a comoção atrapalhava o resgate e deixava o cachorro mais nervoso. Yeojin até pensava se bombeiros já não deveriam ter chegado, mas o acontecido havia sido tão repentino para os professores e convidados, que era plausível esquecerem de simplesmente chamarem bombeiros. Os seguranças também precisariam encontrar o cachorro primeiro, mas, pelo jeito, Jungeun fez isso mais rápido. Era realmente uma situação ímpar.

“Vem aqui, totó.” Yeojin estalava os dedos.

Se todos simplesmente pudessem calar a boca por um minuto.

A garota sutilmente olhava para as mais velhas junto com o resto das pessoas, ela precisava fazer aquilo, só necessitava de um pouco de foco. E foi assim que Yeojin passou a olhar fixamente para o cachorro.

Faça o tempo nublar, chover, até trovejar, para o sol finalmente aparecer.

Yeojin recordava, e repetia, as palavras que ouvia no laboratório quando era muito nova e precisava fazer mais uma chamada tarefa.

E, aparentemente, o foco estava funcionando. O cachorro começou a retornar o olhar da garota, então, vagarosamente, começou a se aproximar dela.

“Isso, garoto.” Yeojin esticava os braços na direção do animal e, finalmente, ele pulou rapidamente em seus braços.

Foi evidente a feição de alívio na jovem. Missão cumprida.

“Aqui.” Ela ouviu Sooyoung chamar, Jungeun vinha logo ao lado.

A garota ficou feliz ao vê-las, até mesmo a Kim. Ela sentia orgulho e sabia que não era diferente para as mais velhas, seus pensamentos revelavam isso. Por fim, Yeojin saiu de cima do telhado com a ajuda delas, nem mesmo esperaram seguranças. Por aquele singelo momento, ela confiava cegamente naquelas mulheres.

Por um singelo momento, elas não fingiram ser uma família.

As três voltaram aliviadas dentro do carro. Yeojin achava bom ter garantido uma vaga depois do ocorrido, aliás, pensava em como Chaewon estava ferrada, pois os pensamentos de Sooyoung não eram nada felizes.

Porém, uma coisa era certa: Precisava trazer Chaewon de volta.

“O que vocês acham de pedir pizza?” Jungeun disse assim que o trio entrou no apartamento.

“Nunca acho ruim.” Yeojin falou já retirando o sobretudo que usava e passando para o corredor. “Vou trocar de roupa.”

“Acho uma boa.” Sooyoung deu um mínimo sorriso. A mulher tentava se manter o mais presente possível, mas sua mente já havia dado mil e uma viagens, coisa que Yeojin tinha ouvido durante o trajeto de volta. “Eu vou só conversar com a Chaewon, ela ficou de resolver coisa da universidade e preciso avisar da pizza.”

“Pois vou pedindo.” Jungeun sorriu pequeno.

Nisso, Sooyoung foi logo atrás de Yeojin no corredor, mas parou antes, já que a porta de Chaewon era uma das primeiras.

Fofoca...

Seja o que deus quiser.

Yeojin ainda tentou demorar um pouco mais para somente ver a mais velha adentrar o quarto alheio. Até poderia tentar ouvir do corredor, mas Jungeun estranharia a movimentação, portanto, Yeojin decidiu colher os pensamentos depois.

Enquanto isso, Sooyoung fechava a porta do quarto da irmã. Um quarto simples com cama, alguns móveis e muito organizado, se não fosse pela presença da mais nova, daria para dizer que não vivia ninguém ali. E Chaewon se encontrava deitada na cama, lendo uma revista de motos, usando um short de tecido e blusa larga, parecia ter chegado faz tempo. A garota nem se esforçou em olhar a mais velha na cara.

“Poderia ter batido na porta.” A jovem disse, sem tirar os olhos da revista.

“Mas que merda você fez em Sonatine?” Sooyoung controlava muito o tom de voz, pois também não queria atrair qualquer tipo de atenção.

“Você pegou o cachorro, deu certo. No telhado é até mais épico.” Chaewon virava uma das páginas vagarosamente, quase como se testasse a paciência da outra.

“Sabe, eu vim pensando o caminho inteiro sobre o que anda acontecendo entre a gente.” Sooyoung cruzou os braços. “Não vou encher seu saco com a história do cachorro porque realmente deu certo, mas isso me fez pensar em outras coisas.”

Chaewon finalmente ergueu os olhos na direção da mais alta. Sua feição se mantinha uma incógnita.

“Sua raiva de mim é compreensível. Esse tempo todo no escuro, sem saber de nada, então veio o reencontro e sua cabeça deve ter ficado uma bagunça... Você sempre foi uma pessoa peculiar, mas essa peculiaridade está se tornando um escudo.” A mulher suspirou. “Usa esse escudo para se proteger da dor de realmente descobrir que eu não te larguei, no caso, a verdade. Além de ficar mal porque estou me dando bem tanto com a Jungeun, quanto com a Yeojin, principalmente a Yeojin.”

“Está sugerindo que estou com ciúmes?” Chaewon juntou as sobrancelhas. Ela tentava passar uma aura intimidadora, algo muito efetivo, mas Sooyoung não era a pessoa que iria cair naquilo.

“Você que está dizendo, eu não.” A mais velha piscou os olhos algumas vezes. “A questão é a Yeojin e as interações que tenho com ela, isso te causa dor pelo tempo perdido.”

“Sooyoung, eu realmente não quero ter essa conversa.”

“Mas nós precisamos ter. Provavelmente essa vai ser a missão mais complicada de todas só pelo nível de confusão e sentimentos envolvidos, principalmente entre nós duas. Eu não posso dizer que sou sua irmã ou que desejo reatar nossa relação se não demonstro me interessar pelos seus sentimentos. Quando aquele bombardeio aconteceu, eu estava lá por você... Chaewon, você ainda é tudo que eu tenho.”

Sooyoung sentia um certo nó se formando na garganta e, pela primeira vez, Chaewon desviava o olhar.

“Você sabe que eu não te largaria de propósito, você simplesmente não estava lá quando finalmente voltei. E eu demorei porque o mundo é cruel, Chaewon. Nessa altura, você já sabe que isso é verdade. Eu estou aqui para colocar todas as cartas na mesa se quiser, mas, pelo jeito, prefere fingir que eu não me importo contigo para não lidar com o fato de ter passado treze anos sem mim quando eu também sou tudo que você tem. Não tenha dúvidas, Chaewon, doeu em mim assim como doeu em você.”

Sooyoung não havia levantado a voz em nenhum momento, na verdade, a mais velha lutava para não deixar a voz embargar completamente. Já Chaewon se mantinha em silêncio ao sentar-se na cama e aproximar os joelhos do peito.

“O orfanato...” A jovem começou, mas sem muita alteração de feição. “Oito meses depois de chegar Iá, uns engravatados do governo começaram a fazer testes mensais com a gente...Eu tinha as pontuações mais altas.”

Sooyoung se surpreendeu por Chaewon finalmente baixar a guarda, aquilo acontecia muito dificilmente.

“Tudo isso terminou três anos depois... Eu contava todos os dias, esperando você ir me buscar, mas depois de três anos...” Chaewon finalmente voltou a encarar a irmã. “Eu não achava que isso fosse acontecer, então eu fui... Mas quem me levou não foram os mesmos engravatados, mas uma senhora loira, muito chique, usando branco.”

“A antiga Agente 11.” Sooyoung disse e Chaewon assentiu com pouco vontade. “Eu ouvi falar desse tipo de recrutamento feito pelos governos em que a EGO conseguia os arquivos de pontuação e levavam as crianças antes deles.”

“Não cogitou que isso havia acontecido comigo?”

“A EGO realmente não me deu informações, além disso, quando cheguei no orfanato, a senhora só falou que havia sido adotada, por isso nunca parei de te procurar.”

“E o que aconteceu com você?”

“Ah...” Sooyoung respirou fundo. “Eu... Comecei a trabalhar no centro da cidade. Era difícil conseguir emprego sendo menor de idade e sem documentação, pelo menos os trabalhos que pagavam melhor, então acabei virando faxineira de um cabaré tradicional.”

“Foi trabalhar no Moulin Rouge?” Chaewon arqueou uma das sobrancelhas. Isso fez Sooyoung soltar um arzinho pelo nariz.

“Uma versão bem mais capenga.” Sooyoung comprimiu os lábios. “A dona de lá ficou com pena de mim, então me deu esse trabalho. As outras garotas me tratavam bem e existia um certo laço de cumplicidade entre todo mundo ali. Isso ajudava a lidar com a falta de recurso e as violências do dia a dia. Eu sabia que demoraria a juntar dinheiro e ficava preocupada a cada dia passado... E nunca deixei de ficar, mas digamos ter conseguido uma oportunidade.”

“Agente da EGO.”

“Exato.” Sooyoung assentiu. “Ele estava investigando um empresário que frequentava a região e chegou a mandar assassinar uma das nossas garotas... O agente tinha levado uma surra, apesar dos outros caras no chão estarem bem piores. Encontrar ele naquela viela foi uma surpresa e não sei até hoje porque o ajudei com os machucados, porém, aconteceu.”

“Mas ele não te recrutou fácil assim.”

“Não...” Sooyoung deixou uma leve risada escapar. “Eu comecei a ajudar na investigação mesmo ele tentando me afastar, assim eu fui aprendendo com ele. Acho que foi minha forte intuição. Resumindo muito, nós resolvemos o caso e fui reconhecida, então ele propôs me treinar pessoalmente.”

“Eu fui para o centro de treinamento em Denóvia.” Chaewon pontou.

“Eu deveria ter ido para o de Baris, mas acabei sendo treinada de forma particular... Eu queria que tivesse conhecido ele... Lembrava o papai.”

Era complicado as duas falarem dos pais de forma geral, elas preferiam esquecer tudo antes do bombardeio, funcionava melhor assim.

“E foi aí que conseguiu recurso para ir atrás de mim?”

“Sim, mas você não estava lá...” Sooyoung olhou rapidamente para o chão. “Foi aí que decidi ser a melhor espiã do mundo, assim como o meu professor e antecessor, Agente 9. Pensei que assim fosse achar você.”

Novamente silêncio. Chaewon encarou a irmã por um tempo até finalmente pegar a revista de volta e retornar à posição inicial de leitura.

“Sei que nossa relação não vai mudar de um dia para o outro, mas foi bom retirarmos isso da frente...” Sooyoung, por mais que Chaewon não parecesse prestar atenção, continuava. “A Jungeun pediu pizza, vamos deixar para você.”

E assim, se retirou.

Yeojin reparou em uma Sooyoung bem mais aliviada e com certos pensamentos esperançosos em sua mente. Por um momento pensou se as irmãs haviam finalmente feito as pazes. Agora era esperar para ver.

“Vou buscar a pizza.” Jungeun anunciou.

Nesse momento, Yeojin sentiu o celular notificar. Sua testa franziu rapidamente, pois era um número desconhecido. Contudo, bastou poucas palavras para se dar conta de quem era.

                                                         

                                                         

                                                         

                                                         

Enquanto Chaewon se sentia péssima por ser legal, Yeojin só ficava aliviada que era menos uma pessoa querendo a matar.

 


 

3 dias depois...

 

“Alô. Sim, é ela.” Sooyoung respondia ao telefone fixo da sala.

No momento, as quatro se encontravam na sala de estar. Yeojin estava nervosa no sofá, Jungeun se mantinha de pé ao lado de Sooyoung e Chaewon simplesmente comia uvas enquanto se esparramava na poltrona.

As quatro só pensavam que aquele cachorro deveria funcionar.

Agora aqui estavam elas aguardando o tal resultado de Sonatine. Eram uma três da tarde e a única programação do dia era receber a fatídica ligação.

“Certo.” Sooyoung respondia um pouco baixo no telefone. “Obrigada por informar, sim, tenha uma boa tarde.” E assim o telefone foi colocado de volta no gancho.

A feição de Sooyoung não transparecia nada, algo que causava mais suspense entre Yeojin e Jungeun, pois Chaewon não ligava o suficiente.

“E aí?” Yeojin havia se colocado de pé. Meio que sua vida dependia daquela ligação.

Que merda, ela não está pensando nada.

Sooyoung simplesmente caminhou até a mais nova e a envolveu em um abraço apertado.

“VOCÊ PASSOU!”

“Bendito cachorro!” Jungeun disse ao bater palminhas.

“Eu passei?” Yeojin não conseguia gritar de tanto choque. “Cacete, eu passei.”

“Parabéns, piñata.” Chaewon falou, mas sem intenção de ser ouvida.

Agora a missão finalmente se inicia.

 

 

 

Sonatine, aí vou eu.

Notes:

Espero que tenham gostado, vejo vocês em breve!

Chapter 6: as cortinas se abrem

Summary:

Arco 3: Ação! (1/3)

Notes:

Boa leitura!!

(See the end of the chapter for more notes.)

Chapter Text

                                                 

 

 

1 mês depois...

 

Os olhos de Yeojin se abriram de supetão e já com a ansiedade dominando a boca do estômago. Faltavam poucos minutos para o alarme tocar, mas mesmo se o parasse, ainda precisaria se levantar. Afinal, era o grande dia.

Seu primeiro dia de aula em Sonatine havia chegado.

Infelizmente (?) não existia uma cerimônia de entrada para os novatos do meio do ano, pois eram poucos, então Yeojin precisaria ser esperta para conseguir as informações corretas, começando por encontrar a coordenação e consequentemente sua sala. A garota considerava aquelas tarefas complicadas, pois não confiava muito nas suas habilidades até por nunca ter frequentado uma escola de verdade na vida.

Yeojin agora se encarava no espelho por longos minutos antes de finalmente sair do quarto. A garota agora trajava o uniforme feito sob medida. A vestimenta inferior era composta por uma saia marrom escura, meias pretas cobrindo as panturrilhas e tênis brancos. Já a superior se baseava em uma camisa social branca, gravata, colete e um cardigã de botões, fechado até a metade, de mesma cor, ou seja, vinho. A mochila laranja da jovem era visivelmente cara e tinha um pingente de urso marrom.

As outras três residentes do apartamento logo viraram os rostos na direção da mais nova. Jungeun usava o uniforme da prefeitura, camisa social branca e saia azul na altura do joelho, além de saltos, e ela cozinhava algo. Sooyoung portava somente blusa larga e calças de tecido, além dos óculos, enquanto se mantinha sentada na ponta da mesa, ela iria trabalhar em casa. Chaewon vestia calças jeans, tênis branco e um suéter bege, nada chamativo, e ela tinha a boca cheia.

“O uniforme parece melhor agora do que no dia de prova.” Sooyoung deu um pequeno sorriso.

“Valeu.” Yeojin se encolheu um pouco devido a timidez e então caminhou até uma das cadeiras na cozinha, sua mochila foi colocada no apoio das costas.

“Omeletes saindo.” A Kim anunciou ao colocar a comida em alguns pratos na mesa, depois disso ela tomou um lugar ao lado de Sooyoung. “É bom vocês comerem bem.” A mulher disse ao olhar para as mais novas. “Não esquece de comer na escola, Yeojin.”

“Não tem perigo de eu esquecer isso.” A garota rapidamente encheu a boca de comida.

“Você está levando alguma coisa para comer?” Sooyoung perguntou para a irmã.

“Não, mas não é como se faltasse dinheiro.”

“Não se preocupem, eu fiz uma marmita para mim e para você, Chaewon.” Jungeun disse de forma simplista.

Chaewon e Sooyoung ergueram as sobrancelhas em surpresa.

Eu sei que não esperavam por essa, hehe.

Carai...

Gostei... Chaewon gostando de algo, essa era nova.

Confesso que ela é boa nisso de ganhar pontos com as pessoas.

“Obrigada.” Chaewon terminou por dizer.

“E uma dica para vocês.” Sooyoung falava após bebericar café. “Aproveitem, ok? São ótimas oportunidades.”

“Pode ser.” Chaewon deu de ombros.

Sooyoung sabia da alta educação da irmã mais nova, ela já possuía duas graduações. Porém, a Ha tinha conhecimento de que a garota não havia tido a oportunidade de aproveitar o mínimo da vida estudantil, fazer coisas normais, era isso que ela queria para Chaewon, assim como para Yeojin.

“Vou tentar.” Yeojin acabou por responder. “Vai ser algo bem diferente.”

“Relaxa, sei que vai se dar bem, com certeza vai fazer amizade com alguém. Ouvi falar de uma menina bem simpática, talvez sejam da mesma turma, a Son Yerim.”

“Não sei quem é...”

Sei quem é sim, você quer que eu seja amiga dela... Vai ser difícil, mas vou tentar.

“Seria bom fazer amizade com ela.”

Por favor, seja amiga dela.

Já disse que vou tentar.

“Ela é filha do tal do Youngsoo, não é?” Jungeun comentou.

Cara suspeito.

“Sim.” Sooyoung assentiu. “Seria bom conseguir algum contato para melhorar os negócios.”

“Por mais longe dos holofotes que ele seja, além de um pouco suspeito, seria bom para você.”

“Acha ele suspeito?”

“Ele é político, acho que essa é a preocupação de um cidadão médio.”

“Tem um ponto, confesso compartilhar um pouco da sua opinião. Não é muito fácil confiar em figuras públicas.” Sooyoung checou o relógio na parede oposta. “Meninas, acho que está na hora de irem. Chaewon, eu te expliquei ontem... Leva a Yeojin na bicicleta até o ponto de ônibus na rua de cima. O ônibus da escola passa lá. Na volta, mesma coisa, espera a pequena.”

Chaewon encarou Sooyoung por alguns segundos, sua feição era a típica incógnita.

“Ok.” A jovem saiu da mesa para ir até o banheiro escovar os dentes. “É bom estar pronta quando eu pegar minha bolsa, Yeojin.” Seu tom morno foi o suficiente para Yeojin quase se engasgar ao se entupir de comida a fim de se apressar.

Tirando as piadas, Chaewon vinha se comportando e a trégua funcionava, mas Yeojin também não queria testar os limites da outra, por isso obedeceu prontamente. E em poucos minutos estava perto do elevador, agora pensando em como tinha sua missão própria. Apesar de no momento fazer parte de uma família rica, ainda não se equiparava a ter sido socializada como uma pessoa rica, logo já sentia uma certa parede entre ela e Yerim. Falando em missão, Jungeun parecia suspeita do mesmo alvo da missão, por um momento Yeojin se perguntava sobre o quanto a assassina sabia acerca do homem.

“Vamos.” Chaewon passou por si, apertando o botão do elevador.

Agora não tinha mais volta.

“Sem gracinhas.” A Ha do meio falou assim que chegaram na bicicleta. “Você também não precisa me apertar, se segure normalmente, sem abraçar demais.” O olhar dado por Chaewon fazia com que Yeojin assentisse freneticamente.

A bicicleta marrom era elétrica e necessitava que tanto Yeojin quanto Chaewon utilizassem capacetes abertos. A mais velha achava um pouco humilhante, mas era melhor do que ir andando, então simplesmente aceitou de forma silenciosa. Talvez tentasse mudar isso mais na frente. Já Yeojin subiu rapidamente e tendo cuidado com a saia e, para ela, aquele transporte era uma novidade.

E as ruas ainda se encontravam meio vazias naquele horário. Fazia um leve frio, era bem agradável. Chaewon não sentia necessidade de ir muito rápido até porque bastaria uma mínima freada para Yeojin se agarrar em suas costas.

“Distância, por favor.” Yeojin se empurrava um pouco mais para trás.

Felizmente, para as duas, o momento de união durou pouco pela distância não ser tanta. Yeojin até se despediu, mas não recebeu resposta da outra, que não demorou em ir embora. Agora a menor estava sozinha, esperando o tal ônibus... Poderia tentar ir embora por estar se sentindo tão nervosa, mas era melhor não.

Então, surgindo no horizonte após um tempo, vinha um ônibus muito elegante. A coloração por fora era toda preta, já o interior possuía chão com aparência de madeira, poltronas super acolchoadas, e iluminação neon nos compartimentos de cima. Era como um ônibus para viagem super caro, na mente de Yeojin, era quase uma espaçonave.

A garota não viu nenhum rosto conhecido da entrevista, na verdade, só deveria ter umas quatro pessoas, além dela, e nenhuma se deu ao trabalho de a olhar por mais do que três segundos. Aquilo, para ela, era melhor do que se deparar com um monte de adolescentes a encarando da cabeça aos pés, e um puta silêncio constrangedor.

E foi ali que a garota reparou sobre sua casa ser deveras distante da escola, o ônibus vagarosamente foi ganhando alguns alunos a mais e ainda não haviam chegado nem na metade. Sozinha, sem nem mesmo ter levado um fone de ouvido, o trajeto se tornava cansativo.

Porém, logo Yeojin teve sua atenção atraída até a entrada do ônibus quando viu um garoto baixinho, bochechudo, de cabelos escuros, curtos, e sorridente, usando o mesmo padrão de cores de Yeojin, mas portando calças e blazer e uma mochila marrom, cumprimentando o motorista. Ele parecia bem mais simpático do que o resto dos alunos.

Yeojin acompanhou o menino passando pelo corredor, o sorriso dele tinha diminuído enquanto caminhava, mas ele acabou por encontrar o olhar da Ha mais nova, então pendeu a cabeça. A garota não esperava, até por ter outros lugares vagos, mas o menino sentou ao seu lado.

“Tudo bem?” Ele disse. O sorriso dele havia aumentado novamente. “Nunca te vi por aqui. É novata?”

Yeojin simplesmente assentiu.

“Caramba, você deve ser inteligente. Entrar no meio do ano e sabendo o quão frescos são... Muitas famílias poderosas fazem doações, então já sabe, não pode entrar qualquer um.” O jeito expressivo com que ele gesticulava, cruzava as pernas e mexia no cabelo, deixava Yeojin se sentir mais à vontade.

“Digo que foi um pouco de sorte, creio que a entrevista foi o principal.”

“Ainda assim é difícil passar... Qual é o seu nome?”

“Yeojin.”

“Sou Dongpyo.” Ele estendeu uma das mãos, que foi apertada pela menina. “Ei, por acaso, é verdade a fofoca que o cachorro do Sr. Harrinson foi parar no telhado?”

“Ah... É, foi.”

Yeojin arregalou um pouco os olhos ao perceber o garoto gargalhar.

“Ai cara, porque isso não aconteceu em dia comum?!”

“Foi um pouco preocupante na hora.”

“Eu imagino, o cachorro é o único herdeiro dele.” Dongpyo comprimiu os lábios. “Mas e aí? É de alguma família importante? Não é querendo julgar, mas parece pobretona que nem eu... Na verdade, não somos pobres, até porque a mensalidade não é barata, nem os uniformes, e outras coisas, mas comparados com o resto... Eles veem a gente como dois bundas secas.”

“É...” Yeojin segurou um pequeno riso. “Somos bundas secas. Minha família vive bem, é isso.”

“Por isso fui com a sua cara, mal ando com as pessoas da escola justamente por isso, a maioria é metido. Você vai entrar em qual ano?”

“Último.”

“Eu sou do último!” Ele sorriu grande. “Você realmente deve ser boa para te aceitarem. Espero que seja da minha turma, Yeojin, você parece legal.”

“Ah... Valeu, você também parece legal.”

“É, eu sei.” Ele mexia os ombros. “Deixa comigo, eu vou te mostrar como Sonatine funciona.” Yeojin ficou obviamente aliviada, não tinha como ler os pensamentos dele no momento, mas a sensação não era das piores.

E, na mente de Dongpyo, não haviam realmente coisas ruins. Para alguém que só rezava por conveniência, não é que suas preces haviam sido atendidas? Finalmente poderia ter uma amiga, além de sua prima! Com certeza não estava sendo emocionado. Agora só devia protege-la dos ditos abutres da escola.

“Seja bem-vinda ao colégio Sonatine!” Dongpyo, agora dando para perceber não ter mais de um e sessenta e cinco de altura, disse assim que desceram do ônibus e se colocaram na entrada do prédio principal. Mesmo que Yeojin tivesse ido até lá, o transitar dos estudantes dava um ar diferente ao local. Além disso, ela reparava em outros alunos chegando através de limusines ou outros carros de luxo. “Você vai aprender que esse lugar tem muitos lados, sendo o melhor deles: o de fora.”

Yeojin encarou a feição risonha do garoto.

“Relaxa, se andar comigo vai ser um pouco melhor.” Ele sinalizou com a cabeça para que a menina o seguisse.

Os dois cruzaram os portões de entrada e logo começaram a andar pelos corredores. Yeojin sentia o local mais vivo com estudantes vagando, alguns elegantes e outros meio descuidados.

A caminhada só deu uma pausa quando chegaram ao segundo andar do prédio principal, na coordenação, onde a recepcionista, atrás de uma enorme mesa de madeira bem polida, checou rapidamente em um dos computadores para onde Yeojin deveria ir.

Felizmente, era a mesma sala de Dongpyo. Aquilo a fez ficar deveras aliviada.

“É bom irmos logo para pegarmos lugares, me segue.” O menino apertava os dedos nas alças da mochila.

Enquanto isso, Yeojin sorria um pouco ao acompanhar o novo colega de classe, até agora a sua experiência escolar estava tudo sob controle. Porém, uma sensação estranha a perseguia desde que chegaram no andar da coordenação e não parecia aliviar ao se dirigirem à sala, algo como se alguém os seguissem, até pensou em ter visto um vulto. Infelizmente, pelo número de pessoas, Yeojin não poderia arriscar liberar sua telepatia.

A sala de aula era espaçosa, com duas entradas tanto na frente, quanto nos fundos, possuindo as paredes em tom pêssego, grandes janelas brancas e as cadeiras tinham uma madeira de coloração bege. Já o palanque do professor era escuro e o quadro era enorme.

Dongpyo foi caminhando até as cadeiras do meio, perto dos fundos. Yeojin sentou-se ao lado do menino e ela se sentia um pouco menos nervosa agora que estava na sala e não corria risco de se atrasar no primeiro dia, ela até achava engraçado não ter chegado praticamente ninguém no momento.

“A primeira aula é de química.” Dongpyo começou falar, seus olhos redondos estavam bem abertos. “Um saco e olha que gosto de matemática.”

“Nem parece.” Yeojin disse automaticamente, já o garoto fingiu uma expressão de ofensa.

“Mal chegou e está assim?”

Yeojin somente deu de ombros.

“Mas tem alguma matéria que goste?” Ele perguntou.

“Acho que artes, gosto de desenhar.”

“Não parece.”

Yeojin abriu um pouco a boca em mínimo choque, mas logo Dongpyo começou a rir.

“Relaxa.” O menino balançou a mão na frente do rosto. “O mais importante é você saber como sobreviver aqui. Andar comigo já é um bom passo.”

“É popular ou algo assim? Tempos atrás estava com o papo de sermos bundas secas.”

“Estudo aqui tempo o suficiente para não encherem meu saco. Podemos dizer isso.”

Tudo graças a minha prima.

“Certo...” A garota arqueou uma das sobrancelhas. “Então... Essa escola é tipo as dos filmes? Grupos de líderes de torcida, atletas, nerds, skatistas, extremamente ricos...”

“Pior que é isso mesmo.”

“Se encaixa em algum deles?”

“Não...” Dongpyo fez um pequeno bico. “Tenho muitas facetas para me encaixar em somente uma...”

Meio que só não consegui me misturar mesmo. Aquele bastardo cabeçudo também não ajudou no começo.

Você não se encaixa em lugar nenhum então... Mas quem é esse bastardo cabeçudo? Bullying, será?

“Entendi... Eu meio que não consigo me ver em algum grupo assim, então acho que podemos ser uma dupla.” Yeojin notou uma certa felicidade momentânea no garoto.

“Puta merda, o quão clichê é o grupinho dos desajustados.” Dongpyo pendeu levemente a cabeça. “Pelo menos isso nos tornaria protagonistas.”

Isso seria legal, afinal, é o último ano .

Pior que pelas duas espiãs, uma assassina e uma missão impossível... Você não faz ideia.

E a conversa acabou por ser temporariamente interrompida devido a porta ter sido aberta.

Yeojin havia visto fotos daquela pessoa, eram poucas, mas viu. Contudo, nenhuma chegava perto do material original, por isso a Ha mais nova não conseguiu conter a boca se abrindo ao ver aquela garota de cabelos sedosos e feição gentil. Não tinha dúvidas... Aquela era...

“E Son Yerim ataca novamente.” Dongpyo falou baixinho. “Cuidado para não sair babando a mesa.” Ele soltou uma pequena risada, algo responsável por fazer Yeojin ficar sem graça e se recompor.

“O nome dela é Yerim?” Yeojin perguntou somente por conveniência.

“Estranho você não conhecer.” O jovem juntou as sobrancelhas. “Ela é filha de um figurão da política, um dos Ministros. A senhorita perfeitinha com família influente, boas notas, além de ocupar cargos importantes como Representante de Classe, Capitã do time de vôlei e Presidente do Conselho Estudantil. O sonho dela é fazer medicina e a escola inteira está disposta a se jogar na frente de um caminhão só para ela atender.”

Você, pelo jeito, se jogaria também.

É, eu me jogaria também.

“Ela é legal, pelo menos?” Yeojin perguntou.

“Sim... Infelizmente sim, quem não morre de amores, morre de inveja. A garota realmente parece não ter um defeito. Yerim é gentil, legal, super talentosa, bonita, a menina vive na linha tênue entre Jesus Cristo e o Anticristo.”

Tal fala fez Yeojin engolir em seco.

“Ela sendo legal comigo, então de boa.”

“Relaxa com isso, ela tinha tudo para ser uma cachorra, mas é ótima.”

“Como tem tanta certeza?”

Nisso, a conversa ganha mais uma pausa involuntária por conta da porta da frente sendo aberta novamente. Dessa vez, era um garoto alto, loiro, de olhos claros e nariz empinado. Ele entrava acompanhado de duas meninas, gêmeas idênticas, a única diferença era o cabelo: uma tinha o lado esquerdo loiro e o direito preto, já a outra seria ao contrário.

“Lá vem o cabeça de nós todos.” Dongpyo pontuou com rispidez na voz. Não era muito difícil perceber sobre a cabeça daquele garoto ser um pouco maior do que o convencional, o cabelo meio de tigela também não ajudava muito.

“Quem é esse?”

“Esse aí é o filhote que o capeta responde ‘tô não’ caso ele apareça no inferno. Joshua Harverford.”

“Que nome embolado.”

“Coisa de gente rica, eu só chamo ele pelo que ele é: cabeçudo.”

“Você parece não gostar dele, devo me preocupar?”

“Ele não está nem doido de mexer com a gente. O que precisa saber é: ele é chato, soberbo, metido e adora ficar em cima da Yerim que nem um abutre achando que algum dia vão se casar pelo fato dos pais dele serem amigos dos pais dela. Ela aguenta esse merdinha desde o prézinho... Olha lá.” Dongpyo apontou disfarçadamente para Joshua se aproximando da Son.

“Coitada...”

“Daí você tira, eu só comecei a estudar aqui no ensino fundamental, fiquei com abuso dele fácil. Aqui no colégio, além de ser riquinho, ele é Tesoureiro do Conselho Estudantil e faz parte do time de esgrima.”

É, coisa de rico atrás de coisa de rico.

“E aquelas duas?” Yeojin sinalizou as gêmeas sentadas na frente e cochichando.

“Karen.” Dongpyo deu de ombros.

“E a outra?”

“Karen.”

“Ué.”

“Ninguém consegue diferenciar mesmo com os cabelos espelhados, elas respondem tudo igual e muitas vezes falam ao mesmo tempo a mesma coisa. O nome de uma é Katherine e a outra é Lauren, é o que diz a lenda urbana. Enfim, alguém teve a brilhante ideia de juntar os nomes e deixar Karen. Elas participam do Clube de Moda e só andam com quem convém, principalmente se tiver fofoca. No momento, preferem ser capachos do Joshua.”

Yeojin simplesmente encarou as gêmeas por alguns segundos sem acreditar muito naquela informação.

“Mas assim...” Dongpyo atraiu novamente a atenção da Ha. "Se você quiser algo com a Yerim...Eu posso ajudar, já estava babando aí.”

“Eu vi ela hoje.” Yeojin franziu minimamente a testa.

“Mil vezes você do que a porra do Joshua.”

“Mas eu só vi ela hoje!” Yeojin controlava o tom de voz.

“Para você ver como ele é um merda. Além disso, você não é uma riquinha esnobe.”

“Você fala como se realmente pudesse me ajudar. Como iria fazer isso?”

E, pela terceira vez, a conversa dos dois é interrompida. Uma pausa feita com a ajuda de uma deliciosa fragrância floral.

“Bom dia, Dongpyo.” Yerim havia se aproximado dos dois. O sorriso da garota sendo como um cumprimento direito do sol matinal. “Bom dia para você também, qual é o seu nome?” A Son estendeu a mão na direção da menor. “Sou Yerim.”

“Ha Yeojin.” Ela aceitou o contato e pode sentir a maciez daquelas mãos, provavelmente a garota usava dos melhores produtos. “Sou novata.”

“É, percebi. Espero que seja um ótimo ano para nós. Pode me pedir ajuda caso precise.”

Yeojin assentia como uma idiota e não conseguia deixar de ficar encantada com o comportamento da mais alta, por mais simplório que fosse.

“E você, Dongpyo? Nem te vi durante os últimos dias das férias.”

O garoto deu uma leve risada convencida por um momento, então cruzou as pernas e começou a falar enquanto gesticulava.

“Eu passei o final das férias com meu pai. As suas férias foram boas?”

“É...” Ela desviou um pouco o olhar. “Foram tranquilas, mas e as suas? Foram boas? Adoro suas histórias.”

“Você nem imagina... Eu já disse que a família do meu pai não bate muito bem da cabeça.” Ele arregalou levemente os olhos. “Primeiro que eu cheguei na casa de praia da minha tia e tinha um banner com ‘Família Ok e Dongpyo’ só porque eu tenho o sobrenome diferente.”

“Que mancada.” Yerim assente negativamente.

“Não, é? E depois meu avô, que nem lembra meu nome, fez eu ficar meia hora adicionando contato de amante no celular dele. Fora que foi aniversário dele e aí eu dei dez reais de milho para ele alimentar as pombas da rua. E nem te conto, no meio da festa eu fiquei preso no banheiro, a maçaneta caiu e minha vó ficou desesperada tentando enfiar um prato de comida pela janela, em tempo de cair no quintal.” O garoto continuava sem se importar com Yerim vermelha de tanto rir e Yeojin tentando impedir o riso. “Depois disso, eu e as minhas primas fomos para uma feirinha de praia e tal, nisso meus tios e o pai ficaram passeando lá por perto, meus avós ficaram em casa... Enfim, minha tia foi atropelada por um quadriciclo e meu pai ligou para a vó dizendo ‘O quadriciclo passou por cima dela, mas ela está bem!’... Como se isso não fosse MATAR a véia!” Ele terminou o falatório de maneira indignada, então sorriu. “Fora esses detalhes, foi legal.” Nisso, as duas gargalharam, apesar da pequena pausa quando ele mencionou o atropelo.

“Turma, todos em seus lugares.” Um homem calvo, usando óculos, calças jeans, camisa social branca e um blazer cinza, além de sapatos sociais, apareceu para tomar lugar no palanque.

O trio nem percebeu quando mais pessoas haviam entrado na sala e o tempo se passando ao se prenderem naquela história.

Yerim se despediu baixinho dos dois e foi direto para seu lugar. A garota parecia ter se divertido bastante ouvindo sobre as férias de Dongpyo, Yeojin também não podia negar que havia sido deveras... Interessante.

“Vocês são amigos?” Yeojin finalmente fez a pergunta. Querendo ou não, a forma como Dongpyo falava com tanta propriedade sobre a garota e o jeito de como a conversa entre os dois se construiu, chamou a atenção da Ha.

“Ah, meu nome é Son Dongpyo, eu sou o primo pobre dela.” Ele dizia tranquilamente ao ajeitar os materiais na cadeira, enquanto isso, Yeojin se virava para pegar suas coisas sem acreditar naquilo.

Que sorte... Agora também está explicado porque ninguém mexeria com ele.

A garota só não comemorou mais, pois sentiu novamente aquela sensação estranha de quando estava no andar da coordenação. Porém, parecia mais perto... Bem perto... Algo que fez Yeojin levar seus olhos aos lugares mais aos fundos, foi aí que seus olhos se encontraram com outros, mas arregalados. Foi inevitável não tomar um mínimo susto.

A garota naquela cadeira aparentava ser mais alta, seus olhos tinham profundidade naquele tom escuro de castanho e ficavam ainda mais sombrios por conta da franjinha cheia e os cabelos longos e pretos.

Novamente, o lugar já estava cheio de pessoas para usar seus poderes, mas algo a dava uma sensação de arrepio, talvez ameaça. Aquela garota era, no mínimo... Intrigante.

Enquanto isso, na Universidade N.E.W, Chaewon realizava o que ela chamava de caridade. Ela já se encontrava cansada de precisar se meter em ambientes universitários novamente, pelo menos, dessa vez, iria cursar algo interessante, no caso, medicina veterinária. De resto, não estava nervosa, não havia nada que não conseguisse fazer. Inclusive, seu alvo não possuía informação em lugar nenhum e mesmo assim conseguiu graças às suas habilidades ao hackear o site da universidade. Não adiantava, aquela garota não iria escapar.

O plano de Chaewon poderia ser considerado perfeito. Seu plano era fazer algumas disciplinas nos mesmos horários, não todas, pois não queria parecer uma stalker. Além disso, escolheu turmas cujas salas seriam próximas de onde a Son estivesse, isso quando se tratava de matérias diferentes.

A intenção era fazer todo o encontro parecer uma chuva de coincidências, mas Chaewon estava mantendo tudo na palma da mão, controlando cada mínimo movimento daquela ligação que iria estabelecer com a Son mais velha.

A primeira aula começou bem, Chaewon logo viu uma garota vestida de preto, mal encarada, de lábios triangulares e cabelos escuros e longos. Ela parecia uma típica garota delinquente capaz de atrair olhares de todos, além de conseguir conquistar quem quisesse... Mas Chaewon não a achou nada demais.

“Pode ficar com ela?” A professora idosa, de cabelos curtos, e vestido, pediu para Chaewon enquanto apontava para a Son.

Uma ótima coincidência.

“Sim.” A loira deu um sorriso quase imperceptível. “Oi, eu sou Chaewon.” Ela cumprimentou a Son com um pequeno aceno.

“Sou Hyeju.” A Ha achou ter visto errado, mas a feição carrancuda daquela garota se desmanchou. Seu tom de voz também era baixo e inofensivo. Ela parecia uma bolota tímida. “Vamos ser dupla até o fim do semestre, pode contar comigo.”

“Obrigada, digo o mesmo.” Chaewon se azedava por dentro ao ser dar conta de realmente estar fazendo aquilo.

A verdade é que Chaewon nunca recebeu uma missão como aquela, devendo se aproximar de alguém e tudo mais. Sua função era mais combativa, geralmente acabava com uma palhaçada e seguia em frente. Essas tarefas de muita conversa não eram com ela, mas talvez fosse justamente um teste da EGO. Chaewon não poderia se tornar a melhor sendo somente uma máquina de combate.

Mas sua competência física poderia vir a calhar, principalmente quando viu uma cena bem inesperada acontecendo.

Hyeju estava em uma parte mais reclusa do pátio, sendo encurralada por um grupo de três garotas e dois rapazes com caras de otários. Não pareciam serem amigos da Son, principalmente quando riam da garota e uma loira, aparentemente a líder do grupo, puxava a mochila de Hyeju.

Chaewon simplesmente se enfiou no meio do grupo e puxou a tal líder pelo cabelo fazendo com que ela se desequilibrasse e quase caísse no chão.

“Quem você pensa que é?!” A jovem gritou com a Ha, se preparando para usar seu grupo contra a estudante.

“Vai dar esse teu cu.” Chaewon respondeu calmamente com uma das sobrancelhas arqueadas, então puxou Hyeju e saiu de lá rapidamente como se nada tivesse acontecido.

A próxima parada das duas foi o refeitório. Um salão com chão de porcelanato e espaçoso o suficiente para não se esbarrarem em outros estudantes. Hyeju havia coletado uma bandeja, enquanto Chaewon levava um depósito e somente comprou um suco, então foram em uma mesa mais para o canto.

“Valeu por ter se metido.” Hyeju disse timidamente após algum tempo.

“Não precisa agradecer. Você é minha dupla, preciso de você viva só para conseguir nota.” Hyeju riu com a fala da garota, algo que a fez levantar as sobrancelhas.

“Você é engraçada.”

Chaewon simplesmente respirou fundo com tamanha ingenuidade.

“Mas e essa galera?” A Ha falou após bebericar o suco. “Eu sei que bullying acontece na faculdade também, apesar de não ser tanto quanto em escola.”

“É... Eles estudaram comigo durante a escola e meio que o bullying seguiu até aqui.”

“Esses anos todos?”

“De uns tempos para cá, começou mais no terceiro ano.”

“Então já tem uns dois anos dessa palhaçada?”

“Uhum...” Hyeju encheu a boca de comida após sentir um pouco de vergonha.

“E esse é o exemplo de que faculdade e idade não necessariamente amadurecem alguém... Tentou levar isso para o Reitor ou algo assim?”

“É meio vergonhoso, não acha?” Hyeju fez uma pequena careta. “Eu também não quero estressar meu pai.” Não é como se universidades se preocupassem muito com isso, pois a política é de cada aluno por si, mas obviamente a filha de Youngsoo não era somente uma simples política universitária.

Aliás, Chaewon desviou um pouco o olhar ao conseguir aquela pequena pista sobre a personalidade de YoungSoo.

“Vergonhoso é essa galera ficar de bullying com alguém.”

“Não acha que sou patética?”

“Patética? Você é uma vítima, acorda.” Chaewon deu um leve pontapé em Hyeju por debaixo da mesa. Novamente a garota somente riu.

“Você é engraçada.”

“Sim, muito engraçada a Chae Chae Werneck.” A Ha disse ao revirar os olhos. “Falando sério, se fizerem mais alguma coisa... É para revidar.”

Hyeju parecia se divertir com tudo que Chaewon falava.

“Tem aula com o Yichen agora?” A Son perguntou ignorando o papo de revidar.

“Sim.” A loira disse sem muita emoção.

“Caramba, que coincidência.” Hyeju parecia feliz. “Acho bom trocarmos números de celular, não acha?”

Chaewon assentiu. Enquanto trocavam números, ela pensava que era só o que faltava uma garota com síndrome de Regina George e seus capachos para a atrapalhar. Caso continuassem, precisaria tomar medidas... Algo como colocar uma bactéria no fornecimento de água da casa de cada um.

Já em Sonatine, uma Yeojin exausta em não entender nada da aula, agora caminhava até o refeitório somente com Dongpyo para almoçarem. Eles haviam perdido Yerim de vista totalmente após o sinal, tanto pelo número de pessoa atrás dela, quanto o fato de ela parecer um pouco apressada.

“Dongpyo, você sabe a menina dos fundos?”

“Muito vago.” Ele mantinha as mãos no bolso da calça.

“Uma menina de franjinha, assustadora, que senta nos fundos da sala.”

“A Haruna?” O garoto a olhou de relance um pouco assustado.

“Não sei, é? O que tem a dizer sobre ela?” Yeojin notou Dongpyo se encolher um pouco.

“Não é difícil perceber o fato de ela estar sempre sozinha. Todo mundo meio que tem medo dela, existem boatos de ela ser bruxa e mais um monte de coisa sinistra falada pelos estudantes daqui.”

“E ninguém mexe com ela por conta disso?”

“Exatamente. Recomendo ficar na sua também, sei lá, ela ser muito rica já me dá motivo suficiente para não arranjar problema com ela.”

“Ela é muito rica?”

“Comparado com os riquinhos daqui... Ela é tipo top 3 pessoas mais ricas, mais do que a família da Yerim.”

“Cacete... Mas por qual motivo os boatos sempre vão para o lado de bruxaria e essas coisas? Só por causa de aparência?”

“Osato Haruna. Os Osato são uma família muito antiga do ramo funerário, eles construíram a riqueza em cima disso.”

“Espera... A Funerária Osato, é verdade... Eles são tipo multinacional e tudo.”

“Isso mesmo, e morre gente todo dia.” Os dois acabaram por se encararem por alguns segundos. “Agora vamos comer, próxima aula é vaga por conta da Feira de Clubes e você precisa escolher um, é meio que obrigatório.”

“Sério?” Yeojin transparecia cansaço.

“Sério, mas relaxa que eu tenho um em mente.”

Yeojin não esperava que, após encher a barriga, fosse parar em uma pequena tenda ao lado de Dongpyo. O menino havia preparado alguns livros de D&D sobre a mesa, além de bonecos e itens para chamar atenção.

“Você tem um Clube de RPG?” A garota perguntou baixo.

“Sim, eu herdei da Hyeju, antiga mestre e irmã mais velha da Yerim, que saiu faz um tempo já. Os últimos integrantes se formaram ano passado e eu estou com um tempo limite para arranjar mais duas pessoas e manter o grupo ativo. É melhor do que sei lá... Correr em um campo.”

“É melhor mesmo, pode colocar meu nome.”

“Eu já coloquei.” Ele respondeu meio risonho. “É toda terça e quinta depois da aula.”

“Vaca vai-vem, vaca vai-vem, se você quer Verni melhor, é só de ir na vaca que ela vem.”

Os dois viraram a cabeça para ver um grupo de estudantes com tiaras possuindo orelhas de vaca e cantando o jingle alegremente.

Yeojin não podia acreditar no monstro que Chaewon havia criado.

Mas, logo atrás, uma Haruna passou encarando os dois.

“Você viu isso?” Yeojin perguntou baixinho para o Son depois de Haruna ter sumido.

“É melhor fingir que não foi com a gente.” Dongpyo parecia nervoso. “Vamos fingir que nada aconteceu, cérebro da gente é lisinho, não passa um pensamento.”

 


 

“Está me ouvindo, RedSix?” Uma voz masculina ressoava do aparelho na cabine telefônica.

“Na escuta.” Jungeun respondeu. O vidro do compartimento era fosco e ela apoiava um dos braços nas laterais. Ela havia aproveitado a pausa no expediente para cumprir o chamado.

“Fico feliz de te contactar novamente.”

“Olha, Bravo, eu sei que não devemos fazer muitas perguntas, mas e aqueles assassinatos privados?”

“Foi a Viper?”

“Sim, ela que mandou as fichas. Simplesmente matando gente a mando de quem pagar mais, desde quando viramos puros mercenários sem nenhum princípio? A organização está passando por alguma crise?”

“Não mesmo... Isso é somente ambição. Confesso que estamos passando por divergências na administração, mas não se preocupe, estamos lidando com isso.”

“Não fazemos perguntas.”

“Isso, deixe os assuntos administrativos com a administração.”

“E o que manda hoje?”

“Dentro da caixa deste telefone existe o cartão de memória com os detalhes da missão como sempre. Basicamente é a escolta do Presidente de Caranhas, ele vem para uma convenção diplomática.”

“Entendo.”

“Porém, ficará de suporte. Vai ter outra pessoa lidando com a escolta diretamente.”

“As moedas?”

“Sim, as moedas. Não estabeleça contato, ao menos que seja necessário, afinal, somos somente corujas.”

“Ok, entendido.”

                                                 

                                                 

                                                 

                                                 

Imagina roubar algo de alguém e esse alguém ser a Chaewon? Eu me entregava pra polícia.

                                                   

                                                   

Não era muito difícil confiar em Chaewon quando do outro lado existiam pessoas desprezíveis. Hyeju não sabia o que a outra tinha em mente, além de perceber a outra dar um pouco de medinho às vezes.

Falando em Chaewon, ela acabou pegando um táxi e passou na parada para pegar sua dita sobrinha. Não era difícil perceber o estresse da mais velha, por isso Yeojin ficou calada. No final, existiam certas mudanças que vinham para o bem, aquele era o pensamento de Chaewon. Iria falar com Haseul assim que desse, pois não queria ficar sem transporte próprio e, dessa vez, queria um melhor.

Enquanto isso, Yerim se locomovia com seu motorista para casa. Estava exausta após o treino de vôlei, mas ainda se mantinha feliz. Havia ficado feliz pelo primo mais cedo e tinha algo interessante, que não conseguia explicar, sobre aquela novata. No final, o importante era eles serem amigos.

                                                   

                                                   

                                                   

                                                   

                                                   

                                                   

 

Notes:

A viagem começou, é isso kkkkkkkkkkkkkk. Espero que tenham gostado e até breve!

Chapter 7: todos amam Yerim

Summary:

Arco 3: Ação! (2/3)

Notes:

Mais um saindo do forno...

(See the end of the chapter for more notes.)

Chapter Text

                                                   

 

A sensação de ter amigos era engraçada. Poderia até ter sido rápido, mas Yeojin já se encontrava sorrindo pequeno para o celular ao perceber uma notificação de Dongpyo. Então as coisas funcionavam assim?

 

                                                 

                                                 

                                                 

                                                 

A família Ha estava novamente naquela mesa da cozinha. Parecia uma leve repetição do dia anterior, mas elas possuíam mais tranquilidade.

“Já fez amigos?” Sooyoung disse ao observar Yeojin de soslaio. “Faz tempo que fala nesse celular e ainda é bem cedo.”

“Ah...” A jovem finalmente desligou a tela do dispositivo. “Pois é... Eu conheci alguém sim, ele é legal, me ajudou bastante ontem.”

“Hum, fico feliz.” A mulher sorriu sem mostrar os dentes.

Espero que fique logo amiga da Yerim...

“Ele é primo da Yerim, falei com ela ontem. Gente boa.” Yeojin disse despretensiosamente.

“Isso é muito bom.” Era fácil perceber uma certa animação na mais velha.

É disso que eu estou falando!

“Isso é ótimo de verdade.” Dessa vez foi Jungeun. “Fiquei um pouco preocupada, aquele lugar é enorme.”

“Não precisam se preocupar, está tudo bem.” Yeojin se alimentava com certa felicidade, afinal, as coisas seguiam nos conformes.

“E você, Chaewon?” Sooyoung chamou atenção da mais nova. “Uma pena terem roubado o pneu da sua bicicleta.”

“Não precisa ficar com pena, não existe nada de preocupante. Tudo sob controle.”

Essa galera está fodida comigo, vão querer voltar direto para o útero da mãe.

Sob controle? Eu sei que vai aprontar.

“Só não faça nada que te leve a ser expulsa.” Sooyoung suspirou.

Conheço esse tom de voz. Não é novidade que ela vai cometer algum crime .

“Fala como se eu fosse delinquente ou coisa assim...” Chaewon revirou os olhos. “Nunca dei trabalho nenhum, vou resolver isso como uma pessoa madura.”

Yeojin estremeceu um pouco na mesa ao ouvir os pensamentos violentos e os xingamentos que Chaewon soltava sem saber ser ouvida por alguém.

“E você fez alguma amizade?” A pergunta de Sooyoung atraiu a atenção de Jungeun para a Ha do meio.

“É... Uma menina chamada Hyeju, ela é minha dupla.”

“Com todo respeito, mas pensei que não havia falado com ninguém.” Jungeun falou sem se preocupar muito.

“Eu sei agir de maneira civilizada quando me interessa.” Chaewon arqueou as sobrancelhas. “Por enquanto, eu falo com ela por nota. Amiga dela já é pedir demais.” A garota acabou por puxar o celular para acessar um aplicativo.

“Ok...” Jungeun deu de ombros.

“Yeojin, eu recebi um e-mail da sua escola ontem.” Sooyoung mudou o assunto e passou a observar a menor novamente. “Eventos escolares... São muitos. O primeiro já é próximo fim de semana.”

“É um bingo, não é?” Yeojin pendeu levemente a cabeça. “Fiquei sabendo.”

“Gosto de bingo.” Jungeun pontuou.

“Que bonito, passeio em família.” A animação de Chaewon era contagiante para não dizer o contrário. “Está na hora, Yeojin, vamos escovar os dentes logo, eu já chamei o Uber.” Ela se levantou da mesa e percebeu a mais nova correr na direção do corredor.

Sooyoung se sentia orgulhosa de Chaewon colaborar e até mesmo avisar Yeojin quando estivesse de saída. Podia ser o mínimo, mas aquele mínimo já era um grande avanço para a loirinha.

Por isso, a mais alta piscou para a irmã, que, contrariando os pequenos avanços, direcionou o dedo do meio.

                                                 

                                                 

Hyeju ria ao guardar o celular. Por um momento pensou que um soco sairia da tela. Aliás, esse papo de meter a porrada chegava a realmente ser engraçado... Ou será que Chaewon estava falando sério? Aquilo fez o riso de Hyeju se tornar um pouco nervoso.

Horas depois, agora em Sonatine, Yeojin se levantava cansada de tanto ver números e fórmulas. Felizmente agora iriam para uma aula perfeita para a novata.

Aquela era uma das únicas aulas em que precisavam ir até outra sala. Yeojin caminhava ao lado de Dongpyo para chegarem ao cômodo no prédio vizinho ao principal, precisando cruzar o pátio.

Teriam aula de Artes e a professora já se encontrava na enorme sala, contendo inúmeros materiais. Era possível perceber dois bancos para cada kit de itens. Yeojin se sentia aliviada por ter Dongpyo para fazer dupla, porém, o garoto acabou por sentar com uma menina ruiva na frente e, quando menos esperava, Yeojin percebeu outra pessoa sendo colocada ao seu lado pelo menino.

“Bom dia.” Yerim sorriu sem mostrar os dentes.

“Bom dia.” Yeojin respondeu com pouca energia, então se virou para Dongpyo que ainda estava ali por perto. “Mas já?” Ela sussurrou.

“Eu falei com ela ontem no telefone. Essa é a sua chance.” Ele sussurrou de volta.

“Como assim minha chance?” A garota tentava controlar seu tom de voz.

Infelizmente a resposta veio em forma de sorriso sacana e a professora já chamava a atenção da turma.

“Está nervosa?” Yerim perguntou disfarçadamente. “Pelo jeito, achava melhor ter ficado com o Dongpyo.”

“Não é bem isso, é só que eu não esperava.”

Yerim riu levemente.

“As pessoas na escola pensam que eu sou boa em tudo, mas sou bem ruim em Artes. Fui reclamar para o Dongpyo ontem e ele sugeriu que fizesse com você.”

“Entendo.” Foi fácil Yeojin sacar o plano do tal amigo.

As duas cortaram a conversa momentaneamente por causa das instruções sendo passadas pela docente. A atividades consistiria na típica tarefa de desenharem uma cesta de frutas artificiais posicionada no centro da sala.

“Me surpreende eu ter chegado ontem e já me contar um dos seus pontos fracos.” Yeojin disse enquanto ajustava os materiais. Yerim fazia o mesmo.

“Você foi logo fazer amizade com meu primo e ele é uma das únicas pessoas em quem confio, então facilmente vai notar que sou uma garota normal.” A Son soltou arzinho pelo nariz.

“Ele te descreve como a pessoa mais perfeita do mundo, então...”

“Eu e Dongpyo somos muito unidos então é de se esperar, mas você vai ver que sou uma garota normal porque vai passar a conviver mais comigo por causa dele, enfim... Está gostando da escola?”

“Segundo dia e não acabei perdida ou excluída, então está tudo bem. As aulas são cansativas.”

“Imagino... Você veio de onde?”

“Era em outra cidade, outro país, não conhece.” Yeojin felizmente teve a calma para não gaguejar. “Morei aqui um tempo, depois mudei por causa do trabalho da minha mãe e voltei de novo agora.”

“Ah, então conhece a cidade.”

“Sim, não consigo me perder.” Yeojin sorriu levemente ao começar a dar seus primeiros rabiscos. “Eu sou uma pessoa que vai longe, depende só do quanto eu tiver de dinheiro para gastar com passagem.”

Yerim acabou por rir.

“Moro aqui a minha vida toda e nunca saí muito, acredita?” Ela dizia ao se sentir um pouco mais confortável.

“Acredito. Você deve ser cheia de coisas para fazer e sua família parece um pouco rigorosa.”

“Então sabe quem é meu pai?” Yerim perguntou quase relutantemente enquanto pensava em como começar o desenho.

“Dongpyo me contou.”

“Ah sim.”

“Mas você não sai pra canto nenhum?” Yeojin a olhou rapidamente.

“Saio às vezes com o pessoal do time ou do Conselho Estudantil, mas é sempre a casa de alguém ou lugares chiques.”

“Parece chato.”

“As festas são legais, mas os lugares chiques... É... Meio que cansa.”

“Já foi em um fliperama?”

“Não... Só passei perto de um.”

“Quem sabe um dia a gente vai.”

“Sério?” Yerim soou bem mais interessada do que o esperado.

“Uhum.” Yeojin acabou por observar o que Yerim fazia na tela. “Tenta fazer assim.” A garota pegou a mão da Son e ajudou a dar mais profundidade no desenho. “Ficou bem melhor.”

“Realmente... Ficou.” Yerim piscou algumas vezes devido ao fato de Yeojin ter ficado tão perto por alguns segundos. Sua mão era um pouco gelada.

A Son observava a outra possuindo bastante confiança ao exercer aquele trabalho. E ela nem sabia que Yeojin não se dava conta do quão desenrolada ficava quando se tratava de coisas que sabia fazer. Ela não sabia como poderia ser tão encantadora para as pessoas ao redor, incluindo Yerim.

Enquanto isso, Dongpyo dava pequenos risinhos ao perceber as duas se dando bem e o tal do Megamente soltando fumaça pelas narinas.

                                                 

                                                 

Já na cobertura, Sooyoung finalmente levantava a bunda do sofá. Tédio era a palavra que mais a definia no momento, por isso decidiu tomar algumas ações. Primeiro precisava conhecer mais a cidade, segundo que era bom fazer certas demonstrações publicamente. Algo meio família dos dinossauros com o famoso jargão ‘Querida, cheguei!’

E bem, as feições dos colegas de Jungeun já anunciavam para ela o tal feito. Sooyoung a foi buscar no trabalho com um buquê de flores, causando vermelhidão no rosto da outra.

“Além da aliança, agora todos sabem que eu existo.” Sooyoung disse após bebericar a taça de vinho. As duas haviam ido para um restaurante da região, bom o suficiente para a agradar o paladar alcoólico de Sooyoung.

“Confesso que foi uma boa jogada.” Jungeun riu suavemente após comer um pouco. “Eu também gostei das flores.”

“Fico feliz.”

O lugar era ao ar livre e as duas aproveitavam as poucas pessoas, a vegetação e o canto dos pássaros por ali.

“Fazia tempo que não saíamos somente nós duas e eu gosto da sua companhia.” Sooyoung disse. “Creio que agora seja mais fácil porque nossos horários ficaram menos corridos após as meninas começarem as aulas.”

“É verdade... E você veio por ter ficado entediada?”

“Senti sua falta também.” A frase pegou Jungeun de surpresa. “Falei que gosto da sua companhia. Somos da mesma idade praticamente, então é interessante.”

“Eu também gosto da sua, é confortável.” Jungeun piscou algumas vezes. “E quando você vai trabalhar no escritório?”

“Eu só vou para lá quando é muito necessário. Enquanto isso, dá para trabalhar de casa.”

O que Sooyoung quis dizer foi: ‘O prédio do meu escritório pertence à EGO e eu só vou lá para tratar de missões e informações importantes em momentos de necessidade.’

“Parece uma boa rotina.”

“É, mas o trabalho não diminui muito, felizmente essa semana, pelo menos, estou com tempo livre.”

“Eu posso sair mais cedo, geralmente eu só bato o ponto oito horas porque não tenho muito o que fazer em casa. Posso começar a entrar bem mais cedo para te fazer companhia durante o resto do dia.” Jungeun se sentia um pouco envergonhada ao dizer aquilo, ela nunca imaginaria uma situação assim envolvendo passar mais tempo com alguém.

“Eu adoraria.” Sooyoung sorriu sem mostrar os dentes. “Nós gostamos de cozinhar, poderíamos testar receitas.”

“Acho uma boa.”

Aquilo poderia ser uma mentirinha, mas começava a ficar convincente. As duas pareciam esquecer do casamento ser fachada. Jungeun começava a pensar que gostaria de continuar amiga de Sooyoung quando isso terminasse, pelas suas contas, ela não teria mais motivos para permanecer casada consigo depois de Yeojin se formar.

Já na universidade N.E.W, Chaewon pendia a cabeça ao ver Hyeju mais animada que o normal, óbvio que estaria, ela era rica e não tinha uma bicicleta com o pneu roubado.

“Então você não é daqui?” Hyeju dizia ao comer um pudim de sobremesa.

“Não.” Chaewon já havia guardado o depósito do seu almoço na mochila e se encontrava com as mãos cruzadas em cima da mesa. Ela se sentia um pouco sonolenta. Hyeju havia oferecido pudim, mas ela tinha recusado.

“Veio de onde então?”

Chaewon simplesmente pensou no último país que esteve.

“Yasil.”

Hyeju pareceu ter sua feição iluminada por um momento.

“Caramba falam que lá é muito bonito. O pessoal é muito gente boa, hospitaleiro, ótimo senso de humor. A cultura é muito rica, cheia de dança, folclore, cores. Tem as paisagens naturais também, sempre quis visitar lá.”

“Pois é...” Chaewon, com a ajuda do sono, possuía a feição mais morta do mundo. “Por isso eu sou tão espontânea e colorida.”

“Percebi.” Hyeju riu. “Veio para cá com que idade?”

“Antes de minha irmã passar no concurso daqui, ela trabalhava em uma multinacional e isso fazia ela viajar muito. Eu comecei a me mudar com uns doze anos. Agora que achamos um lugar supostamente fixo.”

“Deve ser uma barra não ter lugar fixo, sabe? Aquelas coisas de sentir que não pertence a algum lugar.”

“Realmente de partir o coração... Não no meu caso.”

“Pensei que fosse dizer isso.” A garota comeu mais uma parte do pudim. “A sua bicicleta vai ser devolvida hoje.”

“Seria estranho demorarem mais tempo para trocar um pneu. Aliás, eu pensei em vender ela depois que pegar de volta.”

“Hum... Pode ser bom. E o que pretende comprar?”

Chaewon sabia que a outra não reclamaria da venda mesmo tendo gastado com conserto, até porque ninguém quer comprar coisa pela metade, mas Hyeju também tinha dinheiro demais para se preocupar com isso.

“Algo mais parecido comigo, vou ver direito com minha irmã, eu já tenho habilitação para algo mais... Potente.”

“Ok...” Hyeju arqueou uma das sobrancelhas, mas logo voltou sua atenção ao pudim.

“E esse grupinho que te atormenta não veio atrás de nós hoje.”

“É, às vezes me deixam em paz, apesar de terem ferrado com você ontem.” Hyeju percebeu Chaewon semicerrar os olhos. “Está pensando naquilo de revidar.”

“Óbvio que sim, você não sabe o quanto eu posso ser rancorosa.” Chaewon finalmente deu um mínimo sorriso. “Eles foram da sua escola, não é?” Hyeju assentiu. “Ótimo, acho que isso facilita achar informações.”

Hyeju só tinha uma certeza sobre aquele sorriso se formando no rosto de Chaewon: ele era fofamente diabólico.

“Acharam mesmo o cara que atropelou sua tia com um quadriciclo?” Yeojin falou enquanto comiam no enorme refeitório. Ainda não havia se acostumado muito com aquela comida chique, mas pelo menos era gostoso.

“Sim, e sabe o pior?” Dongpyo apontou o talher para a garota. “Ele estava bêbado e achou que era um cachorro. Falou de ter gritado para o tal cachorro sair do meio sendo que o cachorro era minha tia.”

Yeojin colocou a mão no rosto para Dongpyo não a ver rir.

“Eu sei que quer rir, eu também achei graça, pode tirar a mão da cara.” Nisso, Yeojin gargalhou na mesa, mas com cuidado para não chamar atenção.

A risada só parou quando Yeojin percebeu a tal da menina mais assustadora da escola encarando os dois. Ela estava em uma mesa sozinha, vazia, no canto. Seus olhos pareciam grudados naqueles dois.

“Dongpyo.” Yeojin voltou o rosto para o garoto. “Ela está nos encarando igual ontem.”

“Não olha de volta.” Ele colocou a mão no rosto para evitar de tentar checar se Haruna continuava os observando. “Ela meio que me dava umas encaradas, mas desde ontem ficou mais severo, deve ser por sua causa.”

“Eu? Mas o que eu fiz?”

“Sei lá, vai que ela é sensitiva, vê alma e essas coisas. Eu não entraria na Fazenda com ela.”

“Não sei... Tem algo estranho.” Yeojin olhava de soslaio na direção da menina, que agora bebia suco com canudinho. “Ela não parece ser nociva ou coisa assim e se... Sei lá, ela só quiser andar com a gente?”

“Eu é que não vou perguntar...”

E foi naquele momento que as portas do refeitório se abriram, mas causando um certo alvoroço. Yerim havia chegado para almoçar e todos acenavam e admiravam como se ela fosse uma celebridade. A garota estava acompanhada de Joshua e outras meninas pertencentes ao time de vôlei.

“Agora que percebi, ela não veio ontem.” Yeojin comentou com o menino.

“De vez em quando o pai dela leva ela para almoçar. É bom se acostumar, é sempre assim quando ela pisa no refeitório.

Yeojin tinha certeza que se não fosse por Dongpyo, ela provavelmente nunca chegaria perto daquela garota, afinal, todos a amavam.

