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Português brasileiro
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Published:
2025-05-11
Updated:
2025-06-28
Words:
56,371
Chapters:
8/?
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6
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16
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438

Respiração, foco nos sentidos!

Summary:

Katsuki Bakugou nunca viraria um vilão, não importa o quanto a Liga tentasse o convencer. All For One tinha outros planos para o garoto, caso ele negasse.

O pedido foi negado.
Um poder foi roubado.

Notes:

Chapter 1: Capítulo 1 - Quatorze dias

Notes:

(See the end of the chapter for notes.)

Chapter Text

O ar no escritório do Diretor Nezu parecia rarefeito, pesado. O único som que quebrava o silêncio tenso era o raspar quase incessante da caneta de Nezu assinando papéis, que pareciam se multiplicar mais a cada assinatura. Então, a quietude foi quebrada por batidas na porta, impacientes, irregulares, inconfundivelmente explosivas.

Nezu ergueu a pequena cabeça dos documentos, um brilho astuto em seus olhos de animal. Ele não precisava perguntar quem era. “Senhor Bakugou! Pode entrar!” Sua voz era gentil, quase alegre, um contraste gritante com a tempestade do lado de fora.

A porta se abriu com força, revelando Katsuki Bakugou. Seus punhos estavam envoltos em bandagens grossas, manchadas de vermelho-escuro em vários pontos, sangue seco, testemunha de uma luta recente ou de um treinamento desesperado. Seu olhar varreu a sala, fixando-se em Nezu com desprezo mal disfarçado. “Tsk… Aonde eu devo me sentar, rato?”

Ótimo, já odeio estar aqui. Preso nessa sala com esse rato estranho e o maldito Aizawa me encarando.

Encostado na parede do escritório, com o olhar cansado e quase morto de sempre, estava Aizawa Shouta. Ele não disse nada a princípio, apenas inclinou a cabeça minimamente em direção a cadeira vazia em frente a mesa do diretor. Bakugou bufou, mas caminhou até lá e se jogou na cadeira, rígido, evitando deliberadamente encontrar o olhar exausto, porém penetrante, de seu professor. Não preciso da pena dele. Não preciso da pena de ninguém… Katsuki repetia isso constantemente, na esperança de que, de alguma forma, aquilo se fixasse em sua mente.

Nezu soltou um suspiro quase inaudível. Em circunstâncias normais, a grosseria de Bakugou exigiria uma reprimenda imediata. Mas as condições estavam longe de serem normais. O diretor decidiu, por ora, relevar. “Senhor Bakugou, imagino que o senhor esteja ciente do que está fazendo aqui? Correto?”

Katsuki apenas grunhiu, um som baixo e áspero na garganta, mas assentiu rigidamente. Nezu interpretou como um “sim”. “Excelente… Sendo assim, serei direto. Os principais professores e eu, após uma longa análise sobre os eventos recentes e sua… condição atual… decidimos por sua expulsão, Katsuki Bakugou.”

Um silêncio mortal desceu sobre o escritório. A palavra “expulsão” pairou no ar como uma sentença de morte, pesada, fria, irrevogável. Aizawa e Nezu trocaram um olhar fugaz, ambos preparados para a explosão inevitável, gritos, ameaças, talvez até uma mesa virada.

Mas Bakugou os surpreendeu. Nenhuma explosão veio. Em vez disso, após um momento que pareceu esticar-se infinitamente, um som rouco emergiu de sua garganta. Não era um grito, mas um rosnado baixo, quase… hesitante? Quebrado? “Um mês.” A voz era áspera, forçada. “Isso é tudo que eu peço.”

Merda. Expulso?

Não… não podem fazer isso.

Não podem.

Preciso de tempo, só um pouco de tempo.

Aizawa ergueu uma sobrancelha, a curiosidade substituindo a expectativa de confronto em seu semblante normalmente apático. “Um mês? Um mês para quê, Bakugou? Você entende que não há retorno. Depois do que ele fez… sua individualidade se foi. Não há nada que possamos fazer quanto a isso. Depois que o All For O-”

“CALA A BOCA!” O nome foi o gatilho. Bakugou se levantou abruptamente, a cadeira arrastando no chão. Ele bateu com o punho enfaixado na mesa de Nezu com força suficiente para fazer a xícara de chá do diretor tilintar perigosamente. Seu rosto estava vermelho, os olhos arregalados e brilhantes, era raiva, sim, uma fúria incandescente, mas havia algo a mais ali, uma umidade suspeita, uma vulnerabilidade crua que ele lutava desesperadamente para esconder.

Aquele nome… Aquele maldito nome!

Não ouse dizer o nome dele na minha frente!

Foi ele… ele tirou tudo de mim!

Tudo que me importava…

—Tudo que importava para as pessoas ao seu redor.

Nezu, impassível, pegou sua xícara e tomou um gole calmo de chá. “Senhor Bakugou… Admiro sua tenacidade. Sua força de vontade é inegável. Mas tenho sérias dúvidas sobre sua capacidade de ter sucesso nessa carreira, nesse nível que o senhor almeja, sem sua individualidade” Ele pousou a xícara delicadamente na mesa. “O que você acha, Aizawa? Você é o professor responsável pela classe dele. Deixarei esta decisão final em suas mãos”

Aizawa se desencostou da parede, o olhar fixo em Bakugou. Ele o estudou por um longo momento, procurando por qualquer sinal de dúvida, qualquer vacilo por trás da fúria e da dor. Ele procurou pela arrogância vazia de sempre, mas encontrou algo diferente. Uma determinação desesperada, quase selvagem. Ele não viu hesitação naqueles olhos vermelhos, apenas uma recusa teimosa em desistir. Ele está quebrado, mas não está derrotado. Perdeu a quirk, mas não o espírito de luta. Mas só isso não basta… ou basta? “Duas semanas, Bakugou.” A voz de Aizawa era firme, sem espaço para negociação. “Você tem exatamente quatorze dias para provar que, mesmo sem uma individualidade, você ainda pertence a este lugar. Que você ainda pode ser um herói.”

Um suspiro escapou dos lábios de Bakugou, um som quase de alívio tenso. Duas semanas? Merda, eu pedi um mês… mas é melhor que nada. É uma chance, vou me agarrar a isso. Ele forçou seus lábios em uma cópia de seu sorriso arrogante habitual, embora parecesse mais uma careta. “Humph, ótimo! Sabia que você não teria coragem de expulsar um dos seus melhores alunos só por causa de um detalhezinho.”

Aizawa reprimiu um suspiro próprio. Criança problemática até o fim. “Bakugou, isso não é uma brincadeira. Você perdeu a sua individualidade. Você entende a gravidade disso? O poder que definia seu estilo de luta, sua própria identidade como herói em treinamento… se foi. Você não pode simplesmente fazer as mesmas coisas de antes, não importa o quanto queira.” Ele precisa entender que isso muda tudo. Não é só um ‘detalhezinho’.

“EU VOU DAR UM JEITO!” Bakugou retrucou, a voz subindo de volume novamente, a fachada arrogante voltando com força total.

Eu tenho que dar um jeito.

Não existe outra opção.

—Ah! Existe outra opção sim.

—Você sabe qual é.

Aizawa deu um passo à frente, fechando a distância entre eles até ficar bem em frente ao garoto, invadindo seu espaço pessoal, forçando Bakugou a sustentar seu olhar. A diferença de altura era clara. “Como? Como você vai fazer isso, Bakugou? Me diga.” Sua voz era baixa, mas carregada de intensidade. “Explique.”

Katsuki foi pego de surpresa pela proximidade e pela intensidade do professor. Abriu a boca para responder, para vomitar alguma bravata, alguma promessa vazia… mas as palavras não vieram. Ele tentou, mas sua garganta parecia fechada. A verdade era que ele não tinha a menor ideia.

Merda, o que eu digo…?

Não sei como vou fazer isso!

Como? Com o quê? Granadas? Facas?

Que piada de merda…

“Vamos Bakugou, me diga” Aizawa insistiu, a voz subindo um pouco, mais incisiva, quebrando o silêncio tenso. “O que você vai fazer?”

“EU NÃO SEI!” O grito explodiu dele, cru, desesperado, sem a arrogância usual. A paciência se esgotou, a máscara caiu completamente. Sua respiração estava rápida e superficial, o controle que ele tanto prezava se desfazendo em tempo real. “Eu… eu não sei o que eu vou fazer” ele repetiu, a voz tremendo agora, mais baixa. “Mas eu vou dar um jeito! Eu sempre dou… Eu sempre dei.” A última frase foi um sussurro quase inaudível, soando mais como uma prece frágil do que a afirmação confiante de sempre. A arrogância se despedaçou, revelando o medo e a incerteza que Bakugou jamais mostrava a ninguém.

Eu nunca disse algo assim nem mesmo pro Cabelo de Merda ou pra Cara de Guaxinim… aqueles… idiotas. Ele tinha aqueles dois, Kirishima e Mina, que ele considerava… próximos. Tão próximos quanto Katsuki Bakugou permitia que alguém chegasse, o que não era muito. Sua natureza era se fechar. Mas nem para eles ele admitiria algo assim, tão direto e de forma tão vulnerável.

Que patético.

Aizawa soltou um suspiro longo e cansado. Aquela conversa estava sendo tão difícil quanto ele previra. Mas, novamente, era Bakugou. Nada com ele era fácil.

“Bem, parece que temos uma decisão…” Nezu interveio, sua voz suave cortando a tensão. Era hora de encerrar aquilo antes que os ânimos se exaltassem novamente. “Você tem exatamente quatorze dias a partir de amanhã, Senhor Bakugou, para nos provar que pode continuar sendo um herói em treinamento sem sua individualidade. Ao final desse prazo, você passará por um teste prático.”

Antes que Bakugou pudesse sequer formular a pergunta, Nezu continuou: "E antes que pergunte, o teste será uma simulação de combate. Você contra Aizawa. Um contra um. Não esperamos que derrote um herói profissional experiente como ele, especialmente em sua condição. No entanto, esperamos ver progresso significativo, adaptação e, acima de tudo, a prova de que você ainda possui o potencial e a determinação necessários para trilhar este caminho. O mínimo que esperamos são resultados impressionantes, se quiser permanecer na U.A."

Katsuki apenas acenou, a mandíbula tensa. Discutir seria estupidez agora. Ele era arrogante, não idiota. O silêncio e a aceitação eram suas únicas moedas de troca no momento. Quatorze dias… só quatorze dias. Contra Aizawa. Merda. Mas eu consigo… Eu tenho que conseguir. A frase se repetia em sua mente, um mantra desesperado para se convencer.

“Ótimo, senhor Bakugou.” Disse Nezu, trocando um olhar rápido e significativo com Aizawa. Ele entendeu a mensagem subliminar, espero. “Aizawa irá até sua residência amanhã para entregar um documento oficializando este… acordo provisório.” Ele gesticulou em direção a porta. “Por agora, está dispensado senhor Bakugou. Boa sorte.”

Bakugou acenou novamente, sentindo-se estranhamente esgotado. A adrenalina da raiva e do medo o estava deixando vazio. Absorver a realidade de tudo aquilo… era avassalador. Enquanto ele se virava e caminhava rigidamente em direção a porta, sentiu uma mão pousar brevemente em seu ombro. Era Aizawa.

Surpreso, Katsuki parou e olhou para trás. Seus olhos encontraram os de Aizawa por alguns segundos intensos. E, por um instante, Bakugou quase jurou ter visto os cantos dos lábios de seu professor se curvarem em um sorriso mínimo, quase imperceptível. Um reconhecimento silencioso, talvez? Um "Boa sorte" dito da maneira Aizawa de ser? A surpresa o atingiu genuinamente. Antes de sair pela porta, quase sem pensar, ele murmurou algo tão baixo que apenas Aizawa poderia ouvir. "Obrigado…" Katsuki saiu pela porta e começou a andar em passos rápidos logo depois, com a intenção de sair logo do campo de visão de seu professor.

Por que eu disse isso?

—Porque você é um idiota.

Eu sou Katsuki Bakugou porra! Eu não agradeço a ninguém…

Então por quê eu senti a necessidade de falar isso?

Por que eu… Ah, que se dane essa merda.

.

.

.

.

.

.

.

O caminho até a saída da U.A pareceu mais longo do que o normal. O sol da tarde batia no rosto de Bakugou, mas ele mal sentia o calor. Ele se sentia perdido. Não. Ele estava perdido. Completamente perdido.

Quatorze dias. O que diabos eu posso fazer em quatorze dias pra compensar a porra de uma individualidade que eu usei minha vida inteira? Treinar combate corpo a corpo? Claro, ele podia intensificar isso. Aprender a usar armas? Talvez equipamento de suporte? Mas pra quê? Mesmo que eu impressione o Aizawa e o rato… eu ainda vou ser um inútil sem poderes. Para sempre. O pensamento era um buraco negro em sua mente.

Assim que passou pelos imponentes portões da U.A, ele seguiu direto para a estação de metrô mais próxima. Bakugou queria chegar em casa o mais rápido possível. Precisava de silêncio, precisava organizar a avalanche caótica de pensamentos em sua cabeça. Precisava de um plano, por mais impossível que parecesse ter um nesse momento. Felizmente, o metrô estava relativamente vazio, fora do horário de pico. Ele se deixou cair no primeiro assento vago que encontrou, encostando a cabeça na janela fria.

Ele puxou o celular do bolso por puro hábito e franziu a testa ao ver a tela acender com notificações.

Sério? Quem diabos…?

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Você tem 16 novas notificações

Bakusquad(Integrantes: Você, Cabelo de Merda, Alienígena Rosa, Pikachu, Fita Adesiva, Cabeça de Fone)  - 13 notificações novas

Deku de merda  - 3 notificações novas

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Hum? O que aquele Deku de merda quer agora? Ele podia até entender os outros idiotas – Kirishima, Mina, Sero, Kaminari, e Jirou – que, por algum motivo bizarro, insistiam em andar com ele. Mas o Deku? Aquele nerd maldito é um masoquista do caralho. Eu bato nele, xingo, humilho, tento afastar ele com todas as minhas forças, e ele sempre volta rastejando, cinco vezes pior.

Enfim, ele iria ignorar Deku, como sempre. Katsuki abriu o chat em grupo do "Bakusquad".

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Bakusquad - Mensagens não vistas

Cabelo de Merda : E aí Kats, como foi com o Diretor Nezu?

Fita Adesiva : Ele ainda deve estar no meio dessa tal “reunião” cara, vamos deixar ele em paz por enquanto, você sabe como o Bakugou é, ele com certeza não está no melhor humor depois… Daquilo.

Alienígena Rosa : Sero! Nós combinamos isso antes, nada de falar disso por agora, ainda é muito recente. Nós temos que apoiar o Blasty agora, não ficar relembrando isso.

Fita Adesiva : Foi mal D:

Pikachu : Hahhahaha, primeira vez que não é eu que recebi o sermão!

Cabeça de Fone : Você não tem muita moral pra falar isso não Kaminari… Seu cérebro fritou quantas vezes essa semana já? Sete?

Pikachu : Ei! Não foi tantas vezes assim… Foi no máximo 5!

Cabelo de Merda : Gente, vamos voltar pro assunto em questão aqui? O Kats precisa do nosso apoio hoje…

Alienígena Rosa : SIM! Não sei quando você vai ver isso, Blasty, mas estamos aqui pra você!

Fita Adesiva : É cara, pode contar com a gente!

Cabeça de Fone : Só chamar que a gente aparece.

Pikachu : Qualquer coisa é só pedir, tamo aqui pra ajudar!

Cabelo de Merda : Você tem amigos Kats, não esquece disso :D

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Katsuki encarou as mensagens, uma sensação estranha se formou em seu estômago. Amigos? Que porra é essa? Ele sempre teve seguidores, gente que o admirava e temia, não… amigos. Por que esses idiotas estavam mandando isso? Eles não ganhariam nada com isso. O mais lógico era assumir que ele seria expulso e seguir em frente com isso em mente, talvez eles finalmente trocassem o nome desse grupo para “Kirisquad” ou “Minasquad”. Era o mais realista. Não havia motivo para continuarem com essa farsa, fingindo que se importavam… com ele.

Quem em sã consciência iria querer ser meu amigo?

Eu sou Katsuki Bakugou, porra.

O animal raivoso da turma.

O cara que precisou de uma focinheira pra receber a porra de uma medalha de ouro.

Um tremor involuntário percorreu seus braços ao lembrar daquele dia. O Festival Esportivo. Ele odiou cada segundo daquela cerimônia. Aquela medalha era lixo. O Meio-a-Meio não lutou pra valer, ele se segurou descaradamente.

É um insulto ele ter lutado se segurando daquele jeito!

O vilão foi eu por não querer aquela merda de medalha?

E a focinheira… aquela maldita focinheira.

Como se eu fosse um cachorro perigoso que precisasse ser contido

Ele não era um animal. Ele só não queria um prêmio por uma vitória vazia, humilhante, não merecida.

Bakugou balançou a cabeça com força, tentando afastar as lembranças amargas. Ele tinha que responder àqueles idiotas. Eles… pareciam sinceros. Por alguma razão incompreensível para ele.

Talvez… talvez eles realmente se importem?

—Tem gente burra pra tudo né.

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Bakusquad - Novas mensagens

Você : To no metrô indo pra casa agora.

Você : E o rato me deu 14 dias pra provar que ainda posso continuar na U.A mesmo sem meus poderes. No fim vou ter que fazer um teste de luta contra o Aizawa-sensei, e se eu conseguir impressionar, eu continuo na merda da U.A. Se eu não impressionar… bem, vocês tem um cérebro, então usem ele pra saber o que acontece comigo se eu falhar.

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Assim que a última mensagem foi enviada, os indicadores de "digitando" apareceram sob os nomes de quase todos no grupo.

Cabelo de Merda está digitando…

Alienígena Rosa está digitando…

Fita Adesiva está digitando…

Cabeça de Fone está digitando…

Pikachu está digitando…

Ah, merda. Não.

Katsuki definitivamente não tinha energia ou paciência para um interrogatório ou uma sessão de pena em grupo agora. Ele precisava de silêncio. De paz.

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Você : Preciso pensar, vou desligar o celular por um tempo. Não façam perguntas idiotas pra mim, não vou responder.

Você : E sim Pikachu, essa última linha é exclusiva pra você.

Pikachu : D:

Pikachu : Ei! Eu não sou tão idiota assim! Vcs só falam isso pq todos vcs são uma espécie de super gênios com seus poderes ou coisas assim…

Cabelo de Merda : Desculpa cara, mas não é exatamente muito difícil ser melhor q vc academicamente falando

Cabeça de Fone : Exatamente, você não ficou em 20° lugar na prova semestral?

Alienígena Rosa : Sim! Vc não é muito brilhante Pikachu!

Pikachu : Você não pode falar muito de mim Mina! Vc tb ficou num ranking bem baixo!

Alienígena Rosa : …Huh! Touche!

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Bakugou desligou a tela do celular antes que mais mensagens chegassem, guardando-o no bolso. Ele encostou a cabeça na janela novamente, fechando os olhos. Tanta coisa pra pensar… O principal era: o que raios ele ia fazer? Ele não tinha um plano. Não tinha a menor ideia de como começar.

Preciso ficar mais forte.

Mais rápido.

Mais inteligente na luta.

Talvez… equipamento?

Aizawa luta sem depender tanto da quirk dele… ele usa aquelas faixas.

—Você realmente se comparou ao depressivo do Aizawa?

A mente de Bakugou começou a correr, buscando fragmentos de ideias e possibilidades remotas.

Técnicas de luta… talvez alguma coisa antiga, sem depender de poder bruto?

Merda, por onde eu começo?

Quatorze dias. O relógio estava correndo. E Bakugou não tinha a menor ideia do que fazer.

Muita coisa estava passando pela cabeça de Bakugou naquele momento, ele precisava de tempo para pensar, planejar, treinar. Mas isso era tudo que ele não tinha naquele momento, ele estava limitado a duas míseras semanas. Quatorze dias. Katsuki teve a vida toda para treinar e lutar com seu poder… Seu antigo poder. E agora, Aizawa quer que ele consiga provar que consegue batalhar sem eles? Em tão pouco tempo? Isso é impossível!

Maldito Aizawa…

Depois do que pareceu uma eternidade, Bakugou sentiu o metrô finalmente parando. De propósito, ele pegou uma linha do metrô que parava ainda meio longe de sua casa. Andar ajudava ele a pensar. E ele precisava desse tempo andando sozinho. Sua mente precisava disso.

Assim que a porta do metrô se abriu, Katsuki se levantou e passou por ela. Começando a andar pelo velho caminho de sempre. Ele via as pessoas andando, nas suas próprias vidas – vendedores, trabalhadores de escritório, pedreiros, professores – trabalhadores comuns, pessoas que teoricamente ele deveria se tornar responsável de proteger, de zelar. Normalmente, ele veria todas essas pessoas como extras, pessoas que não sabiam, que não tinham a capacidade de se defender, e precisam de heróis para fazer o trabalho difícil. Agora, andando entre eles, é como se… ele estivesse nesse meio agora.

Porra… esse não é meu lugar!

Eu sou um herói.

Eu deveria estar na U.A. Nós novos dormitórios com aqueles merdinhas.

Não… aqui, nesse meio.

Katsuki repetia isso como um mantra.

—Você realmente acredita nessas palavras?

—Tsk… patético.

Bakugou estava se sentindo nu – exposto, vulnerável – no meio de toda aquela gente. Andando entre eles, entre os… extras. A cada passo dado pelas ruas, ele sentia os olhares nele, alguns reconheciam as vestes da U.A. Outros o reconheciam por causa de sua performance no Festival Esportivo. Ninguém falava com ele, eram só olhares curiosos e sussurros. Malditos… Estão olhando o quê? Cuidem das próprias vidas seus idiotas! Ele deu um olhar severo para todos aqueles que olhavam para o mesmo. Pelo menos isso ele ainda tinha, porque aqueles que viram isso pararam de olhar imediatamente.

À medida que ele saia da área comercial, a quantidade de pessoas ia diminuindo rapidamente, junto com o barulho e todo o acúmulo de estímulos do ambiente mercantil. Isso ajudava sua mente a se acalmar, e a se preparar para a inevitável conversa que viria… com seus pais. Sua mãe na verdade. Desde que ela se separou do Masaru, as coisas têm estado até mais estáveis entre eles dois – Katsuki e Mitsuki – dentro do possível com os Bakugou, obviamente. Mas, aquela ainda era a velha bruxa de sempre, então a conversa seria tão fácil quanto o esperado.

Chegando na porta de sua residência, ele já dá um suspiro antes de entrar. Ele abre a porta sem pensar muito mais nisso. E ele já consegue ouvir a velha bruxa gritando do quarto. “Katsuki? Eu ouvi a porta abrindo. É VOCÊ MOLEQUE?!” Mitsuki gritou – especialmente a última frase – do outro lado da casa, de seu quarto possivelmente.

“SOU EU SIM, VELHA BRUXA! QUEM MAIS PODERIA SER EM?!” Katsuki gritou da sala, fechando a porta em seguida. Ele se sentou no sofá logo depois, finalmente respirando um pouco. Olhando para a televisão em sua frente, desligada, ele consegue ver seu reflexo nela, ele parecia… O mesmo de sempre, mas quem o conhecia, quem convivia com ele com frequência, saberia ver as pequenas diferenças. Seus olhos estavam mais vermelhos que o comum, ele estava mais instável, mais volátil, falando menos.

Katsuki ficou ali sentado, observando seu próprio reflexo. Pensamentos e pensamentos invadiam sua mente. O que ele faria? Tinha o que fazer? Eu tô me perguntando sobre essa merda o dia todo, e não consigo achar uma solução sequer…

Será que tem realmente algo a se fazer?

Alguns minutos após ele se sentar, Mitsuki chegou e o viu ali. Ela não falou nada, apenas ficou olhando seu filho ali, com o olhar vazio olhando seu próprio reflexo na televisão. Katsuki viu ela chegando, mas não disse nada, nem sequer reagiu. Ele estava muito preso em sua própria mente para dar atenção a qualquer outra coisa. Mitsuki sentou-se ao lado de seu filho, também olhando para o reflexo – agora deles dois – na televisão.

Eles dois são realmente muito parecidos, Mitsuki consegue ver isso mais facilmente agora. Ela sempre viu, mas agora estava muito mais… óbvio. Ela consegue se imaginar nessa situação, perdida, acabada… Morta. Ela é a mãe desse garoto orgulhoso, ela sabe que se depender dele, eles nunca falariam sobre essa situação. E sinceramente? Ela preferiria que fosse assim. Falar disso seria como admitir que isso é real, que não é um sonho, um pesadelo. É real.

Mas, não é questão de querer. Vai ser desconfortável para ambos, mas eles precisam falar disso, gostem ou não. E Mitsuki tem noção disso, então, ela dá o primeiro passo. “E então… o que eles falaram?”

Um, dois, três, quatro, cinco… os segundos se passavam, e nada. Nenhuma resposta. Katsuki mal piscava enquanto olhava seu próprio reflexo, e depois de dez minutos nesse silêncio, Mitsuki estava considerando subir novamente até seu quarto, e deixar seu filho ter algum momento de paz, ele deve estar precisando depois dos eventos recentes. Mas quando esse pensamento veio a sua mente, Katsuki finalmente disse algo, sem desviar o olhar do reflexo.

“Duas semanas… eles me deram míseras duas semanas.” Katsuki falou sem rodeios, a voz muito mais baixa que o comum agora. Era quase… melancólico?

Mitsuki também ficou surpresa com isso. Ela nunca via esse Katsuki na sua frente, era sempre o Katsuki orgulhoso, vencedor, aquele que não tinha medo de nada e resolvia tudo com uma explosão. Mas esse na sua frente… esse Katsuki era diferente. Ele estava preso em seu próprio mundo, com as mãos apertando o short com força enquanto olhava para frente fixamente. E isso era só o que ela conseguia perceber por enquanto. “Para o quê? Duas semanas para o quê?”

“Para… para eu provar que ainda posso ser um herói, que ainda sou digno de estar na U.A.” Katsuki fala enquanto seu pé bate contra o chão em um ritmo irregular, baixo demais para incomodar, mas alto o suficiente para perceber o infortúnio na sua mente. “Pelo que entendi, o Aizawa, meu antigo professor, vem aqui amanhã para… oficializar tudo, algo assim. Vão trazer um documento ou alguma merda assim.”

Mitsuki estava pronta para xingar aquele colégio o máximo possível, mas, uma palavra no que Katsuki disse fez ela travar por um momento… Antigo. Esse moleque disse “antigo professor”? Não me diga que… Não. “Moleque… VOCÊ NÃO ESTÁ PENSANDO EM DESISTIR NÉ?!” Ela fala enquanto se levanta abruptamente do sofá, com os olhos fixos em seu filho.

Katsuki parou por um segundo, o olhar arregalado. “Hã?!” Ele disse enquanto também começa a olhar fixamente para sua mãe – virando a cabeça pela primeira vez na conversa – mas sem se levantar. Ainda. “Desistir? É CLARO QUE NÃO VELHA BRUXA! O QUE TE FAZ PENSAR ISSO?!” Ele fala, tentando se convencer mais do que tudo ao falar que não desistirá.

“Não minta para mim moleque! Eu te conheço melhor do que você mesmo, eu sei quando você está em dúvida.” Mitsuki fala enquanto cruza os braços, o olhar mais afiado do que nunca agora.

Katsuki queria se defender e falar que a velha bruxa estava vendo coisas onde não existia nada, mas… ele não conseguiria fazer isso. Ele é muitas coisas, mentiroso não é uma delas. Então… ele fica em silêncio, sem nada falar. Também, tinha o que falar? Como alguém como ele poderia falar sobre isso? Ele foi feito para lutas, ação, porrada e explosão! Não para sentimentos. Ele sabe lidar com vilões, lutas, treinamento, e tudo envolvendo coisas físicas. Mas sentimentos? Katsuki não lidava com sentimentos, ele explodia eles. Acontece que explodir não é mais uma opção para ele.

“Vamos! Me diga! Você vai realmente desis-” Antes que Mitsuki pudesse continuar, Katsuki se levantou. Rápido. Um passo e ele já estava cara a cara com sua mãe.

“E o que eu deveria fazer?!” A voz saiu em um berro, a garganta ardia. Ele rangeu os dentes. Katsuki consegue sentir sua mandíbula tremendo de tanta… Raiva? Confusão? Medo? Ele não sabe identificar, talvez seja até os três ao mesmo tempo. “É isso que você queria ouvir? Hein?! Eu não sei o que fazer, velha bruxa. Eu. Não. Sei.” Katsuki grita enquanto olha diretamente nos olhos de sua mãe, ele estava guardando isso a muito tempo, ele precisava falar isso em voz alta, pelo menos uma vez.

Mitsuki olhou para seu filho com os olhos agora arregalados. Ela já tinha visto Katsuki em muitas situações, em todas na verdade. Ela é sua mãe, afinal! Mas… Isso? Isso ela nunca tinha visto. Nunca de forma tão solta e verdadeira pelo menos. Ele sempre foi orgulhoso, e preferiria sofrer do que liberar seus sentimentos e externalizar ele de formas minimamente saudáveis. Sua forma de externalizar era treinar, lutar, se esforçar para ser o melhor, para estar no primeiro lugar futuramente. Mitsuki não conseguiu dizer nada vendo isso, ela apenas ficou em silêncio. Ela conseguia sentir em seu coração que Katsuki ainda tinha mais para falar. Muito mais.

“E-eu… eu per-” Katsuki tentou falar a palavra, mas ele não conseguia direito. Ele nunca admitia derrotas. Nunca, nunca, nunca.

Foda-se.

Vou falar essa merda de uma vez.

“E-u… Eu perdi meus poderes. Tudo que me fazia forte. Especial.” Katsuki tentou parar de falar tudo isso, mas ele não conseguia mais. Ele começou isso, e agora ele precisava terminar.

“Você consegue entender essa merda, velha bruxa?! Eu não sou mais especial. Eu sou… só mais um.” A voz dele vacila no final. Baixa. Como se estivesse desmoronando de dentro pra fora. Ele não tinha mais forças para guardar tudo isso. “Tudo que eu era… tudo… foi construído em volta dos meus poderes.” Ele respira com dificuldade. “Como eu vou viver sem isso…? Como eu vou me olhar no espelho e ainda me reconhecer…?”

Mitsuki não tinha uma resposta para isso. Não uma resposta que alegraria seu filho. Por um momento, ela conseguiu ver… água nos seus olhos? Ele estava se segurando para não chorar? O seu Katsuki? Isso é… novo, muito novo. Ela nunca pensou que o veria chorar depois… daquilo. Mas isso faz muito tempo, anos na verdade. As coisas podem ter mudado… as coisas definitivamente mudaram. Mitsuki consegue ver melhor o brilho nos olhos de seu filho agora. Pequeno. Aquele brilho que vem antes da queda.

“Sem minhas explosões… o que sobrou de mim? Me diz, velha. Me diz… quem eu sou sem meus poderes?” Ele aperta os olhos, como se isso fosse barrar a água que se acumula ali. Uma respiração trêmula escapa. Merda… eu não vou chorar, eu me recuso a isso. “É isso que eu sou agora… um nada. Um inútil. Um… De-” Ele engole a palavra, mas ela já foi pensada. Já foi sentida. Deku. Ele estava prestes a se chamar de Deku.

A comparação o atinge mais que um soco no estômago. Pensando nisso agora, Katsuki percebe que as coisas realmente se inventaram. Antes, ele estava no topo, tinha o melhor poder, tinha o futuro garantido, a vida feita, tinha tudo. E Deku estava lá embaixo, era o merdinha inútil que não tinha nada, era quem não tinha individualidade, quem não tinha utilidade para o mundo. Agora, tudo virou ao contrário. E o pior… ele não consegue odiar isso. Não de verdade. Katsuki não consegue dizer que não merece isso. Ele merece.

Katsuki não é idiota. Ele sabe que o que ele fez foi errado, ele sempre soube disso. Para ser totalmente sincero, ele não se importava muito com Deku, pelo menos no início. Ele tinha muita raiva guardada, e muitas outras questões para resolver. E Deku foi o infeliz que teve o azar de despertar todas as suas inseguranças, ele só apareceu no lugar errado e na hora errado, e isso foi o suficiente para Katsuki fazer o que fez. Tantas e tantas vezes.

Deku…

Ele é tudo que eu nunca fui.

—Ainda bem que você sabe disso.

Deku tinha um coração de ouro, ele pulava no perigo para salvar quem quer que fosse, ele não se importava com o passado das pessoas, ele focava em salvar elas, e nada mais. Katsuki sabia que não importava quem estivesse preso no vilão de lodo, Deku ajudaria mesmo assim, ele iria correndo mesmo sem poderes independente de quem estivesse ali. Ele sim era um herói de verdade, ele pode – ainda – não ter a postura de um herói, pode não falar como um herói, mas, ele tem ações de um herói. E isso já é muito mais do que Katsuki sonharia em ser um dia.

Antes que Katsuki chegasse em pensamentos perigosos, e afundasse de vez, ele sente. O quê? Ele abre os olhos, e vê algo que nunca pensou que veria. Um braço, depois o outro. Apertando seu corpo com força. Sua mãe estava o abraçando.

“Nunca mais!” A voz da mãe treme, reprimida, sufocada. “Nunca mais diga isso, seu moleque estúpido…” Mitsuki fala enquanto lágrimas começam a cair de seus olhos, que agora estavam fechados. O abraço dela é apertado demais, desesperado. Como se seu filho fosse sumir se ela soltasse.

Katsuki estava a centímetros de chorar. Isso foi inesperado, muito mais do que qualquer coisa que ele pudesse esperar para essa conversa em particular. Mas, ele estava se segurando, e vai continuar assim, ele não vai chorar, não importa o que aconteça. Ele não vai deixar essas malditas lágrimas ganharem, não ontem, não hoje, e não no futu-

—?!

“Você é Katsuki Bakugou. Você… você é meu filho! E isso… isso é mais do que o suficiente para você ser a pessoa mais especial do mundo para mim. Não importa o caminho que você escolher, se você vai ficar na maldita U.A ou não, não importa. Você sempre será meu filho! E isso já é tudo que você precisa ser… não esqueça disso… moleque.”

A última frase foi uma chave girando dentro dele. Ele fecha os olhos. Uma, duas lágrimas. Depois muitas, e enfim… ele se entrega. Katsuki abraça sua mãe de volta, fraco no começo, depois com força, a mesma força dela… da sua mãe. Ele chora, pela primeira vez em muitos anos. Não é só pelos poderes, é por tudo. Pelo passado, pela culpa, pela raiva… por ainda ser amado mesmo depois de… tudo isso. Sem pensar muito agora, ele enterra o rosto no ombro da mãe, apertando os olhos com ainda mais força. “Eu… eu não mereço todo esse amor.” Ele fala em meio a soluços, sem se segurar mais. “Eu não mereço…”

Mitsuki coloca a mão nas costas da cabeça de seu filho, em seu cabelo, apertando contra seu ombro levemente. “Eu sou sua mãe, você não precisa merecer o meu amor, você sempre terá ele, aceite isso… filho. Independente do que aconteceu ou vai acontecer, eu sempre irei te amar, sempre

Isso parece quebrar Katsuki ainda mais, porque ele se aperta mais ainda no abraço. Os soluços ficaram maiores, mais extensos, e as lágrimas fluíam em maior quantidade, livremente. E assim eles ficam, juntos. Abraçados, mais unidos do que nunca. A última vez que eles tiveram um momento assim foi a… tantos anos. Katsuki ainda era uma criança naquela época.

— — — — — — — — — — — — — — — —

“Mãe…” O pequeno Katsuki, ainda criança, falava enquanto lágrimas grandes e volumosas caíam de seus olhos e molhavam o chão. “Eu realmente sou um… monstro?” Ele perguntava enquanto segurava uma cartinha pequena nas mãos. Carta essa que ele nunca conseguiu entregar a quem deveria receber.

Mitsuki correu para abraçá-lo, ajoelhando-se no chão para ficar no nível de sua altura. “Não! Você não é um monstro, meu filho.” Ela abraçou ele com força, sem deixar espaço para perguntas. “Não se preocupe…” Mitsuki olhou para a porta aberta atrás de Katsuki, e a frente dela. Ela tinha coisas a resolver. Muitas. “Eu vou resolver isso meu filho. Você não é um monstro por conta disso… nunca seria.”

— — — — — — — — — — — — — — — —

Mitsuki balançou um pouco a cabeça, ela não pode pensar no passado agora. Ela tem que focar no agora, no presente. Ela tem um filho com medo na frente dela, e ela precisa dedicar toda a sua atenção para isso agora, não para memórias antigas.

Alguns minutos se passaram, e eles não se moveram e nem falaram nada. Apenas continuam ali, juntos, parados e abraçados. Os soluços já tinham diminuído consideravelmente nesse ponto. Ambos tinham chorado mais do que nunca antes. Eles nunca foram o tipo de mãe e filho super próximos antes, mesmo sendo tão parecidos, então isso é algo muito recente. Mas, é uma coisa boa com certeza.

Então, quebrando o silêncio confortável, Katsuki fala algo baixinho e com a voz um pouco rouca. “Obrigado…” Logo, antes que Mitsuki pudesse perceber, ela sente o corpo de seu filho descansando sobre o seu. Ela ficou surpresa com o peso extra sobre si mesma, mas não o repreendeu por isso, apenas sentou-se devagar no sofá, com Katsuki agora sobre si. Ele deitou no sofá completamente, com a cabeça agora confortavelmente no colo de sua mãe.

Mitsuki relaxa um pouco com isso, e murmura algo para seu filho, que já estava quase adormecendo agora. “Durma, filho. Você vai precisar…” Ela começa a alisar o cabelo dele com a mão, bem levemente, como se tentasse lhe passar uma sensação de conforto através do toque. Com os olhos já fechados e sonolentos, Katsuki vai rapidamente adormecendo.

Agora, Mitsuki consegue ver o peito de seu filho subindo e descendo, inflando e esvaziando em um ritmo calmo e constante. A respiração pesada, mas tranquila, denunciava que Katsuki havia finalmente adormecido. Ela ficou ali por um instante, apenas observando-o em silêncio. Faz anos que ela não o vê assim, tão vulnerável, tão calmo. Mesmo quando era pequeno, Katsuki sempre foi agitado, cheio de energia, sempre querendo provar algo para o mundo… ou para si mesmo.

Mitsuki passou os olhos por seu rosto. As pálpebras inchadas pelas lágrimas, os cílios ainda úmidos, a expressão serena, quase infantil. Katsuki, deitado em seu colo. Ele parecia tão longe do garoto explosivo que todos conheciam, ou, achavam que conheciam. Ela tocou de leve sua bochecha com as costas dos dedos, como se tentasse confirmar que aquilo era real. Foi… estranho, tentar conciliar esse Katsuki que sempre foi tão forte e fechado, agora se permitindo descansar nos braços dela.

Mas, ao mesmo tempo que foi estranho, também foi… bom, muito bom. Mitsuki sente que recriou uma conexão com seu filho. Conexão essa que eles tinham parado de ter a muito tempo. Mãe e filho, se aproximando novamente. Ela sentia saudades disso na verdade, muito mais saudades do que ela estaria disposta a admitir.

Um pequeno suspiro escapou de seus lábios. Ela não sabia se era alívio ou dor, talvez os dois. Mitsuki sentiu os olhos arderem novamente, mas conteve as lágrimas. Não queria chorar mais. Pelo menos não agora. Tudo o que ela queria naquele momento era guardar aquela imagem em sua memória. Katsuki adormecido, seguro, acolhido.

Ela se inclinou um pouco, abaixando o rosto até os cabelos dele e depositou um beijo leve ali. “Meu menino…” Murmurou, com a voz contida. Seu coração doía vendo seu garoto naquele estado, mas havia algo de reconfortante naquela cena. Pela primeira vez em muito tempo, ela sentia que podia realmente proteger seu filho, não das batalhas lá fora, afinal Mitsuki não é uma lutadora no sentido físico da coisa. Mas, ela podia proteger seu filho dos infortúnios de sua própria mente, ajudá-lo a superar… tudo.

Mitsuki também estava a minutos de adormecer ali mesmo, mas, de repente. Ding dong. A campainha toca. Sério…? Quem poderia estar aqui nesse horário?! Já é praticamente noite… tomara que esse barulho não acorde o Katsuki. Mitsuki pensa enquanto ergue com cuidado a cabeça de seu filho com a mão. Ela se levanta, pegando um travesseiro que tinha ali perto e o colocando com cuidado logo abaixo da cabeça de seu filho, deixando-o apoiado nele. Katsuki fica dormindo ali no sofá.

Já fora do sofá, Mitsuki vai até a porta, não abrindo. Ela antes quer saber quem estava ali. “Quem é?” Ela pergunta, a voz alta o suficiente pra quem quer que estivesse ali conseguir ouvir, porém baixo o bastante para não acordar seu filho.

“É da U.A, me chamo Shouta Aizawa. Sou o principal professor de Katsuki Bakugou. Vim falar com a responsável dele.” Os olhos de Mitsuki se arregalaram levemente ouvindo isso. U.A? Mas o Katsuki me disse que eles só viriam amanhã… O que ele faz aqui? Seu olhar imediatamente se tornou mais duro, desconfiado. Querendo respostas, e com uma carranca no rosto visível agora, ela abre a porta, revelando o herói por trás dela.

Aizawa estava com o traje de sempre – o uniforme escuro, a faixa frouxamente enrolada no pescoço – o olhar cansado também estava presente. À primeira vista, parecia o mesmo de sempre. Mas algo ali… estava diferente. Seus olhos, mesmo meio cobertos pelos cabelos mal arrumados, denunciavam um cansaço maior que o habitual. Um tipo de exaustão que não era só física.

“O que você faz aqui? Meu filho me disse que você só viria amanhã com a papelada.” A voz de Mitsuki saiu firme, carregada de desconfiança. Ela cruzou os braços e tentou lançar o olhar afiado de sempre, o que costumava deixar muita gente desconfortável. Aizawa não pareceu reagir muito, mas ele reparou. Os olhos dela estavam vermelhos, visivelmente vermelhos, por causa das lágrimas recentes. Aizawa notou isso, e escolheu não comentar.

“Dada a situação, nós… aceleramos as coisas.” Aizawa levantou uma pasta preta com a mão, num gesto calmo.. “Aqui estão os documentos oficializando o acordo que fizemos com seu filho mais cedo. Posso entrar para discutirmos sobre?”

Mitsuki analisou o homem de cima a baixo com os olhos. Dos pés à cabeça, sem disfarçar. Havia algo no jeito dele que a deixava inquieta. Esse olhar, essa postura cansada, essa ausência de reação… Mitsuki não confiava nele. E Aizawa sabia disso.

E como Aizawa poderia culpá-la? A U.A falhou com o filho dela. Deixaram que a Liga o sequestrasse, não conseguiram protegê-lo. E no fim, isso resultou em seu filho voltando para casa destruído e sem poderes. Como ela confiaria de novo? Como ela olharia para Aizawa – para qualquer um da U.A. – sem sentir raiva? Aizawa sustentou o olhar dela. Não se defendeu. Porque, em partes, ela estava certa nisso. Ela está me julgando. Ela tem esse direito.

“Humph. Entre e me siga.” Mitsuki respondeu, abrindo espaço na porta. Seu tom era ríspido, mas controlado. Ela não gritava – ainda – mas havia tensão em cada palavra. Aizawa entrou com um aceno quase imperceptível e fechou a porta atrás de si. “Vamos até a cozinha, a sala está ocupada no momento.” Mitsuki fala, enquanto acena para ele a seguir.

Sem esperar resposta, Mitsuki começou a caminhar pela casa, e Aizawa a seguiu em silêncio. Os pés dela tocavam o chão com firmeza. Os ombros, que antes estavam baixos após o choro com o filho, agora estavam erguidos e tensos. Ela estava em guarda, completamente alerta. E Aizawa sentiu isso. Cada passo que dava atrás dela parecia entrar em território hostil. Não havia gritos, nem acusações… mas o julgamento estava ali. Vivo, pulsante e silencioso.

Assim que eles chegaram na sala, a primeira coisa que Aizawa focou seu olhar foi em Katsuki. Seu aluno raivoso, irritado e explosivo… que aparentemente estava dormindo pacificamente. Ele notou as lágrimas secas no seu rosto, a expressão quase infantil dormindo, e isso tudo combinado com os olhos vermelhos de Mitsuki. Eles estavam… chorando? Os Bakugou…? Chorando? Os olhos de Aizawa se arregalaram com isso, ele não estava esperando por isso. A mãe chorando? Sim, isso era compreensível. Mas Katsuki? O Katsuki que ele conhecia? Não. Isso não.

“Ele está… bem?” Aizawa pergunta de forma meio hesitante, girando levemente a cabeça para direção de Mitsuki, que também estava olhando para Katsuki assim que entrou na sala.

“Meu filho foi capturado por vilões, quase perdeu a vida, perdeu seus poderes, e agora aceitou um acordo impossível para continuar no seu tão ‘’renomado” colégio” Mitsuki enfatizou bem as aspas imaginárias na palavra renomado, gesticulando com as mãos. Ela realmente perdeu a fé na U.A. “Como você acha que ele está? Senhor?” A voz de Mitsuki saiu dura, rude, e áspera.

“...Perdão por perguntar isso.” Aizawa realmente não quer tentar se defender disso. Se fosse totalmente sincero, ele acha que Nezu merecia ouvir essas palavras também. Mas, nesta hora, neste minuto e neste segundo, quem está representando a U.A é ele, então ele precisa aguentar isso, precisa lidar com isso.

Mitsuki suspira ouvindo isso, ela quer gritar, xingar, acabar completamente com o espírito desse homem cansado na sua frente. Mas não, ela não pode, por seu filho ela tem que se manter pacífica nessa conversa… o máximo possível para um Bakugou, é claro. Ela gesticula para Aizawa a seguir, a cozinha estava logo à frente. A diferença de espaço entre a sala e a cozinha não era tanto, mas, já deve garantir que eles consigam se sentar e ter uma conversa sem o risco de acordar Katsuki.

Poucos segundos após isso, eles estão na cozinha. Mitsuki vai até a geladeira e pega um frasco com água, servindo um copo d’água para si mesma. Ela não pega nada para Aizawa, e se senta na cadeira que está na ponta da mesa de jantar. Aizawa decide se sentar na outra ponta, mantendo a distância respeitosa – por parte dele mesmo – entre eles.

Mitsuki não permite que isso se torne um silêncio, e logo em seguida já pergunta. “Me mostre e explique o documento, não vou assinar nada sem antes ler.”

“Aqui está.” Aizawa joga a pasta na mesa, deixando-a próxima de Mitsuki. Enquanto ela abre a pasta e pega as folhas, ele decide explicar tudo verbalmente também. “O acordo é o seguinte. Daqui a quatorze dias – contando a partir de amanhã – eu e seu filho iremos ter uma batalha como teste, eu contra ele. Teremos como platéia os outros principais professores – e heróis – da U.A” Enquanto ele fala, Mitsuki vai lendo o documento em suas mãos, eventualmente tomando um ou dois goles de seu copo d’água. “O resultado dependerá do desempenho dele nessa luta. Se ele conseguir impressionar os outros e a mim, ele continuará na U.A. Se não, ele estará oficialmente expulso.”

Após ele terminar de falar, Mitsuki continua lendo o documento, querendo saber todos os mínimos detalhes. Aizawa consegue ver ela passando o olho por cada centímetro do papel, em cada canto possível. “Presumo que será permitido o uso de equipamentos, correto? Para compensar a falta de individualidade.” Ela já havia lido a parte do documento que falava disso, mas, ela queria saber diretamente dele.

“Sim, será permitido o uso de qualquer equipamento extra.”

Mitsuki dá um suspiro com isso. Bom, pelo menos isso. Ela ainda achava todo esse teste algo impossível de se passar. Mas, pelo menos eles não eram completamente insanos, e deixariam Katsuki usar equipamentos e apetrechos extras.

“Desde que os equipamentos não sejam letais nem para mim e nem para o seu filho. Tudo que não for letal será permitido.” Aizawa termina a frase, querendo deixar claro os limites do que será permitido trazer para a batalha.

Letalidade?! E o que seria mais letal do que uma individualidade? Não faz sentido permitirem a quirk dos outros alunos nesses testes, mas bloquearem equipamentos letais. Com isso em mente, as mãos de Mitsuki apertam um pouco o papel em suas mãos. Ela estava se segurando para não amassar aquele papel. Ela queria externalizar esses pensamentos, esses sentimentos. Queria poder gritar, xingar e falar o quanto tudo aquilo era extremamente injusto com seu filho.

Mitsuki fica em silêncio ouvindo isso, e decide continuar lendo o documento, tomando mais um gole d’água. Finalmente, ela chega na última parte, vendo ali a linha onde sua assinatura viria. Ela fica um tempo ali, só observando e pensando em tudo aquilo. Ela pensou muito se deveria assinar aquilo ou não, ela não achava que a U.A merecia seu filho depois de tudo isso, mas… Mitsuki sabia que é isso que Katsuki quer, ele quer ficar nesse colégio, ele quer ser um herói e superar All Might, é o que ele sempre quis. E, não vai ser ela que vai acabar com esse sonho, ela prometeu apoiar o seu filho, e é isso que ela faria.

Sem pensar muito mais, ela pega uma caneta que tinha ali perto, e assina o documento. A forma como ela pega a caneta é pesada, sem paciência, assinando rapidamente e sem um pingo de delicadeza ou formalidade. Em seguida ela pega o papel, coloca na pasta, e joga novamente para o lado da mesa onde Aizawa está.

“Pronto, aí está, pode ir embora agora.” Mitsuki fala sem rodeios, enquanto se levanta para deixar o seu copo d’água agora vazio na pia.

Aizawa pega um dos papéis que tinha na pasta e deixa na mesa, antes de se levantar. Mitsuki reconhece aquele papel em específico. Era o papel falando das regras do acordo, e o que Katsuki podia ou não levar para a batalha. “Vocês podem ficar com esse papel, nós só precisamos ficar com a assinatura.”

“Ótimo, agora, sinta-se livre para ir embora.” Mitsuki fala sem nem olhar nos olhos do homem. Ela estava lavando o copo, e dando mais importância para o objeto do que para Aizawa agora.

Aizawa solta um suspiro ouvindo isso. Não houve nenhum grito ou violência física desde que ele entrou nessa casa, então de certa forma tudo se resolveu de forma pacífica, e sem que ninguém se machucasse. E normalmente ele consideraria isso uma vitória. Mas, toda essa hostilidade no ambiente, a dureza na voz de Mitsuki, toda essa… tensão. Essa situação está conseguindo ir de mal a pior em uma velocidade impressionante.

“A U.A, nós – eu – sentimos muito pelo que aconteceu. Esperamos qu-” Antes que Aizawa pudesse continuar falando, um crack pode ser ouvido de onde Mitsuki estava. O copo de vidro. Mitsuki quebrou o copo que estava lavando com as mãos, e quando ela virou para ficar cara a cara com Aizawa, ele pôde ver as veias quase saltando no rosto dela. Seja o que for, deixou ela muito mais irritada do que antes.

Mitsuki andou com passos pesados até Aizawa, diminuindo a distância entre eles consideravelmente, invadindo o tão prezado espaço pessoal dele. “Escuta aqui, seu herói miserável de terceira categoria.” A voz de Mitsuki sai como se fosse veneno, afiada e cheia de um ódio preso na garganta. Mas ao mesmo tempo, baixa e meio contida. Ela não estava gritando, mas mesmo assim a voz se mantinha firme e resoluta. “Pare de fingir que se importa com meu filho.”

O olhar de Mitsuki fica mais afiado do que nunca com isso. Seus olhos se fixam nos de Aizawa, sem piscar por um segundo sequer. Sua mandíbula treme levemente e seus punhos se fecham com uma força impressionante, deixando as pontas dos dedos brancas de tão forte que ela está apertando. “Você não se importa com meu filho, vamos deixar isso muito claro. Você não está aqui porque se importa com ele, e não está aqui pra pedir desculpas a ele por conta do fracasso da U.A em protegê-lo. Você está aqui por conta de um documento, por conta de um pedaço de papel.” Com isso, Mitsuki se aproxima ainda mais de Aizawa, para falar diretamente no ouvido dele agora. “Por isso, eu repito. Não finja que se importa com o meu garoto, com o meu filho.”

Aizawa é um herói experiente, ele já enfrentou muitos vilões em sua vida, e esteve cara a cara com muitos que fariam uma grande parte dos heróis saírem correndo de medo. Logo, ele não se assusta fácil, ele não se assustou com a fala da mãe de seu aluno. Ele sustentou o olhar, também sem piscar nenhuma vez, absorvendo cada fala. Visivelmente, parecia que ele não deixou isso o afetar. Mas quem o conhece saberia ver. O olhar dele ficou um pouco mais caído ouvindo aquilo tudo, e sua postura geral parecia mais tensa agora. Eu me importo, senhora. Muito, com todos os meus alunos, incluindo o seu filho. Aizawa queria poder falar isso, mas, ele sabia quando tinha que recuar, e a mãe na frente dele não estava com a cara de quem aceitaria o que ele tinha a dizer.

“Saia. Saia da minha casa agora!” Mitsuki enfatiza a última palavra, aproveitando que está falando a poucos centímetros do ouvido do homem para elevar um pouco a voz já naturalmente alta.

Aizawa não tentou lutar contra isso, ele apenas se virou e começou a andar em direção a porta. Mitsuki o acompanha de perto, querendo garantir a sua saída. Já na porta, Aizawa se vira para sussurrar algo antes de ir embora. “Diga a ele que desejei bo-” Mitsuki não dá tempo dele falar mais nada, e só bate a porta na cara do coitado.

Com isso Mitsuki solta um suspiro alto, finalmente conseguindo relaxar um pouco. Seus ombros caem e ficam menos tensos, como se uma pedra gigante estivesse saído de suas costas. Ela volta para sala, e vê seu filho ali, dormindo em paz. Contente com a visão que está vendo, Mitsuki pega um cobertor e cobre seu filho. Se aproximando levemente dele, ela fala baixinho para ele. “Durma bem.” E deposita um beijo leve em seu cabelo, como antes tinha feito também.

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Katsuki sentiu a visão retornando lentamente. E instintivamente ele passou os dedos nos olhos, sentido… remela nos olhos? Mas que merda é essa? Não é que isso não fosse comum, mas nessa quantidade? Isso não aconteceria a não ser que… Oh, merda. Katsuki então começa a se lembrar de tudo que aconteceu, da “conversa”, do desabafo, do choro, das lágrimas, das palavras de carinho… Imediatamente, ele sente o rosto avermelhar e aquecer.

Isso… realmente aconteceu?!

—Infelizmente.

No fundo, ele esperava que tudo aquilo tivesse sido um sonho. Um sonho bom demais para ser realidade… a parte que sua mãe aparece pelo menos. Mas, agora, ele consegue se lembrar de tudo, de cada detalhe.

Minha mãe… agindo daquele jeito?

Mas por quê?

—Você é burro?

Katsuki sabia o porquê. A mãe dele o ama, e sempre vai amar. Agora, ele tinha noção disso. Porém, ele ainda não consegue entender o porquê alguém seria assim com ele, mesmo sendo… sua mãe.

Já cansado de estar deitado, Katsuki pega o forro e joga ele pro lado, se sentando no sofá, de frente pra mesinha que tinha ali. Passando os olhos no ambiente, tudo parecia estar normal… É de madrugada – talvez uma ou duas da manhã – e Katsuki podia perceber isso pela lua lá fora, a escuridão, e o silêncio absoluto que pairava por tudo. E isso é bom, ele gosta do silêncio, ele precisa disso depois do dia que teve.

Na mesa da sala frente ao sofá, Katsuki também consegue ver dois papéis, um maior parecendo um documento, e outro menor, em que ele reconhece a letra de sua mãe ali. Pegando o de sua mãe, ele rapidamente lê o que está escrito.

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“Seu professor veio aqui mais cedo, ele trouxe os documentos sobre o teste de batalha que você vai fazer daqui a duas semanas contra ele. No papel tá as regras tudo moleque, lê essa desgraça com cuidado em!!! Se precisar de algo vou estar lá em cima trabalhando”

— — — — — — — — — — — — — — — —

HUM?! O aizawa veio mais cedo pra cá?

Mas ele falou que vinha amanhã… que merda estranha.

Katsuki tentou não pensar muito nisso, e focou sua atenção imediatamente no outro papel. Ele o pegou com cuidado considerável, esse era o documento com todas as regras que ele tinha que seguir, ele não vai perder isso. Então, ele começa a ler do começo ao fim, cada parte.

Em geral, as regras são tudo que se poderia esperar. Não são diferentes das regras normais que ele normalmente era obrigado a seguir quando tinha treinamentos na U.A. O local da luta também era um que ele lembrava. A praça central da U.A em? Eu me lembro disso. Foi onde a gente lutou contra os professores antes daquela merda de acampamento. Mas, uma regra chamou sua atenção. Equipamentos não letais permitidos? Ele deu um foco especial nessa parte. Pelo visto, todo e qualquer equipamento que não seja letal em sua natureza pode ser usado.

Então, eu não poderia usar uma katana, mas poderia usar uma katana de madeira?

Tsk… que merda chata.

—Cada dia mais hipócrita. Como eu gosto!

A parte dos equipamentos especificamente não letais foi uma merda, mas, pelo menos, ele poderia usar equipamentos. Isso já é melhor do que nada, e, essa também foi a última regra do documento. Humph… então é só isso? Parece as mesmas regras do treinamento contra os professores. Ao menos, Katsuki já sabia o que esperar. Ele sabe como Aizawa luta, e conhece o ambiente em que eles lutarão, ele tem que usar isso ao seu favor.

Guardando o papel novamente na mesa, Katsuki se levanta do sofá – se alongando levemente – ele quer aproveitar a madrugada para sair um pouco, andar nesse silêncio e escuridão sempre o ajudou a botar as coisas em ordem. Mas, antes disso, ele precisa checar algo… sua mãe. Ele a conhecia, e sabia que ele provavelmente ficou trabalhando até tarde depois que ele dormiu no… colo dela.

Tsk…! Ainda não acredito que aquela merda aconteceu.

—Somos dois.

Ele pegou o cobertor do sofá e o colocou nas costas, andando até o quarto dela, no outro lado da casa. Abrindo a porta, ele vê o que suspeitava, sua mãe estava sentada na cadeira frente a uma pequena mesa, onde seu laptop estava aberto em algum aplicativo estranho de moda que Katsuki não soube reconhecer. Mitsuki estava com a cabeça sobre os braços de bruços, dormindo ali mesmo na mesa, é possível até ver um pouco de baba escapando de sua boca.

Vendo isso, Katsuki dá um suspiro pesado. Ele não gostava quando sua mãe trabalhava até tão tarde assim. Pelo que sabia, ela estava fazendo alguns freelas fazendo roupas de moda, pra conseguir algum dinheiro extra além do trabalho dela. Eles não precisam necessariamente disso, mas, isso ajuda a não passar o mês beirando no vermelho. Depois que ela se separou, eles tiveram que mudar de casa – para uma consideravelmente menor – em um lugar pior, mas com o aluguel bem menor também.

Acho que esse é o preço que tivemos que pagar no fim para parar de morar com aquele merda. Masaru traiu Mitsuki faz mais de um ano, foi com alguma secretaria qualquer pelo que ele sabe. Katsuki realmente não se importa com quem seja, ele vai odiar a mulher – ou homem, nunca se sabe – da mesma forma. No início foi… complicado. O processo de divórcio foi pesado, e viver só Katsuki e a mãe na casa, depois de tanto tempo acostumado com ter o pai ali. Mas, eles conseguiram se acostumar, e hoje em dia eles até estão mais estáveis mentalmente do que antes por conta disso, eles vem se aproximando lentamente desde o dia que souberam da traição. Não era nada muito perceptível, mas hoje isso se provou… servir de algo. Eles – filho e mãe – tiveram um bom momento ali.

O lado ruim absoluto de tudo isso? Dinheiro. Masaru ganhava consideravelmente mais do que Mitsuki com seu trabalho. E quando Masaru finalmente saiu de suas vidas a mais de um ano atrás, a renda caiu por mais da metade. Eles tiveram que se mudar da antiga casa – a que ficava perto dos Midoriya – e ir para outra muito menor, em um bairro pior, e tiveram que diminuir bastante o custo de vida. A casa não era ruim, mas comparada à antiga? Era absolutamente pior, tinha só um andar, sem porão ou sótão. Um único banheiro, dois quartos, uma cozinha e uma sala. Algo bem básico para duas pessoas.

Katsuki até vendeu muitas de suas coisas no início quando eles se mudaram, para ajudar a mãe. Hoje em dia, seu quarto já tem bem menos coisas do All Might por exemplo, ele vendeu boa parte dos bonecos. E… merda, ele não queria se lembrar do antigo herói número um agora.

All Might… ele perdeu o poder, porque eu fui muito fraco e não pude escapar daquela merda de Liga.

Que inferno!

Merda, merda, merda!

—Virou masoquista agora é?

Katsuki balançou a cabeça repetidas vezes, ele não podia se afundar em culpa logo agora.

Focando sua mente no presente e a atenção em sua mãe novamente, ele desligou o laptop, fechando-o. E pegou o cobertor de suas costas para cobrir Mitsuki. Katsuki arrumou levemente o cobertor, para não cobrir a cabeça dela, mas sim o resto do corpo. Com cuidado, ele ajeitou o cobertor, garantindo que ela não ficasse quente demais também, já que estava sentada em uma cadeira, e não deitada na cama.

Após terminar, ele se afasta um pouco, olhando para o resultado. Sua mãe ali, dormindo pacificamente após trabalhar tanto… ele precisa dizer algo, mesmo que ela não ouça agora. “...” Mas o que falar? Ele queria ajudar sua mãe… mas como? “Eu vou te ajudar, mãe, eu juro.” Katsuki falou, botando a mão levemente em suas costas, como se quisesse apoiá-la após tudo que fez por ele. Todos sabem, ele nunca chama Mitsuki de mãe na grande maioria das vezes, nem quando eles estão sozinhos. Mas agora? Ele não conseguia chamar ela de “Velha bruxa” depois do que aconteceu, não hoje.

Ele saiu do quarto sem fazer barulho, fechando a porta com um click rápido. E caminhando até a sala. Antes, ele passa no seu quarto para pegar um casaco, afinal deve estar frio lá fora, e ele não quer ficar resfriado logo nessa fatídica semana. Em seguida, ele pega um papel e escreve rapidamente que ele vai sair, e pra mãe dele não esperar ele voltar. Vou colar isso na geladeira, ela deve ver quando acordar. Colando o papel na geladeira, ele vai em direção a porta, abrindo e fechando atrás de si.

No segundo em que saiu, ele sente o vento nos cabelos, nos dedos, e em todo seu corpo. Seus lábios imediatamente se secam, e instintivamente seu corpo se encolhe sobre si.

Merda! Que frio todo é esse?

Nós ainda estamos longe da desgraça do inverno!

—Fique agradecido! Talvez o vento consiga jogar para longe seus pecados.

—Olha o lado bom aí.

Que Katsuki não gostava do frio é conhecimento geral. Mas, isso era em grande parte por conta de seu antigo poder. Ele precisava suar para usar suas explosões em completa potência, e o frio não ajudava nisso, pelo contrário, piorava tudo. Ou seja, ele era mais fraco no inverno. Antes. Hoje em dia isso não faria tanta diferença.

Ele começa a andar pela rua, sem nenhum objetivo em específico. Katsuki só precisava… andar. Fazer seu corpo se movimentar, ter tempo para pensar em tudo que vai acontecer. Certo… eu posso usar equipamentos então né? Mas o que raios eu usaria?! Eu nunca precisei de equipamentos fora das minhas antigas luvas. Isso é verdade, todo e qualquer equipamento que ele usava girava em torno de seu poder, sem as explosões, tudo aquilo se tornava inútil. Eu não sei usar nenhuma arma… e eu sinto que ir pra essa luta de mãos nuas e só uma arte marcial qualquer não vai funcionar, não com o Aizawa. Ele passa o olhar na rua enquanto pensa, tentando ver se algo chama sua atenção, talvez alguma inspiração, qualquer coisa. Mas nada.

Tsk! Que merda… como eu vou fazer isso?

Só duas semanas é pouco tempo demais.

—Eu acho é muito viu. Mas alguém pediu minha opinião? Acho que não.

Katsuki fica pensando enquanto anda pela rua, que, por conta da madrugada, estava incrivelmente vazia. Ele até acha isso meio estranho na verdade, sim, deve ser cerca duas da manhã agora. Mas ainda costuma ter pelo menos alguém nesse horário além dele, não era para estar tão vazio… Katsuki anda um pouco mais agora com isso em mente, até estar ao lado de um beco de pura escuridão, não dava pra ver nem um palmo da sua frente. Ele olha um pouco para o beco, e logo começa a andar para frente, ignorando aquele monte de escuridão.

Mas, antes que ele pudesse seguir em frente… “GRRR!” Katsuki se virou imediatamente para o beco, ficando em sua antiga posição de combate por puro instinto e memória muscular.

Que merda é essa?!

Isso parece um… rosnado? Talvez de um cachorro?

—....Vou nem falar é nada.

Katsuki não é burro, ele não vai arriscar chamar atenção de seja lá o que estiver ali, ainda mais no seu estado atual. Devagar, ele começa a ir para trás, querendo sair do raio de seja lá o que estiver ali.

Só que nunca que as coisas seriam tão fáceis assim de resolver para Katsuki. Assim que o garoto começou a devagar ir para trás, algo pulou na frente dele, vindo do beco. Agora, Katsuki conseguia ver direitinho quem estava fazendo aquele barulho, e puta merda. Ele nunca viu algo assim antes na vida. O bicho – ou monstro, Katsuki realmente não sabia como chamar aquilo que estava na sua frente – tinha dois chifres afiados bem onde ficariam os cílios de alguém. Os olhos eram preto profundos, tanto a pupila quanto o resto. Ele não conseguia ver o resto do corpo direito, mas ele tinha certeza que o monstro também tinha garras. Mas, não foi isso que impressionou Katsuki, o que impressionou foi o sangue, o bicho estava coberto de sangue para todo o lado, principalmente na boca. E ele estava sem um dos braços, que estava… Regenerando?! Que porcaria é essa? Ele sabia que existiam individualidades de cura muito fortes, mas nesse nível? “Mas que porr-”

Antes que ele pudesse falar ou fazer qualquer coisa. "CRUNCH!" A criatura se lançou sobre Katsuki em uma velocidade abismal, seus dentes afundaram em sua clavícula com um som úmido e repulsivo. Rasgando toda a carne e músculo que tinha ali.

Katsuki travou. Nenhum músculo respondeu. Ele tentou gritar, mas a mão do monstro já tapava sua boca. Fria. Úmida. Forte demais.

“Ora, ora! Olha o que temos aqui…!” A boca dele estava salivando, e abrindo levemente, Katsuki conseguia ver os dentes afiados dele daqui “Fazia um tempo que eu não devorava uma carne tão jovem assim!”

O monstro fala enquanto começa a empurrar Katsuki para dentro do beco, tapando sua boca em todo o caminho. O – ex – estudante a herói até consegue encontrar alguma coragem para se debater e tentar fugir, mas o monstro – aquilo definitivamente não era um animal – era muito mais forte, e conseguia conter ele sem nenhuma dificuldade.

“Você é persistente em garoto, gosto disso!” O monstro fala isso enquanto aproxima a boca devagar de sua clavícula novamente. “Mas… e se eu fizer isso!” Ele começa a morder a clavícula de Katsuki novamente, agora devorando a carne. Os dentes cada vez mais fundo. Nesse ponto, Bakugou acreditava que iria desmaiar ou morrer de tanta dor.

Será que… é assim que morrerei?

Sem conseguir ser um herói?

Sem conseguir me desculpar daquele… merdinha.

Sem… conseguir ajudar minha mãe?

Ao fundo, é possível ouvir passos leves correndo até eles, uma Katana em mãos. “AHHHHH! Que delicioso!” O monstro fala enquanto degusta da carne de Katsuki, que estava prestes a apagar de tanta dor agora. “Ah… Quero MAIS!”

—....

—Patético.

—Desistindo tão fácil assim?

—Aquele poder levou junto a coragem quando saiu desse corpo, pelo visto.

Antes que o monstro pudesse continuar devorando, Katsuki consegue ver ao fundo… fogo? A cabeça da coisa que o devorava de repente foi cortada. Uma katana… de fogo? Que gera fogo? Antes que ele pudesse pensar mais sobre isso, ele sente sua mente apagando, ele estava… desmaiando? Ou morrendo? Katsuki não saberia dizer.

Logo antes de apagar, ele consegue ver o monstro se desfazendo no ar? E a… pessoa que o salvou – era uma mulher, Katsuki conseguiu perceber – vindo correndo até ele? “Ei! Garoto! Você consegue me ouvir?!”

Katsuki desmaiou.

 

Notes:

Então, tenho que deixar algumas coisas claras aqui. Primeiro, as atualizações dessa fic. Eu vou manter uma atualização de 1 a 2 capítulos por semana. Com um mínimo de 5000 palavras cada. Dica: esperem sempre um capítulo. Eu vou precisar estar beeeeeem animada pra conseguir ter energia e tempo para fazer dois em uma semana ksksksksks.

Eu estou a muito tempo sem escrever, então ainda estou me reacostumando com... tudo isso. Ou seja, pode acontecer de algumas coisas mudarem mais pra frente, também estou estudando bastante sobre escrita, então as coisas podem(e vão, eu espero) melhorar daqui pra frente.

Tenho dois capítulos prontos já, contando com esse, e estou escrevendo o terceiro neste momento que estou lançando isso(Dia 25 de Maio). Como vocês perceberam, eu gosto de capítulos GRANDES. Não posso prometer sempre esses capítulos de 10000+ mas garanto que vou manter todos em 5000+.

Outra coisa, eu mencionei que isso será um crossover entre Boku no Hero Academia e Demon Slayer. Póremmmmm, contudo, todavia, tem algumas ressalvas quanto a tudo isso. Primeiro: eu vou mudar MUITA coisa do sistema de poderes, e vou seguir por um caminho completamente diferente de Kimetsu, e adicionar muitas coisas que vem da minha cabecinha. Isso tudo será mais explicado no segundo capítulo, a base toda ainda é igual a de Kimetsu, então não precisam se preocupar.

Acho que não preciso explicar que vão ter personagens originais meus aqui né? Acho que tá bem óbvio T-T. E, em geral, meu Katsuki também vai ser um tiiiico OC. Como deu pra ver, alterei um pouco da personalidade dele aqui, e ele evoluirá com o tempo.

Nesses primeiros caps, os personagens de Bnha podem parecer meio apagados, mas com o tempo eles vão aparecer MUIIIITO mais, prometo- eu vou tentar pelo menos kskskskks. Lembrem-se que a história é centrada em Katsuki, então né-

E, eu vou tentar diminuir o tamanho dos parágrafos nos próximos caps, só pra avisar… as vezes acho que fiz os desses grandes DEMAIS kskskkks. De qualquer jeito, aceito opiniões sobre-

E outra coisa: O romance não será o foco dessa fic, e demora bastante para começar.

Enfim, espero que tenham gostado do capítulo! Tenham todos uma boa semana, e um bom dia :D

Chapter 2: Capítulo 2 - Caçador?

Notes:

(See the end of the chapter for notes.)

Chapter Text

Aos poucos Katsuki sentiu a consciência voltar. Piscou, o corpo tenso. Aquilo não era seu quarto. Nem nada parecido com qualquer lugar que conhecesse. O ar estava denso, pesado, quase… surreal. Havia uma mulher ali. Sentada. Observando. Roupas pesadas, tatuagens à mostra. Postura impecável. Ela parecia ter saído de um filme de época, ou de um pesadelo com orçamento bem alto.