                                                 

                                                 

A última mensagem de Dongpyo acabou a deixando um pouco mais motivada e animada para a aula do dia seguinte. Seria uma chance de impressionar Yerim e, talvez, saber o que aquela garota assustadora queria.

                                                 

                                                 

Yeojin mantinha as mãos nas alças da mochila. O ônibus sairia em alguns minutos e a garota esperava o amigo voltar do banheiro. Ela observava os alunos apressados querendo voltar para casa, chegou a ver um motorista uniformizado abrindo a porta para a tal Haruna entrar em um carro preto extremamente luxuoso, um Rolls-Royce Phantom.

A garota esperou ver Yerim pelo menos de longe, mas a jovem parou bem ao seu lado.

“Esperando o Dongpyo?” Ela carregava uma maleta com ambas as mãos, ao invés de mochila.

“Sim, sim... Você está esperando seu motorista?”

“Basicamente.” Ela assentiu com os lábios comprimidos. “Hoje não tenho treino e acabei tendo menos trabalho no Conselho, então chamei o motorista. Vou aproveitar e buscar minha irmã na universidade.”

“Entendi.”

Talvez eu possa...

“E sua irmã estuda em qual universidade?”

“N.E.W.”

“Sério? Minha tia também, apesar de que ela é bem jovem, então considero irmã.”

“Sua tia mora com você?”

“Aham, irmã mais nova da minha mãe.”

Curioso...

“Algum dia você explica sua história direito.”

A fake sim, a outra...

“Claro.” Yeojin sorriu com os olhos. “Talvez sua irmã conheça a minha.”

“Não sei, lá é muito grande, qual o curso que ela faz?”

“Medicina Veterinária. Nome dela é Chaewon.”

Sem chance, será? Hyeju mencionou ter feito amizade com alguém ontem.

“Ela é novata como você?”

“Sim, se transferiu.”

“Vou perguntar para Hyeju, provavelmente deve conhecer.”

“Seria legal se elas ficassem amigas.”

“No mínimo divertido, porque tem a gente.”

“Pois é...”

“Meu motorista chegou.” Yerim disse quando um Cadillac Escalade deu a curva para estacionar perto do portão. “Foi bom conversar com você hoje, obrigada pela a ajuda na aula de Artes. Até amanhã.”

Espero te ver novamente.

“Por nada e até amanhã.”

Eu também.

Yeojin agradecia por estar alaranjado o suficiente para não perceberem o rubor em suas bochechas.

“Não sei se alguém já te falou, mas as pessoas devem ficar onde pertencem e você não pertence ao mundo da Yerim.” Yeojin se assustou um pouco com a voz masculina atrás de si. Era Joshua.

Que bela maneira de dizer ‘oi’.

“Te conheço?” Yeojin resolveu não abaixar a cabeça.

“Joshua Harverford. Só alguém de classe baixa como você para não reconhecer meu nome.”

“Ok... E o que você quer?”

“Fique longe da Yerim, simples. Você não deve se misturar com ela.”

Você é muito insignificante para ficar perto dela.

Bem que o Dongpyo não estava errado.

“E por que eu faria isso?” A garota cruzou os braços.

“Porque eu ainda sou melhor do que você e eu posso fazer sua vida um inferno sem a Yerim e aquele rato do Dongpyo saberem.”

O jeito com que o garoto falava possuindo um exato tom de superioridade e soberba fez a garota se sentir mal. Esperava enfrentar aquilo com a cabeça erguida, mas acabou sofrendo de nervosismo, talvez até um pouco de medo.

“Preste atenção no que eu disse.” Joshua disse antes de finalmente se retirar para um Lexus LS prata.

Yeojin engoliu em seco e percebeu os olhos lacrimejarem um pouco. Em poucos segundos Joshua a fez se sentir extremamente sozinha.

“Esperou demais?” Dongpyo finalmente se colocou ao lado da Ha.

“Está tudo bem.” Yeojin colocou um sorriso rápido no rosto para disfarçar o sentimento.

“Eu vi o Joshua saindo daqui... Ele disse alguma coisa?” Dongpyo assumiu um tom sério.

“Nada demais, vamos.”

Dongpyo foi seguindo Yeojin até o ônibus e tinha certeza de que aquele garoto insuportável teria falado alguma coisa. Era tão previsível que Dongpyo tinha certeza de Joshua ter tentado algum tipo de ameaça.

Aquele gravidez psicológica .

Sooyoung notou a filha chegar cabisbaixa em casa, chegou a sinalizar com a cabeça para Chaewon, que somente deu de ombros. Até tentou puxar assunto, mas a garota só foi direto para o segundo andar dizendo estar cansada. Sooyoung achou melhor a deixar sozinha, afinal, dias ruins existiam.

Yeojin jogou a mochila na cadeira do quarto e se jogou com as costas no colchão. Seria bom começar a fazer a tarefa de casa ou até mesmo fazer seu personagem para o RPG de Dongpyo. Tudo era melhor do que ficar ocupando sua cabeça com as palavras daquele garoto idiota.

Notes:

Espero que tenham gostado! Vejo vocês em breve!

Chapter 8: as cortinas se fecham

Summary:

Arco 3: Ação! (3/3)

Chapter Text

                                             

 

No dia seguinte, Yeojin se sentiu um pouco mais tranquila, mas com a paciência bem menor. E era por esse motivo que havia decidido tomar uma ação considerada drástica por seu amigo.

Dongpyo tinha uma das mãos cobrindo o rosto enquanto observava Yeojin se aproximar da mesa de Haruna na sala. Fazia um tempo que a dupla tinha chegado no lugar e a Im, acumulando a situação com Joshua no dia anterior, estava com pouca paciência para alguém ficar a encarando como se existisse algum problema.

“Seu nome é Haruna, não é?” Yeojin disse apontando para a garota, que continuava a encará-la com os olhos grandes. “Por acaso aconteceu alguma coisa para ficar de olho em mim e no meu amigo? É um pouco assustador, sabia?”

Haruna simplesmente abaixou o olhar para a própria mesa.

Não foi essa a intenção.

Então qual é?

“Não estamos com raiva.” Yeojin suspirou. “Só quero que seja sincera, tem algo acontecendo?”

Diziam no Google que encarar ajuda.

Hã?

“Haruna?” A Ha bateu com o dedo na mesa, algo que atraiu a atenção da outra. “Terra chamando.”

Vocês sabem meu nome.

Por que a gente não saberia?

“Tem algo a dizer?”

Alguns segundos de silêncio se passaram até Haruna abrir levemente a boca.

“Eu-”

E a sentença foi atrapalhada por um grupo de alunos que entraram pela porta dos fundos. Eles estranharam alguém na mesa da Osato, mas simplesmente caminharam direto para os devidos lugares.

“Pode continuar.” Yeojin estalou os dedos para novamente chamar a atenção da outra garota.

“Yeojin, vamos voltar.” Dongpyo surgiu, segurando o braço da amiga, ele parecia um pouco assustado. “O professor já vai chegar.”

“Mas-”

“Vamos.” O garoto disse de maneira mais firme.

Eu só queria ser a-

Yeojin acabou escutando toda aquela sentença e foi o suficiente para realmente se calar.

“Para de encarar ela, Yeojin, vamos.” E assim seguiu o Son até seu lugar.

Yeojin agora se sentia meio mal.

                                               

                                               

Hyeju ria um pouco ao fechar a conversa, pois era como se Chaewon estivesse pronta para cometer a maior atrocidade. Já Chaewon agradecia pela a outra estar ocupada, pois havia perguntado somente por educação. Conseguir informação sempre seria mais fácil sozinha, a não ser que Hyeju fosse espiã, algo que não era o caso.

E, momentos depois, em Sonatine...

“Estudar aqui não é para qualquer pessoa.” Um professor alto, de boné, e calças de tecido vinho, e blusa branca, falava enquanto observava a fileira de alunos portando shorts e blusa nas mesmas cores que ele. “A vida é dura e eu não estou aqui para criar fracotes, por isso, hoje preparei uma aula especial para inaugurar nosso semestre, o teste de fogo... Sei que existem muitos entusiastas nesta turma, portanto não quero ouvir nenhum grito minimamente desafinado quando eu disser... QUEIMADA!”

Um coro de gritos começou na enorme quadra em comemoração ao esporte escolhido. Yeojin trocou olhares com Dongpyo, a garota realmente não esperava aquele tipo de reação.

A divisão de times foi ainda mais rápida devido a animação dos alunos. Yerim foi uma das responsáveis por escolher um time, Joshua o outro, algo que o fez quase brigar com o professor. O garoto só se acalmou quando percebeu Dongpyo e Yeojin no time da Son. Haruna foi a que sobrou por último e acabou indo para o mesmo time da dupla.

A Im conseguiu perceber Yerim falando baixinho “Eu nem percebi ela ali.” Sobre Haruna.

As próximas falas que deixaram a boca da Son serviram para reunir aquele time improvisado. Mesmo sendo somente uma aula de educação física, Yeojin sentia seriedade vindo da garota, que provava muito bem o motivo de possuir tantos cargos de confiança.

“Você acha que dá para ganhar?” A Ha perguntou para Dongpyo, que alongava o braço por trás da cabeça.

“Basta botar na cabeça que quer matar alguém, é assim que se vence uma partida de queimada.” O garoto tentava fazer uma feição mais intimidadora. “Só te digo uma coisa: essa é a desculpa perfeita para o Joshua tentar acertar a gente, ele já fez isso antes comigo e outros alunos, hoje não vai ser diferente. A única pessoa que ele não ataca...”

“É a Yerim.”

“Exato, mas se ela pegar a bola, saiba que é no mínimo uns dois fora de uma vez.”

“Então é desviar e passar a bola?”

“Desviar e passar a bola.”

O apito inicial fez os alunos se movimentarem e gritarem rapidamente. Querendo ou não, foram poucas as vezes que Yeojin realmente se engajou em algo parecido e tal visão conseguia ser divertida, se não fosse pelo fato de Joshua realmente estar cumprindo a fala de Dongpyo.

O garoto loiro não tinha hesitação em arremessar a bola na direção dos dois, principalmente na da Ha. Ele também fazia com que outros alunos tornassem os seus alvos, os deles.

E a situação do time de Yerim não era lá das melhores. A Son era muito boazinha, talvez um pouco ingênua, em não notar que Joshua levou muito a sério na hora de escolher os times. Aquela não era uma simples aula de educação física para algumas pessoas.

“Adric, fora.” O professor falava após soar o apito. Mais uma derrota do lado de Yeojin.

“Droga, vamos perder se continuar desse jeito, filho da puta.” Dongpyo falava alto o suficiente para somente a Ha ouvir. “Precisamos de um contra-ataque.”

“Que tal, sei lá... Não desviar?” Yeojin falou aquilo mais no impulso, no geral, já estava ficando meio cansada.

Por enquanto, ela e Dongpyo não jogaram nada significativamente, pois se escondiam atrás de outros alunos. Yerim era basicamente a única que se colocava na frente e os poucos pontos conseguidos foram por causa dela.

“Jura?” A feição azeda de Dongpyo fez a garota arquear as sobrancelhas.

“Sim, você não quer revidar? A gente pode pegar a bola.”

Dongpyo pendeu levemente a cabeça ao pensar um pouco sobre o assunto, sua decisão precisava ser rápida, pois logo o apito tornaria a soar novamente.

“Ok, nova regra, pegar a bola e atacar.”

“Pegar a bola e atacar.”

Foi nesse momento que o jogo começou a mudar. Yerim se assustou quando percebeu Dongpyo e Yeojin se posicionando na frente. A garota já tinha noção do seu primo ser considerado competente naquela matéria, mas ela não esperava a Ha ser tão ágil ao desviar de bolas consideradas perigosas. E sua surpresa aumentou quando ela agarrou uma das bolas de Joshua com facilidade.

“Toma!” A menor gritou para Yerim, que pegou o objeto e arremessou de maneira certeira em Karen, que saiu acompanhada pela outra automaticamente como se fossem uma pessoa só.

Novamente, o apito soou.

“Boa!” Dongpyo comemorou de um lado da quadra.

A Ha agora se sentia animada. Não era uma partida impossível de ganhar, bastava prestar atenção. Se Joshua era o cabeça (sem piada intencional), bastava focar nele... Focar em Joshua Harverford.

Vai a esquisitona.

Yeojin poderia considerar que ele estava falando consigo, mas resolveu virar o rosto rapidamente para observar seus colegas de time. Era ela, Osato Haruna, e fazia mais sentido pensar que aquela era uma forma de atacar a garota sem medo de levar uma maldição, como gostavam de falar nos boatos sobre ela.

Portanto, Yeojin bloqueou os pensamentos antes que passasse mal, ou algo do tipo, e tratou de correr para perto de Haruna. A bola veio carregada e a Ha saltou sem medo para agarrá-la no ar. Todos ficaram em silêncio com tamanha defesa.

A Ha fez um ‘ok’ com os dedos na direção da Osato que, com os olhos arregalados em surpresa, assentiu.

Joshua cerrou os punhos e os dentes... Yeojin daria muito mais trabalho do que ele imaginava.

“Mais do que eu e você, ele vai fazer a Haruna de alvo.” A menor falou ao passar por Dongpyo. “A bola vai na direção dela sempre, então é só correr para lá.”

Dongpyo engoliu em seco e se virou para encarar a Osato por míseros segundos. Ainda possuía um certo receio, mas, talvez, aquela boa ação fizesse bem.

“Ok.” Ele confirmou para Yeojin.

E o apito final soou após alguns minutos. O jogo havia virado e Yeojin não poderia se sentir mais orgulhosa. Dongpyo chegou a balançar o corpo da Ha pelos ombros de felicidade, afinal, tinham feito o cabeçudo de nariz empinado ficar putinho.

“Mandaram bem, hoje.” Yerim se aproximou dos dois. Seu olhar era de admiração, principalmente ao encarar a menor.

“A Yeojin é a culpada.” O Son abraçou Yeojin de lado.

“É, eu percebi.” Naquele momento, a representante de turma não conseguia tirar os olhos daquela garota. “Yeojin... Você já fez algum tipo de esporte?”

A menor encarou Dongpyo imediatamente e o garoto, usando as sobrancelhas da forma mais brusca possível, tentava fazer Yeojin entender que deveria aproveitar a chance. Felizmente, a menor não precisava usar seus poderes para entender.

“Não fiz não, por quê?” Decidiu por ser sincera, tinha vezes que mentir não valia a pena.

“Nossa, não parece, já pensou em jogar vôlei?” Yerim falou naturalmente e com uma certa expectativa.

“Não mesmo... Você acha que eu deveria?”

“Talvez pudesse dar uma chance... Os testes para o time vão ser amanhã, aparece por lá.” Yerim acabou por dar uma piscadela para a garota.

“Son Yerim, vem cá.” A mais alta acabou por ser chamada pelo professor, então se retirou após pedir licença educadamente.

“Cara...” Dongpyo se aproximou um pouco do ouvido da Ha. “Ela está tão na sua.”

E Yerim realmente não tirava os olhos de Yeojin ao falar com o professor. Ainda se arrepiava em lembrar como a garota parecia saber para onde a bola ia, além disso, o time precisava realmente ocupar o lugar de Meihua, a líbero que havia mudado de escola faltando pouco para os nacionais, coisa que não fazia nem sentido na mente de Yerim.

Pelo menos agora tinha algo a esperar.

                                                 

                                                 

                                                 

Jungeun checava seus arredores para ninguém notar o rubor nas bochechas. Sooyoung era incrivelmente adorável, será que realmente havia chances de isso acontecer? Sooyoung se apaixonar por ela? Não precisarem se separar? Era melhor não pensar muito.

Ao mesmo tempo, Sooyoung jogava o celular para o outro lado da sala, assustada com as coisas que havia falado. O efeito de Jungeun sobre si era realmente assustador. Aquilo era uma missão! Não deveria se acostumar com uma vida ordinária, é perigoso.

Voltando para Sonatine...

“Eu juro, ele ficou muito puto.” Dongpyo falava entre risos. Ele e Yeojin seguiam caminho até a sala de aula. Os cabelos do Son estavam um pouco úmidos por conta de ter tomado banho no vestiário.

“Ele é muito azarado.” Yeojin riu. “Achou que ia ser fácil.” A garota também havia tomado banho, mas não precisou lavar os cabelos.

“Falando no diabo.” O Son revirou os olhos ao perceber Joshua virando o corredor na direção dos dois. O corredor estava do jeito que o loiro gostava: vazio.

“Tirem esses risinhos do rosto.” O garoto apontava o dedo para os dois.

“E você tira esse dedo da nossa cara, aeroporto de mosquito.” Dongpyo, apesar de ser mais baixo, não hesitou em encarar o outro.

“Só tem coragem de falar essas coisas por conta da Yerim, mas saiba que tudo seria muito diferente.”

“E ainda assim ela não daria bola para você, desiste, cara.”

“É, desiste.” Dessa vez, foi Yeojin, contrariando toda a insegurança que aquele garoto a fez sentir no dia anterior. Estar ao lado de Dongpyo também ajudava.

“Se eu fosse vocês, eu tomaria cuidado. Não acabou por aqui.” Joshua dizia entredentes, por fim, se retirou.

“Olha o jeito que essa porra anda com essa nave-mãe, que ele chama de cabeça.” Dongpyo falou ao cruzar os braços, Yeojin acabou por rir com o apelido.

“Nave-mãe, essa foi boa.” A menina passou a puxar o amigo pelo braço a fim de chegarem logo na sala.

E a sala ainda não estava muito movimentada quando chegaram. Dongpyo e Yeojin foram calmamente até seus lugares, porém, havia algo diferente. Em cima da mesa de cada um existia uma embalagem com pudim.

Os dois acabaram por trocarem olhares, então observaram o bilhete preso em cada um:

Obrigada – H.

Ambos nem precisaram pensar muito, por isso tornaram a observar a garota no fundo da sala, que se escondia atrás de um livro.

                                                 

                                                 

                                                 

Já no fim do dia, Hyeju sorria para um casal que levava umas das gatas do abrigo. Mais um animal adotado para um lar feliz, isso a deixava genuinamente aliviada.

 

                                                 

                                                 

                                                 

                                                 

                                                 

Yeojin não esperava que veria Chaewon chegando em uma moto para buscá-la no ponto de ônibus. Era um modelo belíssimo, uma Triumph Speed Triple 1050 preta, uma belezura para ela cometer as maiores feiuras. A menor nem precisava pensar muito, ou ler os pensamentos da outra, para saber como a loira havia arranjado aquilo.

“Segura o suficiente para não cair, não quero levar ninguém ao hospital.” Chaewon dizia de maneira desgostosa ao entregar um capacete para a mais nova.

Aquela era uma maneira de dizer ‘segura firme’ e, aos poucos, Yeojin ia se acostumando com aquela espiã.

Diferente da bicicleta, as duas chegaram bem mais rápido dessa vez. Yeojin até mesmo sentiu frio na barriga quando a mais velha aproveitava a rua vazia para acelerar à vontade.

E as duas entraram devagar no apartamento, de forma tão sutil que aparentava ser calculado. Uma sutileza que só aumentou quando começaram a ouvir e ver Jungeun e Sooyoung rindo e cozinhando juntas. Naquele momento, a Ha sujava o nariz da Kim com alguma coisa, talvez farinha.

Chaewon pensou em acabar com a cena, mas sua feição de nojo extremamente perceptível só a fez passar silenciosamente para o quarto. Já Yeojin ainda presenciou, antes de ir para o quarto, quando Sooyoung abraçou Jungeun em meio às risadas.

Malucas.

 


 

No dia seguinte...

 

“E a família?” A voz da EGO preenchia os ouvidos de Sooyoung, que novamente estava em seu quarto repassando mais um relatório.

“Yeojin está se saindo bem na escola, ela conseguiu se aproximar de Yerim de certa forma, fez amizade com o primo dela.” A mulher se esparramava na cadeira.

“E a Chaewon?”

“É óbvio que se aproximou da tal Son Hyeju, as duas já estão próximas em primeiros termos. Me surpreende a Chaewon realmente conseguir estabelecer algo com alguém até mesmo para uma missão, pois ela não tem vontade de nada.”

“Sua irmã pode ser uma caixinha de surpresas.”

“É, eu meio que estou percebendo os novos traços dela, passamos muito tempo separadas.”

“E as coisas entre vocês?”

“Melhorou... Precisamos de tempo para nos darmos realmente bem, mas a roupa suja foi meio que lavada. Chaewon sempre teve um pouco de dificuldade falando dos sentimentos dela, ela mais demonstra do que diz. Já o jeito dela meio enjoadinho é de fábrica. Ela é sensível como pode.”

“Isso é muito bom, vocês duas trabalhando realmente juntas pode levar essa missão ao sucesso muito mais facilmente. Inclusive, espero que a Chaewon esteja se preparando para a missão de hoje.”

“Vai sim... E deve ir com vontade, já que a Haseul arranjou uma puta moto para ela.”

“Ela é jovem e pode ser útil, veja por esse lado.”

“É bom pensar assim para não arrancar os cabelos, preciso confiar um pouco.”

“Exatamente... E a Sra. Kim?”

“Anda bem.” Sooyoung acabou por suspirar. “Temos muitas coisas em comum até... É confortável, fico até com certo pesar de estar a enganando em alguns pontos.”

“Então não engana ela completamente?”

Sooyoung ficou em silêncio. Houveram conversas e trocas no dia a dia que realmente foram sinceras, não queria dizer que foram mentira. A Ha, até mesmo inconscientemente, tentava usar aquela relação para tentar desviar a cabeça e realmente se deixar sentir algo mais trivial, fora da EGO.

E Jungeun deixava as coisas fáceis demais, algo perigoso se parar para pensar.

“É minha tática, mentir demais pode causar problemas para mim, você sabe.”

“É, sei... Só lembre que isso não vai durar, Sooyoung, você é nossa melhor agente, não precisa se machucar por algo tão bobo. Nem amigas poderão continuarem a ser depois disso, nunca mais vai ver ela na sua vida.”

Sooyoung realmente não precisava ouvir aquilo, por isso acabou por tensionar a mandíbula e segurar o rádio com mais força, sem ao menos perceber.

“Eu sei, não precisa lembrar.” Sooyoung conseguiu disfarçar a irritação com sucesso. “Não se preocupe, missão dada, é missão cumprida.”

Era isso, não precisava ser uma humana normal, não precisava sentir nada, EGO tinha razão, não tinha necessidade de ficar brava. Por que estava brava para começo de conversa?

Tinha conhecimento de que iria machucar Jungeun de qualquer forma, ela seria somente uma memória em alguns meses... E Sooyoung, no fundo, sabia que consequentemente se tornaria uma na mente dela também, uma inesquecível, a seguindo onde fosse. Provavelmente, Jungeun nunca a perdoaria por isso, principalmente se soubesse que a intenção, ao passar dos dias, de Sooyoung era essa.

A Ha, aos poucos, sentia um certo pânico de cair no esquecimento da Kim, e era horrivelmente egoísta por isso.

“Os eventos escolares vão começar. Um evento de bingo vai ser realizado daqui uns dias. É a primeira oportunidade para entrar em contato com Youngsoo, ou seus parceiros.” Sooyoung mudou de assunto antes que começasse a ultrapassar o nível saudável de pensamentos naquele momento.

“Ótimo, caso precise de suporte, avise.”

“Ok.”

Enquanto isso, Chaewon andava com Hyeju em seu encalço como um cachorrinho... E não se chuta animal.

“Então, você está me dizendo que realmente conseguiu merda nessa galera?” Hyeju falou ao se debruçar sobre a mesa, a jovem portava camisa branca, blazer bege e jeans. Ela estava impressionada, enquanto Chaewon, usando moletom preto, blusa laranja, jeans meio rasgados e tênis, se mantinha séria e lendo uma revista sobre motos sem ao menos encarar a outra na sua frente.

“Não é muito difícil. São pessoas comuns, apesar de se acharem importantes, eles não são importantes ao ponto de pensarem que alguém iria investigá-los.”

“Falando assim até parece uma profissional no assunto.”

“Só sou inteligente.” A Ha virava mais uma página.

“Você parece estar obcecada com motos, eu nem acredito que conseguiu trocar a bicicleta por aquela máquina.”

“Tenho meus meios.”

Desde rastrear todas as compras do grupo, investigar a família e histórico de todos, além de colocar escutas, já retiradas, na casa daqueles considerados mais importantes.

“Sabe...” Hyeju se endireitou com um pequeno sorriso no rosto. “Você é interessante, um pouco misteriosa e engraçada, eu gosto disso, apesar de causar um medinho.”

Chaewon simplesmente a olhou por alguns segundos antes de voltar sua atenção à revista. Já Hyeju acabou por ficar sem graça pelo que tinha acabado de dizer.

“Voltando ao grupinho da loira odonto... Basta só mais uma coisa e eu vou jogar tudo no ventilador, então me avisa.”

“Pensei que iria soltar logo.”

“Não se pode desperdiçar munição assim, a queda do cavalo vai ser feia.”

“Tenho medo até de perguntar...” Hyeju juntou rapidamente as sobrancelhas.

“Então não pergunte.”

É, Chaewon era uma pessoa complicada.

“Sabia que nossas irmãs se conhecem?” A Son finalmente encontrou um assunto que poderia tirar Chaewon da apatia.

“A Yeojin?” Chaewon ainda não demonstrava muito interesse.

“Sim...”

“É, ela é minha sobrinha, mas, pela pouca diferença de idade, a pirralha me considera irmã.”

Não, Chaewon não a considerava a mesma coisa, só fachada.

“Entendi... Então você mora com sua irmã?”

Chaewon simplesmente assentiu.

“Ela é bem mais velha do que você?”

Finalmente a Ha pareceu deixar a revista de lado, um pequeno sorriso brincava em seus lábios.

“É, ela é bem velha.”

Hyeju não entendia a graça sobre aquilo, mas a outra parecia se divertir. Chaewon realmente era... Esquisita, mas a Son preferia chamar de interessante.

“Podíamos marcar de se conhecer, eu, você e nossas irmãs.”

“Amável.” Chaewon sorriu sem mostrar os dentes. A garota só falou aquilo com medo de soltar um palavrão desnecessário. Querendo ou não, estava em missão.

“Ótimo.” Hyeju se animou. “Vou adorar conhecer sua irmã.”

“Ah, vai mesmo, ela é um doce.” Chaewon arqueou as sobrancelhas enquanto colocava a revista na mochila.

“Já vai embora?”

“É, as aulas acabaram e eu tenho umas coisas para resolver.” A jovem se colocava de pé.

“Ah...” Hyeju soou desapontada. “Pensei de te chamar para tomar sorvete aqui perto.”

“Nem se pudesse eu iria.”

Hyeju ficou obviamente em choque com o corte nada gentil. Porém, segundos depois, Chaewon soltou uma leve risada.

“Outro dia, Son Hyeju.” A Ha deu leves tapinhas no ombro fazendo a outra despertar do choque.

“Você estava brincando então, né?”

“Outro dia, Son Hyeju.” E Chaewon saía usando de um tom mais sutil.

A Son suspirou por realmente ser uma brincadeira, ainda não tinha certeza pelo jeito da outra, mas consideraria que sim.

“Então esse é o plot do próximo filme da franquia ‘Pânico’?” Dongpyo cochichava com Yeojin enquanto andavam em direção ao ginásio para os testes dos times. Ele falava isso, pois a situação com Haruna tomou um rumo um pouco pior, no caso, ela continuava sem falar, mas agora resolver os seguir para todo lugar. Vez ou outra passava como um vulto ou ficava os encarando de pontos escuros, era realmente assustador.

O conjunto de quadras estava consideravelmente cheio, afinal, o time de vôlei era extremamente popular e poderia alavancar um aluno dentro da instituição. Yeojin não precisava pensar muito para associar tudo aquilo. Se passasse... Seria um enorme passo.

A garota usava o uniforme de educação física novamente, além de estar com os cabelos presos. Ela possuía os braços cruzados enquanto vasculhava, a quadra onde estava, com os olhos.

“Está nervosa?” Dongpyo se mantinha ao lado da garota, ele tinha a mochila pendurada em um dos ombros.

“Nunca joguei isso e de certa forma sei que isso aqui seria legal de conseguir.”

“Pior que é... E ainda ficaria mais próxima da Yerim.” Ele usou um tom sugestivo ao dar uma leve cotovelada na garota. “Ela parece ter uma certa expectativa sobre você.”

“Obrigada por me deixar mais nervosa.” Yeojin encarou o amigo não muito feliz.

“Falando nela.” Ele sinalizou a capitã do time com a cabeça. A garota vinha caminhando atrás da Ha.

Yerim somente usava um conjunto de moletom vinho, parecia veludo, com o logo da escola. Eram roupas exclusivas do time.

“Você veio.” A garota parecia genuinamente feliz.

“Pois é...” Yeojin somente comprimiu os lábios.

Dongpyo então percebeu o silêncio esquisito em que as duas caíram, ele não podia deixar acabar assim. Inclusive, o menino achava estranho o fato de uma garota como sua prima, que era extrovertida, ficar muda do nada.

“Pelo jeito, minha amiga aqui vai entrar no seu time.” Ele sorriu sem mostrar os dentes.

“Espero que sim.” Yerim respondeu imediatamente. “Eu... Eu acho melhor ir ajudar o técnico, vou ajudar nas avaliações.”

“Vai lá.”

“É, pode ir.” A Ha colocou as mãos nos bolsos do short.

“Boa sorte.” Yerim disse ao sair.

Agora a dupla trocava alguns olhares naquele mínimo silêncio.

“Eu acho que ela está realmente na sua.” Dongpyo tinha os olhos levemente arregalados. “Você fez ela travar.”

Yeojin somente pendeu a cabeça.

“Sei não.”

“Vai por mim, ela travou, conheço a peça.”

Um apito soou pela quadra.

“E agora você vai ter a chance de chamar a atenção dela de vez.” Dongpyo deu leves tapinhas nas costas da outra. “Voa, amiga.”

A Ha simplesmente não conseguiu responder nada e, em alguns segundos, Dongpyo já estava nas arquibancadas, pelo menos serviria de apoio moral. Haruna também estava lá, em um canto escuro e degraus acima de onde se encontrava o Son. Yeojin torcia para que seu colega não virasse para trás.

Agora ela só precisava colocar a cabeça no jogo... Um jogo que ela não sabia jogar.

As primeiras tarefas, após o alongamento, se baseavam em resistência, simplesmente correr, realizar alguns saltos, bate e volta, nada que fosse difícil o suficiente para Yeojin.

O que a realmente fazia ficar preocupada era o fato de ser tão pequena perto das outras alunas, incluindo algumas do time de vôlei. Yerim não era muito alta, mas ainda passava de si, apesar de ser algo fácil.

A rede era alta e causava uma certa aflição na Ha, que mesmo sabendo saltar bem, não tinha certeza se aguentaria o tranco por muito tempo.

Quando chegou a parte dos saques... Aquele realmente não era seu forte, piorou ao precisar realizar um bloqueio. Sua altura não ajudava em nada e seus pulos jamais conseguiriam ultrapassar aquelas garotas altas, a Ha nem sabia ser possível crescer tanto aos dezessete.

Era notável certo desespero em seu rosto e ela também percebia uma feição meio preocupada de Dongpyo, já Yerim aparentava estar nada surpresa.

Mas então chegou a parte da defesa, salvar as bolas. Foi naquele momento que Yeojin entendeu o motivo de ter sido convidada a fazer o teste. As pessoas presentes também paravam suas atividades para observarem a baixinha dando um show de agilidade e precisão. Dongpyo até mesmo tinha tirado o celular para filmar.

“Quem é essa mesmo?” O técnico, um homem de cabelos grisalhos, e usando blusa e calças de tecido pretas, perguntou à Yerim.

Os dois estavam em um banco de madeira ao lado da quadra principal.

“Essa é a Yeojin.”

“Entendi.” Ele cerrou os olhos na direção da Ha. “Não impressionou em saques, nem bloqueios, mas agora... Caramba.”

“Eu falei para você mais cedo, disse que tinha encontrado alguém para entrar no lugar da Meihua.”

“É, ela ainda precisa melhorar, mas acho que encontramos nossa líbero.”

                                                 

                                                 

                                                 

                                                 

                                                                                          

                                                 

 


 

Bode Expiatório

Rua Passo Verde, Verni

                                                                                                                                                      17h45

 

Os flashes dos jornais continuavam mesmo quando Alonzo Delgado já se encontrava dentro do carro, após vários acenos. O homem nos seus quase cinquenta anos, de terno caro, óculos e cabelos escuros, penteados de lado, suspirava ao finalmente concluir seu compromisso.

“Podemos ir?” Uma voz metálica veio do lugar do motorista.

Se Alonzo não fosse um conhecedor e estimulador da EGO, ele com certeza estaria completamente assustado com a pessoa de traje justo, preto, e com uma espécie de capacete, que parecia ter saído de um filme. Aquela era uma roupa de combate da organização.

A agente havia pegado o veículo na garagem, no caso, um lugar aleatório e escondido o suficiente para ninguém a ver depois de sair do carro do transportador.

“Claro.”

E assim o automóvel passou a se mover pelas ruas da capital. O plano, por enquanto, continuava nos conformes. A agente, conhecida como Princess, ou simplesmente 11, havia estudado aquela missão detalhadamente, se algo saísse do planejado, realmente seria um mérito extremo do inimigo.

“Sabe quem são as pessoas atrás de mim?” O homem perguntou após um pigarreio.

“O partido opositor. Os babacas do seu entraram em contato com os babacas daqui e deu nisso.”

“Você fala de maneira bem despretensiosa para uma agente da EGO.” O homem soltou um risinho, mas logo se recompôs. “Não que eu esteja reclamando, só é diferente. A maioria são todos muito rebuscados.”

“Quase me chamou de mal educada.”

“Não, não.” Ele pareceu se desesperar um pouco. “Só comentou algo de forma engraçada.”

“Se continuar assim possa ser que eu te dê cinco estrelas no final da viagem.”

Alonzo riu.

Era bom estar com uma agente que se mantinha, aparentemente, tranquila e ainda contava piadinhas, ajudava a deixar o clima menos tenso.

Então finalmente chegaram ao túnel central. Enquanto Alonzo ficava menos nervoso no banco de trás, a agente já tinha noção de estar sendo seguida por um tempo, na verdade, ao entrar no túnel, ela sabia que iriam fechar a saída. Afinal, ela viu os carros pretos dando a volta.

Os seguranças do presidente estariam no aeroporto, os carros disponibilizados para fazerem a tal escolta estavam nas mãos de pessoas desconhecidas, pelo menos para a maioria, a EGO sabia muito bem de onde eram.

“Se eu fosse você, eu me jogaria no chão.”

“É, estou vendo o túnel fechado. Aqueles quatro carros...”

“Exato, se abaixa.”

O homem obedeceu prontamente. A 11 havia calculado aquilo, os carros fechando e homens armados saindo dos veículos. Naquele momento, a jovem tinha noção de poder atacar sem precisar se preocupar, pois existia o time de limpeza para isso, mas agentes da EGO dificilmente matavam, essa era a função das chamadas Corujas.

Por isso a agente se manteu no carro e somente esperou a missão andar, no caso, ela passou a observar uma pessoa usando roupas vinho, com capacete de motocicleta, saindo de um dos porta-malas.

A garota nunca havia presenciado as Corujas tão de perto, mas, agora, sentia um certo calafrio na espinha. Princess sabia que lutava bem, mas não tinha certeza se conseguiria contra aquilo.

Os tiros vinham de trás e totalmente silenciosos, apagando um por um, sem que percebessem. A agilidade daquela figura também possibilitava que nenhum pudesse reagir caso percebessem alguma coisa, já que os golpes eram rápidos e precisos quando se aproximava usando de facas.

A figura então caminhou até o carro da agente e simplesmente sinalizou para saírem. Princess não curtia muito receber ordens, mas, por se tratar de mais uma parte da missão, ela obedeceu e também sinalizou para Alonzo fazer o mesmo.

“A entrada.” A 11 usou do modificador de voz. Nisso, a outra simplesmente fez com que os dois a seguissem.

De perto, era possível notar a roupa vinho revestida com couro em algumas partes, as mãos também ficavam cobertas. No geral, parecia um pouco com o da agente da EGO.

O próximo passo era a 11 seguir pelo esgoto com Alonzo, enquanto a Coruja voltava para ir dirigindo o veículo em que vieram.

A dupla agora vagava pelos espaços cinzentos e fedorentos, Alonzo com certeza precisaria trocar de roupa antes de chegar ao avião. Mas o principal era cruzar a localidade e chegar nos canais, onde entrariam em uma lancha.

A embarcação não era nenhum mistério para pilotar e a jovem observou rapidamente os arredores para enfim colocar o homem no lugar e assumir o volante.

No momento, a agente só pensava se a tal Coruja estava fazendo seu trabalho direito, pois precisavam se encontrar novamente no que seria o ponto D.

“Vamos sair no aeroporto?” Alonzo falou um pouco alto para que a outra pudesse ouvir.

“Exatamente.” Ela respondeu. “A saída está logo ali.”

E realmente era possível visualizar o foco de luz vinda dos postes aumentando conforme cruzavam o canal. O sol já tinha se escondido completamente, o que era algo ótimo na visão da agente.

A falta do odor foi gratificante assim que saíram daquele lugar. Era possível ouvir Alonzo respirar profundamente como se quisesse limpar os pulmões. Já a agente se mantinha quieta e se preparava para estacionar a embarcação na pequena faixa de terra à frente.

“Seus seguranças vão vir te buscar em breve.” A agente disse assim que parou o barco suavemente com a ajuda da areia.

“Isso é ótimo.” Alonzo foi se colocando em terra firme, ele parecia meio enjoado. “Vai esperar?”

“Sim, preciso garantir que as coisas sejam feitas corretamente.”

“Agora está falando de maneira mais educada.”

“Força do hábito.” A agente se pôs de costas.

Precisava somente de um sinal e a contagem começava a rodar em sua cabeça. Os números corriam com certa rapidez, mas o cálculo estava correto e, quando a contagem chegou em um...

Princess se virou para impedir Alonzo de a atacar com uma faca.

“Péssimo movimento.” A garota bateu no cotovelo do homem a fim de fazer a faca cair, algo realizado.

Porém, ele não caiu, mas, dessa vez, continuou a atacar com socos e chutes. Já, a 11 desviava usando de agilidade e aproveitava qualquer deixa para movimentar o corpo do homem de um lado para o outro.

Por fim, um brilho prateado viajou nos olhos da agente, fazendo com que ela puxasse Alonzo e o colocasse de frente para uma das antenas um pouco ao longe. O homem tinha zero chances de sair do aperto nos braços.

Então, bastou a jovem abaixar um pouco a cabeça e um tiro fez Alonzo parar de se mover.

“Traidor de merda.” A dita princesa deixou o corpo do adversário cair. E seu último movimento foi sinalizar com o polegar na direção do tal brilho.

Missão Cumprida.

 


 

A família Son estava em silêncio na enorme sala de jantar cercada por paredes de vidro, dando para visualizar a vegetação bem cuidada do lado de fora.

Os funcionários da mansão ficavam fora do recinto para não escutarem qualquer tipo de conversa envolvendo a família, afinal, a falta de escândalos pessoais ajudava bastante a manter a reputação de Youngsoo bem, mesmo falando alguns absurdos vezes ou outras durante sessões do legislativo.

O homem bebia um pouco de vinho enquanto visualizava as filhas. Seu terno cinza se encontrava muito bem alinhado, a barba era bem aparada, e os olhos tinha uma certa opacidade assustadora.

“Me surpreende vir jantar conosco, Hyeju.” O homem finalmente deu fim ao silêncio. Seu tom era seco, sem nenhuma intenção perceptível por trás.

“Sendo sincera, tenho mais coisas para fazer, pretendia comer mais cedo.”

“Pelo menos se mantém focada na universidade.”

Yerim observava a interação e percebia sua irmã se contendo para não começar a provocar o mais velho.

“Falando em coisas para fazer, preciso me preparar para a reunião de amanhã.” Youngsoo limpou a boca suavemente com um dos guardanapos, então se pôs de pé. “Tenham uma boa noite.”

A forma como ele se retirou sem ao menos encarar as filhas direito foi o suficiente para ambas trocarem olhares meio desgostosos. Youngsoo podia até tratá-las bem publicamente, mas, no geral, ele não fazia questão de ser próximo. Para ele, bastava nenhuma se meter em problemas, principalmente Yerim, por ser exatamente a filha perfeita e que melhora a visão do público sobre ele.

“Nosso pai é tão cara de pau, não consegue passar vinte minutos sentado com a gente. Sempre foi assim. E agora é reunião o tempo todo.” Hyeju apoiava a cabeça em uma das mãos.

“Era sempre a mamãe que segurava ele... Nem sei como casaram... Nem como tiveram nós duas.”

“Você sabe que nosso pai veio de família pobre, não é?”

“Veio?” A garota juntou as sobrancelhas.

“Veio... Eu descobri isso depois de fuçar um pouco nas coisas dele no início da semana, eu queria confirmar coisas.”

“Eu não acredito.” Yerim controlou um pouco o tom de voz. “Se te pegarem, você está ferrada!”

“Devia estar preocupada com o fato do nosso pai esconder de onde veio da gente, que somos filhas dele.”

“É verdade...” A mais nova tinha uma feição meio decepcionada. “Mas e aí?”

“E aí que minha suposição é ele ter vergonha disso, o sobrenome dele é Yang, não Son.”

“Eu sabia que ele tinha mudado, ao invés da mamãe, mas não imaginei ser esse.”

“É óbvio que ele queria casar e herdar o sobrenome da nossa mãe, ela seria a CEO da empresa de biscoitos do vô.”

A empresa ao qual se referiam era a Biscuit S, a maior produtora de massas e biscoitos do país, possuindo uma enorme fábrica e exportando para todo o mundo.

“Seria se ele não tivesse mandado ela para a clínica...” Yerim finalmente parecia juntar as peças. “Puta merda.”

Hyeju acabou por segurar o riso, era difícil ver a caçula xingar.

“Enfim.” A mais velha se recompôs. “Até me admira não ter juntado as peças mais cedo, sempre esteve meio na cara.”

“É que... Eu preferia não acreditar nessas coisas, sabe?”

Hyeju acabava por sentir pena da irmã, pois ela não merecia essa confusão familiar toda.

“Mas entendeu por qual motivo temos que ouvir o lado da nossa mãe? Ela provavelmente só protegeu a gente.” A mais velha retomou o assunto.

“Se nosso pai realmente enganou nossa mãe, fez ela se apaixonar e aprontou essa...”

“O pior? Nossos avós nem estão mais vivos para ajudar a acabar com essa palhaçada, não que eles também fossem as melhores pessoas do mundo.”

A avó das garotas faleceu anos atrás devido a problemas respiratórios, já o avô foi há cerca de quatro meses, vítima de infarto. Pouco tempo depois da morte do idoso, a mãe das garotas foi enviada para uma clínica em dita situação crítica.

“Ele colocou um administrador para cuidar da empresa, não foi?”

“Sim, sei lá quem é esse cara... Eu não pretendo assumir a empresa, acredito que você também não.”

Yerim assentiu negativamente.

“Deveria ser nossa mãe a CEO. Isso de colocar administrador também está evitando nossa tia de subir para outro cargo, a coitada.”

“Realmente... Será se ela não acha tudo isso estranho?”

“Quem não acha? Mas também quem teria coragem de se meter com nosso pai?”

“É...”

E assim as duas suspiraram em tom de derrota.

                                               

                                               

                                               

                                               

Realmente missão cumprida.

Chapter 9: três é demais

Summary:

Arco 4: Festim de números (1/3)

Chapter Text

                                               

 

3 semanas depois...

 

O apito final soou e Yeojin pode finalmente se jogar no chão da quadra com os olhos fechados. As alunas tinham certa pressa para irem embora, não que a Ha não sentisse a mesma vontade, mas, por enquanto, estava bem cansada para simplesmente sair correndo.

Ninguém avisou sobre o time estar indo rumo aos nacionais e Yeojin precisar assumir o posto de líbero titular. As rotinas de treino eram pesadas e a garota sentia seus músculos tremerem mesmo já tendo passado um certo tempo e não sendo tão sedentária.

“Ótimo trabalho.” A Ha abriu um dos olhos já sabendo quem era. Yerim a encarava possuindo um sorriso doce.

Yeojin suspirou antes de finalmente se colocar de pé e poder falar direito com a outra. A Son tinha os cabelos presos e ainda se encontrava um pouco ofegante, naquele momento, ela também encarava os pés da outra.

“Não pode andar assim.” Yerim se abaixou e passou a amarrar os cadarços soltos no tênis da Ha, que nem ao menos havia percebido o calçado ficar mais frouxo devido ao fato de estar focada.

Muita gente se jogaria de um prédio somente para ter aquela garota fazendo algo do tipo para eles e Yeojin percebia os olhares de alguns alunos. Era questão de tempo até começarem fofocas.

“Prontinho.” Yerim se levantou sorrindo. Não era novidade entre o time que a Son chegava a ser ainda mais doce com a novata. A mais alta tinha um interesse palpável na outra, algo que foi crescendo gradativamente, quase como se estivesse...

“Obrigada.” Yeojin sorriu sem mostrar os dentes, claramente envergonhada.

“Por nada.”

Um pequeno silêncio pairou entre as duas, até Yerim finalmente tentar aquele tal convite mais uma vez...

“Sei que provavelmente só quer ir tomar banho e voltar para casa, eu também de certa forma, mas...” Yerim colocou as mãos na cintura. “Não quer sair comigo e o time hoje?”

“Desculpa.” Yeojin assumiu uma expressão leve de pesar.

O time gostava de sair para comer depois dos treinos, pelo menos uma vez na semana, muitas vezes acompanhado de outros alunos de fora. Yeojin já havia recebido o convite, mas sempre recuava, pois...

“É o Joshua, não é? Eu percebi.” Yerim bufou.

“Não, não é isso, eu só não gosto muito de sair...”

“É o Joshua.” A mais alta cruzou os braços e colocou uma expressão séria que fez a outra desviar um pouco o olhar.

“É o Joshua.” Yeojin juntou as mãos na frente do corpo. “Ele não fez nada, eu só não vou com a cara dele.”

“Seria uma surpresa se fosse.” Yerim chegou a deixar escapar uma risada, afinal, Dongpyo, amigo de Yeojin, odiava o garoto.

“Está tudo bem, sério, sem ressentimentos.”

“Boa noite, Yerim.” Falando no diabo, o loiro apareceu com os cabelos molhados, penteados para trás. “Yeojin.” A voz dele soou mais desgostosa ao olhar para a menor.

“Joshua.” Yeojin não fazia questão de ser simpática.

“Como foi o treino de esgrima?” Yerim perguntou.

“Bom, como sempre, continuo ótimo.” O jeito com que ele se insinuava para a outra causava náuseas à Ha. “Já tomei banho, estou pronto para sair.”

“Ótimo, o pessoal já deve estar se reunindo, eu apareço lá daqui a pouco.” Yerim comprimiu os lábios. “Eu chamei a Yeojin, mas ela não vai poder ir.”

“Hum, que pena.” Joshua nem disfarçava a dita tristeza.

“Acho melhor eu ir me ajeitar.” Yeojin disse ao ficar de saco cheio daquele garoto.

“Você não vai tomar banho?”

“Vou, mas prefiro usar o banheiro lá em cima.”

“Ah, claro, te vejo amanhã?” Yerim tinha uma certa expectativa na voz.

“Sim, sim.” A Ha mostrou o polegar e se virou para ir na direção de Dongpyo, que já estava a caminho da quadra, segurando sua mochila. Ele provavelmente estaria batendo boca com Joshua se Yeojin não resolvesse se retirar.

Naquele momento, Yerim saia rumo ao vestiário e ela parecia um pouco triste enquanto se afastava da quadra. Obviamente, Dongpyo, que ficou o treino nas arquibancadas, notou enquanto ia até a amiga.

“Sua frouxa.” O Son deu um peteleco na testa de Yeojin. “Olha a cara da Yerim, ela está doida para que saia com ela!” Ele tentava não falar muito alto. “Precisa enfrentar o cabessauro.”

“Ai.” A menina esfregava o local acertado. “Do que adianta eu ir se ele vai ficar atrapalhando o tempo inteiro?”

“Pior que arranjar um rolê aonde ela possa ir só com a gente... Precisamos driblar uma galera.”

“E você acha que eu não sei?!” Yeojin colocou a mochila, trazida pelo garoto, nas costas e assim os dois passaram a caminhar até os banheiros de cima.

“Pelo menos ela gosta de você, tipo, está na sua. Todo mundo do colégio meio que percebeu.” Dongpyo dizia com certo orgulho.

“Por acaso, ela te confirmou isso?”

“Não, talvez para a irmã dela...” Ele arqueou uma das sobrancelhas. “Mas ela geralmente é bem fechada sobre esse tipo de coisa, talvez nem a irmã dela saiba.”

“Então o que garante ela gostar de mim? Tipo... Por que ela gostaria de mim?”

“Você trata ela como uma pessoa normal, todo mundo praticamente lambe o saco dela, você não.” Dongpyo coçou o queixo. “Você é bonita também, isso ajuda.”

“Hum...” A Ha pendeu a cabeça. “Pode ser.”

“É sério.” O menino deixou escapar um pequeno riso. “Você chegou aqui nem sabendo quem ela era.”

Eu fingi, mas tudo bem.

“A vida toda a Yerim teve gente bajulando, muitas vezes sem motivo aparente, somente pelo status social dela, então... É, faz sentido ela gostar de você, que trata ela normal e é uma pessoa simples.”

“Pobretona comparada com ela.”

“Eu quis ser gentil.” Dongpyo sorriu sem mostrar os dentes. “Mas assim, aproveita que tem o telefone dela e conversa mais, sei lá, tem o jogo de sexta para falarem. Já comentou comigo ser bem mais fácil falar com ela por mensagem.”

“É, pode ser.”

“Você disse que antes de ontem passaram o dia falando dos filmes da Barbie, então sei lá, chama ela para assistir.”

“Não sei...”

“Sério, véi, aproveita as chances que o mundo está te dando.”

“Acho que você está certo...”

“Óbvio!” O garoto levantou as mãos. “Agora vai tomar banho e vamos para o fliperama, aproveitando que o ônibus passa lá perto e depois eu te dou carona para casa.”

“Se você for pagar...”

“Metade, metade.”

“Ok...” Yeojin dizia com certo cansaço. “Mas assim... A Haruna está seguindo a gente, não é?”

“É, está...” Dongpyo olhou disfarçadamente para trás. “A silhueta dela nesse corredor escuro é tenebrosa.”

“Fica de guarda na porta do banheiro.”

“Uhum.”

E Dongpyo ficou de guarda, estranhando o fato de Haruna estar escondida atrás de uma lixeira. Em sua cabeça, ele a chamava de ‘Invocação do Mal’. Felizmente seu medo foi diminuindo pela mensagem de Yeojin no celular, ela havia terminado o banho, mas precisava falar algo antes de sair.

                                               

                                               

A dupla saiu de perto do banheiro como se nada tivesse acontecido. E não demoraram a notar uma pessoa os seguindo. Yeojin tentava olhar para trás algumas vezes, enquanto Dongpyo inventava assuntos aleatórios para não parecer que estavam aprontando alguma coisa.

O bom de uma escola grande é o fato de se ter diversos caminhos alternativos, melhor ainda quando tem amizade com alguém que conhece todos esses, no caso, era Dongpyo.

Haruna segurava na alça da mochila de couro preto e uma leve expressão de dúvida se formou em seu rosto quando percebeu a dupla virar no corredor e um enorme silêncio começar, mas, mesmo assim, a garota continuava andando, somente para dar de cara com Yeojin ao finalmente entrar naquele corredor.

“Oi, Haruna.” A menor sorria sem mostrar os dentes.

A outra arregalou os olhos, aparentava estar um pouco desesperada e tornou a se virar no caminho contrário, porém Dongpyo havia dado a volta e bloqueado a rota.

“Hoje não.” O garoto dizia com os braços cruzados.

“Acho que já deu de ficar seguindo a gente para cima e para baixo.” Yeojin começou. “Nós entendemos que quer ser nossa amiga, até pensamos que iria finalmente falar com a gente direito depois do pudim, então esperamos, mas você não fez.” Os dois observavam a garota encarar os próprios pés. “Nós não vamos brigar contigo, não estamos bravos.”

“É, nós vamos com a sua cara.” Dongpyo assentia, ignorando o fato de ter a evitado por anos.

Haruna finalmente começava a levantar o olhar na direção dos dois.

“Nós queremos ser seus amigos também.” Yeojin levantou o polegar para a outra.

“É sério, beleza?” Dongpyo levantou os dois polegares.

A menina alternava o olhar entre a dupla, que já estavam ficando um pouco sem jeito pela demora na resposta.

“Sério?” A voz dela soou baixa. Era delicada.

“Sério.”

“Sérião.” Dongpyo reforçou.

“Ah... Ok.” A falta de expressão no rosto da garota fazia a situação se tornar esquisita, Yeojin chegava a lembrar de Chaewon, apesar da feição na sua frente ser bem amena.

Dongpyo seria o salvador da pátria, com toda certeza.

“Vamos para o fliperama com a gente?”

“Hã?” Haruna piscou algumas vezes. “Fliperama? Nunca fui em um.”

“Eu hein, qual o problema de gente rica com fliperama?” Yeojin juntou as sobrancelhas. “Mas tudo bem, agora você tem a chance.”

“E amigos para ir.” Dongpyo apontou para si e a Ha.

“Eu não sei... Sou caseira.”

“Trabalha em sítio, é?” O menino arqueou as sobrancelhas.

Yeojin abaixou a cabeça para segurar um riso, mas Haruna deu um pequeno sorriso ao tentar fazer o mesmo.

“Olha só, você sorri!” Dongpyo bateu as mãos.

A garota sentiu certa timidez com o comentário.

“Vamos, Haruna, vai ser legal. Só está com medo de não saber jogar.” Yeojin falou como se não tivesse lido os pensamentos de Haruna rapidamente.

Obviamente a menina ficou surpresa, afinal, era exatamente isso que rondava sua cabeça... Uau.

“Pois, tudo bem... E nós vamos como?”

Yeojin e Dongpyo se olharam na hora e logo foram checar o horário nos celulares. Eles haviam perdido o ônibus.

“O ônibus...” A Ha fazia uma pequena careta.

“Eu não acredito.” Dongpyo passava a mão nos cabelos com certa agressividade.

“Meu motorista não se importaria de nos levar.” Haruna falou de maneira simples.

E assim, a dupla encarou a garota com certo brilho no olhar. Haruna já se mostrava uma aliada e tanto.

Os dois ficaram abismados com o quão chique o carro era por dentro. Dongpyo mal conseguia acreditar que tinha até chocolate. Haruna controlava uma iminente alegria ao perceber os dois felizes ao seu lado. Yeojin só parou por um momento para avisar Chaewon e Sooyoung sobre sua saída com os amigos. Chaewon não ligou muito, já Sooyoung ficou orgulhosa, pois além de ter entrado no mesmo time de Yerim, agora fazia ótimas amizades.

Haruna não poderia prever como seria o final do seu dia, com certeza não contava em ser arrastada por um enorme lugar colorido, ressoando sons diversos, incluindo risadas. Dongpyo e Yeojin estavam um em cada braço da garota, enquanto apontavam e explicavam alguns jogos presentes no local.

E era divertido.

Pegar as fichas e explorar o fliperama de dois andares chegava a ser fantasioso dada a falta de cor nos dias comuns da Osato. A garota ria ao ir nos jogos de dança, tiro e corrida, chegando a sentir a barriga doer com Dongpyo e Yeojin competindo.

“Esse aqui é a minha especialidade.” Yeojin mostrava a máquina de ‘Mortal Kombat usando os dois braços. “Sou uma jogadora de classe.”

“Pois vamos testar.” Dongpyo foi o primeiro a ir contra a menor.

 

ROUND 1

 

“Não valeu!” Dongpyo reclamava. “Eu não sei nem para onde vai direito, não lembro de nada mais, você solta esses combos, fico perdido.

“Tenta na próxima.” Yeojin falava ao rir.

 

ROUND 2

 

“Mano?” O garoto alternava o olhar entre os botões e os personagens. “Onde que defende?!”

“KUNG LAO WINS!” Yeojin levantou os braços em vitória após lançar um golpe e vencer.

 

PLAYER 1 WINS

 

“Vai você agora, Haruna.” O Son se afastou dos controles. A garota parecia um pouco surpresa, pois não achava ter chance nenhuma.

“Pode vir.” Yeojin sinalizou com a mão para a outra chegar mais perto.

“Esse botão aqui move o personagem, esses de baixo são chutes e os de cima são os socos.” Haruna assentia ao ouvir as explicações. “Vamos escolher os personagens.”

Yeojin escolheu logo o seu principal, no caso, o famoso Kung Lao, então passou a auxiliar Haruna.

“Eu quero essa.”

“Sonya?”

“Sim.

Can't you see? I'm here, it's me, the lady with the energy.”

Haruna e Yeojin arquearam as sobrancelhas e encararam o garoto atrás delas.

“Qualé? É a música. As músicas desse jogo são fodas.” Ele colocou as mãos na cintura.

“Ok...” Yeojin atraiu a atenção da Osato para a tela novamente. “Vamos, lá.”

 

ROUND 1

 

“Ela é melhor do que você, Dongpyo!” Yeojin dizia ao jogar.

“A sorte de principiante dela vai ser sua queda.” O menino dizia.

“Para de jogar praga!”

Enquanto isso, Haruna se mantinha focada, mas tinha dificuldade. Infelizmente, ela perdeu, mas estava com a determinação de melhorar na próxima rodada.

 

ROUND 2

 

“Eu disse!” Dongpyo bateu palmas. “Ela ganhou!” Ele ria.

Yeojin suspirava nada satisfeita com a derrota, mas obviamente levou na esportiva.

“Bom jogo, apesar da sorte, mas bom jogo.”

Haruna acabou por sorrir sem mostrar os dentes.

 

ROUND 3

 

“Isso!” Yeojin comemorou.

“Ela quase ganhou de novo!”

“Confesso que está ficando melhor, até fez um combo, mas calma lá.”

“Acaba com ela, Haruna.”

A Osato acabou por levantar o polegar na direção de Dongpyo.

 

ROUND 4

 

Dongpyo ria com a mão na barriga, após Haruna vencer a rodada, deixando Yeojin sorrindo a descrença.

“Mano, quinta rodada!” O garoto falava para encher o saco da Ha. “É tudo ou nada!”

 

ROUND 5

 

“Sonya! Sonya! Sonya!” O menino pulava ao lado delas.

“Cala a boca!” Yeojin reclamava ao rir.

Haruna ria ao ouvir os gritos dos dois ficando finos e as picuinhas continuando.

 

PLAYER 2 WINS

 

“DROGA!” Yeojin acabou por gritar, mas sem raiva.

“E Osato Haruna desbanca Ha Yeojin em uma vitória emocionante!” Dongpyo imitava voz de locutor, o que fazia Haruna rir e Yeojin assentir negativamente. “Agora a pergunta que não quer calar: Haruna, você aceita entrar no nosso Clube de RPG?”

A garota acabou por arregalar um pouco os olhos com a pergunta. Ela sabia do que se tratava, pois um dia ficou se questionando após uma feira de clubes, então tratou de pesquisar. Se dizia ser uma boa atividade para fazer com amigos, então...

“Claro.” Ela respondeu com mais ânimo comparado com horas atrás. “Adoraria.”

“Boa!” Dongpyo bateu as palmas com as de Haruna, Yeojin acabou por fazer o mesmo, apesar de meio triste pela derrota.

Dizem que a forma geométrica mais resistente é o triângulo e assim os três acabavam de criar a formação perfeita.

Haruna agora se despedia com um pequeno sorriso e um energético aceno. Os pais da garota até estranhariam ela chegar mais tarde, mas ficariam felizes quando soubessem o motivo. Dongpyo e Yeojin mal sabiam que tinham dado um motivo para a garota ficar animada em ir para o colégio.

“Ela é legal, véi.” Dongpyo comentou quando agora só restavam ele e Yeojin na recepção do fliperama.

“Total.”

“Agora vou ser o jurídico Osato Haruna.” Ele fingia formar uma placa com as mãos no ar. Yeojin riu um pouco. “Agora cadê minha mãe?” Ele checava o relógio. “Ela me esquece nos lugares, mas não esquece o Tonhão no Pet Shop e ele nem foi para o Pet Shop.”

E, felizmente, não demorou muito até ela chegar. Agora Yeojin entendia muito bem a quem Dongpyo puxava as conversas estranhas e o humor.

“O preço da ração do Tonhão aumentou.” A mãe do garoto falava. “E ele só come da premium, né? Se botar uma mais barata, o cachorro só falta fazer a gente de refém na nossa própria casa.”

“Ele é mimado, mãe.” Dongpyo, no banco do passageiro, respondia.

Yeojin observava os dois interagirem do banco de trás daquele Chevrolet Bolt preto, enquanto o rádio tocava baixinho. A mãe de Dongpyo usava um terninho preto e tinha os cabelos um pouco acima dos ombros e meio volumosos. Aparentava ser uma executiva.

“E você nem sabe, filho.” A mulher dava leves tapinhas no braço do garoto quando pararam no sinal.

“O quê?”

“O nosso vizinho.” O carro voltava a andar.

“O do ganso?”

“Não, o Sr. Pahn.”

“O que tem? Ele não tinha viajado?”

“Então, filho, ele perdeu uma perna para catarata.”

O menino cruzou os braços e arqueou as sobrancelhas.

“Ué, como que perde perna para catarata?”

“Não sei, parece que empurraram ele na viagem.”

“Jesus.” O menino engoliu em seco.

“Está tudo bem aí atrás, Yeojin?” A mulher observou a menina pelo espelho retrovisor central. “Ar condicionado muito frio? Você nem para perguntar, né, Dongpyo? Não é tua amiga?”

“Mas você não acabou de perguntar?!”

“Eu estou bem sim, obrigada pela carona.” Yeojin achou melhor responder logo.

“Por nada.” A mulher falava com um tom simpático. “Já estamos chegando, é por aqui, não é?”

“Sim, no próximo prédio.”

Pouco tempo depois, Yeojin já se saía do veículo enquanto agradecia novamente pela carona.

“Boa noite, amiga, vai na paz.” Dongpyo disse ao bater o punho no da garota.

“Boa noite, um abraço para as suas mães e obrigada por ser amiga desse molecote.”

“Mãe!”

Yeojin riu.

“Boa noite, pode deixar.”

“Ai, essa é para a gente, mãe!” Dongpyo, do nada, gritou no carro.

Era ‘A Thousand Miles’ da Vanessa Carlton. E, para a surpresa da garota, a mãe de seu amigo parecia tão animada com ele.

Yeojin tinha uma certa expressão de choque ao ouvir os dois se distanciarem ao cantarem a música alto o suficiente para acordar uma vizinhança inteira.

Ainda faziam o som do piano.

E Yeojin entrou animada na cobertura, cumprimentando rapidamente Sooyoung e até mesmo Chaewon quando cruzaram caminho no corredor. Aliás, não demorou muito para uma mensagem chegar ao seu celular.

                                               

                                               

                                               

                                               

                                               

                                               

                                               

Yeojin usava um enorme moletom cinza, que servia como um vestido, ao andar pelo apartamento, até a cozinha. Já havia acontecido de ela esbarrar nas mais velhas sozinhas, pelo menos Chaewon e Sooyoung, mas não Jungeun... Aquela era a primeira vez. Pior ainda, já era um pouco tarde e estavam sozinhas no andar de baixo.

Que susto, porra...

A jovem tentava manter uma relação respeitosa com a Kim, especialmente pelo fato de saber o segredinho da loira, mas, com o tempo, até que Jungeun se mostrava ser uma pessoa digna de um pouco de gentileza.

Querendo ou não, ter acesso aos pensamentos da mais velha mostrava que ela não era muito diferente. Sua fachada poderia ser considerada até mesmo sincera. Obviamente, isso não diminuía o medo da Ha mais jovem, porém ela tentava engolir isso para não ter problemas.

Yeojin também não conseguia delimitar certamente o trabalho da mulher, pois ela era sim uma assassina, mas as conexões dela possuíam mistério. A estudante não sabia qual a finalidade do trabalho exatamente, mas parecia somente um lado mais sujo da profissão de Sooyoung, pensar isso fazia a ficar um pouco menos nervosa, pois a sua mãe de mentirinha aparentemente tinha motivações nobres.

Também não é como se não percebesse Jungeun tentando estabelecer algum tipo de conexão consigo. Yeojin entendia isso acontecer devido ao fato de não saber o real propósito de tudo aquilo. Na cabeça da mais velha, a garota era somente a filha adotiva de uma mulher bem sucedida e super charmosa ao qual ela havia se casado para não acabar presa por suspeita de espionagem.

E a conexão que ela queria era aparentemente genuína, algo responsável por fazer Yeojin se sentir até um pouco culpada ao não tentar um pouco mais, principalmente depois de notar também o quão bem ela pensava de Sooyoung. Yeojin sentia um pouco de pena, pois provavelmente teriam dado certo em outras circunstâncias.

“Boa noite.” Jungeun disse ao perceber a mais nova abrindo a geladeira. A mulher portava um pijama de seda composto por camisa e calças, seus cabelos se mantinham presos em um coque. Ela bebia uma xícara de chá, encostada no balcão.

“Boa noite.” A garota respondeu baixo.

“Se divertiu hoje?”

“Sooyoung contou?” Yeojin retirou um pedaço de bolo da geladeira e puxou um garfo da gaveta.

“Sim.” Jungeun encarou o alimento. “Ainda bem que gosta dos meus bolos, você não queria comer antes.”

“Ah...” Yeojin não poderia dizer que tinha medo de estarem envenenados, então somente sorriu sem mostrar os dentes. “São ótimos.” E era verdade. “Sobre me divertir, é, foi bem legal.”

“Que bom.”

“É...” A garota se mantinha de pé no meio da cozinha, beliscando o bolo.

Cara, isso é muito esquisito.

Acho que está acontecendo um climão.

Não me diga.

“E os treinos?”

“Vão bem.”

O que eu vou perguntar agora?

Eu só quero ir para o meu quarto, por favor. Desculpa, mas eu não consigo fazer isso ainda.

Yeojin passou a devorar o bolo rapidamente para assim lavar logo o prato e passar para o quarto, algo repentino e que causou certa surpresa na mais velha.

“Boa noite, preciso dormir, escola cedo.” Yeojin disse deveras rápido, mas tentando não parecer apressada.

Pelo jeito, ela ainda morre de medo de mim... Mas por quê? Ela nem sabe da minha profissão, apesar de que qualquer pessoa teria medo, mas juro não ser uma pessoa ruim... É por uma causa maior, eu acho.

Você acha?!

Eu não quero te machucar.

Desculpa.

“Boa noite.” Jungeun respondeu quando a garota já saia para o corredor.

Yeojin se trancou no próprio quarto, colocando a mão no peito ao sentar na cama. Ainda precisaria escovar os dentes, mas, por agora, ficaria parada. Jungeun era um jogo arriscado, pois tinha algo sobre ela, além da profissão, que a diferenciava das outras de maneira perigosa.

Não tinha a ver necessariamente com bússola moral, pois Yeojin não se achava uma santa, em sua cabeça pessoas ruins precisavam sofrer consequências mesmo que fosse morte. O problema maior estava na mente de Jungeun.

Seus pensamentos eram muito simplórios, muito alinhados com tudo que saia de sua boca. Porém, o pior, era quando sua mente ficava em branco. Aquilo deixava Yeojin em pânico.

No antigo laboratório onde vivia antes do orfanato, Yeojin lembra de alguns cientistas que limpavam a própria mente tentando extrair algo das habilidades de Yeojin. Sua cabeça doía muito durante aquela tarefa específica. Não que Jungeun pudesse ser um deles, mas talvez foi treinada para isso?

Enfim, Yeojin poderia dar uma chance se Jungeun não for realmente uma grande mentirosa.

Chapter 10: tarefa extra

Summary:

Arco 4: Festim de números (2/3)

Chapter Text

                                         

 

No silencio da cobertura durante a manhã, Jungeun se arrumava para ir ao trabalho. Seu semblante era cansado, meio triste, nada difícil de perceber. A conversa com Yeojin na noite anterior, apesar de muito breve e superficial, denotava falha. E parte disso achava ser sua culpa, pois acabava ficando com a cabeça em branco, não conseguia pensar em assunto nenhum. Pelo menos poderia ainda pedir ajuda à Sooyoung, talvez ela devesse ter uma pista. Jungeun negava desistir de Yeojin, pois queria também ajudar sua esposa de mentirinha.

E Sooyoung percebeu o jeito da outra assim que colocou os olhos nela, algo parecia errado.

“Algum motivo para estar tão triste?” Sooyoung falou ao se aproximar de Jungeun, tendo as mãos nos bolsos da calça de moletom vermelho. A Kim ajeitava os itens em sua bolsa de couro marrom em cima da mesa de jantar.

Jungeun não estranhou quando a outra se colocou ao seu lado e acabou dando um pequeno sorriso quando notou Sooyoung fazendo um bico tristonho após a pergunta.

“Para com isso.” Ela deu um leve empurrão na outra, que sorriu sem mostrar os dentes.

“Estou falando sério, você está bem tristonha hoje.”

A loira encarou a mais alta por alguns segundos antes de finalmente falar algo.

“Mesma coisa, a Yeojin. Eu planejava falar com você sobre isso.”

“Está empenhada em ter a confiança dela.”

“Sim... Faria eu me sentir mais útil.”

“Mas você é.”

Jungeun revirou os olhos com um pequeno sorriso.

“Só fico preocupada porque ela tem medo de mim.”

“De novo a história do medo?” Sooyoung acabou por apoiar uma das mãos na mesa, fazendo seu rosto chegar mais perto da outra. “É só questão de tempo, Jungeun, ela já come seus bolos, não é? Yeojin falou alguma coisa?”

“Nada, ela só fala pouca coisa, quase como se quisesse fugir.”

“Quer que eu converse com ela?”

“Não, a Yeojin não é uma criança, acho que o certo é respeitar isso, talvez conversar com ela seja necessário quando algo chato aconteça.”

“Não se preocupe tanto com isso.”

“Eu só quero te ajudar.”

Sooyoung piscou os olhos algumas vezes.

“Quando falo de ser útil é tentar minimamente agir como uma família de verdade.” Jungeun se prendia nos olhos de Sooyoung, que se mantinha um pouco surpresa. “Para convencer os vizinhos e pessoas da escola, óbvio.”

“Ah, sim.” Sooyoung despertou do pequeno transe. “Claro, os outros.”

“Pois é.”

“Mas assim...” A mais alta retornou a mão ao bolso. “Você é uma ótima esposa e tenho certeza que é uma ótima mãe, dá para ver como cuida daquelas duas silenciosamente, sempre respeitando o espaço delas.”

Jungeun sorriu pequeno, um pouco envergonhada, e colocou a alça da bolsa no ombro.

“Obrigada.” A Kim assentiu. “Acho melhor eu ir, não posso me atrasar.”

“Sim, claro.” Sooyoung comprimiu os lábios ao observar a outra caminhando até a porta.

Uma certa impaciência começava a tomar conta do corpo da Ha, que apertava e fechava os punhos dentro dos bolsos. Sooyoung tem um talento nato com mulheres em suas missões, mas sempre eram casos rápidos. Contudo, sendo colocada para conviver, e ainda possuindo tantos pontos em comum com Jungeun, remexia sua cabeça.

“Você esqueceu uma coisa.” Sooyoung disse de forma apressada, nervosa, nada como imaginou em sua mente.

“Hum?” Jungeun se virou com as sobrancelhas levemente arqueadas. A mulher só ocasionou uma mudança de expressão quando sentiu um abraço apertado.

A Kim ainda se acostumava com certas demonstrações de carinho, ela sempre esperava a mais alta fazer, pois não acreditava ser muito boa nessas coisas. Muitas vezes, Jungeun desejava um abraço assim depois ou antes do trabalho, e agora ela havia conseguido.

E era melhor do que esperava, por justamente ter encontrado um aperto confortável junto de um aroma que sussurrava e gritava ‘casa’.

Alguns momentos depois, na universidade, Chaewon estranhava a falta de Hyeju na aula. Não que estivesse preocupada, não mesmo, aquilo não era problema seu. Porém... Talvez fosse bom manter um olho nela... Pelo bem da missão.

                                         

                                         

                                         

                                         

Hyeju até pensava em desabafar com Chaewon, mas não é como se ela pudesse ajudar, mesmo parecendo tão confiável, apesar das piadas. E o pior é que tudo parecia piorar, porque alguns acabaram achando a ideia de seu pai na presidência ser boa. Já Chaewon desviava sua mente da aula totalmente, pois ela tinha sim investigado a situação da família Son e só conseguia pensar em como seria fácil de Youngsoo se livrar das filhas caso elas pisassem fora, pois fez isso tão facilmente com a herdeira de uma das maiores multinacionais do país... E ela sabia que o contato de Hyeju com a mãe deveria ser algo proibido, algo não cheirava bem.

Ao menos Hyeju era fácil de tirar informação dela, logo ela que parecia saber tanta coisa.

Já em Sonatine...

A sala do clube de RPG era pequena, existia somente uma prateleira simples, uma mesa e quatro cadeiras, além de uma enorme janela, que ajudava com a iluminação.

As paredes possuíam alguns pôsteres de Dungeons & Dragons e umas action figures enfeitavam a tal prateleira, deixando o ambiente um pouco mais simpático.

No momento, o trio aproveitava o tempo livre após as aulas, todos estavam muito cansados para fazerem qualquer outra coisa. Portanto, ficavam ali, Dongpyo lendo um novo manual de D&D, Haruna mexendo no celular e Yeojin debruçada sobre a mesa.

Porém, obviamente a paz do trio seria perturbada.

“Pensei que esse deveria ser um clube ativo.” Uma mulher, de cabelos claros, amarrados, usando óculos de grau, vestido e blazer, cremes, colocou parte do corpo para dentro da sala.

Era a professora de inglês.

Os três a olharam um pouco surpresos. Aquela era a professora responsável pelo clube, pois todos precisavam de um.

“Nós só estamos dando uma pausa, eu preciso me atualizar com isso aqui.” Dongpyo sorriu sem mostrar os dentes ao levantar o manual. Aquela era uma mentira parcial.

“E se eu disser que arranjei algo para ganharem pontos de ação comunitária?” A animação da mais velha não comovia nenhum pouco os mais novos, que trocavam olhares, apesar de gostarem da mulher. “Poxa, galera, cadê a animação?” Ela havia se colocado totalmente dentro do cômodo, ainda segurando a maçaneta, sua barriga de gravidez já começava a ficar evidente.

“Mas que tipo de serviço?” Yeojin perguntou ao levantar minimamente a cabeça.

“Limpar a piscina!” A mulher sorriu. “Vai ser ótimo até para enturmarem mais ainda a Haruna, não é, querida?”

A Osato simplesmente deu um pequeno sorriso sem graça.

“Sei não...” Yeojin acabou soltando antes de deitar novamente.

“Quantos pontos?” Dongpyo acabava por ter um tom deveras mercenário.

A professora ficou séria, entrando na brincadeira.

“Trinta, se quiserem, eu posso negociar trinta e cinco.”

“Fechado.”

Yeojin, que retomou a postura, e Haruna, olharam um pouco incrédulas para o garoto.

“É bastante coisa, ué.” O Son deu de ombros.

“Isso mesmo, podem subir assim que puderem, não esqueçam de trocarem as roupas.” A mulher ia falando na medida em que desaparecia até fechar totalmente a porta e deixar o cômodo silencioso novamente.

“Sério isso?” Yeojin revirou um pouco os olhos.

“Vai me agradecer depois.” Dongpyo comprimiu os lábios momentaneamente. “E limpar a piscina nem é ruim assim, já fizeram isso? Quer dizer, a Haruna sei que não.”

“É, realmente...” A Osato pendeu um pouco a cabeça.

“Eu nunca fiz, mas agora vou ter que fazer, né?” Yeojin suspirou.

“Aliás, fico tão feliz de saber que nossa professora já casou e finalmente vai ser mãe, era o sonho dela.” Dongpyo comentou.

“Não acompanhei a jornada então...” A Ha comprimiu os lábios.

“Foi uma jornada bonitinha, apesar de aleatória.” Haruna disse. “Ela é a rainha do Líbano.”

“Rainha do Líbano?”

“Sim.” Dongpyo respondeu meio risonho. “Todas as férias ela vai para lá, porque tem um grupo de estudos. Ela sempre namorou homens libaneses.”

“Toda vez era um Mohamed diferente.” A Osato entrelaçou os dedos em cima da mesa.

“Só que nunca dava certo até ela encontrar o Habib.” Dongpyo tentava soar misterioso. “E você nem acredita...”

“O quê?” Yeojin juntava as sobrancelhas, ficando um pouco apreensiva.

“Ele faz esfirra.”

Aquilo cortou totalmente o clima misterioso. A Ha tentava entender se aquilo deveria ser uma piada.

“É sério?” Ela perguntou.

“Uhum.” O garoto assentiu de maneira simples. “É porque o semestre mal começou, mas ela sempre traz para o lanche durante a tarde aqui no clube.”

“Não sabia dessa parte.” Haruna coçou levemente o queixo.

“Vivendo e aprendendo.” O Son cruzou os braços.

Então, mais batidas na porta. Os três chegaram a pensar ser a professora novamente, mas foi outro rosto simpático.

“Vão limpar a piscina, né?” Yerim sorria, mostrando somente a cabeça. “Eu vim entregar a chave.” A garota jogou o item para o primo. “Oi, Haruna.” Ela falou após o feito e acabou ganhando um aceno da nova integrante. “Fico feliz de andar com eles, são ótimas pessoas, apesar de eu ser um pouco suspeita para falar.”

“Devia ir com a gente.” Dongpyo disse, atraindo o olhar da garota imediatamente. “Tem algo para fazer? Ninguém liga se der uma fugidinha.”

“Eu sou Presidente do Conselho Estudantil...”

“Ia servir de exemplo.” O Son encarava bem a parente. “Eu, você, Haruna e a Yeojin.”

A mais alta acabou mirando a Ha por alguns segundos antes de abrir melhor a porta.

“Ok, vamos.”

Yeojin ficou surpresa, mas Haruna e Dongpyo trocaram olhares um pouco risonhos.

A piscina, pelo menos a que iriam limpar, ficava no topo de um dos prédios da escola. Os quatro chegaram lá em cima após colocarem o uniforme de educação física e retirarem os sapatos. O clima era meio frio, mas, ainda assim, era melhor do que aguentar um sol em cada cabeça.

“É isso aí.” Dongpyo dizia ao abrir um compartimento de ferro por ali. Equipamentos de limpeza ficavam lá dentro. “Yeojin, desenrola as duas mangueiras.”

A Ha somente direcionou o polegar e foi até o outro lado da piscina para completar a tarefa. Yerim e Haruna ajudavam o garoto a pegarem o necessário. Felizmente, para facilitar, a piscina já estava vazia.

E, ao contrário do que muitos pensavam, o quarteto era quieto e calado cumprindo aquela atividade. Quieto porque Dongpyo pensava em uma maneira de fazer Yerim e Yeojin interagirem. No momento, a Ha ia jogando água e a Son puxava o líquido com um rodo.

“Elas não se ajudam, né?” Dongpyo tomou um susto ao ouvir a voz de Haruna, que se colocou silenciosamente ao seu lado enquanto manuseava a outra mangueira.

“Jesus.” O garoto colocou a mão no peito com o susto, mas logo se recompôs. “É, não se ajudam, só sabem falar por mensagem.”

“Tem algum plano?”

“É isso que estou pensando.”

“Se eu fizer algo... Não fica com raiva?” Haruna virou o rosto lentamente na direção do menino, que juntou as sobrancelhas.

“Acho que não.”

E assim, Haruna colocou o dedo na água da mangueira e fez uma rajada de água ir na cara de Dongpyo.

Yerim e Yeojin se assustaram com o barulho e os xingamentos do garoto, mas logo começaram a rir, somente para Haruna também as atacar com água.

Em questão de tempo, todos mais se molhavam do que realmente realizavam a atividade.

Se tornava interessante ver os quatro unidos, brincando e fugindo uns dos outros. Dongpyo tentava revidar de alguma forma, já Yerim colocava a Ha na frente da Osato para também não deixar de sair enxarcada.

A relação deles com aquele tipo de diversão também era algo a se pensar. Dongpyo e Yerim lembravam de memórias um pouco distantes, quando aprontavam no quintal aproveitando o fato de ninguém estar olhando.

Haruna somente observava, através das grandes janelas de seu quarto, tocando a chuva ao encostar a mão na janela. Já Yeojin se recorda das pequenas aventuras na rua durante a quadra chuvosa com outras crianças da região.

Mas ali estavam, todos reunidos.

Mesmo com todas essas brincadeiras e risadas, algo incomum vindo de uma instituição que muitas vezes parecia ter robôs, ao invés de alunos, o quarteto terminou o que deveria fazer.

No fim, o grupo se sentou no chão da piscina limpa, todos encharcados. Dongpyo, Haruna, Yerim e Yeojin em ordem. Não era difícil perceber estarem cansados.

“Caramba.” Dongpyo suspirou.

“Foi divertido.” Yerim riu um pouco.

“Só está um frio da porra, agora.” Yeojin disse ao se abraçar.

“Eu não me importaria de fazer isso novamente.” Haruna segurava os joelhos.

“Os banheiros do andar de baixo desse prédio devem estar vagos.” O Son comentou. “Aqui tem secador de roupa, né?”

“Tem, sim.” Yerim afirmou. “Colocaram semestre passado.” A garota olhou rapidamente o primo. “Está ficando bem tarde, espero que o pessoal do Conselho não tenha se incomodado.”

“Você pode fazer o que quiser, ninguém vai reclamar.” O garoto deixou escapar uma leve risada. “Nem vive fazendo isso também, relaxa.”

“Concordo.” Yeojin dizia, de olhos fechados. “Essa vida de não poder se divertir é uma porcaria.”

“É verdade.” Haruna assentiu. “Eu só não tinha com quem sair, mas eu entendo, Yerim, você tem toda uma reputação a zelar.”

Uma reputação para simplesmente ainda ter alguma aceitação por parte do pai, porém era melhor evitar o comentário.

“Vocês vão ao jogo na sexta?” Yerim acabou por mudar o assunto.

“Vamos sim, a Yeojin vai jogar também.” Dongpyo disse.

“Combinamos de ir durante a primeira aula.” A Osato também confirmou.

“Eu... Vou jogar, né, então...” Yeojin deu de ombros.

“Espero que vão para me ver também.” Yerim pendeu levemente a cabeça.

“Claro que sim!” Dongpyo se exaltou um pouco. “Jurou muito achando que eu não iria ver você, minha maravilhosa prima, bater bolinha.”

As três riram um pouco.

“A Hyeju vem?” O menino acabou por perguntar.

“Vem né, principalmente pelo fato de que meu pai não vai poder vir.”

Os três notaram a Son meio distante, então trocaram olhares e perceberam que era melhor mudar de assunto.

“Depois da festa amanhã, vamos fugir.” Dongpyo deixou escapar, atraindo o olhar da prima. “Sei que vão te arrastar, mas vamos tentar.”

“Não posso combinar nada, porque realmente não sei como vão me tirar de lá, mas se tentarem me tirar, eu vou colaborar com vocês.” Yerim assentiu. “Apesar que seria legal sair todo mundo junto.”

“Yerim, o Joshua e a corja dele vão estar lá, simplesmente não rola.” Dongpyo apertava os cabelos na tentativa de tirar água.

“É...” A Presidente somente comprimiu os lábios.

“Pois é melhor irmos nos secar.” O jovem se levantou após se chacoalhar um pouco por conta do frio.

As outras três foram se levantando também. Dongpyo foi na frente, com Haruna não muito atrás, já Yerim começava a caminhar ainda, mas foi impedida pela Ha segurando na barra de sua blusa.

Hum?

“Não ache que a gente odeia todo mundo do time.” Yeojin atraiu o olhar da outra. “Só é difícil conviver com algumas pessoas, no meio das pessoas legais, que ferraram com a gente, principalmente seu primo. Ainda vai ter uma oportunidade de sairmos com a parte legal dos seus seguidores.” O leve tom de piada na última frase fez a Son sorrir pequeno.

“Eu entendo.” Yerim assentiu. “Foi difícil para o Pyo na época... Se ainda ando com a parte considerada podre é pelo fato de não querer confusão por causa da minha reputação com a escola e família.”

A reputação do meu pai se apoia na minha por tabela.

Vish...

“Deve ser difícil.”

“Tentar agradar todo mundo sempre foi uma tarefa difícil, praticamente impossível.” Yerim riu sem graça. “Mas sobre o jogo... Sua família vem?”

Yeojin piscou algumas vezes, pois ainda não tinha tocado no assunto. Falou do jogo, só não especificou data ou algo do tipo.

“Vou fazer o convite hoje, muito provavelmente vem sim.”

“Ótimo.” Yerim parecia genuinamente feliz. “Posso conhecer a Chaewon.”

Quero saber se ela é engraçada como a Hyeju diz.

Mas que tipo de humor doido sua irmã tem?

A menor fez de tudo para não fazer uma pequena feição sem graça, pois não tinha ideia se sua querida titia gostaria de ir em seu jogo.

“Pois é...” A garota deu um sorriso amarelo. “E eu posso conhecer a Hyeju.”

“Claro, ela vai adorar você.”

Se o Dongpyo gostou, então é fácil por parte dela.

Amém.

“Bom saber.” A Ha sorriu sem mostrar os dentes. “Seus pais realmente não vêm?”

A Son ficou levemente surpresa, mas disfarçou rapidamente.

“Depende da agenda.”

Pelo menos meu pai.

Claro, seu pai cumprindo a agenda de lorde do crime.

Já minha mãe... É complicado.

Morreu? Porra, melhor mudar um pouco de assunto.

“Sem problemas, vão ter pessoas torcendo por você.”

Aquilo fez Yerim sorrir pequeno.

“Somos do mesmo time, mas eu também vou estar torcendo por você, óbvio.” Yeojin acrescentou ao sorrir e segurar a mão da mais alta. Não tinha isso em mente, mas naturalmente fez aquilo.

Deus!

O quê?

Minha mão!

Não percebi. Eu vou solt-

Não solta, por favor.

Ah... Está falando comigo telepaticamente, fia?

Ela não soltou, então acho que estou no caminho certo.

Ok, não está... E não vou soltar, quer dizer, se eu não tiver um piripaque.

O diálogo mental durava segundos e Yeojin simplesmente disfarçava todas aquelas informações para continuar segurando na mão de Yerim, afinal, aquilo não era nenhum pouco ruim.

“Vamos?” A Ha criou um pouco mais de coragem ao passar a caminhar de mãos dadas com a Son, que não hesitava em apertar a sua mão de volta.

Enquanto isso, Dongpyo e Haruna disfarçavam não terem espiado e caminhavam mais à frente.

“A gente finge que não viu?”

“Sim, Haruna.” Eles cochichavam.

E aquele momento na piscina foi responsável por fazer Yeojin ficar em um ótimo humor. Chaewon até estranhou quando a foi buscar no ponto de ônibus, mais ainda quando Jungeun ganhou um boa noite da caçula.

Aquele com certeza era um jantar em família mais feliz do que o normal. O bom humor de Yeojin era bem perceptível, fazendo as mais velhas, com exceção de Chaewon, também ficarem um pouco mais animadas. Jungeun mal podia acreditar em ter recebido um sorriso da caçula.

“Aconteceu alguma coisa, Yeojin?” A mais nova levantou a cabeça, enquanto comia, para encarar Sooyoung.

“Foi só um dia legal.” A mais nova assentiu.

“Que bom, então.” Sooyoung sorriu um pouco.

Jungeun observava a cena com certo ânimo, já Chaewon carregava uma pequena careta.

“E eu lembrei de uma coisa.” A jovem disse após comer mais uma garfada. “Meu jogo de vôlei é sexta, podem ir? São nacionais.”

“Claro que sim.” Sooyoung levantou as sobrancelhas. Querendo ou não, Yerim fazia parte do time, então existia a probabilidade de Youngsoo estar lá.

Yeojin sabia exatamente sobre o pensamento da missão estar consumindo a mais velha e chegou a pensar em perguntar sobre a mãe de Yerim, confirmar se realmente havia morrido, mas talvez aquilo virasse uma grande bola de neve envolvendo mentiras tanto com as mais velhas quanto com seus amigos, então preferiria ver isso de maneira mais simples com Dongpyo.

“Vocês vão?” A garota alternou os olhares entre Chaewon e Jungeun.

“É durante a noite, não é?” Jungeun perguntou e recebeu um assentir positivo. “Vou sim, mal posso esperar para te ver jogar.” O tom carinhoso da mais velha, além do bom humor natural de Yeojin, fez a garota ficar genuinamente feliz pela notícia.

“E você?” A caçula encarava Chaewon, que franzia os lábios.

“Vou nada, tenho que estudar.” Na cabeça dela, aquele jogo não tinha nada a ver com sua parte da missão e ainda era perda de tempo, poderia passar o resto do tempo investigando coisas por conta própria.

“Devia ir.” Sooyoung chamou a atenção da garota. Não era difícil notar a mulher querer algum tipo de reforço na noite do jogo, pois, mesmo se Youngsoo não aparecesse, talvez surgissem outras pessoas importantes.

A cara da loirinha gritava um ‘Se vira’.

“Se ela não quiser ir, tudo bem.” Yeojin deu de ombros, pouco incomodada, mas menos animada, pois Yerim iria querer conhecer a sua querida titia. “A irmã da minha amiga vai. Yerim iria me apresentar ela, e eu iria apresentar você.”

“A Hyeju vai?” Chaewon olhou a menor praticamente de soslaio. Yeojin somente assentiu. “Eu vou.”

Jungeun e Sooyoung trocaram olhares, a antiga Kim parecia realmente surpresa.

Yeojin ficou feliz por usar a carta na manga, pois com certeza Chaewon iria pela missão, sempre pela missão.

“Lembrei aqui.” Sooyoung juntou as sobrancelhas. “Sábado é o bingo, não esqueçam.”

“Já separei a roupa faz tempo.” Jungeun pontuou.

“Esse treco não deveria ter sido semanas atrás?” Chaewon dizia de maneira cansada.

“Deveria.” Yeojin falou após bebericar um pouco de suco. “Mas um pombo entupiu a gralha e precisou ser adiado por medida de segurança, aí enviaram avisos formais e precisaram renovar a data para um dia que não ficasse ruim com a maioria do pessoal.”

“Um pombo, sério?” Chaewon fez uma careta.

“Pobre pombo.” Sooyoung recordava do e-mail.

                                         

                                                              

                                               

Yeojin abriu a porta do quarto devagarinho. A garota usava um conjunto de pijama feito de lã creme e portava meias brancas nos pés. Já deveria ser umas dez e meia da noite e o apartamento se encontrava escuro.

O objetivo da garota era somente ir até à cozinha e beber água, algo que fez, acabando por notar alguém na varanda, que era resguardada por uma porta de vidro.

A garota não precisou ouvir muito, através de seus pensamentos, para notar ser Sooyoung sentada em uma das poltronas naquela noite meio fria. A mais velha usava calças de tecido e uma blusa larga cinza escuro. Uma taça de vinho repousava na pequena mesinha redonda de vidro logo ao lado de onde a mulher estava.

“Ainda está acordada?” Sooyoung perguntou assim que ouviu a porta de correr se abrir, ela nem mesmo olhou quem era, mas sabia só pelos passos meio apressados.

“Fui tomar água.” A garota não sabia se pretendia demorar, mas acabou por se sentar na poltrona ao lado. “Está sem sono?”

“Eu sempre venho aqui tomar uma dose antes de dormir.”

“Pensei que a Jungeun estaria aqui por andarem grudadas.”

“Ah, não, ela ficou no quarto dela.” Yeojin percebeu a outra sorrir.

Casadas e dormindo separadas... O pior é você falar isso com normalidade como se qualquer pessoa não fosse perceber.

“Entendi.” A menor abraçou as pernas, pois o tamanho da poltrona era o suficiente.

“Está nervosa para o jogo essa semana?” Sooyoung finalmente encarou a garota, que somente piscou rapidamente os olhos.

“Um pouco, venho treinando bastante.” Yeojin sorriu pequeno.

“É...” Sooyoung suspirou. “Mas, e aí?” A mulher começava a ganhar tons mais brincalhões.

“E aí o quê?”

Não se faz de besta, Yeojin...

O quê?!

“Você estava toda feliz hoje, parecia coisa de adolescente apaixonada. Sorriu até para a Jungeun.”

“Ué, e não posso?”

“Claro que pode... Eu só sei.” Sooyoung riu levemente antes de bebericar a taça de vinho.

Yeojin se sentiu nervosa. Não é como se tivesse certeza sobre gostar de Yerim realmente, mas sentia coisas e isso a assustava. Poderia se calar e ir para o quarto, fingir que nada estaria acontecendo, mas também poderia realmente usar de ajuda familiar. Sooyoung era uma espiã das boas e com certeza, só observando, Yeojin tinha certeza de aquela mulher ser muito boa na área do tal dito romance.

“Ok... Tem algo meio que rolando.” Falar aquilo para alguém ouvir a deixava envergonhada, mais do que esperava.

“Diga.”

“É a Yerim.”

Sooyoung deu um pulo na poltrona, não a ponto de sair, mas passou a encarar a mais nova com genuína surpresa.

“Como assim? A Son Yerim, é isso?” Seu tom chegava a ser engraçado.

“É...” Yeojin virava levemente o rosto. “Ela gosta de mim, meio que a escola toda percebeu, incluindo meus amigos. Até inimigo acabei ganhando por causa disso, mas nada que precise se preocupar, é besteira de colégio.”

“Son Yerim gosta de você?” O sorriso de Sooyoung ia aumentando. “Isso é melhor do que eu esperava.”

“Ok...” Yeojin fez uma pequena careta e a mais velha acabou por notar e logo começou a se recompor.

“Digo...” Ela cruzava as pernas na poltrona. “Ela é de família muito boa, é um baita partido.”

Eu espero que pelo menos você me dê alguma ajuda depois dessa merda acabar, porque se eu namorar com a Yerim... Como vou dizer que vocês me abandonaram? E por que eu estou falando de abandono? Por que eu estou falando de namoro?

“É, isso todo mundo sabe.”

“E você gosta dela?” Sooyoung já estava começando a parecer uma fofoqueira de revista.

Eles crescem tão rápido...

Jesus...

“Acho que sim...” Yeojin vacilava com o olhar. “É muito recente, nem sei se ela tem toda a certeza ainda. Eu acho que posso gostar dela, é só questão de tempo. Bonita ela é, deixa a escola toda maluca.”

“Entendi...” Sooyoung relaxou em seu assento. Não precisava de muito para notar a felicidade da mais velha.

Yeojin chegava a se incomodar um pouco, pois não é como se estivesse feliz por ela, mas feliz somente pela missão.

“Fico feliz por você.” Sooyoung disse. “De verdade. Acho que depois de anos naquele orfanato, deve ser legal experienciar essas coisas.”

A Yerim gostar de você é maravilhoso, mas estabelecendo amizade já seria o suficiente.

Yeojin tinha um certo choque no olhar.

“Fazendo amigos e gostando de alguém, fazendo coisas normais... É algo que se deve valorizar. Espero que se divirta no jogo.” Sooyoung acabou por levar sua mão ao topo da cabeça de Yeojin, aproveitando para bagunçar levemente seus cabelos.

Aproveite e faça coisas que não pude...

A menor agradeceu por estar escuro, pois sentiu uma leve vontade de chorar. E, para evitar a vergonha de chorar ali, aproveitou para lançar outra pergunta, outra vergonha.

“Tem alguma dica sobre o que fazer com esse negócio da Yerim?”

Sooyoung arregalou levemente os olhos.

“Hum...” Ela pareceu entender. “Você quer saber como ser boa na arte da conquista.”

“É...” Yeojin contorcia a cara, era vergonhoso ver o jeito de Sooyoung sobre o tópico.

“Se ela gosta de você, então está no caminho certo. Fora isso, mostre interesse nela, tome atitude, atitude é importante.” A mulher gesticulava e parecia falar consigo até finalmente apontar para a jovem. “E dança.” Ela sorriu.

“Dança?”

“Dança.”

“Tudo bem...” Yeojin semicerrou os olhos. “E como isso vai me ajudar?”

“Nunca desperdice a chance de dançar com ela caso tenha. Chame ela ou tire proveito de alguma situação com música. Dance.” Sooyoung mexia os dedos como se fizesse mágica. “Se eu gostar de alguém, vou dançar com ela.” A mais velha suspirou.

“E você já dançou com alguém que gostava de verdade?”

“Hã?” Sooyoung parecia ter sido pega de surpresa. “Bem...”

Aí, cara, eu quero mais uma dose!

Putz.

Yeojin não percebeu a garrafa no chão, e Sooyoung a puxou para justamente encher a taça novamente, logo dando um gole grande.

“Eu acho que está tarde, tenho escola amanhã, então já vou.” Yeojin foi se levantando.

“Boa noite, filha.” Sooyoung deu leves tapinhas no braço da garota.

“Boa noite, mãe.” A garota acabou por genuinamente rir ao sair daquela varanda.

Só esperava que Sooyoung não passasse a noite bebendo, ou pior, chorando, ou ainda pior, bebendo e chorando.

E sexta chegou com um ar diferente principalmente para Chaewon que finalmente havia aceitado o convite de Hyeju em participar do trabalho voluntário no abrigo de animais. Chaewon gostava sim de animais e achava interessante todos ali, especialmente aquele gato cinza... Ele tinha o rosto divertido.

Hyeju percebia a troca de olhares intensos entre a garota e o animal, pensando que os dois até se pareciam devendo ser as sobrancelhas. Sim, sobrancelhas. Existiam manchas brancas no rosto dele que pareciam desenhar sobrancelhas e um bigode nos pelos cinzas da face. Era extremamente cômico.

O mais engraçado? Hyeju não sabia que Chaewon poderia ser tão impulsiva ao dizer que queria adotar o gato.

“Chaewon tem certeza?”

E ela somente foi para o balcão ajustar os papéis.

Chaewon precisaria voltar mais cedo para deixar o animal em casa, impedindo com que fosse com Hyeju para o jogo, mas se encontrariam lá de qualquer forma. Pelo menos agora tinha companhia em casa.

Horas depois, Sooyoung abria a porta do apartamento com uma Jungeun risonha ao seu lado, elas vinham conversando após passarem um tempo em uma cafeteria. Umas das muitas saídas que a mais alta organizava depois de pegar a outra no trabalho.

A diferença era o fato de Chaewon, usando um conjunto de moletom preto, estar com um gato em cima do colo enquanto vê televisão.

“Chaewon?!” Sooyoung tinha um certo tom de choque, estranhamente o gato e a garota olharam para a mulher ao mesmo tempo, assim como a ignoraram completamente segundos depois.

“Ele é fofinho.” Jungeun deu um pequeno riso. “Vou tomar banho.” A mulher fez um leve carinho no braço de Sooyoung e se retirou, ela realmente não ligava em ter um animal no apartamento..

“Ah, ok, querida.” A Ha assumiu outra postura mais simpática ao olhar rapidamente a outra, então retornou a encarar a mais nova com os olhos arregalados. “Chaewon?!” A mulher tentou chamar atenção novamente.

“A Jungeun não reclamou.”

“Um gato?”

“O que tem contra eles?” Chaewon revirou os olhos. “Ele fica na dele, super comportado, além disso, comprei todos os negócios de gato. A Hyeju me ajudou.”

“Chaewon, nós estamos em missão.” Sooyoung sussurrou ao checar rapidamente o corredor.

“Existem agentes que tem animal, não sei o motivo de ficar aí na beira de um ataque de pelanca, concorda, gato?”

O animal miou sem nem levantar a cabeça de onde estava deitado.

Sooyoung suspirou colocando as mãos na cintura. Era verdade que outros agentes chegavam a possuírem animais de estimação, alguns até ajudavam em missões. Não era difícil achar hotéis para os bichos e a EGO até possuia uns parceiros.

A mulher gostava de gatos, felizmente, só não esperava algo assim tão de repente. Chaewon sempre quis um animal desde criança, mas pensou que tal vontade havia sido superada, mas, pelo jeito, não.

“Ok...” Sooyoung caminhou até a poltrona de frente para a garota. “Mas eu não vou limpar nenhum cocô ou xixi, você se vira, é o seu gato.” Ela se sentou.

“Nem te pedi para fazer isso, eu hein.” Chaewon deu de ombros.

Sooyoung aproveitou para reparar melhor no animal, finalmente podendo notar os detalhes de seu rosto. O felino percebeu o olhar e acabou por encarar a mulher, que arregalou levemente os olhos.

“Isso é real?” A Ha mais velha juntava as sobrancelhas. Notando agora a gravata borboleta no pescoço do animal.

“O bigode e as sobrancelhas? Sim.” Chaewon não tirava os olhos da televisão.

Sooyoung suspirou.

“Você adotou ele por isso, não foi?”

“Sim, ele tem bigode e sobrancelhas.”

“Qual o nome dele?”

“Gato.”

A mulher alternou o olhar entre a irmã e o animal com certa incredulidade.

“Você tem um gato com bigode e sobrancelha e dá o nome de... Gato?!”

“É, Gato.” Chaewon então encarou a mais velha com uma das sobrancelhas arqueadas. “Mas o que foi aquele ‘querida’?.”

Sooyoung somente pegou o controle da televisão e aumentou um pouco mais o volume.

Os dias de jogos tornavam Sonatine um lugar extremamente vívido. Dongpyo gostava, pois era uma chance de ver todo mundo reunido, isso significava ver as pessoas legais que dificilmente conseguiria encontrar devido aos horários e tamanho do colégio.

Haruna nunca teve motivos para ficar até tarde a fim de ver jogos, então ficava quase que deslumbrada com o tamanho da festa. Sonatine realmente sabia torcer.

A garota segurava o braço do outro para não se perder no fluxo de pessoas. Ela nunca havia visto Dongpyo acenar e sorrir para tanta gente, era quase como se fosse popular. E, muito provavelmente, se não fosse por Joshua, o Son seria.

Os dois tomaram fôlego ao chegarem perto dos vestiários. Várias jogadoras já estavam no corredor, Yeojin sendo uma delas. A garota se encontrava perceptivelmente nervosa, mas seu rosto ganhou um pouco mais de ânimo ao ver seus amigos.

“Ver você com esse uniforme e esses tênis brancos te dá um ar de importância medonho.” Dongpyo deu um leve tapinha no ombro da garota. A blusa dela, diferente das outras jogadoras, era preta com vinho, ao invés de somente vinho.

“Eu estou quase me cagando aqui.” Yeojin ajustava o rabo de cavalo meio frouxo.

“Respira, véi, você treinou para estar aqui.” O garoto cruzou os braços.

“É, tem uma reserva se você passar mal.” Haruna disse e recebeu olhares meio intrigados dos outros dois. “É bom você não passar mal, mas entendeu meu ponto, só dê o seu melhor.” Ela obviamente ficou sem jeito, mas logo os dois riram, fazendo com que risse também.

“Vamos, abraço triplo.” Dongpyo, por ser um pouco mais alto que as duas, abriu os braços e as envolveu com sucesso.

Yeojin respirou fundo, aproveitando o contato de seus amigos. Aquele era seu primeiro jogo de vôlei oficial, ainda mais no campeonato escolar nacional. É, ela precisava de muito apoio.

“O Jimmy Neutron tinha que aparecer.” Dongpyo disse quase em um rosnado. O abraço triplo havia sido desfeito, mas matinham se segurando pelos ombros.

Joshua conversava animado com Yerim, também era possível ver a forma como ele procurava qualquer mínima abertura para conseguir fazer contato físico com a garota, especialmente segurar suas mãos. A forma com que ele falava chegava a passar um ar de inocência, completamente diferente de quando estava com outras pessoas. Ele parecia até... Charmoso.

E o trio fez uma completa careta quando o garoto acabou por abraçar Yerim, que em toda sua generosidade, retribuiu.

“Vou dar uma banho de sal grosso na minha prima.” Dongpyo falou automaticamente.

“Pelo menos ele consegue ser sincero com alguém, pelo menos fazer mal para ela não é algo que possa acontecer.” Haruna deu de ombros.

“É... É com a gente.” Yeojin suspirou. “Mas eu estou de boa, ela gosta de mim, não dele.”

Haruna e Dongpyo trocaram olhares surpresos. Yeojin soava confiante, até mesmo desdenhosa, mas levemente brava.

“Reunião do time nos vestiários!” Uma voz ressoou de dentro do cômodo, fazendo com que o trio precisasse de despedir.

Yerim entrou rapidamente, mas não antes sem acenar para os três. Enquanto isso, Yeojin recebeu conversa motivadora como se estivesse indo para uma guerra.

“Vai dar certo, a gente vai estar na arquibancada.” Haruna levantou os polegares.

“Sim, de pompom e tudo.” Dongpyo afirmou seriamente.

Yeojin riu levemente e bateu as palmas de suas mãos nas de seus amigos, então entrou no vestiário.

O clima lá dentro parecia mais tenso. Yerim era a que dava o discurso motivador por ser a capitã, chegava a ser hipnotizante para a Ha. Hipnotizante de forma que Yeojin se assustou quando passaram a bater palmas.

Agora não havia alternativa a não ser jogar. O time todo começava a se encaminhar para o corredor.

“Yeojin, vamos.” Yerim surgiu ao seu lado, ela parecia um pouco apressada por precisar ficar no começo da fila por conta do cargo de capitã.

“Estou indo, só vou olhar meu celular rapidinho, porque minha mãe falou sobre vir.” Aquilo era verdade.

“Tranquilo, só não demora muito, boa sorte para nós duas.” Yerim deu seu melhor sorriso, fazendo Yeojin retribuiu, mas sem mostrar o dentes.

Quando a Son saiu, enfim a menor relaxou mais. Ficar perto daquela garota a deixava nervosa sem nem mesmo perceber, com o tempo essa sensação de nervosismo ficava cada vez mais frequente.

Portanto, agora restava checar o celular. Sooyoung falou que avisaria quando chegasse. E, bem, ela avisou. O aviso era uma foto dela na arquibancada, ela e Jungeun estavam bem próximas, enquanto Chaewon ficava um pouco mais distante, e olhando de soslaio.

Yeojin acabou por sorrir. Todas haviam ido e isso a dava uma sensação de nervosismo, mas também conforto.

Por um segundo, era como se fossem uma família de verdade.

Dongpyo e Haruna iam para a arquibancada, percebendo a família de Yeojin ali perto e ficando surpresos com a beleza do trio, além disso Dongpyo notou Hyeju ao lado da mais jovem das três.

“Mas são a perdição das irmãs Son mesmo, né?” Dongpyo cochichou com Haruna ao se sentarem.

“Parecem boas pessoas.”

“É, a patricinha de Beverly Hills, a legalmente loira e a Miss Simpatia.” Haruna riu do comentário. “Olha, lá vem os times.”

A torcida gritou muito quando elas entraram, principalmente Yerim, que pareceu murchar quando notou a falta do pai na arquibancada.

“Pai é foda, né?” Ele comentou com Haruna.

“Verdade, ele não veio.”

“Ai, o jogo vai começar.” Ele juntava os braços com a garota por estar nervoso. “Qualquer coisa você me ressuscita.”

“Eu não sei ressuscitar.”

“Você é tão boazinha que ia ser fácil barganhar com Deus.”

“Ousadia sua achar que vai para o céu.”

“Haruna?!” O rosto de indignação fazia Haruna segurar um riso. “Meu Deus, eu estou criando um monstro!”

E enfim o jogo começou.

“Posso sentar aqui? Está tudo lotado.” Dongpyo encarou o dono da voz com uma singela raiva no olhar.

“Matthew?” O suposto estranho deu um sorriso simpático e simplesmente sentou-se, Dongpyo agora parecia meio surpreso. A arquibancada vibrava com o jogo frenético acontecendo na enorme quadra. “Já voltou do intercâmbio?”

“Primeiro pensei que fosse me chamar de Matheus como sempre.” O garoto riu.

“Ok, Matheus.” O Son fez uma pequena careta. “Por que não foi sentar com seu melhor amigo Joshua?”

“Já falei que está tudo lotado.” Matthew usava blusa cinza, jaqueta preta e jeans. Ele não era muito mais alto do que Dongpyo. O garoto tinha os cabelos castanhos caindo lindamente pelo rosto, no geral, ele parecia um modelo de bochechas fofas e olhos pequenos.

“Esse aí é o Matthew do 2° B?” Haruna, percebendo a interação, resolveu cutucar o amigo.

“É.” Donpgyo voltou sua atenção para o jogo. “3° B, agora.”

“Por que ele não foi sentar com o Joshua? Eles não são os príncipes da escola?” Haruna tinha os braços cruzados. “Assim, né, só o Matthew poderia ser considerado algo assim.”

“Qualé, Haruna, você gosta do Matheus assim como a escola toda?” Dongpyo encarou a amiga com uma careta.

“Não.” A feição pequena de nojo da garota fez o outro voltar a encarar o jogo. “Eu só sei que ele é de boa. Basicamente a Yerim de cueca, eles até se parecem.”

“Pior que é...” Dongpyo revirou os olhos.

Matthew batia palmas após mais um ponto marcado pelo time de Sonatine.

Ele gritava o nome de Yerim, já que eram bons amigos por simplesmente serem colocados no pedestal juntos. Por um tempo, a escola inteira achava que seriam namorados, mas os dois chegavam até a serem parecidos fisicamente, então achavam as suposições esquisitas.

Portanto, a fanfic clichê do goleiro e capitão do time de futebol, filho de empresário do ramo tecnológico, com a capitã do time de vôlei e Presidente do Conselho Estudantil, filha de político, poderia ser arquivada nos confins da terra.

Porém, a única coisa que não fazia sentido era a amizade do garoto com Joshua. Todo mundo sabia que Joshua havia se aproximado somente para impedir qualquer chance de Matthew com Yerim, mas isso já fazia bastante tempo. Além disso, não são nem da mesma turma.

“Oi, Matthew, beleza?” Hyeju, que olhou seus arredores por um minuto, acabou reparando no garoto ao lado do primo, então esticou o braço, passando por Haruna e Dongpyo, até cumprimentar o garoto. “Me disseram que tinha ido para um intercâmbio.”

“Pois é. Ele respondia tentando falar um pouco mais alto que a gritaria. “Eu já tinha me ajustado para voltar justamente nessa época até para a formatura com a minha turma.”

“Entendi, bem vindo de volta.” Hyeju sorriu para o menino, que retribuiu.

“Valeu.”

Dongpyo e Haruna, que acompanharam toda a interação, trocavam olhares.

“Ainda bem que ele não ameaça nenhum pouco as chances da Yeojin, senão ela teria problemas.” Haruna comentou baixinho.

“Caramba, Haruna, quem precisa de inimigo, né?”

“Eu só sou um pouco realista, o cara é o príncipe do colégio. Vai, me diz aí algo que ele fez de errado?”

Dongpyo bufou. Realmente não existia nada. Na verdade, Matthew sempre fazia Joshua mudar de rota ao perceber o Son por perto, até mesmo foi ele que contou para a Yerim sobre o bullying a fim de fazer Joshua parar de vez. Matthew não fez nada mais do que ajudar.

“Cu.” Foi a única coisa que Dongpyo disse.

Enfim, Dongpyo passou novamente a realmente prestar atenção ao jogo. Já estavam no último set e faltavam poucos pontos para Sonatine conseguir a vitória por 3 sets a 2. Yeojin vinha jogando competentemente e se podia perceber a animação por parte de Sooyoung e Jungeun ao notarem as habilidades da garota.

E o momento de tensão veio quando finalmente faltava somente um ponto. O time todo se preparava para o saque vindo do inimigo. Yeojin tirava suor da testa e tomava posição na área defensiva.

A garota que iria sacar deveria ter quase um e noventa de altura, aquele saque viria uma bomba.

E ele veio. E veio bem na direção de Yeojin, que conseguiu defender, mas com a cara.

Uma enorme bolada na cara que a fez dar uma cambalhota.

YEOJIN, Sooyoung quase levantou do banco.

Pelo menos não está sangrando, Jungeun fez uma careta.

Trágico, uma minimamente afetada Haruna pensou

Cabeça de titânio! Dongpyo riu.

Ver gente se fodendo nunca deixa de ser engraçado, obviamente Chaewon

A irmã dela levou uma bolada na cara e ela rindo... Mas o sorriso dela é tão bonitinho. Hyeju pensava, alternando o olhar entre uma irmã e outra.

“Yeojin!” Yerim gritou na quadra, mas a Ha ainda se manteve estável depois da cambalhota e simplesmente levantou o polegar.

“Vai!”

O grito foi o suficiente para o time se organizar e preparar a bola para um ataque preciso de Yerim no canto esquerdo.

Sonatine havia ganhado.

As arquibancadas estremeceram com as comemorações e Dongpyo abraçou Matthew por reflexo, logo o empurrando, então se voltou para Haruna, que disfarçou o riso e passou a trocar olhares cúmplices com Dongpyo ao notarem Yerim rodopiando com Yeojin na quadra. Agora ninguém na escola teria mais dúvidas.

Yeojin ainda se sentia meio atordoada com toda a adrenalina do jogo. Desde a bolada, o abraço de Yerim, até a festa no vestiário. Ela nem mesmo sentiu seu rosto doer direito. Pelo menos, não havia sangrado, nem quebrado nada.

Agora ela saía dos vestiários, após tomar um banho. Ela usava calças jeans e a jaqueta vinho com preto do time, daquelas que só havia visto em filmes adolescentes. Enquanto isso, seus cabelos caíam meio ondulados pelos ombros. Yeojin estava bonita e notava os olhares de algumas pessoas ao atravessar o prédio até o estacionamento.

Algumas pessoas acenavam, seja de modo animador ou até mesmo em tom de flerte, aquele era simplesmente o efeito de fazer parte do time e ser próxima da tal princesinha do colégio. Todo mundo havia visto a cena das duas rodopiando no meio da quadra.

Apesar de se sentir envergonhada, Yeojin simplesmente sorria ao lembrar da cena e a sensação. Se sentia confiante e isso reverberava na forma como andava e passava a mão pelos cabelos ao caminhar.

Dongpyo foi o primeiro a notar sua presença. Ele assentia todo orgulhoso ao notar a amiga lindamente caminhando até o pequeno grupo no estacionamento. Além de seus amigos, suas mães postiças, sua irmã/tia, e Hyeju estavam lá.

Sooyoung a abraçou, fazendo com que Jungeun abraçasse as duas, daquela forma seria até mais fácil de disfarçar o fato de Yeojin e ela não serem próximas. Já Chaewon a bagunçou os cabelos com a cara mais lisa do mundo, enquanto Hyeju apertou suas mãos.

“Minha irmã me falou sobre você.” A Son mais velha logo comentou ao terminar o cumprimento.

“Espero que coisas boas.” Yeojin disse meio risonha.

“Ah, foram sim.”

“Enquanto você se ajeitava, nós conhecemos seus amigos.” Sooyoung sinalizou os outros com a cabeça. “São ótimas pessoas.”

“Valeu.” Yeojin tinha certo orgulho da aprovação.

“A Yerim passou por aqui rapidinho antes de arrastarem ela a fim de irem para a festa.” Dongpyo disse.

“É...” Yeojin colocou as mãos nos bolsos do casaco. “Eu basicamente perdi ela de vista no vestiário e preferi esperar esvaziar mais antes de tomar banho.”

“Vocês não vão para essa festa? É para comemorar o jogo, não?” Jungeun perguntou. Ela estava se segurando no braço da Ha mais velha. As duas realmente pareciam um casal até pela forma abobalhada com que Sooyoung encarava a outra sem perceber.

“Eu estou confirmando a localização.” Dongpyo dizia ao mexer no celular.

“Então nem vão jantar com a gente.” Sooyoung tinha um certo tom tristonho. “Mas tudo bem. Você vem com a gente, Hyeju?”

A Son mais velha piscou os olhos e alternou o olhar entre Chaewon e o casal.

“Sim, claro. Uma pena que a Yeojin não vai, nem minha irmã, mas acho que pode ser outro dia. Vou sim.”

Yeojin não precisou de muito para notar a vontade de Chaewon em atropelar o primeiro carro que aparecesse, mas simplesmente sorriu azedo.

“Vão precisar de carona?” Jungeun perguntou ao olhar o trio de adolescentes.

“Não precisa, a Haruna aqui é o nosso Uber.” Dongpyo abraçou a amiga pelos ombros. A garota somente sorriu sem mostrar os dentes.

“Pois nos vemos mais tarde.” Sooyoung deu um pequeno sorriso. “Avisem qualquer coisa... E não chegue muito tarde, Yeojin.” Sooyoung falava ao ir se retirando, sendo acompanhada pelas outras.

“Espero que a gente se veja de novo, Yeojin.” A Son mais velha bateu as mãos com a menor.

“Vamos sim.” A garota sorriu.

Enfim, as mais velhas começaram a caminhar.

“Cuidem da Yerim!” Hyeju gritou ao longe.

Agora só restavam os três no estacionamento. Poucos carros estavam por ali e a iluminação, apesar de pouca, era o que os faziam não se sentirem tão sozinhos.

“Sua família é legal.” Haruna comentou.

“É, e assim como você está conquistando a Yerim, parece que a irmã dela vai adorar ser sua cunhada.” Dongpyo segurou um risinho. “A Hyeju está muito na da sua irmã. Eu hein, vocês jogaram feitiço nelas, foi?”

Yeojin juntou as sobrancelhas. Não tinha percebido se Hyeju possuía um comportamento diferenciado perto de Chaewon, até por não conviver, mas Dongpyo ter falado já era de se suspeitar. Agora, se Chaewon sentia o mesmo, aí era outra história... Yeojin até ficava um pouco mal pela Son mais velha, ela parecia legal.

“Haruna, pode chamar o carro.” Dongpyo encarou a garota após finalmente desligar o celular.

“Ele esteve sempre aqui.” Ao dizer isso, um ronco de motor pode ser ouvido ao lado do grupo, logo o Rolls-Royce dava o ar da graça como uma assombração.

Dongpyo e Yeojin obviamente se assustaram.

“Cristo, até o carro.” A Ha dizia ao caminhar até o carro.

“É o conceito dela, a gente não pode mexer.” Dongpyo foi logo atrás.

Enfim os três estavam na parte de trás do veículo, Yeojin logo ia bebendo um refrigerante que estava guardado no freezer do carro, já Haruna comia alguns doces.

“Toca para o inferno, motorista!” Dongpyo chamou a atenção das duas ao simplesmente gritar a sentença como se estivesse bravo. “Foi mal, sempre quis fazer isso.”

Agora as mais velhas entravam no carro para irem jantar. Jungeun achava fofa a combinação entre Chaewon e Hyeju, enquanto Sooyoung, apesar de compartilhar da impressão, estranhava o fato da irmã estar tão na defensiva. Chaewon também não sabia, mas só conseguia pensar se o ônibus na avenida conseguiria frear caso ela resolvesse pular para fora do carro.

O restaurante ao ar livre era aconchegante, a iluminação era amena e o cheiro fazia qualquer estômago roncar. Uma banda tocava a famosa Bossa Nova, enquanto várias pessoas jantavam.

O grupo se sentou perto de uma árvore enfeitada com luzes. Sooyoung e Jungeun eram divertidas e faziam Hyeju se sentir confortável, já Chaewon se mantinha bebericando um suco de limão com o mínimo de açúcar.

“Vocês irão ao bingo?” A Son perguntou, após o garçom se retirar com os pedidos anotados.

“Claro!” Sooyoung sorriu. “Nós até olhamos os prêmios ontem.”

“Eu estou maluca pelo secador de louças, nunca vi aquele modelo em loja nenhuma.” Jungeun comentou, mas logo se virou para a Ha mais jovem. “Aliás, Chaewon, você não disse se iria.”

“Eu?” A garota apontou para si e encarou as pessoas na mesa. Hyeju, especialmente, tinha um olhar de cachorro abandonado. Por fim, ela revirou os olhos. “É, eu vou para essa pataquada, vai ser engraçado.”

“Fico feliz.” Hyeju sorriu na direção da loirinha, que retribuiu com um quase imperceptível.

“Vocês são fofas juntas.” Sooyoung falava em tom levemente provocativo. “Minha irmãzinha fala de você para mim.”

“Sério?” A Son parecia feliz.

“Uhum.” A mais velha assentia vagarosamente. “Não acha, Jungeun?”

A mulher, que tomava água, logo passou a concordar com a cabeça.

Enquanto isso, Chaewon, caso reparasse bem, lidava com um certo tique nervoso no olho esquerdo. O que caralhos sua irmã estava querendo com aquilo? Revidar pelos olhares e provocações que dava em relação ao relacionamento da mais velha com Jungeun? Golpe baixo.

Já Sooyoung realmente só queria saber o que deixava sua irmã tão na defensiva desde o jogo, estranhamente parecia ser justamente o alvo da missão. Isso a fazia pensar que não conhecia muito bem os métodos de Chaewon durante suas tarefas.

Não que esse momento de provocação não deixasse de ser divertido. Sooyoung sentia que poderia brincar sem medo de ganhar uma lâmina escondida no seu sanduíche pela primeira vez.

“Somos amigas.” A jovem finalmente falou ao usar o mesmo tom da irmã. “Nos damos bem, normal, não chega nem perto de vocês duas. Isso sim é um amor de verdade, não é, Hyeju?”

“Com toda certeza.” Hyeju assentiu com os lábios comprimidos. “Notei desde a arquibancada. Inclusive, acho muito fofo quando você, Sooyoung, abre a porta do carro para a Jungeun toda vez. São um exemplo de casal.”

Sooyoung mantinha o sorrisinho de canto, porém os olhos estavam levemente arregalados. Jungeun sentia uma certa vergonha e tentava disfarçar ao coçar abaixo da orelha. Chaewon, agora, carregava um sorriso orgulhoso, já Hyeju não entendia muita coisa obviamente.

Felizmente, os pedidos logo chegaram e rapidamente passaram a comer. Sooyoung ainda se recuperava do momento anterior, mas logo viu a oportunidade perfeita para mudar de assunto.

“Não vi seus pais no jogo hoje.” Sooyoung comentava ao dar uma pausa entre uma garfada e outra. “São muito ocupados?”

Hyeju, que mastigava, respondeu logo após engolir.

“São, meu pai é um dos ministros, o Son Youngsoo.”

“Sei quem é não.” Chaewon disse com certo desdém. “Foi mal.”

“Só ouvi falar.” Sooyoung disse. “Muito pelas notícias e a Jungeun, que comentou pouco uma vez. Sabe, não somos daqui, no caso, eu e a Chaewon.”

A antiga Kim somente assentia, ela sabia da vontade de Sooyoung em conseguir parceria para negócios, além disso, a própria Ha pediu para corroborar com qualquer história que viesse para conseguir algo assim.

“Sim, ela falou.” Hyeju assentiu.

“Por seu pai ser ministro, então deve ser bem ocupado.” Dessa vez foi Jungeun. “Não vi ele no jogo.”

“É.” A Son riu sem graça. “Pois é, ele meio que sempre foi muito ocupado, então eu e minha irmã nem temos mais tanta expectativa. De vez em quando, ele aparece.”

“E a mãe de vocês?” Sooyoung questionou.

Hyeju parecia ter sido pega um pouco de surpresa com a pergunta. Ela logo pegou um pouco de suco para beber a fim de pensar antes de falar.

“Olha, não precisa falar nada caso não queira.” Sooyoung usou de sua leitura para tentar ser mais gentil, algo efetivo com o seu tom de voz. Se foi gentil do jeito certo, então Hyeju falaria.

“Não, sem problemas.” A garota sorriu sem mostrar os dentes. “Minha mãe está em uma clínica psiquiátrica faz um tempo, ela teve uns problemas.”

“Sinto muito.” Jungeun disse.

Hyeju voltou seu olhar para o prato e comeu mais um pouco. Enquanto isso, as irmãs Ha trocavam olhares. Elas sabiam muito bem do histórico envolvendo o relacionamento dos pais das Son.

Yang Youngsoo, posteriormente Son Youngsoo por conta do casamento com a herdeira Son Jihyun, veio de origem humilde e logo usou da influência advinda da família da esposa para lançar carreira política.

A empresa Biscuit S se encontrava na mão de um administrador enviado pelo próprio Youngsoo. A família Son possuía somente duas filhas, porém, com a mais velha internada e a caçula tendo sido retirada do testamento pelos pais quando vivos, deixou um caminho livre para o homem fazer como quisesse por ser pai das agora herdeiras.

Contudo, seus objetivos com Biscuit S ainda não eram totalmente claros. Obviamente retirava uma ótima renda de lá, mas a sua falta geral de interesse na empresa era um pouco esquisita.

Pelo menos, suas filhas ainda possuíam suas devidas porcentagens. Hyeju, por ser a mais velha, já tinha acesso, enquanto Yerim ainda precisaria completar vinte anos, essa era a idade na cláusula.

Nenhuma movimentação suspeita havia sido feita no nome delas, nem de Youngsoo, ele era ótimo em esconder rastros. No fim, era muito improvável que as duas tivessem algum conhecimento sobre os objetivos do pai, Sooyoung conseguia perceber em como Hyeju parecia desconfortável ao falar sobre ele.

O sentimento era de que a garota não gostava dele por simples problemas familiares, mas também por parecer conviver com um estranho dentro de casa. Um pai ausente e que só aparece ‘de vez em quando’, ou seja, quando é conveniente.

“E como vai o Gato?” Hyeju decidiu mudar de assunto, mas sua intenção não continha desespero, ela realmente queria saber sobre o animal. “Muito engraçado o nome dele ser Gato.”

“Foi você que ajudou a Chaewon, não foi?” Sooyoung pontuou.

“Ele é muito fofo.” Jungeun comentou com um certo bico.

“É, eu faço trabalho voluntário em um abrigo de animais.”

O sorrisinho orgulhoso da Son fazia com que as irmãs novamente voltassem a se comunicar através de olhares.

Hyeju parecia uma garota de ouro e as duas espiãs não poderiam baixar a guarda.

Enquanto isso, os três adolescentes chegavam no local da festa. Eles agora encaravam o enorme muro, pensando em como fariam aquilo.

“Nossa.” Dongpyo começou. “Isso está aparecend o Shrek indo salvar a Fiona.”

“O Joshua é o dragão.” Haruna comentou, fazendo os outros dois rirem. “Você é o burro.” Agora, somente Yeojin cascava o bico, apontando para o amigo.

“Cara, você tá impossível.” Ele assentia negativamente.

“Agora não tem nem como negar de esse ser o lugar certo.” Yeojin resolveu dizer antes de os dois se provocarem mais.

Ali era uma área mais afastada e também conhecida por possuir inúmeras mansões, não eram as como da tal colina perto de Sonatine, mas ainda chamavam atenção.

A mansão, onde ocorria a festa, era horizontalmente grande e continha dois andares. Sua arquitetura era moderna e as luzes coloridas refletiam nas enormes janelas de vidro. O som estava alto e os três precisavam falar em uma frequência mais acima para se escutarem.

“Como a gente vai entrar?” Haruna questionou. “Ninguém convidou a gente.”

Yeojin e Dongpyo analisavam o muro e ficaram um tempo em silêncio.

“Pézinho?” A Ha disse ao garoto.

“É, pézinho.”

“É dar um impulso bom e acho que dá para alcançar.”

“Vamos testar.” Dongpyo caminhou e se colocou com as costas no muro, logo juntando as mãos na frente do corpo para a garota subir.

Yeojin não pensou muito antes de correr e saltar na mão do amigo, para, em seguida, se agarrar no topo do muro. Contudo, o impulso foi demais e acabou por passar direto para o outro lado, apesar de ter se agarrado no concreto.

“Yeojin!” Dongpyo gritou e Haruna tinha uma certa feição de pânico.

“Estou bem!” A Ha, do outro lado, levantava o polegar enquanto tinha as costas contra a grama? Não, aquilo não era grama.

“Você pode estar, mas eu não.”

Yeojin se colocou de pé rapidamente e deu de cara com o garoto que estava ao lado dos seus amigos na arquibancada.

“Ah, cara, foi mal.” Ela estendeu a mão para o outro, que aceitou de bom grado, apesar do tombo, ele ainda sorria.

“Yeojin, o que está acontecendo?!” Dongpyo perguntou.

“Oi, Donpgyo! Sou eu, Matthew. Que ideia é essa, cara?” O garoto olhava para o topo do muro meio risonho. “Dá a volta no muro, eu vou abrir o portão.”

“Você consegue?” Yeojin perguntou meio desconfiada.

“É, eu sou amigo do Eric, já andei bastante por aqui.” Ele assentiu simpaticamente. “Dá a volta.” Disse, ao olhar rapidamente para o muro novamente.

“Tá, tá.” Um Dongpyo meio emburrado podia ser ouvido.

Yeojin agora andava lado a lado com o tal do Matthew. Ele a lembrava de Yerim, seja pelos visuais ou a forma como tinha uma aura extremamente carismática vinda dele. Com certeza deveria ser um dos populares, mas nunca o havia visto por aí.

“Você é amigo do Dongpyo?” A garota perguntou enquanto caminhavam. Ela também acabava por reparar no local da festa, vários jovens andando no enorme perímetro da casa, ela esperava que ninguém tivesse visto sua invasão e o tombo em cima daquele tal desconhecido.

“Pode-se dizer que sim, não sei se ele me considera lá um amigo. Somos colegas.” Ele dizia com as mãos nos bolsos. “Sou amigo da Yerim, ela me considera amigo.”

“Entendi...” A menor juntou as sobrancelhas. “Você estuda em Sonatine? Nunca te vi por aqui.”

“Estudo sim.” Ele rapidamente sorriu pequeno em sua direção. “Passei um tempo fora do país por conta de um intercâmbio pelo fato de ter me destacado como goleiro em Sonatine. Estudei um ano por lá, e meio que fiquei de jogador emprestado, o combinado era eu retornar justamente para o último semestre e me formar com a galera.”

“Hum.” Ela assentia. “Continua no time, né?”

“Sim, sou o capitão, vou participar dos últimos jogos, depois disso é direto para a faculdade por ter conseguido uma bolsa por jogar futebol.”

“Caramba, você deve ser bom.”

“É, eu tento.” Ele ria ao coçar a cabeça. “Você é novata, não é?”

“Sim, sou.”

“Imaginei, nunca te vi também, entrou quando?”