“Ah, você finalmente acordou!” Disse ela, como se já esperasse por ele ali. “Ainda bem, pensei que você tivesse morrido, garoto!” Katsuki reconhece essa mulher, ela… foi ela que o salvou. Ela que matou aquele monstro.

Katsuki não respondeu. Seus olhos automaticamente varreram o ambiente, depois voltaram para ela.

As paredes são feitas de madeira, assim como o chão, as portas também são de um estilo mais antigo japonês. Todo aquele lugar lembrava uma casa antiga japonês na verdade. E Katsuki não sabe o porquê, mas sentia como se a gravidade daquele lugar fosse… diferente? Parecia que tudo estava mais leve ali.

Que porra é essa?

“Aonde… onde eu estou?” Katsuki perguntou enquanto se sentava na cama – também feita de madeira – em que estava. Sua cabeça doía, e sua clavícula também. Embora muito menos do que ele esperava, levando em conta a profundidade daquelas… mordidas. Katsuki sentia seu corpo tremendo levemente enquanto se lembrava disso, como ele não morreu?

“Ei! Ei garoto!” A mulher falou enquanto se sentava ao lado dele, sem encostar, mas mantendo sua presença reconfortante ali. “Não precisa se preocupar, você está seguro aqui.” Ela deu uns tapinhas de leve nas costas dele. “Aquele monstro já não existe mais, tá tudo bem…”

Katsuki se levantou abruptamente com os tapinhas nas costas, ele odiava toques, mesmo esses. “O monstro… você o matou?” Ele perguntou sem rodeios, precisava saber o que aconteceu.

“Uma coisa de cada vez garoto. Primeiro… nomes! Eu me chamo Aurora Hashimoto” Ela fala enquanto leva a mão para um aperto de mãos. “E você? Como se chama?”

Aurora? Esse nome não é japonês… o sobrenome sim, mas o nome com certeza é estrangeiro. Katsuki pensou enquanto via a mão da mulher na sua frente, ela estava sendo amigável com ele?

Ela nem me conhece.

—Se conhecesse não teria ajudado.

Katsuki olhou ao redor, o estômago afundando. Aquela voz… ele conhecia. Mas ali só havia aquela mulher que o salvou. Nada mais. Ninguém mais.

Devo ter imaginado… que merda louca.

To ficando maluco.

—...

Ele deu um olhar de cima a baixo na mulher. Aurora tem a pele negra de tom claro, olhos castanhos, e era alta, muito alta, quase dois metros inteiros. Seu corpo parecia musculoso e bem treinado, cabelo relativamente curto e vermelho bem escuro. Ela parecia jovem. Talvez a idade de Aizawa… vinte e seis, vinte e oito? Algo assim. Ela tem um anel estranho em uma das mãos também.

Ela vestia um quimono preto justo com gola alta, também calças largas no estilo hakama – um estilo de calça tradicional japonês – e uma faixa branca na cintura. As botas eram tradicionais, sandálias tradicionais na verdade, com perneiras brancas envoltas em faixas. Aurora usava uma capa branca com desenhos de chamas vermelhas, laranjas e amarelas na barra inferior. Também tinha detalhes em… azul? Mas, as coisas mais notáveis eram duas com certeza.

Aurora carregava uma katana na bainha, visivelmente vermelha. A guarda de mão tinha um formato de chama, e era toda estilizada. Mas, mais até que a katana, o que realmente chamava atenção era a marca. Katsuki achava ser uma tatuagem na verdade. Ela tinha marcas que pareciam chamas em todo seu braço, mão, parte do pescoço, e até um pouco no rosto. Entenda, Katsuki não tinha problemas com quem fazia tatuagens, ele não se importava. Só que não importa quantos anos tenham passado, o Japão ainda era o Japão. E as pessoas ali não aceitavam tatuagens muito bem, principalmente essas que são visíveis e impossíveis de esconder.

Bakugou suspirou um pouco com isso. Não vai julgá-la, apenas… não entende, não compreende as escolhas dela.

“Katsuki Bakugou. Esse é meu nome.” Ele aperta a mão de Aurora brevemente, essa mulher ainda foi a responsável por salvá-lo, no mínimo ele apertaria a mão dela. “Agora, você pode me falar o que caralhos aconteceu e onde estamos?!” Katsuki rosnou logo depois, cruzando os braços, voltando ao seu tom irritado de sempre. Ele ainda estava boiando sobre o que tinha acontecido, e queria respostas, logo.

Aurora ficou em silêncio por uns segundos após a pergunta. “Olha, garoto, é… complicado, seria melhor você se sentar. Temos muito para conversar.”

Katsuki não respondeu isso bem.

Hein?! “É só me mostrar aonde a gente está, porra! Isso não é difícil, é só abrir essa droga de porta.” Ignorando o olhar meio confuso de Aurora por conta do xingamento inesperado, ele foi até a porta. “Por exemplo…” Katsuki botou a mão na porta, e abriu sem hesitar.

“Espera, não abra isso ainda!” Aurora tentou impedir, mas ele já tinha aberto, e estava andando para fora da porta.

“O que teria de tão impressionante pra ve-” Katsuki para no meio da frase, os olhos se arregalando imediatamente. “Mas… QUE PORRA É ESSA?!” Ele estava drogado de tanto remédio, essa é a única conclusão possível que a mente de Bakugou conseguiu chegar.

Olhando para todos os cantos, Katsuki viu o impossível. Tem infinitas salas de madeira, salões e corredores. Olhando pra cima, pros lados, pra frente, pra baixo, aquilo parecia se estender infinitamente. A gravidade é outra loucura, as leis da física parecem ter se quebrado completamente. Tinha pessoas andando de cabeça pra baixo, nas “paredes”, nos “tetos”, em tudo que é lugar que não deveria ser possível.

Salões e corredores inteiros também parecem se mover. Também se tinha dezenas, não, centenas de pessoas andando por aí, treinando com katanas, lanças, kunais, e diversas outras armas. Além de que, muitos dos que estão ali se movimentavam loucamente por todo lugar com pulos que deveriam ser impossíveis sem individualidades. Katsuki atribuiu isso à gravidade do lugar. Algumas pessoas também pareciam sair ou entrar dali, por meio de… portas mágicas que apareciam do nada? Era isso que parecia vendo de longe.

Também tem centenas de corvos voando por todo o local, dava para ouvir seus sons em tudo. A estrutura e layout do lugar parecia ser algo bem típico japonês, embora, tivesse pessoas de diversas nacionalidades ali, ele percebeu isso vendo alguns poucos rostos, mesmo de longe.

“O-o que… o que é isso?” Katsuki não conseguia mais conter a surpresa.

Que merda é tudo isso?!

“Isso?” Aurora anda atrás dele, vendo o ambiente. “Isso é o Castelo Infinito, garoto!” Um sorriso grande estava em seu rosto, e ela olhava para todos os lados.

“Castelo… infinito?” Katsuki murmurou, ainda com os olhos arregalados vendo isso tudo.

“Sim, é um nome bem literal. Não acho que eu precise explicar o porquê do infinito no nome né?” Ela riu um pouco. “Você parece um garoto inteligente, então acho que entendeu… a não ser que você seja mais burrinho do que parece.” O rosto de Aurora cai levemente com isso, com uma face meio cômica.

“Ei!” Katsuki rosnou, virando-se para Aurora. “Eu não sou burro, porra!” Ele descruza os braços com isso. “Mas… o que exatamente é esse lugar?” Bakugou olha mais um pouco ao redor com isso, focando especialmente nas pessoas andando pelas paredes. “E por quê tem tanta gente andando nas paredes?!”

“Era isso que eu estava prestes a explicar, garoto! Mas você correu para fora da porta antes que eu pudesse sequer começar…” Ela fica gesticulando com as mãos enquanto fala, como se fosse uma criança apontando que alguém saiu antes da hora. “Bem, pelo menos isso garante que você vai acreditar no que estou dizendo! Hehe…” Aurora tenta rir um pouco, para aliviar a tensão da situação. Mas Katsuki mal reage, cruzando os braços novamente. “Huh… você não tem muito senso de humor né?” Ela levanta as mãos como quem se rende ao sarcasmo da própria piada, fingindo uma ofensa teatral.

“Você nem disse nada engraçado pra eu rir!” Ele sente os punhos apertando quase involuntariamente. “Por que eu riria disso?!” Katsuki estava prestes a dizer mais coisas. Mas...

“Você tem certeza disso?”

“¿Dijo la verdad?”

“He killed himself, for sure!”

“Twój wiatr stał się zbyt słaby”

“Le souffle de l'explosion est bien meilleur que celui des étoiles!”

“A-ah! Mag-ingat ka...”

“Caithfimid a bheith níos láidre, níos mó agus níos mó!”

“Опусти его, идиот.”

Dezenas de vozes diferentes invadem sua mente. Japonês, inglês, espanhol, e em outras línguas que ele não conseguia identificar. Todos de uma vez ao mesmo tempo.

“SHING!”

“CLANG!” “CLING!” “CLANK!”

“SWOOSH!” “WHOOSH!”

“THUNK!”

Sons metálicos cortavam o ar e martelavam sua mente sem nenhuma piedade. Tudo explodia dentro de seu crânio – dezenas, centenas – múltiplas vezes. Ele apertou os ouvidos com força, mas o som não parava, nunca.

“MAS QUE MERDA É ESSA?!” Imediatamente Katsuki se arrependeu de ter gritado. Dá pra ouvir a própria voz gritando até dentro de sua cabeça, e é algo infernal de tão alto. Seu corpo começou a tremer de tanto desconforto e dor. “Por que… tá tudo tão alto?!” Bakugou suplica um pouco baixo até demais, fazendo uma anotação mental para tentar não gritar por enquanto. “Eu não consigo… pensar!”

“Merda… já começou?” Aurora murmurou baixinho enquanto se virava para a sala que eles tinham saído. “Vamos voltar, lá dentro estará mais silencioso!” Ela vai na frente, entrando no quarto e segurando a porta para Katsuki. Gesticulando para o garoto entrar, imaginando que por conta do barulho excessivo, ele nem deve ter notado ela falando.

Sem muita escolha, e querendo fazer de tudo para que o barulho parasse, Bakugou a segue. Correndo. Os olhos estavam quase lacrimejando, e as pernas estavam levemente bambas, tanto que ele quase caiu tentando entrar no quarto.

Bakugou entra correndo – ou, tentando – na sala, e Aurora fecha a porta no mesmo momento. Subitamente, o barulho cessa completamente, como se tudo estivesse voltado ao normal. Seu corpo também para de tremer, voltando ao “normal” de sempre, ou seja, pura tensão.

Ele tira as mãos dos ouvidos devagar, e extremamente confuso, embora aliviado pelo barulho agora acabado. “...Parou?” Pergunta ainda com a voz baixa, olhando para os lados e de volta para Aurora repetidas vezes, como se não acreditasse em nada daquilo. Não era para algo assim existir, senão já seria algo publicamente conhecido pelo povo… não é?

“As salas e quartos aqui são… silenciosos, como se tivesse isolamento acústico.” A voz saiu calma, pacífica, como se ela quisesse acalmar a confusão de Bakugou. Embora parecesse inútil nesse ponto. “Agora… podemos nos sentar, como eu tinha dito? Você deve ter muitas perguntas, e eu vou responder todas elas.” Aurora pegou duas almofadas que tinha ali perto e botou no chão, uma frente a outra, e se sentou de joelhos em uma delas. Dando tapinhas na que estava frente a si, indicando para o menor se sentar.

Mas… co-

—Ora, ora! Sobreviveu, parabéns. Vamos comemorar com mais barulhos metálicos na sua cabeça?

Katsuki esfregou as têmporas com força, os olhos se apertando. Suas pernas estavam rígidas, prontas para correr ou atacar. O que ele sentia não tinha nome. Era medo, raiva, confusão, cansaço, tudo ao mesmo tempo. Ele estava totalmente perdido. Essa mulher não estava fazendo nenhum sentido, o tal do “castelo infinito” menos ainda. E sua audição então? Totalmente incompreensível. Sem falar… nessa voz na sua cabeça, é a segunda vez que ele a ouve.

Mas, Bakugou presumiu que não tinha muita escolha nesse momento, e ele realmente queria explicações, agora. Pensando nisso, ele se sentou também de joelhos na almofada livre frente a Aurora. Tenso. Devagar. Os olhos atentos para qualquer movimento incomum.

“Certo… quer que eu comece por onde?” Aurora oferece um sorriso gentil para Katsuki, que ainda estava com uma postura tensa e em alerta.

“Que tal começar me falando…” Ele respira um pouco, como se estivesse decidindo o que falar. “O que caralhos é esse lugar?!” A voz sai explosiva dessa vez, rápida, e cheia de exigência. “E por quê minha audição estava ligada no duzentos e vinte agora pouco?!” Katsuki tentou manter o volume no mínimo, mas sua voz não ajudava. Ele não estava acostumado a falar baixo, então seu corpo tremeu levemente ao ouvir a própria voz.

Ah! Porra!

Maldita voz…

“Hum… não! Vamos começar pelo começo, é melhor!” Aurora diz com um sorriso, ignorando completamente Katsuki.

Se você iria começar do começo, por quê me perguntou então em?!

—Já gostei dela.

Katsuki odeia ser feito de bobo, mas Aurora parece amar pelo visto. Já que ele conseguia ver um leve sorriso na face dela vendo seu olhar. Sorridente de merda.

“Enfim, vamos pelo início… o monstro que te atacou.” A cara de Aurora fica séria quando fala isso. Katsuki franze a testa, o corpo ficando ainda mais tenso, como uma corda.

“Aquele bicho…” Ele murmurou, a mandíbula apertada. “Aquilo era real, né?”

“Era. Um oni.” Aurora olhou diretamente para ele. Não havia sarcasmo dessa vez, nem espaço para qualquer dúvida. “Demônio, criatura, monstro… escolhe seu nome favorito, e o chame como você quiser.”

Bakugou soltou uma risada curta, sem humor. “Tá brincando comigo?” A risada morreu depressa. “Isso não faz sentido… demônios? Você tá dizendo que existe uma porra de espécie inteira de monstros que comem humanos vivendo escondida por aí?”

Aurora apenas o encarou em silêncio, sem mudar a expressão uma vez sequer.

A risada de Katsuki virou um engasgo. Ele se lembrou do som dos ossos estalando, da mordida na clavícula, da dor afundando todo o seu corpo. Aquela merda aconteceu… eu vi ele regenerando um braço inteiro.

Merda… eu não tô realmente acreditando nessa história de criança né?!

“Se…” Ele hesita, sabendo que perguntar sobre será como admitir que ela pode estar certa. “Se esses tais onis realmente existem… por que ninguém sabe disso?!” A voz saiu mais alta do que o planejado novamente. Assim, seu corpo tremeu de leve, mais uma vez.

Porra! Falar baixo é mais difícil do que parece…

Ouvido desgraçado…

Aurora suspirou, ajeitando-se na almofada. “Porque o público não suportaria saber. Já imaginou o caos que seria causado se o povo comum soubesse disso? Até tentamos no passado… e adivinha? Queimaram os corpos destes junto com os dos onis.” Ela estava séria, sem piadinhas agora, sem risos.

“Mas então… o que é você?” A voz de Katsuki tremeu de uma forma involuntária. “Você cortou a cabeça do oni sem dificuldade… e, vou assumir que as pessoas que vi lá fora também fazem o mesmo.” Ele pensa em todas as pessoas que viu treinando com armas quando estava fora da sala… Tinha centenas, no mínimo.

“Essa é a parte boa!” Agora, um sorriso se forma novamente no rosto dela, mas, mais singelo e não sarcástico. “Nós somos uma organização escondida do governo. E, nosso principal trabalho é caçar os onis! Somos o…” Aurora faz uma pausa. “Corpo de Caçadores de Demônios!” Ela diz como se fosse a coisa mais incrível do mundo.

Katsuki sente uma gota de suor na testa. “A quanto tempo? Quanto tempo… tudo isso existe?”

Aurora hesita um pouco com isso, essa pergunta sempre acaba sendo muito sensível para a maioria das pessoas. “Faz… séculos, muitos séculos. Incontáveis. Muito antes das individualidades existirem.”

“Isso… isso não faz sentido. Onis? Caçadores? Antes das individualidades? Eu vi o fogo na sua katana!” Ele aponta para a katana de Aurora, que estava na bainha, ao lado da mesma. “Se isso for verdade… como vocês matam eles?”

A maior respira um pouco ouvindo isso. Ela estava acostumada com dar essas explicações, mas até a maioria dos outros já tinham parado de duvidar nesse ponto. “Onis só morrem ao entrar em contato direto com o sol.” Ela ergueu a mão. “É isso que as lendas dizem, mas… existe outra forma de matá-los.” A marca do braço dela brilhou em vermelho incandescente. E então… FOOOSH! Uma chama se ergueu da palma dela, viva, vibrante, quente o suficiente para fazer o suor brotar na testa de Katsuki. Ele recuou instintivamente, os olhos arregalados.

“Isso é a Marca do Caçador.” A chama se apagou. “Com ela, usamos técnicas de respiração. E com isso podemos lutar de igual pra igual com onis. E, mais importante… com isso, podemos matá-los.” Ela puxou a katana da bainha. “Mas só se for com isso aqui imbuído com a marca.”

Bakugou olhou para a espada, fixamente, mal piscando. Os olhos estavam arregalados, e ele conseguia ver seu reflexo olhando para si mesmo. Nada disso tem sentido dentro da sua cabeça. “Então, o que você está me dizendo é que… isso.” Ele aponta fracamente para a espada dela. “Não é uma individualidade? Nem… o fogo?”

“Exatamente!” Ela guarda novamente a katana na bainha, e fica mais animada. Finalmente! Será que agora ele acredita? “Dizem que uma criança nasceu com ela, mas ninguém tem certeza disso. Tudo que se sabe é que as marcas vêm se espalhando de caçador para caçador desde que ela surgiu. E, com elas, podemos fazer coisas que você nem imagina.”

A mente de Katsuki estava correndo com tudo isso. Parte dele sentia que tudo aquilo era idiotice e historinha pra criança dormir. Mas a outra parte… estava dentro demais disso tudo para negar. A menos de dez minutos ele viu um castelo aparentemente infinito, pessoas andando nas paredes, fazendo pulos impossíveis, e sua audição explodindo de tão sensível. Além… daquela voz.

—Lembrou de mim, é? Que fofo, eu deveria estar lisonjeada com isso?

Ele engasgou isso. Precisava ignorar, não dar atenção.

Porra… eu to realmente ficando louco.

—...Foi você que disse, não eu.

Katsuki começou a lentamente respirar mais raṕido, muito mais do que o comum. Seu peito subia e descia, várias e várias vezes. Ele precisava se acalmar. Rápido.

Se acalma… se acalma porra!

Você não é um animal…

—Realmente… nem um animal ficaria preso em uma focinheira para receber uma medalha.

Cala a boca!

Seu coração começou a bater cada vez mais rápido. Tum-tum-tum. Ele consegue ouvir isso, sentir explodir dentro de sua cabeça. Aquele som estava preenchendo tudo dentro de si, como se fosse explodir bem ali na frente de Aurora.

—Oh! Isso tá mesmo acontecendo? Katsuki Bakugou está tendo um ataque na frente de alguém?

Bakugou começou a apertar o peito ali onde ficava o coração, como se pudesse impedi-lo de cair. Seu olhar caiu para o chão, incapaz de olhar nos olhos da mulher a sua frente agora. Ele respirava pela boca agora, incapaz de se segurar. Sua visão começou a embaçar nas bordas. Ele sentiu a garganta secar, a saliva difícil de engolir.

Um, dois, três, quatro…

Isso funcionou muitas vezes no passado, contar os números devagar na sua mente um por um. Ajudava sua cabeça a ficar em ordem, e a não surtar completamente em momento de instabilidade, que são mais frequentes do que ele admitiria.

—Aprendeu isso com quem? Um psicólogo?

cinco, seis, sete…

—Fresco.

Oito, nove, dez…

—Engraçado… será que o Deku também fazia isso quando você xingava ele?

—Acertei onde dói agora né?

Katsuki consegue sentir o coração pulando agora. Estava acelerando muito rapidamente, assim como sua respiração. Ele não vai aguentar.

“Ei, garoto, olha pra mim.” Bakugou ignora. Aurora não desiste fácil. Ela se aproxima dele, e bota o dedo em seu queixo, levantando de leve. Isso faz seus olhares se encontrarem novamente. O olhar de Katsuki está encolhido, arregalado. O corpo está tenso, o peito subindo e descendo, a respiração inconstante, e ambas perigosamente aceleradas. Aurora reconheceu isso, ansiedade. “É difícil né? Essa voz dentro de você… falando coisas tão ruins…”

—Hum?! Como ela sabe…?

Aurora estendeu a mão, devagar. Katsuki se encolheu no reflexo, mas não recuou. Quando ela finalmente segurou a mão dele – quente, firme, mas sem forçar – ele não conseguiu soltar. “Respire comigo, garoto.” Ela começa a inspirar e expirar, devagar, e olhando diretamente para Katsuki, como se quisesse apoiar ele.

Inicialmente, não faz diferença, e eles ficam uns bons minutos na mesma. Mas logo Bakugou se vê conseguindo acompanhar ela. Com a respiração cada vez mais constante, devagar. E, depois de dez minutos assim, Katsuki finalmente fica mais estável.

O que… ela fez comigo?

Isso… não era pra funcionar tão fácil.

Então por quê foi?

Katsuki não é nenhum profissional, mas tem a mais absoluta certeza de que não é assim tão fácil ajudar alguém que está tendo um surto. A forma como ela respirava, o jeito, a marca… foi como se inconscientemente seu corpo estivesse se acalmando, e com isso sua mente se acalmava junto. É como se por meio da respiração, Aurora estivesse conseguindo fazer ele se acalmar.

Eles ficaram ali, em silêncio. Nenhum piu sequer. Bakugou não queria falar sobre o que acabou de acontecer. Ele não queria, e não iria falar sobre. Eles tinham coisas mais importantes para conversar agora. Bakugou se nega a dar importância a esse ataque hoje. Rapidamente, ele tira a mão do aperto de Aurora, e ela parece entender o recado. Ela se afasta um pouco, voltando para sua almofada.

“Como…?” Katsuki pergunta, com os olhos fixos novamente nos de Aurora. “Como eu não morri? Se o monstro-” Ele se remexe na almofada. “Se o… oni devorou minha clavícula?” Bakugou toca a clavícula de leve com os dedos, sentindo ela inteira. “Ela está inteira, sem nenhum machucado… como?”

Aurora hesitou antes de responder. “Olha, garoto, eu vou ser muito sincera… depois que eu matei o oni, eu fui ver como você estava. E o machucado estava feio, muito feio.”

Ele conteve um suspiro com isso. “Feio a que ponto?” Bakugou aperta os punhos, até os dedos ficarem brancos de tanta força. Não queria admitir, mas… ele chegou muito perto da morte. Perigosamente perto.

“Eu até poderia levar você para um hospital, mas não tinha nenhum nas proximidades. E correria o risco de você morrer no caminho se eu te levasse…”

Katsuki cerrou os dentes ouvindo isso. Agora que ele e sua mãe estavam em uma parte mais pobre da cidade, não tinha nenhum hospital nos arredores. Merda, o hospital mais próximo da casa deles ficava a alguns quilômetros de distância… e não era pouco.

Que merda…

“Então… como você conseguiu me salvar?”

“Eu…” Aurora apertou os punhos na calça pensando no que fez, ela falhou de novo. “Um dos efeitos passivos da marca, é que ela dá uma pequena regeneração a quem a tem. Não é muito, e não chega aos pés de qualquer oni. Mas, é o suficiente para curar pequenas feridas, e fazer feridas que seria fatais serem curáveis normalmente. Além de aumentar um – ou mais – dos sentidos de quem a tem, como a visão, olfato, audição...”

Curar feridas? Aumentar os sentidos?

Espera… isso significa que…?

Como se estivesse lendo a mente dele, Aurora responde. “E só existem dois jeito de obter uma marca. Sendo descendente sanguíneo de quem já teve, ou… um marcado pode fazer a marca despertar em outra pessoa, dando seu sangue para ele. E eu estava me sentindo culpada por você. Se eu tivesse chegado mais cedo, você não estaria passando por nada disso, então… perdão!” Aurora abaixa a cabeça em direção a Katsuki, pedindo seu perdão, e se desculpando pelo que fez. “Eu fiz isso sem o seu consentimento, sem perguntar se você queria tal responsabilidade e poder. Foi um ato impulsivo.”

Bakugou estava… confuso. Por um lado, ele estava com “raiva” da mulher, ela fez isso sem o consentimento dele, sem saber o que ele gostaria, e ele odiava isso. Por outro lado, ele realmente negaria se fosse informado antes? Não, ele sabe que não. Mas a questão não é essa. Essa é uma responsabilidade que ele não planejou ter, mas agora o tem. Ele supõe que isso é simplesmente a vida, ninguém pediu essas responsabilidades que vem do nada, mas todo mundo as tem. Ele já passou por isso antes, ele não precisou se preocupar com dinheiro nunca no passado, e agora ele vinha se sentindo responsável por isso do ano passado pra esse, por parte disso pelo menos. Essencialmente, pelo que ele gastava.

Mas… mesmo com esses sentimentos conflitantes dentro de si. Ele também sentia… felicidade? Talvez ele pudesse usar isso para ser um herói? Para continuar na U.A? Talvez.

Katsuki respirou pesadamente, como se quisesse afastar os pensamentos, e expressar algum nível de descontentamento com isso tudo. “Você fez isso para salvar minha vida… não é?”

“Sim!” Aurora levanta a cabeça imediatamente, fixando-se nos olhos de Bakugou.

“Nesse caso, tudo bem. Eu não gosto de não ter sido avisado antes. Mas, se era vida ou morte, eu não tenho muito o que reclamar. Prefiro estar vivo do que não estar.” Katsuki fala enquanto começa a olhar para seu braço direito, mas não vê nada. “Onde está a marca?”

“Hum… normalmente, ela fica no pulso direito. É bem pequena nesse estado inicial, então você não vai precisar se preocupar em escondê-lá.”

Bakugou olha para seu pulso direito, e ali estava. Tem cerca de oito ou dez centímetros de comprimento e três ou quatro de altura. A aparência era de um estilo ornamental e fluido, composta por linhas finas e curvas suaves que lembram um vento leve – ou uma leve brisa de verão – carregando pequenas folhas e pétalas consigo. O desenho da marca se inicia em um ponto mais concentrado e detalhado um pouco acima do pulso – com espirais e folhas maiores – e se estende ao longo do pulso, em direção ao braço, com um movimento que sugere leveza, liberdade e fluidez, como se estivesse se espalhando pela pele naturalmente.

Isso é bem maior do que ele esperava. “Isso vai… crescer mais…?” Katsuki pergunta baixinho dessa vez, ele estava quase hipnotizado pela marca, é bem mais bonita do que ele esperava, e… combinava com ele? De um jeito estranho e belo, simultaneamente.

“Eventualmente! À medida que o tempo passar, e você usar mais a marca, ela vai evoluindo… crescendo, ficando mais forte.” Aurora fala enquanto levanta o braço levemente em direção a Katsuki, deixando sua marca bem à vista para ele. Ela faz o símbolo brilhar levemente, o que acaba ressoando na marca de Bakugou, fazendo ela brilhar também. “Mais poderosa!” Enquanto a de Aurora brilhava em um vermelho e laranja vivo e forte, a de Bakugou brilhava fracamente em branco, quase imperceptível.

“Uau…” Katsuki não consegue conter o olhar brilhando vendo isso. É simplesmente… incrível.

Como? Como… ninguém sabia disso? É… foda, muito. Aquilo era algo absolutamente novo para ele, mas ele já estava adorando.

—Ih, ferrou, agora ficou todo animadinho…

Katsuki parou um pouco ouvindo isso. A voz… ele tinha esquecido dela. Aurora soube lidar com essa coisa. Será que…?

"Essa voz…” Ele aperta um pouco a mão de Aurora, que estava na sua frente agora. “Você sabe do que eu tô falando, não sabe?" Katsuki murmurou.

Aurora manteve-se em silêncio por um instante, depois assentiu levemente.

“Sim. É um efeito colateral da marca. Uma parte sua… que talvez estivesse enterrada antes – ou que sempre existiu – desperta. O lado que mais resiste, que mais teme, que mais dúvida. A marca traz à tona tudo que você esconde de si mesmo, inclusive essa voz.”

“Ótimo.” Katsuki disse para si mesmo enquanto desfazia o aperto com Aurora. “Ganhei um poder novo, e junto um encosto interno.”

—Ei! Não me chame de encosto seu merdinha!

—Em certo sentido, você que é meu encosto aqui!

“É mais comum do que imagina. A maioria aprende a ignorar com o tempo. Outros… aprendem a conviver. Mas ninguém enfrenta onis só lá fora, garoto. Às vezes o pior demônio é o que a gente cria aqui dentro.” Ela toca o peito de Katsuki com isso, querendo enfatizar seu coração naquilo tudo.

“Humph!” Ele tira a mão de Aurora de seu peito, que apenas faz um biquinho com isso, e murmura um “chato”.

“Isso é poético demais para alguém como eu…” Katsuki responde com sarcasmo, mas seu olhar não desmerece o peso daquelas palavras. Ele iria lidar com isso um dia… mas não hoje, com certeza não hoje.

—Vai ter que se acostumar comigo, Katsuki. Eu sou você.

A pior parte de mim.

—Ou seja, iguais!

Tsk!

—Haha!

Aurora abaixa o braço logo em seguida, fazendo as marcas pararem de brilhar. “Mas enfim, agora que você tem a marca, eu preciso perguntar.” O olhar de Aurora volta para uma seriedade quase formal, falando de uma forma um pouco mais fria agora. “Você gostaria de se tornar um caçador?”

O brilho no olhar de Katsuki não se abala, mas ele rapidamente se arregala com isso. “Espera, o quê?!”

“Você ouviu. Gostaria de se tornar um caçador?” Aurora pergunta novamente, sem se abalar com o olhar do menor por um momento sequer. “Você tem a marca, então agora isso é uma opção…!” Aurora tenta parecer um pouco mais animada agora, embora, falhe miseravelmente nisso, por conta do rosto ainda sério, e a voz relativamente tensa. Ela definitivamente não está acostumada a oferecer isso.

“Não.” Os olhos não estavam mais arregalados, e eles estavam um bocado pra baixo, como se ele falasse isso com um pesar na voz.

Não pense errado, Katsuki estava feliz por ter sobrevivido, e aparentemente ganhado um novo “poder”. Mas, ele nunca concordou em ser um caçador, e mesmo se quisesse, ele tem um compromisso mais importante na U.A daqui a duas semanas, e ele tem que usar esse tempo para treinar, e não para… isso.

“Eu fico… a-agradecido.” Merda. Eu realmente odeio falar essa palavra. Qualquer variação de “obrigado” é considerado um veneno para Katsuki, já que ele parece nunca falar nada disso, e mesmo agora ainda era… difícil. “Mas, eu não tenho tempo para isso. Especialmente nessas duas semanas seguintes. Tenho treinamento de herói para fazer.”

Aurora pisca uma, duas, três vezes. “Treinamento de… herói?” Ela pergunta enquanto mexe a cabeça levemente para o lado, como se não tivesse entendido o que ele quis dizer.

“Eu sou da U.A. Sou um estudante do curso de heróis, do primeiro ano.” Ele fala, como se fosse algo super óbvio. Mas Aurora continua sem entender nada, e a expressão de confusão continua a mesma. “Você… não ouviu falar de mim na televisão?” Como?! Eu tenho certeza que noticiaram meu sequestro! Foi o que me falaram pelo menos. “Você pelo menos sabe da aposentadoria do All Might?!”

“Huh… eu não sou uma pessoa que vê muitas notícias, então estou perdidinha em tudo isso que você está falando…” Aurora fala como se o mundo inteiro não estivesse anunciando a aposentadoria do herói mais forte do Japão.

Bakugou estava ainda mais boquiaberto agora, talvez até mais que quando Aurora lhe contou sobre os onis e as marcas.

COMO ALGUÉM AINDA NÃO SABE DISSO??!!!

—Me sinto obrigada a concordar.

Isso era simplesmente incompreensível para ele, como alguém no mundo ainda não estaria a parte dessa notícia? Dá pra entender ela não saber do sequestro, mas do All Might??? Isso não dá, é impossível de entender. “Você conhece a U.A pelo menos?!”

“Acho que sim, é tipo a escola de herói mais renomada do Japão né?” Ela fala sem muita certeza também, ta na cara que ela realmente não fica de olho nem nos jornais.

Katsuki suspirou com isso, explicar isso é uma chatice. “Sim, é tipo isso…” Ele se remexeu superficialmente na almofada, para tentar achar uma posição menos desconfortável. “Basicamente, eu fui capturado por um grupo de vilões, All Might e outros heróis vieram me salvar, All For One – o vilão mais forte que existe, e inimigo do número um – roubou meu poder.” Bakugou apertou o punho ao se lembrar disso, mas, já em um estado mais controlado, ele consegue deixar a raiva não o invadir dessa vez. “E depois, All Might derrotou ele, mas acabou usando todo o seu poder para isso, o que significa: aposentadoria para ele. Como herói pelo menos, mas acho que ele ainda vai continuar sendo professor na U.A, ou algo assim…” Katsuki parou um pouco, pra pegar ar, e levantar o olhar para Aurora, ele odiava ficar com o olhar baixo por tanto tempo assim. “Sem meus poderes, a U.A me deu duas semanas a partir de amanhã, para me preparar e provar que ainda posso ser um herói mesmo assim. Então… não tenho tempo para fazer outra coisa.”

Eles ficam em silêncio por um tempo após Katsuki parar de falar. O ar está pesado, e ambos parecem tensos. Mas Aurora… estava diferente, parecia que ela ficou menos tensa ao ouvir a história do garoto. “Garoto… acho que você vai querer muito se tornar um caçador agora.”

“Hein?! Por quê?”

“Eu vou explicar mais para você depois, mas, duas das coisas mais importantes sobre esse castelo infinito em que estamos, são essas.” Ela levantou um dos dedos, como se estivesse explicando para uma criança algo complexo. “Primeiro. Nosso corpo não cresce enquanto estamos aqui, e a maioria dos músculos não aumentam, não importa o quanto fiquemos aqui treinando eles. Mas, nossos corpos ainda podem se acostumar com certas coisas. Por exemplo, os nossos braços não crescem enquanto estamos aqui dentro, mas, nós ainda podemos aprimorar nossos reflexos do corpo, e sentidos.” Aurora levantou outro dedo agora, para o segundo ponto. “Segundo, e mais importante. O tempo aqui passa diferente. Uma hora no mundo real é cerca de cinquenta e duas horas aqui dentro.”

Agora, Aurora abaixa os dedos, e seu sorriso volta ao rosto enquanto fala, deixando o clima do ambiente mais leve apenas com isso. “Ou seja, aqui é o lugar perfeito para caçadores que ainda estão em fase inicial de aprendizado, como você!” Ela aponta para Katsuki, que estava com os olhos quase que literalmente brilhando nesse momento, mais um pouco e iria ficar idêntico ao Aoyama. “Treinarem e ficarem fortes o suficiente para matarem onis comuns! O quanto podemos evoluir do corpo – reflexos e sentidos – vai diminuindo com o tempo. Então quanto mais tempo aqui, menos seu corpo vai conseguir realmente evoluir. Por isso é perfeito para iniciantes como você.” Aurora aponta para si mesma agora. “Mas horrível para pessoas como eu.”

Katsuki estava confuso? Sim. Surpreso por algo dessa magnitude existir? Muito. Extremamente animado e feliz por ainda poder ter um poder e ser um herói? Mais ainda. “Então… se eu aceitar sua proposta, e me tornar um caçador… eu poderei treinar aqui?” Ele pergunta meio atordoado, com os olhos ainda fixos nos de Aurora, com um foco quase extremo agora.