“Nesse semestre.”

“Pô, parabéns, não é fácil.”

“É, me falaram.” Yeojin ficou meio sem graça.

“O Dongpyo é legal, se deu bem. A Haruna também sempre pareceu gente boa, nunca entendi como tinham medo dela.”

“Eu tive medo dela no começo, mas ela é uma boa pessoa, de verdade.”

“Acredito.” Ele trocou pequenos sorrisos com a menor. “E voltando um pouco o assunto, eu não tinha te visto, mas já tinha ouvido falar como a namorada da Son Yerim, é verdade?”

“Quê?!” Yeojin dava risos sem graças e gesticulava com as mãos.

“Ok, entendi. A cena da quadra e tal, ok, está tudo bem, eu não tenho nada a ver com isso.” Ele dizia rindo.

Matthew então parou de caminhar para mexer em um painel de controle perto do portão. De lá, os dois foram até a porta menor e a abriram, logo Dongpyo e Haruna adentraram a residência.

“Valeu.” Dongpyo passou direto, se colocando ao lado de Yeojin, ainda se recompondo, enquanto Haruna fazia o mesmo, mas sem deixar de reparar em cada buraco daquela mansão, afinal, nunca havia ido em uma festa.

“Por nada.” Matthew respondia ao fechar a porta. “E aí? Vieram para a festa de penetras fazer o quê exatamente?”

“A Yerim está aí?” Dongpyo foi direto.

“Ah...” Matthew levantou as sobrancelhas. “Sinto muito, galera, mas ela foi embora faz uns quarenta minutos.”

Os três ficaram surpresos com tal informação.

“Saiu daqui com quem?” O Son tinha um certo tom de preocupação.

“Ninguém, ela falou que o pai dela havia chegado de viagem e precisava ir para casa.”

“Então... A gente vai embora?” Haruna alternou o olhar entre os dois amigos.

Dongpyo e Yeojin se encararam. Eles sabiam que não tinha muito a fazer sobre Yerim agora, além disso, só iriam para casa depois dali... Em uma sexta.

“Ah, não, fiquem. Vocês invadiram, mas a festa é para todo mundo, pô, Yeojin, você é do time que justamente é o motivo da festa hoje.” Matthew logo se pronunciou. “Se ficarem comigo, vai ser tranquilo. Tem uma mesa de sinuca lá nos fundos que pouca gente usa e fica perto da cozinha, que está lotada de comida. Além disso, ainda existem pessoas legais naquela escola, Dongpyo, tipo a galera do clube de tênis de mesa.

O Son sorriu minimamente, era realmente muito engraçado ver os integrantes daquele clube falando asneira ao ficarem chapados.

“Eu acho que a gente devia ficar.” Ele disse às duas.

“Por mim, tudo bem.” Yeojin deu de ombros. Adoraria estar ali com Yerim, mas não se podia ter tudo.

“É, vamos ver... Acho.” Haruna sentia um certo nervosismo, mas logo Dongpyo entrelaçou seu braço com o dela.

“Sem nervoso, você está com seus amigos hoje.” Os dois passavam a caminharem em direção à mansão, os outros iam logo atrás.

E assim as horas se passaram.

                                           

                                            

“Parece que é somente eu e você, parceiro.” Sooyoung dizia ao adentrar a varanda com sua taça e a típica garrafa de vinho pela metade.

A mulher se sentou em uma das poltronas enquanto Gato se mantinha na outra, a encarando.

“Por que você tem essa cara de agiota?”

O animal miou.

“Olha, você já parece meio esquisito, se você falar aí eu caio dura no chão.”

“Você fala sozinha e o esquisito é o gato.” A voz extremamente monótona de Chaewon invadiu a varanda, fazendo a mais velha tomar um susto.

“Puta merda.” A mais alta suspirou e logo passou a encher a taça.

Chaewon, com suas roupas largas, somente foi para a poltrona onde estava o animal, então o colocou no colo ao sentar-se.

“Bom jantar com sua namoradinha hoje.” Sooyoung disse após bebericar o vinho. “Vai falar nada?”

“Eu não sou uma pirralha, Sooyoung.” Chaewon fazia carinho no felino. “Você fala isso, aí eu nego e você tenta me convencer de que tem razão.”

Sooyoung somente riu.

“Você se importa com ela.”

“Ela faz parte da missão, então é, proteger ela faz parte.”

“Entendo... Acho que não preciso avisar sobre não se apaixonar.”

“Eu não me apaixono fácil, além disso, você é a última pessoa que deveria me falar algo assim.”

“Então já se apaixonou?”

“Por qual motivo eu deveria confirmar ou negar? Esse tipo de coisa não funciona no nosso tipo de trabalho.”

“É... Você tem meio ponto.”

“Meio por alguns agentes se dobrarem em trinta e conseguirem ter uma vida minimamente normal até finalmente se aposentarem e viverem o resto?”

“A esperança é a última que morre.”

“Ok, eu entendi.” Chaewon fechou os olhos momentaneamente. “Você está pensando em realmente investir de vez na Jungeun, não é? Se apegou.”

As duas ficaram em silêncio por alguns segundos. Chaewon não se esforçava em olhar a irmã, seu tom usado para falar desde o começo também não implicava em muita coisa.

“Talvez.” Sooyoung suspirou. “Acho que simplesmente só não vou mais me preocupar, vou deixar acontecer.”

“Toma cuidado.” Chaewon disse de maneira firme. “Estou te ajudando nessa, mas você precisa ter cuidado. Por mais legal que ela seja... É arriscado, não sabia que seu caso era tão sério.”

A Ha mais velha congelou com a fala. A caçula demonstrava preocupação genuína, aquilo era tão importante de ouvir.

“E vai se foder.” A jovem terminou com um revirar de olhos. Sooyoung riu.

“Ok, obrigada pela preocupação, gosto de saber que agora estamos juntas nessa, pelo jeito, andou pensando na nossa situação... É por isso que veio aqui? Mesmo eu te estressando no jantar?”

“Talvez...” Chaewon sorriu minimamente. “Hoje foi divertido de certa forma, gosto dessa nossa implicância.”

“É, me lembra os velhos tempos. Lembra quando a gente começou a discutir numa piscina? Acho que você tinha uns seis anos, foi em um parque aquático perto de Rassel.” Sooyoung começava a rir. “Você ficava me chutando.”

“Por acaso é quando aquele moleque veio reclamar que nossa briga estava respingando água nele?”

“Sim, isso mesmo, me surpreende você lembrar.”

“Ah, eu tenho ótima memória...” Chaewon sorriu um pouco mais. “A gente deu uma surra nele com os macarrões.”

“E ele saiu chorando para a mãe dele e aí ela brigou com o moleque por ter apanhado de duas garotas.”

As irmãs acabaram por rirem ao lembrarem de tal momento.

“A mãe ainda disse que tínhamos razão.” Chaewon comentou.

“E o pai desesperado pedindo desculpas.” Sooyoung bebia sua dose ainda risonha.

“Bons tempos.” Chaewon disse após suspirar.

“É...” A mais velha encarou a mais nova, que somente encarava a paisagem a frente. “Obrigada por considerar e vir falar sério comigo agora.”

“É um caminho a percorrer, mas...” Ela se mexia na poltrona. “Eu também não tenho ninguém, além de você.”

“Também senti sua falta, Chaewon.” Sooyoung se aproximou para finalmente fazer como nos velhos tempos e depositar um carinho no topo da cabeça da mais nova.

Chaewon deixou... Por cinco segundos.

“Para com isso, porra, sou grupo de risco.”

Novamente, Sooyoung riu.

“Temos muito trabalho a fazer, irmãzinha.”

O clima era ótimo entre as irmãs e Yeojin notou assim que colocou os pés de fininho na cobertura. Sooyoung e Chaewon finalmente haviam se acertado, aquela noite realmente tinha entrado para a história. E ela só chamou a atenção das mais velhas, pois se assustou com o rosto do tal gato... Ele realmente tinha bigode e sobrancelhas.

                                                         

                                                           

                                           

                                           

                                           

                                           

                                              

                                           

                                           

                                           

                                           

                                                          

Hyeju retornava para casa após passar um tempo andando por uma praça na sua vizinhança. Ela adorava fazer passeios noturnos e voltar na calada da noite.

A jovem andava com as mãos na bolsa do casaco e entrou rapidamente ao colocar a senha no portão. E ela ainda precisou andar um bocadinho até finalmente chegar perto da entrada, que tinha uma mulher familiar sentada em uma cadeira perto da porta.

“Boa noite, Son Hyeju.” A mulher alta, toda de preto, com calças e botas, possuindo cabelos curtos acima dos ombros, e olhar intimidador, logo falou sem muito ânimo.

“Boa noite, Riina.” A menor somente assentiu antes de entrar em sua casa.

Hyeju sentia uma certa inquietação no corpo ao ver aquela mulher ali. Seu pai estaria em casa, muito provavelmente sairia em pouco tempo. Riina era basicamente o braço direito do homem e, depois de passar um bom tempo no exército, ela agora ocupava o cargo de chefe da sua segurança pessoal. Tudo sobre ela parecia perigoso, apesar de ter sempre trabalhado para a tal proteção.

Sempre sentiu medo de Riina desde a primeira vez que a viu.

Hyeju então fez seu caminho para um lugar mais seguro, felizmente não esbarrou com seu pai, por isso rapidamente chegou ao quarto da irmã mais nova. Portanto, Hyeju deu quatro batidas ritmadas na porta e suspirou de alívio quando ouviu a permissão da outra.

“O pai voltou.” A mais velha disse assim que fechou a porta.

“É, voltou.” Yerim se encontrava no escuro, deitada na cama, pronta para dormir, segurando o celular, e tendo o cobertor por baixo dos braços.

“Nunca me acostumo com a Riina, algo sobre ela me causa arrepios.”

“Ela sempre foi esquisita.” Yerim comprimiu os lábios e deixou o dispositivo de lado. “Como foi com a Chaewon?”

“Foi muito bom.” Hyeju sentou-se no colchão. “As responsáveis dela são ótimas também. Sabia que a Chaewon adotou o Batatinha?”

“Batatinha é o da sobrancelha?” Yerim deu um riso anasalado.

“Esse mesmo.”

“Combina com ela.”

Uma iluminação amena entrava pela janela e as duas ficavam confortáveis em conversarem assim, como se estivessem protegidas pela escuridão naquele enorme quarto.

“Achei ela fofa, apesar de meio emburradinha.” Yerim riu. “Bem diferente da Yeojin.”

“As duas são fofas.”

“É, são.” O olhar da mais nova tinha um certo brilho, aquilo jamais passaria despercebido. “Eu deveria ter ficado naquela festa. Dongpyo acabou de me falar que foi super divertido, ele estava junto com a Yeojin, a Haruna, o Matthew... Mas, né.” A garota deu de ombros.

“O pai foi te buscar.”

“Sim, só para eu ajudar na imagem pública dele durante um jantar com uns tais patrocinadores de campanha.”

“Como sempre, ele só fica perto da gente quando precisa.” Hyeju bufou. “Pai do ano.”

“E a mamãe? Falou com ela?” Yerim tinha uma certa expectativa ao perguntar. “Aliás, como conseguiu algo?”

“Eu não sei, ainda vou falar. Já sobre o contato... Um funcionário da clínica me mandou o número por e-mail, mas o número da zona não é daquela região, então é estranho, preciso checar a linha.”

“E ela foi parar em qual lugar?”

“Não sei, nossa mãe é inteligente, mas também pode ser coisa do pai.”

“Espero que nada de ruim tenha acontecido.”

“Não vai acontecer.” Hyeju segurou a mão da irmã com força. “Não vou deixar.”

Yerim encarou a mais velha por um tempo e passou a assentir.

“Não se exija muito, Hyeju, nosso pai é muito perigoso.”

“É, eu sei, mas vou tentar fazer o que eu posso.”

Naquele momento, as duas puderam ouvir passos no corredor, e notaram eles pararem na porta da garota. Hyeju simplesmente se abaixou e colocou-se embaixo da cama.

“Yerim?” Youngsoo se mantinha imponente na porta, vasculhando o cômodo com os olhos, usando da luz vinda de fora.

“Sim?”

“Estava falando com alguém?”

“Ouvindo áudio dos meus amigos do colégio.”

“Hum.” Ele assentiu. “Viu sua irmã?”

“Ela chegou, deve estar no banheiro.”

“Ok...” Ele arqueou as sobrancelhas. “Diga a ela para ter cuidado.”

O tom monótono dele não deixava nenhuma impressão de pai preocupado.

“Tudo bem, boa noite.”

“Boa noite.”

A porta se fechou e os passos foram se distanciando.

Hyeju finalmente saiu do esconderijo e encarou a irmã.

“Ele sabe?” A mais velha engolia em seco.

“Não faço ideia, mas isso me deixou assustada.” Yerim se colocou sentada na cama. “As escolhas de palavras dele são sempre meio assustadoras.”

“Eu vou para o meu quarto, pensar...” A garota passou a mão nos cabelos. “Preciso pensar.” E caminhou até a porta de maneira meio impaciente.

“Ei, Hyeju.” Yerim a chamou. A mais velha se virou com o olhar cansado. “Não faz nada perigoso.”

“Não vou, só... Fica bem, ok? Tenta dormir ou... Liga para a Yeojin.”

“Está tarde.”

“Acho que não.” Hyeju deu um mínimo sorriso. “Relaxa.”

Por fim, a garota saiu do cômodo depois de checar os corredores.

Yerim suspirou e abriu a primeira gaveta do móvel ao lado da cama, assim apertando um botão no fundo para poder trancar a porta sem precisar se levantar. Por fim, voltou a se deitar. Estava preocupada com sua irmã, mas precisava continuar cumprindo seu papel.

Talvez a ideia de Hyeju a ajudasse a ficar melhor.

“Será?” Ela suspirou profundamente. “Mas e se ela estiver dormindo?” A garota encarava o celular e procurava os contatos. “Será que ela é tranquila com ligação? E se ela ficar com raiva de mim?” Enfim se deparou com o nome de Yeojin no celular. “Ai, foda-se, vou tentar.”

A estudante passou a engolir em seco enquanto aguardava ser atendida. Não tinha muitas esperanças, muito provavelmente...

“Alô? Yerim?” O seu tom era animado e surpreso.

“Ah, oi.” A Son ficou ligeiramente nervosa ao ouvir a outra. “Então ainda está acordada?”

“Estou sim, não vou dormir agora. Na verdade, vou desenhar.”

“Entendi.”

“Algum problema? Senti sua falta na festa hoje.”

Yerim contorceu o rosto de felicidade, seus pés davam pequenos chutes no edredom.

“Yerim?”

“Não, não, nada. Só quis falar com você a gente não teve muito tempo.”

“Ah sim... Pois então vamos conversar.” Yeojin tinha um tom levemente nervoso, mas se segurava bem. “Como você está?”

Yerim simplesmente sorriu antes de começar a conversar.

Chapter 11: bingo? bingo

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Arco 4: Festim de números (3/3)

Chapter Text

                                          

Hyeju despertou de uma vez, os olhos doendo um pouco devido a claridade. A dormida consciente fazia sua cabeça pesar e seu corpo ficar mais cansado. Será que seu pai sabia? A situação da noite anterior não deixava de surgir em sua mente. Pelo menos, por agora, podia focar mais na sua irmã, o que deveria ser sempre sua prioridade.

Hyeju usava um short de tecido e uma blusa larga ao vagar pela mansão com os pés descalços. A jovem sentia um ótimo aroma vindo do andar de baixo, sabia se tratar de Mei, uma senhora que cuidava da mansão desde quando as irmãs eram crianças, ou seja, a governanta.

Mei era uma das melhores amigas de Jihyun, a matriarca Son, geralmente sempre estavam cozinhando juntas. A governanta, agora, fazia seu melhor para cuidar das irmãs, que haviam sido deixadas pela mãe, por mais que suspeitasse muito de Youngsoo e suas narrativas. Infelizmente, não tinha poder suficiente para contestar.

“Bom dia, Mei.” Hyeju abraçou a mulher perto do fogão. A senhora tinha os cabelos grisalhos e curtos, além disso, um conjunto de tecido elegante.

“Bom dia, querida.” Ela retribuía a ação com um pouco mais de força. “Sente-se, vá comer.”

Hyeju somente assentiu e foi na direção da mesa redonda de vidro. Bastante comida encontrava-se disposta, e Yerim já comia, ao usar um roupão por cima do pijama, toda descabelada, e com uma das pernas cruzadas em cima da cadeira.

A mais velha simplesmente abraçou a cabeça da irmã antes de tomar um lugar ao seu lado.

“Dormiu bem, Yerim?” Hyeju perguntava ao começar a se servir comida para dentro.

“Fiquei conversando com a Yeojin até dormir.” A felicidade era palpável no tom da mais nova, Hyeju se segurava para não fazer a típica implicância. “E você?”

“Ah... Mais ou menos, não precisa se preocupar.”

“Tem certeza?” Yerim encarou a irmã seriamente.

“Tenho.” Hyeju comprimiu os lábios. “E sobre o que falaram ontem?”

“Sobre a festa, parece que foi divertido. Tem um vídeo do Dongpyo se jogando na piscina com a Haruna.”

“Esse menino é cheio de coisa.” Hyeju riu, sendo seguida pela caçula.

“Ei, mas você está lembrando do bingo, não é?” Yerim tinha uma certa feição de cachorro pidão, afinal, não queria ir sozinha.

“Eu te falei que iria participar de todos os eventos escolares que eu pudesse esse ano.”

“Obrigada.” A mais nova passou a sorrir. “Saudade da mamãe, ela ia em todos.”

“É...” Hyeju suspirou, mas logo assumiu um tom otimista. “Fica tranquila, Yerim, ela vai voltar.”

Porém, a mente da Hyeju não se acalmava, ela só pensava nos piores cenários.

                                           

                                         

                                         

                                         

                                         

Hyeju nem entendia o motivo de conseguir falar tão facilmente, mesmo quando já tinha decidido afastar Chaewon da situação. Muito provavelmente havia sido o estado mental ao qual Chaewon a encontrou. Estava se sentindo sufocada e Chaewon apareceu no momento certo.

Agora elas caminhavam por uma rua de vizinhança nobre. Não a mais nobre, mas nobre. Hyeju conhecia muito bem aquelas casas e calçadas e por isso facilitava o trabalho de Chaewon em encontrar o local. No caso, uma residência de dois andares, não muito grande, com paredes marrons.

“Fica aqui.” Elas ainda estavam consideravelmente longe. Hyeju estranhou um pouco, mais ainda quando notou um sorriso estranho no rosto de Chaewon, que puxava o capuz do casaco para cobrir a cabeça e colocava luvas descartáveis. Desde quando Chaewon andava com aquilo nos bolsos?

Hyeju ficou nervosa quando notou a outra vasculhando o lixo da casa. Checando os arredores para não serem pegas de alguma forma. Diferente de Chaewon, que agora voltava com um sorriso no rosto, ela nunca pareceu tão feliz.

“Terminou?” Hyeju perguntou, checando mais uma vez se algum vizinho observava.

“Por aqui já, eu disse que iria ser rápido.” Ela tinha uma caixinha em mãos. “Agora podemos ir lá no abrigo ajudar.”

“Depois de tomarmos sorvete.” Hyeju pontuou, agora mais tranquila.

“É, depois disso.” Chaewon revirava os olhos, já começando a andar na direção da moto estacionada na rua de trás.

“Ei, nem vai me dizer o que achou?” Ela apressava o passo para ficar ao lado de Chaewon.

“Veja com seus próprios olhos.” A garota virou a caixa na direção da outra.

Era tinta de cabelo. A tal da Esther não era loira natural.

                                         

                                         

                                         

                                         

                                         

                                         

                                         

                                         

                                         

                                         

                                         

Chaewon ainda estava um pouco atordoada pela conversa com Yeojin enquanto sentia Hyeju descer da garupa após longos minutos com as mãos presas ao redor da sua cintura. Não era verdade que gostava de Hyeju, não mesmo, aquele seria um pecado de sua irmã, não seu.

“E essa é a minha casa.” Hyeju abriu levemente os braços.

Não havia demorado muito para convencer Chaewon a entrar na residência. A loira observava cada canto com cuidado e um pequeno bico brincando nos lábios. A segurança de lá não era tão rigorosa e até o momento não havia percebido sinal de câmeras. Chaewon era ótima em perceber estar sendo observada.

“Eu vou pegar algo na cozinha, quer algo? Uma água?” Hyeju, aparentando estar mais animada do que o normal, perguntava.

“Uma água.” Chaewon comprimiu os lábios. “Pode me dizer onde fica o banheiro?”

“Ah, sim. Vai no do andar de cima, naquele corredor.” Ela apontava. “Terceira porta do lado esquerdo.”

Chaewon subia os degraus como se a casa fosse sua, esbanjando uma certa naturalidade. Ainda não sentia nenhuma sensação estranha referente às câmeras, se é que existiam. Youngsoo poderia ter optado por não instalar a fim de não criar provas contra si de qualquer maneira, já que a invasão chegava a ser fácil por seus inimigos políticos. Contudo, algum tipo de vigia acontecia e, se baseando no relato de Hyeju, com certeza deveria ser vigilância nas redes da casa, especialmente nos celulares e outros dispositivos eletrônicos da casa. Chaewon anotava na própria mente que deveria se tornar mais cautelosa nos tópicos abordados nas conversas com Hyeju por via de celular.

Não existiam seguranças dentro da casa, o que também facilitava seu trabalho. Por fim, Chaewon aproveitava a planta da residência guardada em sua mente para encontrar o escritório de Youngsoo com facilidade. Chaewon agora portava mais um par de luvas novas.

O escritório de Youngsoo não estava trancado e aquele era mais um sinal de como se tratava de alguém confiante e intimidador. Ninguém ousava pisar lá por mais convidativo que fosse. Chaewon gostava de encarar isso como burrice mesmo.

O interior não era nada extraordinário. As cores amadeiradas, a poltrona grande e os itens de decoração importados e de estrutura clássica se tornavam previsíveis. Chaewon não fez questão de sentar na poltrona e acessar o computador, por enquanto vasculhou rapidamente as gavetas, tirando fotos no processo.

Por último resolver ligar o computador. Os dedos se moviam rapidamente pelo teclado, além de retirar um cartão de memória de dentro da capa do celular. A transferência de documentos rolava na medida em que vasculhava as outras pastas, também tirando fotos. A maioria daqueles arquivos continham nomes, ele parecia juntar uma equipe de cientistas e pessoas influentes com capital exorbitante, nada que causasse surpresa em Chaewon até o momento. O relógio deveria estar marcando cerca de seis minutos de ausência, ainda era o suficiente para inserir desculpas convincentes.

Chaewon somente sorria com tamanha oportunidade. Seu trabalho era digno da sua posição no ranking.

Momentos depois, na cobertura da família Ha, Sooyoung terminava de arrumar seu terninho no espelho da sala, acabando por perceber alguém na sua visão periférica. No caso, Jungeun, portando um vestido vermelho escuro com algumas pedras, ajustava algumas coisas em sua bolsa. Os cabelos presos e a maquiagem balanceada, mas ainda escura. Sooyoung precisou checar se não ficou babando por algum tempo.

“A Chaewon já chegou?” Jungeun perguntou, ainda colocando coisas na bolsa.

“Ainda não, deve estar perto. Quando ela fala que vai, então vai.” Sooyoung engoliu em seco.

“Como eu estou?” Ela finalmente se virou para Sooyoung. “Você está ótima.”

“Obrigada.” Sooyoung sorriu de maneira meio tímida, algo meio estranho para a agente. “Você está linda como sempre. Imagina casar uma vez e sua esposa ser assim.” A confiança ia voltando para Sooyoung, que adorava ver o sorriso de Jungeun aumentando.

Sem perceberem, Sooyoung agora a abraçava pelo quadril, consequentemente recebendo os braços de Jungeun ao redor do pescoço.

“Você com certeza vai ser a mulher mais linda da festa inteira.” Sooyoung falou baixo o suficiente para somente Jungeun ouvir. O sorriso de Jungeun agora era gentil.

Não sabiam para onde iriam dali, mas, antes que soubessem, o momento foi interrompido por Chaewon e Hyeju adentrando a cobertura. Sooyoung ficou meio surpresa por ver a Son mais velha ali, ela parecia admirar a residência.

“Boa noite.” A garota acenava. Ela trajava um vestido preto e um belo colar.

“Boa noite.” As mais velhas responderam juntas, meio desconcertadas. Chaewon notou a situação anterior, mas preferiu ignorar.

“Vou me arrumar.” Chaewon avisou as três. “Sooyoung, me ajuda com um negócio, coisa de irmã.” Sooyoung ficou devidamente surpresa com a chamada, deixando o olho brilhar. “Vem.” Chaewon chamou de maneira mais irritadiça, fazendo Sooyoung notar que ficou um tempo parada como idiota.

E assim as irmãs subiram para os quartos.

No meio do caminho, Sooyoung foi juntando as peças e sua expressão ia mudando gradativamente. Quando entraram no quarto de Chaewon, a mulher trancou a porta e começou a acompanhar a irmã para todo canto do cômodo a fim de ouvir o que ela tinha a dizer.

“O que você descobriu?” Sooyoung perguntou.

“Eu entrei na casa dos Son.” Ela colocava a roupa forma em cima da cama.

“Ok...” Sooyoung estava um pouco impressionada. “Isso foi meio rápido.”

“Eu não brinco no meu trabalho.”

“É, percebi. E não tinham câmeras, nem nada?”

“Ele é confiante demais, não tinha nada e eu tomei todo cuidado para não deixar rastro nenhum. Ele tem mais medo das pessoas perto dele serem traíras do que os de fora.”

“Ou ele simplesmente não tem nada de incriminador na casa dele. Ele deve manter os pedaços de informação, câmeras e todo sistema de segurança em outro lugar.”

“Não duvido.”

“E o que você achou?”

“Alguns arquivos nas gavetas e no computador dele. Nomes e mais nomes de colaboradores. Muitos cientistas.” Ela entregava o celular na mão de Sooyoung antes de ir para o banheiro. “Existia uma pasta sem nada dentro, mas o nome é esquisito. Dá uma olhada. Deve ter alguém que o filho estude em Sonatine.” Ela finalmente fechou a porta, dando tempo para Sooyoung visualizar a lista com calma.

E realmente existia alguém.

Quando Sooyoung e Chaewon desceram elas encontraram não somente Jungeun e Hyeju, que conversavam animadas, mas Yeojin.

“Pensei que fosse com a Yerim.” Yeojin disse.

“Ela foi se arrumar no salão com as outras amigas dela, vai se encontrar com a gente lá.”

“Desculpem interromper a conversa, mas temos que ir.” Sooyoung sorriu sem mostrar os dentes.

Aquilo foi o suficiente para fazerem todas andarem. Uma família chique e bonita, capaz de atraírem olhares em qualquer lugar. Hyeju não conseguia desviar o olhar de Chaewon.

“Yeojin, você conhece um tal de Joshua Harverford?” Sooyoung perguntou quando as quatro já estavam no carro à caminho.

“Infelizmente. Conhecer mesmo é pouco, não somos próximos e nem quero.” As mais velhas trocaram olhares com a ajuda do retrovisor central.

“Sei.” Sooyoung pigarreou. “Eu consultei o pai dele no banco e falamos um pouco sobre isso de filhos aí pensei que conhecesse.”

“Não querendo me meter.” Hyeju comentou. “Eu conheço ele. Os Harverford são donos de uma construtora e fazem alguns jantares, assim como já foram em alguns lá em casa. Sinceramente, eu concordo com a Yeojin, também não gosto muito deles, especialmente do filho.”

“Os Harverford possuem muitos contratos com o governo, não é?”

“Tem.”

Objetivo concluído.

Yeojin podia não ser próxima do garoto, mas ela o manteria próximo, pois inimigos sempre permanecem no radar por mais tempo.

A festa era no chamado Salão de Bronze de Sonatine. Um enorme recinto e com a cor bronze realmente ressaltada. Os lustres, cortinas e detalhes nas paredes, e teto, era de deixar as pessoas com a boca aberta. Uma banda de jazz ressoava seus acordes pelo ambiente e muitos rostos importantes invadiam a visão de Sooyoung. E uma certeza ela teve, assim como Chaewon, depois de verem fotos deles na internet: O patriarca da família Harverford não estava, diferente do filho, que se encontrava em uma mesa com outros jovens do time de esgrima.

As quatro foram para uma mesa e não demorou muito a notarem algumas pessoas abrindo caminho para alguém que havia chegado. Yeojin prendeu a respiração quando notou Yerim vindo na direção de sua mesa. Esbanjando sorrisos, acenos e simpatia, ela conseguia ser ainda mais bonita do que já era.

“Boa noite.” Ela fez todas da mesa sorrirem automaticamente. Chaewon sorriu pequeno, mas serviu de prova para o efeito Son Yerim. Algumas pessoas agora observavam a garota sentando na mesa ao lado de Yeojin.

                                         

                                         

“Vocês não entraram ainda só por causa de mim?” Yeojin perguntando.

“E já tá se achando a protagonista.” Dongpyo comentou. “Oi, prima linda.” Ele agora abraçava Yerim, que também deu um abraço em Haruna, a deixando um pouco envergonhada. “Minha mãe está chegando, na verdade. A Haruna que passou lá em casa para a gente vir, a minha mãe ficou presa no salão por um tempo.”

“Seus pais não vem, Haruna?” Yerim perguntou.

“Dessa vez não, eles estão viajando.”

“Lá vem ela.” Dongpyo soou aliviado, fazendo as outras encararem o mesmo ponto. A mãe do garoto vinha guardando as chaves do carro na bolsa de maneira meio desajeitada. Ela estava trajada em verde e com uma maquiagem forte.

“Sua mãe parece que levou um soco.” Haruna cochichou para o garoto.

“Cala a boca, Haruna.” Ele falou disfarçadamente em meio a um sorriso.

“Vamos lá, galerinha.” A mulher passou por eles só sinalizando com a mão.

Novamente a atenção do salão ia para a entrada. Muita gente observava por conta de Yerim, mas também pelo protótipo de coringa da mãe de Dongpyo. No fim, atenção é o que queriam e conseguiram. Para terminar, a mãe do garoto ainda colocou uma JBL em cima da mesa, que ficava ao lado da família Ha, em volume deveras baixo.

E assim o bingo começou.

“Agora vamos começar a rolagem para o prêmio da secadora de louça.” O anunciante dizia.

“É agora.” Jungeun preparava a ponta da caneta sobre o papel. Sooyoung juntava as sobrancelhas, pois agora sua esposa de mentirinha parecia muito engajada, competitiva.

O salão ficava em um silêncio bizarro enquanto os números eram anunciados. Jungeun se contorcia a cada chamada e Sooyoung trocava olhares confusos com Chaewon, já que a mulher dava um soquinho na mesa toda vez que perdia um número. Elas conseguiam sentir a tensão sobre ela.

“Ela quer muito isso, né?” Hyeju comentou baixinho com Chaewon.

“Admiro pessoas que sonham pequeno.” Chaewon bebericou a taça de vinho branco.

“BINGO!” Alguém gritou de alguma parte do salão e não havia sido Jungeun. Foi então que dois pequenos eventos aconteceram.

Primeiro Jungeun gritou.

“MERDA!” Mas foi rápida o suficiente para disfarçar e não identificarem de onde havia vindo. Claro que Sooyoung, Chaewon e Hyeju perceberam e surpreenderam. Chaewon chegou a segurar o riso.

Com o susto do grito, Dongpyo, na outra mesa, se engasgou no susto e Haruna dava batidas nas costas do garoto.

O próximo prêmio foi um par de brincos. Novamente o silêncio contaminante. E Yeojin não esperava, mas quando menos percebeu estava sinalizando bingo com a mão levantada.

“Droga, a sorte da mesa foi embora agora.” Dongpyo colocou as mãos na cabeça. “A ração do Tonhão foi com Deus.”

“Do jeito que você está pálido deve ser você a ir com Deus, menino.” A mãe de Dongpyo dizia ao comer mais um petisco.

Yeojin levantou por um tempo para retornar com o par de brincos, acabando por fazer algo que atraiu os olhares de seus amigos, ela entregou as jóias para Yerim. A Son caçula sentiu as bochechas esquentarem e não conseguiu recusar o presente. O sorriso de Yeojin para ela era o suficiente para querer nunca tirar as pequenas pedras roxas das orelhas.

“Olha a cara do Joshua.” Dongpyo trocava risinhos com Haruna.

“Se a cara dele continuar a ficar vermelha de raiva, daqui a pouco fica igual o balão de It: A coisa.” O comentário fez Dongpyo jogar a cabeça para trás de rir.

Enfim chegou o momento da ração.

Os números começavam a serem chamados e Dongpyo começava a mexer no cabelos de maneira que os bagunçava violentamente. Pelo sexto número o garoto já estava completamente descabelado.

“O Tonhão vai me bater.” Ele apoiava o rosto na mão enquanto observava a cartela pouco marcada.

E foi pelo décimo terceiro número que uma voz se destacou falando bingo. Havia sido Haruna.

Por um momento Dongpyo parecia se sentir traído, mas então Haruna veio até ele com o pacote de ração e o entregou.

“Primeiro: somos só amigos. Segundo: O Richard III não come essa.”

Dongpyo levantou da cadeira emocionado e a abraçou.

“Santa Haruninha.”

“Ai, véi, chega, todo mundo está olhando.” Ela disfarçava a vergonha.

Os dois agora voltavam para seus lugares.

“Quem é Richard III?” Yeojin perguntou.

“É minha raposa de estimação. Ela tem problema no olho e não pode voltar para a natureza.”

“O teu lore é tão especial.” Dongpyo comentou.

“E quem são Richard I e II?” Dessa vez foi Yerim.

“Richard I foi uma cobra e o Richard II foi um ouriço.”

“Realmente uma menina especial.” A mãe de Dongpyo sorria sem mostrar os dentes antes de beber mais uma dose de vinho tinto.

De resto, a noite foi agradável. Nenhum sinal do Sr. Harverford, muito menos de Son Youngsoo. Agora estavam todos no estacionamento se despedindo, pois, querendo ou não, já estava tarde e Sooyoung não bebeu por estar dirigindo.

Haruna foi a primeira a ir embora, depois foi Dongpyo e sua mãe, que passaram por elas no carro com som nas alturas. Por fim, restou as irmãs Son e a família Ha e logo o carro das irmãs apareceu. Yerim e Hyeju distribuíram abraços nas outras. Sooyoung observava com os olhos cerrados quando Chaewon retribuía o abraço, pois Yeojin ela já sabia do tal amor adolescente.

“Ela gosta de você.” Sooyoung sussurrou para Chaewon quando caminhavam até o carro, somente para levar um pisão no pé e sair cachingando.

Agora elas iam dentro do carro em um clima deveras diferente. Apesar de Jungeun se sentir injustiçada pela secadora de louças, as quatro pareciam em paz consigo mesmas e com as outras.

“Aliás, Yeojin, por que você não gosta do Joshua?” Sooyoung perguntou.

“A pergunta é: Quem que gosta dele, mãe.” Yeojin segurou o riso.

“Nossa, ele é tão ruim assim?” Jungeun perguntou.

“Péssimo, ele é obcecado pela Yerim e fica fazendo bullying com outros alunos.”

“Odiei já.” Chaewon comentou. “Cabeça daquele tamanho e fica fazendo bullying com os outros.”

“Exatamente.” Yeojin apontou para a loirinha em concordância.

“Chaewon, o garoto é menor de idade.” Sooyoung repreendeu.

“Para balancear que é maior de cabeça.”

Yeojin gargalhou.

Jungeun também segurou um riso, apesar de praticamente falhar.

Sooyoung respirou fundo tentando não ceder.

“Dongpyo tem uma lista de apelidos para ele.” Yeojin recuperava o fôlego. “O melhor para mim até agora é Nave Mãe.”

Todas gargalharam.

Chegando em casa, as mais novas foram logo para seus quartos. Yeojin já tinha até cochilado em certa parte do trajeto. Sooyoung e Jungeun agora estavam na sala com as luzes apagadas, mas sem estarem no escuro por causa da iluminação de fora.

“Não quero subir agora.” Jungeun retirou os saltos e sentou-se no sofá.

“Estou pensando em beber pelo menos uma taça de vinho porque não pude beber lá.”

“Eu bebi pouco, então acho que vou aceitar também.”

Sooyoung caminhava até o compartimento dos vinhos, acabando por ligar a rádio na viagem, deixando em um volume não muito alto. Ela sorria pequeno.

“É, creio que não bebeu muito pelo estresse de perder o secador.” Sooyoung entregava uma taça relativamente cheia para Jungeun, que bebericou sem tirar os olhos da outra.

“Nem me fale.”

“Vou providenciar uma, não se preocupe. Sei que tudo de graça é bom, mas não vai ser problema.”

“Obrigada.”

Naquele momento, uma música diferente começou a tocar, uma lenta, mas envolvente. Ao ouvir as primeiras notas, Sooyoung já deixou a taça de lado, institivamente estendendo uma das mãos para Jungeun, que, para sua surpresa, não hesitou em aceitar.

“Confesso que não sei dançar.” Ela colocava a taça no móvel ao lado.

“É só seguir meus passos.”

No escuro, Sooyoung voltava a abraçá-la pela cintura e a sentir os braços de Jungeun ao redor do pescoço. As duas trocavam risinhos tímidos ao darem passos meio desengonçados para um lado e outro, porém, no fim, facilmente encontraram o ritmo perfeito.

Chapter 12: criando fôlego

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Arco 4: Videogame Live-Action (1/2)

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“Dois meses se passaram, Snake.” A voz alterada ressoava pelo quarto escuro de Sooyoung. “Alguma chance apareceu?”

“É, eu sei.” Ela coçava a testa. “Se aproximar é mais difícil do que imaginava. Chaewon conseguiu aquelas informações, o que já nos ajudou em algumas coisas, mas o contato direto é algo genuinamente complicado. Chaewon chegou a ir na residência Son outras vezes, mas nunca esbarrou com Youngsoo.”

“Nós esperávamos algo assim, mas creio que eventos escolares importantes estejam perto de acontecer e espero estar com planos na manga sobre isso.”

“Sim.” Sooyoung suspirou. “O fato de a Yeojin ser bem próxima de Yerim nos dá uma ótima vantagem caso Youngsoo apareça em algum desses eventos.”

“Sua esposa não apresentou nada de suspeito?”

“Nada.” Sooyoung sorriu pequeno, mas tomando cuidado para aquela reação não transparecer na voz. “Estamos bem, somos convincentes. Estivemos em uma confraternização do nosso prédio um dia desses e passamos uma boa imagem. Nenhuma suspeita.”

"Ótimo. Esperamos um relatório novo daqui a algumas semanas. Cuidado redobrado quando precisar sair da cidade.”

“Anotado.”

Enquanto isso, em Sonatine, Yeojin e Dongpyo encaravam o mural com as notas do bimestre. Dongpyo respirava aliviado. O problema estava em Yeojin. Ela não apresentava surpresa, somente tristeza. Era questão de tempo até ferrar com alguma coisa. Seu nome se encontrava na chamada zona vermelha.

“Estou suspensa do time.” Yeojin falou o óbvio. Quando as primeiras notas saíram, o técnico a avisou disso. A suspensão sempre acontecia quando se tratava de clubes esportivos.

“Vamos montar uma operação para resgatar suas notas.” Dongpyo falou, colocando umas das mãos no ombro da amiga.

“Vai ser complicado.”

“Não impossível.”

Nesse momento, Haruna finalmente se colocou ao lado deles. Ela não apresentava muita reação, mas logo percebeu o que havia acontecido. Haruna não tinha ido junto com eles até o mural, pois havia ajudado uma professora com materiais.

“Achou seu nome, Haruna?” Dongpyo perguntou.

“Sim, lá em cima.” Ela apontou de maneira contida.

Dongpyo e Yeojin ficaram de boca aberta ao ver que Haruna era a número dois do ranking somente perdendo para Yerim por pouco.

“Você sabia que ela era tão boa?” Yeojin perguntou para Dongpyo.

“Eu nunca reparei.” Dongpyo começava a mudar a expressão para felicidade. “Pelo menos a nossa operação para salvar suas notas vai ter sucesso! A Haruna pode ajudar.” Haruna sorriu pequeno na direção de Yeojin, que se sentiu um pouco melhor. “Nós vamos recuperar suas notas e você vai conseguir jogar ao menos a final das nacionais, temos fé e você precisa ter fé no seu time.”

“Valeu, pessoal.” Yeojin comprimiu os lábios, sentia-se mais aliviada, mas ainda assim estava triste.

Felizmente não discutiram os outros pontos negativos como o fato de que não existia recuperação, muito menos repetente, notas baixas por mais de um bimestre poderiam resultar em expulsão. Não tinham nem chance de tentar uma prova final.

Agora existia mais um problema: Yeojin não queria encarar Yerim de tanta vergonha pelas notas.

O clima entre as duas continuava muito bom, nenhuma havia tido coragem para dar um passo a mais, contudo, continuavam próximas, ainda conversando durante a madrugada e coisas assim. Yeojin se sentia mal, afinal, podia admitir ter se apegado e adquirido sim sentimentos por Yerim. Não era algo difícil de acontecer.

Enfim, como uma típica adolescente sem saber o que fazer consigo mesma, Yeojin tomou uma decisão.

Uma burra por sinal.

Já Hyeju caminhava meio acanhada pela universidade. Algumas coisas vinham acontecendo, pelo menos não em casa. Sua tentativa de contato com a mãe havia sido frustrada, mas ela continuava procurando uma forma disso acontecer. Tirando isso, Hyeju tinha outro problema em mãos. Dois, na verdade. E ela estava tentando resolver um deles nesse momento.

“Chaewon.” Hyeju sabia que não havia lugar correto e estavam falando baixinho durante a aula agora. “Eu queria saber se você quer sair comigo.”

“A gente já sai junta, Hyeju.” Chaewon não desviava o olhar do caderno. Hyeju sorriu sem graça. Ela não tinha certeza dos sentimentos de Chaewon, mas não arriscava tentar.

“Não, eu falo sair como em um-”

“Vou parar você bem aí.” Chaewon a observou de soslaio. Ela sabia muito bem como aquela pergunta terminava e Hyeju ficou ligeiramente sem graça. “Vai querer me chamar para um encontro quando está escondendo coisa de mim?”

“Eu?” Hyeju falou um pouco alto, mas que não foi percebido por ninguém, ainda assim vasculhou a sala meio desconfiada. “Não estou. Eu falei que não consegui conversar com minha mãe.”

“Não estou falando disso. Tem algo acontecendo, Hyeju.” Chaewon cruzava os braços, encarando a lousa. “Anda demorando para aparecer e dando sumiços. Achei que em algum momento iria fala, sei lá, mas agora está aí há semanas nessa putaria.”

“Chaewon não tem nada acontecendo.”

“Hyeju você é tão convincente mentindo.” Chaewon deu um sorrisinho ácido. “Tão convincente quanto um pastor da Assembleia de Deus.”

Chaewon revirou os olhos ao notar a outra se calar e tentar prestar atenção na aula. Chaewon não queria, mas pelo jeito precisaria descobrir com as próprias mãos.

Quando deu o horário de almoço, Yerim chamava atenção de todos ao passar pelas portas do refeitório. Ela não encontrou o trio, algo que estranhou levemente, então acabou indo ficar com suas outras amigas. Por pouco Yerim não revirou os olhos ao notar Joshua e Karen na mesa, ainda precisava manter aparências.

“Yerim.” Ele sorriu para ela, abrindo espaço para Yerim sentar ao seu lado. Ela fez, mas com pouca vontade. Suas amigas também cumprimentavam e todos pareciam engajados em um tema em comum.

“Sobre o que estão falando?” Ela sorriu sem mostrar os dentes.

“O interclasse começa amanhã.” Karen falou. “Joshua vai dar uma festa.”

“Vocês não dão detalhes, eu hein.” Alberta, uma menina alta e ruiva disse com cara de poucos amigos.

“E quando vai ser?” Yerim perguntou.

“Depois do interclasse.” Joshua falou dessa vez. “Nós muito provavelmente vamos vencer, mas não pretendo que seja só nossa turma. Na verdade, vou chamar as pessoas que combinam mais com a gente, sabe?” Os populares e mais relevantes no geral.

“Oi, pessoal.” Matthew chegou à mesa, sentando-se.

Yerim se sentiu aliviada a ver alguém genuinamente legal, pois ajudava a equilibrar a energia negativa de Joshua e Karen.

“Você vai para a festa, Matty?” Yerim virou sua atenção total para o garoto.

“Não perco nenhuma, principalmente porque sei que vou me divertir com o Dongpyo, a Haruna e a Yeojin.”

O clima na mesa pareceu pesar um pouco.

“O que foi?” Matthew apoiou o rosto na mão. “Não vai chamar eles, Joshua? Yeojin é líbero da equipe de vôlei, então ela muito provavelmente vai nos ajudar a vencer.”

“Concordo.” Yerim assentiu. “Eu gosto muito da Haruna e do Dongpyo, que, por sinal, é muito bom em educação física.”

Matthew e Yerim trocaram olhares, eles sabiam muito bem que estava agindo certo. Joshua estava ficando vermelho, sentindo-se enclausurado. Karen se divertia, já que sabia exatamente o que andava acontecendo.

Chamar a pessoa que mais corria risco de roubar seu interesse amoroso não agradava nenhum pouco Joshua. Ainda assim, não podia abrir mão de Matthew e Yerim na festa, pois eles seriam necessários para o sucesso do evento.

Talvez pudesse fazer isso, bastava deixar Yerim longe de Yeojin. Matthew poderia fazer o que quiser, Joshua não ligava, contanto que não arrastasse Yerim para o trio. Contudo ainda teria mais aliados do que inimigos em uma festa na sua casa.

“Vou chamar sim. Chamem eles, é mais fácil”

Naquele momento, o trio finalmente alcançava a vista de Yerim. Dongpyo e Haruna acenaram para ela e Matthew, já Yeojin olhava para os próprios pés. Yerim estranhou, de qualquer forma falaria com ela mais tarde.

“Yeojin, que porra foi essa durante o dia todo?” Dongpyo perguntava para a garota quando estavam os três na sala do clube após a aula. “Está ignorando a Yerim?”

“A coitada ficou querendo falar contigo e você porcamente disfarçando.” Haruna bebia suco de caixinha. Dongpyo apontou para Haruna a fim de ressaltar justamente o que ela havia falado.

“E a gente precisa de você com ela para manter o Joshua longe. Principalmente agora que ele vai tentar de tudo.” Dongpyo cruzou os braços. “Mas por que está ignorando ela?”

Yeojin encarava as próprias mãos na mesa.

“Minhas notas.”

Dongpyo suspirou.

“Olha, nós vamos dar um jeito. Pode ter certeza que a Yerim não vai te tratar mal por isso.”

“Eu fui suspensa dos jogos.” Yeojin passou a mão no rosto. “Ela com certeza vai ficar desapontada. Eu já não vou para o treino amanhã, ela vai notar se é que não falaram para ela.”

“A Yerim não vai ser babaca por isso, ela vai entender.” Haruna comentou, puxando o celular.

“Também acho, conheço minha prima.” Dongpyo deu um pequeno sorriso na direção da amiga.

“Galera, a professora já criou um Instagram para o filho que nem nasceu.”

Aquilo fez Dongpyo e Yeojin a encararem com dúvida.

“Sério? Ela posta o quê? Ultrassom?” Dongpyo falou.

“Meio que é?” Ela fez uma careta. “O primeiro caso de bebê NFT.”

Os dois não aguentaram e passaram a gargalhar, logo sendo acompanhados por Haruna.

“Ai.” Dongpyo limpava uma lágrima. “Vamos manter essa energia aqui para o que podemos controlar, precisamos de força para os interclasses. Ali é guerra.”

“Pior que é, galera é emocionada.” Haruna acrescentou.

“Com certeza não vamos ter problema.” Yeojin deu de ombros.

“É esse tipo de confiança que precisamos!” Dongpyo sorriu orgulhoso. “Você vai ver, vamos vencer o interclasse e recuperar suas notas.”

“Falando em nota e tal...” Haruna começou. “Estamos no último ano... Já pensaram no que vão fazer?”

“Você a gente já sabe, né, Haruna?” Dongpyo comprimiu os lábios.

“É, pelo menos eu gosto, mas e vocês?”

“Eu ainda não pensei muito bem.” Yeojin fez um bico. “Algo a ver com desenho? Eu...” Ela pareceu um pouco apreensiva. “Eu faço alguns quadrinhos.”

“Isso é foda!” Dongpyo bateu uma palma. “Nunca falou disso, sei que desenha.” Yeojin parecia meio envergonhada.

“É legal mesmo, acho que vai ter sucesso.” Haruna levantou o polegar. “E você, Dongpyo?”

“Ah, eu vou ser Auditor Fiscal.”

O silêncio surgiu, as duas garotas se encararam.

“O que foi, véi?”

E enfim riram.

“Porra, véi, vamos jogar. Só de mal a aventura hoje vai ser no queixo de vocês.” Ele levantava para buscar os conjuntos de dados.

Ao subir no ônibus para ir para casa com Dongpyo, Yeojin voltou a sentir ansiosa de novo. Será que deveria falar com Sooyoung? Será que ele recebeu algum e-mail? Seus amigos a ajudariam, mas precisaria estudar em casa também. Seria esquisito se fosse pedir coisas sobre as provas para ela, as suspeitas aumentariam.

Só tinha uma pessoa inteligente que poderia a ajudar sem querer se meter na confusão entre ela e Sooyoung. Ela com certeza não veria graça em um caso que poderia acabar realmente com a missão. Aquela pessoa havia se tornado um pouco mais séria na missão depois das pazes.

                                         

                                         

                                         

                                         

Chaewon guardou o celular ao notar Hyeju saindo pelo portão da universidade. A loira se mantinha encostada em sua moto enquanto observava a outra meio desnorteada e claramente escondendo alguma coisa. Naquele dia elas tinha tido as últimas aulas diferentes, então dar um perdido em Chaewon não foi difícil. Contudo, esconder mentiras e evidências realmente não eram o forte de Hyeju, principalmente as folhas de papel higiênico meio que vazando de sua mochila.

“Chaewon.” A feição de Hyeju se iluminou. “Mudou de ideia sobre o encontro?”

“Hyeju, desembucha.” A Son foi desmanchando a expressão de felicidade. “Você não mente direito e sua mochila está cagando papel higiênico.” Chaewon espremeu os olhos. “Isso é coisa de bullying, você está sofrendo bullying de novo e quer me manter fora disso? Está com medo de eles virem atrás de mim?”

Hyeju piscou os olhos várias vezes.

“Eu estava feliz que não ia precisar realizar vingança nenhuma, mas eles voltaram. E sim, eu estou com medo de fazerem algo contra você.”

“Hyeju, escuta muito bem o que vou te falar agora.” O tom sério e a feição de Chaewon fez a outra se encolher um pouco. “Todo dia sai um otário e um malandro de casa e eu com certeza não sou a otária.”

Hyeju assentiu freneticamente.

“Agora preciso que me diga sobre um negócio?”

“O quê?”

“O que você sabe sobre o telão do refeitório?”

Horas depois, quando Yeojin já estava em casa, ela havia passado com sucesso para o quarto. Sooyoung aparentemente não sabia de nada ainda. Sua expressão só foi encontrar certo pânico quando, ao se deitar na cama e puxar o celular, notou uma mensagem de Yerim.

                                         

                                       

                                       

                                     

                                         

                                         

                                         

                                         

“Que horas você vem para casa?” Jungeun sorria ao ouvir a voz impaciente de Sooyoung pelo telefone.

“Seu tédio está incontrolável hoje.”

“Sinto sua falta.”

“É, eu também.” Jungeun sentia as bochechas corarem.

As duas não haviam feito muita coisa, mas era inegável algum tipo de sentimento acontecendo. E, por conta de seus segredos, era bem difícil dar o próximo passo.

“Eu já estou fora do prédio da prefeitura, perto da cabine telefônica, chego daqui a pouco.”

“Ótimo, eu vou preparar algo para você comer.”

“Agradeço.”

“E cuidado.”

“Ok, até logo.”

“Até.”

Após guardar o celular com um sorriso no rosto, algo que estava cada vez mais frequente e não passando despercebido por seus colegas de trabalho, Jungeun respirou fundo. E foi questão de segundos até precisar entrar na cabine telefônica por conta do telefone tocando. Agora era uma voz feminina.

“RedSix.”

“Viper.”

“Tenho um trabalho para você.”

Chapter 13: passando da linha

Summary:

Arco 4: Videogame Live-Action (2/2)

Chapter Text

                                       

 

“Vamos, meninas, vai começar.” Dongpyo guiava as outras pelo espaço aberto da escola, onde ficariam as instalações para os jogos do interclasse, pelo menos alguns deles.

Os três caminhavam com suas mochilas e portando coletes azuis por cima do uniforme de educação física, aquela era a maneira de identificar a qual turma eles pertenciam. Muitos alunos passavam de um lado para o outro, já que as turmas do fundamental também participavam. Uma banda ressoava seu som pelo perímetro e algumas tendas de comida faziam muitos alunos e professores passarem por aí com porções de ótimo cheiro.

Dongpyo, Haruna e Yeojin pegaram uma porção de batatas e sorvetes para ficarem em uma parte coberta das arquibancadas. Eles fizeram um círculo da melhor maneira que podiam.

“Vocês souberam da fofoca lá em N.E.W?” Dongpyo começou.

“Quem tem contato com a galera da fofoca é você, Dongpyo.” Yeojin falou ao comer uma batata.

“Quase dez horas da manhã e já aconteceu uma fofoca válida de comentário?” Haruna perguntou, abraçando os joelhos.

“Então...” Dongpyo alternou o olhar entre as duas. “Além da Vaca Vai-e-Vem e que se tornou um viral na cidade.” Yeojin claramente disfarçou uma expressão de riso. “Alguém usou o telão do refeitório e expôs uma tal de Esther para todo mundo. Além de várias atrocidades, expuseram que ela não é loira natural.”

“Cara, que golpe baixo.” Yeojin disse.

“Se ela for uma vaca, mereceu.” Haruna deu de ombros.

“E ela realmente é uma vaca.” Dongpyo pontuou. “Agora eu queria saber quem fez isso.”

“Pensei que soubesse.”

“Bem, se descobriram, então essa informação não vazou. Depois vou perguntar para a Hyeju, talvez ela saiba de alguma coisa.

“Eu vou perguntar para a minha irmã.” Yeojin tirou o celular da mochila. Se referir à Chaewon daquela maneira se tornava cada vez mais natural.

                                         

                                         

“Que foi, Yeojin?” Dongpyo perguntou. “Viu um fantasma?”

A garota levantou o rosto da tela do celular para encarar as feições curiosas de seus amigos, mas somente soltou uma risada sem graça.

“Nada não, só desassociei por um minuto.”

Enquanto isso, na sala do reitor em N.E.W, Chaewon se encontrava entre Hyeju e Esther. As três caladas, evitando se olhar, principalmente Esther, que tinha o rosto inchado de chorar. O reitor no momento falava com alguém fora da sala.

“Vocês vão me pagar. Sei que foi vocês.” Esther finalmente quebrou o silêncio.

“Pimenta no cu dos outros é legal, né?” Chaewon disse de maneira ácida, recebendo uma pequena cotovelada de Hyeju. “Tem provas, por acaso? Ou vai falar justamente que o nosso motivo era o bullying contra a Hyeju? Não sei se consegue ser convincente com outro tipo de desculpa.”

“Vamos ver em quem ele vai acreditar.” Ela dizia entre dentes.

“Olha.” Chaewon sorriu de canto, fazendo algo que surpreendeu a outra garota. Ela tinha se aproximado do ouvido de Esther, a trazendo para perto pelos ombros.

Hyeju observava a cena com certo horror e conseguia ouvir pequenos sussurros saindo da boca de Chaewon, fazendo Esther claramente arregalar os olhos em choque. Hyeju não entendia nada do que estava sendo dito, mas, pela feição de Esther, não parecia nada bom.

“Desculpem a demora.” O reitor entrou novamente no cômodo, as encontrando da mesma maneira que havia deixado. “Então, podem explicar o que aconteceu? Esther, você falou que foram elas duas e isso sinceramente me surpreende. Chaewon é novata e Hyeju tem um ótimo histórico.”

Esther observou as outras de soslaio.

“Eu acho que me enganei.” Ela falou meio nervosa. “Eu fiquei transtornada e elas foram as primeiras que vi. Perdão.”

Hyeju controlou a expressão de surpresa. De alguma forma, Chaewon tinha causado algo.

“Ah, se é assim, vamos continuar investigando. Chaewon e Hyeju, perdão pela inconveniência, podem se retirar.”

“O que você falou para ela?” Hyeju perguntou ao saírem da sala. Chaewon foi logo andando.

“Algo que vai a fazer pensar muito bem antes de tentar alguma coisa.” Chaewon colocava as mãos nos bolsos do casaco. “Ainda tem chances? Sim, mas ela precisa pensar.”

“Então está tudo bem.” Hyeju pareceu relaxar um pouco.

“Meio que não. Esse momento de hesitação e reorganizar estratégias é um pouco mais complexo do que isso.” Chaewon sorriu de maneira meio estranha na direção de Hyeju. “Agora é guerra.”

Horas depois, voltando em Sonatine, Dongpyo e Haruna estavam com o resto da turma, já que a tal corrida de revezamento estava perto de começar.

“A Yeojin está demorando muito no banheiro.” Haruna comentou. “Devia ter ido com ela.”

“Ai, era só o que faltava o estômago dela ter apodrecido numa hora dessas.”

“Gente, cadê a Yeojin?” Dessa vez foi Yerim, acompanhada de outras meninas do time de vôlei. Seu tom era meio preocupado. “Ela é veloz, precisamos dela.”

Nisso, Dongpyo e Haruna trocaram olhares. O cálculo mental dos dois chegou ao ponto de que perceberam Yeojin ter realmente furado com a turma.

“Onde ela está?” Yerim perguntou de novo.

“A gente meio que não sabe.” Dongpyo sorriu sem mostrar os dentes.

Yerim tinha uma feição confusa, talvez meio raivosa.

“Ok, não sou estúpida.” Yerim começou. “Ela está me evitando.”

A troca de olhares entre Haruna e Dongpyo só constatou.

“Ela pode me evitar o quanto quiser, mas prejudicar a turma aí não.” Yerim começou a andar. “Vamos, vocês dois, vamos achar ela.” E eles realmente apressaram o passo.

Dongpyo sabia que sua prima ligava sim para o fato de estar sendo ignorada, não era somente pelo time e a confirmação não demorou a vir. Yerim parecia irritada.

“Aliás, por qual motivo ela anda me ignorando.” Yerim pisava forte. “Desde ontem ela está esquisita.”

“Melhor perguntar para ela.” Haruna disse, parando de andar e apontando para o jardim dos fundos.

Yeojin tinha um caderno nas pernas, enquanto aproveitava a sombra de uma das árvores. E Yerim foi logo andando em direção a garota, fazendo os outros dois silenciosamente concordarem em ficarem para trás, principalmente ao notarem a expressão de Yerim suavizar.

“Ei.” Yerim falou. Yeojin aproximou mais as pernas do peito, assustada. “Nossa, eu sou tão feia assim?”

“Não, não é isso.” A feição de certo pânico deixava o clima meio estranho.

Yerim somente suspirou e sentou-se ao lado de Yeojin.

“Legal esse desenho.” Ela apontou para o caderno.

“Ah, valeu.” Yeojin comprimiu os lábios. “É uma personagem original.”

“Sério?” Yerim sorriu.

“Uhum. Ela tem uma história meio trágica, mas estranhamente as coisas se encaixam, além disso tem ótimas amigas, praticamente uma família.” Yeojin parecia mais relaxada. “Com quinze anos ela foi picada por uma aranha radioativa e ganhou os poderes dessa aranha.”

“Ela solta teia?”

“Artificial. Soltar teia do corpo é nojento.” Aquilo fez Yerim rir um pouco, assim como a própria Yeojin. “Ainda estou pensando no nome dela, até o momento Hyunjin parece melhor.”

“Gosto desse.” Yerim assentiu. “Mas assim, precisamos de você para a corrida de revezamento agora. É a última, se vencermos seremos campeões. Haruna e Dongpyo foram muito bem na corrida com ovos na colher...”

Yeojin suspirou meio nervosa.

“Sei que alguma coisa aconteceu. Está esquisita comigo e agora andou fugindo da competição. Isso não é você.”

“Talvez eu só não seja tão corajosa como pensou.”

“Nem vem com essa, Yeojin. O que aconteceu?”

Yeojin fechou o caderno, meio inquieta.

“Eu... Eu fui suspensa do time por conta das minhas notas, eu não dei conta. Estou na zona vermelha e preciso recuperar.” Yerim arregalou um pouco os olhos. Yeojin começava a se preocupar. “Mas Dongpyo e Haruna vão me ajudar, então não precisa ficar brava ou coisa assim, vou fazer de tudo para voltar o mais rápido.”

“Você quer que eu te ajude? Também sou bem inteligente.”

Yeojin piscou algumas vezes.

Não acredito que pensa assim.

“Você não está com raiva? Chateada?”

Eu? Sério, Yeojin?

“Um pouco chateada por não poder te ver durante os treinos, de resto... Não. Estou mais preocupada com você.”

As duas inevitavelmente ficaram envergonhadas.

“Minha mãe sempre falou que as coisas ruins acontecem e precisamos ter calma para lidar com elas. E, principalmente, termos cuidado com nós mesmos, pois somos nós quem nos machucamos.”

“Ela parece legal.”

Você nem imagina.

“Ela é.” Yerim sorriu de maneira meio triste. “Espero que conheça ela um dia.” Após um suspiro, Yerim se colocou de pé, estendendo a mão para Yeojin. “Vamos.”

E, depois de um pequeno sorriso, Yeojin aceitou o contato.

A turma se animou quando Yeojin apareceu. Querendo ou não, ela continuava sendo meio popular por seu contato com Yerim e seu desempenho no time. E a animação só aumentou quando o apito soou e a competição iniciou.

Yerim começou a corrida, veloz como o esperado e já abrindo uma boa vantagem. Em seguida, Alberta forçou um pouco, perderam um pouco de velocidade, mas nada drástico. Dongpyo foi o próximo, precisando enfrentar Matthew que corria sorrindo atrás do garoto ao reparar nele ficando irritado pela competição acirrada.

“Vai se foder.” Dongpyo gritava para Matthew, que ria mais alto.

Por último, Yeojin assumiu com o bastão. A pessoa do outro time estava na frente por alguns centímetros. E Yeojin respirou fundo ao ouvir os gritos de seus amigos, forçando mais as pernas e enfim conseguindo ultrapassar e cruzar a linha de chegada. Por pouco ela não caiu no chão enquanto freava.

Os abraços e comemorações eram altos, assim como Yeojin foi colocada no alto pelos colegas de classe com a vitória.

Já em N.E.W, Chaewon caminhava com Hyeju pelo estacionamento. Hyeju ainda ficava um pouco nervosa por conta da conversa anterior, mas Chaewon não tinha preocupação nenhuma. Chaewon estava era curiosa.

“Hyeju.” Ela começou. “Tem algum motivo para essa briga de vocês se estender até a faculdade? Só pode ser algo muito sério.”

“É...” Chaewon nunca havia visto Hyeju se calar daquela maneira.

“Fala logo, Hyeju.”

“Bem... A Esther.” Hyeju coçou a nuca. “Digamos que nós namoramos no colégio e ela não aceitou o término.”

Chaewon parou de andar.

“E você me diz isso agora?”

“E ia mudar alguma coisa? Eu te falei o que eu sabia sobre ela.”

“Porra para quem namorava, você não sabia de muita coisa.”

“Foi mais por aparência, meu pai que incentivou por querer parceria com os pais dela. E ela também realmente só tinha interesse na minha família... Por isso terminei. Podia ser por aparência, mas até que eu gostava dela. Então saber que ela realmente levava somente os negócios à sério me deixou mal. Os pais dela realmente não devem ter digerido bem, pois ela está aqui enchendo meu saco.”

“Mau gosto da porra.” Chaewon bufou com nojo.

“Nossa, nunca te vi tão indignada.”

“Qualquer pessoa sã ficaria indignada.”

“Tem certeza que não é ciúmes?” Hyeju atirou no escuro, mas aquele seria um bom momento para extrair algo.

“Me respeite, Son Hyeju.” Chaewon revirou os olhos, andando mais rápido.

Aquilo foi o suficiente para Hyeju sorrir satisfeita.

                                         

                                       

                                         

                                       

“Por Deus, que músicas ruins.” Dongpyo fez uma careta. Os três estavam em um canto. A mansão estava escura, coberta de luzes coloridas e vários adolescentes conversando, bebendo e outras coisas típicas de festas com pessoas tendo hormônios à flor da pele.

“Está todo mundo parado.” Yeojin falou. Eles tinham que gritar um pouco.

“Aquele garçom é esquisito, né?” Haruna apontou para um idoso de olhar vidrado e segurando uma bandeja com petiscos. “Será que ele está vivo?”

Yeojin e Dongpyo focaram os olhos no homem. Era realmente curioso.

“E aí? Estão gostando da festa?” Yerim surgiu junto com Matthew.

“A música está uma merda.” Dongpyo falou.

“Concordo.” Matthew apontou para o garoto. “A gente podia ajeitar isso.”