“Sim!” Aurora responde com um sorriso. Mas, uma gota de suor cômico surge na sua testa agora, já que sempre tem um mas. “Embora… tenha algumas ressalvas nisso.”

Bakugou sabia que estava tudo bom demais para ser verdade, sempre tinha um “mas”. Por isso que as pessoas deviam ler um contrato até o final antes de assinar, sempre tem alguma pegadinha nessas coisas. “Huh… qual o mas?” Ele pergunta, já esperando ter que vender a alma nesse ponto.

“A questão aqui é que você, antes de um herói, antes de um cidadão, antes de qualquer coisa. Será um caçador, e deve agir como um. Fará missões, matará onis, e protegerá as pessoas do mal que elas acham que não existe. Essa é a sua principal missão como um caçador de onis. Então, se um dia você estiver entre cumprir o dever da U.A ou o de um caçador, deverá sempre dar prioridade ao de caçador.” À medida que Aurora fala, sua voz vai ficando com um tom mais sério, querendo enfatizar o quão importante é isso.

É só… isso?

“Tsk!” Katsuki fala com desdém, como se estivesse subestimando tudo isso. “Isso não parece muito diferente de ser um herói. Derrotar vilões, vencer lutas, coisas assim. Eu já estava sendo treinado para fazer iss-” Antes que ele pudesse continuar, Aurora levantou a voz, o que surpreendeu Katsuki, e o fez se encolher ligeiramente.

“Isso não é uma brincadeira garoto!” Aurora se levanta enquanto fala isso, ficando de pé agora, frente a Katsuki, que parecia absurdamente menor na frente dessa mulher, como uma formiga. “Sabe o que acontece quando você não mata um oni?! Sabe?!”

Katsuki não sabia responder isso. Ele até tinha uma ideia, mas da forma que Aurora fala, talvez isso fosse uma pergunta retórica, e ela não quisesse realmente uma resposta dele. Mesmo assim, não custa nada arriscar. “Eles devoram mais pessoas…?”

“Não é só isso, moleque!” Aurora levanta a voz mais ainda com isso, ela já estava ficando meio impaciente com Bakugou. “Cada oni que você falhar em matar significa dezenas de pessoas que serão devoradas e mortas. Dezenas de famílias que nunca mais verão seus entes queridos. Mães que nunca mais irão ver seus filhos, e filhos que nunca mais irão ver suas mães.” Com essa última frase, Katsuki repentinamente sente os ombros tensos, e seu olhar se afia, como se tivesse percebido o que tinha dito antes.

“Diferente dos ditos heróis que você parece tanto gostar, nós caçadores temos como dever realmente proteger as pessoas. E de perigos muito maiores que eles nem sabem que passam.” Agora, Bakugou se surpreendeu… isso parecia estranhamente pessoal. “E diferente deles, nosso trabalho não é prender pessoas. Nosso trabalho é matar demónios, igual eu fiz com aquele que estava para te matar e devorar. Então, não ache que isso é fácil, é um trabalho difícil, sem reconhecimento das pessoas que nós arriscamos – de verdade – a nossa vida para salvar. Então não ache que isso vai ser fácil, ou que você vai fazer isso aqui só pra ser um herói. Porque se for isso, você pode cair para bem longe daqui!” Ela se abaixa para ficar apenas um pouco acima de Katsuki, e olhar diretamente em seus olhos, querendo ver a verdade dele. “Então… sabendo disso, me diga. Katsuki Bakugou, por quê? Por quê você quer ser um herói? Eu sei que você se interessou em ser um caçador somente para conseguir poder para ser um herói. Então, porque você quer ser um herói? Por que justamente isso é tão importante para você?”

…Porra.

Katsuki não estava esperando uma pergunta assim logo agora. Mas, ele tinha que responder. Precisava responder isso. Ele abriu a boca para soltar o velho “sempre foi meu sonho” de sempre. Mas, assim que estava prestes a responder, a ficha dele caiu. E é como se ele conseguisse ver o filme da sua vida correndo.

Sempre foi meu sonho…

É isso que um herói diria?

Não. Um herói de verdade não falaria isso.

Mas, o que um herói diria então…?

Katsuki… não sabe. Ele só… não sabe. Porque ele não é um herói. Ele é só um garoto que ouve desde pequeno que deveria ser um herói porque tinha um poder perfeito para isso. Mas, tirando os poderes, será que alguém realmente diria para ele que era isso que ele deveria fazer? Não. É claro que não.

Então… por que eu continuo querendo ser um herói?

Eu sei que não tenho a mente de um herói, não tenho as ações de um herói, e agora nem mesmo os poderes de um herói.

Então… por quê?

Existe realmente um porquê? Existem infinitos motivos diferentes do porquê alguém entraria nesse mundo. Se o motivo é válido ou não? Isso depende e muda de pessoa para pessoa. Mas possivelmente todo mundo concordaria com esse fato: Katsuki Bakugou não é um herói, e nunca foi. Nossa, ela nunca nem esteve perto disso.

Abruptamente a expressão de Katsuki muda de surpresa para um entendimento silencioso, e meio… melancólico? Ele quebra o olhar com Aurora, e fixa seus olhos no chão abaixo dele.

É isso então… né?

Eu sou um merdinha orgulhoso que só estava fingindo ser um herói.

Que nunca mereceu estar ali, que nunca deveria ter estado ali…

—Nem precisei falar nada dessa vez. Magnífico!

Talvez isso fosse verdade, claro que seria. Por quê não seria?

No fim, todos estavam certos quanto a isso, ele não merecia tudo o que tinha, nunca mereceu. Mas, será que ele realmente não tinha mais nada pelo que lutar? Sempre tem alguma coisa… E, no caso de Katsuki. Tem uma pessoa, algumas pessoas na verdade.

Aos poucos, os olhos de Katsuki se erguem em direção aos de Aurora novamente. A expressão ainda era de melancolia, mas ele conseguia olhar nos olhos da mulher agora. Porque ele percebeu que não tinha motivos para ser um herói, não um verdadeiro motivo. Não mais. Mas, ele tem sim um motivo para ainda lutar.

Aqueles… idiotas, eles realmente se importam né? Seus colegas, seus… amigos. Seu grupo. Kirishima, Mina, Kaminari, Jiro e Sero. Katsuki consegue se lembrar de todas as vezes que eles saíram. Ele mentiu falando que só ia porque tinha que garantir que eles não acabassem morrendo, ou algo assim. Como ele sabe que onis realmente existem agora, isso significa que… eles também estão em perigo né? E lutar contra essas criaturas pode ser uma forma de proteger eles no fim… de ajudar eles.

E o mais importante. Sua mãe. Lutar contra esses monstros também significa proteger ela, lutar por ela. Ele prometeu que vai ajudar ela de todas as formas que conseguir, nem que ele tenha que começar a trabalhar, começar a sair pelas ruas, ou, nesse caso, lutar com monstros. Tudo isso para proteger ela, orgulhar ela. Ajudá-la, nem que seja desse jeito.

“Por… por minha mãe.” Katsuki finalmente conseguiu responder, com a voz baixa e tensa.

“Sua… mãe?” A expressão de Aurora se resume à confusão agora, mas um pouco mais leve, ela percebe a seriedade na voz do garoto.

“Sim.” Katsuki se prepara para o que vai dizer a seguir, tentando reunir o máximo de coragem que tem naquele momento. “Eu costumava dizer que ser herói era meu maior sonho, e que por isso eu fazia tudo aquilo. Por isso que eu estava na U.A. Por conta disso que eu treinava. Mas…” Bakugou tirou os olhos levemente de Aurora, mas forçou-se a olhar novamente, fixando-se nos olhos castanhos dela. “Mas recentemente, após perder meu poder, eu tenho feito essa pergunta novamente a mim mesmo. A muito tempo na verdade, desde que a situação financeira lá em casa piorou drasticamente. A partir daí eu comecei a considerar que também estava fazendo aquilo para ganhar dinheiro pra ajudar minha mãe, e isso entrava em conflito com muitos dos meus pensamentos, então eu só deixava pra lá, ignorava. Agora, não tem como ignorar.”

Bakugou respira um pouco, pra tentar se tranquilizar, o que não faz muito efeito. “Então cheguei à conclusão de que eu não sou um herói.” Essa realização, essas palavras… podiam ser tristes, mas eram verdadeiras, e embora fosse contraditório em sua mente, falar isso foi como tirar uma pedra de suas próprias costas. “Eu não me importo com a maioria dos extras que encontro por aí, e só consigo… só conseguia respeitar a força acima de tudo. E sinceramente não sei se vou mudar um dia. Mas, mesmo com tudo isso, eu tenho sim um motivo pelo que lutar. E esse motivo é minha mãe.”

Ele aperta os punhos, como se quisesse afirmar isso também para si mesmo. “Eu posso não ser um herói, posso não ser uma boa pessoa, e também posso ser um amigo de merda. Mas… eu quero ser um bom filho. E se isso significar ter que matar cada oni que existe, para que nenhum deles ataque minha mãe ou alguns dos idiotas que me importo?” Katsuki para de apertar os punhos, e lança um olhar decidido para Aurora, que estava ouvindo tudo em silêncio. “Então, que assim seja. Eu vou me tornar um caçador, se isso significar proteger minha mãe e aqueles idiotas que se importam comigo. E… vou me tornar um herói também, para ajudar a minha mãe de algum jeito. Não vou fingir que me importo com a maioria das pessoas, mas minha mãe eu sei que se importa, então se isso orgulhar ela no fim, também farei.”

Então, como se seu orgulho estivesse voltando aos poucos, ele aperta novamente os punhos, dá um sorriso quase presunçoso, e fala em um tom de voz mais confiante e alto. “Eu vou matar cada oni de merda que eu encontrar, e me tornar um herói enquanto isso! Para orgulhar aquela que confiou em mim desde o começo. Eu juro.”

Aurora olha bem nos olhos de Katsuki enquanto ele fala tudo isso. Ela busca qualquer resquício de algo que se pareça com mentira, dúvida, ou medo. Mas tudo que ela encontra é verdade e determinação. Katsuki realmente está falando a verdade, e está determinado a proteger sua mãe e seus amigos custe o que custar. E se ele realmente acredita que seus motivos não o transformam em um herói… bem, talvez ele de fato esteja caminhando no caminho do herói agora. De verdade dessa vez.

Vendo isso, um sorriso singelo cresce no rosto de Aurora, ela se levanta novamente, para ficar bem acima de Katsuki. “Eu gostei da sua resposta, garoto. Vejo verdade em você, vejo uma determinação que não encontro há muito tempo.” Ela levanta o braço levemente em direção ao garoto, como se estivesse oferecendo a mão em meio a uma tempestade, a ajuda em meio ao perigo. Um apoio para se levantar. “E então, me diga, o que você acha de virar um caçador? Chance única e resposta definitiva agora.”

Katsuki não demora a responder dessa vez, ele pega na mão de Aurora e se apoia nela para se levantar. “Sim. Eu quero ser um caçador.”

 

Notes:

Bem, como devem ter percebido, tentei deixar alguns parágrafos menores nesse cap. Embora, eu tenha falhado algumas vezes nisso…

E sim, eu fiz o castelo infinito aqui ser uma base dos caçadores ao invés dos onis, hehehehheh. Amo fazer essas coisas!

Gostaram da Aurora? Escrever ela está sendo muito divertido na verdade. Sou horrível em descrições, mas tentei o meu melhor, espero que tenha dado pra visualizar a personagem bem. Assim como a marca do Katsuki e tals-

Espero que tenham gostado do cap! Tenham todos uma boa semana, e um bom dia :D.

Chapter 3: Capítulo 3 - Primeiro mês

Notes:

(See the end of the chapter for notes.)

Chapter Text

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Oito dias depois.

Mundo real: 02:04 > 06:12.

14 dias até o teste.

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Pela contagem de Katsuki, já faz uma semana e pouca que ele está no castelo infinito, oito dias mais precisamente. Ou seja, na vida real, deve ter se passado pouco mais do que quatro horas, então deve ser mais ou menos seis da manhã no mundo normal. Katsuki ainda não se acostumou com isso. O tempo é diferente, ele não passou fome e nem sede também, mas, ainda existia a necessidade de dormir. Embora, bem menos do que o normal, menos de quatro horas por dia naquele lugar.

Durante todos esses oito dias, Aurora focou em ensinar principalmente uma coisa para Katsuki. Controlar seus novos sentidos aguçados. Mais precisamente, sua audição.

Agora, eles estavam fora do quarto – que Katsuki tomou como seu – no castelo infinito. Ele estava na posição de lótus, no chão. De acordo com Aurora, essa é uma posição de meditação conhecida, e que ajudaria Bakugou a focar no que importa. Que, nesse momento, é controlar sua audição, para que ele não surte assim que sair do quarto, ou, pior, assim que sair do castelo infinito eventualmente.

Aurora estava sentada em frente a Katsuki, na mesma posição. Ambos vestiam roupas de treinamento leves. "Foque, Bakugou!" Ela fala enquanto vê a expressão desconfortável em seu rosto só de estar fora do quarto e à mercê de todo o barulho no castelo infinito.

"É fácil pra você dizer, né?!" Katsuki sussurrou entre os dentes, as pálpebras tremendo com o esforço de manter os olhos fechados. O som é uma avalanche. O farfalhar das roupas de Aurora, das suas próprias roupas, o estalo minúsculo de um grão de poeira batendo no chão. O som abafado do próprio sangue correndo em suas veias. Tudo isso em seus ouvidos. Aquilo não era meditação. Era tortura.

Como alguém convive com isso?! Eu to ouvindo até meu próprio sangue, porra!

—Olha o lado bom, ao menos você não tem mais suas explosões! Ter isso e ter aquele poder seria uma merda...

Suas explosões eram altas? Sim. As vezes isso o irritava? Com certeza. Mas era gerenciável, e eventualmente ele se acostumou a conviver com isso. Mas esse novo nível de audição é coisa de maluco. Katsuki tem a mais absoluta certeza que consegue ouvir até as moléculas do ar com isso.

—Pensando melhor, volto atrás nas minhas palavras, seria melhor você ter as explosões, assim seria ainda mais sofrível!

Cala a boca, sua merdinha!

"Aguenta... mais uns minutos e você quebra o seu recorde!" Aurora falava com um sorriso, enquanto via o timer no seu relógio passando segundo por segundo.

Depois de mais dez minutos inteiros do que Katsuki considerava nada menos do que uma tortura cruel que seria considerada crime de guerra, finalmente ele cedeu, pegando novamente os aparelhos auditivos que estavam ao seu lado, e os encaixando nas respectivas orelhas. "Chega! Não aguento mais essa merda!" Bakugou fala enquanto coloca os ditos aparelhos no ouvido, finalmente conseguindo respirar um pouco.

"Parabéns!" A maior fala enquanto clica no fim do timer. "Quarenta minutos inteiros sem os aparelhos auditivos! Boa, garoto! Isso é um novo recorde, se orgulhe disso, a maioria demoraria bem mais pra alcançar essa contagem." Aurora fala enquanto bate palmas exageradas com as mãos, tentando alegrar o mais novo, e fazê-lo se orgulhar dessa conquista. Embora, com Katsuki isso não funcione tão bem quanto o esperado.

"Até quando eu vou depender disso?" Katsuki tocou os aparelhos auditivos como se fossem algemas. Era humilhante. Ele, um dos mais fortes da 1-A, agora depende de um pedaço de metal para não surtar. "Me sinto um velho de noventa anos..."

—O velho de noventa anos ainda seria menos pior viu...

Você sabe que me xingar também significa se xingar né? Você é eu, sua idiota!

—Gosto de me ver como uma versão melhor sua.

...

Eu vou só ignorar você.

Katsuki estava usando esses aparelhos auditivos desde o momento em que ele concordou em se tornar um caçador. Eles são modificados para ao invés de amplificar sons, fazer o contrário múltiplas vezes seguidas. Assim, Katsuki consegue fazer outras coisas sem surtar. Isso é temporário, e só até ele controlar sua nova audição. Mas isso vai demorar bem mais do que Bakugou esperava.

"Até você conseguir controlar por si mesmo seus novos sentidos, até lá, você vai ter que usar isso, se acostume." Aurora fala enquanto se levanta, esticando-se levemente. "Mas não se cobre tanto com isso... lembro bem quando eu estava começando, meu sentido aguçado também é a audição." Ela aponta para os próprios ouvidos. "Mas, no meu caso, eu nasci com a marca. Então tente imaginar como foi minha infância..."

Katsuki sente uma pontada de tremor percorrer seu corpo só de pensar nisso. "Quero nem pensar em como seus pais devem ter sofrido com choro seu quando era bebê viu."

"Hehe... é, foi um sofrimento durante os primeiros anos de vida." Ela fala enquanto dá uns pulos, e estica os braços pra fazer o sangue correr no corpo. "Mas eu me acostumei com o tempo, fica mais fácil quando você se acostuma, garanto! E, até lá, tente não quebrar os aparelhos auditivos... foi caro comprar eles!"

Katsuki também levanta, e começa a se esticar junto com Aurora. "Odeio usar essas muletas de merda."

"Você se acostuma. Ou o grande Katsuki Bakugou não é capaz disso?" Ela lança um sorriso para ele, como se estivesse provocando. Aurora sabe como essas palavras deixam ele. "Mas, vamos parar de conversar agora. Hora de mais treinamento! Ou, como eu digo, a parte divertida!" Ela pega uma Katana que estava na bainha, e joga nos braços de Bakugou, que pega de mau jeito. "Você vai treinar retirar a Katana da bainha, e ficar brandindo. Hoje vamos aumentar de mil para mil e quinhentas vezes. Pode começar!"

De novo não... não vou sentir mais meus dedos daqui a pouco.

Katsuki sentiu uma gota de suor na testa só de ouvir isso, mas, ele não iria desistir ou reclamar – verbalmente – só por conta disso. Ele apenas pega a bainha, bota em uma boa posição, e começa a retirar a katana, e fica brandindo-a em seguida.

Dez, cem, duzentas, quinhentas. Aos poucos, com pouquíssimas pausas, ele retira a katana da bainha e guarda repetidas vezes, e também brande a espada mais de mil e quinhentas vezes neste dia. Felizmente, seu corpo tinha um bom condicionamento físico desde já, e estava acostumado com tamanho esforço. Logo, a parte dos músculos não crescerem ali não é um problema para ele. A própria Aurora disse isso nos primeiros dois dias em que ele estava no castelo infinito.

"Como eu tinha dito, garoto, seus músculos não irão crescer aqui. Mas, seu corpo ainda pode se acostumar com certas coisas aqui dentro, inicialmente. Ou seja, aqui, no castelo infinito, nosso foco não é treinar o corpo físico em si, mas sim aprender técnicas, acostumar o corpo, e aprimorar nossa mente." Aurora apontou para a cabeça de Katsuki após a última frase. "E, no seu caso, vamos precisar dar um foco especial na mente. Se não, você nunca conseguirá realmente fazer um bom uso dos seus novos sentidos, e, por consequência, ser um caçador."

Com isso, Katsuki também estava precisando meditar dentro de seu quarto no castelo infinito, em silêncio e sozinho, por mais de duas horas seguidas por dia. Isso iria fortalecer a mente dele, de acordo com Aurora. Obviamente, ele inicialmente achou isso uma idiotice.

"Por que eu preciso fazer isso?!" Katsuki perguntou no primeiro dia em que Aurora mandou ele meditar no quarto no mais puro silêncio e solidão. "Isso é inútil! Eu poderia passar essas duas horas brandindo mais a katana! Seria mais útil." Aurora dá um peteleco na testa de Bakugou após ele soltar essa frase. "Ei!"

—Haha! Amo essa mulher.

"Não subestime a meditação! Você precisa disso, além de treinar sua mente, também vai ajudar com seu problema de paciência e raiva. Apenas, acredite em mim. E daqui a uma semana, vamos ver se você vai querer parar." Katsuki zombou um pouco de Aurora depois que ela falou isso, mas, depois de uma semana, ele não podia negar que ela tinha um ponto com tudo isso.

A raiva talvez não tenha diminuído tanto assim. Mas, a paciência com certeza aumentou consideravelmente, isso acontece quando se fica parado por duas horas sem se mexer, tendo como única companhia o som do vento e do ar. Katsuki ficava sem aparelho auditivo no quarto, já que essas salas têm por si só uma espécie de isolamento acústico. E, com isso, ele conseguia focar nos sons específicos de sua própria respiração, e em todo o ar envolta dele. Além das partículas de poeira ou madeira que eventualmente passavam pelas paredes. Isso ajudava sua mente a focar, ajuda a ter paciência, e ainda melhorava a questão da audição. Então, Katsuki realmente não tinha porque reclamar disso.

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Quatorze dias depois.

Mundo real: 06:12 > 12:45.

14 dias até o teste.

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Agora, o controle de Katsuki sobre sua audição melhorou muito em comparação ao início. Ele consegue ficar três horas fora do quarto no castelo infinito sem que antes tenha que fazer uma pausa e por os aparelhos auditivos. Com isso, ele agora começou um novo treinamento. Aurora o fazia correr com a katana nas mãos em uma área que imitava um ambiente urbano e outro um ambiente florestal. Tudo isso com um caminho cheio de armadilhas que Katsuki tinha que ir desviando.

"Sério? Tora de madeira? Esperava mais de você, Aurora!" Katsuki gritou enquanto corria com a katana na mão, e desviava de uma tora de madeira presa em uma corda que vinha em direção a ele. Katsuki já é acostumado a correr com coisas pesadas nas mãos, afinal, suas luvas e roupa de herói antiga tinha um peso considerável. A katana ainda é diferente de carregar, mas é mais leve que suas antigas luvas, então, não foi difícil de se acostumar.

E sua nova audição estava sendo muito útil agora. Conseguindo focar no que importa – que são às armadilhas no caminho – fica tudo absurdamente mais fácil de desviar. Ele consegue ouvir o click das armadilhas no exato momento em que elas se ativam, embora, sempre tem as mais difíceis.

Enquanto corria e desviava, ele consegue ouvir o som de metal viajando no ar em alta velocidade. Click. O som foi mínimo. Quase imperceptível. Mas ele ouviu. São facas. O instinto gritou antes do cérebro. Katsuki se jogou no chão, rolando de lado, e ouviu o barulho cortante no ar acima de si. Facas. Todas reais.

"Que PORRA é essa?!" Ele fala para o nada, pensando que Aurora estava por ali observando. "Tá tentando me matar, por acaso?!"

—Essa mulher é perfeita! Podemos nos casar com ela?

Ela tem o dobro da nossa idade, sua voz de merda!

—...Não custa nada sonhar.

Ela tentou me matar!

—Exatamente.

Aurora, que estava observando tudo acima logo acima do edifícios, grita pra ele. "Isso aqui não é igual a seu treinamentozinho de herói, garoto!" Ela fala com um sorriso, enquanto desaparece novamente correndo, deixando Katsuki no escuro sobre onde ela estava se escondendo de verdade enquanto o acompanhava.

Impressionante... eu nem consegui ouvir ela se movendo!

Desde que Katsuki aprendeu a focar sua audição no que realmente importava, ele estava sendo capaz de ouvir basicamente tudo e qualquer coisa que ele quisesse, claro, ainda tinha um limite de distância. Talvez algumas centenas de metros, ele ainda não conseguiu quantificar isso bem. E, quando Aurora se moveu, ele não conseguiu ouvir uma alteração no ar sequer, é como se ela fosse mais leve que o próprio vento.

Aquilo... aquela leveza. Aquilo o assustou. Aurora estava realmente em um nível completamente diferente de poder.

Esse treinamento estava sendo especialmente fácil para Katsuki, e Aurora percebeu isso. Então, diferente do que faria normalmente, ela resolveu pegar mais pesado com o garoto... muito mais. Três dias depois desse acontecimento, quando eles estavam prestes a começar o treinamento, ela anunciou as novas mudanças.

"Eu tenho percebido a sua... facilidade nesse treinamento, garoto. E, devo parabenizá-lo por isso!" Ela cruza os braços enquanto fala, e Katsuki responde com um sorriso quase arrogante.

"Estou acostumado a me mover nesses lugares. Principalmente florestas!" Katsuki diz enquanto se lembra de seu antigo treinamento antes de ir para a U.A.

Ele treinava na floresta que tinha perto de sua antiga casa. Tinha poucos animais selvagens, era afastada o suficiente da área urbana para ele conseguir se soltar um pouco, além de ser um ambiente que em si é ótimo para aprender a correr enquanto se desvia de centenas de árvores. Bakugou treinou neste ambiente florestal por pelo menos quatro ou cinco anos, e só parou quando ele e a mãe se mudaram para a parte pobre da cidade.

Quando entrou na U.A, as coisas mudaram bastante, e ele teve que se acostumar com lugares urbanos em sua maioria. Mas, o fato dele já estar acostumado a certas coisas, o fez estar muito à frente de muitos de seus colegas. E, agora, os treinos nos ambientes florestais se mostraram verdadeiramente úteis, já que Aurora parecia dar um foco especial nisso.

Katsuki balançou a cabeça enquanto se lembrava disso, ele não pode focar no passado agora, mas sim no presente.

"E exatamente por isso que nós vamos fazer diferente agora. As armadilhas vão continuar as mesmas, mas dessa vez..." Aurora aperta um botão que tinha atrás dela. "Com barulho extra!"

Uma enxurrada de sons invadiram a mente de Katsuki, é como se centenas de tambores estivessem tocando ao mesmo tempo. Todos em um tom diferente, com um barulho diferente. E, aparentemente, espalhados por todos os lugares possíveis.

"Isso... são tambores?!" Katsuki diz enquanto tenta não focar nesses instrumentos idiotas. Mas é mais difícil do que ele esperava. Ele já treinou o suficiente para que não precise ficar tapando os ouvidos nessas situações desconfortáveis. Só que ainda é extremamente desconfortável estar nesses ambientes. Principalmente com essa quantidade de sons.

"Sim!" Um sorriso presunçoso domina o rosto de Aurora agora. Ela se diverte tanto vendo esse garoto sofrer. "Eu coloquei um bom número de tambores que ficam tocando sozinhos. Todos com um som diferente. O seu objetivo será fazer o mesmo percurso de sempre, desviando das armadilhas e segurando a katana."

"Você guarda bastante rancor não é?"

Ela tá fazendo isso porque eu tava achando tudo muito fácil... tenho certeza disso.

—Ou, porque ela gosta de te ver sofrendo.

"Talvez sim, talvez não." Aurora descruza os braços enquanto bota a mão na frente da boca, contendo um riso. "Mas, isso será importante de qualquer forma." O sorriso diminuiu um pouco, e sua voz ganhou um tom de seriedade que Katsuki facilmente reconheceu. "Em uma luta ou perseguição de verdade, sua atenção estará competindo com vários sons diferentes ao seu redor, e se você não puder focar em meio ao caos de uma batalha, você morrerá em pouco tempo."

Katsuki não podia falar nada contra isso. Ele já esteve em muitas batalhas no pouco tempo que esteve na U.A. E a coisa mais constante entre todas elas, incluindo as que eram apenas treinamento, é o caos sensorial. No meio da luta, não só a visão está constantemente recebendo informações, como todos os outros sentidos também ficam sendo bombardeados com tudo que é possível. Talvez, dos cinco sentidos, a audição seja a que mais nota as coisas em pessoas comuns. Ou seja, em Katsuki isso se multiplica cem vezes, no mínimo.

"Agora, o que está esperando? Pode começar!"

Bakugou não esperou nenhum sinal a mais, e começou a correr pelo ambiente. Aquilo foi mais difícil do que ele esperava. Agora, ele estava caindo em boa parte das armadilhas. Focar em coisas específicas com todos aqueles sons, enquanto corre com a katana na mão, não é algo muito possível.

Enquanto corria em meio a árvores, ele pulou uma armadilha de cordas. E, alguns passos depois, ele tentou focar nos sons das armadilhas à frente, mas no meio dos clicks, havia centenas de sons se infiltrando no meio.

"Tump" "Bang" "Tump"

"Bang" "Tump" "Bang"

"Ah! Que inferno! Essas coisas não param não?!" Katsuki pisou em um chão falso e caiu no buraco abaixo dele. Por sorte, não tinha facas... dessa vez. "M-merda" Ele deu um pequeno gemido de dor, a altura era considerável, e isso o fez se desconcentrar por alguns momentos. Agora, dava pra ouvir até os átomos e o vento. De novo.

Devagar, Katsuki se sentou, ainda dentro do maldito buraco.

Porra... esses tambores estão me atrapalhando mais do que eu esperava.

Aproveitando o momento sem armadilhas imediatas para matá-lo, ele se senta, tentando se concentrar em qualquer coisa que não seja o barulho constante de... tudo. Fechando os olhos e tentando se concentrar nas partículas de poe-

"Tump!"

Caralho... Um, dois, três...

"Bang!"

...Quatro, cinco, se-

"Tump!"

Desgraça... Seis, sete, oit-

"Bang!"

Oito, nove, de-

"Tump!"

PORRA! Porque é tão difícil as coisas ficarem em silêncio?!

Katsuki estava tentando, muito. No entanto, todo o ambiente parecia gritar com aqueles tambores. Quando ele treinava sua audição com Aurora na frente do seu quarto, as coisas eram muito mais fáceis. Ele já havia se acostumado com o barulho que todo corpo humano fazia, das roupas, da poeira, das falas das pessoas, dos sons que as katanas e armas faziam. O som do metal em geral.

Agora, tambores? Todos fazendo um barulho diferente? Isso era novo, alto, e incômodo além do limite conhecido por Bakugou.

Não dá para só focar em uma coisa! Em todo lugar tem um barulho diferente, merda!

Como alguém foca assim? Não dá!

—...

A relação entre Katsuki e essa voz interior nessas três semanas tem sido altamente voltada a falas irônicas e desmotivadas por parte dela. Bakugou respondia na mesma medida, ignorava, ou só xingava como resposta a isso. Então, ele não pode conter a surpresa quando ouviu ela falando isso.

—Foque no ar.

Katsuki abre os olhos com isso, olhando para cima, pensando que talvez Aurora tivesse dito como um conselho, mas não tinha ninguém ali. Ele não esperava que aquela... voz tivesse realmente dito isso. Ele olhou ao redor, apenas para checar, mas não tinha ninguém, até porque ele estava sentado dentro de um buraco.

Você... está me ajudando?

A voz ficou um tempo sem responder, mas logo disse algo.

—Eu só estou garantindo que você não vai morrer! Isso...

—Isso não é ajudar! É garantir a minha própria sobrevivência!

A boca de Katsuki se curva por um segundo, como se estivesse ameaçando um sorriso irônico.

Depois de tanto tempo meditando todo dia, ele notou algumas coisas, e uma delas é o quanto essa voz é realmente parecida consigo. Assim como ele, a voz nunca admitiria quando fizesse algo para ajudar alguém. Se bem que a lógica dela não está errada, afinal, se Bakugou morrer, ela também morre. Então ela pode estar fazendo isso realmente por sobrevivência, nunca se sabe.

Humph...

Por que o ar?

—...

Cinco minutos inteiros se passaram, e nada da voz responder. Katsuki apenas suspirou com isso. Idiota presunçoso. Ele fechou os olhos em seguida, não custava nada tentar. Não é como se ele tivesse muitas ideias também.

Bakugou começou a respirar devagar. Aurora tinha dito que isso poderia ajudá-lo muitos dias atrás, então ele tentaria. Começou a focar no ar ao seu redor, no ar em todos os cantos. No ar que ele estava inspirando e expirando de si. No... vento, principalmente.

Por algum motivo que Katsuki desconhecia, ventava bastante ali. E, esse vento chamou sua atenção. E, com sua atenção presa a isso, ele relembrou... o ar está em todos os lugares. Todos os lugares – praticamente – que não são preenchidos por líquidos, coisas sólidas e outros gases. Bakugou sempre soube disso, isso é ciência básica, mas agora ele pode ouvir isso.

Ele consegue ouvir o ar em movimento em todo lugar, as correntes de ar. O vento batendo nas árvores, no solo, nos próprios tambores que ele agora odeia.

Abrindo os olhos com a coragem renovada, ele se atira para fora do buraco, segurando a katana com a mão direita, e começa a correr novamente. Mas, ao invés de tentar focar no click que as armadilhas faziam quando eram ativada, ele agora vai focar na alteração no ar que elas fazem quando ativadas, quando facas vem voando até ele, quando o tronco vem para atingi-lo, tudo isso gera pequenos níveis de alteração que Katsuki consegue ouvir.

Um tronco vem em sua direção, ele desvia com precisão, enquanto, em seguida, se impulsiona com um pulo para frente, passando por cima das armadilhas de corda que ele podia ver. Katsuki ainda podia ouvir os tambores ao fundo, mas dessa vez era mais como se fosse um ruído. Um ruído que ele conseguia ignorar. Na maioria das vezes.

Algumas centenas de metros à frente.

Ele estava conseguindo desviar de tudo muito bem. Mas, sem que ele percebesse, seu foco se desviou por alguns poucos segundos, um tambor gerou um barulho especialmente forte.

"POW!"

Bakugou foi atingido bem na nuca por outra tora de madeira. Uma igual a que ele tinha desviado minutos antes. Fazendo-o cair no chão mais uma vez, e rolando um pouco em toda aquela grama falsa.

Quantas vezes eu ainda vou ter que cair, porra?!

—O máximo que puder, por favor!

Ele não vai se abalar com isso, e, mais uma vez, se levantou e continuou a correr.

Eu vou passar dessa merda... você vai ver, voz de merda!

—Não tem nenhum nome melhor não? Me chamar de 'voz de merda' vai cansar até você em algum momento...

—E não é como se eu tivesse a escolha de não ver, seu idiota!

...

A gente decide seu nome depois. Só pode existir um Katsuki nesse mundo, e ele sou eu, não você!

—Nós dois somos a mesma pessoa.

Você sabe que acabou de se contradizer né?!

—Você fez o mesmo, então agora estamos quites!

...

Idiota.

—Idiota.

Katsuki também continuava fazendo os outros treinamentos, mas, de forma mais otimizada e rápida. E, dias depois, ele está aprendendo a cortar coisas de verdade.

"Armas em geral, e especialmente katanas são muito fáceis de quebrar, garoto." Aurora fala enquanto Katsuki segura uma katana em sua pose de combate. "E, embora hoje em dia os caçadores usem armas mais diversificadas de modo geral, a nossa arma principal e mais básica possível, principalmente para vocês iniciantes, ainda é a katana." Eles dois estavam em uma área cheia de bambus artificiais que tinha no castelo infinito, quando Aurora apresentou esse treinamento pela primeira vez.

"Então, se eu um dia quiser usar outra arma, eu poderei?" Katsuki perguntou enquanto olhava para sua katana como se fosse a coisa mais comum do mundo de se estar segurando.

"Sim, e isso é recomendado. Depender de só uma arma é perigoso, e te impede de aprender coisas novas. Mas, não vamos acelerar as coisas, você primeiro precisa aprender a lutar bem com uma katana antes de considerar lutar com outra arma. Por isso, hoje vou te ensinar a cortar de forma certa, e sem risco de quebrar a lâmina."

"Quebrar... a lâmina? E tem como uma katana quebrar?!" Disso katsuki não sabia, e isso porque ele pensava que já estava próximo de ficar bom usando essa arma.

"Oh, e se tem como viu." Aurora pega a sua própria katana, retirando-a da bainha. "Elas são fortes quando a lâmina está na vertical. Mas, é fraca na lateral. Por isso, é preciso aplicar a força diretamente ao longo da lâmina. A direção da lâmina, e a direção na qual você aplica a força devem ser exatamente as mesmas. Assim." Aurora exemplifica cortando um bambu que estava perto dela, perfeitamente. "Tente você agora."

Katsuki assentiu, segurando sua katana com as duas mãos firmes. Ele pensou em como Aurora fez, em como dava pra quase ver seus músculos aplicando a força necessária na direção certa. Ele fez o mesmo. Claro, com suas diferenças. Diferente de Aurora, ele tentou um corte reto, focando mais na velocidade do que na força em si.

E com um corte seco, o bambu é repartido no meio. Aurora vendo isso começa a bater palmas, e carregar um sorriso singelo consigo. "Boa, Katsuki!" Ela fala enquanto quase tenta abraçar ele, mas lembra que o garoto não gosta que invadam seu espaço pessoal, então apenas dá um tapinha encorajador nas costas.

Bakugou normalmente se afastaria de qualquer toque assim que não viesse de sua mãe, mas, Aurora estava respeitando seu espaço, mesmo que fosse ali no castelo infinito. Então... ele deixava ela fazer essas coisas, e também, ele respeita essa mulher, ela o salvou. E Katsuki nunca esqueceria algo assim.

—Oh...! Tá ficando mansinho agora?

"Agora, mais quinhentas vezes!" Aurora diz como se fosse a coisa mais simples do mundo, e Katsuki já consegue sentir o suor na testa e as bolhas nas mãos começando a surgir.

Merda. Ele pensa enquanto segura a katana novamente em sua pose, e se prepara para cortar muitos bambus.

Nessas mesmas duas semanas, ele também começou outro novo treinamento... cair. A voz na mente de Katsuki gostou muito desse.

Aurora dizia ser um treinamento para Katsuki aprender a cair sem se machucar, amortecer a queda, rolar, e se levantar de qualquer posição. Mas, Bakugou acreditava que isso era só uma forma dela mostrar ser fisicamente superior e mais forte em todos os pontos possíveis em comparação a ele, porque a forma que esse treinamento estava ocorrendo é muito estranha e humilhante.

Katsuki empunhava sua katana, e ia correndo em direção a Aurora em toda a velocidade, atacando ela como se quisesse matá-la. E Aurora mostrava o porque ela é mais forte que ele. Já que de mãos nuas ela conseguia render Katsuki, e jogá-lo no chão com muita força, força até demais às vezes.

"Você tá tentando me matar ou me jogar no chão por acaso?!" Bakugou fala enquanto se levanta para pegar sua katana novamente, e tentar atacar a maior mais uma vez. Sem sucesso, afinal, existem motivos para ela ser a treinadora e Katsuki o aprendiz nessa situação.

"Isso é importante. Você ainda vai cair muito nessa vida, e aprender a amortecer essa queda, e conseguir se levantar não importa a posição em que esteja vai ser muito importante nesses momentos!" Aurora fala com um sorriso, enquanto mais uma vez rende Katsuki e o joga no chão. Ela realmente ama isso. "E é melhor você se acostumar, vamos fazer isso por pelo menos um mês."

Essa mulher é insana!

—Essa mulher é maravilhosa!

Katsuki confirma esse pensamento a cada dia que se passa, pela intensidade desses treinamentos. Nem Aizawa chega perto do que Aurora manda ele fazer. Bem, talvez isso faça sentido quando se pensa que ela está treinando-o para matar onis, e não para prender vilões. Mas, mesmo assim.

Depois de alguns poucos dias após o começo do treinamento de cair. Veio a parte que Katsuki mais estava esperando começar. Respirações. E, como em todo começo de uma aula, Aurora resolveu começar contando um pouco da história das respirações. O que não era comum, já que ela costumava focar muito mais no treinamento em si na maioria das vezes.

"As técnicas de respiração surgiram junto com a Marca do Caçador. E toda e qualquer derivação que exista hoje em dia tem origem em especificamente duas. A respiração do sol, e a respiração da lua." Aurora fala frente a Katsuki, ambos sentados no quarto do próprio.

"Então, essas duas são a origem de tudo? As fodonas? As mais fortes, pelo que entendi?"

"Basicamente!" Por escolha, Aurora resolve ignorar completamente o linguajar sujo de Katsuki. "Todas as outras centenas de variações que existem hoje em dia tem origem em alguma dessas duas, ou, em alguma que se originou dessa. Ou seja, para praticidade da coisa, não seria errado falar que toda e qualquer respiração é o resultado de alguém tentando fazer a do sol ou a da lua, e falhando miseravelmente."

Katsuki fica meio possesso com isso. Isso significa que eu vou estar aprendendo uma cópia de algo?! Ele já estava prestes a verbalizar isso para Aurora, mas ela o parou antes, como se pudesse ler sua mente... de novo.

"E antes que você pergunte, não existe nenhum registro histórico em qualquer lugar sobre como se usa qualquer uma dessas duas técnicas, então tentar aprender elas não é uma opção. Principalmente para você que está no início e precisa começar por algo fácil. Por isso, eu trouxe isso aqui." Aurora pega um pequeno livro que tinha guardado no bolso, e entrega para Katsuki, que o pega rapidamente.

Bakugou analisa o livro, o nome é só "Respiração" e mais nada. A imagem é de uma pessoa qualquer brandindo uma katana, e o livro é todo preto fora isso, e parece ser relativamente antigo, mesmo que essa impressão seja nova. "O que é isso?" Katsuki tinha uma ideia, mas, esse lugar em que ele está é estranho, então nunca se sabe o que pode acontecer. Por via das dúvidas, é melhor perguntar do que ficar no escuro.

"Inicialmente, as técnicas de respiração eram passadas boca a boca, ou seja, isso tornava o processo de aprender excessivamente lento."

Ele pode imaginar isso. Ter que ensinar tudo na base da voz? Isso parece um pesadelo. Além de ser extremamente limitado.

"Com o passar do tempo, o mundo foi avançando, os onis foram aumentando exponencialmente em quantidade também, os caçadores não podiam ficar para trás, então, nós resolvemos aumentar nossa quantidade de caçadores de maneira expressiva." Aurora fez uma pausa. "A quantidade de técnicas de respiração também estava aumentando, então isso acabou se mostrando necessário." Ela apontou para o livro na mão de Katsuki "Nesse livro, tem todas as técnicas que conseguimos quantificar e explicar até os anos mais recentes. Além de uma explicação básica de como alcançar a respiração de concentração total, que é a base para fazermos qualquer técnica."

Katsuki ouve tudo com atenção, querendo pegar até os mínimos detalhes, e não deixar nada de fora. "E quanto a marca?" Ele toca brevemente a sua própria marca no pulso. "Esse livro seria inútil sem uma marca, então, como vocês conseguiram crescer mesmo com essas limitações?"

Vendo isso, Aurora sente seus olhos brilhando, ela ama pessoas curiosas. "Essa é uma ótima pergunta!" A voz sai animada, feliz, e cheia de expectativa. "Eu não sei todos os detalhes sobre isso, já que não sou uma estudiosa focada em história dentro dos caçadores, mas, como sou uma pessoa curiosa, procurei saber sobre isso já também. Os caçadores de mais alto escalão – incluindo eu – são encorajados a sempre despertar a marca em outras pessoas que estejam dispostas a lutar contra onis. E sim, mesmo sendo poucas, nós conseguimos nos manter assim."

"Isso não me parece ser muito eficiente..." Katsuki murmura para si mesmo baixinho, não querendo tomar um apavoro de Aurora, ela parecia interessada demais nisso para ser retrucada.

"Você disse o que ái?"

"Nada!" Bakugou respondeu rapidamente, tremendo levemente a mandíbula. Ele sabe muito bem como essa mulher pode ficar quando está com raiva, e ele não quer complicar sua vida ainda mais, com mais treinamento extra. "E então, o que eu vou fazer? Vou ler, escolher uma técnica e pronto?" Katsuki fala, querendo voltar logo ao seu aprendizado.

"Oh! É um pouco mais complicado do que isso..." Ela suspira um pouco enquanto fala. "É menos questão de escolher. É mais como... ser escolhido."

Agora sim Katsuki sentiu a cabeça dando um nó. "Hein?!" A voz saiu alta, e cheia de dúvidas. "A porcaria da respiração que tem que escolher a gente?" Aurora dá outro cascudo na sua cabeça por conta disso. "Ei! Eu disse o que de errado dessa vez?!"

—Você chamou a respiração de 'porcaria'.

Eu poderia ter dito muito pior!

—Por que você não testa? Amaria ver ela te batendo mais.

Sádica de merda.

—Eu ser assim diz algo sobre você, não acha?

...

"Não é a respiração que tem que te escolher. É a marca que decide essas coisas." Ela gesticula para o próprio braço, mostrando sua marca de chamas que cobre ele por inteiro. "Eu, por exemplo, é muito óbvio que sempre tive domínio pelas chamas. Mas, eu também sei mais duas além dessa respiração!" Agora, isso sim surpreende Katsuki. Ela nunca tinha sequer citado isso antes.

"Tem como ter mais do que uma?!" Ele pergunta incrédulo, boquiaberto mais uma vez.

"Sim!" Um sorriso se abre no rosto de Aurora, em direção a Katsuki. "Tudo isso depende de um simples fator. Se você tem individualidade ou não, e, como você bem sabe, a maioria dos caçadores não têm individualidades." Sim, isso é um fato.

Katsuki vê muitos caçadores todos os dias quando está treinando, ou só fora do quarto observando o ambiente do castelo infinito. E, quase nunca aparece alguém com individualidade, não é que não exista, ele vê as vezes alguns treinando também usando a quirk, mas, isso é relativamente raro.

"Uma das limitações que as individualidades trazem pra quem tem a marca é essa, a pessoa tem que se restringir exclusivamente a uma só respiração, como os caçadores mais antigos faziam no passado. O corpo deles não aguentariam ter mais do que uma técnica de respiração..." Katsuki tem certeza que viu o olhar de Aurora se entristecer falando disso, mas, sumiu tão rápido quanto veio. Ele fez uma anotação mental para perguntar sobre isso depois.

"Mas, pra gente que não tem quirk, temos nossa respiração principal, e a possibilidade de ter mais duas respirações secundárias. Eu, por exemplo." Levantando o braço levemente mais uma vez, Aurora se concentra um pouco, respirando de uma forma específica. E, logo, a marca dela começa a brilhar novamente, porém, dessa vez em... azul? Então, uma pequena bola d'água se gera na palma de sua mão. "Legal, né? Chamas e água!"

Katsuki estava ainda mais boquiaberto com isso. Isso era muito mais poderoso do que ele esperava. Mas, um outro pensamento se passava em sua mente vendo isso.

Eu não duvido de mais nada... O nome dela deve ser Aurora Todoroki na verdade.

—Nisso eu concordo com você.

Aquela família é louca.

"E, também tenho a terceira!" Ela respira de outra forma agora, e toda a água vira gelo. "Chamas, água, e gelo! A combinação perfeita se você for me perguntar."

"...Você por acaso tem o sobrenome Todoroki em segredo?" Katsuki perguntou sem medo, de tão impressionado. Seus olhos estavam levemente arregalados, e sua mão tocou brevemente o gelo, como se fosse checar se é realmente real.

"Quê?! É claro que não! Por que essa pergunta estranha, garoto?" Aurora questiona seu pupilo, confusa pela pergunta repentina e sem sentido.

"Nada, esquece!" Katsuki diz enquanto gesticula com as mãos, como se estivesse jogando longe a pergunta boba. "Agora, me mostre! Como posso saber qual é minha respiração?" A voz sai levemente mais rápida que o comum, ele estava realmente ansioso para isso.

"Podemos começar com... a marca! Olhe para ela, com o que ela se parece?"

Katsuki olha para seu pulso direito assim que Aurora fala isso. Ele olha para a marca, tentando achar uma forma, algo que... combine. Inicialmente, nada parece fazer sentido. Parece ser só um monte de espirais e linhas aleatórias. Mas, logo ele consegue notar, tem mais coisa nisso. Olhando ao todo, parece muito com uma ventania.

"Parece... uma ventania." Aurora também aproxima seu olhar na marca de Katsuki.

—Ventania...? Você quis dizer 'leve brisa' não é?

...

Um dia vai virar uma ventania! Quando crescer...

—Quem sou eu para retirar seus sonhos idiotas né... mas não diga que não avisei.

"Hum..." Ela bota a mão no queixo, como se estivesse analisando. "Parece mais como uma brisa leve de versão. Que carrega folhas e... pétalas?" Aurora diz a parte das pétalas com uma pontada de surpresa.

"O que tem as folhas e pétalas?" Na mente de Katsuki, pareciam mais pequenos detalhes que de nada serviam, do que algo realmente importante. Era só algo estético, algo 'bonitinho' essencialmente falando.

"Bem... tem uma respiração do vento, e é nisso que eu apostaria se fosse você."

—Por que eu sinto que tem um 'mas' nisso?

Não viaja.

"Mas."

...Porra.

—Haha.

"Eu não sei o que as folhas podem querer dizer, mas as pétalas talvez eu saiba." Aurora hesita um pouco antes de continuar, embora... ela admita, está curiosa para ver a reação do garoto raivoso que parece mais um delinquente que tudo na maioria das vezes, mesmo que ele tenha evoluído bastante essa parte sua no pouco tempo em que estava no castelo infinito. "Existe uma... respiração das flores. Talv-"

"Nem pensar!" Bakugou respondeu, sem nem mesmo dar espaço para ela terminar a pergunta. "Eu não vou usar algo que se chama 'respiração das flores'!" Ele começa a folhear o livro atrás de algo, até parar na página que estava procurando. "Aqui! 'Respiração do vento', vou ir com essa. A marca brilhou em branco da última vez, então tem sentido ser isso!" Ele disse rapidamente, como se Aurora tivesse dito para ele fazer algo criminoso, de tão rápido que fugiu disso.

"Calma, garoto! Eu só estava dando sugestões." Ela levanta as mãos, como se estivesse se rendendo. Um sinal de paz. "Independente da respiração que você escolher, você vai precisar primeiro aprender a dominar a Respiração de Concentração Total. Está no início do livro!" Ela diz enquanto se levanta, como se estivesse pra ir embora.

Katsuki já estava indo folhear o início do livro, mas para quando vê Aurora se levantando, jogando o livro na cama enquanto também se levanta. "Ei, para onde você vai?" Nesses dias em que Katsuki esteve aqui, Aurora ficou com ele em quase todos os momentos. Tirando os momentos de meditação, e os poucos em que ele dormia.

"Eu tenho algumas coisas a fazer no mundo real, então vou ficar um tempo fora. E, com isso, eu vou te dar seu primeiro verdadeiro desafio." Ela pega um anel que estava guardado em seu bolso, e dá para Katsuki.

Ele pega o anel na mão, observando e checando ele. O anel é simples, parecia um anel de coco na verdade, é bem igual, nem daria pra diferenciar. "O que é isso?"

"É um anel que todo caçador usa. E, é a forma que usamos para poder abrir uma porta do castelo infinito até o mundo real, e vice-versa."

Agora, Bakugou consegue se lembrar. Ele viu esse anel na mão de Aurora quando ele acordou aqui pela primeira vez. Ele lembra de ter achado estranho, mas não prestou tanta atenção.

Então é para isso que aquele anel serve?

Sem pensar muito, ele coloca o anel no quarto dedo a partir do polegar. E, sem que ele estivesse esperando, dá para sentir o anel furando levemente sua pele por dentro, como se estivesse se conectando à pele. A dor é mínima, mas Katsuki tenta tirar o anel por puro reflexo. "Que merda é essa?!" O anel não saia, é como se ele estivesse preso ali agora. "Esse anel furou meu dedo por dentro! Como?!"

Aurora segura seu braço assim que ele tenta tirar o anel mais uma vez. E, sem expressar nenhuma dificuldade, ela consegue fazer Katsuki parar de tentar tirar o anel. Deixando-o impressionado com tamanha força, ele sabia que ela era forte, mas nesse nível? Dava pra ver que Aurora nem estava se esforçando para segurá-lo.

Que... força.

"Não precisa ficar com medo. Ou você é do tipo que tem medo de agulha?" Aurora solta um riso com isso, tentando manter o humor alto, e despreocupar Katsuki. "O anel só está se conectando a sua rede sanguínea, assim ele saberá quando você estiver respirando em Concentração Total."

"Eu não tenho medo de merda nenhuma!" Katsuki diz enquanto a mão sofre de uma leve tremedeira inconsciente.

—Ah! Mentiroso!

...Maldito corpo.

"Mas por quê essa desgraça de anel precisa ter acesso a isso?!" Ele se solta do aperto de Aurora. Embora, seja só porque ela por conta própria deixou ele sair.

"É assim que podemos invocar aquelas portas/portais que você vê outros caçadores usando toda hora aqui. O anel sente quando você está em Concentração Total, e abre uma porta para onde você quiser ir." Aurora diz enquanto exemplifica, entrando em Concentração Total, e uma porta se abre atrás dela.

"Seu desafio será esse! Você só vai conseguir sair daqui do castelo infinito após dominar a Concentração Total por pelo menos alguns segundos para ativar isso. Eu vou ficar fora por alguns dias, vou estar ocupada caçando alguns onis importantes, e fazendo algumas investigações. Você vai estar por conta própria agora!"

"Ei!" Katsuki avançou, tentando segurar seu braço. "Isso foi muita informação, você vai me deixar sozinho aqui?!"

Sem responder a pergunta, Aurora apenas dá um passo pra trás, e sussurra para Katsuki. "Boa sorte!" Em seguida, a porta desaparece no ar, deixando Bakugou segurando apenas um vazio, agora verdadeiramente sozinho.

Ele fica ali, parado por um momento, só absorvendo tudo que acabou de acontecer.

Ela realmente... foi embora?

Não é que Katsuki fosse alguém sentimental, mas, isso foi muito súbito. E, depois de três semanas com essa mulher junto a ele, observando-o e ensinando, ficar sem assim é... estranho. Quase desconfortável. Contudo, ele não se deixaria abalar por isso, ele é Katsuki Bakugou, e não vai ficar chorando enquanto tenta aguentar a solidão... hoje pelo menos.

Balançando a cabeça, ele tenta ignorar esses pensamentos por enquanto. Pegando o livro que estava jogado na cama e ficando em uma boa posição. Estava na hora de treinar – ou ler, nesse caso – e não de ficar choramingando.

—Ora, ora! Alguém tá motivado em?

Se você não vai ajudar, fica quieto Kizu!

—...

—Você... me chamou de quê?

Kizu ué! Não foi você que disse que queria um nome?

Pronto, este será seu nome agora.

—...

A voz não... Kizu não sabia como reagir a isso. Ela nunca falou sério quando falou sobre um nome melhor. Talvez Katsuki o chamasse de mais variações de xingamentos, foi isso que ela pensou quando disse isso. Mas... um nome? Exclusivo? Pra... ela? Uma voz no fundo de sua mente que devia ser o seu 'demônio' interior?

—Haha...

Hein?! Tá rindo de quê?

—Hahahahahah...

Tá maluca?! Enlouqueceu agora?

—HAHAHAHAHAHAHA!

Agora sim Katsuki tinha a mais absoluta certeza.

Fudeu... endoidou de vez.

Dentro da sua mente. Kizu ficou rindo por muito tempo, minutos inteiros. Foi um pesadelo para Bakugou, e não era algo que ele pudesse só ignorar. Estava dentro de sua mente, tapar os ouvidos não faria a menor diferença. Independente disso, ele ainda tapou os ouvidos com força por puro reflexo.

—Ah...! Nossa, faz muito tempo desde a última vez que consegui rir tanto assim!

Agora que você se acalmou... Por que todos esses risos?!

Pensei que você quisesse um nome, porra! Eu fiquei muito tempo pensando nesse nome, sabia?!

—Eu estou agradecida, sério mesmo, é só... Porra!

—Você acabou de dar um nome para uma voz que só você ouve!

E?

—E?! E daí que isso é estranho pra caralho!

Nós estamos em um castelo infinito treinando para matar demônios.

O que não é estranho aqui?!

—...Não posso argumentar contra isso.

Então pronto! Você agora tem um nome, conviva com isso.

—Mas-

Sem mais demora, Katsuki focou sua atenção no livro, fazendo força para ignorar os protestos de Kizu. Chegou a hora de ler tudo aquilo, e aprender a... respirar direito? É, o conceito disso tudo é bem estranho até para ele, mas fazer o quê. Ele abre na página um.

—...

Kizu estava... surpresa, no mínimo. Ela parou de 'protestar' contra o nome assim que percebeu Katsuki focando no livro. Se acostumar com o fato dele percebê-la também estava sendo difícil para ela. Desde que se lembra, ela estava lá, vendo tudo que acontecia, e fazendo seus comentários. Era como se fosse uma espectadora dentro da mente de alguém, mas que nunca pode influenciar em nada, ou tomar nenhuma decisão. Mas agora... Katsuki estava ouvindo-a, e ela não sabia o que isso significava, mas, estava sendo interessante. Muito. Kizu... gosta disso. Muito mais do que quer admitir.

— — — — — — — — — — — — — — — —

Sete dias depois.

Mundo real: 12:45 > 16:20.

14 dias até o teste.

— — — — — — — — — — — — — — — —

Oficialmente, Katsuki estava sentindo seus pulmões gritando de sofrimento.

Uma semana se passou, e ele aprendeu muito lendo aquele livro. Existiam centenas de estilos de respirações hoje em dia. Tudo começava nas mais básicas, às reconhecidamente mais fáceis para iniciantes aprenderem. Chama, água, vento, relâmpago, e inseto. A partir delas – e do sol e da lua – os outros estilos foram criados. Névoa, som, serpente, pedra, magma, sangue, amor, flores, ácido, metal. Eram tantos estilos que nem Bakugou conseguiu decorar a quantidade. Com certeza tinham mais de cem.

O problema ali era exclusivamente um. A Respiração de Concentração Total.

De acordo com o livro, é uma técnica de respiração que envolve expandir os pulmões para inspirar o máximo de ar possível, acelerando o fluxo sanguíneo e os batimentos cardíacos enquanto aumenta a temperatura interna do corpo. Isso resulta em um aprimoramento temporário de características e capacidades físicas, deixando aquele que o utiliza com força, velocidade, vigor e uma durabilidade sobre-humana.

Katsuki sempre treinou todas as partes de seu corpo, incluindo os pulmões, então pelo que sabia, ele já tinha todas as capacidades físicas para conseguir usar essa técnica. Ele sabe que Aurora não o deixaria sozinho se não tivesse certeza disso.

Entretanto, falar é mais fácil do que fazer.

Neste instante, Katsuki estava na 'floresta' de bambus artificiais que ele usava para treinar os cortes com katana. Tentando respirar do modo que o livro mandava, mas ele podia sentir que seu coração sairia pelo ouvido de tanta dor.

"Que merda!" Ele diz enquanto corta dois bambus que estavam na sua frente. Esta estava sendo sua principal reação sempre que falhava em usar a técnica da concentração total. É um bom jeito de treinar. Bakugou cortava eles perfeitamente, como se fosse algo automático agora, de tantas falhas que teve.

Assim que se acalmou, mais uma vez ele tentou. Respirou fundo, ficou na posição, e... parou logo que sentiu o coração quase explodindo de tanta dor.

Mais dois bambus foram cortados.

"PORRA!" Ele repetia intensamente repetidas vezes, enquanto cortava tudo que aparecia na sua frente.

"O que eu estou fazendo de errado?!" Em voz alta Katsuki repetia. Ele estava fazendo exatamente o que o livro falava, sem falhas. Então... por que não funcionava? Por que ele sentia que estava prestes a morrer sempre que tentava ficar em concentração total?

"Nada." Uma voz desconhecida por Katsuki diz, atrás do mesmo.

Por puro reflexo, Katsuki dá um pulo pra frente, se virando e empunhando a katana em uma posição de batalha.

"Quem é você?!" Os olhos de Bakugou se afiam enquanto ele passa o olho pela garota na sua frente. "Eu não te conheço!"

A garota parecia ser menor que ele. Branca, magra, e pouco musculosa. A roupa era a mesma que todos os caçadores que estavam treinando aqui usavam, incluindo ele mesmo. Porém, o que mais chamava atenção era o rosto dela, com certeza. Ela tem longos cabelos loiro-vivos, com algumas mechas vermelhas que lembram chamas. Os olhos são dourados com íris vermelhas. A idade era próxima da sua, ele podia ver isso pelas feições dela. Dezesseis. Dezessete no máximo.

"Eu me chamo... Sakeme." Ela para de falar e respira um pouco, como se estivesse prestes a falar algo ruim. "Sakeme Rengoku."

Katsuki não faz a menor ideia do que isso quer dizer.

"Idaí?" Ele mantém a posição de combate mesmo com essa informação. "Este nome não diz nada para mim!"

"Ah?!" Sakeme quase cai no chão com isso. Como assim ele nunca ouviu falar de mim?! "Você não está treinando com a Hashira das chamas?"

Ah, sim. Aurora chegou a falar desses termos uma vez. Katsuki não se preocupou em decorar a maioria, mas esse ele fez questão de fixar na mente. Hashira. O mais alto nível que um caçador pode chegar, e, Aurora é uma delas.

"Sim, e do que isso importa? Eu ainda não te conheço!" Sakeme sente uma gota de suor na testa ao ouvir isso.

"Ela... não falou de mim?"

Katsuki balançou a cabeça em negação.

Sakeme suspira com isso. É claro que ela não falou... por que falaria né? "Bem, eu sou a outra aprendiz dela... ou, fui, no passado. Antes de você." Ela aponta para ele.

Aprendiz...?

Bakugou sabia que Aurora tinha outros aprendizes, mas nunca pensou que veria outro por aqui. Pelo que ele sabia, ela preferia treinar cada um individualmente, e nesse momento, Katsuki devia ser o único aprendiz dela. Ela nunca falou de outra enquanto treinava.

"Aurora nunca me disse nada sobre você." A posição de combate se desfaz. "O que faz aqui?"

"Eu estava de passagem, e ela me ligou falando um pouco sobre você quando eu estava no mundo humano. Logo, resolvi ver como estava indo seu treinamento." Sakeme dá um olhar nele, percebendo o suor, e todos os bambus cortados ao redor. "Está tendo dificuldades pelo visto, né?"

"Humph!" Bakugou apenas bufou em resposta. "E o que você quer em?"

"Eu realmente só vim conhecer você, fiquei curiosa com o novo aprendiz da Hashira das chamas." Dessa vez, Sakemi olha Katsuki de cima a baixo. "Já vi que você é esquentadinho em..."

Katsuki não tentou negar isso, apenas respirou fundo e se virou na frente de mais um bambu. "Fala logo o que você quer. Eu estou ocupado, caso não tenha percebido!" Ele pegou a katana em mãos mais uma vez, tentando focar na respiração.

"Está com dificuldade com a concentração total né?" Sakeme se aproxima em passos lentos.

"Huh...!" Bakugou apenas grunhiu em resposta, e Sakeme entendeu isso como um sim. "Meu corpo já é forte, e eu sou bem treinado, mas..." Ele suspirou um pouco antes de continuar. "Eu sinto que meu coração vai sair pelos meus ouvidos sempre que tento essa merda!"

"Hum..." Sakeme colocou a mão no queixo, como se estivesse pensando no que falar. Aquilo lembrava um pouco ela mesma. "Você disse que já tem o corpo bem treinado, não é?"

Katsuki assentiu.

"Sendo assim, talvez não lhe falte nada!" Sakeme bate o punho na palma da outra mão, como se tivesse dito algo genial.

"Quê?!" Bakugou se aproxima um pouco, olhando para a garota como se ela fosse uma alienígena. Como assim não lhe faltava nada? "Ma-"

Antes que ele pudesse continuar, Sakeme coloca o dedo em sua boca, impedindo-o de falar.

Como ela OUS-

—Opa! Já gostei dela!

...

Sério?

Faz nem dez minutos sua maluca!

—Ela tem coragem, ué.

Eu mereço mesmo viu...

"Eu vi você respirando quando cheguei aqui. Você está fazendo a técnica de concentração total certo!" Ela retira o dedo da boca dele. "Mas, seu corpo nunca sentiu essa sensação antes, ele não se acostumou com essa dor, com o seu coração batendo nessa velocidade, com o sangue circulando acelerado assim, e com a temperatura interna alta." Sakeme coloca as mãos na cintura com isso. "Ou seja, o que te falta é acostumar seu corpo a essa dor! Aí, você vai poder manter a concentração total por ao menos uns segundos!"

Katsuki queria muito gritar com essa garota por ter o impedido de falar, ela pensa que é quem pra fazer isso? Contudo, ela tem um ponto. Talvez o que lhe falte seja realmente... costume? É possível.

"Então, você tá me dizendo que o que me falta é... treinar até quase morrer?" Ele sente o corpo reagir como se já soubesse a resposta.

"Exato!" Diz Sakeme, já se virando e se afastando com passos largos. "Boa sorte, garoto esquentadinho!"

"Ei!" A palavra saí antes que ele perceba. "Não me chame assim!"

"Mas você é esquentadinho!" Uma porta do castelo infinito abre abaixo dela.

"Você que tem o cabelo que se parece com fogo! Então você é a esquentadinha aqui!" A katana cai no chão enquanto ele se vê correndo atrás dela inconscientemente.

"Errado, você que é!" Ela cai na porta assim que diz isso, indo para o mundo humano, fazendo a discussão morrer ali mesmo.

Katsuki sente que não vai ser a última vez que vai encontrar essa garota, mas já não foi com a cara dela. "Huh... idiota de merda." Ele se agacha para pegar sua katana, e acaba olhando ao redor, vendo a 'floresta' de bambus artificiais. Ele suspira um pouco vendo que a garota realmente foi embora, foi legal ter... alguém, mesmo que por tão poucos minutos. Com isso, Bakugou se vê novamente sozinho... ou quase.

—Eu gostei da garota, quando vamos poder vê-la de novo?

Ah?! Você acha que eu vou saber isso?

—Considerando que agora você se chama de 'caçador'...

Cala a boca Kizu!

—Pode tentar a vontade! Duvido que tenha sucesso.

Bakugou quase se viu rindo com isso. Ele não iria admitir, mas... é divertido ter Kizu em sua mente. É uma companhia em meio a todo esse vazio. Rapidamente, deu pra perceber que embora o nome dessa dimensão fosse 'castelo infinito', também é um lugar extremamente solitário, ninguém nunca se fala ali. E, quando, porventura, ele se encontra com algum caçador, eles mal se olham.

Ele assume que é melhor assim, afinal, tem gente de todo o mundo por ali, e é improvável que alguém de outro continente saiba falar japonês. Isso não deixava as coisas menos solitárias. Principalmente por conta de... uma pessoa.

Mitsuki, sua mãe. Bakugou estava ficando com saudades dela, muita. De acordo com suas contas, faz vinte e nove dias que ele está dentro do castelo infinito, quatro semanas. No mundo real, nem sequer passou um único dia ainda. Entretanto, não dá pra evitar as saudades que Katsuki está sentindo. Ficar tanto tempo assim sem vê-la... é muito, até para alguém como ele.

Ele não pode ficar muito mais tempo dentro do castelo infinito, ele precisa conseguir sair e voltar para casa. Ir jantar com sua mãe, fingir que só saiu e ficou treinando o dia todo... o que não é mentira. Mas, ela não precisa saber dos detalhes.

Katsuki aperta o cabo da katana enquanto pensa nisso

Eu vou voltar mãe... eu juro.

—Tsk...

—Tá esperando o quê? Vai treinar, porra!

Bakugou não precisa ouvir isso uma segunda vez. Ele fica na posição, katana em mãos, e começa a respirar mais uma vez em concentração total.

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Sete dias depois.

Mundo real: 16:20 > 19:50.

14 dias até o teste.

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Mais uma semana se passou, e Katsuki estava começando a se preocupar. Muito. Os primeiros três dias foram infernais, e todo seu corpo queria gritar de tanta dor. Claro, ele não iria desistir só por conta de algo tão irrisório, comparado a sua força de vontade. Nada disso o impediu de ficar em pé de guerra com seu próprio corpo. Ele ficou fazendo os outros treinamentos que Aurora lhe ensinou durante o dia, mas, todo o resto de tempo possível, o foco estava unicamente em treinar essa técnica. Se quisesse ficar forte de verdade, precisava dominar isso.

No quarto e quinto dia, ele já conseguia sentir um pouco de evolução. Agora, ao invés de parar assim que começava a respirar em concentração total, Bakugou estava aguentando dois ou três segundos com a técnica ativa, o suficiente para fazer o que ele mais estava aguardando conseguir.

"Vamos lá, porra..." Katsuki estava com a katana em mãos, posição de combate em frente a algumas dezenas de bambus. Até mesmo Kizu estava quieta, parecia tão ansiosa quanto ele no fundo de sua mente.

Ele começou a respirar, concentração total.

Um segundo.

Bakugou pode sentir todas as veias dos seus braços e rosto saltando. Conseguiu ficar em concentração total, tem poucos segundos agora para fazer o que quer. Sem perder tempo, ele segura a katana acima da cabeça, preparando um ataque.

Dois segundos.

Ele balança a katana de cima para baixo, em um corte vertical. Sem que ele percebesse, sua marca brilhava em branco novamente. A lâmina da arma também se altera ao seu toque, um verde claro.

Três segundos.

Katsuki para de respirar em concentração total. O resultado do ataque estava na sua frente. Observe, ele esperava que o impacto do ataque fosse forte, afinal, pelo que Aurora tinha dito, a marca aumentava todos os atributos físicos a níveis sobre-humanos, principalmente ataques com armas físicas. Apesar disso, Bakugou não esperava... isso.

O bambu partiu por completo no meio de cima para baixo, junto com todos os cinco adjacentes a ele.

"C-como?" Aquilo não tinha o menor sentido, a katana era pequena demais para o tamanho desse corte... desse impacto. Katsuki olhou para sua marca novamente, percebendo o brilho. "A marca fez tudo isso?!"

—Essa marca é apelona em...

Não é pra tanto também!

Minhas antigas explosões ainda conseguiam fazer bem mais...

—E também destruiriam todo o ambiente junto!

—Ao menos a katana não destruiria nenhum prédio por acidente.

Humph... Touche.

Bakugou olhou para a katana agora, e notou a nova cor. Ele leu sobre isso no livro, a cor da lâmina muda dependendo de quem a segura. Mas verde? Sério?

"Puta merda... essa desgraça de cor realmente me amaldiçoa né?" Katsuki odeia essa coloração.

—Para de frescura! A cor é boa.

"Tão boa quanto estar doente..." Ele murmura para si mesmo, enquanto guarda a katana na bainha. Três segundos deve ser o suficiente, já estava na hora dele voltar para a casa, sua verdadeira casa.

Sem demora, Bakugou começa a se locomover no castelo infinito. Ainda não podia fazer aqueles pulos impossíveis que via outros caçadores fazendo, mas, conseguiu fazer alguns mais curtos pelo menos, e a gravidade leve do lugar ajudava com isso.

No seu quarto do castelo, ele vestiu novamente o casaco, ajustando bem as mangas. Ele iria manter a marca escondida por enquanto, quando crescesse ele inventava alguma desculpa qualquer para isso. Katsuki deu uma última checada, só para garantir que estava levando tudo que precisava. O livro estava em seu bolso, só para garantir. E a katana estava firmemente presa em seu cinto, sua mãe precisava saber com que arma ele estava treinado pelo menos, e assim ele tinha uma forma de se defender caso... algo aconteça.

Ele estava preparado, o máximo que conseguia. Aurora o mandou entrar em concentração total e imaginar para onde queria ir, e o anel faria o resto do trabalho. Bakugou vai fazer exatamente isso.

Um.

Nada.

Dois.

—Ih...

Três.

Uma porta em sua frente se abriu, igual foi com Aurora. Katsuki entra.

Notes:

O que acharam? Próximo cap teremos mais interações com a Mitsuki e o bakusquad, então yeyyyyy.

E bem, a Sakeme vai ser… importante. O que acharam dela? Como viram pelo sobrenome, ela é de uma família importante.

Eu tentei o possível pra fazer o treinamento do Katsuki o melhor que pude imaginar, considerando toda a questão da audição nova dele, e do fato dele já ter um físico muito bem construído, e já ter algum bom conhecimento de luta.

A Kizu. Eu sinceramente tô amando escrever essa personagem. Como deu pra perceber, fiz os nomes deles combinarem, Kizu é quase um anagrama de Katsuki, mas eu botei um z no lugar do s pra ser diferente. Tão gostando dela?