“Vamos, pelo amor de Deus.” Dongpyo começou a andar para onde ficava o DJ. “Haruna, vamos.” Nisso, a garota apressou o passo. “Voltamos já.” E Matthew trocou olhares rapidamente com Yeojin e Yerim, decidindo ir seguir os outros dois.

Nisso, Yerim e Yeojin ficaram sobrando. Era notável que ninguém iria se meter no meio da conversa das duas, apesar de somente estarem se encarando como patetas que desaprenderam a socializar.

“Você quer beber alguma coisa?” Yerim perguntou, se aproximando do ouvido de Yeojin, que estremeceu um pouco e acabou colocando uma mão na cintura de Yerim para poder chegar mais perto do ouvido dela e finalmente responder.

“Pode ser, eu bebo o que você trouxer, mas precisa ser fechado.”

“Sim, pode deixar.”

“Não quer que eu vá com você?”

“Volto rapidinho.”

Para quem estivesse de fora, as duas se mantinham em um abraço muito sugestivo e, dependendo do ângulo, poderia até parecer que estavam fazendo um pouco mais do que isso. E alguém no meio da multidão não havia gostado disso.

E Yeojin ficou claramente desgostosa quando Joshua surgiu na sua frente após Yerim sair. Ele a olhava de cima e com as pontas dos lábios para baixo.

“O que você acha que está fazendo?” Ele dizia entredentes.

“Oi? Eu não devo satisfação a você não.” Yeojin não desviou o olhar.

“Olha, Yeojin.” Ele riu de forma desgostosa. “Eu ainda sou mais poderoso do que você, além de mais inteligente. Pelo que eu saiba você foi suspensa do time, eu continuo muito bem no meu.” Aquilo afetou Yeojin. “Acha que o pai da Yerim vai a deixar ficar com você? Fora que ela vai te deixar para trás assim que perceber a sua vida não acompanhar a dela. Falta pouco para formatura, acha mesmo que vai conseguir ficar com ela mesmo após isso? Acho que não. Vocês não pertencem ao mesmo lugar.”

Yeojin engoliu em seco. Não é como se mentisse, o que realmente iria fazer após a missão de Sooyoung acabar?

“É melhor para todo mundo você dar fim ao que quer que esteja rolando entre vocês duas. Se persistir, no final, quem vai se machucar é ela. Você realmente vai machucar a Yerim?” Joshua havia sucedido. Yeojin tinha se encolhido, o olhar marejado. “Acorda, Yeojin. Seu lugar não é aqui.”

Aquele foi o estopim para Yeojin sair do salão, sem conseguir ver o sorriso satisfeito de Joshua. Ela enxugava uma lágrima enquanto caminhava entre as pessoas. A música subitamente havia ficado bem melhor e todos pulavam, a escondendo ainda mais entre os outros. Yeojin foi no andar de cima a procura de um banheiro, pois o de baixo parecia trancado. Pelo menos podia relaxar um pouco com o barulho abafado naquela parte da residência.

Naquele momento alguém passou por si. Yeojin virou o rosto notando ser o tal idoso de olhar vidrado. E a feição de choque invadiu seu rosto, pois, ao relaxar, acabou ouvindo o pensamento daquela pessoa.

“Sooyoung?” Ela se perguntou baixinho.

O tal garçom, que era Sooyoung, agora vagava por aquele andar. Ela ficou preocupada quando passou por uma Yeojin chorosa, mas infelizmente não poderia falar nada. Porém, ela fez uma nota mental de resolver isso quando estivessem em casa. Isso se existisse algum vestígio para puxar o tópico e não ficar esquisito. Sooyoung odiava, mas torcia para os amigos de Yeojin resolverem o problema.

"Sooyoung, é a próxima porta.” Chaewon falava pelo rádio. “As câmeras já estão totalmente na minha mão.”

Sooyoung deslizou para dentro do próximo cômodo. O escritório era simplório e com poucos móveis, algo que facilitava a procura. As gavetas não tinham muito coisa, restando por adentrar o computador. Sooyoung conectou a um dispositivo dentro do bolso e assim Chaewon copiava os arquivos para o seu próprio computador.

“Equipe Mobius.” Chaewon falou pelo rádio. “Projeto Alter Forza. Acho que conseguimos o nosso jackpot.”

Enquanto isso, no andar de baixo, Yerim andava com as bebidas em mãos. Ela mexia a cabeça ao curtir as novas músicas preenchendo o local, parecia que tinham mudado o DJ completamente. Yerim se divertia até reparar no sumiço de Yeojin.

“Oi, Yerim.” Joshua invadiu sua visão.

“Oi, Joshua, viu a Yeojin por aí?”

“Não vi, mas...”

“Perdão, depois a gente se fala.” Yerim sorriu sem mostrar os dentes e foi para onde Dongpyo e os outros haviam ido sem pensar duas vezes, afinal, Yeojin só podia estar por lá.

E ela teve uma grande surpresa quando notou Haruna comandando a mesa de som, levantando os braços e coordenando os movimentos da pista de dança. As pessoas gritavam o nome dela e pulavam a cada transição e remix que ela fazia.

“Uau.” Yerim falou ao chegar perto de Dongpyo e Matthew, que se mantinham um pouco atrás de Haruna. “Não sabia que ela fazia isso.”

“Nem eu, mas é como ela disse... Gente rica não tem muito o que fazer.”

Yerim riu.

“Onde está Yeojin?”

“Ué, ela não estava com você?”

“O que foi?” Matthew se aproximou dos dois.

“Yeojin sumiu, vou procurar ela. Melhor avisar a Haruna.”

Haruna, ao saber da notícia, chamou o DJ de volta e começou a o dar instruções de como prosseguir. Uma cena que fez os outros segurarem os risos. E o público pareceu decepcionado quando ela saiu da mesa de som, também batendo palmas para ela. Foi até meio complicado engajar em uma conversa com Haruna, pois todos queriam falar come ela.

“Fiquem por aqui vocês dois, eu e Haruna vamos trazer ela de volta.” Dongpyo disse.

“Tem certeza?” Yerim perguntou. “Talvez eu devesse ir.”

“Vamos deixar isso para os amigos, você é o interesse amoroso.” A fala do garoto fez Yerim ficar tímida.

“Vão lá, eu fico com a Yerim por aqui.”

“Não deixe o Joshua perto dela.”

“Pode deixar.” Matthew fez uma pequena continência.

Matthew e Yerim não ficariam entediados, não faltava gente para ficar perto deles. Haruna e Dongpyo realmente teriam mais facilidade em procurarem sozinhos. Foi um pouco complicado e demorado procurar naquele andar, mas logo pensaram que Yeojin provavelmente teria ido para um local mais recluso e o segundo andar era fácil de chegar.

Yeojin estava nas escadas que iam para o terceiro andar, abraçando os joelhos.

“O que o Joshua fez?” Dongpyo reclamou botando as mãos na cintura. “A gente tira o olho em um momento e ele faz merda.”

“Deixa ela falar, Dongpyo.” Haruna disse. Os dois agora se sentaram ao lado da amiga.

“Eu só fui fraca, galera. A gente sabia que isso podia acontecer.”

“O que ele falou?”

Yeojin riu baixinho, pois realmente jamais conseguiria impedir seus amigos de ligarem os pontos. E Yeojin também aprendeu o quão difícil era repetir aquelas coisas para seus amigos. Se machucava toda de novo.

“Aquele infeliz devia se preocupar com o tamanho da cabeça dele, que se ele tiver no telefone e mudar de orelha, troca o DDD.” O comentário acabou fazendo as duas começarem a rir.

“Quarenta reais de Uber saindo de uma orelha para a outra.” Yeojin acrescentou.

“Cabeça é tão grande que um sonho dele tem mais temporadas que Grey’s Anatomy.” Haruna finalizou, fazendo com que os três gargalhassem por um tempo.

“No final.” Dongpyo retomou. “Precisamos nos preocupar com o presente, nós não temos como controlar o futuro. E, quando ele chegar, tomamos nossas decisões. Não adianta ter medo de algo que você nem sabe como vai ser.”

“Isso mesmo.” Haruna concordou. Os dois abraçaram Yeojin, finalmente fazendo a garota relaxar.

“A gente devia ir para o fliperama.” Yeojin disse. “Meio que essa festa perdeu um pouco a graça.”

“Depois dessa, realmente.” Dongpyo disse.

“Podemos chamar o Matheus e a Yerim para irem com a gente. Eu vou chamar meu motorista.”

“Não, tenho uma ideia melhor.” Dongpyo disse. Eles desfizeram o abraço. “Chamaremos a Yerim e o Dongpyo, mas podemos ir de outra forma. Existe um fliperama aqui perto.”

“Existe?” Yeojin perguntou.

“Uhum.” Dongpyo assentiu. “Vamos pegar as bicicletas dos meninos do time de Ping Pong. Eles vão estar muito chapados para se incomodarem.”

Haruna e Yeojin pareceram meio hesitante, mas logo deram sorrisos ladinos. Agora os três iam caminhando para o andar de baixo.

“Aliás, Yeojin.” Dongpyo começou. “Se prepara porque a partir de segunda a Haruna vai se tornar popular.”

Yeojin franziu a sobrancelha.

“Ué, o que aconteceu?”

Enquanto isso, na residência dos Son, Hyeju se mantinha escondida no próprio quarto, no escuro. Ela tinha um celular pré-pago em mãos. Depois dessa ligação deveria mandar uma mensagem para Yerim, pois alguém precisava se preocupar com a caçula assim como a mãe delas fazia.

E era com a matriarca Son quem Hyeju estaria tentando contactar.

“Mãe?” A voz soou esperançosa quando aparentemente havia sido atenciosa.

“Filha? Hyeju?” Ouvir a mãe fez com que Hyeju segurasse um choro na garganta. “Filha, você está bem?”

“Mãe, eu estou bem.” A voz embargava. “Você está bem? Por favor, você está bem?”

“Estou, filha. Somente resolvendo algumas coisas.”

“Mãe, eu tentei entrar em contato com a clínica que o pai te colocou e não consegui nada.”

“Ele não sabe onde estou, Hyeju.”

Hyeju congelou.

“Como assim?”

“Eu estou em outro lugar e logo ele não vai ter como saber de verdade onde estou. Inclusive, fui eu que mexi uns pauzinhos para conseguir falar comigo agora.”

“Me diga onde está, eu vou!”

“Calma, logo poderá vir. Eu vou te deixar sabendo o local assim que possível.”

“Eu sinto tanto sua falta.”

“Eu também.” Diferente do pai, Hyeju sentia o afeto na voz da mais velha. “Só me promete uma coisa?”

“Qualquer coisa.”

“Não confie no Youngsoo.”

Para Sooyoung, Jungeun estava cobrindo mais algum baixista que não pode comparecer a um trabalho. Contudo, Jungeun agora finalizava mais um serviço. Ela estava em um prédio velho, portando sua roupa de combate, e encarando o corpo desfalecido de um homem na faixa dos cinquenta anos, cabelos longos e escuros, além de barba por fazer.

Jungeun já deveria ter saído do local, mas agora ela pendia a cabeça ao encarar algo brilhoso no chão, refletindo a luz noturna entrando pela janela estilhaçada. Ao se aproximar, Jungeun puxou o objeto em seus dedos.

Uma moeda de ouro.

E Sooyoung chegava nesse momento na cobertura. Sua feição era de exaustão. Chaewon a esperava na sala, tendo Gato sobre seu colo.

“Missão cumprida, Snake. Fique feliz.” Chaewon tinha nenhum pingo de ânimo.

“Ninguém chegou?”

“Bem, Yeojin estava na festa e você viu ela.”

“Ela saiu da festa, pensei que estaria vindo para casa, pelo jeito não... Adolescentes.” Ela esfregava o rosto ao se esparramar no sofá.

“É, a menina está vivendo. Alguém tem que viver, Sooyoung.”

“É, eu sei.”

“E a sua esposa está no showzinho dela? Pensei que iria para lá.”

“Ela falou que já tinha acabado e que estaria vindo, ela provavelmente deve estar perto.” Sooyoung acabou por fazer carinho na cabeça do gato, compartilhando o espaço com a irmã. “Enfim, precisamos falar com a tal equipe médica.”

“Isso de ele ter uma equipe médica em um projeto secreto me deixa muito curiosa para se dizer o mínimo.”

“Nada que a gente não consiga lidar.”

“É, eu acho que a tal da Riina pode ser um problema mais tarde, mas não é como se ela fosse uma assassina profissional.”

Sooyoung assentiu, sentindo cansaço no corpo.

E então o telefone dela tocou. Um toque diferente. Nada a ver com o comum para ligações normais.

Não era um toque para ser atendido e sim entendido.

Chaewon e Sooyoung trocaram olhares genuinamente assustados, afinal, aquilo não acontecia quase nunca, mas aconteceu. Elas estavam avisadas.

Um agente da EGO estava morto.

Chapter 14: fazendo ajustes

Summary:

Arco 5: Hotel & Recreation (1/5)

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O dia seguinte sendo sábado, Chaewon saiu do próprio quarto bem cedo para ir ao da irmã sem ter chances de esbarrar com Jungeun ou Yeojin por acidente. Não que fosse impossível inventar uma desculpa, mas simplesmente não conseguia relaxar quando um agente havia sido morto. E quando ela entrou no quarto de Sooyoung, a mais velha já conversava no rádio. A voz da EGO soava baixinha e Chaewon precisou ficar perto.

“Ela está aqui.” Sooyoung avisou.

“Bom dia, Princess.”

“Bom dia.” Chaewon tinha o tom gélido. “Pode explicar o que aconteceu?”

“Estávamos somente te esperando. No caso, o Agente 19 foi morto. Não sabemos exatamente de quem veio a ordem, mas pela forma que o encontramos só pode ter sido a ECLIPSE, além disso, foi em Verni.”

Chaewon e Sooyoung trocaram olhares suspeitos, tentando não transpassarem nervosismo.

“Essa briga entre a ECLIPSE e a EGO não tinha acabado anos atrás?” Sooyoung perguntou.

“É o que pensávamos também. Ainda existem alguns conflitos, mas sempre optamos por resolver isso de maneira diplomática para evitarmos baixas. Cada agente é essencial para o funcionamento de ambas as organizações.”

“Então pode ser uma conspiração dentro da própria ECLIPSE.” Chaewon pontuou. “Não concordam com a trégua.”

“É uma possibilidade. O que eu peço para vocês é cuidado, pois foi justamente na cidade onde estão. Qualquer informação adicional estaremos informando.”

“Agente 11, pedindo permissão para investigar.” O pronunciamento de Chaewon fez Sooyoung arregalar os olhos.

“Chaewon, acabaram de pedir cautela.”

“Permissão dada, agente.”

Sooyoung abriu a boca algumas vezes, mas não saiu som nenhum. Não é como se fosse conseguir mudar alguma coisa por mais que quisesse.

“Só tome cuidado.”

“Sem problemas.”

“Agora, prossigam com a missão. O foco de vocês é o Youngsoo. Fico feliz pelos avanços que estão tendo.”

Ainda assim, bastou a chamada terminar.

“Chaewon, isso não é uma boa ideia.”

A garota revirou os olhos.

“Eu só pedi permissão no caso de me verem mexendo nos arquivos da EGO e acharem estranho, eu sou boa demais para me colocar em perigo desse jeito.” Ela cruzou os braços. “Agora você deveria se preocupar em manter sua esposa perto, pois eu vou investigar esse tal de Alter Forza, focando na parte da tal equipe médica, isso tudo é muito estranho. E é mais fácil para eu ficar em casa e fazer o trabalho inicial do que você.”

E ela realmente tinha razão.

“Ok.” Sooyoung bufou. “Se tiver algum problema, me avise.”

“Com certeza não vou precisar.” O sorriso debochado dava o ar da graça. “Agora vou comer alguma coisa, também preciso colocar a ração para o Gato.” E ela saiu, não antes de checar se havia alguém no corredor.

Sooyoung agora estava sozinha. A morte de um agente realmente mexia com sua cabeça, principalmente sendo na mesma cidade, aquilo a fazia temer a situação da sua missão. Porém, pior do que isso, Sooyoung se preocupava com o bem-estar de Jungeun e Yeojin, pois não seria difícil de meter elas nessa bagunça.

“Foco, Sooyoung.” Ela bateu as mãos nas bochechas.

Enquanto isso, no quarto vizinho, Jungeun usava um celular pré-pago para entrar em contato com sua organização. Não foi dormir muito bem sabendo que havia matado um agente da EGO. Não queria essa confusão para si quando sabia muito bem que os ânimos entre as organizações estavam contidos há um tempo.

“Viper?”

“RedSix? Nos ligando? Que surpresa, você sempre foi de somente receber ordens e obedecer. Admiro isso. O que quer na minha linha?”

“Viper, por que meu alvo foi um agente da EGO? Eu não quero agentes vindo atrás de mim.”

“Não vai acontecer nada com você, pelo menos por agora. Eles mataram o DownForce, então não garanto que esteja totalmente à salvo.”

“O DownForce?” Jungeun tensionou a mandíbula. “Isso foi quando?”

“Dias atrás.”

“Então a guerra entre EGO e ECLIPSE voltou?”

“É o que parece. Sei que você era meio próxima do DownForce de alguma forma, sinto muito.” O próximo significava que ele e Jungeun agiram juntos algumas vezes. “Olhos abertos, RedSix.” E a chamada foi desligada.

Jungeun ainda raciocinava o que havia ouvido enquanto retirava o chip do celular e o destruía, acabando por guardar o aparelho e os restos do chip em uma gaveta, mais tarde ela colocaria fora. O mais importante agora era ficar fora de radar e tentar manter sua dita família fora disso, precisava as proteger.

Além disso, ficaria mais atenta aos movimentos de Viper. A forma como não a cortou, deu informações, e também não havia ouvido nada sobre Bravo há algum tempo, a deixava com um sentimento nada bom.

Jungeun então suspirou e foi ao banheiro, precisava colocar sua cabeça no lugar para poder encarar as outras. E, ao voltar para o quarto, acabou por pegar seu baixo e o dedilhar, talvez assim ficasse mais relaxada. Porém, seu momento foi interrompido por batidas na porta.

“Bom dia.” Sooyoung sorria com as mãos nos bolsos do roupão.

“Bom dia.” Jungeun sorriu sem mostrar os dentes. Achava engraçado em como sua cabeça esvaziava quando interagia com Sooyoung.

“Está ocupada?” Sooyoung sinalizava o baixo jogado sobre a cama. “Vim te chamar para tomar café.”

“Só relaxando um pouco, nada demais. Hoje o dia está meio nublado e acho um clima bom para tocar.” Jungeun saiu de perto da porta, voltando para o instrumento, mas para guardá-lo. “Mas, sim, vamos comer.”

Sooyoung acabou entrando no cômodo, fechando a porta atrás de si. Jungeun se mexia lentamente para guardar o instrumento na capa e depois colocar no armário.

“Alguém te ensinou a tocar isso?”

“Sozinha, quando eu era adolescente. Meus pais adoravam música, mas nunca aprenderam a tocar nada, então não podia ser na infância.”

“Perdeu eles cedo?”

“É, eu tinha uns oito anos.” Jungeun se virou para Sooyoung após guardar o instrumento. “Lares adotivos e essas coisas.”

“Sei como é.”

“Com uma irmã para cuidar deve ter sido mais difícil.”

“Realmente foi algo.” Sooyoung sorriu sem muita felicidade. “Vamos, estou com fome.”

Jungeun somente sorriu sem mostrar os dentes antes de a seguir.

                         

                         

                         

                         

                         

                         

                         

Quando deu o horário de almoço, Sooyoung e Jungeun saíram juntas. As duas até pensaram que iriam sair com as outras duas, mas Chaewon passou com o gato para dentro do quarto dizendo que se virava e Yeojin saiu toda de preto com os amigos, falando sobre algo dos Osato.

Agora as duas estavam em mais um daqueles encontros casuais. O restaurante ficava perto de um parque e era possível ver um lago com patos nadando e bicicletas pela pequena ciclovia.

“Devíamos ter dito para a Chaewon que ela poderia chamar a Hyeju, talvez tivesse aceitado vir.” Jungeun comentou depois de algumas garfadas.

“Ah, eu não sei não, ela pareceu meio desconfortável daquela vez.” Sooyoung riu.

“É engraçado ver Chaewon perto de alguém que gosta.”

Aquilo fez Sooyoung arregalar levemente os olhos.

“Não sei se é isso não.” Sooyoung até teorizava, mas Chaewon e apaixonada na mesma frase soava meio insano. “Ela só é uma pessoa muito privada.”

“Entendo.”

“Está animada para o próximo final de semana?”

“Nunca fui a um resort, então sim.” Jungeun bebericou o vinho. “Eu pesquisei e vi que é um luxo. Eu já acho algo de outro mundo o fato de uma escola fazer eventos em resorts de luxo.”

“É Sonatine.” Sooyoung deu de ombros. “Vamos nos divertir e sei que as meninas também vão.”

                         

                         

As nuvens pareciam terem ficado mais juntas, deixando os arredores mais escuros enquanto Dongpyo e Yeojin estavam no carro com Haruna. Os três conversavam normalmente, se não fosse pelo fato de Dongpyo e Yeojin começarem a notar um muro alto e algumas cruzes podendo serem vistas.

“Eu não falei nada quando notei a gente ficando longe da cidade. Estou morrendo de fome, achei que era um restaurante diferentão.” Dongpyo começou. “Mas agora que estou vendo cruzes... Você trouxe a gente para desovar corpo, Haruna?”

“Credo, não.” A garota fez uma careta.

“Haruna, mas o que a gente está fazendo em um cemitério?” Yeojin perguntou.

Haruna não respondeu, somente aproveitou o fato de o carro parar e saiu, ajustando o sobretudo. Dongpyo e Yeojin foram atrás da menina, estranhando toda a situação, principalmente ao verem várias pessoas reunidas perto de uma construção toda de vidro muito bonita. Aquele cemitério em si era muito bonito.

“Se perguntarem, vocês são amigas da sobrinha dele.” Haruna avisou.

“Você é a sobrinha?” Dongpyo perguntou.

“É para ser.”

Os três deram a volta na construção de vidro e foram até a pequena capela. Lá eles sentaram em bancos longe do altar, em silêncio. Dongpyo e Yeojin se entreolhavam enquanto um órgão ressoava pelo ambiente e até mesmo alguém tentou entrar dentro do caixão em desespero. Haruna, ao contrário deles, se colocou de joelhos e juntou as mãos se colocando em oração, algo que fez os outros dois a seguirem na ação.

“O que a gente está fazendo aqui?” Yeojin cochichou com Dongpyo.

“Eu falei que ela regressou na lore dela.”

“Amém.” Haruna falou alto o suficiente para os dois se calarem e se colocarem de pé junto com ela. “Agora vamos para a parte boa.”

Assim os três voltaram para a casa de vidro, dessa vez entrando. Lá eles se depararam com uma mesa extensa de comida, além de diversas mesas espalhadas e algumas pessoas se serviam e comiam, muitas em silêncio. Um som ambiente também reverberava e nesse momento ‘Beautiful’ o feat de Snoop Dogg com Pharrell Williams começava a tocar.

“Antes que perguntem esse é um serviço que tocas a playlist de quem se foi.” Haruna passou pelos dois, comentando de maneira tranquila. “Vamos, se sirvam.”

E os três pararam em uma das mesas, finalmente comendo. Dongpyo e Yeojin ficaram bem surpresos no quanto a comida era realmente boa como de um restaurante de luto.

“Nossa.” Yeojin deu mais uma garfada, fechando os olhos. “Quem foi que morreu mesmo?”

 


 

Horas depois, em outra parte da cidade, Chaewon e Hyeju se encontravam rodeadas de gatos em um chamado Cat Café. Hyeju havia realmente acertado ao levar Chaewon até ali, pois ela parecia bem mais confortável do que o esperado.

“Tem algum motivo para querer sair comigo?” Chaewon perguntava. “Saiba que meu gato muito provavelmente vai contrair uma dívida no seu nome assim que sentir o cheiro desses outros gatos nas minhas roupas. Sorte minha se eu não for expulsa da minha própria casa.”

Hyeju riu.

“Companhia, Chaewon, eu gosto de ficar perto de você.”

Chaewon desviou o olhar. Odiava aquela sensação, ou será que odiava?

“Mas é, tem algo.” Hyeju finalmente ganhou a atenção da outra de volta. “Você topa viajar comigo nesse final de semana?”

“Me dê um motivo para isso.”

 


 

Agora, Dongpyo e Yeojin tinham um novo motivo para ficarem impressionados, no caso, eles conheciam a residência Osato. Uma construção semelhante aos castelos góticos e de uma elegância fora do comum. O interior brincava com o contraste das cores vermelhas e roxas, dando a impressão de que estavam perto de uma família real.

Os pais da menina não estavam na casa, mas eles foram recebidos por alguns funcionários e Richard III, a raposa, que usava uma espécie de cadeira de rodas para as patas traseiras. Obviamente, Dongpyo e Yeojin tiraram incontáveis fotos com a tal raposa.

Contudo, os dois tiveram uma visão da família da garota ao se depararem com uma enorme fotografia perto das escadas. Os pais dela sorriam grande e não pareciam nada com o que Dongpyo e Yeojin tinha imaginado. Com certeza não pareciam nada com Gomez e Mortícia.

“Sua cama tem forma de caixão?” Dongpyo perguntou ao entrarem no quarto da garota. “Isso é tão irado.”

“Pior que é.” Yeojin comentou.

“Valeu.” Haruna parecia meio envergonhada. Enfim, todos se sentaram na cama, passando a jogarem conversa fora.

“Tirando o rolê aleatório no velório.” Dongpyo começou. “Que foi legal, diferente, mas legal, algo que eu com certeza posso contar no círculo da minha família paterna sem parecer um maluco.”

As duas soltaram risinhos.

“Continuando.” Ele apertou os joelhos ao cruzar as pernas. “Como estamos para o final de semana?”

“Eu é que pergunto.” Yeojin disse. “Eu não conheço o lugar e sei que vocês falaram de ser o mesmo lugar que vão na sétima série.”

“Eu não fui, não tinha graça sem amigos.” Haruna fez uma pequena careta.

“A gente vai se divertir muito.” Dongpyo bateu palmas. “Se eu na época já me diverti horrores, imagina agora. Lá é muito bom, muita coisa para fazer e lindo demais. De longe deve ser o melhor evento escolar do ano. Chance de viver romance pique High School Musical 2.”

“Por que High School Musical 2?” Yeojin perguntou.

“É que se passa no verão, as piscinas e tal.” Haruna cochichou para Yeojin.”

“Ah, saquei.”

“Eu ia quase falar que o Joshua é a Sharpay, mas acho isso muito bola fora com a diva.” Dongpyo comprimiu os lábios. “O importante é que ele não vai fazer a mesma merda de ontem.”

“A gente precisa estar pronto para acabar com ele a qualquer momento.” Haruna disse. “Ele sempre encontra uma forma de se meter no meio. Fico pensando se ele usar Karen, aí pode rolar uma bagunça daquelas.”

“O negócio é saber que qualquer rumor merda que surgir veio do lado deles e Karen mente muito.”

“Graças a Deus.”

Naquele momento, a porta do quarto se abriu e um homem apareceu. Era o pai de Haruna, sorrindo de maneira muito simpática.

“Fico feliz de ter chegado a tempo de conhecer vocês.” Ele andou até Dongpyo e Yeojin, os cumprimentando com apertos de mãos. “Minha esposa está fazendo um bolinho para a gente, vamos descer, brincar de discos.”

“Discos?” Yeojin juntou as sobrancelhas.

“Atirar em discos.” Haruna falou. “Mais um jogo para eu acabar com você.”

“Égua, vai deixar?” Dongpyo brincava enquanto eles saíam do cômodo.

 


 

O clima daquele jogo era diferente dos que aconteciam com Sonatine, claro. A torcida era bem mais contida e o ginásio era muito maior, além disso o nível de jogo conseguia ser ainda mais alto. Ainda estaria jogando vôlei na universidade, mas achava difícil continuar com uma carreira profissional. Ainda assim, mantinha a possibilidade viva. E Yerim realmente preferia pensar na sua relação com vôlei do que realmente conversar com o homem ao seu lado naquele camarote.

“Eu pretendia ir ao bingo, mas tive reuniões.” Nenhum pedido de desculpas.

“Entendo.” Ela não desviava o olhar do jogo.

“Também teve o seu jogo de vôlei.” Ele continuou. “Sabe que estou muito envolvido no partido, é complicado.” O tom dele conseguia ser mais simpático quando estava somente com Yerim. Afinal, ela não tinha tentado contactar a mãe. “Hyeju deve ter reclamado.”

“Nada demais, ela nunca fala muita coisa sobre você na minha frente.”

“Que bom.” Ele soou meio aliviado. “É bom te manter com a cabeça boa, esse ano é importante para você. Para nós.”

“É, sei.”

“Você me lembra sua mãe, espero que não fique maluca como ela.”

Yerim tremeu, mas se conteve. Sorte de estar encarando o jogo, assim ele não perceberia os olhos lacrimejados.

 


 

Quando a noite começava a cair devidamente, Yeojin acabou se encontrando com Chaewon na recepção do prédio, fazendo com que subissem juntas até a cobertura. Uma bela coincidência, pois as duas trocaram olhares estranhos quando perceberam. E as duas também colocaram espécies de caretas quando se depararam com Sooyoung e Jungeun abraçadas no sofá vendo filme.

“Sooyoung, pode vir comigo?” Chaewon nem perdeu tempo. Seu tom não possuía muita paciência. E Sooyoung somente trocou olhares com Jungeun e falou um baixo ‘Volto já’.

Yeojin estranhou ao ver as duas subindo, principalmente ao não conseguir muita informação nos pensamentos delas.

“Não vai subir?” A voz de Jungeun a fez voltar à situação. Realmente deveria ser estranho a ver ali parada no meio da sala.

“É, vou.”

Espero que tenha se divertido.

É, foi legal.

“Se estiver com fome, tem comida na cozinha.”

Yeojin assentiu.

“Tudo bem, eu meio que estou cheia agora, mas obrigada.” Yeojin comprimiu os lábios, preparando-se para sair.

Naquele momento a cabeça de Jungeun ficou em branco, algo que odiava e por isso resolver a encarar. O olhar de Jungeun não possuía nada além de um brilho genuíno, algo que fazia Yeojin se sentir incomodada, então resolveu falar algo para aquele olhar de coitada.

“Comi um bolo hoje com meus amigos.” Jungeun se ajeitou no sofá ao ouvir aquilo, afinal, Yeojin não puxava assunto. “Era gostoso, mas o seu é melhor.” Aquilo não era mentira.

E os pensamentos felizes de Jungeun a pegaram completamente de surpresa ao ponto de fazerem Yeojin sentir vergonha.

“Boa noite.” E a garota subiu de maneira apressada.

Já as irmãs Ha se mantinham no quarto de Chaewon. Sooyoung havia se sentado na cama com os braços cruzados.

“Pensei que tinha ido investigado de casa?” Ela franziu os lábios. “Fiquei meio alerta quando te notei fora de casa, devia me avisar.”

“Foi mal.” Chaewon não estava tão mal assim. “Hyeju me chamou para ir em uma cafeteria, além disso, não achei nada sobre a equipe médica ainda.”

A expressão de Sooyoung suavizou.

“Conseguiu algo novo com a Hyeju?”

“Melhor.” Chaewon sorriu de canto. “Eu não vou para o hotel com vocês, vou viajar com a Hyeju.”

“Para onde?” A expressão de suspeição de Sooyoung chegava a ser engraçada.

“Sooyoung, eu vou conhecer a mãe da Hyeju, Son Jiyoung.”

Chapter 15: viagem em família

Summary:

Arco 5: Hotel & Recreation (2/5)

Chapter Text

                                           

 

Havia chegado o dia.

Yeojin ia no banco de trás, enquanto Jungeun e Sooyoung, ambas com óculos escuros, se mantinham na frente. As janelas do veículo estavam abertas e era notável a mudança de cenário. As cores da cidade agora eram substituídas por tons mais vívidos advindos do litoral. O clima entre as três era agradável e Yeojin respirava fundo ao sentir o cheiro de maresia, fazia um bom tempo que havia pegado um ônibus uma vez somente para conhecer o mar.

“Bem-vindas ao OceanView Resort.” Um funcionário dizia ao recebê-las na entrada. Ele estava ali para levar o carro ao estacionamento enquanto outros funcionários colocavam as bagagens em um carrinho.

Sooyoung somente sorriu de canto ao jogar a chave para o moço e então dar a volta no carro e entrelaçar sua mão com a de Jungeun. Yeojin suspirava ao ver aquela cena, pois algo claramente havia saído do controle na missão, porém, todos ao redor jamais duvidariam sobre se tratar de um casal feliz.

As três passaram pelas portas de vidro e se depararam com uma enorme recepção e, no momento, com vários hóspedes pelo local. Muitos eram estudantes, mas Sooyoung também reconheceu os responsáveis, pessoas importantes como sempre. Dessa vez, contudo, reparou em um homem calvo de bermudas e blusa polo, aquele era um aliado de Son Youngsoo. Ela tinha certeza.

Sooyoung então focou em realizar o check-in, pegando a chave de onde ficariam. Após isso, todos foram direcionados a um salão, lá alguns professores e o diretor de Sonatine os aguardavam. Cada setor do salão estava dividido por cores que seriam os ditos times, algo preestabelecido pela organização. A família Ha foi colocada no time vermelho.

O diretor, um homem baixinho, de cabelo branco médio e com um enorme bigode, tomava um palanque para dar a tal introdução ao evento. As roupas dele denunciavam o clima de férias pela camisa florida e as calças caqui.

“É uma honra ter todos vocês em um dos eventos mais aguardados da escola. Tenho certeza de que nossos estudantes estão animados com a programação e o local em si, principalmente por terem um momento de paz entre as provas e a pressão do vestibular. Aqui é um momento para nós aliviarmos a cabeça, fazermos amizades e nos mantermos próximos de nossas famílias.” O ambiente realmente parecia leve com aquela fala e logo ele prosseguia a falar sobre algumas regras, os folhetos de atividades e informações adicionais. “Cada time terá um líder entre os responsáveis, algo que será feito em reunião entre os pais dos estudantes em cada time. Recomendo que se reúnam nessa sala mesmo e informem o líder ao professor Fitzgerald para que ele possa anotar. Após isso, vamos nos divertir.” O diretor deu um pequeno sorriso e se retirou do palanque.

Todos começavam a se entreolhar, Yeojin dava graças ao notar que Yerim e Haruna haviam entrado na sala em algum momento e agora acenavam para a garota. Melhor ainda? Estavam no mesmo time.

“Já está dando tudo certo.” Haruna comentou ao cruzar os braços. As mais novas iam notando os responsáveis todos conversando a uma certa distância, então sobrava aos jovens se distraírem com diálogos casuais. “Só falta o Dongpyo chegar, eu já até mandei mensagem para ele no grupo.”

“Verdade.” Yeojin assentiu. “Ele estava super animado para esse negócio. Na verdade, cadê o Matheus?”

“Ali.” Yerim apontou para o outro lado. “Time Azul, mesmo do Joshua.”

“Ele que nem Jesus tendo que conviver com Judas.” Haruna pontuou. “O nome começa até com a mesma letra.”

“Bem, ele pelo menos está rodeado de outros alunos.” Yerim disse. “Pode manter ele ocupado por um tempo.”

“Às vezes esqueço que ele é popular de tão chato que é.” Yeojin revirou os olhos.

“Nem me fale, hoje mesmo quando cheguei vi umas meninas babando ele, chamando de tesouro.” Haruna negava com a cabeça. “Quase disse para elas que tinham esquecido de enterrar então.”

Yerim e Yeojin riram, principalmente por ser algo que claramente Dongpyo diria.

“Aliás, negócio de tesouro, parecem a Dona Florinda.” Haruna pegava o celular, Yeojin também tinha notado o seu vibrar. “É o Dongpyo. Ele vai vir com o pai, que está atrasado.”

“Conhecendo ele...” Yerim começou a sorrir de canto.

“Entrada triunfal.” As três falaram ao mesmo tempo.

“Seu pai não vem, Yerim?” Yeojin perguntou após alguns segundos.

“Ele vem, mas não hoje.” Yerim comprimiu os lábios. “O importante é que vem.” E realmente como era importante.

Nisso, os adultos pareciam ter resolvido a questão do líder. Jungeun e Sooyoung agora cumprimentavam os Osato, já que agora se colocaram no mesmo ponto por conta das filhas. As mais novas também cumprimentaram quem faltavam e assim todos seguiram para a parte do resort onde ficavam os alojamentos do time vermelho.

“Uau.” Yeojin manteve a boca aberta ao entrar no apartamento, principalmente ao observar o mar da varanda.

A menina deixou logo as coisas no quarto, pois havia combinado de se reunir com as outras a fim de esperarem Dongpyo. Enquanto isso, Jungeun e Sooyoung percebiam estarem no mesmo quarto. Elas sabiam que esse momento iria chegar em algum momento, mas ainda se mantiveram meio esquisitas ao se depararem com a enorme cama de casal as esperando.

“Parece confortável.” Sooyoung suspirou ao entrar no cômodo para colocar as coisas.

Jungeun começava a sorrir por estar gostando daquilo mais do que deveria. A mulher só conteve mais a reação, pois começava a lembrar do que estaria prestes a fazer.

 


 

Enquanto isso, Chaewon se encontrava no volante de um carro prateado e deveras pequeno. Um veículo alugado por Hyeju para justamente fazerem a viagem de agora. E Hyeju focava em checar várias vezes o endereço no mapa e no celular ou encarar a estrada. Era notória a ansiedade na garota.

“Fico feliz de me chamar para algo assim.” Chaewon disse, notando os nervos da outra. “Sei que a sua situação é complicada.”

“Perdão por te colocar nisso, de verdade, mesmo você dizendo estar feliz, eu consigo notar que não está.” Hyeju a olhou rapidamente.

“Olha, eu fico um pouco feliz de tirar um tempo da minha família. Quando estou com elas eu viro estrela cadente, não posso passar perto que ficam fazendo pedido.”

Hyeju riu um pouco.

“O resort é legal.” Hyeju disse. “Eu faria de tudo para estar lá com minha família, mas uma família de verdade.”

“Você vai fazer isso.” Chaewon segurou firme no volante. Querendo ou não, ouvir aquilo lembrava da sua própria família e as férias que passavam.

“É, eu espero.” Hyeju suspirou. “Só mais uns dias na estrada.”

“Só mais uns dias.”

 


 

“Nossa turma ficou quase toda dividida.” Yerim falou. Ela, Haruna e Yeojin estavam em uma mesa perto de uma das piscinas. “Uma sorte termos ficado juntas. o Dongpyo também ficou na nossa, eu olhei a lista assim que pude.”

“Só espero que o Dongpyo chegue logo.” Haruna disse. “As provas começam daqui a pouco e precisamos dele.”

“É verdade.” Yerim assentiu. “Aliás, vocês viram quem é líder do nosso time?”

As outras duas acabaram chacoalhando a cabeça. Realmente tinham deixado o detalhe passar.

“Oi, Haruna.” Um grupo de pessoas passou por elas naquele momento, acenando, algo que ela retribuiu.

“Meu Deus, sua popularidade realmente não é brincadeira.” Yeojin comentou. “Vão te colocar na mesa de som do baile de uma forma ou outra.”

“É um talento.” Haruna deu de ombros. “Antes não ligava muito para o baile, mas isso de controlar o som é legal.”

“Você vai ser convidada para todas as festas.” Yerim falou. “E precisa ir nas minhas.”

“As suas são prioridade.” Ela fez uma pequena continência. “Agora olhem quem chegou, finalmente!”

Dongpyo passava pelo portão parecendo realmente um garoto riquinho com a roupa totalmente bem ajustada, os óculos escuros, além de estar com um cachorro bege nos braços, aparentemente uma mistura de Pinscher com vira-lata. Aquele era o famoso Tonhão. A cereja do bolo era Dongpyo andar propositalmente em câmera lenta como as pessoas fazem no Tiktok. Atrás dele vinha um homem alto, maxilar definido, assim como os músculos. Ele não parecia muito com Dongpyo, mas dava para perceber ser seu pai.

“Fala, meninas.” Ele sentava em uma das cadeiras. “Esse aqui é o meu pai.”

“Taecyeon?!” Sooyoung, que tinha acabado de aparecer por ali com Jungeun por conta das atividades iminentes, dizia em um choque parcial.

“Olha só!” Ele abriu um sorriso.

Yeojin rapidamente ativou suas habilidades, piscando os olhos rapidamente ao ser varrida por pensamentos de Taecyeon e Sooyoung.

“Você está bem, Yeojin?” Yerim segurou a mão da garota rapidamente.

“Acho que é fome.” Yeojin sorriu sem mostrar os dentes. Felizmente havia conseguido entender rapidamente a relação daqueles dois. Uma baita coincidência.

Sooyoung e Taecyeon apertaram as mãos, surpresos, mas sorridentes, pois tinham pessoas ao redor. Não é como se fosse de todo ruim.

“Jungeun, esse aqui é um amigo meu da época de faculdade. Taecyeon, essa é minha esposa.” Os dois trocaram cumprimentos.

“Quem diria, hein?” Dongpyo comentou com as outras, ajustando o cachorro nos braços. “Nossos pais são amigos, uau. Estava escrito nas estrelas.”

Yeojin sorria pequeno, torcendo para que Sooyoung tivesse conseguido passar seu nome para Taecyeon e assim não resultar em uma cena esquisita. Como assim você não sabe o nome do seu amigo de longa data? Muito esquisito.

De alguma forma eles conseguiram, pois Jungeun precisou ir até um dos professores a fim de pegar uma prancheta, um broche e um boné vermelho, que manteve preso nos shorts jeans. Foi ali que Yeojin se deu conta de quem seria a líder do time.

“Sooyoung me convenceu a tomar o papel, espero que se divirtam.” Jungeun falou com os amigos de Yeojin, outros alunos também se aproximavam.

“Ela é boa com pessoas.” Sooyoung disse ao abraçá-la pelos ombros.

É, aquilo era verdade. Yeojin não podia negar aquele fator, só esperava que Jungeun conseguisse ser competitiva como seus amigos. Se ela era uma ótima assassina, talvez ela fosse pelo menos atlética, então entendesse. Yeojin arregalava levemente os olhos.

As meninas faziam carinho em Tonhão, finalmente falando com o cachorro e evitando com que ele se estressasse com a exclusão de acordo com Dongpyo, quando os times foram chamados. A primeira prova era escalada e todos podiam ver o enorme paredão ao chegarem na área designada.

Jungeun verificava a prancheta e parecia meio confusa.

“É...” Ela começava, percebendo todos os jovens ao se redor. “Nós precisamos de uma pessoa.” Não era difícil de notar o quão perdida ela parecia, afinal, ainda continuava tímida e em uma situação nada usual.

“Eu vou.” Um garoto levantou a mão.

“Ótimo.” Jungeun soou meio aliviada. “Coloca seu nome aqui.” No meio disso, ela trocou olhares com Yeojin. Jungeun estava claramente meio constrangida.

Foi ali que Yeojin captou sobre Jungeun ter aceitado aquilo para também se aproximar dela.

Um pouco distante dali, mas o suficiente para observarem a prova se desenrolar, Sooyoung e Taecyeon se serviam no buffet e tomava uma das mesas para passar o tempo.

“Sooyoung, então.” Ele começou.

“Você fica bem melhor sem aquele bigode esquisito.” Sooyoung comia um pouco de salada.

“É, obrigado.” Taecyeon coçava a nuca. “Sua família parece nos trilhos.”

“Podemos dizer que tive sim um pouco de sorte.” Ela sorriu pequeno. “Mas e a sua? Dongpyo é seu filho e isso te coloca na família Son de alguma forma.”

“Nem me fale.” O suspiro do homem pegou Sooyoung um pouco de surpresa.

“Dongpyo é um bom garoto.”

“É, tenho muito orgulho dele.”

“E não vai falar sobre a situação? Eles sabem disso?” Os ‘eles’ seriam a EGO.

“Sabem, mas não tem como eu fazer muita coisa, digamos que eu causei uma certa confusão.”

“Que seria?” Sooyoung se curvou mais sobre a mesa. “Somos amigos.”

Taecyeon pareceu pensar um pouco, mas logo suspirou indicando derrota.

“Eu e minha ex, a Eunjung.” Ele comia um pouco de carne. “Nós começamos a namorar na adolescência. A gente se conheceu em uma festa, porque eu tinha uns conhecidos em Sonatine. Como Jiyoung é a mais velha, então toda a responsabilidade caía em cima dela, por isso a Eunjung tinha uma certa liberdade. Os pais dela vieram cancelar isso quando perceberam que ela estava namorando comigo.”

“Pobre demais para eles?”

“Com toda certeza.” Taecyeon assentiu. “Eles tentaram me dar dinheiro e outras coisas só para eu terminar com ela, mas não conseguia.” Era possível notar tristeza no tom. “As coisas ficaram ruins mesmo quando Eunjung engravidou, nós ainda éramos muito jovens e muito menos casados. Os pais dela não gostaram, Eunjung brigou com eles e não queria abrir mão da gravidez.”

“Nossa.”

“Pois é.” Ele cruzou os braços. “Ela foi deserdada. Simplesmente deserdada. Nós dois fomos morar juntos, sem muito dinheiro, foi desesperador. Eunjung precisava estudar, ela tinha acabado de entrar na faculdade e eu não queria ela perdendo mais nada, então decidi trabalhar ao invés de ir para a faculdade.”

“Se deparou com eles?”

“Sim. Era a chance que eu esperava depois de muita frustração, mas eu iria precisar abrir mão deles. Eles apareceram quando Dongpyo tinha meses. Eu nunca falei sobre meu emprego para Eunjung, só falei para ela fazermos um trato. Ela me largava, falava com os pais e tentava pelo menos conseguir algo na empresa. Eles não fariam nada com Dongpyo, ela já havia nascido, enquanto isso eu iria continuar trabalhando e mandando dinheiro. Antes de conseguir a estabilidade de hoje, eu precisei passar anos viajando para onde precisassem, você sabe como é.”

“É, eu sei.”

“Claro que Eunjung não tomou o trato como algo bom, nós brigamos feio e ela fez o que eu havia pedido por pura raiva de não querer mais olhar na minha cara.” Ele riu sem achar graça. “Hoje finalmente estou tentando juntar os cacos. Eu ainda amo aquela mulher.”

Sooyoung sorriu de maneira triste. Aquela história não era nenhum pouco justa.

“Eles vão entender de alguma forma.” Ela disse, dando tapinhas no ombro de Taecyeon. “Sua família vai voltar para você.”

Taecyeon pareceu mais choroso, mas logo soltou um sopro para se recompor.

“Olha, perderam.” Ele chamou a atenção da outra para o paredão.

Jungeun agora não conseguia conter os ânimos da própria equipe. Todos falavam por cima dos outros ou não prestavam atenção nenhuma ao que Jungeun tentava falar. O quarteto logo trocava olhares preocupados pela mulher.

“Pessoal!” Yerim chamou a atenção, todos pararam imediatamente para a olharem. “Intervalo para comerem, vão.” E rapidamente dispersaram.

Nisso, o quarteto se aproximou de Jungeun, apesar de Yeojin ainda ter hesitação nos passos.

“Próxima prova é corrida de obstáculos e você participa da última corrida.” Yerim começou, pegando a prancheta das mãos de Jungeun com gentileza. “Nós vamos marcar para você quem é melhor em qual prova, você só vai precisar chamar. E não ache ruim, pois nós convivemos como eles, você não tem como saber. Acho que os outros líderes também pediram ajuda dos alunos.”

“Isso aí, você vai ser uma ótima líder.” Dongpyo disse, sendo seguido por um latido do cachorro. “Vai comer um pouco, você vai correr mais tarde.”

“Deixa com a gente.” Haruna falou antes de voltar a atenção para a prancheta.

Yeojin somente ergueu o polegar.

Jungeun ficou meio envergonhada, mas seguiu o conselho.

“Yeojin, vai atrás dela, também precisa comer.” Yerim falou.

“Verdade, ela é sua mãe.” Dongpyo franziu os lábios.

“E ela vai participar da prova.” Haruna disse. “Ela precisa de você.”

Yeojin fez uma pequena careta, mas disfarçou como pode com um sorriso e seguiu para onde os adultos estavam. A garota ainda foi capaz de alcançar Jungeun antes de chegarem até o buffet.

“Jungeun.” Ela chamou, mas não muito alto, pois poderiam achar estranho a chamar pelo nome. A mulher diminuiu a velocidade dos passos ao notar a mais nova. “Você é legal.” Ela procurava palavras, mas já notando a surpresa e certa alegria da mais velha. “Sei que é capaz de ser líder, como meus amigos falaram. Você vai mandar bem na prova de obstáculos.”

“Obrigada, Yeojin.” Aquilo acabou a deixando motivada. “Conto com você, também.”

“Sim, claro.” A garota dava graças ao fato de finalmente terem chegado ao buffet.

Yeojin se sentiu de dever cumprido quando notou Jungeun não chegando tão cabisbaixa assim na mesa de Sooyoung e Taecyeon. Ela precisava manter aquela energia se quisesse ajudar seu time a ganhar, afinal, era tão competitiva quanto eles.

O time vermelho precisava de Jungeun.

E o clima estava diferente quando os times chegaram ao campo da corrida de obstáculos. Jungeun respirava fundo com a prancheta na mão, mantendo-se ao lado de Sooyoung e Taecyeon.

“Vai se sair bem.” Sooyoung comentou. “Confia na Yeojin, ela sabe o que fala.”

“É.” Jungeun se virou para encarar Sooyoung. “Você acha que devo mudar algo?”

“Nenhum pouco.” Sooyoung segurou sua mão, a levantando até a altura do peito e as entrelaçando. As duas realmente ignoravam tudo ao redor quando estavam juntas. “Só use seu lado competitivo, não tem erro.” Sooyoung depositou um beijo nas costas da mão de Jungeun, ganhando um sorriso em resposta.

E assim ela foi para ajudar o time.

“Sooyoung.” Taecyeon falou após algum tempo observando Sooyoung encarar a outra com um sorriso.

“Diz.”

“Eu sei como você se sente.”

Sooyoung e Taecyeon decidiram não prosseguirem no assunto.

Chapter 16: virando selva

Summary:

Arco 5: Hotel & Recreation (3/5)

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Um aluno menor cruzou o resort com um balde de tinta pequeno, ele chegava sorridente, ganhando um afagar nos cabelos de outro colega. O time vermelho estava reunido em um círculo. Jungeun os observava com certo orgulho, a prancheta com as anotações de Yerim estavam ajudando bastante. Agora era hora da corrida dos líderes e, o bom desempenho até agora, tinha colocado o time em um novo clima. Todos iam passando o balde de tinta um para o outro até enfim chegar em Jungeun, que molhou os dedos e os passou nas maçãs do rosto.

A torcida dos mais novos a animava. Jungeun não estava nenhum pouco nervosa, afinal, atividade física nunca seria problema para si. Yeojin, que observava de maneira confiante, sabia que a performance de Jungeun com certeza faria a moral do time subir de maneira absurda.

“Assim como vocês deram tudo de si nessa prova.” Jungeun começou. “Eu também vou fazer o meu melhor e espero que levem essa mentalidade para o resto da competição.” Todos assentiam, se abraçando pelos ombros como um time de verdade. “Vamos pintar tudo de vermelho!” O grito da mulher fez os outros gritarem também.

E Jungeun acabou trocando olhares com Yeojin, que a direcionou um joinha.

A mulher agora tirava o boné, que ficava preso no short, e o colocava na cabeça. Dongpyo ainda tinha feito questão de conseguir um apito. Jungeun estava comandando como se aquele fosse seu quartel.

Do outro lado, Sooyoung tinha um sorriso orgulhoso, que logo ia diminuindo ao notar o filho do Harverford de braços cruzados e fuzilando Yeojin com o olhar. Se não estivesse enganada, Joshua também não estava acompanhado pelos pais, assim como Yerim. Se os rumores estiverem corretos, em algum momento eles vão aparecer no evento. O que faziam agora, no entanto, era um mistério.

Nisso, a largada foi dada.

Jungeun disparou em uma velocidade impressionante. Ela saltava, deslizava, dava cambalhotas e desviava como se já tivesse feito algo parecido diversas vezes. Todos no resort, incluindo os responsáveis, haviam parado as conversas para a observar. Yeojin já esperava que logo seu time começasse a gritar de felicidade e admiração.

“Sua mãe é muito foda!” Dongpyo balançava Yeojin pelos ombros. A garota somente sorriu pequeno, um pouco envergonhada.

E quando ela cruzou a linha de chegada, todos do time correram em sua direção, menos Yeojin. A garota somente observava Jungeun se divertindo com os outros e tendo um sorriso genuíno no rosto. Yeojin, ao focar, capturou genuinidade em todos os traços de Jungeun e aquilo fez o coração da garota se acalmar um pouco.

O que Yeojin não esperava, no entanto, era que Jungeun, cheia de felicidade, correu na direção de Sooyoung, que a segurou nos braços. Yeojin assumiu uma feição de pânico. Afinal, Sooyoung rodopiou com Jungeun e as duas trocaram um beijo não muito demorado, mas um beijo. Como se fosse comum, natural, fácil e correto.

“Nossa, você tem a quem puxar.” Dongpyo comentou ao seu lado. “Elas parecem meus pais.”

Nisso, Yeojin fez uma careta.

“Eles não são divorciados?”

“Mas eles se amam! Meu pai acha que eu não percebo ele tentando conquistar de volta? Quem que vai na casa de ex lavar a louça, Yeojin? Não sou otário.”

“E você quer que eles voltem?”

“Quero. Minha mãe quer também. Eles vão ser felizes juntos, eu também. Não é o mesmo sentimento que você tem? É legal ver sinais de quando nossa família se ama.”

Yeojin voltou a observar a cena entre suas ditas mães, que agora pareciam meio nervosas, porém felizes, e Yeojin acabou deixando um pequeno sorriso escapar.

Agora o time vermelho precisava ir para as outras provas e foi isso que Jungeun tratou de fazer ao voltar da comemoração com a esposa. Elas ainda tinham provas para ganharem.

“Você está apaixonada, Sooyoung?” Taecyeon perguntou ao sentarem à mesa novamente. “Porque ela parece estar por você.”

Sooyoung somente colocou uma certa expressão de pânico e Taecyeon somente riu anasalado.

                                             

                                             

                                             

                                             

 

O time vermelho agora prosseguia para a prova de arco e flecha. Haruna e Yerim foram a dupla escolhida e ambas deram um caldo nos times rivais. E Dongpyo e Yeojin trocaram olhares um pouco surpresos ao notarem que assim como Yerim recebia gritinhos, Haruna também começava a receber. A popularidade da garota realmente estava em ascensão. Haruna ser boa de mira também não era uma novidade para os dois, pois quando saíram para atirar em discos com os Osato, que comemoravam os feitos da filha na prova, Haruna era impressionante.

A prova seguinte foi em um ambiente fechado e fresco com ar-condicionado. A pista de boliche reluzia e se tornava bem atrativa para todos. Yeojin, Yerim e outro aluno foram escolhidos para a prova. A partida seguia de forma leve e Jungeun pode sentar com Sooyoung por um tempo naquele salão. Taecyeon não estava com as duas, pois preferiu ir tirar um cochilo.

No momento, as duas observavam Yerim e Yeojin interagindo.

“Elas são tão bonitinha.” Jungeun comentou. As duas com certeza não tocariam no assunto do beijo.

“É, também acho.” Sooyoung sorriu pequeno. Ficava feliz por Yeojin estar tendo essas experiências. E esperava, com sinceridade, que a missão terminasse da forma mais benéfica possível para todos.

“Primeiro amor é algo mesmo, né?” As duas se assustaram um pouco com a fala, pois achava estarem sozinhas na mesa. Era Dongpyo, ainda de óculos escuros, com Haruna ao lado. Eles também observavam Yerim e Yeojin rindo juntas.

“Trágico.” Haruna disse.

A prova seguinte foi após o almoço, dando início às atividades da tarde. As provas terminariam em torno de quatro da tarde, já que o baile começaria às oito, deixando o domingo livre para as famílias. No baile é que anunciariam a equipe vencedora.

Todos participariam agora. Era hora do cabo de guerra.

O time azul, liderado por Joshua, se aproximava da corda. Ele fuzilava o time rival, principalmente Yeojin, enquanto Matthew acenava amigavelmente logo atrás dele.

Quando o apito ressoou, Yeojin prendeu as mãos de maneira firme e começou a puxar, não se importando com as caretas que fazia.

“Puxem!” Yerim gritava.

“Tonhão!” Dongpyo gritou, fazendo com que o cachorro se agarrasse na ponta da corda.

“Ei! Não pode cachorro!” Joshua gritava do outro lado.

“Ele é do time por tabela! Isso é preconceito!”

Yeojin não sabia se conseguiriam, os dois times mal se moviam, ou seja, começava a se tornar uma prova de resistência. Joshua estava bem na sua frente e isso pelo menos a dava um gás de querer acabar com ele e aquela prova. Se tivesse uma forma como entrar na mente dele... Yeojin semicerrou os olhos na direção do garoto, que a encarou de volta. Yeojin não sabia o que estava fazendo direito, mas notou a careta de força do garoto começar a apaziguar e assim o time vermelho puxou o outro time para cruzar a linha.

Yeojin mal entrou na comemoração de início. De alguma forma sua mente... Ela não só não lia pensamentos? Será que era isso que o tal laboratório queria? Ou tinha mais?

“Ganhamos!” Yeojin foi tirada do chão por Yerim, finalmente desviando sua atenção para seus amigos.

A próxima prova era corrida do saco. Dessa vez, os alunos menores seriam os melhores para a tarefa. Yerim, Haruna e Yeojin agora esperavam começar a outra prova, já que seria a hora de Yeojin e Dongpyo brilharem na corrida de carrinho de mão.

“Cadê o Dongpyo?” Yerim perguntou. “Faz uns vinte minutos que ele sumiu.”

“O Matheus também não está com o time azul.” Haruna comentou praticamente cantarolando.

“Você acha que-?” Yerim começou a sorrir.

“Bem a cara dele nunca admitir.” Yeojin disse. “Mas eu vou atrás dele, vou mandar mensagem. Sair por aí procurando é suicídio social, vai demorar muito.” Ela já pegava o celular e fazia o que tinha dito. Não demorou muito para receber uma resposta. “Ele disse para eu ir para perto do lobby.”

As outras trocaram olhares confusos.

“Vai lá.” Yerim observou o campo da prova do saco. “Já terminou, é melhor vocês voltarem logo.”

“Pode deixar.” Yeojin já ia caminhando apressadamente até o tal lobby. Era bom Dongpyo não estar somente brincando.

Quando chegou lá, não havia sinal do garoto. Seu rosto só foi assumir uma expressão quando notou o barulho de um pequeno motor. Dongpyo vinha em um daqueles animais motorizados de shopping e tendo Tonhão perto do guidão. Yeojin não conseguia acreditar.

“Depois vamos pegar mais desses com a Haruna, quebram um galho danado.” Ela sorria ao parar perto da amiga. “Sobe aí.”

“Como achou isso?”

“Matheus me mostrou.”

“E o que estava fazendo com ele durante esse tempo todo?”

“Nada demais.” A resposta veio rápida.

Yeojin bastou olhar uma vez os pensamentos do garoto e já se calou com um pequeno riso.

“Vamos fazer o nosso movimento especial nessa prova, né?” Dongpyo perguntou.

“A gente não praticou para nada, né?”

“Vamos lá, fazer história.” E assim saíram no leão motorizado.

Os dois chegaram chamando atenção de todos. Dongpyo, Yeojin e Tonhão intimidavam, de alguma forma, aqueles que iriam participar daquela prova.

“Por um momento fiquei preocupada.” Jungeun comentou. “Estão prontos?”

“Sempre.” Dongpyo dizia ao retirar os óculos e entregar para Haruna.

“Em posição!” A professora responsável por ser juíza fez o chamado.

Yeojin colocou os braços no chão, logo entregando um pé de cada vez para Dongpyo segurar. O percurso era longo e necessitava de bastante resistência por parte de quem estivesse com os braços no chão.

Sorte que eles leram várias vezes o regulamento. Eles sabiam exatamente o que fazer.

Quando o apitou ressoou, todos começaram a torcer por suas respectivas duplas. Yeojin e Dongpyo tinham uma boa velocidade e se mantinham perto do primeiro lugar. Eles sabiam que logo a dupla da frente começaria a cansar. E, quando isso aconteceu, Yeojin deu uma cambalhota e Dongpyo saltou para o chão. A manobra fez todos irem à loucura até mesmo quem não era o do time vermelho. Dongpyo, com mais energia, deu o impulso necessário para cruzarem a linha de chegada.

Naquele momento, no meio dos abraços dos colegas, Dongpyo e Yeojin sabiam que tinham feito história.

“Seguinte.” Jungeun juntava o grupo para a última reunião do dia. “Chegamos ao final da nossa jornada. Estou muito orgulhosa de vocês, de verdade.” Os alunos trocavam sorrisos. “Agora é hora da queimada.” A feição dela se fechou um pouco. “Sem misericórdia.”

“Sem misericórdia!” O time gritou.

Era uma revanche.

O trio havia ganhado contra Joshua naquela vez, mas uma pessoa entre eles não conseguir reagir da maneira como queria. Haruna respirou fundo ao apoiar as mãos nos joelhos. Joshua parecia mais estressado do que o normal, com certeza estava odiando perder toda partida contra o time vermelho.

O jogo começou com todos gritando no campo como se realmente se iniciasse uma guerra travada pelo Império Romano. Jungeun dava algumas instruções e os alunos focavam em manter a bola passando em uma velocidade impressionante.

“Yerim!” Yeojin avisou antes de passar. Em segundos, Yerim eliminou dois de uma vez, causando mais comemorações.

Pouco a pouco, os jogadores em campo foi diminuindo. Mesmo o time vermelho tendo vantagem, ainda era pouca. Matthew estava dando trabalho assim como Joshua.

“Cruzado.” Dongpyo avisou Yeojin, que somente assentiu.

Yeojin pediu a bola, correndo para poder saltar a acertar em alguém. Porém, Dongpyo cortou por trás e recebeu a bola, podendo assim jogar com tudo na direção de Matthew, que não conseguiu escapar, apesar de ser um exímio goleiro.

Joshua rangia os dentes de raiva ao notar mais um jogador fora. Ainda poderia ganhar e Matthew poderia fazer jogadas do outro lado do campo, mas precisava lidar com a desvantagem. E parecia que o intuito era deixá-lo sozinho, pois quando Karen foi acertada, perdendo assim duas (ou uma) pessoa, agora ele se encontrava sem nenhum aliado.

Ele não sabia de onde viria o ataque e, sinceramente, ainda sentia sua cabeça meio leve desde a prova do cabo de guerra. Quem acertaria a bola? Seria Yerim? Doeria menos. Seria Yeojin? Humilhação. Seria Dongpyo? Absurdo. Seria Haruna? Escandaloso.

E Joshua realmente deu um escândalo quando a garota o acertou bem na cabeça, soltando um grito logo em seguida.

Eles venceram. E a vingança havia sido cumprida.

Chapter 17: você quer dançar?

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Arco 5: Hotel & Recreation (4/5)

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O apartamento onde estava a família Ha tinha quase todas as luzes acesas. Sooyoung colocava os brincos enquanto cruzava a sala para chegar até o quarto, acabando por se deparar com Jungeun tentando colocar um colar com a ajuda do espelho.

“Deixa eu te ajudar.” Sooyoung já tocava as pontas dos dedos na nuca da outra.

Elas não falaram nada desde a cena pós-vitória na frente de todo mundo. Era como se não quisessem estragar, como se aquele momento fosse frágil. Muito provavelmente pelos tantos segredos por trás. Agora elas somente sorriam uma para a outra ao encararem aquele espelho.

Um casal feliz.

“Está pronta?” Sooyoung perguntou ao dar batidinhas no quarto de Yeojin.

“Indo!” E em segundos ela havia aberto a porta. “Não estamos atrasadas, não, né?” Sooyoung arregalou um pouco os olhos ao encarar a mais nova. Ela estava completamente daquela garota de moletom que encontrou no orfanato. Se antes não tinha ficado óbvio, agora era inevitável.

“Você está linda.” Sooyoung ofereceu o punho, que foi acerto por Yeojin. A mais nova ficou um pouco tímida por conta do elogio. “Ansiosa?”

“Um pouco.”

Sooyoung não sabia se seria um bom momento, mas sentia que talvez fosse seu papel.

“Olha, eu notei você e a Yerim.” Yeojin foi ficando um pouco vermelha. “Só quero te desejar boa sorte... E que apoio vocês.”

“Ah...” Ela esfregou os braços levemente. “Valeu.”

“Agora vamos.”

O evento foi realizado em uma estrutura externa ao resort, composto por dois enormes salões interligados. Em um ficava as mesas das famílias já estabelecidas, enquanto o outro possuía a pista de dança.

As Ha chegaram atraindo alguns olhares e acenos, principalmente Jungeun ao ser notada pelos alunos que ficaram em seu time. Rapidamente elas foram levadas até uma mesa pelos funcionários e Yeojin passava a procurar seus amigos ao virar a cabeça para um lado e outro.