E, vocês não tem ideia. Eu fiz um programa em PYTHON pra poder calcular essas datas. Obviamente, aproximei algumas coisas, mas eu tenho as datas EXATAS se precisar. Saber de programação realmente ajuda muito as vezes ksksksks.

Enfim, espero que tenham gostado do cap! Mais um bem grande, como deram pra ver. To me COMPROMETENDO a deixar eles bem grandes skksksks.

Tenham todos uma boa semana, e um bom dia :D.

Chapter 4: Capítulo 4 - Amigos

Notes:

(See the end of the chapter for notes.)

Chapter Text

Assim que Katsuki sai da porta, ele percebe. Estava em um beco, o mesmo em que sua quase morte aconteceu. Na cabeça dele, faria mais sentido sair ali, provavelmente estaria vazio agora, e era perto o suficiente de casa para não demorar mais do que alguns poucos minutos para chegar andando.

Porra... eu consegui mesmo!

—Você achava o quê? Que ia sair em Nárnia?

Estávamos em um castelo infinito, merda!

Ainda tenho a leve ilusão de que posso estar alucinando toda essa merda...

—Coitadinho, tá ficando louco?

—Posso consertar isso! Basta pegar a katana e-

Kizu, vai se fuder.

—...Grosso.

Sem demora, ele sai do beco, e começa a andar em direção a sua casa. Katsuki se sente um pouco perdido. Na perspectiva dele, faz mais de um mês que ele esteve nesse lugar, mais de um mês sem ver sua mãe ou seus... amigos. Bakugou consegue se orientar aos poucos, ainda dava para recordar de todos os caminhos daquela rua, só, lhe faltava costume.

Mas, ele rapidamente percebeu algo. Barulho. Ele estava conseguindo ignorar a maioria, e hoje em dia conseguia aguentar quase oito horas seguidas sem o aparelho auditivo, mas... porra. Como as pessoas podiam gerar tantos sons diferentes? Por alguns segundos ele expandiu sua audição para ouvir o que as pessoas de um 'prédio' próximo estavam fazendo, apenas por pura curiosidade adolescente.

Ele se arrependeu disso pelo resto da vida.

Huh! Que merda é essa?!

Quem faz isso com...?

—Sabe de nada inocente...

Não diga um a sobre isso!

—...

—A

Eu mandei ficar quieta sua merdinha!

Katsuki foi fazendo isso até ver sua residência, é um bom jeito de passar o tempo. Às vezes ele ouvia algumas desgraças, mas, depois de ficar mais de um mês no castelo infinito, ele conseguiu se acostumar a ignorar tudo aquilo que for estranho demais. Tinha centenas de adolescentes de cada canto do mundo no castelo, então, dá pra se imaginar o que acontecia... aprender a ignorar isso era questão de sobrevivência ali, e não escolha.

Ao chegar em frente a sua casa, ele para rente a porta. Ativando sua audição aprimorada apenas para ter certeza de algo. Katsuki pensou ter ouvido vozes.

"Pirralhos! Querem um pouco de água?"

"Sim, por favor."

"N-não precisa!"

"Tô morrendo de sede!"

...

—...

Porra.

Bakugou reconhecia aquelas vozes.

Aqueles idiotas...? Eles realmente vieram na minha casa?!

—Realmente... existe idiota pra tudo mesmo.

Katsuki suspirou, tinha que lidar com isso. Pelo visto, ele realmente tinha amigos, por mais que não entendesse como isso aconteceu. Como sempre, Katsuki faria isso no estilo Bakugou de ser, ou seja, abrindo a porta e lidando com todos ali dentro.

Ignorando seus pensamentos sobre isso, ele abre a porta e entra em casa, e vê o que suspeitava. Kirishima, cabelo de merda. Mina, olhos de guaxinim. Kaminari, pikachu. Jirou, cabeça de fone, mas Katsuki a chamava só de 'fones' na maioria das vezes. E Sero, vulgo, fita adesiva. Todos estavam reunidos no sofá e ao redor. Sua mãe estava ali também, ela tinha acabado de trazer água para todos pelo que Katsuki pode perceber.

"Kats! Onde você estava? Sua mãe disse que você chegaria logo, mas estamos esperando aqui faz uma hora já!" Kirishima foi o primeiro a falar, se levantando e indo para frente dele.

"Foi feio deixar a gente esperando Blasty! A gente veio aqui dar apoio moral, poxa..." Disse Mina, também se levantando do braço do sofá e andando até ele.

"Você tem celular, podia pelo menos ter mandado mensagem!" Kaminari disse, ainda sentado no sofá e com o cabelo visivelmente desarrumado.

"Ele pode estar sem o celular, idiota!" Jirou dá um tapa de 'leve' na cabeça de Kaminari.

"Gente, podemos por favor não brigar? Estamos na casa dele, não na U.A..." Sero diz enquanto tenta apaziguar Kaminari e Jirou.

Mitsuki fica parada, olhando para Katsuki com um olhar de "onde você estava?". Mas não diz nada, apenas dá um aceno de leve, para deixar claro que ela reconheceu a chegada dele em casa.

Já Katsuki...

...

—Eles gostam de falar, né?

Sim, muito mais do que eu gostaria.

—Podemos expulsar eles?

...

—Isso é um sim?

...

—Um não?

...

—Fala algo!

Katsuki estava... atônito. Ele realmente não esperava tudo isso, as mensagens já eram difíceis de sua mente entender o motivo, isso então? Beira o impossível. Eles vieram para sua casa, todos. Estavam preocupados, querendo ajudar, dar... apoio moral. Porra... eu não mereço isso.

"Como vocês descobriram onde eu moro?" Foi a primeira coisa que Katsuki disse. Ele nunca disse onde morava, então como eles sabiam?

Kirishima foi o primeiro a falar, botando a mão na cabeça e coçando levemente. "Foi o Midobro! A gente perguntou, e ele nos deu o endereço."

Como aquele merdinha sabe onde eu moro?! Eu me mudei faz um ano daquela antiga casa!

—O garoto brócolis é esforçado em!

Você não faz ideia.

—Eu tomaria cuidado viu... pra esse garoto virar um yandere maluco é dois pulos!

Não viaja.

"Aquele bostinha..." Katsuki murmurou. "O que vocês estão fazendo aqui?"

"Ué, não é óbvio?!" Disse Mina, jogando os braços pra cima como se estivesse vindo abraçá-lo. "Viemos dar apoio moral!" Katsuki apenas botou o dedo na testa de Mina, impedindo ela de dar esse abraço, Mina apenas faz um biquinho com isso. "Chato!"

"Ignore ela." Kirishima dá um tapinha no ombro de Mina. "Apenas viemos ver como você está."

"A gente mandou uma mensagem no grupo falando que vinha, você não viu?" Kaminari disse mostrando as mensagens no próprio celular.

...Merda!

Katsuki não tocou no celular até agora. E, isso foi um erro da parte dele. Rapidamente, ele tirou o celular do bolso, que, de algum jeito, continuava com bateria.

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Você tem 99+ novas notificações

Bakusquad - 99+ notificações novas

Deku de merda - 12 notificações novas

Bruxa - 3 notificações novas

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...

...

—...

COMO?!!

—Eles são malucos, precisamos fugir daqui.

Katsuki não era capaz de acreditar no que estava vendo. No mundo real, não tinha passado nem sequer um dia direito. Como um grupo poderia mandar mais de cem mensagens em tão pouco tempo? Era pra eles estarem ocupados arrumando os dormitórios ou algo assim, pelo que ele sabia.

"Seus... seus IDIOTAS!" Ele grita enquanto mostra a tela do próprio celular pra eles. "Como vocês mandaram tanta mensagem em tão pouco tempo?!"

Vendo a quantidade, Kirishima, Mina e Kaminari começaram a coçar o cabelo levemente, como se estivessem aceitando levar a culpa por isso. Jirou e Sero estavam de braços cruzados, apenas se divertindo vendo seus amigos.

"Eu avisei que ele nem iria tocar no grupo se visse a quantidade de mensagens..." Disse Sero, com a consciência limpa, sabendo que dessas mais de cem mensagens, menos de cinco devem ser suas.

Jirou estava prestes a concordar, mas ela percebeu algo muito mais importante, que ninguém ali tinha notado ainda. "Ei, que espada é essa na sua cintura?" Ela aponta para a katana na bainha, no cinto de Katsuki. Logo, todos os olhos da sala se fixam na arma, incluindo os de Mitsuki.

"Isso é uma... katana?" Mina pergunta, e ao mesmo tempo começa a se aproximar, como se quisesse tocá-la.

Katsuki assente. "Tsk! Não é óbvio?" Ele retira metade da katana de dentro da bainha, o suficiente para eles verem que é real, e a lâmina verde. "Eu preciso de uma arma agora que estou sem poderes, não é? E escolhi a katana."

Todos ficam em silêncio por um tempo, como se estivessem escolhendo bem as próximas palavras.

"Mas... por quê a katana?" Kaminari perguntou o que todos estavam pensando.

"Como assim? Porque sim ué!" Katsuki sente que isso foi um insulto, mas tenta não dar ouvidos a si mesmo.

"É que tipo... Kats. Você não é exatamente a pessoa mais... paciente do mundo." Kirishima tenta falar isso da melhor forma possível. Sem muito sucesso.

Paciente?

Eu sou a merda do rei da paciência porra!

—Tô percebendo...

Eu to meditando todo dia por pelo menos duas horas!

—Pelo menos tá fazendo efeito... o antigo Katsuki já teria mandado todos embora.

Não! Não teria!

—Teria sim.

"O que isso tem haver comigo usando uma Katana?!" Agora sim Katsuki se sentiu ofendido.

"Não estamos falando que tem, é só... você tem só duas semanas para treinar!" Mina diz enquanto mexe as mãos freneticamente na frente do corpo, como se tentasse gesticular. "Não seria melhor você usar uma arma mais... explosiva? Menos focada em um só ponto?"

"Exatamente!" Kaminari aponta para Mina, concordando com ela.

Jirou ainda está olhando fixamente para a katana, como se não conseguisse desviar os olhos. "Eles têm razão. A katana vai contra todo o estilo de combate que você vem treinando desde sempre."

Sero estava tentando ser o intermediador ali, mas nesse caso, ele não tinha muito como discordar da maioria. "Foi mal cara... acho que eles estão certos, uma katana não combina com você."

Katsuki cruzou o olhar com sua mãe, a única que não tinha dito nada até agora, e ela apenas deu de ombros, como se quisesse ver como ele lidaria com isso. Já o mesmo estava... instável. Ele apertava os punhos até os dedos ficarem brancos, e todo seu corpo pedia para gritar com eles e expulsar todos. Mas... sua mente, nova, renovada, clamava por outra coisa. Um mês de meditação no castelo infinito trouxe isso a Katsuki. A capacidade de, finalmente, pensar antes de agir. Não funcionava sempre, havia algumas dezenas de coisas que ainda o tiravam do sério. Seus amigos querendo o ajudar não são uma dessas coisas.

Esses... merdinhas. Estão duvidando de mim?

—Posso entender eles, você realmente não combina com uma katana...

Até você, Kizu?!

—Admita, seu estilo de combate mudou bastante.

Sim, mas qual o problema disso?!

—Você está virando um bom espadachim, eu sei disso. Eles não.

—Prove para eles, ué.

Provar... eu posso fazer isso.

"Mãe, tem uma maçã aí?" Katsuki perguntou.

"Sim." Mitsuki foi até a geladeira, e pegou uma, jogando-a para seu filho.

Katsuki a pegou rapidamente com a mão direita, e passou os olhos por todos ali. Kirishima e Mina trocavam olhares, e ele podia ouvir Mina sussurrando um "O que ele vai fazer?" para seu melhor amigo. Kaminari estava olhando para ele com a cabeça levemente inclinada, coçando a cabeça com uma das mãos. Jirou e Sero pareciam ter entendido o que ele planejava, mas, continuavam em silêncio. Mitsuki estava com os braços cruzados, as sobrancelhas levemente levantadas.

Todos os olhos estavam fixos em Katsuki agora. Ótimo. " Observem bem isso, seus idiotas!" Em seguida, ele joga a fruta um pouco acima dele, quase parando no teto. Desembainhou a katana, ficou em posição, e... esperou o momento certo.

Ele não iria usar a respiração em concentração total para algo tão simples, mas... ainda podia usar de suas novas vantagens para ajudá-lo. Quando a maçã começou a cair, ele focou sua audição em um ponto fixo no ar, no ponto em que planejava cortar a fruta. E no microssegundo em que a maçã chegou no ponto certo, Katsuki não esperou mais, e cortou-a no meio em metades perfeitas.

Bambus são muito mais duros que maçãs, então a dificuldade foi mínima. O mais importante foi que todos ali puderam ver a precisão que Katsuki teve.

Os olhos de todos os presentes se arregalaram ao ver isso, ninguém ousava dar um "pio" sequer. Até mesmo Mitsuki estava sem conseguir falar algo. Vendo isso, Katsuki não pode evitar um sorriso arrogante que surgiu sem que pudesse perceber. Ver aqueles olhos arregalados trouxe uma sensação nova para ele.

Ha! Agora quero ver eles falarem o que não combina com quem!

—Fudeu, agora ficou todo arrogante...

Como se você fosse diferente!

—...

"E então, vocês vão continuar achando que essa belezinha não combina comigo?" Katsuki diz enquanto guarda a katana na bainha novamente, em seu cinto.

"Como você fez isso?!" Kaminari foi o primeiro a perguntar, gritando enquanto pegava um dos pedaços da maçã, que caiu no chão com o corte.

"O corte é... perfeito." Jirou fala, tocando no pedaço que Kaminari tinha pego.

"Você é secretamente filho de um espadachim por acaso?!" Mina pega o outro dos pedaços que caiu no chão, notando o quão reto foi o corte.

"Onde você aprendeu a fazer isso?" Sero que fez a pergunta dessa vez. E, todos focaram nisso.

"Verdade! Isso foi perfeito demais, a quanto tempo você anda praticando?" O melhor amigo de Katsuki que perguntou dessa vez, se aproximando para ver a katana mais de perto agora.

Então, Katsuki percebeu que cometeu um erro. Todos começaram a fazer perguntas demais. "Em que lugar você aprendeu?" "Quem te ensinou?" "Quanto tempo faz?" "Por quê não disse pra gente antes?". O pior? Ele não conseguia pensar em como responder isso. Não podia falar a verdade, afinal, ele prometeu para Aurora que manteria a boca fechada. Tem mais de um motivo para o corpo dos caçadores de demônios se manterem escondidos do mundo, e, não seria ele a pessoa a revelar isso para um outro bando de adolescentes como ele.

Mitsuki percebeu isso, e, surpreendentemente, ela responde por Katsuki. "Faz alguns meses." Os olhos de todos se voltam para a mãe dele, incluindo o do próprio. Ela vai andando até seu filho, segurando seus ombros pelas costas. "Eu que botei ele em aulas de katana. Me falaram que isso podia ajudá-lo a lidar com a raiva, e, ele topou, não é moleque?" Mitsuki diz, e Katsuki não precisa olhar para saber que ela está dando um toque de "Vai na minha."

"É, e-exatamente!" Katsuki fala um pouco rápido demais. A mão de Mitsuki aperta um pouco no seu ombro, discretamente. Ele respira brevemente, tentando tomar alguma quantidade de ar antes de falar. "Foi uma merda, no começo, mas agora isso se mostrou útil pelo visto..." Katsuki realmente espera que eles tenham acreditado nessa mentira deslavada. Improvisar não é o seu forte, então isso não foi algo fácil de se fazer.

Por que ela está nos ajudando?! Ela nem sabe onde eu estava!

—E quem se importa? Só vai na dela, isso é uma desculpa que os idiotas ali vão acreditar, então vai junto!

Eu estou tentando!

—Tenta mais.

"Eu fazia toda semana." Katsuki vira o rosto para Kirishima. "Cabelo de merda, você lembra né? Às vezes, quando terminamos de treinar, eu falava que tinha outra coisa pra fazer e passava uma hora e meia fora da U.A?"

"Eu me lembro disso..." Kirishima bota a mão no queixo, como se tentasse lembrar. "Então... era isso que você fazia quando saía?"

Katsuki assente com a cabeça. "Eu nunca falei porque nunca achei necessário. Agora, todos sabem, estão felizes agora?!" A entonação saiu mais grossa do que o planejado, mas, todos devem ter entendido o recado. Eles sabem que Katsuki odeia falar sobre a vida pessoal.

"Foi mal cara, é só... wow. Ninguém aqui esperava isso!" Disse Kirishima.

"Sim!" Mina fala em meio a mordidas, ela não iria desperdiçar aquele pedaço de maçã. "Você podia ter nos dito antes! A gente podia fazer que nem aquele jogo lá. Eu e o Kiri jogamos um monte de frutas no alto, e você corta! Tipo um ninja de verdade!"

"Tem certeza que isso é saudável? Nós não sabemos o que o Bakugou anda cortando com essa katana..." Kaminari fala enquanto deixa seu pedaço na mão de Jirou.

"Quem não arrisca não petisca!" Mina dá mais uma mordida. "Hmm!" Satisfeita, ela murmura, antes de pegar o outro pedaço da mão de Jirou. "Tá docinha, você devia ter experimentado Pikachu!" O dito cujo escolhe apenas levanta as mãos em rendição, murmurando um "É todo seu!"

Então, antes que isso se alongue mais, Mitsuki bate as mãos bem alto, chamando a atenção de todos para si. "Agora, Katsuki precisa descansar, ele tem muito treinamento pra fazer nessas duas semanas. E, seus pais devem estar preocupados com vocês." Ela abre a porta enquanto fala, como se estivesse 'convidando' eles a irem embora.

"Mas ainda são oito hor-" Antes que Kaminari terminasse de falar, Jirou deu um beliscão na sua orelha.

"Obrigada por nos receber, senhora Bakugou!" Jirou diz enquanto se curva levemente, ignorando Kaminari ao lado dela a chamando de "Maluca".

Jirou e Kaminari foram os primeiros a sair, com Sero acompanhando eles. "Até mais cara! Boa sorte com a katana!" Ele diz enquanto acompanha os outros dois do grupo.

"Se precisar de ajuda no treinamento, é só pedir que estarei lá, Kats!" Kirishima levanta a mão para um aperto.

Katsuki não costuma gostar de toques, mas, Kirishima e Mina tinham um 'passe especial' com ele para isso. Ele realmente os considera amigos, os melhores, mesmo que negue isso sempre que possível. Mas, suas ações falam mais que palavras, e eles dois entendem isso, por isso continuam com ele, mesmo com as coisas que Katsuki fala.

"Tsk! Pode deixar, cabelo de merda! Eu ainda te venço mesmo sem individualidade, posso garantir!" Ele aperta a mão de Kirishima, intensamente como sempre.

"Vamos ver!" Assim que Kirishima sai do aperto, Mina toma a dianteira.

"E vê se não esquece da gente em!" Ela abre os braços para Katsuki, e se aproxima dele olhando com aqueles olhos de "por favor?".

Katsuki até pensou em impedir isso, só que estava começando a ficar cansativo negar essas coisas. E, embora não fosse admitir, ele realmente quer um abraço agora, faz muito tempo na perspectiva dele que está sem um. Principalmente depois... daquele com sua mãe.

—Oh, tá com saudade de abraços? Que fo-

Não! Eu não tô!

—Tá sim! Aceita que dói menos.

É impossível te entender, sabia? Nunca sei se você quer me ajudar ou piorar minha situação.

—Hehheheh, essa é a graça!

Sádica de merda.

"Humph... Ta! Vem logo." Ele abre os braços o suficiente para que ela possa o abraçar, e assim a faz.

"Sim!" Mina o abraça em seguida. Katsuki ainda fica meio paralisado com isso, os olhos ligeiramente saltados, com o corpo quase preso no chão. Ele consegue dar uns tapinhas nas costas dela, antes de se desvincular do abraço.

"Pronto, chega! Isso já foi muita proximidade física para um só dia." Disse Katsuki, empurrando Ashido levemente para trás no processo.

"Hehe, tá bom!" Mina fala enquanto caminha para a porta, com Kirishima atrás dela. "Até mais Blasty!" Ela acena para ele, antes de sair pela porta, com Kiri acompanhando.

Assim que a porta é fechada, Katsuki e Mitsuki ficam em um silêncio no mínimo desconfortável. Katsuki não sabia o que estava se passando pela mente de sua mãe, mas de uma coisa tinha certeza. Ela não sabe onde ele treinou, e nem o verdadeiro motivo para estar usando uma katana e não uma outra arma.

—Climinha confortável em...

Tsk...

"Por que disse aquilo, velha bruxa?" Katsuki pergunta enquanto se vira para fixar o olhar em sua mãe, que estava indo para o quarto agora, como se fosse ignorar completamente o que aconteceu. "Você sabe que aquele lance de aulas de katana é mentira."

Mitsuki parou de andar quando ouviu isso, e também passou o olhar para seu filho. "Moleque, você sempre foi muito independente quanto a essas coisas de treinamento e luta. Então eu não preciso saber como, quando ou o porque você escolheu justamente... isso." Ela gesticula para a katana em sua cintura. "Apenas, preciso saber. É ilegal, vilanesco ou algo assim?"

Katsuki rapidamente negou com a cabeça.

"Então pronto, isso é tudo que eu preciso ter em mente." Ela continuou sua caminhada até seu quarto, e quando estava a centímetros de entrar no corredor, ela parou, virando a cabeça levemente para olhar nos olhos de Katsuki. "Mas, um conselho, moleque." Sua voz mudou, ficando mais grave e decisiva, como se estivesse prestes a falar algo importante.

"Aqueles... outros moleques que vieram aqui." Ela disse se referindo à visita dos outros adolescentes. "Eles realmente se importam com você, ficaram aqui uma hora falando sobre... algumas coisas que vocês já fizeram juntos." Com isso, a cabeça de Katsuki se levanta um pouco.

Eles... falaram de mim?

—Isso é realmente tão surpreendente assim? Isso tem lógica, eu acho.

...

Alguém como você não entenderia.

—...

—Eu em. Você é estranho.

"Encontrar pessoas assim, amigos assim, é difícil. Valorize isso, não os ignore. Quando você cresce, essas merdas ficam quase impossíveis de encontrar." Mitsuki volta a caminhar após dizer isso, deixando Katsuki ali parado, pensativo.

A velha bruxa... estava falando de si mesma?

—É óbvio porra!

—Essa mulher fica trabalhando o dia todo, e não parece fazer mais nada além disso. Duvido muito que ela tenha qualquer coisa parecido com amigos, amigas, amigues e absolutamente qualquer coisa além do trabalho na verdade.

...

Katsuki não é burro, ele sabe que sua mãe é uma pessoa muito sozinha. Mesmo entre eles, que são mãe e filho, eles não se veem tanto quanto o esperado. Mas, será que ela é realmente tão sozinha a esse ponto? Ela não fala com Inko faz muito tempo, elas cortaram muito contato depois da mudança. Então... o que sobra?

Porra... ela tem que ficar o dia todo trabalhando pra sustentar essa casa, e alguém como eu...

—Mais um motivo pra você continuar na U.A.

Hein?! Por quê?

—Eles começaram um novo sistema de dormitórios, não é?

—Se você for pra eles, o gasto da casa e com você diminuiria. Então, ela poderia parar de trabalhar tanto.

Ele tinha esquecido disso. Os dormitórios. Mina e Kirishima encheram o saco dele sobre isso quando se mudaram. Pelo que ele viu de fotos, tem cozinha, banheiros, uma lavanderia, e outras coisas comuns de uma casa. Isso já ajudaria muito com a finanças, sua mãe precisaria fazer muito menos gastos com ele fora de casa.

Com isso, Katsuki se viu com a determinação renovada, ele tinha mais um motivo para continuar na U.A. E ele se comprometeria com isso.

Assim que Katsuki começou a ir para a cozinha, ele ouviu sua mãe gritando do quarto. "Tem comida no forno! Guardei um pouco pra você, se quiser, pode esquentar! Só não queime nada, moleque!"

"Eu nunca queimei comida nessa casa!" Katsuki gritou de volta para ela. Todos sabiam que na cozinha, ele é um rei, principalmente com comidas picantes. Pimenta é o seu lance.

"Diga isso para a panela toda preta que você acidentalmente explodiu!"

"Ei! Isso foi um acidente, não vale!"

"Haha! Claro que não, claro que não..." Mitsuki respondeu, enquanto fechava novamente a porta do quarto.

Katsuki apenas ficou com a cara lavada ouvindo isso. Faz mais de três anos que isso aconteceu, e até hoje sua mãe não o deixa esquecer.

Huh... idiota. Foi um acidente!

—Acidente... sei.

Ele apenas ignora o que Kizu disse, e decide focar na comida. Andando até o forno e abrindo-o. Tinha uma pequena marmita com uma boa quantidade de comida, o que é ótimo, ele tinha que comer bastante para sustentar esse treino dele. Assim, ele bota tudo em um prato, colocando no microondas. Quatro minutos deve ser o suficiente.

Assim que ele termina de por o tempo certinho. Katsuki pega o celular, ele precisava no mínimo tirar todas aquelas notificações do seu celular. Ele toca no ícone de sua mãe, querendo ver o que ela tinha perguntado.

— — — — — — — — — — — — — — — —

Bruxa : Ei, moleque!

Bruxa : Seus amigos estão aqui, vem logo antes que eles comecem a pedir comida também!

Bruxa : Essa mensagem foi apagada

— — — — — — — — — — — — — — — —

Katsuki acredita não precisar responder isso, então, apenas marca como lido e continua lendo as outras mensagens. Ele também passa o olho pelas mensagens do grupo, mas decide ignorar assim que vê o tamanho. O que só deixa sobrando... uma.

Deku de merda... Como ele ainda tem meu número?!

Eu bloqueei o último, tenha a mais absoluta certeza disso!

—Esse garoto é um yandere disfarçado, eu to avisando...

Cala a boca Kizu! Não é pra tanto.

Ele é só um idiota... um idiota muito empenhado. E sem noção nenhuma de autopreservação pelo visto.

—Se você diz...

Decidindo matar logo sua curiosidade, ele abre a conversa com Deku.

— — — — — — — — — — — — — — — —

Deku de merda : Kacchan?

Deku de merda : Eu ouvi o que ouve, eu sinto muito...

Deku de merda : Se eu tivesse sido mais rápido, você não teria sido capturado pra início de conversa. Por favor, me perdoe!

Deku de merda : Posso ajudar com alguma coisa? Eu... posso te ajudar agora que você tá sem poderes...

Deku de merda : Treinar juntos talvez?

Horas depois.

Deku de merda : Por favor, não me odeie Kacchan, mas... eu disse para a Mina e o Kirishima aonde você mora!

Deku de merda : Eles queriam te ajudar!

Deku de merda : Não expulse eles, por favor.

Deku de merda : Eles estavam super preocupados! Ficaram o dia todo aqui nos dormitórios andando pra todo o lado!

Deku de merda : Você vai adorar aqui inclusive! Tem uma cozinha super equipada, você vai gostar!

Deku de merda : O seu quarto deve ser pelo quarto andar! Eu acho... Aizawa disse que você vai poder vim para cá assim que passar no seu teste!

Deku de merda : Nós vamos treinar para o exame de licença provisória nessas semanas!

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...

Porra.

—Porra.

Katsuki se via incapaz de entender esse garoto, ele tinha certeza disso agora. As doze mensagens tinham um grande espaço de tempo entre elas. E, Katsuki tinha uma boa porcentagem de certeza que ele diria tudo aquilo gaguejando se estivessem 'conversando' pessoalmente.

O microondas termina de esquentar a comida com um 'plim!' enquanto Katsuki estava lendo as mensagens. Ele estava muito absorto na conversa, então não percebeu.

Algumas mensagens chamaram sua atenção. Não foi de total inutilidade isso pelo visto. Ele agora pode ter a certeza de que os dormitórios tem realmente uma boa cozinha, e bem equipado pelo que o cabeça de brócolis disse. Além de que se passar no teste, ele pode ir para os dormitórios. Ótimo.

Contudo, de todas as mensagens, a última foi a que chamou mais a sua atenção. Exame de licença provisória?

O antigo Katsuki ficaria furioso ao ler isso, mas agora... não. Sim, uma parte dele queria gritar ao ver isso, mas a outra lhe lembrava que não iria fazer diferença. Nenhuma. O teste dele será daqui a duas semanas, já o do exame de licença provisória pode possivelmente ser feito até antes, então ele não poderia participar de qualquer jeito. Só lhe restava... focar em outras coisas.

—Você não sente... raiva?

Por que eu deveria?

—Eles estão passando na sua frente! E você está aqui... atrasado.

—Ficando pra trás.

Não, não estou.

Até mesmo Kizu ficou surpresa com a fala de Katsuki. Aquilo não tinha lógica para ela, nenhuma.

—Como não? Eles estão treinando para fazer um exame para conseguir uma licença provisória!

—Eles vão poder agir como heróis se passaram! Mesmo que provisoriamente.

Humph! Grandes merdas!

Eu estou treinando para ser um caçador, diferente deles, não vou precisar de um exame para matar vilões!

—Você quis dizer onis, não vilões...

Que se dane a nomenclatura! Você entendeu bem o que eu quis dizer.

Katsuki começa a ter alguns flashes de quando quase morreu pra um oni, da sensação. De pensar que ia morrer sendo o que é, que ia deixar sua mãe desolada com a notícia... pior, nunca achariam o corpo, então ela ia ficar sempre com a falsa esperança de que ele estaria vivo. Isso é... além. Além do que os vilões fazem. Isso é pior.

Por reflexo, ele acaba segurando o cabo da katana com um pouco mais de força. Ele não é mais fraco assim... não mais.

Eu vou livrar as pessoas de um mal muito maior do que vilões!

—Mesmo que isso seja verdade... você nunca será reconhecido por isso.

Sim, isso é verdade. Caçadores lutam escondidos da sociedade, o que os deixa sem fama, sem fotos, sem... visibilidade. Ele até pode um dia ser reconhecido como um herói por salvar pessoas de vilões, participar da U.A e tudo isso. Mas, jamais saberão dos onis que ele matará.

Sim, isso é verdade, mas...

Ele aperta um pouco mais o cabo da katana.

Ainda estarei protegendo minha mãe, e outras pessoas como ela fazendo isso. Então é isso que eu farei.

—...

—Você é alguém difícil de se entender, sabia?

Tsk! É claro que sim, isso é óbv-

"Ahhhhhhhhhhhhh! Socorrooo!"

Katsuki parou abruptamente o que estava pensando. Sua nova audição aprimorada pela marca conseguiu ouvir imediatamente um grito. Veio da rua.

Ele abandonou a comida no microondas, e rapidamente saiu pela porta, tentando não fazer barulho, para não alertar sua mãe. Assim que saiu, começou a correr em direção ao grito, se esforçando o máximo possível para focar unicamente naquele grito desesperado. A katana ainda estava na bainha, mas ele estava com a mão no cabo, preparado para qualquer coisa.

Enquanto corria, Katsuki olhou ao redor, e tudo parecia vazio, completamente. Como se não houvesse pessoas morando nas casas ao redor.

Mas que merda é essa?! O aluguel das casas aqui são baratas, como tão pouca gente mora aqui?

—...

Sua audição felizmente já estava muito mais treinada que no dia em que ele começou a treinar, então ele conseguiu chegar no local do grito sem dificuldade.

Era exatamente o que ele suspeitava. Um oni.

Dessa vez, dentro de algo que parecia um armazém, a algumas centenas de metros de sua casa. O oni parecia... comum. Alguém facilmente poderia o confundir com um humano, se não fosse aquela pele anormalmente pálida, presas, e unhas afiadas além da conta. Caído na frente do demónio, tinha um garoto, pequeno, infantil. Ele tinha sangue por todo o seu corpo, e o oni estava com a boca no braço da criança.

Katsuki não esperou mais.

Ele se jogou pela janela mais próxima. O vidro estilhaçou com o impacto do corpo dele. "EI! Porque não tenta devorar alguém do seu tamanho?!" Katsuki grita, já sacando a katana com um movimento rápido.

O oni virou o rosto devagar. Um fio de sangue escorreu pela boca. Ele lambeu os lábios, se levantando. "Ora, ora... olha o que temos aqui!" O demónio diz virando-se completamente para Bakugou. "Um caçador!"

Merda... como ele sabe?!

—Olhe para seu pulso.

Assim que ele passou os olhos pelo pulso, a viu. A marca estava brilhando em branco novamente, visível mesmo sob o tecido do casaco.

Ela deve estar reagindo a mim... porra...

—Foque no inimigo, seu idiota! Não é hora de pensar nos detalhes.

Kizu estava certa, e Katsuki sabia disso. Ele se ajustou em sua pose de combate, segurando bem o cabo da katana com as duas mãos. Tá na hora.

"Não sabia que caçadores rondavam áreas como essa." Disse o demónio.

Katsuki ficou em silêncio, ainda na mesma pose.

"Se você não quiser falar... eu vou ir pra cima!" Ele se impulsionou para frente, pulando e se preparando para um golpe de cima para baixo, com um rugido, um único salto.

Katsuki ativou a concentração total no exato instante em que o oni estava a um metro de distância. A adrenalina explodiu em seu peito, o ar queimou nos pulmões.

A lâmina avançou.

Um braço voou.

O corte foi limpo, seco. O sangue espirrou, quente, como jato de vapor.

O oni gritou.

Bakugou não parou. Ele aproveitou os gritos do demónio para avançar alguns passos. Agora, ele estava na frente da criança, deixando-a atrás dele, como o planejado. "Essa criança não vai morrer hoje." Katsuki murmurou, com os olhos fixos no oni.

O oni rosnava, mas hesitante agora. O braço se regenerando lentamente, lento até demais.

Merda... eu só consigo usar a concentração total por três segundos consecutivos.

—Ou seja...

Essa luta tem que acabar rápido.

"Você não é muito experiente não é? Um profissional já ter-"

Katsuki não deu tempo para conversar, ele se lançou para frente assim que pode, no meio da fala do oni. Ele ainda não pode usar a respiração.

Quando estava a poucos metros do demónio, ele começa a preparar um ataque, mirando no pescoço.

O oni percebe.

"Não vou deixar!" Com o braço recém regenerado, ele também avança com um um soco em direção a Katsuki, o outro fica protegendo seu pescoço.

Bakugou desviou para a esquerda do oni, ficando bem na lateral dele, pescoço visível.

Agora!

Concentração total ativada. Um corte. A lâmina de Katsuki passa o pescoço do demônio em questão de dois ou três segundos.

Um pescoço cai no chão, e o oni começa a desaparecer.

Bakugou guarda a katana na bainha assim que isso acontece, e passa o olhar pelo oni. Ele ainda se lembra de quando Aurora matou aquele demónio para salvá-lo, antes dele desmaiar. Mas isso é... diferente. Isso foi obra dele. Sozinho.

Ele balança a cabeça, a criança. O menino é mais importante agora, não seus pensamentos. Katsuki anda até o garoto, e se ajoelha para ficar na mesma altura. Parece machucado, e tem sangue pelas roupas, além de algumas marcas de presas no braço. Em geral, não parece ter nenhum risco de vida.

Katsuki toma cuidado para não botar a mão em nenhum lugar, deixar suas impressões digitais ali traria um nível de dor de cabeça que ele só não estava pronto para lidar. Com a certeza de que o menino não corre nenhum risco de vida, ele pega o celular e digita o número da polícia.

Após alguns toques, finalmente ele foi atendido.

"Polícia, emergência, boa noite. Qual a ocorrência?"

"Denúncia anônima." Katsuki iria tentar manter o tom calmo e poucas palavras com isso. Ele não é profissional nessas coisas, mas não quer arriscar que sua identidade vaze de qualquer jeito.

"Claro, senhor ou senhora. Pode informar o que está acontecendo?"

"Tem uma criança ferida em um armazém, e parece ter ocorrido uma luta no local."

O tom da voz do atendente parece ter ganhado um novo nível de alarme, Katsuki percebe que ele fala agora com um pouco mais de urgência. "Certo, pode me dizer o local? Mandarei uma ambulância, policiais e vou fazer um alerta aos heróis nas proximidades."

Katsuki passou as informações da rua, enquanto também saia do armazém. Queria ficar perto o suficiente para garantir que a ambulância apareceria, mas não podia ficar dentro do local, então, ele se afastou algumas ruas. O bastante para que sua audição pudesse identificar quando policiais ou qualquer outra pessoa chegasse ao armazém.

Quando ele estava em uma distância considerada segura, ele encostou na parede mais próxima de braços cruzados, e finalmente conseguiu um pouco de calma, para absorver tudo o que aconteceu.

Eu... matei um oni.

—...

—Você não parece muito feliz com isso.

Não entenda mal, Katsuki está feliz por ter salvado uma criança. Mas, essa é a primeira vez que ele deliberadamente mata um outro ser, mesmo que seja um oni. E essa reação... a falta dela, está o assustando muito.

Acho que no fim eu realmente não sou um herói.

—?!

—Por que isso tão do nada?

Acabei de matar alguém, sua idiota!

—Era um oni. E, ainda por cima estava prestes a matar um menino, uma criança.

Eu sei disso!

Mas... um herói de verdade conseguiria matar alguém e não sentir... remorso?

O que irrita Bakugou é isso, ele não sentiu nada de tão... ruim, matando esse monstro. Um herói teria uma reação minimamente parecida com isso? Katsuki acha que não. Na verdade, ele tem a plena certeza de que não.

—Ele não era uma pessoa, era um oni, pra começo de conversa.

Você entendeu o que eu quis dizer!

Katsuki podia ouvir uma ambulância vindo de longe, e o som de um carro policial.

Ótimo. Eles já chegaram.

Com isso, Bakugou começou a andar novamente até em casa. Focando sua audição apenas no som dos próprios passos lentos e pesados.

Ele ficou assim por muito tempo. Propositalmente estava andando devagar, para poder pensar e absorver... tudo. Mesmo que ele já tivesse aceitado que não era e nem é um herói, falar é uma coisa. Fazer algo assim é outra completamente diferente. Ao chegar na porta de casa, ele fica rente a ela, olhando para os próprios pés.

Ei... Kizu.

Porra... Katsuki se considera a pessoa mais burra do mundo. Kizu tecnicamente é seu 'demônio' interior, a sua contraparte. A parte dele que ele esconde de tudo e todos, até de si mesmo. Eles só estão podendo conversar por conta da marca, antes disso, esse... ser, nem sequer existia para ele. Mas ali estava Bakugou, chamando por ela.

—O que é?

Katsuki fica mais um tempo em silêncio, como se estivesse planejando suas próximas palavras com cuidado.

...

Posso te fazer uma pergunta?

—Você já está fazendo.

—Mas sim, pode sim.

Ele suspira.

Considerando toda a minha vida até aqui.

Cada erro.

Cada acerto.

Cada porcaria que eu fiz.

Cada... luta perdida.

Flashes vem em sua mente quando a última frase vem à tona. O sequestro no acampamento, a 'falha' em se salvar, ser o'responsável' pela aposentadoria do All Might, mesmo que de forma indireta. A perda de seus poderes...

Eu sou...

Katsuki aperta o cabo da katana na bainha. A sua outra mão se segura na própria calça, como se tivesse tentando se apoiar em si mesmo para não cair.

Eu sou um monstro?

—...

Um, dois, três, quatro, cinco... minutos se passam. E Kizu continua em silêncio. Cada vez mais Katsuki sente o aperto em si mesmo aumentando. Seu próprio coração está pesado agora.

Kizu continua em silêncio.

—...

Katsuki respira fundo mais uma vez. O silêncio já significava uma resposta.

Ele olha ao redor, ninguém na rua, e ainda consegue ouvir o carro da polícia perto do armazém com sua audição, a da ambulância já se foi. O menino já deve estar seguro e se recuperando.

Bakugou abre a porta de casa, ele precisa dormir e comer algo. Amanhã tem mais treinamento. Pelo cálculos de Katsuki, se ele entrasse no castelo infinito às seis da manhã, e saísse às dezenove, no horário do mundo real. No castelo infinito seriam vinte e oito dias. Um mês. E a partir de amanhã faltará só treze dias.

Treze meses.

Notes:

Oie! O que acharam desse cap? Como viram, eu diminui consideravelmente o tamanho dos parágrafos nele. Muito porque eu não acho que eu sei escrever bem diálogos entre muitos personagens, então espero que tenha ficado legal de ler!

Também me considero ruim em lutas, então espero que a luta CURTÍSSIMA entre o Katsuki e o oni comum tenha sido... legal de ler? Enfim.

E ah, vocês não tem noção. Depois que eu terminei o quarto cap ontem, eu escrevi esse VOANDO ksksksksksksk. Tô sem dormir direito por conta disso, tô a muiiiito tempo acordada escrevendo.

Consegui me viciar na minha própria história ksksksksksk. Eu tô MUITO focada nisso, tipo, em OUTRO NÍVEL.

E, sim, esse é o capítulo mais curto até aqui. 6200 palavras, quase exatas. Confesso que eu esperava até que fosse mais. Quando eu tava escrevendo, tive a sensação de que era mais, mas acho que isso é por conta dos parágrafos menores... provavelmente.

Enfim, esperto que tenham gostado da leitura! Tenham todos uma boa semana, e um bom dia :D.

Chapter 5: Capítulo 5 - Rocha e Jantar

Notes:

(See the end of the chapter for notes.)

Chapter Text

— — — — — — — — — — — — — — — —

364 dias depois.

Mundo real: 17:30.

1 dia até o teste.

— — — — — — — — — — — — — — — —

Desde o primeiro dia, foi sempre assim. Sair de casa às seis da manhã, entrar no castelo infinito, e só sair quando fosse sete da noite no mundo real. Vinte e oito dias lá dentro, a cada dia no mundo real. Um ano completo, contando no ritmo daquele lugar.

Agora, ele estava aqui, no mundo real. De volta ao ar normal, a gravidade normal. Mas ainda assim… estranho. Ele se desacostumou com esse mundo. Era como se ele tivesse envelhecido sozinho. O mundo tinha passado só treze dias. Mas para ele foi muito mais.

—Você envelheceu um ano em duas semanas. Dá pra sentir os ossos estalando, vovô?

Cala a boca, Kizu.

E foi só minha mente! Meu corpo tá igual…

—Mesma coisa.

Você sabe que você também faz parte da minha mente né?

—...

—Touche.

Katsuki estava em um campo aberto mais afastado da área urbana, a cidade no fundo, poucas árvores ao redor. “Por que estamos aqui?” Ele diz enquanto passa os olhos pelo ambiente. “E o que caralhos é isso?!” Bakugou aponta para uma pedra gigante bem no meio do campo. Parecia cenográfica demais pra ser natural.

“Estamos aqui para ver os resultados do seu treinamento!” Aurora diz ao lado dele, carregando uma pequena caixa nas mãos. E com um corvo no ombro esquerdo, que ficava corvejando a cada alguns minutos.

“A Hashimoto sempre leva seus aprendizes aqui no último dia de treinamento. É uma espécie de ritual pra ela, eu acho.” Sakeme diz enquanto carrega uma caixa um pouco maior que a de Aurora, e com mais dificuldade também. “Aonde eu deixo isso?”

“Pode deixar aqui do lado.” Aurora deixa a caixa que ela estava segurando no chão, e Rengoku segue o exemplo, deixando-a bem ao lado. “E por favor, eu já disse antes pra você parar de me chamar pelo sobrenome! Isso é formal demais…”

“Desculpe!” Sakeme se curva levemente. “Eu vou me lembrar disso da próxima vez, Aur… senhora!”

Aurora apenas suspira com isso, Sakeme sempre foi assim. Formal demais, ao contrário do seu outro aprendiz. “De qualquer forma… considere esse seu último desafio! Se você o completar, poderá ser oficialmente um caçador!” Ela volta sua atenção para Bakugou, que estava visivelmente meio confuso com tudo isso.

“Eu pensei que eu já era um caçador!” Katsuki cruza os braços.

Quando Aurora ficou sabendo sobre o oni comum que Bakugou matou, ela ficou o parabenizando por muitos dias, além de confiar a ele ir em algumas missões acompanhado de Sakeme. Em geral, ele se responsabilizava principalmente pelos onis comuns, mas, ainda assim, era algo. E hoje em dia ele mata esses mesmos demônios simples com extrema facilidade.

“Bem… Tecnicamente, para ser oficial, você precisaria passar por um teste mais complexo, que se resume em prender muitos de vocês em uma floresta cheia de onis.” Disse ela, enquanto coça um pouco a cabeça. “Mas, como uma hashira, eu tenho permissão para fazer testes alternativos!”

“É pra isso que estamos aqui então?” Ele disse. A voz saindo um pouco mais acelerada que o planejado.

Aurora assente. “Exatamente!”

Katsuki não gostou muito disso.

Mas isso não faz sentido!

Ela sabe que eu consigo matar onis, ela já viu eu matando! A Sakeme é a prova disso!

—Acho que ela não concorda muito com isso…

E o que você sabe sobre isso em Kizu?!

—O que eu me lembro bem é das diversas vezes que a Sakeme teve que salvar essa sua bunda da morte.

—Guardei bem essas memórias.

Tsk… ela não me salvou, ela só… matou um oni que por coincidência estava perto de me morder. Só isso!

—Aham… sei.

Sakeme percebeu a cara emburrada de Katsuki, e andou até ele, colocando a mão em seu ombro, como se estivesse apoiando-o. “EI!”

Katsuki virou a cabeça brevemente. “O que é?”

“É impressão minha, ou você tá com medo de um testezinho?” Um sorriso irônico cresce no rosto de Sakeme enquanto ela fala. “Pensei que você fosse melhor, esquentadinho!”

“Hein?! É claro que não!” O apelido fez Katsuki elevar um pouco a voz. Mesmo depois de meses, aquela garota insistia em chamá-lo por esse nome. Isso quase o lembrava de Deku. Quase.

Durante esse um ano de treinamento, Sakeme começou a aparecer muito mais no castelo infinito. Além das dezenas de missões em que ela o acompanhou. Isso deixou eles próximos, colegas, até mesmo amigos talvez. Mas Katsuki nunca admitiria nada disso, obviamente. Mesmo depois de tanto tempo meditando todos os dias, e de uma grande melhora em sua raiva e paciência, algumas coisas continuaram sem mudar. Isso sendo uma delas.

Quer saber?

Foda-se!

—Nossa, que gratuito.

Vai se fuder você também Kizu!

—...

“Vocês dois!” Aurora aparece atrás deles, dando um cascudo em cada um.

“A gente fez o que agora?!” Tanto Katsuki quanto Sakeme respondem ao mesmo tempo. Coçando a parte da cabeça que Aurora deu o cascudo.

“Só parem de me interromper!” Ela diz enquanto fica na frente deles. “Agora, voltando ao assunto. Seu desafio, Katsuki, será…”

Aurora fez uma pequena pausa dramática, uma coisa que ela adorava fazer. Katsuki podia apostar que era só pra encher o saco dele.

Ela apontou para a rocha gigante no centro do campo. “...cortar aquela pedra ao meio.”

—É…

—Isso foi mais anticlimático do que eu esperava.

“Sério?” Katsuki balançou a cabeça em dúvida. “Só isso?” A voz de Katsuki saiu surpreendentemente baixa. Ele esperava algo a mais.

Depois de tanto tempo, se tem uma coisa que ele aprendeu é: respirações são absurdamente fortes. Ele não saberia dizer se é comparável a uma individualidade de verdade, mas com certeza não é de se jogar fora. Principalmente quando eles carregam armas consigo. No corpo a corpo elas já ajudam bastante, mas só ficam fortes de verdade quando os usuários portam armas físicas.

Sem uma arma, seu poder diminui muito. Sim, é verdade. Mas, ele ainda conseguia se manter mesmo sem. Velocidade, força, e resistência principalmente, todas são fortemente aumentadas quando ele ativa a concentração total.

“É, eu sei… também tive uma reação parecida quando foi a minha vez.” Disse Sakeme, lembrando das suas antigas lembranças com a Hashira.

Aurora deu de ombros. “É mais um ritual do que qualquer coisa. Mas sim, é isso. É tipo… sei lá, prova de autoescola.”

“Você realmente acabou de comparar caçar demónios com fazer baliza?” Sakeme cruza os braços, erguendo as sobrancelhas.

“Sim.”

Katsuki quase soltou um sorriso vendo as duas, mas conteve. Precisava focar nessa pedra agora.

Bakugou olhou para a rocha de novo. Tinha dois metros e meio, lisa, centralizada perfeitamente no campo. Pensada para causar impacto. Mas depois de tudo que ele passou… uma rocha era só… uma rocha. Nada mais.

Ainda assim, algo no olhar de Aurora o impediu de relaxar. Ela não estava brincando. “Agora, tá esperando o que? Pode começar!” Disse Aurora, apontando para a rocha.

Bakugou não esperou mais nenhuma palavra, ele andou até uma distância segura da rocha. Quando botou a mão no cabo da katana, ele ouviu Aurora gritando para ele. “E lembre-se, você tem que usar alguma técnica de respiração agora! Faz parte das regras!”

“Você sabe que meu sentido aguçado também é a audição né?! Não precisa gritar, porra!” Katsuki disse… gritando de volta.

Ele agora tinha total controle sobre isso, conseguindo focar sem dificuldade no que importava. Em geral, dava pra ‘desligar’ na maior parte do tempo, focando nos sons dos próprios passos, ou no ar ao seu redor. Mas, ainda era irritante ouvir gritos, até mesmo os seus próprios. O que acabou fazendo seus gritos diminuírem bastante em frequência.

“Hehe! Foi mal!” Aurora se desculpa, abaixando levemente a cabeça.

Katsuki suspira um pouco com isso, precisa focar na rocha agora. Ele retira a katana da bainha, ficando em sua posição de combate, pés firmes no chão. Se ele tinha que usar alguma das técnicas… ele usaria as técnicas.

Durante esse ‘ano’, esse foi seu maior foco. Dominar as técnicas de respiração do seu elemento principal. O vento. Ele ainda não tem total controle sobre tudo, mas sabe fazer as primeiras formas bem. A maior prova disso é sua marca. Ela cresceu desde a última vez, agora cobrindo o pulso por inteiro, e boa parte da área inferior do braço. O suficiente para ele sempre ter que andar de casaco agora, ou, com acessórias que impedissem as pessoas de ver aquilo.

Bakugou segurou firmemente o cabo da katana, respirando pesadamente. O mundo ficou silencioso por um segundo, não porque o som parou, mas porque ele parou de ouvir tudo que não importava.

Respiração do vento.

Ele entrou em concentração total, e começou a girar devagar seu corpo. A marca brilhando em branco.

Roku no kata.

Rapidamente, Katsuki lança um golpe de baixo para cima com sua katana, mirando no centro da rocha. No instante seguinte, uma rajada forte explodiu dali, levando poeira, folhas e até pequenas pedrinhas ao redor.

Sakeme instintivamente levantou os braços para cobrir os olhos. “Huh! Exibido…”

Aurora deu um passo pro lado, só por precaução. O corvo em seu ombro começou a bater asas um pouco, tentando não ser empurrado pelo vento.

Quando o vento cessou, e a poeira baixou… a pedra estava partida. Perfeitamente. Simétrica. Como se tivesse sido cortada com um bisturi, e não uma katana.

Bakugou estava em pé na frente da pedra, guardando a katana na bainha, olhando para o resultado de seu ataque. Isso é a coisa que mais lhe surpreendia quanto a essas… respirações. Katsuki lembra de ver Aurora invocar chamas em sua mão quando se encontraram. Mas ver e fazer por conta própria é muito diferente.

Quando Katsuki conseguiu fazer sua primeira rajada de vento com a mão, ele aumentou o ritmo do treinamento em um nível quase preocupante. Ver aquilo, aquele poder, saindo dele. Foi como voltar no tempo. A sensação foi parecida com a primeira vez em que ele usou sua individualidade quando criança. Na verdade… foi até melhor. Por que ele não nasceu com esse poder dessa vez, ele teve que treinar muito para fazer uma pequena rajada. E, agora, ele conseguia fazer essas coisas com a rocha.

Ele tinha uma sensação dentro de si agora. A sensação de que, talvez, finalmente, ele tinha feito alguma coisa certa na vida. Aquilo era poder, um que ele construiu sozinho… quase sozinho.

Bakugou respirou fundo, sentiu o corpo leve. Não por causa da técnica, mas porque… por um segundo, ele não se sentia um fracasso.

Um ano inteiro dentro do castelo infinito, por treze dias no mundo real. Vinte e oito dias por cada manhã em que ele deixava sua mãe dormindo sozinha naquela casa pequena e silenciosa.

—Você não vai chorar, vai?

…Cala a boca.

—Não estou zoando. Só… achei bonito. Sério mesmo.

…Cala. A. Boca.

Suspirando e guardando a katana, ele finalmente se afasta, voltando para onde sua mestra e colega estavam observando.

“Parabéns, garoto!” Aurora diz, se aproximando e bagunçando levemente seu cabelo. Ela sabe que ele não gosta de abraços, então quando queria parabenizá-lo, ela bagunçava o seu cabelo, era o abraço pessoal deles.

“Nada mal, para um novato.” Sakeme se aproxima com as duas mãos na cabeça, como se estivesse zombando de Katsuki. “Mas… não foi ruim. Boa, esquentadinho!” Um sorriso aparece no rosto dela, ela estava feliz pelo amigo, mesmo que eles tenham essa pequena rixa.

Até mesmo Kizu o parabenizou.

—Parabéns pelo corte.

Só pra constar, eu sei que você tá sendo irônica.

E isso que eu fiz foi foda, só pra você ficar sabendo!

—Foi mesmo.

Tsk… é claro que foi.

—....

Vendo isso, Katsuki responde com um de seus meio-sorrisos arrogantes de sempre. Mas, esse era mais leve, mais natural, não tinha nenhuma arrogância de verdade, ele só estava… feliz. “É claro que eu fui bem, porra!” Ele cruza os braços, o sorriso aumentando ainda mais. “Sou eu, afinal!”

Ah. É, esse era o velho Katsuki de sempre à vista.

“Não fique se achando, ainda falta muito treinamento pra você, garoto!” Aurora olha para seus dois aprendizes. “Pra vocês dois! Mas, vamos focar no mais importante agora… Presentes!”

Os olhos de Katsuki saltaram ouvindo isso. “Você disse… presentes?” Katsuki olha para as caixas agora.

Aquilo é… pra mim?

—Olha ele, ganhando até presente agora!

“Sim! Agora você é oficialmente um caçador, então precisa se portar como tal.” Aurora também olha para os presentes. “Vamos, pode abrir!”

—Seria irônico demais se ela botasse uma bomba nessas caixas.

Katsuki olha para as duas caixas, e decide começar pelo menor delas. Abrindo, ele vê uma… roupa? Mas não uma qualquer. Era parecida com a de Aurora. Tecido resistente, predominantemente preto, e com pequenos detalhes em branco, sendo a cor a única diferença. E o haori… idêntico ao da Sakeme.

“Esse… é meu uniforme?” Katsuki perguntou, como se estivesse testando se era mesmo real.

Aurora assentiu. “Você agora é um dos meus. Precisa se vestir como tal!”

Bakugou não respondeu, só ficou olhando a roupa por um tempo, como se ela fosse mais pesada do que parecia.

—Não vai quase chorar de novo, né?

Só, para. Você é muita chata.

“Não se preocupe, nós podemos usar a roupa que quisermos, então sinta-se livre para modificar ao seu gosto.” Sakeme disse, tentando tranquilizar seu colega.

“Exatamente, agora, a outra caixa!” Aurora fala, concordando com sua outra aprendiz.

Ele abre a outra caixa. Uma katana. Katsuki pega no segundo seguinte, a lâmina mudando para verde, como sempre. “Tsk… cor de merda.” Ele quase consegue ouvir Kizu o chamando de fresco, então ele passa o olho pela katana. O material parecia diferente, e era um pouco mais estilizada. A guarda de mão tinha um formato de chama também, embora verde. Parecia ser uma marca registrada da Aurora, e ela queria passar isso para seus aprendizes também. “Por que a guarda de mão tem esse formato?”

“É tipo a assinatura dela. A minha também tem a mesma guarda.” Sakeme diz, tirando brevemente sua katana da bainha, para Katsuki poder ver.

Aurora apenas faz um biquinho vendo isso. “Vocês são meus aprendizes! É considerado respeitoso passar essas coisas de geração a geração, sabia?”

“Eu tenho certeza que você não se importa com isso.” Katsuki fala, tirando a antiga katana da bainha, e botando a nova no lugar. “O que eu faço com essa katana agora? Eu não vou deixar essa merda guardando poeira na minha ca-” Aurora dá outro cascudo nele quando ouve isso. “Porra! Foi o que agora?!” Sakeme pode ser vista no fundo, murmurando um ‘merecido!’ e segurando umas risadinhas.

—Hhahahha, eu amo essas duas!

É claro que ama, elas me infernizam!

—Exatamente!

—Isso é a melhor coisa que eu já vi! Você nem revida mais!

Tsk…

Não seja idiota! Eu não vou revidar algo tão bobo quanto isso!

—Eu sabia! Você se importa com elas!

—Ah! Você não negou.

Aurora estalou os dedos na frente de Katsuki, fazendo-o voltar à realidade. Depois de tanto tempo, ela já conseguia identificar facilmente quando ele se perdia nos pensamentos ou com a voz. “Não desrespeite a katana! Nunca se sabe o que pode acontecer, aconselho deixar essa guardada em um lugar seguro, para emergências.”

Katsuki não pode negar isso, então apenas resmunga um ‘sim’ mal proferido por ele.

“E então, o que achou do outro presente?” Sakeme que pergunta dessa vez.

“Outro?” Katsuki pergunta, olhando novamente para a caixa onde a katana estava. Tinha outra arma ali! Ele se abaixou para checar dentro, e encontrou um… leque?

—Isso é um…

Leque?

—...

Bakugou ficou olhando por uns segundos. Como se fosse um pedaço de cocô embrulhado para presente.

“Isso é… sério?” Ele se virou para Aurora. “Você me deu um leque? Um LEQUE?!”

“POW!” Outro cascudo.

“Respeite o leque!” Aurora respondeu como se estivesse defendendo a honra de um ancestral.

—Haha! Esse foi merecido!

Fica do lado dela mesmo, traidora!

Katsuki coça um pouco a cabeça, no lugar dos dois cascudos recentes. Aurora não batia pra machucar, mas ela ainda era extremamente forte fisicamente, então doía um pouco.

“Leques de ferro, usados por caçadores que dominam a respiração do vento. Te ajudam a gerar rajadas, complementam suas técnicas.”

“Gerar… rajadas?” Bakugou pergunta, sem pegar o leque.

“Sim. Como você bem sabe, nós podemos gerar certas coisas com nossas marcas, correto?” Aurora diz, gerando chamas leves com sua mão, apenas para exemplificar. Sakeme a imita, também gerando chamas um pouco menores.

Katsuki assente, também gerando um pequeno redemoinho na mão, menor que as duas chamas.

“Alguns caçadores usam armas de apoio para ajudar com essas coisas, e, com os do vento, eles usam leques como esse.” Aurora aponta para o leque na caixa. “Vamos, tente fazer isso com o leque, usando a concentração total.”

Relutantemente, ele pegou com a mão direita, o leque se abriu sozinho. Os detalhes em metal mudaram para verde, assim como a lâmina da katana.

Quando ele respirou fundo, em concentração total, e bateu o leque em direção às poucas árvores próximas… o vento saiu forte o bastante para empurrar até mesmo alguns galhos caídos nas proximidades. Algumas folhas das árvores também foram levadas na rajada.

“Tá. Foi legal.” Katsuki admitiu, murmurando, quase sorrindo. Quase.

“Ha! Eu não disse? Guarde o leque no cinto, ele vai te ajudar.” Aurora dá um sorriso orgulhoso, ela ama estar certa. E na maioria das vezes ela estava certa.

Katsuki fechou o leque, e guardou no outro espaço do cinto. Ele sempre teve curiosidade para saber pra que aquele espaço livre servia à direita do cinto, e agora sabe. Armas de apoio. Pelo que já viu, Aurora e Sakeme não carregam consigo tais objetos. Isso deixa Bakugou com uma pulga atrás da orelha, mas decide não falar nada sobre.

“E agora?” Bakugou perguntou. Katana nova na bainha, leque no cinto, e a outra katana na mão.

“Agora?” Aurora coloca a mão no queixo, pensando por alguns segundos. ”Nós vamos festejar!” Ela levanta os braços, como se estivesse comemorando um ponto em um esporte.

Festa?

—Sim! FINALMENTE!

Você está animada em…

—Eu to esperando uma festa a séculos, eu preciso disso.

Tsk… não seja burra.

A Sakeme não parece ser festeira. Deve ser algum jantar, ou coisa assim.

—Que você esteja errado, por favor!

“Vamos em uma pizzaria de rua!” Aurora confirma.

—...Merda.

Ha!

“Aqui, é nesse endereço.” Ela dá um papel com a rua. “Agora, eu vou me vestir! Você e a Sakeme podem fazer o que quiser, ainda tenho outras coisas pra resolver antes disso. Nós encontramos as sete em ponto!” Ao falar isso, o corvo que estava em seu ombro vai até o de Rengoku. “Até!” Aurora invoca uma porta do castelo infinito e entra.

“Ela ama fazer essas saídas súbitas né?” Uma gota cômica sai da testa de Katsuki enquanto ele fala.

Sakeme dá de ombros com isso. “A Hashimoto sempre foi assim, ela não sabe se despedir, nunca soube.” Os dedos de Sakeme passam levemente pelo queixo do corvo que agora estava em seu ombro. O corvo faz um som que Katsuki não sabe identificar, mas parece ser uma espécie de canto de felicidade, e o pássaro também inclina a cabeça mais pra perto, parecendo querer mais do carinho.

Katsuki olha isso com olhos apertados. Inicialmente, ele achava que esse corvo seria o seu, já que pelo que sabe, todo caçador tem um. Mas, agora ele estava confuso. “É o seu corvo?” Ele aponta para o animal no ombro da colega.

“Hum?” Sakeme gira os olhos para Katsuki, focando nele. “Ah, não!” Ela negou com a cabeça rapidamente, como se estivesse meio ofendida. “É o seu! Vai pra seu novo dono, amiguinho!” Com isso, o corvo bate as asas até o ombro de Bakugou, que quase cai com o impulso repentino.

Cacete! Que corvo rápido!

Katsuki logo tenta se reequilibrar. Ele estava acostumado a carregar uma espada, não duas. Muito menos duas espadas e um corvo no ombro.

“Ah! Humano burro!” O corvo enfatizou batendo ainda mais suas asas, intencionalmente. Isso faz Katsuki se desequilibrar ainda mais, até finalmente cair de bunda no chão.

“Corvo idiota!” Ele tenta dar um soco no bico do bicho, mas ele rapidamente voa para o outro ombro. “Ahhhh! Fica parado seu merdinha!” Mais um soco, mais um desvio. Eles ficam nessa de gato e rato alguns minutos. Até que Katsuki ouve risadas, tanto no mundo real quanto dentro de si.

—Hahahahhaha!

Qual a graça em?!

—Não é óbvio?

—Você tá brigando com um PÁSSARO!

E?

—E?! É um bicho!

Corvos são um dos animais mais inteligentes que existem.

Certeza que esse merdinha tá fazendo isso de propósito!

—...Não deixa de ser burrice.

Vai catar coquinho Kizu.

Sakeme também estava tentando conter algumas risadas com a boca. Na visão dela, aquilo era muito cômico. Katsuki caído de bunda no chão, tentando socar um corvo que fica desviando de todos os socos possíveis. “Hihi…!” Ela tenta parar de rir enquanto tira a mão da boca. “Sério, logo você, o esquentadinho, tá tendo dificuldade em enfrentar um simples corvo?” Sakeme se aproxima, disponibilizando a mão para ele.

Assim que Bakugou vê a mão, murmura um som quase inaudível de xingamento, mas aceita o apoio para se levantar em seguida. “Só pra deixar claro, eu ainda não me acostumei com essa merda…!” Ele segura na mão de Sakeme, se apoiando nela para se levantar.

“Relaxa, com o tempo você se acostuma!” Ela diz enquanto olha para o corvo no ombro de Katsuki. “Também foi estranho quando recebi o meu.”

Quando Katsuki finalmente fica de pé, o maldito corvo começa a se mexer de novo em seu ombro. “Porra! Não sabe ficar quieto não é?!”

“Seus ombros são tensos demais! Não dá pra ficar aqui direito!” O corvo bateu ainda mais as asas, com a desculpa de estar tentando achar uma ‘boa’ posição.

Merda! Que corvo chato do caralho!

—Eu realmente gostaria de saber quando falar com corvos virou normal…

Eu digo o mesmo Kizu. O mesmo…

Pelo que Katsuki sabia, todo caçador tinha um companheiro corvo que se encarregava de mandar mensagens para a sede principal dos caçadores, e vice-versa. E, todos os marcados também tinham a capacidade de entender e falar com esses pássaros. No início, ele também não acreditou, mas depois de ouvir o de Aurora pedindo por comida, Bakugou passou a não duvidar de mais nada nesse mundo, não importa o quão estranho seja.

“Vamos fazer o que agora? Temos pouco mais de uma hora até às sete.” Sakeme dá uma olhada de canto de olho no seu relógio, só para checar as informações. “Errei, são cinquenta minutos na verdade!” Ela se corrige, e abaixa a cabeça levemente, por puro reflexo.

“Tsk…” Katsuki resmunga. Odiava essa formalidade da colega, fazia parecer que eles estavam em alguma reunião estranha, ou que eram pessoas minimamente importantes. Nos primeiros meses, isso o atingia quase pessoalmente, mas hoje em dia ele entendeu que ela é assim com praticamente todo mundo. “Vamos logo à porcaria da pizzaria! A gente já se adianta assim.”

Sakeme ponderou por alguns segundos. “Pode ser, mas o que fazemos com isso?” Ela aponta para a antiga katana de Katsuki, e sua nova roupa.

“Vamos passar na minha casa, aí depois vamos para a maldita pizzaria. E vamos rápido, tô com fome!” Katsuki exclamou, começando a andar em direção a cidade com alguma urgência. Sakeme o seguia, rindo um pouco enquanto o corvo começava a reclamar, até que ele decide ir novamente no ombro de Rengoku.

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Depois de passarem na casa de Katsuki, foram juntos até a pizzaria. Por conta do tempo que passaram próximos antes, eles acabaram virando algo próximo de amigos. Tanto Bakugou quanto Sakeme tinham quase a mesma idade, com Rengoku sendo só um ano mais velha, ambos eram caçadores, e os dois tinham dificuldade de comunicação com pessoas consideradas ‘normais’. Então, embora não pareça, eles conseguem se complementar com alguma facilidade.

“Tá preparado?” Sakeme diz enquanto eles andam juntos até o estabelecimento desejado.

“Hum?” Katsuki pergunta sem desviar o olhar da pizzaria a poucos metros de distância.

“Pra amanhã!” Ela diz como se fosse óbvio. “Vai ser o seu teste pra continuar naquela escola de heróis não é? A melhor do Japão e toda aquela propagando deles.”

Bakugou contém um sorriso com isso. Era muito fácil perceber que Sakeme não era nem um pouco fã de heróis, nem Aurora. Na verdade, dos poucos caçadores que ele conseguiu conversar, todos demonstraram não gostar de heróis como um todo. Katsuki até pode entender isso. A forma de agir de heróis e caçadores são diferentes ao extremo. Um tem como trabalho proteger as pessoas prendendo vilões. Já o outro tem como dever fazer o mesmo, mas matando demônios, que, quase ninguém sabe que existe.

“Humph! É claro que sim. Eu to matando demônios, passar nesse teste vai ser fácil comparado a isso!” Ele passa as mãos para trás da cabeça enquanto fala, como se estivesse debochando do teste do próximo dia.

“Você sabe que não vai poder usar a respiração lá não é? Não sei exatamente como você faria pra explicar o porquê de agora você conseguir ter algum controle sobre o vento…” Ouvindo isso, Katsuki apenas resmunga um “Tsk” baixo enquanto continua a andar em silêncio.

—Você sabe que ela tem razão não é?

É óbvio porra!

—Então… vai fazer o que?

Ele começa a olhar pro chão por alguns momentos após isso, pensando em todo o treinamento que teve que fazer. Mesmo que seu corpo não tenha se alterado, a sua mente se fortaleceu. Katsuki aprendeu a usar uma katana com algum nível de expertise, além de seus novos sentidos. Sua audição possivelmente seria sua maior arma em tudo isso. E a respiração de concentração total ainda poderia servir para melhorar suas características mais básicas. Força, resistência, velocidade… tudo em níveis baixos, para ser algo crível.

Ele ainda tinha que ter algum cuidado, afinal, se alguém sequer suspeitasse que ele por qualquer raio de motivo tem uma individualidade, vai ser uma dor de cabeça desgraçada, e ele não está pronto para algo assim.

Humph… eu vou me virar.

—Sei…

Tá duvidando de mim Kizu?!

—Sim.

—Você não é conhecido por autocontrole, mesmo hoje em dia.

Mas eu melhorei!

Estou dez vezes melhor que antigamente, no mínimo!

—Zero vezes dez ainda é zero.

Vai se ferrar.

—Também te amo.

Sakeme percebeu que Katsuki estava viajando um pouco na própria mente, já que não respondeu sua pergunta. Então, repentinamente ela segura o ombro do colega, para impedi-lo de continuar andando no automático. “Ei, já chegamos na pizzaria.”

Katsuki pisca algumas vezes, virando o olhar para o lado. Eles estavam na frente da pizzaria, tinham algumas mesas de madeira, e algumas pessoas estavam reunidas conversando e comendo. O lugar era bem grande, e por dentro parecia ser ainda maior.

Rengoku parecia se adiantar, já sentada na ponta da mesa mais perto dela, bem na frente do estabelecimento. “Vamos ficar por aqui, assim a Hashimoto pode ver a gente assim que chegar.” Bakugou apenas concordou, e sentou em uma das cadeiras próxima a Sakeme, em silêncio.

Eles ficaram nesse silêncio por algum tempo. Não era exatamente desconfortável, mas era perceptível a tensão que carregava o ar. Sakeme estava sem saber sobre o que falar, já que seu colega parecia muito preso na própria mente, e Katsuki não queria encher o saco dela fazendo qualquer pergunta merda apenas para quebrar o gelo dessa situação. Aurora que costuma iniciar a conversa entre os três. Quando estavam só os dois adolescentes, eles normalmente ficavam em silêncio nas missões, não conversando.

Bakugou resolve se adiantar, perguntando o que sempre quis saber de Aurora, mas nunca teve uma resposta exata. “Como… você consegue?”

Os olhos de Sakeme saem do cabo da própria katana, e se encontram com o de Katsuki. “Consigo o que?”

“Conviver com essa… voz, que tem no interior de todos nós caçadores.” Bakugou começa a apertar a própria roupa com isso. Esse é um assunto que ele nunca conseguiu conversar muito bem com Aurora, muito menos com sua colega. Pelo que viu, isso é algo super pessoal de cada caçador, e nem entre eles era algo muito discutido.

Um sorriso pequeno de canto de boca surge em Sakeme com essa pergunta. “Eu aceito ela.”

Katsuki sente o olhar saltando um pouco com isso, como se isso fosse algo impossível de se entender. “Hein?!”

Sakeme suspira um pouco, se preparando. “Pense assim. Essa parte nossa sempre esteve aí, falando, debochando, nos incentivando a fazer… coisas ruins.” Ela se mexe levemente na cadeira, tentando achar uma posição mais confortável. “A marca só nos permite interagir com elas. Mas elas sempre existiram, sempre foram parte de nós, só resta pra gente aceitar e… lidar com isso, de algum jeito. Eu tento filtrar o que é bom e o que é ruim do que a minha fala, mas existem muitas formas de lidar com isso, você precisa encontrar a sua.”