“Eu vou ficar com meus amigos.” Yeojin falou ao finalmente visualizar seus amigos acenando do outro lado. Eles estavam saindo do salão de dança.

“Vai lá.” Sooyoung respondeu sem muita preocupação.

“Espero que ela se divirta.” Jungeun comentou.

“O time de vocês deve ter ganhado com certeza, então creio que já é motivo suficiente.” Sooyoung riu.

Nesse momento, por trás de Jungeun, ela via um dos aliados do Son passando para a parte do bar. O homem parecia cambalear um pouco.

“Jungeun, você quer algo para beber?”

“Algo com Vodka.”

“Pode deixar.” Sooyoung sorriu sem mostrar os dentes e passou a ir ao bar.

O barman não parecia muito interessado, mas pelo menos era competente ao preparar as bebidas com agilidade. Ou talvez a falta de interesse fosse pelo homem claramente meio bêbado falando com ele sobre assuntos que ninguém ligava. Quer dizer, Sooyoung ligava.

“Sr. Harverford?”

“Quem é você?” Ele espremia os olhos na direção dela.

“Sou Sooyoung Ha, trabalho no Banco Karteri.”

“Não conheço, mas quer falar alguma coisa comigo? Fazer propaganda?” Ele soluçava.

“Talvez um pouco de propaganda. Como o senhor é do ramo da engenharia, fiquei pensando se não se interessaria pelos nossos financiamentos sigilosos. Especial para grandes obras.”

Ele ergueu uma sobrancelha.

“Vocês estão cada vez mais sabidos, sabem como atrair a clientela.”

“É, sabemos.” Sooyoung riu.

“Olha, eu tenho um amigo.” Outro soluço. “Ele tem um puta de um projeto, as coisas estão lá no cassino dele. Coisa grande mesmo. Ele está usando a minha construtora.”

“Quem seria?” Ela sabia a resposta.

“Youngsoo.” Ele bebericava a nova dose de uísque. “Ele deve chegar a qualquer momento, ele falou que viria.”

“Bom saber.” Sooyoung ficou um pouco surpresa. Youngsoo não havia aparecido em praticamente nenhum evento escolar, então colocou isso um pouco no fundo de sua cabeça.

“Mas ele me machuca, sabia?” O homem começava a lacrimejar. “Eu soube que ele fez um churrasco, não me chamou! Eu o ajudo em todo projeto e é assim que me retribui? E eu pensando que éramos amigos.”

“Aqui as suas bebidas, senhora.” O barman colocou as taças na frente da mulher, que as pegou sem pensar duas vezes. E aproveitou o fato do Harverford está chorando silenciosamente para voltar à mesa.

Sooyoung e Jungeun ficaram conversando por boas horas, quase como se não tivesse ninguém por perto. Bebendo um pouco, aproveitando os petiscos. Taecyeon se juntou a elas em algum momento, assim como os Osato. A mesa agora era um pouco mais barulhenta. Porém o barulho cessou por um momento quando Sooyoung notou quem passava pela entrada do salão.

Era ele. Son Youngsoo.

“Vocês me dão um minuto? Precisou falar com um cliente do banco que vi por aqui.” Todos da mesa, já um pouco alterados pelo álcool, somente assentiram e deram curtas respostas.

Enquanto isso, os mais novos limpavam suor dos rostos. O time vitorioso foi anunciado durante uma das músicas e o salão todo ficou todo vermelho por uns dez minutos. Yeojin, Haruna, Dongpyo e Yerim pulavam no meio e dançavam como se tivessem energia ilimitada.

Os flashes de luz, e a forma como o chão tomava formas engraçadas por conta da pista de dança, fazia com que o local se tornasse cada vez mais inebriante. Yeojin via Yerim dançar livremente na sua frente, os cabelos ficando bagunçados e vez o outra ela apoiava os braços nos ombros de Yeojin, fazendo a garota lembrar de Sooyoung a falando sobre dançar ser romântico e realmente era. Já Haruna e Dongpyo disputavam dancinhas com Matthew, que chegou usando um chapéu engraçado e vez ou outra cochichava no ouvido de Dongpyo.

“Estou com fome.” Yeojin falou em um momento e Dongpyo foi o responsável por a puxar para a mesa de petiscos.

“Caramba, hoje a noite está animada.” Dongpyo comentava ao pegar um baldinho a fim de colocar comida. “Até pensei em trazer o Tonhão, mas ele é um senhor, dorme cedo.”

“É.” Yeojin continuava com os olhos na pista de dança, sorrindo como uma boba ao ver a forma como Yerim pulava junto de Haruna.

“Você prefere coxa ou peito?”

“Caráter e personalidade.”

“Puta que pariu, Yeojin, eu estou falando do frango frito aqui.” O garoto começava a rir.

Yeojin ficava um pouco envergonhada, mas logo começavam a rir. Eles passaram bons minutos rindo.

E quando Yeojin finalmente se recompôs e comeu um pouco, ela voltou seu olhar para a pista de dança, dessa vez ficando um pouco confusa. Yerim não estava lá perto. Para piorar, quando a viu de relance, ela subia o lance de escadas com Joshua. Existia uma varanda lá em cima e com certeza estavam indo para lá. Yeojin não sentia algo bom vindo.

“Dongpyo, volto já.”

“Ué, vai aonde? Quer que eu vá?”

“Nada demais, volto logo.”

O garoto ergueu uma sobrancelha, mas logo deu de ombros.

De volta ao salão dos adultos, Sooyoung se aproximava da mesa de Youngsoo, sendo cumprimentada por uma mulher de terno ainda mais alta e que a olhava de cima a baixo, claramente a segurança. Os cabelos curtos e a roupa toda preta a davam um tom extremamente intimidador.

“Posso falar com Son Youngsoo?” Sooyoung usou seu tom mais simpático.

“Quem é você?”

“Uma potencial parceira de negócios, trabalho no banco Karteri.”

A mulher bufou antes de se virar para o homem na mesa e cochichar algo em seu ouvido e ouvir algo em troca.

“Ele disse que não esperava falar sobre negócios em um evento assim, mas pode abrir uma exceção por ser do banco.”

Quando a mulher saiu de perto e enfim tomou visão do homem elegante naquela mesa, Sooyoung sentiu um pouco de nervosismo. Finalmente havia conseguido.

Já nas escadas, Yeojin subia não muito apressada, tentando não ser notada, pois estava claramente tentando ouvir algo, ver algo, os seguir. E quando chegou lá, finalmente vendo os dois através do vidro da porta, Yeojin sentiu como se ar houvesse escapado de seus pulmões.

As pernas travaram por um momento, os punhos se cerraram, as lágrimas ousavam querer cair e, o mais trágico, seu coração se partia.

Joshua e Yerim se beijavam no meio da luz branca da lua.

Antes do primeiro soluço, Yeojin se virou e tratou de descer a escadas rapidamente, não ligando se estava esbarrando em algumas pessoas, ela só queria voltar para o quarto o mais rápido possível.

No ambiente dos adultos, Jungeun, enquanto conversava com os outros, reconheceu Sooyoung na mesa de Youngsoo. Ela já suspeitava que o homem fosse cliente de sua esposa, mas agora ter a prova concreta a fazia ter uma pulga atrás da orelha. E ela percebia como os dois conversavam. Youngsoo sorria vez ou outra, ele parecia gostar. Afinal, quem não se encantaria por Sooyoung?

Jungeun apertou a mão contra a taça de bebida.

Seu aperto só suavizou quando notou Yeojin passando praticamente correndo entre as mesas, passando pela enorme porta. Pior do que isso, Jungeun notou que a garota parecia chorar.

“Pessoal, me perdoem, mas eu estou me sentindo um pouco cansada. Podem dizer para a Sooyoung que fui para o quarto?” Os outros não se incomodaram muito, ficaram um pouco desapontados, mas não insistiram demais. Então, com um sorriso meio amarelo, Jungeun se retirou da festa.

Jungeun via Yeojin ao longe, indo na direção do prédio onde ficavam os quartos. Ela seguia silenciosamente atrás da garota, tomando cuidado para não ser percebida e causar algum tipo de pânico.

E Jungeun esperou uns minutos antes de abrir a porta do apartamento, acabando por se deparar com Yeojin abraçando os joelhos no sofá. A feição da garota era de surpresa.

Achei que não voltariam tão cedo... Espera, por que está aqui sozinha?

Jungeun ia notando a feição da garota ficar mais apreensiva.

“Eu te vi correndo pelo salão, chorando.” Jungeun começou. “Fiquei preocupada.”

Coitada, o que aconteceu?

“Não é nada demais.” Tudo denunciava que era sim algo.

Me deixa te ajudar.

“Você pode me contar, sabia?” Jungeun começou, caminhando até o sofá e sentando ao lado da garota. “Pode contar comigo.”

Confie em mim.

Yeojin prestou atenção no rosto da mais velha. Semblante preocupado, olhar genuíno. Aquilo fez a garota relaxar um pouco mais. No final, era melhor falar algo do que ficar chorando e se afogando no próprio quarto. Não sabia muito bem o que Jungeun faria, mas ela poderia ouvir.

“Eu vi a Yerim beijando o Joshua, ou foi ele a beijando, não sei. Vi o suficiente.” Falar aquilo chegava ser surreal.

Jungeun arregalou levemente os olhos.

“Aquela Yerim que estava com você hoje mais cedo? Abraçando você e sorrindo como se fosse a garota mais apaixonada do mundo?”

“É, imagina minha cara ao ver a cena.”

Jungeun juntou as sobrancelhas.

“Yeojin, você conhece a Yerim.”

“Achava que conhecia.”

“Não, Yeojin, calma.” Ela abriu as palmas das mãos. “Falo que convive com ela e sabe muito bem sobre o caráter dela. Acha que Yerim faria isso em plena consciência?”

“Ela não estava bêbada.”

“E o menino com ela? Ele parece alguém que tentaria beijar ela? Talvez foi isso que viu.”

Aquilo fez Yeojin pensar por um momento.

“Ele pode ter tentado sim.”

“Então.” Jungeun suspirou. “Não estou dizendo para ir atrás dela agora, pode tirar um tempo para descansar e amanhã você resolve, mas precisam conversar.”

Yeojin assentiu.

“Até que você não é muito ruim dando conselhos.”

“É, eu tento.” Jungeun apertou os joelhos, pensando em algo, então finalmente abriu os braços. “Vem cá.”

Yeojin alternou o olhar entre os braços e o rosto da mulher por um momento. Demorou um pouco, mas Yeojin, se sentindo um pouco estranha, se aconchegou no abraço da mais velha. Querendo ou não, precisava daquilo.

O abraço de Jungeun era quente, um pouco mais rígido que o de Sooyoung, mas confortável. Yeojin respirou fundo ao apertar os braços ao redor da mais velha. Talvez Jungeun nunca estivesse ali para a machucar de verdade. Talvez ela fosse uma pessoa quebrada.

E no meio do relaxar, as luzes do apartamento piscaram um pouco.

“Tomara que as luzes não falhem.” Jungeun comentou.

Sooyoung voltou do jantar cerca de duas horas depois, pisando devagar pelo chão a fim de não acordar ninguém, caso estivessem dormindo. E acabou vendo Jungeun saindo do quarto de Yeojin, pedindo silêncio com um dos dedos e sinalizando o quarto delas com a cabeça.

“O que aconteceu?” Sooyoung perguntou assim que fecharam a porta. “Os amigos da Yeojin me perguntaram aonde ela havia ido.”

“Romance adolescente.” Jungeun comprimiu os lábios, sentando-se na beira da cama. “Acho que é melhor ela contar, não eu.”

“Respeitando limites, que lindo isso.” Sooyoung sorria, agora retirando os brincos. “Colocou ela para dormir?”

“Basicamente.”

“Eu falei para você que era questão de paciência. Yeojin gosta de você e confia.”

“Não sei se podemos bater o martelo, mas um passo foi dado com certeza.”

“Melhor um passo do que nenhum.”

“Como foi a conversa com o Ministro?”

“Normal. Negócios. Claro que rolou um convite para jantar na casa dele.”

“Uau.” Jungeun assentiu com certa admiração. “Você vai?”

“Claro.” Sooyoung encarou a outra, notando um pouco de desconforto no rosto dela. “Mas eu falei para ele que iria com minha linda esposa.”

Jungeun semicerrou os olhos na direção de Sooyoung.

“Você ficou com ciúmes, nem disfarça.”

“Talvez.”

Sooyoung riu, jogando a cabeça para trás.

“Vamos resolver a sua crise de ciúmes.”

As duas se beijaram novamente, sem perguntas, sem sensação conflituosa depois. Somente navegaram entre si, desligando as luzes no caminho para não saberem onde iriam parar.

Chapter 18: quase uma canção de sofrência

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Arco 5: Hotel & Recreation (5/5)

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Yeojin levantou-se da cama com pouca vontade, arrastando o corpo pelo cômodo e tratando de sair de lá usando roupas pretas com direito a um capuz cobrindo a cabeça. Além disso, seus olhos estavam inchados e a davam um visual de alguém sofrendo com ressaca. E pelos menos para alguém naquela viagem estava dando certo, pois o clima entre Sooyoung e Jungeun parecia ainda melhor na mesa enquanto saboreavam o café da manhã trazido por um dos funcionários no hotel.

“Bom dia, filha!” Sooyoung disse animada, abrindo os braços estando sentada na mesa.

A menina deu somente um pequeno sorriso. Aquelas duas não mereciam nenhum desconto seu até por estar triste, não raivosa. E ela também só conseguia sentir gratidão por Jungeun, principalmente ao notar pelos pensamentos que ela não havia falado nada para Sooyoung. Por isso mesmo, Yeojin finalmente as cumprimentou na mesa, falando algo que saberia que soaria como uma bala.

“Bom dia... Mães.”

Yeojin escutou talheres sendo largados na mesa imediatamente. Depois disso foram as trocas de olhares orgulhosos entre as mais velhas, elas fizeram todo esforço para não parecer nada demais, mas Yeojin sabia que era sim algo demais. Yeojin tinha orgulho de sua família por mais maluca que fosse.

Após um tempo, a campainha tocou. Yeojin resolveu atender, antes checando pelo olho mágico da porta. Sinceramente, seu plano era ficar somente jogada na cama até a hora do check-out, que seria em poucas horas, mas seus amigos jamais deixariam isso acontecer e talvez fosse melhor ficar os últimos momentos com eles mesmo.

“Nossa, quem te bateu?” Haruna, usando óculos escuros e montada em um animal motorizado, perguntou. Ela estava sozinha.

“Depois eu conto para você e o Dongpyo, melhor contar só uma vez.” O tom de Yeojin já fez com que Haruna controlasse uma careta. Algo bom não havia acontecido e isso explicava o sumiço repentino de Yeojin durante a festa. “Aliás, cadê ele?”

“Em uma das piscinas.” Ela deu de ombro. “Alguém confundiu ele com um instrutor de hidroginástica para idosas e você sabe que o Dongpyo ama novas experiências.” Haruna riu baixinho. “Vamos, perdedora, sobe aí, vamos atrás dele.”

Yeojin deixou escapar uma risada ao perceber a referência, então, após se despedir rapidamente das mães, Yeojin subiu na garupa da motoca animal.

As duas não demoraram a achar Dongpyo, pois somente ele seria capaz de colocar idosas para fazerem hidroginástica ao som de Girl’s Generation. Para deixar tudo ainda mais cômico, Matthew e Tonhão tomavam banho de sol nas espreguiçadeiras, dos dois de barriga para cima e óculos escuros. Pelo jeito, somente Yeojin ficou sem a informação de usar óculos escuros.

“Isso aí, meninas!” Ele batia palmas, enquanto as idosas terminavam o exercício e começavam a sair. “Continuem assim, foi ótimo ensinar vocês!”

“Ele adora atenção.” Haruna falou assentindo negativamente.

“Sem dúvidas.” Yeojin disse.

“E aí, minhas meninas, tudo bem?” Dongpyo se virou para eles, sorridente. “Nossa, Yeojin, você deu um puta chá de sumiço ontem, pareceu prefeito depois da eleição.”

“Coisas aconteceram.” O tom de Yeojin fez o garoto trocar olhares com Haruna. “Podemos ir para um lugar reservado?”

“Claro.” Ele sorriu sem mostrar os dentes. “Agora não sei se pegou o Tonhão ou deixo ele aí com o Matheus.”

“Chama eles dois.” Yeojin disse. “Tem a ver com o amigo dele, vai que ele possa nos ajudar em algo, sei lá. Não sei muito bem o que está rolando com minha cabeça.”

“Ok, o negócio foi sério mesmo.” Dongpyo foi virando o rosto lentamente na direção do animal e Matthew. “Ô Matheus!”

“Diz.” Matthew mal se mexeu.

“Você e Tonhão, vamos. Yeojin tem fofoca.” Aquilo foi o suficiente para ele se levantar e colocar o cachorro nos braços.

“Tonhão gosta do Matheus?” Yeojin comentou baixinho com Haruna. “E deu tempo?”

“É, o clima entre eles está meio estranho, mas o Dongpyo prefere morrer do que falar alguma coisa e olha que tentei suborno para um VIP no show da Lady Dada no Rio de Março, com passagem e tudo.”

“Ele recusou?” Yeojin soava desacreditava.

“Para você ver...”

“Vamos, só quero saber o que o antena parabólica fez.” Dongpyo finalmente disse assim que Matheus se aproximou com Tonhão.

 

 


 

 

Em outro lugar, muito distante dali, Chaewon e Hyeju finalmente estacionavam em uma linda casa de veraneio no meio de uma floresta. As duas passaram por muitos seguranças e sistemas de verificação até finalmente poderem passar pela porta da frente e irem para o jardim de trás. Chaewon tinha as mãos nos bolsos da calça, feliz de certa forma por Hyeju estar vivendo aquele momento e ainda achando muitas coisas familiares naquele lugar.

Quando Son Jiyoung, que estava no belo gazebo, levantou-se da mesa posta com diversos doces, frutas e bebidas, então abriu os braços para receber a filha em um abraço caloroso... Chaewon acabou sentindo um quentinho no peito. No tempo que passaram viajando, Chaewon sabia e entendia o tanto que aquilo significava, assim como a sua própria companhia, que já não sabia o que fazer toda vez que Hyeju a agradecia.

Chaewon foi chamada para perto, sendo também abraçada pela mulher elegante, algo que a fez estranhar um pouco, mas aceitou. Enfim as três ficaram sentadas naquela mesa, com seguranças distantes, mas estrategicamente posicionados. Hyeju ainda enxugava algumas lágrimas de emoção.

“Fico feliz que tenham chegado aqui.” Jiyoung as falou com um sorriso. Nenhum sinal de insanidade naquele rosto.

E assim longos minutos se passaram com Hyeju atualizando a mulher sobre a sua vida, assim como sobre a vida de Yerim, que sentia muita falta da mãe. Chaewon notava o quão triste Jiyoung ficava ao se dar conta de estar perdendo aqueles momentos das filhas.

“Mãe, quando você pode voltar?” Hyeju enfim perguntou.

Jiyoung respirou fundo antes de responder.

“Você sabe que isso é complicado de responder, filha. Mas saiba que estou fazendo tudo ao meu alcance e é questão de ter paciência. O fato de eu estar aqui nesse momento já é um sinal para você acreditar em mim.” Ela segurou uma das mãos de Hyeju entre as suas.

“Eu acredito.” Hyeju assentia. “E também tenho medo. O pai é perigoso, ele é cercado por pessoas perigosas e tem muitos contatos... Parece invencível.”

“É, eu sei. Eu já deveria ter notado isso sobre o seu pai há muito tempo, mas o amor é complicado... Eu deveria ter me afastado quando ele colocou na cabeça do seu avô que deveria desertar a Eunjung... Aquele foi um movimento astuto para tirar mais uma pessoa da herança.”

“E deixaram...”

“Mas eu pretendo corrigir isso, eu vou corrigir.” O olhar determinado de Jiyoung era calmante. “Aliás.” Ela agora sorria. “Tem um presente para você lá na cozinha, pode ir buscar?”

Hyeju, como uma criança, assentiu e levantou-se, começando a andar até a casa, sem nem mesmo trocar olhares com Chaewon. A Ha agora observava a outra se distanciar, assim como Jiyoung. Elas estavam sozinhas agora.

“Vejo que a EGO foi competente em te ajudar.” Chaewon finalmente falou, podendo enfim tirar aquela familiaridade do peito. Já havia visto o rosto daquela mulher em um dos prédios da organização.

“Ser uma patrocinadora me garante essa proteção. Eu sabia que não me deixariam nas garras do Youngsoo por muito tempo.” Ela sorriu na direção de Chaewon. “Você é quem está responsável por derrubar ele?”

“Eu e a agente 9.”

“Me informaram...” Ela bebericou chá. “Lembro de te ver uma vez em um dos prédios.”

“É, também lembro. Foi você quem deu a informação anônima responsável por começar essa missão.”

“Exatamente.” Ela suspirou. “Hyeju sabe ou suspeita de algo sobre você?”

“Nada.”

“Ótimo... Ela parece gostar de você... O que eu acho um pouco perigoso.”

“Infelizmente eu não consigo controlar esse tipo de coisa.”

“Então ela realmente...”

“É o que parece.”

“Entendo... Bem, em outras circunstâncias vocês seriam um lindo casal.”

Chaewon só deu de ombros, se recusava a pensar no final da missão por agora.

“Eu só quero que me prometa uma coisa, agente.”

“Diga.”

“Proteja minha filha, por favor.”

Chaewon somente a olhou, mas um olhar forte. Aquilo significava que faria aquilo sem precisar com que seu coração batesse duas vezes.

 

 


 

 

“Você está de sacanagem, porra!” Dongpyo explodiu quando os quatro, e Tonhão, entraram em uma sala onde um baterista lia alguma partitura. “Ah, não, isso não vai ficar assim não! Eu tenho certeza que a Yerim não aceitou isso! Por acaso, ficou claro que ela aceitou?!”

“Não, estava escuro. Parecia que sim, mas não sei mais.” Yeojin respirava fundo.

“Isso foi paia.” Matthew comentou. “Mas faz sentido uma coisa.”

“O quê?” Dongpyo virou a cabeça para o garoto.

“Joshua está triste para um caralho, com o rosto vermelho de um lado.”

“A Yerim bateu nele?!” Dongpyo sorriu.

“Não, sei, talvez.”

“Eu falei que ela é uma princesa!”

Yeojin juntava as sobrancelhas ao saber daquela informação. Um misto de confusão, mas também felicidade? Esperança? Yerim realmente não faria aquilo com ela.

“Vocês precisam conversar.” O toque de Haruna em seu ombro fez com que Yeojin acordasse do devaneio.

“Precisamos achar ela primeiro e rápido, pois daqui a pouco começa o check-out.” Dongpyo fez um pequeno bico. “Tenho uma ideia de fazermos isso rápido e ainda temos mais uma missão... Vingança.” Ele sorriu de forma sugestiva, logo estalando os dedos na direção do tal baterista, que ficou meio confuso. “Toca algo para saída triunfal... Vamos, toca!”

O garoto piscou os olhos rapidamente e ajustou as baquetas nas mãos, enfim tocando algo para Dongpyo sair desfilando com seus aliados.

Dongpyo então surgiu com um carrinho de golfe após o grupo conseguir algumas informações e montarem o dito plano. Haruna foi no banco do passageiro, também sendo responsável por colocar uma JBL tocando ‘Tokyo Drift’ enquanto cruzavam os gramados.

“Tem certeza que ele está por aqui?!” Dongpyo gritava para Matthew ouvir no banco de trás.

“Karen falou que sim e que ele veio com Yerim para cá.”

“Ótimo! Bom demais até! Todo mundo de olho!” Dongpyo fazia uma pequena curva. “Abaixa um pouco esse volume, Haruna! Eles vão notar a gente há quilômetros.”

E assim foi feito.

“Falando neles.” Yeojin avisou, fechando os punhos.

Joshua e Yerim conversavam de pé, embaixo de uma árvore. Ele gesticulava bastante enquanto ela mantinha os braços cruzados.

“Vai, Matheus, é a sua hora.” Dongpyo se virou rapidamente para o garoto, que saiu do carro e foi se aproximando de Joshua e Yerim sem eles perceberem, se colocando, após alguns minutos, atrás da árvore onde estavam.

Dongpyo então saiu do carro com Tonhão nos braços, o colocando no chão. Haruna ficou responsável por fazer um sinal com as mãos para Matthew.

“ANTÔNIO JOSÉ.” O cachorro ajustou a postura ao ouvir o grito de Matthew. “MARIA.”

O cachorro disparou, raivoso como nunca, quase possuído por uma entidade. Joshua e Yerim primeiro se assustaram com o grito e depois Joshua gritou fino ao notar o cachorro vindo em sua direção, começando a correr para o lugar mais distante possível.

“Desce, Yeojin!” Dongpyo disse, voltando para o carrinho. Yeojin obedeceu. “Vamos pegar o Matheus e depois o Tonhão, você fala com ela.”

Haruna colocou novamente a música na maior frequência ao saírem.

“Eu sabia que vocês estavam metidos nisso.” Yerim disse ao notar Yeojin se aproximando, começando a ficar levemente preocupada ao notar certos aspectos na aparência da garota. “Aconteceu alguma coisa?”

“O que vocês estavam conversando?”

Yerim parecia nervosa agora.

“Ele estava se desculpando.”

“O Joshua? Se desculpando?”

“É, ontem na festa, ele...” Ela desviava o olhar.

“Eu vi, Yerim.” Yeojin disse, mas sem raiva. Jungeun e seus amigos tinham razão.

“Olha, Yeojin, não foi...”

“Eu sei, Yerim.” Yeojin sorriu pequeno. “Fiquei em choque quando vi, mas sei que não faria isso comigo.”

Yerim sorriu pequeno.

“Fiquei triste quando notei que foi embora da festa, preocupada também... Pensei se tinha passado mal. Sooyoung foi quem nos disse que você foi para casa com sua outra mãe.”

“É...”

“Estamos de boa?” Yerim caminhou até Yeojin, segurando sua mão.

Yeojin respirou fundo.

“Estamos.” Aquilo a dava um alívio. “E espero que o Tonhão morda o Joshua, assim como você deu um tapa nele.”

“Ah, um cachorro machista jamais perdoa quando é chamado de Maria, tenho certeza que ele vai fazer jus.”

“Nossa, então você realmente bateu no Joshua? Quem diria, Son Yerim...”

Yeojin ergueu as sobrancelhas, somente ganhando um sorriso convencido.

E assim as duas riram, enfim decidindo voltar para o hotel, mas, dessa vez, de mãos dadas.

                                   

                                   

                                   

                                   

                                   

Yeojin então decidiu ir pegar algo na cozinha, notando Sooyoung e Jungeun na sala. As duas agora não se desgrudavam e até optaram por dividirem o mesmo quarto. Yeojin imaginava o que Chaewon acharia daquilo, falando nela, ficava até um pouco ansiosa para ver sua irmã/tia voltar para casa no dia seguinte.

 

 


 

 

Chaewon e Hyeju chegaram na residência Son durante a noite no dia seguinte. Elas ficaram na tal casa de veraneio o tempo que podiam e receberam uma carona de jatinho de Jiyoung. Pelas luzes da mansão, tinham pessoas na casa e Chaewon com certeza não queria arriscar ser vista por Youngsoo, principalmente sabendo o que sabe agora.

“Obrigada novamente.” Hyeju acompanhava Chaewon até a moto estacionada na casa do vizinho, que sempre estava vazia de acordo com Hyeju.

“Por nada.” Chaewon suspirou. “Te vejo amanhã?”

“Claro.” E assim Hyeju a abraçou apertado. Chaewon deixou, dando leves tapinhas nas costas da garota. “Aceita tomar sorvete comigo amanhã depois da aula?”

“Um encontro?”

“Acho que não preciso fingir, não é?”

“É, não precisa.” Chaewon revirou os olhos.

“Ok, entendi você não...”

“Eu vou.” Chaewon bufou. “Eu saio com você. Agora, boa noite.”

Hyeju abriu um sorriso de orelha a orelha enquanto observava Chaewon subir na moto e sair. Chaewon sabia que tinha algo fervendo dentro do seu estômago, com certeza não era azia. Pelo menos, por enquanto, poderia dar a desculpa de estar a protegendo.

Ainda não era muito tarde em Verni, mas a rodovia por onde passava já se encontrava com poucos carros. Tinham alguns sedans, ônibus, mas principalmente vans, além de uma moto agora se aproximando de si. Chaewon checou pelo retrovisor somente a tempo de desviar de uma bala vinda de trás.

A pessoa daquela moto queria a derrubar.

Chaewon acelerou, cortando a rodovia de forma a fazer zigue zague, ocasionando em mais desvios de bala. Pelas luzes dos carros atrás de si e o fato de eles estarem buzinando e parando abruptamente por conta dos tiros, deixava a tarefa de desviar um pouco complicada e inevitavelmente fez com que levasse dois tiros de raspão no braço. Chaewon tensionou a mandíbula ao sentir o ardor.

E, quando menos esperou, a pessoa se colocou ao seu lado, tentando a derrubar com a própria força e causando das motos dançarem de um lado para o outro. Chaewon arregalou um pouco os olhos ao notar a vestimenta de seu inimigo.

A pessoa daquela moto queria a matar.

Chaewon levou soco, o segundo conseguiu desviar. A arma, quando tentaram colocar na sua têmpora, fez Chaewon quase cair da moto ao realizar uma manobra para lutar pela posse da pistola. Foram alguns segundos de empurrões até a arma finalmente tomar uma direção, que pegaria na altura do estômago, e assim disparar cinco tiros.

Chaewon arregalou os olhos, voltando as mãos de maneira firme ao guidão assim que notou o seu adversário cair sobre o painel da outra moto e enfim cair no meio da rodovia.

Ela tinha escapado.

Chegando em casa, Chaewon tomou cuidado para não demonstrar estar machucada. Por sorte não encontrou Yeojin, muito menos Jungeun.

“Chaewon? O que aconteceu com você?!” Sooyoung tinha a feição meio desesperada ao notar o machucado no lábio da irmã e casaco manchado de sangue.

“Cadê as outras?”

“Nos quartos.”

“Vamos ao meu quarto, temos que conversar.”

“Chaewon, só me dê uma pista.”

Chaewon encarou a irmã seriamente por uns segundos.

“A ECLIPSE tentou me matar.”

Chapter 19: emergência furtiva

Summary:

Arco 6: Travessuras e Travessuras (1/3)

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Disfarçar e fingir nunca foram coisas difíceis para Chaewon depois de um tempo. Colocar mais camadas de roupa e movimentar menos os braços, além de usar uma ótima maquiagem da organização para esconder alguns hematomas era somente o começo. Ela deixou Yeojin na parada, que, por sinal, só notou preocupação por parte das irmãs, ela não conseguiu saber o motivo.

Chegando na universidade, Chaewon encontrou Hyeju e, diferente do que esperava, notou a outra meio cabisbaixa.

“Como vai?” Chaewon se aproximou, colocando as mãos nos bolsos do casaco. Hyeju havia notado a garota de longe e acabou a dando um pequeno sorriso.

“Meu pai ficou estressado pelo fato de eu não ter ido para o resort.”

“Mas ele soube de algo da viagem?”

“Nada, eu falei que estava na casa de uns amigos da faculdade fazendo trabalho.”

“Ele pode mandar alguém ver se isso é verdade, não? Assim, ele tem cara de fazer isso.”

“Talvez. Mas nós tomamos todos os cuidados para não detectarem nada, deixar nenhum rastro.”

“E sobre mim?”

“Nada sobre você, não quero te meter nisso, de verdade.”

“Minha irmã disse que conheceu ele no resort e que foi chamada para jantar na casa de vocês.”

Hyeju arregalou um pouco os olhos.

“Ela trabalha em quê mesmo?”

“Banco.”

“É... Não é estranho ele receber funcionários de banco.” Hyeju assentiu. “Não acredito que sua irmã seja má pessoa, acho que qualquer profissional gostaria de trabalhar com um ministro.”

“Assim... Quando se coloca a integridade acima do trabalho, essa pessoa não trabalharia para o seu pai, sem ofensa. Acho que ela vai por educação.”

“É, consigo imaginar isso.” Hyeju sorriu sem mostrar os dentes.

“Já contou para Yerim?”

“Ainda não, estou pensando em como fazer isso. Primeiro preciso falar com ela quando meu pai não estiver em casa. Esses dias, infelizmente ele está por perto. E, sei lá, não sei se tenho tanta pressa, pois é questão de esperar o que caralhos minha mãe esteja tramando.”

“É...” Chaewon suspirou.

“Eu só queria que isso acabasse logo.” A respiração pesada e a feição de Hyeju foi o suficiente para denunciar cansaço. Chaewon, revirando um pouco os olhos, segurou a mão da garota.

“Acho bom se distrair, Hyeju.”

“Sugerindo alguma coisa?”

Chaewon comprimiu os lábios.

“Você que me chamou para sair, então talvez deva pensar no lugar onde quer me levar.” Chaewon a olhou rapidamente, mas sem timidez. “Esperava mais de você, falsa emo.”

Hyeju finalmente sorriu como de costume.

 

 


 

 

Jungeun estava novamente na cabine telefônica antes mesmo de bater o ponto no trabalho. A voz de Viper novamente ressoava no seu ouvido.

“Qual é o trabalho?” Jungeun perguntava, observando poucas pessoas passarem pelo lado de fora da cabine até mesmo pelo horário.

“Existe um ex-aliado de Youngsoo, o Sr. Caldwell. Eu já mandei a ficha dele para você. Vai ocorrer um baile de máscaras no cassino Red Hall...”

“Ontem mesmo esse Caldwell estava com o Youngsoo...” Jungeun juntava as sobrancelhas.

“No cassino, durante o Dia das Bruxas. Você deve se infiltrar e eliminá-lo. Sem perguntas, RedSix.”

Jungeun tensionou a mandíbula.

“Onde está Bravo?”

“Sem perguntas.” A voz praticamente rosnou pelo telefone e então a ligação foi terminada.

Pouco a pouco os olhos de Jungeun mudavam para um tom um pouco mais sombrio, mais profundo. Era como se sentisse seu fluxo sanguíneo aumentar, porém, respirou fundo, e voltou a ter sua feição mais ingênua a fim de ir ao trabalho.

 

 


 

 

Enquanto isso, Yeojin e Dongpyo desciam do ônibus de maneira meio sonolenta. A rotina em Sonatine começava novamente e eles não sabiam muito se estavam preparados. Pelo menos existiam fofocas para ficarem ligados, apesar de que algumas envolviam eles. Mais importante: Dia das Bruxas estava se aproximando, assim como outro evento, que também seria no mesmo dia.

“Eu até perguntei para o pai dela se a família tinha alguma inspiração na família Addams, sabe? Fiquei encucado desde que a Haruna me falou o dia do aniversário dela... Tipo... Ou Deus foi muito piadista ou clichê.” Dongpyo comentava.

“Nem sei como perguntou isso, para mim ficou meio claro depois da cama em forma de caixão e aquele castelo gótico onde ela mora. Se bem que a família dela é muito antiga, né? Se duvidar a inspiração foi ao contrário.” Yeojin comprimia os lábios.

“Enfim, tudo isso para falar que os pais dela liberaram o castelo para a festa de aniversário dela.” Dongpyo ficou claramente animado. “Eles vão levar ela para sair, fazer coisa de tradição da família por ela estar se tornando maior de idade e essas coisas.”

“Agora entendi o motivo de só chamar a gente para um rodízio no seu aniversário.” Yeojin sorriu de canto. “Essa festa meio que vai ser para você e ela.”

“E no Dia das Bruxas?” Dongpyo abriu a boca em ‘O’. “E com a gente sendo popular?! Festa do ano. Você e a Yerim são o casal do ano, eu sou eu, Haruna simplesmente a maior DJ do colégio e sem precisar ir para o BBB.”

“Ok, eu entendi. Vou te ajudar, mas precisamos estudar quando der, beleza? Eu ainda preciso voltar para o time.”

“Não esquecemos disso, deixa comigo.” Ele deu uma piscadela.

“Sobre o que estão falando?” A voz de Haruna surgindo do nada atrás deles fez com que os dois dessem um pequeno pulo.

“Cristo, essa sua mania não morre nunca.” Dongpyo falava com a mão no peito.

“É meu charme.” Haruna riu.

Os três então foram para a sala. Desde os corredores, muitos alunos os cumprimentavam e isso não mudou quando chegaram na turma. Pouco tempo depois o resto dos alunos começou a chegar e Yerim entrou por último acompanhando o professor. O trio rapidamente estranhou um detalhe... Joshua não apareceu. A troca de olhares entre eles já disse muito. Yeojin só relaxou a expressão de estranheza quando precisou retribuir um aceno de Yerim.

E piorou mais ainda quando ele reapareceu após a segunda aula. Sua expressão parecia um pouco mais serena do que esperavam depois do acontecido no resort, ainda assim, tinha algo esquisito sobre ele. Dongpyo ficou realmente incomodado quando foram para a aula de educação física e, além de ver Joshua cochichando com Karen, ainda notou o garoto apresentar um tipo de atestado e ficar de fora da aula.

“Não vejo a hora de tomar um banho, suei demais.” Yeojin reclamava enquanto caminhavam até os vestiários.

“Quem terminar primeiro espera no corredor.” Dongpyo avisou, desviando o caminho para entrar no vestiário masculino. “Até daqui a pouco.” Haruna e Yeojin deram pequenos acenos para o garoto antes de entrarem.

Dongpyo foi o primeiro a terminar e ficou no corredor esperando suas amigas. Ele notava o local esvaziando e até mesmo encontrou Yerim, que parecia um pouco apressada para resolver algumas coisas do Conselho Estudantil antes de ir almoçar no refeitório. E até ali estava normal, mas a demora foi se estendendo.

“Minhas amigas jazeram aqui há três anos e às vezes até ouço as vozes delas.” Ele cochichava para si no corredor, tendo as costas na parede. Foi aí que seu celular notificou uma mensagem.

                             

 

Dongpyo hesitou um pouco, afinal, era o vestiário feminino. E, antes de entrar, chamou Haruna para ela confirmar não ter nenhuma outra menina ali além delas. O garoto entrou sentindo um nervosismo no estômago e sua feição de espanto foi automática logo em seguida.

“Eu vou matar o Joshua!” Dongpyo vociferou. “Bem que ele estava cochichando de forma suspeita com Karen. E eu nem sabia que ele e os amigos dele seriam inteligentes ao ponto de aprontar essa.”

“Também pensei que um zumbi passaria fome num quarto com ele e os amigos dele, mas fomos enganados dessa vez.”

“Podem parar de falar e me ajudarem?” Yeojin, que tinha o rosto abaixado, finalmente o levantou. Seu cabelo estava todo manchado... Haviam colocado descolorante no shampoo dela. “Está muito ruim?” Yeojin estava um pouco chorosa.

“Assim amiga, não foi coisa de profissional. Você tem um rostinho lindo fica bom com qualquer cor.” Dongpyo comentou. “Só não sei se apoio o loiro porque é meio batido.”

“Você já não tem notas muito boas, acho que os meninos iam te zoar horrores.”

“Haruna!” Dongpyo a repreendeu, mas segurando um riso. “Porra, cara.” A voz tremulava contendo o riso. “Piada besta, já passamos de 2020 para ficar com essa piada de loira burra.”

“Ok.” Yeojin revirou os olhos. “Mas o que vamos fazer?”

Dongpyo cruzou os braços, pensando por um tempo, então andou até Yeojin e se abaixou com um dos joelhos no chão.

“Você tem duas opções: A primeira é comprar um HB20 e cursar odonto no próximo ano.”

Haruna e até mesmo Yeojin riram.

“Vai se foder.” Yeojin disse.

“Assim.” Ele continuou. “Eu acho que, no momento, melhor do que vingança, é você conseguir superar isso sem problema nenhum. Começando por não ficar com o cabelo assim... Mas também não voltando para o castanho.”

“A escola não tem restrição com cor de cabelo.” Haruna falou dando de ombros.

“Haruna, seu motorista está por perto?” Dongpyo perguntou.

“Está.”

“Ele consegue fazer um favor para nós?”

“Consegue... Depende, mas provavelmente consegue.”

“Fala com ele, temos trabalho. Agora vamos para a sala do clube.”

 

 


 

 

Yerim chegou ao refeitório atraindo olhares como sempre até finalmente sentar na sua mesa com a bandeja. Ela conversava com algumas meninas do time quando um burburinho incomum começava pelo refeitório quando a porta dupla se abriu mais uma vez.

Dongpyo de um lado, Haruna de outro e Yeojin no meio agora caminhava com um belíssimo cabelo rosa. Eles faziam questão de trocarem olhares e sorrisos enquanto navegavam pelo refeitório. Yeojin ainda acenou de maneira ácida para Joshua, que claramente não gostou daquela entrada triunfal.

“A Yerim ficou babando.” Dongpyo comentou com as amigas quando pegaram uma mesa. Haruna soltou um risinho.

“É, eu notei.” Yeojin trocou olhares com Yerim descaradamente. Não era como se a escola inteira não soubesse o clima entre elas. “Joshua pode ter tentado me humilhar hoje, mas no final a Yerim continua sendo minha.”

Haruna e Dongpyo ficaram de boca aberta por alguns segundos até finalmente baterem as mãos.

 

 


 

 

“Meu Deus, você engoliu um ‘My Little Pony’?” Chaewon tinha uma certa careta ao encarar Yeojin colocando o capacete para irem para casa.

“Obrigada pelo elogio, as personagens são fofas.”

Chaewon abafou um riso com pouca vontade e assim partiram para a cobertura. Lá as reações também foram de estranheza, mas algo que durou segundos, pois Yeojin tinha sim ficado bonita e, além de tudo, parecia mais confiante.

“Eu fiquei bem mal no começo, mas olhando como fiquei agora...” Yeojin falava para as mais velhas durante o jantar. “Aquele garoto fez um favor e ele vai pensar duas vezes antes de mexer comigo.”

Yeojin sorriu ao notar as mais velhas orgulhosas, inclusive Chaewon, que tinha os olhos levemente arregalados ao ouvir aquilo. Era como se finalmente a garota tivesse se tornado uma Ha.

Após o jantar, Jungeun e Sooyoung ficaram lavando a louça enquanto as mais novas subiram. Elas aproveitavam o tempo juntas naquele silêncio confortável e as mãos se tocando vez ou outra ao passarem os itens de cozinha entre si.

“Eu vou só falar com a Chaewon e vou já.” Sooyoung avisou quando estavam agora no corredor dos quartos.

“Claro, espero você.” Jungeun deu um pequeno sorriso antes de selar os lábios de Sooyoung rapidamente e seguir para o quarto no fim do corredor.

Sooyoung sentiu as pernas ficarem um pouco bambas, ela sentia que nunca iria conseguir se livrar daquela sensação quando era tocada pela outra e isso era perigoso. Por fim, ela chacoalhou a cabeça e foi até o quarto da mais nova. Agora que dividia o mesmo quarto com Jungeun, ela mudou seus equipamentos para o quarto da irmã. Obviamente Chaewon pediu algum favor besta para a irmã por conta disso.

“Alguém tentou te matar hoje?” Sooyoung disse ao entrar no cômodo. Chaewon tinha o Gato deitado sobre sua barriga.

“Não, e você? Algo estranho?”

“Nada.”

“EGO não reportou nada sobre o que anda acontecendo na ECLIPSE?”

“Não, e isso me preocupa.”

“É sobre isso, agora é termos cuidado triplicado, pois ainda tem essas duas correndo o risco de saberem nossas identidades.”

“Nem me fale.”

Nisso, o telefone de Chaewon notificou.

Ela rapidamente respondeu.

“Quem?” Sooyoung perguntou.

“Hyeju... Sobre o lugar que vamos no Dia das Bruxas.”

“Um encontro.”

Chaewon repetiu de forma irritante, fazendo a outra rir.

“Nós duas estamos ferradas.” Sooyoung cruzou os braços. “Muito ferradas.”

E a falta de resposta da outra só constatou o fato.

Chapter 20: mantenha seus inimigos perto

Summary:

Arco 6: Travessuras e Travessuras (2/3)

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O dia do jantar havia chegado e as Ha saíam do carro após estacionarem. Yeojin se sentia realmente intimidada ao encarar a enorme mansão e o fato de Dongpyo brincar sobre estar indo conhecer o sogro não melhorava a sua situação de nervosismo.

As três foram recebidas pela governanta da mansão, que as guiou até a sala de jantar. Youngsoo parecia mais simpático do que o normal e as filhas ao seu lado, bem trajadas, dava uma sensação de maior importância ao evento. As garotas só tinham mínimos sorrisos no rosto por causa das visitantes serem as Ha. A troca de olhares entre as mais novas eram tímidos e tingidos de conversas implícitas.

O jantar foi disposto sobre toda a mesa, um verdadeiro banquete. As conversas eram curtas e triviais, Yerim era responsável por guiar a maioria delas ao falar sobre Sonatine, corroborada vez ou outra por Yeojin. Hyeju falou pouco sobre a universidade e Chaewon também foi sucinta. Os mais velhos se aprofundavam um pouco sobre seus trabalhas, mas nada demais.

“Garotas.” Youngsoo falou. “Por que não tomam a sobremesa de vocês na varanda de cima? Lá podem conversar com mais liberdade.”

Hyeju e Yerim somente assentiram, lançando olhares para Chaewon e Yeojin. A forma como se levantaram rapidamente, sem contestar, representava medo, mas também a vontade de saírem de lá o mais rápido possível.

O quarteto então saiu da sala, pegando sobremesas na saída e subindo as escadas centrais, passando por um grupo de seguranças. Yeojin acabou por senti um arrepio ao encontrar o olhar de uma mulher alta, toda de preto.

“Finalmente.” Hyeju falou ao fechar a porta dupla da varanda. Depois disso as quatro se sentaram ao redor de uma mesa.

“O pai de vocês parecia até simpático hoje.” Yeojin comentou.

“Só hoje.”

“É, ele geralmente é bem cordial quando o assunto é negócios.” Yerim disse.

“Não gosto dele.” Chaewon cruzava as pernas. Hyeju somente arregalou um pouco os olhos, afinal, Chaewon tinha visto de perto a tragédia de sua família.

“E é por isso.” Hyeju começou. “Que eu peço para vocês falarem com a Sooyoung e evitarem ela de fazer qualquer negócio com ele. Sei que é tentador, pois ele é uma figura importante do governo, mas... Não vai valer a pena.”

Chaewon chegou a abrir a boca, mas Yeojin foi mais rápida em responder.

“Você não precisa se preocupar.” Ela comprimiu os lábios. “Sooyoung é confiável, ela sabe o que faz. A última coisa que ela é, é estúpida.”

“Eu poderia bater um pouco contra isso de não ser estúpida.” Chaewon disse. “Mas a Sooyoung não é tão estúpida.”

Felizmente o comentário chegou somente como piada nos ouvidos das irmãs e Yeojin riu somente para não cair o disfarce. E Chaewon trocou olhares com a garota, mas, dessa vez, tinha um certo sorriso em seu rosto, como se dissesse ‘bom trabalho’.

De volta à sala de jantar, os mais velhos bebiam vinho e Youngsoo começava a se preparar para revelar o motivo principal daquele jantar estar acontecendo. Sooyoung ficava um pouco surpresa por não pedirem para Jungeun se retirar. Poderia ser educação, mas Youngsoo não parecia ser um homem que se importasse com separar cônjuges do mesmo ambiente.

“Então, Sooyoung.” Ele começou, juntando as mãos em cima da mesa. “Nós temos várias áreas de pesquisa no governo e nós estávamos com problemas para achar uma forma de expandir as instalações para novos grupos. Nisso, nós acabamos por optar usar o subterrâneo, já que não tem como construir mais um andar, pelo menos foi o que os engenheiros falaram.”

“Temos que ouvir engenheiros.” Sooyoung reforçou antes de bebericar o vinho.

“Sim, claro.” Ele assentiu. “Enfim, construções exigem esforço de várias partes, inclusive fiscal e isso muitas vezes é extremamente burocrático, então eu resolvi me reunir com você, pois gostaria de uma ajuda nisso. Uma agilidade nas tarefas fiscais.”

Sooyoung assentiu, parecendo pensar.

“Acho que isso é algo possível.” Ela sorriu sem mostrar os dentes. “Eu só preciso que me passe algumas informações básicas...”

“Sobre o tamanho, claro.”

“É...” Sooyoung sabia que tinha vacilado. Ela iria pedir o endereço da construção, mas ele podia simplesmente negar ou a colocar em uma posição constrangedora. Aquele era Youngsoo. “Depois disso, vou pensar com carinho.”

“Claro, obrigado já de antemão.”

Jungeun, que somente observava os dois, tentava assimilar melhor aquela conversa. Tudo era muito suspeito, não Sooyoung, mas Youngsoo e a tal estrutura. O pior é que seria difícil conseguir algo na prefeitura exatamente. Se existiam respostas... Era no Ministério da Defesa.

 

                           

                           

                           

                           

                           

                           

 

 


 

 

 

 

De dentro para fora

Rua Veredictum, Verni

19h12

 

 

Sooyoung iria usar o mesmo plano, mas dessa vez um pouco mais diferente. Seu dia havia começado na banca de Haseul, depois com uma conversa no quarto de Chaewon, onde a mais nova iria ficar cuidando das câmeras e servindo suporte de rádio. E as duas irmãs acabaram tomando um pequeno susto ao encontrarem Yeojin do lado de fora do quarto, com cara de sono e aparentemente passando pelo corredor.

“Pronta para ir à escola?” Sooyoung disse de maneira simpática.

“É...” Ela coçava os olhos.

Dessa vez, Sooyoung também optou por passar o dia no tal trabalho. Jungeun pareceu meio desapontada, mas não fez muitas perguntas, enquanto Yeojin, na despedida para a escola só falou ‘Boa sorte no trabalho’. Sooyoung sorriu um pouco, pois era quase como se ela soubesse.

O dia de Sooyoung foi então ir atrás de um dos zeladores do local, o seguindo de carro pela cidade. Então, quando notou ele chegando em casa, a mulher o seguiu. Os vizinhos com certeza não ouviram quando ela o imobilizou por trás, fazendo com que desmaiasse. O próximo passo foi somente fazer um molde do rosto dele, além de o colocar na cama e fingir que aquele ataque havia sido somente coisa de sua cabeça.

Era noite quando isso aconteceu e Sooyoung agora se dirigia para o prédio do Ministério da Defesa totalmente irreconhecível. Somente um zelador indo cumprir seu turna de limpeza durante a noite.

“A porta do escritório dele está trancada.” Sooyoung falou baixinho.

“Rota B, então.” Chaewon ressoou pelo fone.

Sooyoung suspirou, logo usando o balde e a o rodo para ir limpando até a janela no fim do corredor. Ela se abaixou por um momento a fim de ativar as solas dos sapatos e então tirou luvas do bolso.

“Se eu tivesse um kon para toda vez que preciso entrar em um prédio com risco de cair em uma avenida eu teria dois kon, o que não é muito, mas é engraçado que tenha acontecido duas vezes.” Sooyoung falava ao colocar o corpo para fora, usando as luvas e os sapatos para se grudar nas paredes e janelas de fora.

“Cala a boca. Já é um saco o fato dessa missão não ter um pingo de ação.”

“Ainda bem que não tem, eu estou em uma zona muito perigosa. Se algum alarme soar eu estou fodida.”

Sooyoung suspirou em alívio ao notar a janela aberta.

“Estou dentro.”

“Ótimo, coloca o dispositivo no computador dele.”

“Já estou fazendo isso.” Sooyoung ligava a máquina e fazia o que era pedido, além de começar a checar as gavetas.

“Peguei coisas novas sobre esse Alter Forza, Sooyoung.” Chaewon riu forçado. “A instalação é embaixo da fábrica de biscoitos. Temos dois locais de procura agora, o cassino e a fábrica.”

“Esse projeto pode até ser do governo, mas com certeza não é algo bom.”

“Não mesmo. Terminei por aqui.”

“Ok, vou sair.”

“Se apressa, já deu a hora de terminarmos isso. Mexer com câmeras é chato.”

“Estou indo...” O tom passou a ser convencido. “Depois de um ótimo trabalho.”

“Não fez nada mais do que sua obrigação.”

 

 


 

 

Yeojin suspirou aliviada quando notou Sooyoung chegando em casa. A missão havia dado certo e as irmãs pareciam cada vez mais perto de chegarem em algum lugar. A garota também pode ver as duas indo no quarto de Chaewon, provavelmente para falar sobre outras coisas.

“Vamos jantar?” Jungeun apareceu no andar de baixo. Ela sorria e usava roupas confortáveis depois de tomar banho.

“Vamos.” Yeojin devolveu o sorriso. “Sooyoung chegou, ela foi falar com a Chaewon, acho que elas aparecem já.”

“Eu nem notei que a Sooyoung chegou.” Jungeun piscou os olhos rapidamente, mas logo abraçou a mais nova pelos ombros. “E como vai a escola?”

Yeojin, que agora não sentia desconforto, começou a ir com Jungeun até a cozinha.

“Tranquilo.”

 

                           

                           

                           

                           

                           

                           

                             

                             

Chapter 21: segredos mascarados

Summary:

Arco 6: Travessuras e Travessuras (3/3)

Chapter Text

                                                     

 

Dongpyo comandava a mansão de Haruna como um exército, ajudando os funcionários a organizarem os últimos toques da festa, pois já terminava de anoitecer. Yeojin ia ao seu lado, os dois vestidos com fantasia combinando: Padrinhos Mágicos, aproveitando o fato de Yeojin estar com o cabelo rosa. Yerim, vestida de Batgirl e Matthew, de Robin, chegaram logo em seguida para também ajudarem. O clima era de pressa, mas também animação. A noite de Dia das Bruxas estaria começando e todos estavam preparados.

Quer dizer, Sooyoung ficaria em casa, analisando algumas propostas como havia dito para Jungeun. Adiantar trabalho nunca era algo ruim, falando em trabalho, Jungeun saía novamente com maquiagem pesada e o baixo nas costas.

“Perdão por não conseguir ir hoje.” Sooyoung falava estando no sofá, com um notebook sobre as pernas.

“Sem problema.” Jungeun sorriu sem mostrar os dentes, aproximando-se da outra e a dando um selinho. “Não precisa se preocupar com horário, pode dormir se sentir sono.”

“Tudo bem, mas me ligue caso algo aconteça.”

Enquanto isso, Chaewon, que tinha deixado Yeojin na casa de Haruna anteriormente, agora estacionava a moto na parte de trás do cinema. Ela tinha as mãos na jaqueta ao ir para a entrada do estabelecimento, encontrando Hyeju no meio das pessoas passando pela calçada e entrando no local. Dia das Bruxas sempre era bem movimentado. Hyeju acenava, feliz ao finalmente ver Chaewon se aproximando.

“Oi.” Ela disse meio ofegante.

“Oi.” Chaewon semicerrou um pouco os olhos ao responder. Hyeju parecia um cachorrinho.

“Tem vários filmes de terror passando hoje.”

“Que bom, né? Não sendo o filme do The Weekenz, está tudo bem. Aquela porra claramente um terror de ruim.”

Hyeju riu e, em um pequeno momento de coragem, segurou a mão de Chaewon, entrelaçando os dedos. Chaewon, meio surpresa, somente engoliu em seco tentando diminuir seus batimentos cardíacos. Ela não sabia se adorava ou odiava.

O momento só não durou um pouco mais, pois logo elas sentiram as roupas ficarem mais pesadas e as pessoas ao redor se distanciando com barulhos de surpresa. As mãos se soltaram e Chaewon bufou como um touro ao notar suas roupas sujas com tinta verde, logo virando o rosto e visualizando Esther e seus amigo passando em uma picape aos risos rapidamente. Eles provavelmente não tinham intenção de serem vistos, mas nada escaparia do olhar de Chaewon.

“Foi ela.” Chaewon falou baixinho, mas o suficiente para Hyeju ouvir.

“Quem?”

“A Esther.” A voz saiu entredentes. “Você está afim de um encontro diferenciado hoje, Hyeju?”

Hyeju, irritada, mas principalmente constrangida, pende a cabeça levemente.

“Eu vou só fazer uma ligação e depois vamos no mercadinho e encontrar uns pirralhos no caminho.”

“Pirralhos?”

“É, eles topam tudo por cinco conto.”

 

 

 


 

 

Sooyoung agora seguia no carro de Taecyeon poucos minutos depois de Jungeun estar longe o suficiente para notar algo suspeito. Ela se arrumava no banco de trás, agora retocando a maquiagem e colocando uma máscara vinho. Se trocar em um carro não era tarefa fácil, mas com tanta prática começava a se tornar o menor dos problemas.

“Tudo pronto.” Ela dizia ao apertar um botão para a divisória no carro abaixar.

“Está bonita.” Taecyeon, novamente com o bigode ridículo colado no rosto, falava.

“Obrigada. Pelo menos dessa vez não vou usar a porcaria de um disfarce sem graça.

“Vendo você arrumada assim me lembra que preciso também colocar uma roupa legal.”

“E é?”

“Uhum, tenho um encontro depois.”

“Sério?” A mulher ergueu as sobrancelhas.

“Sério.”

“Com quem?”

“Eunjung.”

“Mentira.” Sooyoung começou a sorrir, logo sendo acompanhada pelo colega. “Não acredito que estão reatando de alguma forma.”

“É, estamos indo aos poucos, ainda não contamos para o Dongpyo.”

“Fico muito feliz por vocês.”

“É, eu também.” Ele a observou pelo retrovisor central. “E você com a...”

“Estamos bem.” Sooyoung comprimiu os lábios. “Muito bem, só... Não posso pensar muito sobre, pois sei que a situação é complicada.”

“Eu realmente não esperava algo assim da melhor agente da EGO.”

“Nem eu, mas, sei lá, tem algo sobre ela...” Sooyoung tocou o próprio queixo. “Só queria ter a conhecido em circunstâncias diferentes.

“Olha, Sooyoung.” A mulher ainda ficava meio em alerta ao ouvi-lo usar seu nome, pois foi inevitável não saber depois do resort. “Se for para ficarem juntas... Eu sei que isso vai acontecer, pois você é alguém que luta até o final. Se não fosse assim, não seria a melhor da organização.”

Sooyoung somente sorriu pequeno, não tendo nenhuma resposta para aquilo, mas querendo acreditar.

 

 

 


 

 

 

“Ferrou.” Dongpyo disse após sair de uma ligação.

Yerim, Yeojin e Matthew, que enchiam balões, olharam para o garoto como suricatos.

“O que foi?” Yeojin perguntou.

“As lembrancinhas vão atrasar se não formos buscar, sendo que o motorista da Haruna está com a família dela.”

“Droga, o meu foi dispensado por hoje.” Yerim disse. “Não que seja ruim ele ganhar a folga dele coitado.”

“O meu deve estar com meu pai.” Matthew falou. “Eu e Yerim viemos com você de carona Dongpyo...”

“É, eu sei e minha mãe foi para um encontro com sei lá quem. Se não for com meu pai, tomara que dê errado, ela acha que eu não presto atenção.”

“Gente, eu acho que posso ligar para a Chaewon.” Yeojin levantou a mão timidamente. Ela sabia que Sooyoung e Jungeun estariam ocupadas.

“Isso, liga.” Dongpyo estalou os dedos. “Ela tem moto, mas acho que dá certo, talvez.”

“Não é nem o bolo para não dar certo.” Yeojin puxava o celular, rezando para sua tal irmã atender.

 

 

 


 

 

 

Um tempinho antes da ligação alcançar o celular de Chaewon, ela se movia com Hyeju e mais cinco garotos na faixa dos doze anos. Eles haviam chegado em uma casa perto de um lago naquele devido bairro e agora tratavam de ajudar uns e outros a pularem o muro.

“Chaewon, eu estou ficando assustada com o que está planejando.” Hyeju cochichava.

“Você vai amar quando finalmente acontecer, engole o medo.” Ela se voltava agora para os meninos, fazendo com que se aproximassem. “Eu vou desligar as luzes. Eles estão todos na piscina o que facilita nosso trabalho.”

“Foco na loira azeda, né, tia?” O menor deles, já com algumas bexigas em um saco, perguntava.

“Sua tia nada, seu pirralho.” Ela apontava para ele e os outros riam um pouco. “Mas sim, a loira azeda.” Os outros assentiam.

Então as luzes se apagaram e o show começou. Os jovens na piscina primeiro se assustaram levemente, a música havia parado e um silêncio meio macabro começou. O primeiro grito veio e foi assim que as bexigas com tinta foram encontrando seus alvos. Chaewon, aproveitando o escuro, ainda empurrou Esther na piscina, manchando a água de tinta. Hyeju, se mantinha observando aquele caos, somente para sentir sua mão sendo segurada e puxada para fora dali. Era Chaewon, que, em um momento raro, gargalhava.

“A cara deles.” Chaewon tinha as mãos na barriga, quando chegaram ao fim da rua depois de correrem. Hyeju ainda retomava o fôlego.

“Você realmente não deixa nada barato.”

“Não mesmo.” O sorriso de Chaewon era tão genuíno, que Hyeju somente conseguia admirar, ignorando totalmente o caos que deixaram para trás.

Nisso, o telefone de Chaewon começou a tocar, automaticamente a garota voltou a voz para um tom seco.

“Fala, Yeojin.” Chaewon ouvia a caçula com os olhos semicerrados. “Só existe eu?” Ela revirava os olhos. “Já que vai ter comida e bebida, eu vou. Sua amiga Haruna sempre foi a mais legal de vocês mesmo. Chego daqui a pouco.”

“O que aconteceu na festa deles?”

“Nada ainda, mas precisam buscar as lembrancinhas.” Chaewon guardava o celular. “Estamos com as roupas manchadas, felizmente nada no cabelo e mesmo se tivesse, ainda é Dia das Bruxas.” Ela cruzava os braços. “Enfim, vamos para lá e de lá vou com a Yeojin buscar as coisas. Está afim de uma mudança de planos de novo?”

“Festa é festa.”

“E eu sempre quis ir na mansão dos Osato, vamos.”

 

 

 


 

 

 

No Cassino, Jungeun saía de um dos banheiros portando o uniforme de garçonete e uma máscara preta, ajustando um anel no dedo mindinho, após desmaiar alguém no banheiro. Seu trabalho não seria difícil, já que justamente tinha acesso à cozinha e trabalharia com venenos, um que faria a vítima morrer em algumas horas. Ela ouvia ordens do supervisor e pegava bandejas, logo passando pela porta dupla e entrando no enorme salão com paredes de veludo vermelho e chão xadrez. Ouro cintilando em vários pontos do cômodo.

Muitas pessoas jogando, rindo, comemorando, reclamando, mas todas exalando perfumes caros e bebidas refinadas. Jungeun passava os olhos rapidamente pelos rostos, cobertos por máscaras, mas focava em outros aspectos das vestes. Algo curioso e que fez a mulher juntas as sobrancelhas foram os seguranças. Ela podia jurar que viu um deles colocando uma moeda bem diferente no bolso. A EGO estava ali também? Aquilo fez Jungeun ficar mais atenta.

“Garota.” O supervisor a chamou assim que entrou na cozinha novamente. “Você vai servir o Sr.Caldwell. Segundo andar, sala de jogos 205.” Jungeun somente assentiu, agora pegando um carrinho com os pratos cobertos e agora passando pelo salão a fim de ir ao elevador.

Chegando na sala, quatro homens e duas mulheres jogavam e, além de perfumes e bebidas, fumaça de cigarros e charutos envolviam o local. Jungeun foi colocando os pratos individuais na mesa. E, assim que descobriu a refeição de Caldwell, ela bateu virou levemente a mão, abrindo o anel e deixando cair algo na comida. Um movimento rápido e sagaz, que passou completamente despercebido.

Jungeun recolheu alguns copos vazios em seguida e saiu do cômodo, após o segurança abrir a porta. Agora ela só precisava sair dali, até porque a pessoa desmaiada iria acordar em algum momento. E Jungeun agora passava pelas pessoas no térreo, acabando por alguém esbarrar o braço nela levemente, mas não virar o rosto. Porém, Jungeun estranhou, pois tinha algo no aroma daquela pessoa, um cheiro refinado como os outros, mas diferente, familiar. E quando tentou ter alguma visão daquela pessoa, Jungeun viu o resquício de cabelos longos e uma máscara vinho.

Só podia estar ficando maluca.

 

 

 


 

 

 

 

“Nossa, o que aconteceu com vocês? Foram para os ‘Meus prêmios Nick?” Dongpyo perguntou assim que Hyeju e Chaewon chegaram na mansão.

Hyeju riu, já Chaewon se mantinha mais impressionada pelo interior da mansão. Pouco tempo depois, Yerim veio correndo para abraçar a irmã, enquanto Yeojin e Matthew vinham caminhando atrás.

“Vamos?” Chaewon perguntou para a caçula, que assentiu.

“Vou lá, galera, não vamos demorar.”

“Vão.” Dongpyo sinalizou com a mão e foi logo puxando Hyeju. “E o resto vem comigo fazer os últimos reparos, Haruna pode chegar a qualquer momento.”

Yeojin e Chaewon seguiram para o lado de fora, indo até a moto.

“O que aconteceu para vocês ficarem sujas assim?” Yeojin dizia ao colocar o capacete.

“Um grupinho da faculdade tentou mexer com a gente, aquela garota que eu coloquei um vídeo no refeitório.”

“Já cuidou disso, não foi?”

“Com certeza.”

Yeojin perguntou somente para não levantar suspeitas, mas ela já tinha ouvido muitas coisas desde que Chaewon apareceu na mansão.

“Legal sua fantasia.” Chaewon comentou, subindo na moto. “Eu gosto dos ‘Padrinhos Mágicos’.

“E depois falam que você não gosta de nada.”

“Talvez.”

E, assim, elas saíram na moto com Yeojin dando instruções vez ou outra sobre o endereço. Elas não falavam muito e aproveitavam aquele vento mais gelado da noite. Yeojin esperava que as mais velhas estivessem bem.

Ao chegarem ao local, Yeojin foi rapidamente buscar, enquanto Chaewon abria o compartimento do banco da moto para colocarem a caixa com lembrancinhas. Yeojin nem sabia o que era, mas aparentemente eram pequenos itens. Voltando agora, Yeojin checava o horário no painel da moto, torcendo para não chegarem depois de Haruna.

Naquele momento, uma luz refletiu no retrovisor da moto. Uma van começava a se colocar em alta velocidade, tentando acompanhar Chaewon, que gradativamente acelerava. Yeojin segurou-se mais forte, começando a ficar preocupada.

De novo não, só podem ser os malditos da ECLIPSE tentando me matar de novo. Para completar, a Yeojin está aqui. Merda, merda, merda.

O QUÊ?!

A feição de Yeojin era de puro choque, afinal, de alguma forma as irmãs conseguiram esconder aquelas informações dela.

“Segura firme!” Chaewon gritou.

A van passou da moto, se colocando na mesma faixa logo em seguida e abrindo a parte de trás. Alguém apontava uma arma para a moto. Yeojin deu um pequeno grito atrás e Chaewon puxava a moto para os lados a fim de não serem atingidas.

Bem que estavam muito quietos esses dias!

Yeojin sentia a respiração aumentar com os barulhos altos de tiro e o desespero de Chaewon em tentar manter as duas vivas ao mesmo tempo que odiava o fato de o disfarce estar deslizando entre seus dedos. A cabeça de Yeojin então começou a doer. Flashes de quando estava no laboratório vinham de forma veloz.

“Fica atrás da van.” Ela falou.

“O quê?! Você quer morrer?!”

“ATRÁS DA VAN!”

Chaewon ficou surpresa com o grito de ordem, mas decidiu obedecer por mais maluco que aquilo soasse. Era como se fosse o certo a se fazer. E Chaewon arregalou um pouco os olhos ao perceber o braço de Chaewon estendido.

A van subiu.

A van subiu e voou no ar, passando por cima delas até finalmente cair no chão do outro lado. Pessoas começavam a aparecer ao redor e Chaewon somente acelerou a moto para a mansão Osato, ainda sentindo as mãos tremerem pelo que havia acontecido. Para piorar, Yeojin tinha o corpo pesando contra o seu.

“Yeojin, você está bem?!” Chaewon perguntava de maneira meio desesperada.

“Estou, é só minha cabeça.”

Chegando na mansão, Chaewon tomou cuidado a descer da moto. Yeojin parecia um pouco melhor, mas seu nariz tinha sangue seco. Chaewon ainda não tinha raciocinado muito bem tudo o que aconteceu, mas aquela van voou sobre suas cabeças e não havia explosivo, não havia nenhuma arma maluca... Mas tinha o braço de Yeojin erguido... Yeojin é alguém que dizia ser?

Chaewon ajudou Yeojin a descer da moto, após estacionarem em um local mais reservado, pois muitos convidados vinham chegando, e limpou o sangue do nariz da outra com a manga de sua jaqueta, então retirou a caixa do compartimento da moto.

“Vamos conversar.” Chaewon a segurou pela mão e entrou na mansão, que agora já tinha bastante gente.

Yeojin, ainda não conseguindo ter uma visão clara dos pensamentos de Chaewon, só a acompanhou. Também não era preciso de muito para saber exatamente o que iria acontecer.

“Finalmente.” Dongpyo comemorou, pegando a caixa das mãos de Chaewon. “Nossa, vocês duas viram algo no caminho? Parecem pálidas.”

“Nada demais.” Chaewon disse. “A gente só vai conversar ali rapidinho, nada sério.”

Yeojin somente assentiu, encontrando o olhar preocupado de Yerim no caminho e então balançando a mão em sinal para não ficar apreensiva.

No cômodo vizinho, que parecia uma sala de música, Chaewon fechava a porta. Agora elas estavam sozinhas e com um silêncio presente. Ambas não sabiam como começar aquilo.

“O que você fez ali atrás?” Chaewon perguntou. Ela estava séria.

Yeojin respirou fundo. Não tinha explicação lógica para o que havia acontecido.

“Eu tenho poderes, Chaewon.” Yeojin decidiu ser direta. Ela já estava correndo riscos, então nada mais seguro do que apostar na verdade.

“Poderes?” Chaewon ergueu as sobrancelhas.

“Eu passei parte da infância em um laboratório até conseguir fugir e me esconder em um orfanato.”

“Um laboratório aqui nesse país?”

“Sim, região metropolitana.”

“Então aquela van...” Chaewon parecia genuinamente surpresa, a ficha caindo. “Eu não acreditaria se não fosse aquela van...”

“Eu nunca consegui mover algo tão grande como aquilo... Até porque mover coisas nunca foi meu forte, mas ler mentes.” Chaewon arregalou os olhos. “Eu sei que você e Sooyoung são espiãs, na verdade, eu sei quem nos atacou e que tentaram te matar... Todas essas coisas.”

“Você...” Chaewon a observava com certa incógnita. “Você sabia de tudo e nunca falou nada?”

“Só fiz ajudar, é...” Yeojin cruzava os braços. “Vocês me deram uma oportunidade única e eu não queria jogar fora.” Os olhos dela começavam a lacrimejar. “Merda, vocês são o mais próximo de uma família que eu tenho, vocês são minha família.”

Chaewon se manteve em silêncio, olhando para os próprios pés. A genuinidade de Yeojin era tão forte, que não conseguia sentir nenhum sentimento negativo. Pois, realmente, ela só ajudava, nunca fez nada para prejudicar e, se tivesse tentado, Chaewon e Sooyoung já teria percebido. Yeojin jogou o jogo das duas sem perguntar nada ou pedir nada em troca... Acima de tudo... Gostava delas.

Ela realmente não era de fazer aquilo, mas Chaewon abraçou Yeojin fortemente, causando surpresa. Yeojin somente a apertou de volta, aliviada. Aquele era o sinal de que eram sim uma família ainda.

“Vamos ter que contar para a Sooyoung em algum momento.” Chaewon falou em meio ao abraço.

“Certo.”

“Não essa noite.”

“Ok.”

“E quero que me fala sobre esse laboratório onde cresceu. Vou investigar, já que Sooyoung está ocupada com outras coisas.”

“Tudo bem.”

“E nada de falar sobre esse abraço, se não eu te papoco.” Ela finalmente se distanciou e Yeojin somente sorriu.

“É, está bem claro em fala e pensamento.” Chaewon deu uma leve tapa na cabeça de Yeojin. “Ai.”

“Sem ler meus pensamentos, sua esquisita.”

“Ai, não é por mal.” Ela massageava a cabeça.

Então batidas foram dadas na porta.

“A Haruna chegou!” Era Dongpyo avisando.

As duas assentiram uma para a outra antes de saírem para o salão principal. Todo mundo em completo silêncio e no meio da escuridão esperando o momento em que Haruna passaria pela porta. E, bem, quando isso aconteceu, um jogo de luzes começou com música alta e todos gritando parabéns.

Haruna tomou um susto, mas logo começou a sorrir grande, se jogando nos braços de Dongpyo, que foi o primeiro a correr em sua direção. Logo ela começou a abraçar também Yeojin, Yerim e Matthew. A partir dali a festa finalmente começava.

Os jovens gritavam, bebiam, comiam, brincavam e dançavam ou pulavam, criando uma sensação de calor dentro daquele salão. Haruna assumia a mesa de DJ e comandava as músicas e fazia com que várias pessoas puxassem os celulares para filmarem.

Chaewon ficava em um canto, bebendo um simples refrigerante enquanto observava Yeojin ao lado de Haruna e vez ou outra com Yerim a abraçando de maneira que não parecia uma simples amiga. Ela tentava reparar se a caçula mostrava algum sinal de exaustão, afinal, o susto tinha sido grande. Yeojin com certeza não tinha o mesmo nível de energia de antes, mas parecia bem.

“Aproveitando a festa?” Hyeju se aproximou dela com um saquinho de pipoca.

“Você só foi buscar comida por um minuto, não precisa fingir esse diálogo besta para puxar assunto.” Chaewon tinha um sorriso de canto.

“Ok, ok, você não gosta de enrolação.”

“Não, obrigada.” Chaewon usou uma das mãos para pegar um pouco de pipoca da outra.

“Se não gosta de enrolação, então vamos dançar.”

Chaewon revirou os olhos.

“Estou falando sério.”

“Eu sei que está.”

“Então vamos.” Hyeju começava a dar passinhos para um lado e outro e puxava Chaewon pelo pulso.

A garota, apesar de fazer uma careta inicialmente, logo começou a sorrir e passou a seguir a outra para a pista de dança. Seria uma forma de comemorar que estava viva, ela e Yeojin.

 

 

 


 

 

Horas depois, já na madrugada, a festa parava e os últimos convidados iam embora. O grupo de amigos acenava para Siyoon, que ia embora após receber um abraço de Haruna. Nisso, a mãe de Dongpyo chegou logo em seguida para buscar ele, Yerim e Matthew. E, enquanto as despedidas aconteciam na entrada da mansão, Hyeju e Chaewon se mantinham perto da moto.

“Eu vou pegar carona com a minha tia.” Hyeju avisou. “Está bem tarde, espero que meu pai não esteja em casa.”

“Como se ela se importasse.” Chaewon juntou as sobrancelhas.

“É, nessa você venceu.”

“Cuidado ao voltarem.”

“Você também.” Hyeju olhou rapidamente para o carro da tia e o fato de que os mais novos começavam a ir até ele. Hyeju então se voltou para Chaewon, o olhar meio nervoso, e acabou por a puxar pela gola da jaqueta e finalmente a beijar.

Chaewon arregalou os olhos de início, mas somente mandou um ‘foda-se’ bem grande ao sentir o calor da outra. O contato era meio rude, brusco, mas era bom, era uma batalha por controle do jeito que gostava.

Uma buzina foi o que as fez se separarem, felizmente o carro não dava visão para onde estavam. Hyeju passou rapidamente a mão pelo rosto.

“Te vejo depois?” Hyeju perguntou, já dando alguns passos para trás, respirando fundo.

“Talvez.” Chaewon tinha a boca entreaberta, passando a língua nas bochechas. Hyeju somente sorriu, indo embora.

Chaewon estava muito ferrada.

“Vamos?” Agora era Yeojin se aproximando e já pegando o capacete.

“Não inventa de ler meus pensamentos.” Chaewon levantou um dos dedos.

“Foi mal, tem pouca gente já e a Hyeju foi bem explícita nos dela.”

“Que nojo, Yeojin.”

“Ué.” Yeojin riu. “Eu não vou contar para a Sooyoung.”

“E nem para os seus amiguinhos.”

“Ok, entendi que quer deixar nos Close Friends.”

 

 

 


 

 

 

Jungeun veio chegar um tempo depois das mais novas, ainda não sendo suficiente para elas a virem pelo apartamento. A mulher foi se movendo de maneira silenciosa até finalmente entrar no quarto. Ela deixou o baixo no canto e voltou logo seu olhar para a cama. Sooyoung dormia tranquilamente, não havia sinal daquela máscara por perto. Jungeun realmente imaginou coisas.

Ainda assim, ao se deitar ao lado de Sooyoung, aquele aroma a alcançava fortemente e Jungeun só conseguiu fazer um leve carinho na cabeça da outra.

Enquanto isso, Yeojin conversava no grupo com seus amigos. Nada como uma festa sem Joshua e somente o melhor do mundinho dos três.

 

                                                     

                                                     

                                                     

                                                          

                                                     

 

 

 


 

 

 

O café da manhã na verdade foi quase um almoço, pois ninguém levantou cedo. As quatro se reuniam na cozinha e o clima estava até tranquilo entre elas. Jungeun acabava de colocar os queijos na mesa.

“Ontem vocês voltaram tarde.” Sooyoung comentou, agora todas estavam à mesa.

“E me surpreendeu você acordada.” Chaewon disse.

“Eu tinha muito trabalho e ainda preciso ir no banco hoje pegar uns documentos.”

“Quer que eu vá com você?” Jungeun perguntou.

“Não precisa, é coisa rápida, mas se quiser passear em algum lugar, eu posso te deixar no caminho, coisa assim.”

“Na verdade, eu preciso passar no escritório.” Jungeun sorriu sem mostrar os dentes.

“Eu te deixo lá e depois te busco sem problemas.”

“Eu vou lá para a casa da Haruna de novo hoje.” Yeojin avisou. “Sobrou comida de ontem e vamos discutir algumas coisas do festival escolar que vai começar.”

“Vai como?” Sooyoung perguntou.

“Eu vou com ela, a Hyeju também vai.” Chaewon dizia ao colocar um pedaço de bacon na boca.

“Tudo bem então. Sábado cheio de compromissos para todo mundo.” Sooyoung sorriu sem mostrar os dentes antes de comer.

 

 

 


 

 

 

Jungeun havia se despedido de Sooyoung perto do seu trabalho, indo realmente até o escritório para somente perder algum tempo antes de poder receber a ligação de ECLIPSE sobre a vítima do dia anterior, até porque não teve como confirmar o óbito.

Na cabine telefônica, Jungeun se sentia um pouco ansiosa ao finalmente ouvir o toque do telefone e finalmente entrar em contato com a organização. Novamente era Viper no telefone.

“Óbito confirmado, RedSix, bom trabalho.”

“Obrigada. Tem mais alguma coisa que eu precise saber?”

“Temos sim. Nós estamos tendo alguns problemas com vizinhos.”

“Vizinhos?”

“Sim, e nós temos ótimos agentes assim como eles e só tem uma maneira de se derrotar um número um, que é usando outro número um.”

“Viper, o que está acontecendo?”

“Abra a caixa do telefone.”

Jungeun, apreensiva, obedeceu. Abrindo a caixa delicadamente e tirando um envelope dobrado de dentro.

“Faça um bom trabalho, RedSix.” A chamada terminou antes mesmo de Jungeun olhar o conteúdo do envelope.

Agora, sozinha naquela cabine, ela finalmente olhava o os papéis com calma. Suas mãos tremiam ao ler, a respiração falhava, as costas deslizavam na parede da cabine. Ela esperava que o vidro fosco a encobrisse o suficiente.

Jungeun já tinha dificuldade de enxergar com clareza por causa as lágrimas no rosto, mas aquela ficha era da agente número um da EGO: Agente 9, Snake, Sooyoung. Ela era uma espiã e estava sendo colocada como alvo, sua inimiga.

Mas, pior ainda, Sooyoung era uma mentirosa.

Uma mentirosa que voltou para casa algumas horas depois, preocupada e meio ofegante, pois Jungeun havia dito que não estava se sentindo bem e voltou para casa sozinha. Sooyoung entrou no quarto das duas abrindo a porta violentamente, mas, ao invés de Jungeun, ela sentiu uma presença ameaçadora, desconhecida, e isso a fez sentir medo depois de muito tempo.

Sooyoung rapidamente puxou a pistola e apontou para o outro lado da cama, somente para encontrar Jungeun também apontando uma para ela. O rosto molhado de lágrimas.

Uma na mira da outra.

 

 

“Jungeun, quem é você?”

Chapter 22: mestre mandou

Summary:

Arco: Contagem Regressiva (1/?)

Chapter Text

                                       

 

 

“É sério que é essa a pergunta que escolheu?” As armas continuavam apontadas.

“Bem, agora eu não tenho certeza, você está apontando uma arma para mim.”

“Assim como você.”

“Porque você está apontando! Armas não são muito fáceis de conseguir nesse país.”

Jungeun mordia o interior das bochechas, a feição de Sooyoung era confusa, entristecida. Ela genuinamente parecia não saber sobre Jungeun ser da ECLIPSE.

“Você é meu alvo, Sooyoung.”

Aquilo foi o suficiente para Sooyoung entender. Seus olhos murcharam e abaixou a arma. Não por estar confortável e pensar que Jungeun poderia ser sua aliada, afinal, a ECLIPSE tinha matado um agente da EGO e tentou matar sua irmã. Era mais uma sensação de derrota, pois, querendo ou não, seus sentimentos por Jungeun são genuínos.

“O nosso encontro no supermercado e a nossa conversa para resolver casar, em retrospecto, pensei que, sei lá, você tinha o nome sujo, ou estava fugindo de familiares ou era alguma estelionatária, menos isso...” Sooyoung alternava o olhar entre Jungeun e arma apontada para si. “Quando descobriu? Você, por acaso, foi quem ajudou a ECLIPSE a tentar matar a Chaewon? Foi você quem matou o agente da EGO.”

A feição de confusão em Jungeun foi imediata.

“Eu descobri algumas horas atrás, depois do relatório de uma missão.”

“Caldwell?”

“Sim.”

“Youngsoo eliminando aqueles que não precisa mais.” Sooyoung suspirou.

“Você estava lá, não estava?”

“É, estava.”

“E que história é essa de tentarem matar a Chaewon?”

“Um agente da sua organização tentou matar a Chaewon, simples assim.”

Jungeun abaixou a arma, desde o começo duvidava muito se iria ter coragem de apertar o gatilho. Sua cabeça estava a milhão, muitas perguntas vinham e conseguia perceber que Sooyoung também queria juntar algumas peças. As duas estavam perdidas naquele jogo. Sooyoung ganhou um pouco mais de brilho no olhar quando notou o ato da outra.

“Não ache que não estou brava com você.” Jungeun avisou.

Sooyoung só deu o resquício de um sorriso.

“A Chaewon é uma agente também?”

“Sim, mas ela é minha irmã de verdade.”

“E a Yeojin?”

“Adotei. Ela foi um requisito para a missão, pois precisávamos nos aproximar e a Yerim, e a escola, eram importantes.”

“Meu Deus, Sooyoung.” Jungeun ficou indignada. “Ela é uma adolescente, você está só usando ela?!”

“Não!” Sooyoung juntou as sobrancelhas bruscamente. “Eu realmente me apeguei a ela, assim como me apaixonei por você!” Ela claramente não pensou muito antes de falar.

E pegou Jungeun de surpresa. Elas sabiam que sentiam aquilo, mas jamais tinham assumido.

“Por isso eu estou tão devastada com tudo isso.” Sooyoung continuou. “Não sei o que caralhos iria fazer quando essa missão acabasse, mas iria tentar não jogar isso no lixo, porque eu realmente amo isso aqui. Eu finalmente não me senti sozinha.”

Mais um sentimento compartilhado entre as duas.

“Ok.” Jungeun guardou a arma, cruzando os braços, tentando não transparecer os efeitos das coisas sendo ditas. “Qual é a sua missão? Eu preciso entender tudo para ter certeza de que preciso sair pela aquela porta e te dar pelo menos um dia antes de vir terminar meu trabalho. Estou te dando uma última chance de a gente conversar sobre tudo isso e ter certeza de que não estou cometendo o maior erro da minha vida.”

Sooyoung colocou a sua arma em cima da cama e colocou as mãos nos bolsos da calça.

“Minha missão é investigar o Youngsoo, ele parece ter planos que ameaçam a segurança das pessoas, não somente daqui, mas de outras partes do mundo. Yeojin e Chaewon, cada uma se aproximaria de uma filha dele e traria mais informações extras. Para manter a fachada, eu precisei me casar, até porque pessoas solteiras atraem suspeitas de espionagem, você sabe disso melhor do que eu.”

“É, sei.”

“O projeto dele se chama Alter Forza e a estrutura para isso acontecer está embaixo da fábrica da Biscuit S. A herdeira dessa empresa é a esposa dele, que, do nada, foi mandada para uma clínica psiquiátrica. E, graças a Chaewon, nós descobrimos que essa mulher conseguiu escapar da clínica do marido e está escondida em uma casa de veraneio. Ela foi a fonte da EGO para começarmos a investigar Youngsoo, ela é uma das acionistas da organização.”

“E o que sabem sobre Alter Forza?”

“Nos documentos que consegui no baile de máscaras, eu encontrei algumas notícias sobre um laboratório que pegou fogo mais de dez anos atrás e tinha o número 004 escrito e circulado nesses papéis. Ainda preciso investigar mais um pouco, mas tudo sugere ser uma estrutura tecnológica capaz de fazer alguma coisa... Alguma coisa perigosa.”

“Sabe que laboratório é esse?”

“Dizem ser somente um centro de desenvolvimento de tecnologia agrícola do governo, mas acho que é fachada.”

“Tem algo estranho nessa história toda, não na que está me contando...”

“Sobre te mandarem mantar o Caldwell? Também acho. Disseram que umas horas antes de morrer, Youngsoo meio que o demitiu.”

“Muito sincronizado.”

“ECLIPSE comete assassinatos privados?”

“Não, pelo menos não antes. Algumas coisas estão esquisitas.” Jungeun juntava as sobrancelhas. “Me mandam eliminar um agente da EGO e depois você fala que alguém da ECLIPSE tentou matar a Chaewon.”

“Você sabe quem tentou matar a Chaewon?”

“Não faço ideia, ninguém me informou de nada. Eu sei que falaram para mim sobre a EGO ter matado o DownForce por isso me mandaram atrás desse agente.”

“Aliás.” Sooyoung colocou um dedo sobre os lábios. “Qual é o seu codinome.”

“RedSix.”

“Caramba.” Os olhos de Sooyoung se arregalaram. “Meio que todo mundo na EGO tem medo de você, você é tipo uma lenda... É a número um.”

“É, eu fiquei sabendo que você é a número um da EGO também, agente nove.”

A numeração fez Sooyoung engolir em seco, se dando conta do quão real aquilo era.

“Enfim.” Jungeun passou a mão pelos cabelos. “Existem dois correspondentes que me acessam, Viper e Bravo. Bravo sumiu faz meses e Viper é que vem me passando trabalhos, sempre arrogante e todos privados. Depois comecei a pensar que tudo isso era por conta da briga com a EGO, mas começo a pensar que...”

“Estão criando incidentes e usando eles para dar início entre as duas instituições.”

“E aí eu mato o Caldwell de maneira muito sincronizada com a tal demissão pelo Youngsoo.”

“E a esposa, ou ex, dele, é uma das apoiadoras da EGO.”

As duas assentiam uma para a outra.

“Youngsoo está trabalhando com a ECLIPSE, tendo ajuda da Viper.” Jungeun falou. “A própria ECLIPSE deve estar em crise interna, se livrando daqueles que não querem seguir a liderança da Viper.”

“E isso combina com o fato de que ela está querendo que você me mate.”

“Se eles sabem da Chaewon e sobre você, então devem saber que estamos casadas.”

“Isso é uma prova de lealdade.” Sooyoung recebeu um aceno de Jungeun. “Nós temos que agir ou nós duas vamos morrer, pior, nós quatro.”

“Melhor chamar a Chaewon.”

“Agora.” Sooyoung puxou o celular rapidamente.

 

                                         

                                         

 

“E minha tia foi chamada na escola dele sem entender nada.” Dongpyo estava no meio de uma história. Yeojin, Yerim, Haruna, Siyoon e Matthew, que ficava conferindo o celular, estavam todos na mesma com ele. Mesa essa cheia de comida da noite anterior. “Chegando lá, ela descobriu que o menino deu uma cabeçada na câmera da escola.” O grupo começou a rir.

“Eu também já fiz umas coisas meio esquisitinhas para trabalhos de escola.” Siyoon disse. “Teve um trabalho no primeiro ano sobre disparidade de gênero e eu fiz uma longa redação sobre dois trabalhos que associo a cada um: motoboy e vendedora de bolo de pote.”

“Você vendeu ótimos bolos de pote naquela semana.” Matthew comentou.

“É, infelizmente eu não tinha habilitação para ser motogirl.”

Mais risos na mesa.

“Matheus, as notas saíram?” Yeojin perguntou, ela estava meio nervosa e nem era pelo fato de Yerim estar a abraçando pelos ombros.

“Estou atualizando aqui o site o tempo inteiro.”

Um pouco mais distante dali, Chaewon checava o celular. Hyeju tinha saído por um momento para pegar bebidas. Ela dava graças em estar sozinha quando começou a ler as mensagens de Sooyoung.

“Saiu.” Ela ouviu Matheus dizer na mesa. “Haruna, você ficou em primeiro lugar!”

Comemorações. Haruna fingiu tirar um chapéu da cabeça e ainda apertou mãos com Yerim, pois as duas disputavam sempre o top 2.

“Yerim em segundo.” Mais comemorações, Yeojin a deu um beijo na bochecha o que fez a mesa ficar mais animada. “Siyoon em nono lugar e eu em décimo primeiro.” Ele levantou a mão livre para comemorar. “Dongpyo em décimo quinto.”

“Meu Deus, eu nunca fiquei tão alto na colocação!” Ele botou as mãos na boca.

“Yeojin em vigésima quarta, você conseguiu!”

“Eu consegui?!”

Yerim a abraçou forte e logo todos começaram a mexer a garota de um lado para outro, felizes. Yeojin finalmente poderia voltar para o time e participar dos últimos jogos do campeonato nacional.

Chaewon, que começava a ver Hyeju saindo da cozinha, focou sua mente na de Yeojin. Elas tinham testado um pouco aquelas habilidades antes de subirem na moto para a mansão dos Osato, Chaewon confessava ser divertido.

Yeojin, se você estiver ouvindo, olhe para mim.

A mais nova se manteve sorridente com os amigos, mas seus músculos se tensionaram. Ela ouvia os dos outros, porém, como estavam focados no momento, a mente deles emitia poucos pensamentos, então era fácil ouvir Chaewon. Yeojin levou seu olhar rapidamente até Chaewon, que estava de frente para ela, um pouco mais distante.

Emergência em casa. Eu vou falar algo para nós irmos embora e você vai concordar, entendido?

É realmente sério? Eu não queria ir agora...

É sério de verdade, Yeojin, eu te falo um pouco mais lá fora.

Ok...

“Demorei?” Hyeju apareceu, entregando um copo para Chaewon, que virou de uma vez. “Ei! Cuidado.”

“Isso é refrigerante zero, Hyeju, sai fora.” Chaewon passou as costas da mão na boca.

“Mas para que essa pressa?”

“Minha irmã ligou, teve incidente com um parente da Jungeun, vamos ter que ir.”

“Sério?” Hyeju parecia preocupada. “Foi morte?”

“Não sabemos ainda, mas ela pediu para voltarmos.”

“Uma pena, mas, tudo bem, espero que a Jungeun fique bem e vocês também.”

“É...” Chaewon deu de ombros. “Falo com você mais tarde?”

“Uhum.” Hyeju sorriu pequeno, então se inclinou um pouco para beijar Chaewon, que ainda se acostumava com o fato de estar supostamente namorando? Depois das notícias de Sooyoung, ela acabou até mesmo abrindo os olhos no meio do contato.

“Ótimo.” Ela não emitia nenhuma mudança significativa de expressão e então caminhou até a mesa dos mais novos. “Yeojin, emergência familiar, vamos ter que voltar. Nosso tio bêbado teve algum problema, pode ter sido morte matada, morrida ou só um acidente, vamos, rala peito.” Ela bateu palminhas. “Obrigada, pivetada, a gente fala com vocês mais tarde.”

Os outros, meio risonhos, meio preocupados acenavam para mais velha e logo iam se despedindo de Yeojin, que sorria sem mostrar os dentes.

“Falo com você depois.” Ela falou para Yerim após se abraçarem.

“Ok.” A garota sorriu timidamente.

Agora, na área de estacionamento da mansão, Yeojin deixava um leve riso escapar.

“Você é meio péssima dando desculpa.”

“Fale um pouco rápido e todo mundo engole.” Ela ajustava o capacete para colocar na cabeça.

“É, parece ter funcionado.” Yeojin fazia o mesmo. “E o que aconteceu?”

“Jungeun descobriu.”

Aquilo fez Yeojin sentir um frio na barriga.

“Está tudo bem, tudo sob controle, pelo menos é o que a Sooyoung diz.” Chaewon deu de ombros. “Ainda pode ser alguém se passando por ela, vamos conferir, pelo menos trouxe armas. Se for verdade, então vamos ter que contar o seu segredo, está pronta? Quem poderia te matar sou eu, então eu ficaria tranquila.”

Yeojin não sabia se aquilo era uma boa ideia em um geral, mas como iria falar sobre especificamente sobre Jungeun sem mencionar o fato de ela ser assassina. Ela esperava que Chaewon tivesse algum plano.

 

 

 


 

 

 

Assim que colocaram os pés na sala, Yeojin e Chaewon tiveram a visão das duas adultas, distantes uma da outra, em silêncio. Yeojin sentiu-se mal, pois tinha certeza que as coisas só iriam ficar mais complicadas agora.

“Chaewon, por que trouxe a Yeojin?” Sooyoung, hesitante, perguntava.

“Ela sabe.” A resposta foi rápida e o silêncio foi preenchido por olhares confusos.

Yeojin não esperava que seria colocada no holofote dessa forma. Já tinha pensado em como algo assim se desenrolaria várias vezes em sua cabeça, algumas se tornavam até mesmo pesadelos. Agora realmente estava acontecendo e elas esperavam uma resposta.

“Mas antes que ela fale o lado dela.” Chaewon começou. “Melhor falarem a de vocês.”

“Calma, Chaewon, o que a Yeojin sabe?” Sooyoung alternava o olhar entre as duas.

“Que somos espiãs, eu descobri isso ontem.”

“Tudo recente... Somente isso?”

“Pelo que eu saiba sim.”

“Ok.” Sooyoung passou a mão pelo rosto. “Sentem, temos muito o que conversar.” Yeojin notava certa culpa no comportamento de Sooyoung para com ela, afinal, era tudo uma mentira. Jungeun, diferente das outras, focava seu olhar em Yeojin, como se juntasse algumas peças.

Yeojin somente encarava os próprios pés.

“Chaewon, nós estamos com uma crise em mãos.” Sooyoung começou a falar, sentando-se na poltrona oposta à Jungeun, enquanto as mais novas ficavam no sofá.

“Diga.” A garota cruzou as pernas.

“A ECLIPSE está trabalhando com Youngsoo.”

Aquilo fez a garota ficar meio confusa, assim como Yeojin, que, após ouvir alguns pensamentos, preferiu bloquear as vozes.

“A ECLIPSE tinha dois correspondentes.” Sooyoung continuou. “Viper e Bravo. De alguma forma, um golpe aconteceu e tiraram o Bravo da linha, quem sabe o que fizeram com ele... E essa Viper estava administrando contratos privados.”

“Mas a ECLIPSE não faz mais contratos privados.”

“E agora só estão fazendo isso.”

“Entendi, o maldito do Youngsoo está transformando a ECLIPSE em um órgão do governo, aproveitando que é uma organização pequena e com poucos agentes.” Chaewon riu em escárnio. “Maldito.”

“E os incidentes entre EGO e ECLIPSE são todos orquestrados por ele e essa tal de Viper.”

“Fazer as duas organizações se destruírem por dentro, se livrando da EGO e de agentes desnecessários na ECLIPSE. E a ex-mulher dele está com a EGO, vingança.”

“Isso.”

“Precisamos acabar com a ECLIPSE então, eu já estou na mira deles... Aliás.” A garota juntou as sobrancelhas. “Você contou isso para ela?” Ela apontou para Jungeun. “Quer realmente abrir o jogo.”

“Chaewon.” Sooyoung fez uma pequena careta, sabendo estar entrando em território perigoso. “Ela é o motivo de eu saber sobre isso.”

Chaewon fechou completamente a expressão e em um movimento de segundos sacou uma pistola na direção de Jungeun. Sooyoung saltou para perto de Jungeun rapidamente, ficando entre a arma e Jungeun.

“Sai da frente, Sooyoung!” Chaewon vociferou, se levantando para ter uma postura melhor. Yeojin abraçou os próprios joelhos, definitivamente com medo, ela mal notava algumas lágrimas se formando nos olhos.

“Ela está do nosso lado!” Sooyoung abriu os braços.

“Foi ela quem tentou me matar?! Foi ela quem matou aquele agente?!”

“Chaewon, se não fosse por ela a gente não saberia de nada disso.”

“Foda-se!”

“Chaewon.” Jungeun começou a falar, saindo de trás de Sooyoung e encarando a mira de Chaewon. “Eu matei aquele agente, é verdade, mas não foi eu quem fui atrás de você, eu nem sabia disso.”

“Mentira.”

“É verdade, eu comecei a estranhar e hoje mais cedo recebi o arquivo da sua irmã. Eles querem que eu mate Sooyoung. Eu não sabia que eram espiãs antes disso, mas sei que não são pessoas ruins. Aliás, no dia da morte do agente, eu só descobri que era um depois de matá-lo, desde ali eu fiquei suspeitando mais ainda. Nós não matamos moedas.”

“Está dizendo que isso é um teste da ECLIPSE para você?”

“Exatamente.” Sooyoung respondeu. “Nós temos que ser rápidas, Chaewon, eles sabem sobre nós. Droga, o Youngsoo com certeza sabe.”

Os fungados de Yeojin chegaram nas mais velhas. Chaewon, diferente das outras, na verdade tinha uma expressão ainda mais confusa.

“Yeojin, você sabia da Jungeun.” A afirmação fez a garota se encolher mais.

As outras duas ficaram obviamente nervosas, principalmente Jungeun.

“Isso explica o medo dela comigo.” Jungeun piscava os olhos lentamente. E Sooyoung aproveitava aquele lembrete para também juntar as peças.

“Espera, como ela sabe?” Sooyoung trocou olhares com a irmã.

“Yeojin lê mentes.” Chaewon deu de ombros. “E umas coisinhas mais, eu também fiquei assim meio descrente que nem vocês com essas caras de otárias, mas é verdade. Vi com meus próprios olhos... E ela é confiável, não nos dedurou e ainda nos ajudou.”

“Eu...” Yeojin balbuciou. “Eu não trabalho para ninguém, eu só aproveitei a oportunidade e... Me apeguei... Eu não quero prejudicar vocês.”

As mais velhas, até mesmo Chaewon, ficaram mexidas com a fala da garota. Sooyoung se ajoelhou perto dela.

“Yeojin, olha para mim.” A garota olhou, meio nervosa. “Nós realmente não queremos te machucar, vai ficar tudo bem.” Sooyoung então deu um mínimo sorriso. “Vamos te proteger.” Yeojin somente assentiu, sentindo um pouco de alívio. “Agora precisa esclarecer o que a Chaewon falou, como assim lê mentes?”

Yeojin trocou olhares com Chaewon, era meio engraçado como seu porto seguro de certa forma havia virado aquela sua tal tia.

“Assim.” Chaewon começou, atraindo a atenção das duas. “Antes de ela falar, vale dizer que ontem nós fomos perseguidas pela ECLIPSE e só sobrevivemos porque a Yeojin usou telecinese e jogou a van para o outro lado.” As mulheres ficaram ainda mais confusas. “É sério.”

“A ECLIPSE tentou de novo ontem e você não me falou?” Sooyoung se levantou novamente.

“Eu e Yeojin conversamos sobre depois do incidente. Achamos melhor deixar baixo por um tempo, mas vocês tiveram o incidente de vocês. Mas eu iria, pois a origem dela parece interessante.”

“Yeojin, isso é verdade?” Sooyoung se voltava novamente para a mais nova.

Como conseguiu esconder isso?

Como conseguiu esconder isso.” Yeojin falou. “Você pensou isso.”

Sooyoung franziu a testa.

“Pensa em mais alguma coisa.” O tom de Yeojin era meio cansado. “Alguma coisa que ninguém sabe.”

Sooyoung pendeu a cabeça por um momento.

Quando eu tinha dez anos, eu menti que roubei maçãs para umas garotas da escola.

“Você mentiu sobre roubar maçãs quando tinha dez anos.” A fala fez Sooyoung dar um passo para trás.

“Eu estou falando.” Chaewon sorriu. “O negócio é maluco, eu quase fiquei maluca.”

“No começo, eu não falei nada sobre a Jungeun porque ela não ameaçava em nada. Claro que o fato de ser assassina me deixou assustada, nisso vocês estão certas. Enquanto ela não ameaçasse a gente, então tudo bem. Não queria me meter nesse problema. Além disso, vocês duas.” Ela apontou ligeiramente para Sooyoung e Jungeun. “Vocês realmente se gostam e isso me deu esperanças de que iria ficar tudo bem.”

As adultas ficaram envergonhadas rapidamente, mas evitaram trocarem olhares ou comentarem. Sooyoung somente se preparou para continuar a falar.

“Ok, você é basicamente a Jean Grey pelo que a minha irmã fala...” Sooyoung coçava os olhos. “Não que minha ficha tenha caído, isso vai demorar a acontecer, mas... Meu Deus.” Sooyoung caminhou um pouco pela sala, tentando fazer sentido daquilo. Jungeun sentou-se novamente na segunda poltrona, claramente chocada.

“Yeojin, fala para elas de onde você veio.” Chaewon instigou.

Yeojin, alternou o olhar entre as adultas antes de responder, apesar de que elas não olhavam para ela.

“Eu lembro de ficar em um laboratório aqui em Verni, talvez área metropolitana.” Ela começou. “Fugi de lá depois de um incêndio e fui parar no orfanato sozinha, fugindo.  Quem me deu esse nome foi a velha do orfanato. Lá, no laboratório, eles faziam testes para essas minhas... Habilidades.” Yeojin esfregava as mãos.

Sooyoung bateu uma palma, voltando a encarar a menina e depois Chaewon.

“Eu achei algo sobre um laboratório que pegou fogo no escritório do Youngsoo no Cassino. Tinha o número 004.” A mulher se voltou para Yeojin. “Yeojin, sabe de algo com esse número?” A mulher notava a menina em choque e com os olhos arregalados. “Yeojin.”

“Eles me chamavam de 004.” Ela disse após algum tempo.

As mais velhas expressavam choque através da troca de olhares.

“O projeto Alter Forza envolve essa pesquisa que a Yeojin fez parte... Quais as chances de tantas coincidências?” Chaewon disse.

“Pelo menos isso nos dá uma chance de fazer alguma coisa.” Sooyoung falou.

“Alter Forza é o tal projeto do Youngsoo, não é?” Yeojin perguntou. “Sabem exatamente o que é? Envolve algo comigo pelo jeito... O que não me deixa alegre... Mas...”

“Não sabemos se ele pretende usar você.” Sooyoung disse. “Mas você parece ter sido um sucesso para o que eles queriam, então... Sei lá, alcançarem algo parecido... Precisamos investigar.”

“Eu corro perigo?” Yeojin perguntou.

“Não.” Sooyoung respondeu rápido. “Seus documentos não são rastreáveis e não há registros do seu nome, você mesma falou. Provavelmente muita coisa se perdeu no incêndio.”

“Precisamos investigar esse laboratório, algo que eu já iria fazer.” Chaewon disse.

“E quero que continue. Eu e Jungeun vamos determinar o plano de ação contra a ECLIPSE, muito provavelmente precisaremos de você também.”

“Podem usar a Haseul e Taecyeon também.” Chaewon disse. “Eles dois são altamente confiáveis.”

“É, e creio que somente eles até o momento.” Sooyoung suspirou.

“E você.” Chaewon apontou para Jungeun. “Estou de olho em você, apesar da Yeojin ter limpado sua barra.”

“Eu estou odiando tudo isso tanto quanto vocês. É péssimo o que aconteceu com a Yeojin, ela era uma criança.” Jungeun negou com a cabeça. “E o que estão armando entre as organizações? Odeio o fato de o Youngsoo estar querendo causar algo ainda pior.”

“É bom mesmo ficar do nosso lado.”

“E eu?” Yeojin ergueu a mão timidamente.

“Continue seu ótimo trabalho.” Sooyoung sorriu sem mostrar os dentes. “Você está indo bem, nós vamos cuidar do resto. Eu te falei que vamos te proteger, não é?” Ela alternou o olhar entre Jungeun e Chaewon, que assentiram.

“É, pirralha, você é a mais inocente daqui. Você não merece tanta bagunça.” Chaewon dizia quase de má vontade, Yeojin riu um pouco, pois aquele era o jeito de Chaewon mesmo.

“Não se preocupe, Yeojin.” Jungeun assentiu. “Vamos cuidar disso.”

“Ótimo.” Sooyoung colocou as mãos na cintura. “Jungeun, até quando a Viper vai suspeitar a sua falta de tarefa?”

“Ela liga uma vez na semana, geralmente o máximo que ela não estranha são duas semanas, estourando três.”

“Ok, é o tempo de Yeojin ficar no festival escolar e nós montarmos um plano e o executarmos.”

“Uau, somos um time.” Chaewon dizia e logo começava a bocejar. “Vou começar a resolver nossos problemas.” Ela começava a andar em direção às escadas.

Yeojin levantava logo em seguida, também a fim de querer passar um tempo sozinha. Agora restavam somente as mais velhas na sala.

“Eu com certeza vou precisar de uma dose cavalar de vinho depois dessa.” Sooyoung olhou o teto por uns segundos e respirou fundo.

“Pelo menos temos uma chance, Sooyoung.” Jungeun comentou, levantando-se. “Eu acho melhor ir para o meu antigo quarto, mudar as coisas de lugar. É melhor darmos um tempo no que quer que isso seja até para o bem da missão.” O tom meio frio de Jungeun, mas também dolorido, fez com que Sooyoung voltasse a se deparar com a enxurrada de sentimentos entre as duas. “Nós duas mentimos, nós duas arriscamos a vida uma da outra por algo que nem sabíamos se iria dar certo. Nós fomos inconsequentes, imaturas e egoístas.

“Claro.” Não havia resposta diferente para as duas coisas. “Nós podemos falar sobre isso depois.”

“É, podemos... Já fico aliviada de termos escolhido conversar lá em cima.” Jungeun passava por Sooyoung, colocando as mãos nos bolsos de trás da calça jeans. “Eu acho que você me causou um dano irreversível.”

“É, você também fez.” Sooyoung soltou um sorriso melancólico. “Te vejo daqui a pouco?”

“Sim, a ECLIPSE não se destrói sozinha.” E assim ela desapareceu nas escadas.

 

                                             

                                               

                                               

                                               

Chapter 23: lados da mesma moeda

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Arco: Contagem Regressiva (2/4)

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A situação era estranha. Os segredos não existiam mais.

Não demorou nem o final de semana inteiro para as adultas transformarem uma das paredes da sala em um mural cada vez mais complexo. Yeojin nem mesmo tentaria forçar sua mente a entender o que cada bloco daquele significava. Encontrar Jungeun em silêncio e encarando aquela parede se tornava cada vez mais comum, às vezes ela estava lá no meio da noite. Porém, por mais assustador que parecesse, ela sempre dava um pequeno sorriso na direção de Yeojin. Agora ficava cada vez mais claro o quanto Jungeun realmente não queria machucá-las. Vez ou outra, Yeojin se perguntava como Jungeun havia se tornado a assassina principal daquela organização chamada ECLIPSE... Talvez fosse devido ao fato de Jungeun conseguir esvaziar a mente como ninguém, algo que, vez ou outra, ainda deixava Yeojin impressionada.

Sooyoung passava mais tempo no próprio quarto, Yeojin às vezes podia ouvir ela ao telefone. Chaewon, diferente das outras duas, só fingia não se importar muito, mas ela sempre estava lendo algo.

As três estavam trabalhando juntas, mas nunca pareceram tão distantes quanto agora. O silêncio se tornava estranho.

Quando a semana começou, a refeição na mesa da cozinha se tornava uma situação de pequenas sentenças e balbuciados. Jungeun foi trabalhar normalmente, assim como Chaewon iria para a universidade após dar uma carona para a mais nova. Yeojin sentia alívio, mas, ao mesmo tempo, certo sufoco de estar indo para Sonatine agora.

Pelo menos ela teria o Festival Escolar para se entreter. Dois dias para os alunos engajarem em alguma atividade antes de precisarem estudar para as provas finais. Segunda e terça seria o festival, sendo que Yeojin não poderia esquecer da final do Campeonato Nacional na sexta. Ela nem mesmo conseguia se animar tanto assim para o jogo, mesmo com uma Yerim animada em todo momento que se encontravam.

E Yeojin havia esquecido de avisar às adultas, mesmo que possivelmente não fossem. Elas estavam muito ocupadas com algo importante até demais.

Depois disso era estudar para as provas finais, que começavam na quinta seguinte e então teriam o Baile de Formatura duas semanas depois, se é que Yeojin fosse passar, mas até que ela estava confiante depois das últimas provas.

Yeojin mal conseguia focar no que Dongpyo falava, assim como no que os seus outros amigos falavam durante o dia. Ela ainda não havia visto Yerim, que estaria bem ocupada com o Conselho Estudantil. E Yeojin também teria tarefas, já que a turma alternava, hoje era o dia em que a garota precisaria cobrir um turno, enquanto no outro estaria livre durante a tarde. Sua turma havia decidido por uma casa de horrores e um stand com pintura facial, algo bem popular entre crianças, que adoravam ir ali após as aulas.

Haruna e Dongpyo estariam dando sustos nas pessoas que adentravam o local. Haruna havia especialmente se tornado a garota de ‘O Chamado’ e Yeojin conseguia ouvir claramente o quanto ela apavorava as pessoas que ousavam entrar ali dentro para se divertirem.

“Está tudo bem com você?” Yeojin ergueu o olhar para visualizar Yerim sentada na sua frente. “Pode fazer alguma pintura?”

Yeojin abriu um pequeno sorriso e então assentiu.

“Eu estou bem.” Ela pegava um dos pincéis, começando a gentilmente pintar algo na bochecha de Yerim.

“Parece distraída.”

“Nada demais, só cansada, dormi mal.” Yeojin fez uma pequena careta. “E você parece ocupada.”

“Época de festival não tem como ser diferente. Minha cabeça está uma loucura, principalmente com o jogo tão próximo.”

“Imagino.”

“Fala como se nem estivesse no time.”

Yeojin riu baixinho.

“Eu só acho que o tempo longe fez meu psicológico mais forte.”

“Bom saber.”

“Hoje vai ser meio difícil nos encontrarmos, mas amanhã eu reservo um tempo... Na hora dos fogos.”

Yeojin piscou os olhos rapidamente, sentindo um calor no peito. Somente Yerim para a fazer se sentir assim com tanta merda acontecendo.

“Sim, te vejo na hora dos fogos.”

O sorriso de Yerim foi tão genuíno, que fez Yeojin corar ao terminar a pintura no rosto: Uma constelação na bochecha. Andrômeda.

De volta ao apartamento, Yeojin evitava usar seus poderes. Só teve uma vez que Sooyoung havia pedido para os testar no sábado, somente leitura normal, provavelmente na tentativa sobre ter certeza de não estar maluca. Agora elas estavam na mesa e, a troca de olhares, dava a impressão de que continham os pensamentos com medo de Yeojin estar espiando, por mais irônico.

“Sexta.” Yeojin começou, atraindo a atenção das outra na mesa de jantar. Ela sabia que o hábito de sempre comerem juntas era mais uma tentativa de não fazer Yeojin se sentir desconfortável. “É a final do Campeonato Nacional. É no ginásio no centro da cidade.”

“Você nem falou que se classificaram.” Sooyoung disse.

“Eu estava longe, e estamos falando do time da Yerim, é óbvio que ela iria se classificar.”

“Que horas vai ser o jogo?” Dessa vez foi Jungeun.

“Oito horas da noite.” Yeojin comia timidamente. “Acham que conseguem ir?”

“Seria meio estranho não irmos.” Sooyoung passou o guardanapo na boca. “Mas depende de como estaremos com os preparativos... Vamos estudar a possibilidade.”

Yeojin somente assentiu e o assunto morreu ali. Se fosse um dia normal, Sooyoung e Jungeun estariam animadas, trocando olhares apaixonados e enchendo a garota de confiança, mas elas estavam vazias e, pior, apavoradas.

No dia seguinte, Yeojin tentou se animar um pouco mais para o festival assim que ficou livre das pinturas faciais, passando em uma barraquinha de macarrão para almoçar rapidamente e depois encontrar seus amigos. E ela começou a se distrair quando se viu ao lado de Dongpyo, torcendo para Matthew ganhar uma competição aonde os participantes usavam capacetes de armadura e precisavam bater no capacete com uma frigideira. Ganhava quem caísse primeiro. E, quando Matthew levantou da cadeira vitorioso, Yeojin pode perceber Karen tomando notas nos celulares, supostamente também gravando stories.

“Karen está empenhada hoje.” Dongpyo comentou com os dois.

“Isso não me cheira bem.” Matthew completou. “Joshua está por aí, mas não faço ideia do que ele anda aprontando.”

“Ótimo.” Yeojin disse acidamente.

Um tempo depois, as suspeitas se confirmaram. Um perfil na internet agora divulgava fofocas do festival. Haruna se aproximou dos três acompanhada por Siyoon.

“Essas vagabundas estão dizendo fofocas inúteis.” Haruna começou. “Mas divulgam cada passo da Yerim no evento.”

“Para o Joshua encontrar ela sempre.” Siyoon completou.

“Olhem o que acabaram de postar!” Dongpyo, possesso, virou o dispositivo na direção dos amigos. “Insinuando que Yerim está usando a Yeojin para fazer ciúmes no Joshua.” Nisso, eles notavam alguns olhares de alunos sobre eles. “Yeojin, vai atrás da Yerim agora!”

“Onde ela está?” Yeojin perguntou, desconfortável.

“Karaokê.” Dongpyo avisou. “Provavelmente o Joshua vai tentar meter um Troy Bolton para cima da Yerim e você vai impedir isso.”

“Como?!”

“Cantando!”

“A gente pode se vingar logo em seguida.” Haruna disse, atraindo a atenção do grupo. “Siyoon, você ajuda a distrair o rapaz da projeção. Matthew e Dongpyo, usem a sala de informática.”

“Ah-ha!” Dongpyo apontou para Haruna. “Sei o que quer fazer! Aguardei por isso!”

“O que vocês vão fazer?” Yeojin perguntou.

“Só vai lá, Yeojin, rápido!” Dongpyo deu um leve empurrão na amiga, que, ainda meio confusa, decidiu correr para onde seria o karaokê.

Joshua realmente se mantinha ao lado de Yerim, conversando, estranhamente confortável. Yeojin não podia acreditar na cara de pau, demoraria até ela achar que Joshua tinha intenções genuínas de amizade e não somente uma tentativa de se vingar pelo que aconteceu no resort. Aquele ciclo de ódio demoraria até ser quebrado, mas Yeojin estaria disposta a jogar.

“Quem será nossa próxima dupla?” O responsável pelo karaokê perguntava à plateia.

Quando Yeojin notou Joshua cutucar o braço de Yerim, uma onda de raiva e coragem subiu na menina, que saltou para o palco e tomou o microfone.

“Yerim!”

Yerim virou o rosto imediatamente, não ligando para Joshua mais. O garoto parecia extremamente irritado.

“Canta comigo.” Se Dongpyo falou de meter um Troy Bolton, então que fosse ela e não Joshua.

A plateia foi ao delírio quando Yerim subiu no palco ao aceitar a mão de Yerim, logo pegando um microfone. Yeojin foi sozinha ao dispositivo ao lado a fim de escolher a música. Ela sabia muito bem que Yerim conhecia aquela.

E ‘Breaking Free’ de High School Musical começou.

Talvez ela estivesse levando a fala de Dongpyo muito a sério.

‘We soarin’, flyin’. There’s not a star in heaven that we can’t reach.’ Yeojin começou.

‘If we’re trying, so we’re breaking free.’ A voz de Yerim ressoou doce.

Elas haviam visto o filme juntas uma vez, então sabiam como os personagens agiam naquela música. Eram movimentos simples e suficientes para a plateia comprar um grande romance adolescente.

‘You know the world can see us. In a way that’s different from who we are.’

‘Creating space between us, ‘till we’re separate hearts.’ Elas juntavam as mãos e então se separavam no palco, fazendo o público suspirar.

A performance continuava e, estranhamente, Yeojin pensava em como aquela música ressoava de alguma forma com Jungeun e Sooyoung, mas antes que continuasse a pensar, ela logo respirou e começou a cantar o refrão.

‘We’re breaking free!’ O público levantou.

Yeojin nem entendia muito o que estava fazendo com tanta confusão acontecendo na sua vida, mas dançar e cantar com Yerim naquele palco se tornava inesquecível. Ela realmente estava aproveitando a vida escolar, algo que logo chegaria ao fim. E ela se deixou focar no fato de estar com a garota que gostava no palco, provando para todos os presentes que o rumor nas redes sociais era mentira.

Seus amigos, logo apareceram no seu campo de visão durante a ponte da música e isso só fez se animarem mais, principalmente ao perceber Joshua ainda mais bravo no canto. E, quando a música acabou, Yeojin e Yerim sentiam os ouvidos abafados, não ouvindo muito bem os gritos da plateia, focadas uma na outra, ofegantes. Elas podiam muito bem se...

O telão atrás muda para um slide tocando uma música da trilha sonora de ‘Animal Crossing’ e várias fotos passando. Todas contendo Joshua ou Karen, ou os dois. Uma das fotos tinha Joshua com uma chupeta na boca e isso fez todos darem risadas, fazendo com que o garoto saísse dali de forma raivosa. A transmissão só parou quando alguns inspetores chegaram e os amigos de Yeojin deram um jeito de esconderem o pen-drive e fugirem dali o mais rápido possível.

O grupo, incluindo, Yeojin e Yerim, que corriam de mãos dadas, liderando, riam enquanto cruzaram o grande espaço do festival. Yeojin sentia alívio naquele momento, gastando energia o suficiente para não ir ao seu cérebro e a fazer pensar sobre o que vinha acontecendo.

Os fogos começariam a qualquer momento. Os três casais se mantinham um pouco distantes do evento, aproveitando o gramado e as luzes começando a se acender pela chegada da noite.

“Karen postou mais uma fofoca.” Dongpyo avisou. “Já largaram a mão do Joshua.” Ele riu e os outros acompanharam. “Possa ser que parem.”

“Algo me diz que inclusive as Karen estão de olho na gente agora.” Haruna comentou.

“Cruzes.” Siyoon disse.

“Melhor se acostumar.” Matthew avisou.

“É só momentâneo, eu acho um charme.”

“Deixem elas fazerem o que quiserem.” Yerim jogou um dos braços em cima dos ombros de Yeojin.

E assim os barulhos começaram e o céu começou a ser enfeitado por diversas cores. Yeojin rodou aquela cena algumas vezes na cabeça, mas estar tão perto a deixava nervosa. Seu corpo gelou quando sentiu Yerim colocar os braços em volta do seu pescoço. O pequeno sorriso antes de finalmente se inclinar só fez com que Yeojin tapasse a respiração.

Sob os fogos de artifício, Yeojin e Yerim se beijaram.

 

                                         

                                         

                                         

                                                

                                         

 

Nos próximos dias, Yeojin não quis pensar no fim. Ela não mencionou seu relacionamento para as mais velhas e também evitava pensar no que tudo aquilo se tornaria. Yeojin queria aproveitar o momento enquanto ainda poderia manter Yerim por perto. E ela fazia isso durante a escola, sempre juntas e de mãos dadas, trocando beijos escondidos e saindo com os amigos depois dos treinos e também estudando. Uma vida normal na medida do possível.

A sensação esquisita só voltou quando estava agora reunida com o time no vestiário naquela bendita sexta. Final. Muito nervosismo. E, para piorar, não encontrou nenhuma das três nas arquibancadas. Ela encontrou Hyeju, seus amigos, mas nada da sua família. Se Yeojin dissesse que aquilo não a machucava, era mentira.

A torcida só deixava Yeojin mais nervosa a cada lance, o que a fazia precisar ouvir o técnico gritando em sua direção. A garota só foi se acalmar mais quando Yerim a segurou pelos ombros. Ela não podia desapontar Yerim, não poderia desapontar o time. Elas treinaram a vida toda para aquele momento. Então Yeojin jogou.

Ela dava o melhor de si a cada lança, tentando ser maior do que o seu corpo aparentava. Gritando a cada ponto, transformando a sua tristeza em um pouco de raiva. Ela sabia que o final seria assim? Então por que se sentia tão mal? Tão triste? Elas nunca foram sua família.

“Yeojin!” A garota virou o rosto na direção da arquibancada.

Sua feição quase se tornou chorosa ao notar. Elas não estavam animadas como antigamente, mas elas estavam lá, aparentemente orgulhosas e batendo palmas. Sooyoung ao lado de Jungeun e Chaewon revirando os olhos para algo que Hyeju falava. Yeojin queria que ficassem assim para sempre.

E quando o apito final soou. Yeojin correu para os braços de Yerim, que a ergueu no ar, a beijando por uma fração de segundo. A torcida enlouquecia e os confetes enfeitavam todo o ginásio, enquanto os telões exibiam o símbolo da escola Sonatine. Yeojin estava no pódio, feliz, orgulhosa, levantando o troféu com o time, além de ver sua família ali a observando.

Ela queria que o fim fosse ali.

Na saída, Yeojin se despediu dos amigos, além de beijar Yerim uma última vez antes de ir para o carro. Aquele momento no geral a lembrava da primeira vez que havia saído de um jogo. Ela havia levado uma bela bolada na cara.

Agora ela estava com as mais velhas no carro. Todas caladas, mas o clima era menos esquisito.

“Você e a Yerim fazem um belo casal.” Sooyoung comentou.

Yeojin corou.

“É...” Ela desviava o olhar para a janela.

“Você parece feliz, isso é o que importa.” Jungeun disse.

“É, estou.”

“Quem diria, não é, franga?” O comentário de Chaewon fez Yeojin rir em certo alívio. Era bom ouvir a acidez dela. Nunca pensou que sentiria falta disso.

“Yeojin, nós três vamos viajar na segunda.” Sooyoung começou. “Jungeun tirou férias do trabalho e vamos passar um tempo fora. Eu falei com os pais da Haruna e você vai ficar com eles a partir de amanhã. Qualquer coisa, a EGO vai te contactar, não se preocupe.”

Yeojin sentia um nervoso na barriga.

“Vocês voltam quando?”

“Não sabemos, estamos ajustando só alguns últimos detalhes.”

“Entendi.”

“Você é uma de nós, Yeojin, quero que saiba disso. Você jogou muito bem e hoje e ainda lida com nós três. Isso não é tarefa fácil.”

“É, pode ser.”

“Ótimo, confiante.”

Yeojin não tinha intenção de soar confiante, mas ainda bem que foi isso o captado.

 

 

 


 

 

 

A cobertura se encontrava escura.

Sooyoung passava os olhos pelo mural depois de todo mundo supostamente ter ido dormir. Ela só não demorou mais tempo em silêncio, pois justamente Jungeun surgiu, silenciosa como uma sombra, quase assustadora.

“Temos um plano.” Jungeun disse.

“Temos.” Sooyoung cruzou os braços. “Haseul falou que a cabeça da EGO quer falar conosco amanhã.”

“Nunca fez isso?”

“Que eu saiba não.”

“A situação é séria.”

“Nem me fale.”

Eram conversas curtas sempre, mas pelo menos aconteciam e agora prosperava.

“Está pronta?” Jungeun perguntou.

“Apavorada.” Sooyoung respondeu. “Completamente apavorada. Estaremos entrando em um covil de assassinos, sem ofensas.”

“Nenhuma.” Jungeun suspirou. “Mas também estou meio assustada, nervosa.”

“Se está assim sendo a número um, imagina eu.”

“Eu sou uma única pessoa, então é motivo o suficiente. Vocês são boas, mas será que estão dispostas a irem até o final?”

“Em caso de vida ou morte... Sim, não somos novatas.”

“É bom. Temos que confiar uma na outra. Isso é uma missão suicida... E, sendo sincera, acho difícil sobrevivermos.”

Sooyoung queria evitar falar disso, pois era a completa verdade. E, para sinalizar que não queria falar, ela encarou Jungeun com olhos cansados. Jungeun tinha o olhar firme, mas diferente... Triste.

E assim, na calada da noite, as duas se beijaram e uniram seus corpos uma última vez.

                                       

                                                      

                                        

                                        

                                             

Chapter 24: queda livre

Summary:

Arco: Contagem Regressiva (3/4)

Chapter Text

                                         

 

“Está com tudo pronto?” Sooyoung perguntou ao entrar no quarto de Chaewon.

O quarto já não tinha traços de alguém vivendo ali, apesar de mobiliado e organizado. Chaewon preparava somente uma mochila pequena, a fechando no momento.

“É, terminei tudo aqui.” Seu tom era baixo.

Caso não voltassem daquela missão, as coisas naquela cobertura seriam limpas pela EGO. Seria como se elas nunca tivessem vivido ali. As únicas coisas que encontrariam um destinatário seria Yeojin.

“Falou com Hyeju?”

“É, falei... Eu disse que íamos para uma viagem resolver problemas familiares, disse que iria hoje inclusive, não segunda, eu não preciso ver as mensagens dela enquanto me preparo para uma missão suicida.”

“Boa.” Sooyoung comprimiu os lábios. “Mas você falou alguma coisa mais? Sei lá, você parece gostar dela e nós estamos indo em uma missão...”

“Eu não posso me revelar para ela, Sooyoung!” Chaewon soou irritada, algo que pegou Sooyoung de surpresa. “E eu também não consigo ser uma filha da puta com ela. Eu prefiro quebrar o coração dela com a minha morte do que ativamente terminar do nada por telefone.”

“Isso é egoí-”

“Não ouse dizer que é egoísta, porque todas as opções são. Eu não tenho o que fazer, Sooyoung, a não ser tentar voltar viva.” Chaewon encarava a irmã. “E o pior é não poder culpar ninguém nessa casa por isso, nem EGO, ninguém ao meu alcance. Estou canalizando toda a minha raiva para voltar viva e acabar com a ECLIPSE.”

“Entendi.” Sooyoung sentiu-se genuinamente mal. Não tinha como não ficar. “A Yeojin vai sair agora para a mansão dos Osato. Seria bom se despedir dela.”

“Claro.” Chaewon passou por Sooyoung, saindo do quarto primeiro.

O clima na sala era esquisito. Mórbido. Yeojin tinha bagagem suficiente para uma semana, duas no máximo, não poderia simplesmente se mudar para a casa de Haruna do nada. Ela nem sabia o que a EGO faria com ela casa aquela missão desse errado. E pensar na falha daquela missão a deixava mal, muito mal. Quando menos esperava, Yeojin já sentia lágrimas escorrendo pelas bochechas.

Yeojin abraçou Jungeun com força, depois Chaewon, que chorava silenciosamente. Chaewon, depois do abraço, se virou de costas para não evidenciar sua tristeza para as outras, ela não poderia parecer fraca nunca, não podia... Só era triste que perdia o mais próximo de uma família que teve. Mais uma família que perdia.

Sooyoung chorava de forma mais explícita, principalmente ao sentir os soluços da menina contra seu ombro. Aquela situação meio fria entre as quatro nos últimos dias se revelava somente como medo, um certo desespero, elas estavam tristes.

“Se cuida, continua estudando, você está quase lá.” Sooyoung segurava o rosto da menina entre suas mãos. “Você tem um futuro brilhante, a EGO vai te ajudar, eu vou garantir isso.” A garota assentia, não tendo certeza se realmente isso iria acontecer, mas preferindo acreditar. Sooyoung, pelo menos, acreditava. “Nós vamos fazer de tudo para voltar, ok? Mesmo que todas nós precisemos nos separar no final, eu não vou te deixar para trás.”

Yeojin se separou, dando alguns passos para trás, observando as três por uma última vez. Ela então se agarrou em Jungeun novamente e, dessa vez, Sooyoung se juntou ao abraço. Chaewon hesitou um pouco, mas também aceitou.

Pelo menos por um segundo teriam o direito de agir com uma família novamente.

Yeojin entrou no elevador tentando se conter, estendendo rapidamente a mão quando notou a porta se fechando. E, antes que pudesse falar mais algo, as três sumiram de vista e estava sozinha.

O pai de Dongpyo a esperava na frente do prédio. Ela entrou silenciosamente, respirando fundo, tentando se recompor e não dar nenhum indício de algo mais sério para os Osato.

“Você vai ficar bem, garota.” Taecyeon disse, atraindo a atenção dela. “Você tem ótimos amigos.”

Yeojin sorriu pequeno, ele tinha razão naquilo.

                                             

                                             

                                             

“Merda!” Foi o que Chaewon vociferou quando Yeojin sumiu no elevador. Ela estava frustrada, com raiva. “Cadê a Haseul, ela falou que iria nos colocar em contato com a pessoa responsável pela EGO. Essa deve ser a missão mais importante da organização nos últimos anos, não é possível que não podemos garantir algo com a organização.”

“Ela deve estar chegando a qualquer momento.” Sooyoung sentou-se no sofá.

“Isso significa que eu sou uma agente da EGO agora?” Jungeun questionou. “Acho que isso me colocar nessa posição.”

“Não faço ideia, mas estamos na mesma merda e essa merda está no nosso pescoço.” Chaewon cruzava os braços.

“Vamos aguardar.” Sooyoung apoiou as mãos no joelho, mantendo os olhos no elevador.

Foram cerca de dez minutos até o elevador sinalizar que alguém havia subido até o andar delas. Sem interfone, sem aviso nenhum, somente alguém subindo. Elas sabiam quem deveria ser.

Haseul adentrou a cobertura, ombros meio caídos e com um boné na cabeça, roupas confortáveis. Seu sorriso simpático não desaparecia por nada e ela não demorou ao sentar na poltrona.

“Onde está EGO?” Sooyoung perguntou. Jungeun estava ao seu lado, enquanto Chaewon ficava de pé.

“Um segundo.” Haseul levantou um dos dedos, então tirou o boné e ajustou melhor a postura, juntando as mãos em cima da barriga. “Pronto, podem falar.”

As três trocaram olhares rápidos, confusos.

“Onde?” Sooyoung tinha hesitação na voz.

“Gente, sou eu.” Ela riu. “Eu sou a ‘CEO’ da organização. Eu sou EGO.”

Elas continuavam confusas, mas era mais por descrença, especialmente Sooyoung. As duas tinham trabalhado diversas vezes em casos diferentes.

“Sim, eu não sou somente mercante, só é mais fácil de se esconder assim.” Haseul soava despreocupada. “Agora somente quatro pessoas no mundo sabem quem eu realmente sou. E eu só resolvi me revelar para vocês pois um: O caso é sério. Dois: Vocês são as melhores do mundo.”

“Mas não temos quantidade.” Jungeun ressaltou.

“Creio que serão espertas o suficiente, eu sei que já montaram um plano.”

“Está dizendo que não vai nos dar nenhum tipo de suporte?” Chaewon começava a soar indignada, mudando a postura para algo mais intimidador. Haseul levantou as mãos, pedindo calma.

“Claro que vou.” Haseul ergueu as sobrancelhas. “Nós só não podemos confiar em todo mundo após as coisas em ECLIPSE.”

“Você não notou nada?”

“Nada, por isso eu digo sobre ser sério.” A expressão dela finalmente se fechava. “Vou fornecer o máximo que posso, como transporte e locações, mas em termos de força... Não posso fazer muita coisa. Enquanto estão lá, eu vou trabalhar para limpar a própria EGO. Agora a pergunta é para vocês duas.” Ela apontou para as irmãs. “Vocês estão preparadas para voltar à Rassel, no país de Mares? É uma passagem curta, mas estão?”

Sooyoung, que se manteve calada por ainda estar digerindo a situação, finalmente olhou para Haseul, enxergando alguém diferente. Mas quem respondeu foi Jungeun.

“Não vai ser fácil para mim também.” Jungeun atraiu a atenção das irmãs. “Acho que nós três podemos nos ajudar nisso.”

“Ótimo, saiba que esse é o seu teste de lealdade para a organização, Jungeun.” Haseul bateu uma palma. “Tenho certeza de que farão um ótimo trabalho.”

 

 

 

 


 

 

 

 

Chaewon encarava o teto enquanto se mantinha deitada em um colchão não lá muito confortável. O balanço do barco também não ajudava a se tornar uma viagem agradável, Chaewon não era muito fã de viajar pelo mar. Sooyoung, ao seu lado, estava sentada no colchão vizinho, entediada. Eram duas camas beliche.

Sooyoung ainda pensava no encontro com Haseul, pensando e pensando. Chaewon continuava calada, olhando para o teto e Jungeun, que estava em um dos colchões de cima, acabou por sair pelo barco, pois não aguentava aquele clima levemente opressor da cabine.

“Eu vou sair.” Sooyoung decidiu ao se colocar de pé.

“Faça bom proveito.” O humor de Chaewon não mostrava tendências de melhorar tão cedo, pelo menos ela não descontava nas outras duas.

O barco balançou um pouco quando saiu da cabine. Não era uma grande embarcação, mas o suficiente para não morrerem no meio do caminho. Sooyoung transitou pelo local, procurando Jungeun sem nem mesmo perceber e isso a levou até a parte de fora da embarcação. Uma leve névoa cobria os arredores, e ela não conseguia esconder Jungeun na proa.

“Como vai?” Sooyoung se aproximou batendo as mãos nas pernas, não querendo assustar a outra. Jungeun continuava encarando o mar, apoiando as mãos nas barras de metal, logo Sooyoung se juntou a ela.

“Focada.”

“Que bom.” Sooyoung assentiu. “Chegaremos em Mares daqui a pouco.”

“É, fiquei sabendo.”

“Depois vamos pegar um carro e então...”

“É, eu sei.”

Sooyoung suspirou.

“Jungeun, qual a sua história com Mares? Você falou sobre ter perdido seus pais, isso é verdade, não é?”

“Com certeza.” Jungeun finalmente olhou para Sooyoung, apesar de durar pouco. “Mentiu sobre os seus?”

“Não mesmo. Eles faleceram. Meu pai foi convocado para ser soldado, ele era só um contador. Minha mãe... Ela... Ela morreu no bombardeio.” Sooyoung se surpreendia um pouco com o quanto era difícil falar sobre aqueles detalhes sem sentir algo preso na garganta.

“Sinto muito.” A fala veio genuína. “Os meus não faleceram dessa forma, foi durante a guerra, mas não envolvendo bombardeios ou campos de batalha... Eu nem sou de Mares, meus pais atravessaram a fronteira comigo quando eu tinha treze anos. Queríamos uma nova chance de termos uma vida confortável. Nós nem iríamos ficar em Mares, era só uma passagem. O foco era termos ido para Verni.”

“O que aconteceu?”

“Nós fomos pegos por soldados para sermos vendidos para latifundiários. Eles mataram meus pais por desobediência ou qualquer que seja a merda que inventaram.” Jungeun negava com a cabeça. “De alguma forma eu sobrevivi até o momento em que um agente da ECLIPSE chegou lá e nos libertou.”

“Foi recrutada naquele dia?”

“É, eu fui a única que ficou encurralada e precisou matar alguém com um pedaço de vidro quebrado. Não sei o que passou pela mente daquele agente exatamente para ter me levado com ele.”

“Nossa, sinto muito.”

“Tudo bem. Quer dizer, não está tudo bem, mas se eu quiser continuar vivendo, preciso lutar contra isso todos os dias. Depois de um tempo, você se acostuma. Não é o ideal, mas o suficiente para não fazer besteira.”

“É complicado.”

“Com certeza.” Jungeun então a olhou de maneira mais gentil, não tendo intenção de fugir. “Quando chegarmos acho bom conversarmos sobre nós.”

“Concordo.” Sooyoung falou de forma firme. Ela nunca teve tanta certeza de algo. “Precisamos. Por agora vamos focar na missão.”

“Claro.”

“Mas, Jungeun, eu quero que saiba que isso foi real, ok? Eu realmente gosto muito de você. Sendo sincera, acho que é mais grave.”

Jungeun sorriu singelamente.

“Sei como se sente.”

Silenciosamente, Sooyoung a abraçou pelos ombros. Era confortável.

“Pode me contar sobre você e a Chaewon?”

Sooyoung assentiu. De certa forma, aquele era um bom sinal. Ela e Jungeun oficialmente deixavam as máscaras para trás.

E em algumas horas as três colocavam os pés em terra firme, passando para uma Van com mais um transportador. Elas seguiam pela estrada litorânea de Mares e cruzaram parte da cidade de Rassel. Sooyoung olhava pela janela, assim como Chaewon. As ruas tinham mudado, mas alguns poucos detalhes denunciavam que a velha cidade ainda estava lá. Chaewon engolia em seco ao notar uma rua ou outra presa dentro de sua memória. Era uma sensação estranha. Aquela cidade era a casa delas, mas já não era mais. Uma cidade fantasma.

Sooyoung sentiu sua mão ser segurada por Jungeun no meio do caminho. Sua linguagem corporal provavelmente a entregou. Sooyoung nunca se sentiu tão abatida passando por ali. Os sons se distorciam, assim como as ruas e os rostos. Chegava a sentir um certo desespero e isso a fez fechar os olhos. Elas estavam ali para seguir em frente, mesmo que o seguir significasse morte. O passado precisava ficar para trás. Era como Jungeun havia dito, é uma luta constante e provavelmente não será feito o que é ideal, mas o suficiente para sobreviver.

 

 

 

 

 


 

 

 

 

 

Lua sangrenta

Proximidades de Kaltheim, Ustoega

02h22

 

 

Kaltheim é uma prisão abandonada, uma grande redoma de concreto no meio da neve pesada. Uma instalação que foi usada durante os anos de guerra, agora desativada pelo governo de Ustoega e servindo de lar para os assassinos da ECLIPSE. Um ótimo lugar para se esconder, a natureza cobrindo e tornando difícil de alcançar, mas existia algumas maneiras alternativas.

Há alguns quilômetros dali, três corpos saltavam de um avião. O vento congelante as abraçando de forma brusca, mas ainda não sendo o suficiente para desviarem o foco e continuarem avançando, abrindo os paraquedas no momento correto.

Três pessoas, três missões.

E elas chocaram os punhos quando precisaram se separar nos túneis a fim de entrarem a grande fortaleza de concreto. Lá dentro era cada uma por si, torcendo pela competência da outra, já que as comunicações não funcionariam. Era a hora de provarem serem as melhores do mundo.

A nevasca uivava entre os galpões de concreto da antiga prisão. Os holofotes enferrujados cortam a escuridão com feixes brancos que se perdem. Lá embaixo, a silhueta de Sooyoung, envolta em um traje térmico negro colado ao corpo, quase se funde ao cenário.

Ela avança como uma sombra viva.

Cada passo é calculado. Os sensores enterrados sob a neve seriam invisíveis para qualquer outro agente, mas não para ela. Com um visor térmico embutido nas lentes de contato, Sooyoung vê os padrões de calor sob seus pés e contorna os gatilhos.

Ela alcança a muralha principal da prisão. Sem hesitação, encaixa um gancho de escalada magnético, ativado por pulsos silenciosos. Em segundos, ela sobe os 10 metros da parede com a leveza de uma aranha.

O sistema de segurança se mantinha forte através dos enormes computadores. Uma centena de fios e hardwares de décadas atrás, improvisados com tecnologia de ponta. Sooyoung se aproxima do console central. Os dedos dançam sobre o teclado analógico, conectando seu dispositivo de hacking por meio de um conector universal dado pela EGO.

A barra de progresso se mexia para 67%... 82%... 96%... Era a chance de apagar o sistema e ainda conseguir informações, principalmente as de Youngsoo. Ela tinha sorte de não ter esbarrado com algum segurança, mas sabia ser questão de tempo.

E passos ecoaram pelo lado de fora.

Sooyoung puxa uma pequena cápsula metálica do cinto e a joga ao chão. Uma explosão de fumaça preta e frequência sonora disruptiva cega e desorienta os homens.

Sooyoung corre. Salta sobre um corrimão. Atira enquanto gira no ar, dois tiros — dois corpos caem. Ela desliza por um corredor gelado, se esgueira por dutos de ventilação.

Mas ao emergir: É cercada.

Três soldados. Armas apontadas.

Ela ergue as mãos lentamente... Puxa uma cápsula presa ao pescoço e então a engole disfarçadamente. Seu corpo tomba. Convulsiona. Para de respirar.

Dois dos três soldados arrastam o corpo de Sooyoung, a colocando sobre uma superfície metálica logo em seguida. Eles conversam em um idioma estrangeiro, despreocupados. Contudo, no momento em que um deles se vira para abrir a porta... Sooyoung se levanta rapidamente usando um deles de refém e apagando o outro. O terceiro tenta reagir, mas ela afasta o refém, atirando em suas costas e então desarma aquele terceiro, tomando a faca dele e a cravando em sua garganta.

Ela recupera o fôlego, ainda se recuperando do fato de ter sido apagada, mas também daqueles sons. Sooyoung não havia sido feita para matar daquela forma, mas não é como se eles não estivessem dispostos a serem gentis como ela.

Sooyoung volta ao sistema de segurança, terminando sua tarefa e agora ficando à espera das outras duas.

O frio não era apenas cortante, mas também silencioso, implacável, que se infiltrava, por mais tecnologia térmica que usasse. A prisão desativada se erguia como um cadáver, coberto de neve e esquecido pela história. Um monólito de concreto. Mas naquela noite, não estava totalmente adormecida.

Chaewon se mantinha silenciosa nos dutos, vestindo um traje térmico branco, que ocultava seu calor corporal dos sensores infravermelhos. O capuz colado à cabeça cobria até as sobrancelhas; seus olhos, pintados com delineador preto fosco, eram a única parte exposta.

O interior dos dutos era estreito e abafado. A cada movimento, Chaewon evitava qualquer som metálico que pudesse ecoar pelos corredores. Ela se movia como se tivesse ensaiado os caminhos mil vezes. Nas costas, carregava um estojo fino e reforçado contendo quatro cargas explosivas, cada uma com poder suficiente para destruir uma seção inteira do complexo. O objetivo era claro: plantar as bombas nos quatro postos-chave da estrutura e sair sem deixar rastros.

Ao alcançar a primeira saída lateral do duto, ela empurrou silenciosamente a tampa e se esgueirou para dentro da sala da central elétrica. Tubulações corroídas e painéis de controle intermitentes formavam uma paisagem industrial decadente. Ela rastejou por trás de um console, abriu o estojo e retirou a primeira bomba. Um cilindro com base magnética e visor digital. Em segundos, ela o prendeu sob o painel principal e programou o temporizador. Vinte minutos.

No segundo segmento da missão, a rota exigia uma descida vertical por um eixo de manutenção conectado ao sistema de drenagem. Ela retirou a grade circular com esforço controlado, amarrou uma corda de segurança ao quadril, e desceu. No entanto, uma parte da ancoragem não resistiu. O ferro corroído cedeu.

Chaewon caiu.

O impacto foi brutal. Um choque de frio extremo atingiu seu corpo assim que mergulhou nas águas negras do reservatório subterrâneo. Ela lutou para emergir, mas não sentiu chão, apenas profundidade. Ao emergir arfando, notou imediatamente a atmosfera silenciosa demais, o cheiro pútrido de algo que deveria estar morto.

Uma bolha se ergueu da superfície escura. E então outra. E então um olho.

Um tubarão branco enorme, provavelmente modificado geneticamente. Aquilo fazia Chaewon se questionar do que realmente faziam naquele lugar e que espécies de treinamentos realizavam com seus agentes.

Ela prendeu a respiração. Não se moveu. A criatura girava sob a água como um espírito assassino, guiado pelo som e pela vibração. Qualquer erro seria morte certa. Então aconteceu: O estojo metálico com as bombas bateu contra a parede, ecoando um som sutil.

A fera avançou. Um borrão branco. Chaewon mergulhou e girou, escapando por milímetros. Uma dentada poderia ter arrancado metade do seu corpo. Com a lâmina curta presa à coxa, ela cravou o metal entre as guelras da criatura ao passar, o suficiente para ferir, não para matar. A criatura se contorceu, enfurecida. Ela viu a válvula de drenagem à esquerda, a poucos metros, e nadou com força, guiada apenas pela sobrevivência.

Com o corpo congelando e os braços tremendo, alcançou a alavanca de válvula e puxou com todas as forças. Um rugido mecânico ecoou, e o tanque começou a drenar. A água desaparecia como um redemoinho, e com ela, a besta — agora retorcendo-se, encalhada e morrendo.

Chaewon respirou fundo, ajoelhada na plataforma metálica, o corpo encharcado e trêmulo.

Ela não tinha tempo a perder. Seguiu encharcada por túneis sombrios até o segundo ponto estratégico: uma sala de controle de portas e comunicações. Instalou a segunda bomba sob o console principal e foi então que sentiu a mudança no ar.

Não som. Ausência de som. Uma presença.

Ele surgiu da escuridão como uma sombra sólida. Máscara de couro verde-musgo, corpo largo, lâmina curva em punho. A assassina Parrot.

O ataque foi rápido. Ela girou a lâmina como uma dança silenciosa. Ela desviou por instinto, sentindo o fio passando a milímetros de seu rosto. Lutaram entre estantes metálicas. Ela era mais forte, alta, bruta, mas Chaewon era mais ágil, mais cerebral. Quando ela a empurrou contra a parede e tentou sufocá-la com o antebraço, ela liberou uma descarga elétrica oculta sob o punho. Parrot tremeu, rugiu, caiu.

Ainda viva. Um erro que ela não cometeria. E então cravou a lâmina entre os olhos dele. Uma morte limpa. Rápida.

Chaewon mal conseguia acreditar que havia sobrevivido contra uma assassina da ECLIPSE novamente, talvez elas realmente tivessem chance.

As duas últimas bombas estavam destinadas às estruturas superiores. Chaewon escalou o interior do bloco oeste por escadas enferrujadas e plataformas oscilantes. A terceira bomba foi instalada entre vigas de sustentação. A quarta, no ponto mais alto da torre de vigilância, sob uma antena desativada, onde o sinal morto da Guerra Fria ainda parecia sussurrar.

Ao terminar, ela se afastou e ativou o cronômetro de ignição remota. Faltavam nove minutos para a explosão. E, se Chaewon focasse os ouvidos, ela conseguia ouvir barulhos de luta há alguns metros dali.

As fundações da prisão pareciam pulsar com uma vida enterrada, como se aquele lugar tivesse memórias demais, mortes demais, e agora respirasse apenas ódio. Era como caminhar dentro de um pulmão de concreto condenado, estreito, úmido, pesado. As paredes estavam cobertas de placas metálicas enferrujadas, dutos que gotejavam. Lá, onde Viper se escondia.

Jungeun caminhava sozinha. Ela vestia preto, com um sobretudo tático ajustado ao corpo, a gola alta ocultando a boca, deixando visível apenas o brilho de seus olhos. Não havia hesitação em seus movimentos, mas havia peso. A missão era simples no papel: Eliminar a antiga assassina que agora controlava parte do alto escalão da ECLIPSE. Viper não era apenas uma traidora institucional.

O corredor final se abriu como uma garganta larga. Ao fundo, portas duplas entreabertas deixavam escapar uma luz azulada. Viper estava mesmo lá. Sem guarda-costas. Sem armadura. Porque ela sempre foi arrogante. Sempre soube manipular medo melhor do que balas. Jungeun avançou, a mão apertando o punho da faca nas costas. O som da respiração ecoava em sua máscara. Ela forçou-se a manter o foco. Não havia mais dúvida. Isso não era um trabalho. Era uma sentença.

O ambiente se revelava aos poucos, painéis holográficos ainda ativos exibiam linhas de código, transmissões internas, gravações de segurança. No centro da sala, sentada com uma taça de vinho entre os dedos, estava Viper. Seu cabelo escuro estava preso. O blazer preto, alinhado, combinava com o olhar inabalável. Mesmo sozinha, ela mantinha a postura de comando. Ela girou lentamente na cadeira ao notar a presença de Jungeun, e sorriu. Não surpresa. Não assustada. Apenas satisfeita.

“Imaginei que seria você.” Disse ela, com a voz baixa. “Eu notei suas amiguinhas pelo prédio, imaginei que viria.”

Jungeun não respondeu de imediato. Ela entrou devagar, cada passo medido.

“Você assassinou DownForce. E sabe-se lá quantos agentes que não acataram suas ordens.” Sua voz soou sem tremer, mas carregava raiva.

Viper se levantou, deixando a taça pousar na mesa com um leve tilintar.

“Quer me matar? Vamos, faça. Tem alguém por aí muito mais perigoso do que eu.”

Ela deu um passo em direção à rival, sem pressa, como se a desafiasse a reagir.

O primeiro golpe foi seco. Jungeun avançou, e a faca raspou o lado da mesa onde Viper se escondeu no último segundo. Viper, com movimentos ágeis, já havia armado as lâminas retráteis presas ao antebraço. Elas giraram como garras duplas. A primeira colisão foi brutal: faíscas se espalharam ao redor das duas. Viper contra-atacava usando o peso do corpo. Jungeun respondia com agressividade e precisão, aprendida em campos de batalha reais, longe do conforto dos escritórios.

A luta se espalhou pela sala, os monitores estouravam, fios se rasgavam, sangue escorrendo em gotas finas pelo chão. A faca de Jungeun cortou o flanco de Viper. A lâmina de Viper abriu um rasgo no ombro de Jungeun.

Mas só uma delas lutava por algo maior do que si mesma.

Em um movimento desesperado, Viper empurrou Jungeun contra o painel principal. O impacto quase a fez soltar a faca. Mas foi nesse momento que viu a abertura. Um erro de ângulo. Um detalhe no posicionamento dos pés. Jungeun girou o corpo, abaixou, e com um impulso seco, cravou a faca sob a costela esquerda da mulher.

Viper arfou. Olhou para baixo, encarando o sangue que brotava do próprio corpo. Jungeun então puxou a lâmina, deixando o corpo de Viper tombar lentamente para o lado. Silêncio.

Jungeun saiu da sala com passos trôpegos, o corte no braço ainda sangrando. As bombas de Chaewon já haviam sido ativadas, e o tempo restante era mínimo. Na ala norte, ela encontrou Sooyoung, suja de fuligem. Chaewon surgiu logo atrás, ofegante, o cabelo colado ao rosto, os olhos fixos no teto que começava a ruir.

Ninguém sorriu. Ninguém celebrou.

Sooyoung apenas estendeu a mão para Jungeun.

Elas correram juntas, indo em direção à primeira janela que viram.

E então… O inferno.

A prisão explodiu como um titã se despedaçando. Uma coluna de fogo e fumaça ergueu-se alto. Torres desabaram. Chamas tomaram os escombros. A imagem desapareceu sob a nuvem densa e escura.

Silêncio.

Chapter 25: grand finale

Summary:

Arco: Contagem Regressiva (4/4)

Notes:

(See the end of the chapter for notes.)

Chapter Text

                                     

 

 

Faltavam poucos dias para o baile de formatura.

Yeojin se acostumava a todo dia voltar com Haruna para a grande mansão mais parecida com um castelo. De alguma forma, algumas mensagens chegavam até os Osato sobre Sooyoung, como se ela realmente estivesse somente resolvendo coisas de família em outro lugar. Yeojin sabia que era coisa da EGO. E a organização também a ligava vez ou outra de um número desconhecido. Uma mulher.

A ligação servia para Yeojin oferecer pequenas explicações e parecer que sua família não tinha simplesmente a abandonado. Vez ou outra, aproveitando o fato de estar sozinha, ela chegava a perguntar sobre, mas nunca tinha resposta. Dia após dia, Yeojin começava a ficar com medo, afinal, era uma missão perigosa. Elas já deveriam ter voltado. Por que a EGO também não falava nada? Estavam a esperando se graduar?

“Vamos, Yeojin.” Haruna estalava os dedos na frente de seu rosto. Elas estavam em uma loja chique no centro da cidade, comprando os vestidos de formatura. “Eu sei que está preocupada com seus parentes, mas deveria focar um pouquinho aqui. Está estranha faz um tempo já.”

“Estranha?” Elas recebiam as sacolas, agradecendo a atendente logo em seguida.

“É, estranha. Desligada. Ânimo, nós estamos indo para a nossa formatura daqui dois dias. Você tirou notas boas, ganhou o Campeonato Nacional de vôlei estudantil e vai para o baile com a garota mais popular do colégio. Fora que ganhou uma bolsa para a faculdade por conta do vôlei.”

“Isso ainda não é certo, o recrutador me colocou na relação. Eu preciso mandar uma redação e os documentos ainda.”

“Do jeito que tem sorte, com certeza vai conseguir. Se quiser ajuda, você sabe que te ajudamos.”

“É, eu sei.” Yeojin deu um mínimo sorriso, então adentrou o carro com Haruna.

Elas foram conversando na volta. Tirando a questão da sua família, a vida de Yeojin realmente seguia em ótimos trilhos. Ela se perguntava o que as mais velhas achariam da sua chance de ir para a faculdade ou até coisas mais simples como seu vestido do baile.

E a ligação desconhecida veio algumas horas depois de chegarem. Haruna tinha saído do quarto para colocar comida para Richard III. Falando em animal, se perguntava o que tinha acontecido com o gato de Chaewon.

“Alô?”

"Alô!” A voz soava simpática. “Está bem, Yeojin?”

“Na medida do possível.”

"Ótimo. Quero que foque em fazer a redação, o resto da sua documentação e a carta de recomendação já estão providenciadas.”

Yeojin piscou os olhos rapidamente, confusa.

“Como assim?”

"Yeojin, é uma bolsa para faculdade. A mesma faculdade que Chaewon frequentou, fica na zona metropolitana. Melhor do que ir para outra cidade. Yerim vai cursar em uma universidade no coração da capital.”

Yeojin ficava levemente assustada em como aquela organização conseguia as informações daquela forma. Fazia com que checasse seus arredores a procura de câmeras ou escutas vez ou outra.

“É, eu sei.”

“Então?”

“Vou providenciar.” Realmente, o que poderia dizer? “Aliás, o gato...”

“Está comigo. Ele é muito comportado e estou cuidando muito bem dele. Chaewon nos pediu, assim como Sooyoung pediu para cuidar de você. Ela disse para os fundos monetários dela irem para você, não falei?”

Mais uma informação que fazia o coração de Yeojin se contorcer. Sooyoung realmente a via como família.

“Eu vou morar sozinha e fazer faculdade... Sem elas?”

“Não falei isso, falei que tem condições de seguir tranquilamente com sua vida por causa de Sooyoung. Você tem um laço conosco agora. Não que eu vá me utilizar das suas habilidades, isso é algo para discutirmos depois.”

“Quer que eu me torne uma espiã?”

“É algo para discutirmos depois.”  

“E onde estão elas? Já fazem semanas. E o trabalho de Jungeun?”

“As férias dela não se encerraram.”

“Me diga se elas estão vivas!” Yeojin começava a sentir lágrimas nos olhos.

E a ligação foi desligada, somente para a deixar mais frustrada.

 

 

 


 

 

 

“Vocês estão lindas!” A Sra. Osato usava uma câmera. Os pais de Haruna faziam as duas pararem nas escadas para tirarem fotos de recordação. “Não esqueçam de tirarem muitas fotos.”

“Não vamos esquecer, mãe.”

“Tenham juízo.” O pai da garota falava. “E diga a Siyoon que mandamos um ‘oi’.”

“É, eu digo.” Haruna ficou meio envergonhada. Ela e Yeojin seguiam para a porta da frente.

As duas tinham maquiagens bem feitas, usando vestidos que caíam perfeitamente sobre o corpo. Haruna de preto, enquanto Yeojin optou por laranja. Elas tinham passado o dia recebendo cuidados de SPA na mansão. Havia sido realmente um dia de princesa.

E elas não iam para a festa com o motorista de Haruna. Na verdade, Dongpyo tinha parado com Matthew na mansão. Matthew dirigia e Dongpyo se mantinha no banco de passageiro. Dongpyo usava um smoking preto com dourado, enquanto Matthew optou por de veludo da cor coral. Os dois tinham coletes por dentro, os deixando ainda mais chiques.

Não iria ter bebida na festa e Matthew dirigindo deixaria uma boa sensação sobre estarem se tornando adultos agora. Não foi muito difícil recusar a ideia, principalmente com Dongpyo colocando o som alto e os quatro cantavam ‘Espresso’ da Sabrina Carpenter.

E eles iam ouvindo o ‘Short n’ Sweet’ enquanto passavam para pegar a última pessoa da rota: Siyoon, que foi recebida por um abraço de Haruna. O clima dentro do carro era bom e fazia Yeojin ficar mais distraída e um pouco nervosa sobre o evento, afinal, estava prestes a encontrar Yerim.

Seu relacionamento com Yerim parecia algo saído de um conto de fadas. Desde o festival, elas duas foram em diversos encontros, incluindo irem para a praia. As duas também saíam em encontrou triplos com seus amigos. Yerim já chegou a dormir duas vezes na casa de Haruna também. Tudo entre elas estava perfeito de forma que chegava a dar medo.

Yerim chegou minutos depois de estacionarem o carro, atraindo a atenção de todos que estavam em volta. Dongpyo deu uma cotovelada em Yeojin ao notar a garota quase babando, assim como na primeira vez que a viu entrar na sala de aula. O vestido roxo e as joias combinavam de uma forma que pareciam terem sido feitos exatamente para ela. E, quando o seis se juntaram na frente do local que seria a festa, vários flashes começaram. Yeojin podia jurar que viu Joshua entrando no evento com o rosto raivoso. Ele havia completamente desistido desde o festival, além disso, lendo os pensamentos dele na última semana da escola, as coisas não iam muito bem em casa para ele.

“Está pronta?” Yerim entrelaçava a mão com a de Yeojin. “Nem preciso falar que está linda.”

“E eu também nem preciso falar sobre você.” Yeojin sentia o peito prestes a explodir ao ter Yerim tão perto de si.

E então os seis entraram no evento.

O salão parecia ter sido feito com orçamento ilimitado. Tinha fontes de chocolate que davam cambalhotas. Um unicórnio inflável gigante no meio da pista, que ninguém sabia se era parte da decoração ou um acidente de logística. E, claro, garçons passando com bandejas de sushi servido em mini carrinhos de golfe.

Dongpyo não perdeu tempo em ir atrás de experimentar todo o cardápio da festa com Matthew. Yerim e Yeojin já estavam posando para fotos sob uma árvore de LED com o que pareciam ser diamantes, fingindo que a luz não as cegava a cada flash.

Já Haruna sumiu com Siyoon, somente para seus amigos notarem a mudança familiar de música e os estudantes indo à loucura. Ao se virarem para o balcão no centro, lá estava ela:

Com o dedo apontando para o céu como se fosse a própria deusa do som. O DJ oficial? Encostado no canto, comendo um canapé resignado. Siyoon se mantinha dançando ao lado dela, tão satisfeita quanto Haruna. Mais uma noite de formatura normal, aparentemente. Dongpyo filmava tudo. Matthew já estava dançando. Yerim e Yeojin tinham invadido a pista. A noite prometia. Ou pelo menos prometia um vídeo viral no dia seguinte.

O primeiro diálogo real de Yerim e Yeojin veio durante o típico momento da dança lenta. Yeojin com as mãos na cintura de Yerim, enquanto a outra repousava os braços em seus ombros.

“A Hyeju veio me pedir para te perguntar novamente se Chaewon deu notícias.”

Yeojin somente arqueou as sobrancelhas.

“Ela está. Lá é difícil de conseguir sinal, só quem liga para mim é a Sooyoung.”

“Deram previsão de quando voltam?”

“Nenhuma. Deu problema com terreno, então a confusão é grande.”

Yerim fez uma pequena careta.

“Espero que consigam resolver. Hyeju está meio estressada com isso. Sooyoung te ligar, mas Chaewon não se esforçar para ligar para ela... Hyeju parece uma adolescente emburrada pela casa.”

“Creio que vai ser a primeira DR delas.”

“A sorte da Chaewon é que Hyeju não consegue passar muito tempo com raiva.”

“Sorte a dela.” Yeojin sentia pena, mas fez de tudo para não transparecer.

Nisso, algumas meninas pareciam acenar para Yerim e a música também já começava a mudar.

“Vai falar com elas. Eu vou ao banheiro.” Yeojin disse baixinho.

“Tem certeza?”

“Claro, ué, você tem outras amigas.”

“Ok, te vejo daqui a pouco.” Yerim a deu um leve selar antes de se separarem.

Elas só não se reuniriam na hora da seleção da Rainha do Baile, pois um grupo de estudantes protestou contra o reforço ao patriarcado e incentivo à rivalidade feminina.

Yeojin foi atrás do banheiro. A festa tinha tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo que ficava confusa e não achava o maldito banheiro em lugar nenhum. A última pessoa que perguntou havia apontado para o segundo andar e lá foi ela, encontrando Joshua no caminho. Ele somente olhou para ela e voltou a digitar no celular.

A garota não estranhou, sempre se tratavam com silêncio agora, então tratou de ir ao banheiro. Tudo normal. Um banheiro branco com mármore e detalhes em ouro. A música abafada agora. Yeojin saiu da cabine e foi lavar as mãos, tranquila. Ela tinha certeza de que estava sozinha por isso se mantinha distraída. Porém, ao olhar para o espelho, uma figura toda de preto e usando máscara tapou seu rosto com um pano.

Yeojin apagou em segundos.

 

 

 


 

 

 

A conversa entre Yerim e suas amigas fluía, aquelas eram integrantes do Conselho Estudantil. Pouco tempo depois veio as garotas do time de vôlei, logo perguntando onde estava Yeojin. E foi naquele momento que Yerim percebeu o quanto sua namorada estava demorando. Conhecendo o histórico dessas festas, uma certa ansiedade pairava sobre o estômago de Yerim.

“Um minuto, garotas.” Ela se distanciou, logo indo atrás dos banheiros.

O primeiro, naquele térreo, se mantinha praticamente escondido. Ela entrou no cômodo, falou com algumas pessoas, perguntando se haviam visto Yeojin, mas acabou sabendo de outro banheiro no segundo andar. Ela subiu as escadas dando passos um pouco mais largos. Ali era muito mais quieto, poucas pessoas e uma delas era Joshua. Ele parecia meio desconfortável e inquieto, apressando passos meio desgostosos na direção de Yerim.

“Agora não, Joshua.” Yerim usou um tom gélido, algo não muito comum.

“Yerim, me escuta só dessa vez, eu nem deveria estar falando disso.”

O jeito de Joshua a deixava em alerta.

“Desembucha, Joshua.”

“A Yeojin foi levada por umas pessoas.”

“O quê?! E você ainda pensava em não me dizer.”

“É algo maior do que nós dois, Yerim, eu estou me colocando em perigo nesse momento.” Ele parecia realmente assustado. “Minha família se meteu em algo perigoso e eles me pediram para ficar de olho na Yeojin durante essa festa, mas eu já pensava em te contar. Eu posso ser um merda, mas eu não sou tão merda a ponto de arriscar a vida das pessoas. Eles levaram Yeojin para a fábrica de biscoitos da sua família.”

Yerim assimilava aquilo. Algumas peças já vinham se juntando pelo fato de seu pai e o de Joshua serem parceiros de negócio. Ela sentia a boca ficar seca ao saber sobre aquilo.

“Não sei exatamente o que podem fazer, mas talvez seu pai te escute. Eu não faço ideia do que eles querem com ela antes que pergunte.”

Yerim foi se distanciando meio atordoada, mas ainda agradecendo Joshua rapidamente, então puxou o celular.

                                                     

                                                   

                                                   

                                                   

                                                   

 

 

 


 

 

 

Hyeju desligou os faróis do carro assim que pode, estacionando no terreno vizinho, aproveitando estar sozinha para mandar mensagens para Yerim a fim de avisar sobre o detalhe das luzes. Hyeju ainda mandou algumas mensagens para Chaewon, mesmo sabendo serem inúteis. Ela começava a ficar nervosa caso aquela situação desse em algo pior, afinal, Chaewon pediu para que Hyeju cuidasse da caçula.

Enquanto os outros não chegavam, Hyeju tentou ter uma visão melhor da fábrica. A estrutura ficava longe da cidade, cercada por terrenos e vegetação e, no momento, o portão principal estava aberto. Ao se esconder atrás de uma árvore, ela conseguiu enxergar alguns guardas caminhando e ela conseguiu reconhecer Riina falando com um deles e então entrando no prédio. Aquilo deixou Hyeju evidentemente nervosa.

Hyeju então voltou para o carro, somente para sentir uma ponta de alívio ao ver que sua irmã havia chegado, apesar de não ter ideia do que exatamente fariam. E, pelo jeito, seus amigos vieram junto, ou seja, mais responsabilidade. Hyeju ainda não conseguia saber se aquilo era bom ou ruim.

“Eu juro por Deus que eu vou acabar com o pai de vocês.” Dongpyo disse ao sair do carro.

“Hyeju.” Yerim foi logo atrás de abraçar a irmã.

“Calma, vai ficar tudo bem.” Hyeju dizia em meio ao abraço.

“Você conseguiu ver alguma coisa?” Haruna perguntou.

“O portão principal está aberto e eu vi alguns guardas. A chefe da segurança do meu pai também está lá.”

“Riina? Isso é péssimo.” Yerim disse.

“Aquela mulher sempre me passou uma energia meio vilã do 007.” Dongpyo comentou, fingindo sentir um arrepio e abraçando os braços.

“O que a gente pode fazer?” Siyoon falou. “Yerim falou sobre não chamarmos a polícia, mas não tem ninguém que conheçam?”

“Chaewon, minha namorada.” Hyeju começou, meio atrapalhada. “Ela com certeza saberia, sei lá, tem algo sobre ela conseguir resolver tudo. A questão é que ela está viajando, assim como o resto da família da Yeojin, vocês sabem. Sei lá, talvez Sooyoung conseguisse resolver com uma ligação.”

“Talvez a gente pudesse conversar.” Matthew disse. “Ele não mataria vocês, nem a gente, eu acho. Vocês conhecem essa fábrica como ninguém, não?”

“Isso é verdade.” Dongpyo assentiu. “A gente vivia brincando por aqui.”

“É mesmo.” Yerim confirmou. “Nossas mães nos traziam aqui, principalmente quando era o começo das férias.”

Hyeju então lembrou da mãe. Seria uma boa ter a ajuda dela, se bem que não tinha como contactá-la.

“Acho que podemos fazer isso.” Hyeju tentou soar o mais firme possível. “Vamos montar um plano.”

“Vamos para a ação, baby!” Matthew abriu parte do blazer. Dongpyo somente sinalizou para ele baixar a bola e tendo uma feição desgostosa no rosto.

“Perdão, gente, às vezes ele acha que é jogador da NFL nos bastidores de jogo.”

As outras somente trocaram olhares risonhos.

“Ok, e qual é o plano?” Haruna enfim perguntou.

 

 

 


 

 

 

No subterrâneo da enorme fábrica de biscoitos. Muito abaixo das linhas de montagem e dos silos de farinha, estendia-se um complexo escuro, onde a temperatura era mantida artificialmente baixa e o som dos geradores formava um zumbido constante e opressor. Nesse ambiente, no coração do setor mais restrito, repousava uma máquina que não deveria existir, construída em silêncio, ignorando os limites da ética científica.

A máquina era um monólito de metal escuro, com painéis pulsando em tons azulados e tubos que serpenteavam como veias para dentro do corpo de uma jovem agora inconsciente. Yeojin, deitada em uma cadeira de contenção, tinha o rosto pálido e tenso, como se sonhasse dentro de um pesadelo do qual não podia acordar. Da base de seu crânio, dezenas de fios metálicos se ligavam à cabeça, alguns conectados por dispositivos de pulsação neural que mapeavam ondas cerebrais em tempo real. Seus olhos, mesmo fechados, tremiam sob as pálpebras, como se lutassem contra algo invisível dentro da mente.

Ao lado da maca, em uma cadeira reclinável que parecia deslocada daquele ambiente tecnológico, estava sentado o Dr. Tobias Harverford, tio de Joshua. Os óculos pendiam na ponta do nariz, e os dedos longos tamborilavam contra a tela de um monitor portátil. Tobias era um cientista e, diferente do resto da família no ramo de construções, contribuía na medicina.

Youngsoo observava a cena em pé, as mãos cruzadas atrás das costas, imperturbável. Seu terno cinza estava alinhado, imaculado. Os olhos frios percorriam os monitores com desdém, e o leve franzir da testa indicava apenas impaciência.

A sala estava protegida por camadas de segurança, tanto tecnológicas quanto humanas. Guardas armados faziam ronda nos corredores imediatamente acima, sempre em duplas, sempre em silêncio. As paredes do complexo interno eram revestidas com uma liga metálica à prova de som e interferência, garantindo que nada escapasse dali. As câmeras não piscavam. Eram olhos frios instalados nos cantos, vigiando com constância animalesca. Qualquer batida fora do ritmo esperado seria interpretada como ameaça.

Acima do complexo, no nível mais próximo da superfície, Riina monitorava o perímetro com atenção. Seus olhos percorriam dezenas de telas em uma sala escura, onde luzes vermelhas e verdes desenhavam um cenário sempre prestes a se transformar em caos. Ela era a chefe de segurança de Youngsoo, mas mais que isso: Era sua sombra. Treinada em operações clandestinas, Riina se destacava pela habilidade em antecipar movimentos, identificar padrões incomuns e agir antes que qualquer invasão se tornasse um problema real.

Nos últimos vinte minutos, ela notou três pequenas flutuações nos sensores de calor instalados no terreno externo. Pequenos picos que podiam ser atribuídos a animais noturnos ou falhas térmicas nos painéis. Mas Riina não acreditava em coincidências. As falhas se repetiram em padrões simétricos: Um no setor oeste, outro ao norte, e o último ao sul, como se algo estivesse cercando a fábrica com cuidado.

Ela não deu ordens imediatamente. Ao invés disso, ajustou o sistema de mapeamento para varrer com maior intensidade os terrenos baixos. Nenhum alarme foi disparado, mas suas mãos tocaram lentamente a lateral do coldre em sua cintura. O ar estava diferente naquela noite. As folhas se moviam demais. O vapor das chaminés não subia com o mesmo ritmo. Era como se a própria fábrica respirasse de forma alterada, sentindo a aproximação de algo inevitável.

Enquanto isso, do lado de fora, os amigos de Yeojin se mexiam. Hyeju acabou revelando algumas coisas dentro da mochila, que havia trazido dentro do carro, cheia de itens: Lanterna, fita isolante, cortador de vidro, um walkie-talkie e… um pacote de chicletes. Não era muito, mas melhor do que nada.

As instruções haviam sido claras, ao menos na conversa.

Hyeju coordenaria a invasão técnica. Haruna e Siyoon cuidariam da distração visual e sonora no setor de carga, provocando confusão suficiente para confundir os guardas. Dongpyo e Matthew teriam a missão de causar o caos interno, dentro dos corredores e escritórios. Enquanto isso, Yerim, receberia a tarefa mais silenciosa e perigosa: encontrar Yeojin, mantida em alguma parte da instalação central, e descobrir o que, exatamente, seu pai pretendia com tudo aquilo.

A entrada foi um sucesso parcial, se ignorarmos o fato de que Matthew ativou acidentalmente um sensor de movimento com seu reflexo cintilante e que Dongpyo bateu o joelho numa lata de tinta que se espalhou pelo chão como uma armadilha de desenho animado. Enquanto os dois mergulhavam em uma corrida desajeitada por corredores intermináveis, derrubando placas e abrindo portas erradas, Haruna e Siyoon montavam sua distração no pátio da carga: uma mistura caótica de fumaça, holofotes móveis e o som de um dos caminhões.

Guardas correram. Alarmes soaram. E a fábrica tremeu com uma coreografia de desastre engenhosamente orquestrado.

No interior do prédio, com uma lanterna fraca e os nervos à flor da pele, Yerim se esgueirava por corredores revestidos de painéis metálicos e pisos absurdamente encerados. O barulho da festa falsa ecoava ao fundo, mascarando os passos leves de salto sobre o piso. Em cada esquina, ela achava que seria pega. Em cada sombra, ela esperava encontrar seu pai.

Hyeju, por outro lado, se comunicava com Dongpyo pelo walkie-talkie, focando em fazer os jovens voltarem para o ponto de encontro. Ela tinha certeza de que Yerim era a melhor escolha para encontrar Yeojin, ela era a filha preferida.

Yerim finalmente encontrou o caminho para os corredores restritos. Era ali que o silêncio se tornava denso, onde as portas não tinham janelas e onde sensores brilhavam em vermelho. Ela seguiu escondida, passando por uma porta de segurança mal fechada e, em silêncio absoluto, se escondeu atrás de uma divisória quando ouviu uma voz familiar. A voz de Youngsoo. Ele estava sozinho.

“Vocês e seus amigos estão se divertindo, Yerim? Eu sinceramente pensei que Hyeju estaria aqui também.”

Confusa com aquela visão só correu para perto da garota, já que também tinha sido vista.

“O que você está fazendo com ela?”

“O meu trabalho. Segurança Nacional, mantendo o país forte.”

“E o que ela tem a ver com isso?”

Youngsoo deu um mínimo sorriso.

“Você sabia que Yeojin é adotada?”

Yerim ficou levemente confusa.

“Ela veio de um laboratório antigo, que acabou pegando fogo. O único experimento que deu certo foi ela, número 004.”

“O que você está falando?”

“Ela tem poderes psíquicos. Telepatia, telecinese, e ainda devem ter mais coisas que nem sabemos.” Ele dizia com certo orgulho. “Imagina colocar essas habilidades nessa máquina? Controlar os dispositivos do mundo, incluindo militares e ainda desvendar uma fórmula para criarmos pessoas como ela? Teríamos os melhores espiões, teríamos o caminho para nos tornarmos a nação mais forte do mundo, Yerim, não consegue ver isso?” O sorriso dele era meio doentio.

Yerim simplesmente olhou para Yeojin. Ela não sentia raiva da garota, não mesmo, somente de seu pai. Porém, ela tentava saber se aquilo era verdade. Poderes psíquicos?

Do lado de fora, uma explosão de farinha tomava conta dos galpões. Haruna e Siyoon gritaram algo incompreensível enquanto saíam de lá para encontrar Hyeju. Dongpyo, em algum lugar, disparou um extintor por engano e Matthew, confuso, tentava convencer um segurança desorientado de que era apenas um entregador perdido da confeitaria.

A operação estava de pé. Caótica. Ruidosa. Mas funcionando.

E Yerim, com o sangue gelado, sabia agora que o pai era pior do que havia imaginado. E que Yeojin não podia mais ficar ali.

Enquanto o alvoroço provocado pela distração juvenil sacudia os andares inferiores da fábrica, Riina observava tudo de sua sala de segurança no alto da torre administrativa. Os monitores tremeluziam com interferência. Alarmes piscavam sem padrão. Os sistemas, tão cuidadosamente blindados, falhavam como se dessem lugar a algo mais antigo, mais silencioso e infinitamente mais perigoso.

Havia algo errado. Não com o plano de resgate desorganizado, barulhento, até previsível, mas com o vazio entre os sinais. Os corredores apagados, as rotas que ninguém estava usando, as câmeras que morriam em silêncio. Era ali que a verdadeira ameaça avançava. Riina, com sua intuição tática afiada, sabia quando uma falha não era erro, e quando uma ausência de movimento significava um predador se aproximando.

Ela largou o rádio, pegou a arma, e desceu.

As três sombras chegaram como vento por baixo da porta, movendo-se por dentro da fábrica. Os sensores nem chegaram a apitar, estavam desligados antes disso. Roupas escuras, rostos ocultos por máscaras táticas. Elas não eram parte de plano nenhum. Elas eram o plano por trás do plano.

Jungeun foi a primeira a quebrar a superfície do sigilo. A assassina. Seus olhos frios, cravados em linha reta. O corpo dela se movia com precisão. Ela desceu as escadas rumo ao setor de vigilância. E lá, no corredor que dividia os servidores centrais da sala de comando, encontrou Riina.

O confronto aconteceu com a violência súbita.

Riina atacou primeiro, rápida, certeira, cotovelo no ar, pé em rotação baixa, mirando a garganta da assassina. Mas Jungeun desviou com uma fluidez que parecia impossível em espaço tão estreito. Elas colidiram contra os armários metálicos, provocando um estrondo abafado. Uma prateleira caiu, espalhando caixas de fichas. Uma luminária pendurada começou a girar lentamente, projetando sombras em movimento pelas paredes.

A luta era silenciosa, tensa, física demais para o ambiente clínico da fábrica. Cada golpe ecoava como um erro de cálculo. Riina era forte, metódica, e usava o ambiente a seu favor: placas, tubos, corrimãos. Jungeun, porém, não lutava como uma agente. Havia algo de inevitável em seus movimentos, como se a vitória estivesse apenas sendo aguardada.

Mas Riina não era fácil de apagar.

Ela sacou a faca curta presa à cintura e golpeou com precisão. Jungeun recuou, mas o corte pegou o tecido da manga. Um fiapo de sangue escorreu, e com ele veio a pausa longa, como se ambas compreendessem que o próximo minuto decidiria tudo. Foi quando Sooyoung apareceu.

Silenciosa até então, a espiã entrou em campo sem aviso. Um gancho firme no estômago de Riina a lançou contra a parede. Riina cambaleou, tentando girar, mas Sooyoung era rápida, exata. Elas atacavam agora em dupla: Jungeun por baixo, Sooyoung por cima. Uma sequência que parecia ensaiada em outra vida.

Riina resistiu. Ela quebrou um dos quadros da parede para usar como arma improvisada. Ela puxou um extintor e o lançou no chão para cobrir o espaço com fumaça. Ela lutou com a certeza de que sua queda traria algo maior. Mas mesmo com toda a força, todo o instinto de sobrevivência, as duas não davam espaço. A assassina era velocidade e impacto. A espiã, cálculo e precisão.

Por fim, Riina caiu de joelhos. A fumaça cinza se misturava ao cheiro metálico do sangue. Os sons ao redor haviam desaparecido. Ficaram só as respirações no meio do silêncio. E então veio uma voz através dos fones das duas.

“Tomei controle da base.” Era Chaewon, que havia feito todas as interferências no sistema, inclusive, evitando que os amigos de Yeojin encontrassem pessoas perigosas pelo caminho.

“Ok, estamos indo, vamos só prender a nossa colega em algum lugar.” Sooyoung respondeu.

A fumaça ainda pairava no corredor quando Sooyoung e Jungeun deixaram Riina para trás, desacordada entre papéis espalhados, mas com os pés e mãos amarrados. A missão principal ainda os aguardava. Elas se moveram com pressa silenciosa, cortando corredores e atravessando escadas internas.

Os vilões estavam no subterrâneo. Harverford, com sua vaidade de executivo decadente, digitava freneticamente numa tela de segurança enquanto suava em pânico. Youngsoo, por outro lado, permanecia de pé, ainda aguardando alguma resposta de Yerim.

Mesmo sabendo estar encurralado, ainda tinha a arrogância inchada de quem acreditava estar no controle.

Eles não ouviram a porta se abrir. Só notaram a presença das três quando a primeira lâmpada estourou com um estalo agudo. Sooyoung atacou os sistemas dessa vez, teclando comandos de desligamento, encerrando transmissões, bloqueando saídas de emergência. Chaewon derrubou dois seguranças com golpes secos, e Jungeun foi direto a Harverford.

O homem mal teve tempo de erguer as mãos antes de ser lançado contra a parede. Ela não hesitava. Um chute no joelho, um soco na garganta, o baque surdo do corpo escorregando pelo chão. Harverford caiu de lado, gemendo, sem dignidade.

Yerim não conseguia nem gritar ao ver aquelas pessoas. Ela simplesmente balançava o corpo de Yeojin e finalmente tomava ação para retirar aqueles fios da garota.

“Yerim?” Yeojin finalmente abria os olhos, sendo recebido por um sorriso choroso da outra.

“Finalmente. Yeojin, eu nem sei por onde começar...”

“Eu estava ouvindo tudo, de alguma forma, eu estive consciente... Me desculpa, Yerim.”

“Como assim, desculpa? Você foi sequestrada pelo meu pai!”

“Eu menti para você. Ele falou a verdade sobre mim.”

Yerim ficou meio confusa.

“Mas você não tentou machucar ninguém, Yeojin, ele fez isso. Você não.” Ela segurou a outra pelos ombros.

Yeojin a deu um sorriso gentil. Ela realmente tinha muita sorte.

“Só me promete uma coisa, Yeojin.”

“O quê?”

“Eu realmente não sei se acredito nisso de poderes psíquicos, isso é uma loucura. Mas se realmente estiver falando a verdade... Isso entre a gente não foi manipulado, não é?” A voz começava a ficar chorosa. “Não diz que foi tudo mentira.”

Yeojin pareceu um pouco surpresa.

“Yerim, em nenhum momento isso foi mentira.” Ela falou de forma firme o suficiente para Yerim acreditar. E realmente era verdade.

E um barulho ali perto chamou a atenção das duas para o que acontecia.

Youngsoo tentou escapar. Foi em direção à porta lateral, mas Sooyoung o interceptou. Ela o imobilizou num piscar de olhos: braço torcido, joelho na coluna, rosto no chão. Ele tentou gritar, mas foi silenciado por um golpe seco na nuca, preciso o suficiente para deixá-lo grogue, mas consciente. Consciente o bastante para ver o que vinha a seguir.

Yeojin entrou sozinha.

As três pararam suas ações.

A luz atrás dela tremeluzia com a oscilação de energia. Sua silhueta estava coberta de sujeira, o vestido amassado, os cabelos soltos caindo pelos ombros. Mas os olhos… Os olhos não pertenciam mais a uma garota sequestrada. Quando Youngsoo a viu, tentou falar, talvez para convencer, talvez para mentir mais uma vez. Mas nada saiu.

Ela não precisou se aproximar.

Os monitores da sala estouraram ao mesmo tempo, as janelas tremeram. O ar ficou denso. Youngsoo começou a flutuar, suspenso por uma força invisível que o puxava pelas entranhas. Sua cabeça caiu para trás, o corpo arqueado como um boneco de pano resistindo ao vento. Ele se debatia, mas não havia cordas a cortar, apenas um peso esmagador dentro da própria mente.

Yeojin não tocou nele. Apenas olhou. A mente de Youngsoo foi sendo arrancada, pedaço por pedaço, os gritos vieram sem som, os olhos vidraram. Ele caiu pesadamente no chão, a energia drenada, o ego finalmente calado. Apagado. Não morto.

“Pai!” Yerim ainda o olhou em choque.

“Ele só está apagado.” Yeojin se virou para ela, exausta. “Eu não mataria ele.”

“É, eu sei, só fiquei assustada... Uau, então é verdade.” Yerim piscava os olhos rapidamente. “Acho que a Hyeju não reclamaria de nosso pai levar um apavoro.”

As três sombras ao redor delas não se moveram. Yeojin as reconheceu e um pequeno sorriso surgiu em seu rosto, mas ela simplesmente se voltou para Yerim enquanto as três sumiam de vista.

“Quem eram elas?” Yerim perguntou.

“Não conheço, mas estavam aqui para parar seu pai.”

“É, isso eu percebi.”

“Posso te pedir uma coisa também?”

“Diz.”

“Vamos manter isso dos meus poderes psíquicos um segredo. É um segredo de família, elas sabem e nós deixamos isso escondido. E não, depois do seu pai, acho que ninguém vai vir mais atrás de mim.” Yeojin falava meio rápido. “E elas me adotaram sem saber que eu tinha isso, a Sooyoung queria ser mãe e me adotou só para realizar isso. Foi meio confuso, mas, por mais maluco que fosse, elas me aceitaram do jeito que eu sou...”

Yerim a encarou por um momento, então sorriu e a deu um beijo. Foi uma resposta simples e objetiva.

“É melhor sairmos daqui.” Yerim disse.

Ela então saiu dali puxando Yeojin pela mão. E Yeojin se sentia renovada de alguma forma, afinal, ela continuava com Yerim ao seu lado e ainda veria sua família novamente.

 

 

 


 

 

 

2 dias depois...

 

                                                   

                                                   

                                                   

                                                   

                                                   

 

Yeojin apressou os passos, praticamente pulando os degraus de escadas e enfim chegou na sala a tempo de ver o elevador se abrir e finalmente ver Sooyoung, Jungeun e Chaewon na sua frente. A garota correu na direção delas e um abraço aconteceu novamente, dessa vez, independente do que ainda restasse para resolverem entre si, era cheio de alívio, carinho. Elas são uma família de verdade.

 

 

 


 

 

 

Um dia depois...

 

Sooyoung suspirava em alívio ao apoiar os braços no parapeito, ao lado da piscina. De alguma forma tinham conseguido escapar daquela explosão em Kaltheim. Se machucaram um pouco, mas nada que uns dias não conseguissem repor. E então veio os planos da EGO para agirem contra Youngsoo, um plano que se aproveitaria do sequestro planejado de Yeojin por Youngsoo e seus comparsas. Sooyoung admite ter ficado preocupada, mas depois de sobreviver Kaltheim... Ela e as outras se sentiam mais do que aptas a pararem Youngsoo. Além disso, ainda contaram com a ajuda de Yeojin. Tudo havia dado certo.

Agora ela respirava o ar da cidade com mais calma, apesar de alguns detalhes pendentes. O fato de estar ali com pessoas que se importava, tornava o lugar mais parecido com um lar de verdade, por isso se deixava relaxar.

“Pelo jeito acabou.” Jungeun se colocou ao lado dela, apoiando somente as mãos no parapeito.

“É, acabou.” Sooyoung sentia um leve amargo ao falar aquilo. “Yeojin se formou.”

“A entrega de diplomas é próxima semana.”

“Então temos mais uma semana para fingirmos.”

“Basicamente.”

“Pelo menos estamos todas vidas. Conseguimos.”

“Pois é...”

“O que pretende fazer depois disso? Seu emprego na prefeitura ainda está lá... Ou vai aceitar ser uma agente da EGO? Haseul está animada em te ter ao nosso lado.”

“É, eu sei.” Jungeun sorriu timidamente. “Seria estranho se eu dissesse que não consigo pensar em algo, pois sempre acabo pensando em vocês? Acho que é o efeito de termos passado meses nos importando como família. Eu ainda me importo.”

“Eu também.” Sooyoung virou o rosto na direção de Jungeun. “Eu achei que iria te perder para sempre, pô, por um minuto pensei que estaria morta.”

Jungeun riu um pouco, já que tudo aquilo tinha passado.

“Não acho que a gente precise pensar de forma negativa. Nós falamos no barco sobre conversarmos... Sobre nós... E tem o que a Haseul falou para a gente hoje mais cedo.”

Sooyoung foi pega de surpresa. Ela não imaginava que Jungeun realmente havia prestado atenção no que Haseul havia dito.

“Essa cidade é muito boa para se morar, não é?” Sooyoung perguntou.

“É, eu também acho.”

“Eu acho que poderíamos viver aqui nessa cobertura.” Sooyoung ajustou a coluna. “Estou vendo alguns negócios, pode ser algo da família.”

“Ah, é?” Jungeun pendeu ligeiramente a cabeça, entendendo o que acontecia.

“É. Temos muitos planos para colocar em prática e essa é a cidade perfeita. Só falta saber se quer casar comigo.”

“De novo?”

“Bem, sem fingimento, sem contrato de espionagem. Um casamento de verdade.”

“Ah... Entendi... Vai ser bom para as crianças.”

“É, bom para as crianças.”

“Assim, eu posso pensar.”

“Vai mesmo?”

“É, depende se você...” Nisso, Jungeun empurrou Sooyoung, que caiu na piscina, soltando um pequeno grito.

Sooyoung voltou à superfície reclamando, mas também rindo. Jungeun aproveitou e se jogou na piscina, prendendo os braços ao redor de Sooyoung. Toda a estranheza de antes finalmente se desmanchava. Querendo ou não, o sentimento continuava existindo e, agora, sem nada as impedindo, era como se as peças se juntassem naturalmente.

 Elas deveriam reunir as mais novas para uma conversa mais tarde, mas, por enquanto, elas aproveitariam os votos de casamento dentro daquela piscina.

 

 

 


 

 

 

No dia seguinte...

 

Chaewon adentrou o segundo andar de uma sorveteria chique, podendo encontrar Hyeju em um local mais reservado. Chaewon sentia um certo alívio ao encontrá-la, ainda sentiu um pouco de medo quando a viu naquela fábrica, mas, sobre aquilo, deveria ficar calada.

“Você tem noção o quanto eu fiquei preocupada?” Hyeju se levantou, rosto meio bravo, mas durou segundos, pois logo abraçou Chaewon forte. Aliviada. “Quanta confusão aconteceu e você nem aqui estava.”

“Desculpa, é interior. Sabe quantos quilômetros a Sooyoung tinha que andar para pegar sinal? Horrível.” Ela sentava ao lado de Hyeju, sentindo os braços da garota abraçarem seus ombros. “Obrigada por cuidar da Yeojin, você realmente cumpriu sua palavra.”

Hyeju sorriu sem graça.

“Foi nada demais.”

“Qualé, Hyeju.” Chaewon revirou os olhos. “Seu pai surtou e você o derrotou de alguma forma.”

“Os outros ajudaram.”

“Obrigada a eles também.”

Nisso, um garçom se aproximou, servindo os sorvetes, algo que já havia sido pedido por Hyeju, pois a garota sabia o sabor que Chaewon gostava. Elas então voltaram a conversar quando ele se distanciou.

“Como vai ficar a situação com seus pais?” Chaewon perguntou.

“Minha mãe está voltando, pronta para o divórcio. Yerim ficou tão feliz.” Hyeju sorriu. “Eu também, claro... O meu pai, bem, agora está com a justiça, ele e os comparsas dele. Ainda não entendi muito bem o que ele queria com a Yeojin, pelo jeito acho que surtou mesmo.”

“É o que parece. Eu juro que mataria ele se pudesse, só quem pode simular sequestro com minha irmã, sou eu.”

Hyeju riu.

“Yeojin felizmente está bem.” Hyeju começou. “Espero que ela consiga a bolsa na faculdade.”

“É, ela falou disso para a gente, quase não acreditei. Ela é um pouquinho estúpida.”

“Nossa.”

“Mas ela tem outras qualidades.”

“Ela tem muitas qualidades.”

“É, pode ser.”

“E vocês vão continuar por aqui, né?”

“Por que achou que a gente ia se mudar, a faculdade da pirralha é por aqui.”

“Sei lá, depois dos acontecidos.”

“Pelo amor de Deus, Hyeju, olha para a Yeojin e a Yerim, você acha que elas vão deixar isso acontecer? Eu não quero mais drama adolescente na minha vida, chega, minha moleira fechou.”

“Fico feliz então.”

“Mas eu vou sair da faculdade.”

“Quê?!”

“Eu já sou formada, Hyeju, só estava fazendo outro curso para testar terreno. Coisa de gente rica que não tem o que fazer.”

“Você já é formada? Por que não me falou? Espera, quantos anos você tem?”

“Calma lá, eu não sou a Marta Golpista.” Chaewon ergueu uma sobrancelha. “Eu já sou formada e eu nunca falei por falta de oportunidade. E eu tenho a idade que falei que tenho, eu só entrei cedo.”

“Caramba.” Hyeju ainda associava as informações. “E o que vai fazer? Decidiu algo?”

“A Sooyoung veio para essa cidade também querendo entrar no ramo de restaurantes, no caso, comprar um. É o sonho da vida dela.”

“É?”

“Uhum, ela vai comprar aquele Augustine.”

Hyeju arregalou os olhos.

“Não é tipo muito caro? Esse restaurante é só o mais luxuoso da cidade e que tem duas filiais internacionais?”

“Que também vai ser nosso.” Chaewon assentia. “Vai ser coisa de família. Jungeun vai sair do emprego dela também.”

“Caramba.”

“Não vai mudar nada. Nós vamos continuar aqui, morando no mesmo lugar e então viajamos vez ou outra, nada demais.”

“Se você diz, então...”

“É, sério...” Chaewon a olhou, sorriso convencido. “Parabéns, Hyeju, você realizou o sonho de nunca mais se livrar de mim.”

Hyeju ficou feliz como uma criança, não perdendo tempo em finalmente a beijar.

 

 

 


 

 

 

5 anos depois...

 

Uma festa acontecia na cobertura das Ha. Mas não era uma festa com muita gente, somente os chegados. Dongpyo foi o primeiro a chegar, acompanhado de Matthew, Tonhão e seus pais, já que eram amigos de Sooyoung e Jungeun. Em seguida foram os Osato, onde Haruna chegou um pouquinho atrasada com Siyoon. Por último foram as Son. Jiyoung fez questão de trazer um vinho novo de presente para Sooyoung.

Era comum aquele tipo de reunião, vez ou outra Haseul aparecia, mas, geralmente eram sempre essas mesmas pessoas. Yeojin abraçava Yerim perto da piscina. Dongpyo dançava alguma coisa com Matthew e Siyoon perto da churrasqueira, enquanto Haruna ia selecionando uma playlist com músicas melhores para tocar. Enquanto isso, os mais velhos ficavam em uma mesa conversando e trocando piadas.

E foi questão de tempo até os mais novos se jogarem na piscina e começarem a brincar como se ainda fossem adolescentes. Yerim estava perto de se formar em Medicina, já fazendo residência. Yeojin havia se formado em Artes Visuais e tinha conseguido um trabalho recentemente em uma editora de quadrinhos, além de fazer trabalho freelancer vez ou outra. Dongpyo se formou há pouco tempo e estudava para ser Auditor Fiscal como falava, enquanto Haruna se formou junto com Yeojin, mas em administração, na mesma turma de Matthew. Haruna, além de ajudar nos negócios da família, ainda é DJ e tem um estúdio, onde celebridades alugam para produzirem álbuns. Matthew cuidava da empresa da família, já Siyoon continuou jogando basquete, agora em um time profissional.

O tempo estava passando, todos cresciam, mas continuavam juntos.

“Alô?” Sooyoung atendeu uma ligação, indo mais para o canto. “Sim, sim, vejo isso. Certo, te respondo amanhã.”

Ao terminar, ela se desculpou com os visitantes, então continuou a festa. Porém, sem que os outros percebessem, as quatro trocaram olhares rápidos. Uma conexão que somente elas conseguiam ter com uma certa ajuda de Yeojin no mental.

A mensagem viajou rapidamente.

Era uma nova missão desde a última há alguns meses atrás.

Código F ativado mais uma vez.

As quatro espiãs da EGO estavam prontas.

Notes:

E assim se acaba mais uma jornada...

Notes:

Playlist: https://open.spotify.com/playlist/3B5OR0p0SYTHnBlTjwrpnN?si=892d1bad04e5485e

Caso queiram me achar estou no tt/bluesky: noiriot

Vejo vocês me breve!