Ele ouve tudo com uma atenção quase assustadora, tentando absorver suas palavras. Lidar com Kizu estava começando a ficar… confuso.

Não tinha como entender nada. Às vezes, Kizu parecia dizer coisas para ajudar Katsuki e incentivar ele, outras, ela o xingava e o fazia pensar que era uma pessoa horrível. Era basicamente uma relação tóxica, só que pior, já que a opção de se livrar da outra pessoa não existe aqui. Ela era uma incógnita para Katsuki, e do pior tipo possível. Ela sequer tinha gênero? Bakugou a chamava por pronomes femininos, mas nunca entendeu bem o porquê. Só tinha uma sensação de que era assim que tinha que ser.

Então, um pensamento passa pela cabeça dele.

Espera, se Kizu é tudo aquilo que eu escondo de mim mesmo, isso significa que…

—Heheheh.

—Entendeu n-

Oh, não! Não, não e não! Só não.

Katsuki começa a coçar levemente suas têmporas com isso. Hoje não é o dia de lidar com isso, talvez nunca. Se isso estiver certo, isso significa que sua vida teria acabado de ir pra dificuldade máxima rápido demais. Ele não vai lidar com isso, mas não vai mesmo.

“Kacchan?!” “Bakugou?”

Tanto Katsuki quanto Sakeme viram a cabeça assim que ouvem as vozes. Deku, Uraraka, Lida e Tsuyu estavam olhando para eles, prestes a entrar na pizzaria. Todos vestindo uma roupa social.

….Porra!

—Interessante…

Bakugou sente seu olhar se cansando só de ver isso. Normalmente, ele teria xingado primeiramente Deku e depois todos os outros… colegas dele. Mas, ele estava tentando evoluir depois que começou a meditar, então, ele iria fazer a coisa mais lógica depois disso. Perguntar o que eles estavam fazendo aqui xingando todos de uma vez, e não o Deku primeiro.

—...

—Genial, simplesmente genial.

“O que o bando de merdinhas faz aqui?!” Ele quase se levanta no processo, mas apenas vira a cabeça para perguntar, tentando evitar uma briga. A voz se eleva no processo, porém, menos do que seria antes.

Sakeme não parece entender muito bem a situação, mas aquele grupo parece gentil, então ela apenas acena com as mãos para eles.

“Kacchan? O que você faz aqui?” Izuku pergunta, se aproximando só um pouco.

“Bakugou! Não use essas palavras de baixo calão em público, por favor! Você ainda é um aluno da U.A, e deve agir como tal!” Lida tenta convencê-lo, e Katsuki apenas manda um dedo no meio para ele, deixando-o com a boca aberta em indignação.

Uraraka parece notar Sakeme meio perdida, então tenta comprimentar ela. “Huh… oie! Boa noite pra você!” Ela acena de volta.

Tsuyu parece notar as katanas. “Isso são katanas?” Aponta para as armas no cinto de cada um deles. Sim, eles levaram as katanas para uma pizzaria… eles podem ser jovens, mas não são irresponsáveis… na maioria das vezes.

“É óbvio né?! Eu preciso de algo agora que não tenho mais minhas explosões.” Katsuki ignora completamente Deku e Lida, respondendo a pergunta de Tsuyu sobre as outras.

“Nós estamos aqui para comemorar o fim do treinamento do esquentadinho.” Assim que Sakeme diz isso, Bakugou sente imediatamente o rosto avermelhando.

Essa… maldita!

—Hahahhaha!

—Sério, eu amo essa garota.

“EI! Não me chame assim na frente desses idiotas! Na verdade, não me chame assim nunca mais!” Ele gritou no segundo seguinte, o que fez Sakeme rir um pouco, e isso só irritou Bakugou ainda mais. “Tá rindo de que?!”

Logo, Katsuki começa a xingar Sakeme de tudo que é coisa possível, e ela fica apenas rindo, chamando ele de esquentadinho toda hora, apenas para irritá-lo. Já os outros viam aquilo de boca aberta. Alguém chamando o Bakugou que eles conheciam por esse nome? E saindo vivo disso? Kaminari já fez algumas loucuras assim antes, mas ele é do grupo do Katsuki, então eles não levavam isso em conta.

“Eu não acredito…” Uraraka murmurou para os amigos, tentando não chamar a atenção dos dois adolescentes que parecem crianças brigando nesse momento.

“É impressão minha, ou o Bakugou não está tão agressivo quanto antes?” Lida pontuou, percebendo que a agressividade dele com a garota desconhecida por eles era mais teatral do que real.

Izuku apenas ficou em… silêncio. Ele estava tentando mapear em sua mente quem era essa garota. Mas não tinha nada. Deku não fazia a menor ideia de quem era ela, e ele sabia quem eram todos com quem Katsuki conversava, absolutamente todo mundo. E as katanas então? Nada estava fazendo sentido, dava pra quase sentir as engrenagens do cérebro de Midoriya queimando de tanto girar.

“Vocês são… amigos?” Tsuyu perguntou em alto e bom som, para os dois ouvirem.

Com isso, os dois caçadores param a ‘briga’ deles dois. Focando o olhar novamente no pequeno grupo. Sakeme é quem toma a dianteira sobre o assunto. “Pode-se dizer que sim. Nós tivemos a mesma mestra!” Ela aponta para a katana dos dois no processo.

Katsuki apenas cruza os braços, mas não nega nada. “Tsk… é tipo essa merda.” Ele murmura baixinho, mas o suficiente pra todo mundo ouvir. “Eu treinava com katana faz alguns meses, desde antes de eu perder a droga da individualidade! Agora isso se mostrou útil. Pronto, essa merda já é o suficiente pra vocês?!” Katsuki diz com alguma raiva, ele odiava repetir essa merda.

A cabeça de todos os quatro balançam em uma confirmação rápida.

“Então… como se chama?” Uraraka pergunta para Sakeme.

Sakeme se vira para ela, com um sorriso gentil agora. “Me chamo Sakeme Rengoku! Porque não se sentam com a gente para conversar?”

Bakugou sente o corpo travar com isso, e quase xinga Sakeme. Mas nem tem tempo de fazer isso, já que Lida se apressa em responder. “Claro! Seria uma honra conhecer uma amiga do Bakugou fora da U.A!” Lida diz enquanto pega uma outra mesa de madeira para juntar com a que eles dois estavam, assim todo mundo vai ter um lugar para se sentar.

Todos se sentam em seguida, e Sakeme parece ser a atração principal no lugar de Katsuki agora. E, ela se responsabiliza por responder todas as perguntas, com Bakugou as vezes respondendo uma coisa ou outra. Ele até gosta disso, isso deixa tudo bem mais fácil. Rengoku sabe que ele odeia responder a mesma coisa várias vezes. Surpreendentemente, ele até consegue responder Deku quando ele pergunta algo. As respostas são secas e curtas, mas sem tantos xingamentos quanto o comum… Isso deixa Katsuki quase orgulhoso de si mesmo… quase.

Notes:

Acho que muitos devem ter percebido. Mas eu rushei um pouco o final deste capítulo, e isso tem uma explicação… Deku. O que me leva a questão principal dessa nota final.

Eu tenho problemas com o Deku, tipo, em ESCREVER ele em si. Tipo, são várias questões, e eu só não me dou bem escrevendo ele, principalmente quando ele era meio chatinho pra meus padrões do que curto escrever. Enfim, a questão é: eu tenho quase TUDO dessa fic planejado já. Sério, tenho um bagulho gigante sobre tudo que quero fazer aqui, a única coisa que está instável até agora se chama: casal.

Como sabem, essa fic não tem como foco o romance, então será algo bem secundário. Onde eu poderia, muito sinceramente, encaixar quase qualquer um. O ponto é: eu acho que não vou conseguir manter o Deku aqui. Ele ainda vai ser importante pro desenvolvimento do Katsuki, afinal… Katsuki. Mas, não sei mais se ele vai ser o casal dele aqui viu. Por isso, quero ver as opiniões de vocês. Eu to entre quatro, sendo bem sincera. Katsuki x Uraraka(vulgo, meu shipp favorito), Katsuki x Ashido, Katsuki x Kirishima, Katsuki x Shoto. Esses são os personagens cujo me sinto confortável escrevendo como casal com o Katsuki. Já que eu sinceramente perdi completamente a vibe do Deku. Só o fato dele aparecer já me desmotivou pra caramba escrever isso… Eu AMEI escrever o início desse cap, mas o final foi… huh, acho que deu pra perceber ksksksksk.

E também, vai ser algo que planejo fazer beeeem lento. Então vai demorar bastante pra aparecer de qualquer forma.

E juro, vamos ter mais momentos do Katsuki com a 1-A daqui pra frente! Vou tentar dar algum foco nisso. Tipo... caps de 'pausa' como um pedaço do cap passado e desse, que foram mais mornos comparados aos outros.

Só isso que eu queria dizer. Quem quiser opinar, sinta-se à vontade. O Katsuki é Bi aqui nessa fic, então sinta-se livre para recomendar shipps também- mas, eu provavelmente tenho 99% de chance de ir em algum daqueles quatro ali.

Enfim, espero que tenham curtido! Vamos ter o teste no próximo cap. Ele pode demorar um tico a mais, já que vou estudar um pouco de escrita de lutas, mas vai valer a pena, garanto! Espero que estejam gostando da história até aqui, agradeço MUITO a todos que estão lendo até aqui!

Curiosidade: Chegamos a 40mil palavras com esse capítulo. Isso já é o tamanho de um pequeno livro, então… yey! Conquista!

Mil desculpas pelo capítulo 'pior' que os outros! Eu escrevi isso na madrugada MORRENDO de sono. Tudo pra poder postar logo e não ter que escrever o Deku quando acordar ksksksk. De qualquer jeito, desculpa qualquer coisa!

Tenham um bom dia e uma boa semana! :D

Chapter 6: Capítulo 6 - Teste

Notes:

(See the end of the chapter for notes.)

Chapter Text

Katsuki não dormiu muito bem nesta noite. O teste vai acontecer nessa manhã, às dez. Aurora deu algumas katanas de madeira para ele no dia anterior, para treinamento e o teste. Não podia usar armas de verdade pelo que estava escrito na carta, então, teria que se virar com o que estava ao seu alcance.

Inicialmente, ele pensou em usar somente a roupa de treino dos caçadores que ele usava no castelo infinito. Não tinha nenhum nome, era preta, funcional, e bem resistente comparada a outros uniformes. No final, ele decidiu pelo haori que Aurora deu de presente ontem. O idêntico ao de Sakeme. Por baixo, ele vestia a mesma roupa que sua mestra o presenteou. A nova katana na bainha, encaixada de forma quase teatral no cinto. Também usava pulseiras grossas no pulso direito para esconder a marca.

Se olhando no espelho, ele até que gostou do resultado. A maioria das pessoas diria que ele estava sendo antiquado. Contudo, Katsuki nunca se importou com a opinião das pessoas. Ao menos, era isso que parecia quando olhavam para o mesmo. Era isso que ele queria que os “extras” vissem. E isso que todos iriam ver.

Agora, ele estava caminhando até a U.A, decidindo por ir andando todo o caminho, sem metrô. A maioria das pessoas passava o olhar sobre quando o viam. Toda essa combinação de roupas, a katana de verdade na cintura, e a de madeira em uma das mãos. Isso tudo o fazia parecer um samurai, só que mais atual.

—...

Kizu também estava em silêncio hoje. Parecia ter notado o quão importante isso é para Katsuki. Então, ela decidiu dar uma pausa hoje… por agora pelo menos.

Não muito tempo depois, Katsuki já havia chegado na U.A, estando frente a frente aos portões. A sensação era… confusa. Ele apertou o cabo da katana por puro reflexo enquanto olhava. O sentimento poderia ser comparado ao seu primeiro dia de aula, é como se Bakugou estivesse de novo entrando naquele lugar pela primeira vez. Tecnicamente, faz mais de um ano que ele não bota o pé ali. Tudo parecia novo e velho ao mesmo tempo. Quase… nostálgico.

Dando um suspiro tenso, ele adentra pelos portões, suas botas tocando o chão firmemente. A maioria dos caçadores usava um tipo de sandália antiga que Katsuki sinceramente achava loucura. A explicação é que parecia ser um método para conseguir focar nos pés e notar cada pequeno movimento. Bakugou não aguentou dois dias, e só voltou a usar botar depois que uma Aurora relutante permitiu. Normalmente, isso era considerado uma “obrigação” entre os caçadores. Mas como uma Hashira, Aurora podia fechar os olhos para algumas coisas de Katsuki. Vantagens de se ter uma mestra do alto escalão.

Quanto mais Katsuki adentra na U.A, duas coisas são notáveis à primeira vista. Os dormitórios ao longe, e Aizawa o esperando na entrada do prédio principal. Ele tinha alguma noção de como era dentro dos dormitórios por conta das fotos que recebeu, mas nunca focou muito nisso. O que o surpreendeu foi o tamanho, era um edifício realmente grande.

Ao ficar frente a frente com Aizawa, Katsuki quase consegue sentir o professor passando o olho por ele de cima a baixo. Não parecia ter surpresa no seu olhar, mas Bakugou tinha a sensação de que a katana gerou no mínimo um levantar de sobrancelhas dele. “Humph… cheguei.” Ele diz, olhando ao redor, tentando demonstrar desinteresse.

Aizawa não responde de início, apenas observando seu aluno com atenção. Após alguns segundos de um silêncio desconfortável, ele finalmente diz algo. “Me siga.” E começa a andar até a praça central da U.A. Katsuki vai andando ao lado dele, tentando não ficar para trás.

A caminhada é tão confortável quanto se imaginaria deles dois. Cheia de um quietude quase irritante. De certa forma, Bakugou tinha se acostumado com esse tipo de coisa depois de tanto tempo fazendo missões com Sakeme. Mas, com Aizawa esse silêncio era diferente, parecia… pesado.

Depois de alguns minutos andando até a praça central, Bakugou já não aguentava mais. Ele precisava falar algo, e torcer para Aizawa não o ignorar. “Vai ter alguém vendo o combate?” Katsuki pergunta, sem desviar os olhos do caminho a sua frente.

Bakugou quase consegue sentir os olhos do professor passando por ele momentaneamente, mas tenta não focar nisso. “Sim. Seus amigos pediram para ver.”

“Tsk…” Katsuki murmura assim que ouve isso. Isso não o irritava, mas adicionava uma camada de pressão nessa luta que ele não tinha se preparado para lidar. Mas isso não iria interferir de forma negativa, provavelmente.

Idiotas…

—...

O que é? Sei que você quer falar algo, Kizu, diz logo!

—É só… você se importa com eles não é?

Hein?! Por que essa pergunta tão do nada?

—Não é nada, esquece.

Katsuki quase tropeçou ouvindo isso vindo de Kizu. Aizawa parece ter notado isso e parado de andar por um momento, mas decide não externalizar nada, e volta a andar em seguida. Um Bakugou um pouco menos atento o seguindo.

Como assim nada?

—...

Você está em dúvida, eu consigo sentir isso!

—...

Nós somos literalmente a mesma pessoa, porra!

—...

Kizu continua sem responder, o que faz Katsuki dar um suspiro alto enquanto segue seu professor. Isso estava o deixando maluco. Essa voz era uma incógnita que ele não tinha a resposta. Tecnicamente falando, era para Kizu ser tudo aquilo que Bakugou esconde de si, tudo aquilo que o corrói por dentro. Mas pelo que sua mestra disse, também é algo super subjetivo e que muda muito de caçador para caçador. Como se lida com algo assim? Não tem nenhuma regra para se seguir, e muito menos alguma fórmula de sucesso.

Tentava conversar, mas não funcionava. Suprimir também não era uma possibilidade, e ignorar muito menos. Mesmo com sua audição sob controle, a voz de Kizu estava em sua mente. Não era impossível de ignorar, mas não parecia valer a pena. E, embora Katsuki nunca admita, ele criou alguma… conexão com essa voz.

Em relação a isso, ele é bem parecido com Sakeme. Bakugou não conseguia realmente odiar Kizu, mesmo que tentasse. Aquilo é parte de si, não é algo que se pode fugir ou ignorar. Kizu também é Katsuki. A parte que ele nunca mostra pra ninguém, nem mesmo para sua mãe, e muito menos para seu grupo.

“Chegamos.” Aizawa diz, quebrando a linha de pensamento que Katsuki estava seguindo. Internamente, ele agradece por isso.

Bakugou olha ao redor, eles estavam na praça central, o mesmo local em que fizeram o exame prático, a luta contra os professores. Ao menos ele já conhecia bem as regras, e como tudo isso funcionava.

“E agora?”

“Vamos até a sala de monitoramento, você precisa ter noção de quem estará assistindo a luta.” Katsuki concorda com seu professor, silenciosamente.

Assim que Aizawa entra, Bakugou o segue sem demora. Chegando até a sala de monitoramento, Katsuki engasga um pouco vendo quantas pessoas tinha ali. Nezu, Recovery Girl, Present Mic, Cementoss, Midnight e Vlad King estavam ali de professores. Seus amigos mais próximos também estavam ali, Mina, Kirishima, Kaminari, Jirou e Sero. Quando eles viram Katsuki, acenaram para ele, e Bakugou fez o mesmo para reconhecê-los ali.

“Jovem Bakugou!” Katsuki vira para o lado com urgência ouvindo isso. All Might estava ali. Ele até esperava algo assim, mas dentro da sua mente, ainda tinha esperança do antigo herói número um não ter vindo. Isso eleva o nível de pressão a um consideravelmente maior. Até agora, Katsuki não tinha entrado em contato com All Might. A última vez que eles se viram foi no dia do seu resgate.

Bakugou ficou em silêncio vendo o corpo agora fraco de seu herói de infância. All Might também não disse nada inicialmente, mas seu olhar ficou visivelmente um pouco arregalado vendo as duas katanas, tanto a verdadeira em sua cintura, quanto a de madeira.

“São belas armas, jovem!” Ele disse, uma mão atrás de sua cabeça mexendo levemente no cabelo. Um de seus braços ainda estava enfaixado, preso em seu pescoço como forma de apoio.

“Hum… é, acho que sim.” Katsuki nem consegue olhar nos olhos do seu ídolo agora. Apenas foca seus olhos em qualquer ponto no chão, tentando focar em outras coisas. A maioria dos presentes parece perceber isso, e começam a cochichar um pouco. Usando sua audição, Bakugou foca na fala deles por um momento, querendo saber o que estavam prestes a falar.

Katsuki dá um sorriso de canto de boca quase imperceptível com isso, esse era o lado bom dessa audição nova dele. Nada mais ficava em segredo com ele por perto. Isso era antiético? Possivelmente. Katsuki se importava? Nem um pouco.

Ele decidiu começar pelos professores. Como estava frente a All Might e olhando pro chão, não pode ver nenhum dos grupos conversando, mas ouvir já bastava por enquanto.

“É impressão minha, ou o garoto tá mais calmo?” Essa era a voz da Midnight, Katsuki conseguia reconhecer esse tom.

Eu realmente não entendo como ela ainda dá aula em um colégio.

—Diga isso por você. Ela pra mim é uma rainha!

—Aquelas algem-

Não diga mais nenhuma palavra!

“Considerando o teste que ele terá que passar, dá para entender o porquê.” Cementoss disse isso, Bakugou reconhece aquela voz séria em qualquer lugar.

“Aquilo é uma katana de verdade?” Katsuki quase consegue sentir Vlad cruzando os braços enquanto fala isso.

Não, é a merda de um controle remoto!

—Ahahah! Boa!

“Hum… o que será que o Sr. Bakugou está planejando?” Nezu, isso é quase óbvio.

Aquele rato desgraçado…

—Imagina se na verdade ele fosse um oni?

Não viaja, sua maluca. Ele já esteve no sol.

—...

—Nunca se sabe.

“HEH?! Ele sabe usar uma ESPADA?!” A gritaria já denunciava a voz do Present Mic. Inconscientemente, Katsuki quase botou as mãos nos ouvidos com isso.

Porra… as aulas de inglês vão ser um inferno.

—A gente pode só pular todas ué…

Você é uma péssima influência, sabia?

—Eu sou você.

“Eu já to vendo que hoje terei trabalho…” Bakugou quase sente pena da Recovery Girl.

A gente não vai dar trabalho pra garota de cura.

—Garota de cura?

Eu… esqueci o nome dela.

—...Chama ela de velha que já serve.

Decidindo que já era o suficiente, ele focou sua audição em seus amigos ali perto, que também estavam conversando.

“Nossa, essa roupa que o Blasty tá usando é muito bonita!” Katsuki tem certeza absoluta que os olhos de Mina estão passando por todo seu haori agora.

“Isso parece uma roupa de época.” Kaminari comentou.

Ah, jura Pikachu?

“Como vocês acham que vai ser essa luta?” Sero disse.

“Eu não sei… mas o Kats pareceu ter bastante habilidade com aquela katana no dia que fomos visitá-lo!” Katsuki consegue ouvir Kirishima dando uma cotovelada no Sero com isso.

Jirou ficou em silêncio. Ao menos Bakugou não conseguiu ouvir nada dela, mas, por algum motivo, ele tinha a sensação de que seus olhos estavam fixos em sua arma.

A cabeça de fone tá estranha…

—Hum?

Ela tá quieta… quieta demais.

—Ela não é sempre assim?

Normalmente, mas dessa vez é diferente. Quase que consigo sentir os olhos dela na minha katana.

—Bem, ela também tava assim quando eles foram visitar você, não é?

Acho que sim…

Katsuki balançou a cabeça, não podia se perder nesses assuntos aleatórios. E, agora que percebeu, ele estava a mais de dois minutos parado sem dizer nada na frente de All Might… isso com certeza não vai fazer bem pra sua imagem. Bakugou sabe que não vai conseguir encarar seu ídolo agora, sua mente não está pronta para isso. Então, sem demora, ele se virou novamente para Aizawa, querendo começar logo isso. “Eu tenho que usar a da madeira, não é?” Ele gesticula para a katana em sua bainha.

Aizawa assente. “Sim, armas letais não são permitidas no teste.”

Bakugou dá um suspiro pesado com isso, ele ainda acha isso uma idiotice de nível maior. “EI!” Katsuki grita em direção aos seus amigos, gesticulando especificamente para Mina e Kirishima virem até ele. Eles dois vêm até ele sem muita demora. “Aqui.” Ele tira a Katana de verdade de seu cinto, junto com a bainha e tudo. “Não percam!” Katsuki joga para eles, e Kirishima pega uma das pontas desajeitadamente, com Mina pegando a outra ponta.

Eles dois quase caem juntos tentando não se desequilibrar, o que quase gera uma veia saltando na testa de Katsuki, mas, no final, eles conseguem pegar a katana. Com Kirishima decidindo tomar conta sozinho da arma, já que Mina com uma katana parecia uma receita perfeita para o desastre. “Deixa que eu fico com isso!” Kirishima diz, carregando a katana com as duas mãos firmes.

“Ei! Não é justo!” Mina faz um biquinho com isso, tentando pegar uma das pontas da katana.

“Você é desastrada! Vai acabar quebrando a katana de algum jeito!” Kirishima tenta segurar a katana no peito, sem dar muito espaço para Mina pega-la.

Katsuki revira os olhos com isso.

Adolescentes… huh, que idiotas.

—...

—Você sabe que também é adolescente né?

Por muito pouco!

—Você tem dezesseis anos.

Eu fiquei um ano no castelo infinito, então tecnicamente tenho dezessete!

Sempre fui o mais velho da sala, agora ainda mais.

—...Tá né.

—Se o vovô tá falando…

Você me chamou de quê?!

—...

Sua merdinha!

Já não aguentando mais brigas bobas, ele percebe que Aizawa já estava saindo da sala de monitoramento, e Katsuki o segue. Ambos andam até a área do exame prático. De longe, parecia ser uma cidade pequena com várias casas pequenas, algo bem diferente de onde ele e Deku fizeram o teste contra All Might antes do acampamento.

Então, Aizawa abruptamente para de andar, deixando Katsuki tomar as rédeas. “Você vai na frente agora.”

“Hein?!” A cabeça de Bakugou vira levemente com isso, em um sinal de dúvida.

“Você vai ter um pequeno tempo para se preparar. Eu vou entrar daqui a cinco minutos, e o teste começará oficialmente.”

Katsuki absorveu isso com uma certa relutância. Ele odiava sentir que estava tendo alguma vantagem, queria fazer esse teste de forma justa. “Isso não é uma vantagem, não é?” Bakugou perguntou com os olhos meio fechados em desconfiança, a voz saindo levemente mais rápida que seu novo comum.

“Essa é a norma que também fizemos nos testes para o acampamento. Não pense que vou facilitar pra você, Bakugou.” Aizawa dá um de seus sorrisos assustadores com essa última frase, sabendo que isso tem o efeito oposto no garoto à sua frente.

“Tsk!” Dito e feito, um dos sorrisos arrogantes clássicos de Katsuki surge com isso. O seu professor não estava o subestimando, e isso já era um ótimo sinal na sua mente. “Se prepare pra perder, velhote!” Bakugou apoia a katana no ombro com isso, como se estivesse exibindo a arma.

Aizawa percebe isso, e embora seu sorriso não fosse arrogante como o de seu aluno, ele fica feliz em saber que de algum jeito o encorajou. Ele cruza os braços, encostando na parede levemente. “Vamos ver, lembre-se que não precisa ganhar, apenas me impressionar e os outros professores.” Aizawa foca o olhar nos olhos de seu aluno, querendo enfatizar as próximas palavras. “E eu falei sério, eu não vou me segurar. Ainda estarei usando os braceletes ultra comprimidos, afinal essa luta precisa ser justa.”

Katsuki segurou um suspiro com isso. Nunca que ele admitiria, mas se essa luta fosse sem esses braceletes ultra comprimidos, a derrota já estava garantida. Porém, antes que ele pudesse agradecer mentalmente por isso, Aizawa continua. “Mas não se engane, lembre-se que a Yaoyorozu e o Todoroki quase perderam pra mim. E isso porque eles tinham seus poderes, já você agora depende dessa katana.” Ele aponta sutilmente para a katana de madeira em seu ombro. “Então, não se esqueça de ir com tudo também, Bakugou.”

O sorriso do Bakugou foi diminuindo a medida do discurso, com seu rosto agora em um tom também sério. Ele apenas acenou para seu professor, decidindo que já estava bom de conversa por agora. Aizawa respirou pesado com isso. “Boa sorte.” Ele disse, começando a pôr os braceletes nos pulsos.

Bakugou segue em frente até a área do exame após essa conversa. E à medida que ele anda entre as pequenas casas, Kizu chama a atenção para algo que ele nunca nem sequer chegou a pensar.

—Aquilo que o depressivo falou sobre não se segurar…

—Será que foi sobre a respiração?

Hein?! Enlouquece mais uma vez Kizu?

Pela contagem de Katsuki, ainda tinha uns dois minutos livre antes de anunciarem oficialmente o começo do teste. Ele decidiu ir até o meio da pequena cidade simulada, subindo até o telhado de uma das casas.

—Eu não sou louca!

—Olha minha lógica. Aurora disse que às vezes caçadores e heróis inevitavelmente se encontram, não é?

Sim, mas isso é principalmente com os heróis underground.

—O depressivo é um não é?!

Ele está agindo principalmente como professor na U.A. Deve fazer no mínimo meses que ele não age como herói a noite.

Principalmente com a quantidade de problemas que essas turma arranja…

No telhado de uma casa um pouco maior que as outras, Katsuki olha ao redor o máximo que consegue, tentando ver por quantos metros tudo aquilo se estendia. Bakugou chutaria trezentos ou quatrocentos metros, e isso era ótimo. Depois do tempo em que treinou, ele conseguiu quantificar bem o perímetro que sua audição agora conseguia ouvir. São cerca de cento e cinquenta metros que sua audição podia ouvir, para todas as direções. Ou seja, ele podia ouvir basicamente a cidade simulada inteira.

—Mas é realmente tão inacreditável acreditar que ele já ao menos entrou em contato com algum caçador ou oni?

Agora, Katsuki saiu do telhado, decidindo que ficar no chão poderia ser vantajoso para seu plano. Olhando ao redor com um olhar afiado, ele toca nas paredes, tentando sentir o material usado. Obviamente, era madeira, mas queria saber a resistência específica.

Hum… talvez não, mas duvido que ele saiba sobre a marca ou as respirações.

São coisas que estão muito dentro do mundo dos caçadores para ele ter qualquer noção.

—Talvez… mas ainda acho que vale a pena ficar de olho.

Antes que essa conversa interna pudesse continuar, uma voz cobre toda a cidade.

“O teste terá início a partir de agora! O tempo limite é trinta minutos.”

Isso era exatamente o que Katsuki estava esperando. Com essa informação, ele liberou toda a extensão de sua audição aprimorada, fazendo sua marca brilhar em branco levemente com o esforço. A pulseira felizmente cobria toda a luz, sem riscos de alguém desconfiar de qualquer coisa.

Com sua audição no máximo e sob controle, era como ter uma ecolocalização melhorada por um vasto perímetro. Dava pra ouvir cada pequena coisa naquela cidade simulada. Se uma barata andasse, ele saberia. Se um grão de arroz caísse ele ouviria. Obviamente, com controle, Katsuki podia filtrar essas coisas e prestar atenção apenas no que importava, que, nesse momento, eram os passos de seu sensei.

Não demorou muito para Aizawa entrar no raio de sua audição, e logo, ele podia ouvir exatamente onde seu professor estava, assim como a direção.

Então ele está correndo sobre os fios elétricos em? Huh… inteligente e rápido.

—É o depressivo do seu professor, espera mais o quê?

Katsuki aproveitou que Aizawa ainda não tinha identificado onde ele estava, e decidiu começar a correr a passos leves na direção oposta a que ele sempre estava vindo.

—O que caralhos você tá fazendo?!

Me afastando?

—Você tá fugindo! Pensei que era pra ser uma batalha isso…

—Onde que tá seu orgulho em?!

Bakugou não é burro, ele sabe que está em muita desvantagem em toda essa situação. Ele tinha que se limitar a não usar suas técnicas de respirações, o vento, ou qualquer coisa que fizesse parecer que ele tem um “poder” novo. Afinal, conhecendo a U.A, é capaz deles o acusarem de agora ser um vilão e ter feito algum trato com All For One para conseguir um novo poder.

Mas, Katsuki tinha uma vantagem grande nessa luta. O conhecimento.

Eu estou sendo inteligente, idiota!

—Fugindo ao invés de lutar?!

Agora, Bakugou podia ouvir Aizawa virando em outra direção, o que é um ótimo sinal. Significa que ele ainda não conseguiu identificar onde ele estava. O que também permite que Katsuki possa parar de correr, e focar mais em seu plano.

Você vai ver!

—Como assim?!

—Fala logo o que você está planejando!

Ignorando todo o resto do que sua voz interior iria falar, Katsuki foca em tentar achar um bom beco.

.

.

.

.

.

.

.

Dez minutos inteiros haviam se passado desde o início dos testes, e Aizawa oficialmente estava surpreso. Não importa onde procurasse, não conseguia encontrar a localização de seu aluno. Ele realmente se escondeu bem. Aizawa sente uma mistura de orgulho e preocupação com isso. Orgulho pela evolução. Afinal, o antigo Bakugou nunca suportaria a ideia de ter que se esconder ou andar nas sombras. Mas preocupação pelo motivo dessa estratégia, o tempo do teste era limitado, eles iriam ter que lutar de um jeito ou de outro. Então, especialmente nesse teste, essa estratégia não tinha muita lógica.

Menos de alguns segundos depois, Aizawa consegue ouvir algo em um beco próximo de onde ele estava. Era um passo, curto e baixo, mas definitivamente um passo humano. Te achei. Sem demora, Aizawa segue em cima dos fios até perto do beco, ao redor mais especificamente, por precaução. Toda a estratégia do Katsuki até agora indicava uma armadilha, então ele iria se precaver.

Assim que Aizawa teve uma visão clara de parte do beco, e garantiu que não tinha nenhuma armadilha ali, ele pula para o chão, querendo checar de perto. Ele sabia que era uma armadilha, e ele daria pontos ao garoto por isso, já que ele o deixou sem muitas opções. E não tinha nenhum lugar para se esconder ali perto.

No primeiro passo do Aizawa no beco, ele percebeu, realmente era uma armadilha. Atrás de si, ele ouviu um pulo, e imediatamente se virou. Katsuki estava ali, olhos totalmente focados em Aizawa, as duas mãos firmes na katana de madeira acima de sua cabeça. Ele estava atacando de cima pra baixo, do alto. Me fez descer para me atacar do alto? Inteligente, mas não vai lhe garantir uma vitória!

Sem muito tempo para reagir, Aizawa levanta os dois braços em uma posição defensiva, usando os braceletes em seu pulso como defesa principal, sabendo que nessa situação, Katsuki sentiria o recuo da katana com muita força, o que acabaria deixando a situação muito ruim para ele.

Vendo isso, um sorriso domina o rosto de Bakugou.

Ele caiu no truque!

Enquanto caia, Katsuki muda a direção de seu ataque no último segundo, querendo acertar o lado do corpo de seu sensei. Com sua nova precisão, ele acerta a katana de madeira bem no ombro de Aizawa, com o máximo de força que consegue. Infelizmente, ele foi mais devagar que o planejado, e o ataque foi menos efetivo do que seria, já que a mudança de direção foi mais lenta do que o desejado.

Bakugou consegue ver os olhos de Aizawa arregalando levemente com isso, mas no instante seguinte eles voltam ao normal, está claro que isso não o afetou muito. Fingir um golpe de cima pra me forçar a entrar em uma posição defensiva, e trocar a direção no último instante? Aizawa quase estava desconfiado de que esse era mesmo o Bakugou. O que aconteceu com esse garoto? Só passaram quatorze dias. Ninguém muda tanto em tão pouco tempo…

Assim que os pés de Katsuki tocam no chão, ele não espera, e começa a partir pra cima do seu professor. Tentando golpeá-lo o máximo possível. Aizawa responde isso se defendendo com os braços, principalmente os pulsos.

Aizawa fica a todo momento tentando defender os golpes de espada com os pulsos, para fazer Bakugou sentir ao menos um pouco mais do recuo da katana. Ele até sente o recuo, mas por serem golpes consecutivos, mais lentos e mais fracos do que um golpe vindo do alto, isso não o atinge muito. E, usando só um pouco da respiração em concentração total, Katsuki consegue deixar seu corpo resistente o suficiente para nem sentir o recuo direito. A respiração acaba deixando as veias de rosto levemente saltadas, mas no meio da luta Aizawa parece não dar atenção a isso.

Então, os golpes continuam mais e mais, cada vez mais rápidos e mais intensos, com Aizawa conseguindo se defender de todos quase perfeitamente, mas sem espaço de tempo para fazer nada mais.

Depois de mais de um minuto nisso, Aizawa entendeu o plano do seu aluno. Bem aos poucos, Katsuki estava aumentando e aproximando os ataques o suficiente para ele mesmo ter que ir chegando pra trás para não ser atingido em cheio. O que fez ele perceber, esse beco em questão é sem saída. Ele quer me fazer ficar na parede?

Tudo isso sempre foi plano de Katsuki, e ele precisava achar o lugar perfeito para que tivesse qualquer chance de funcionar. Um beco sem saída, perto dos fios elétricos, mas longe o suficiente para ele não conseguir ver que era sem saída assim de cara.

Bakugou sabe que essa luta acabou se, primeiro, ele ficar sem a katana de madeira. E, segundo, se isso virar algo a distância. Normalmente, o leque de ferro serviria como arma a distância se ele usasse as respirações e a marca em totalidade. Mas, sem isso, ele tinha que improvisar, e garantir que essa luta fosse resolvida corpo a corpo, sem dar chances de Aizawa sequer tocar naquelas fitas de captura dele.

—Então esse era seu plano em?

AH! E você tava me xingando antes falando que não ia funcionar!

—Huh… admito, foi bom.

Katsuki estava com sua audição totalmente focada em Aizawa agora, seja o que for, ele não estava prestando atenção em mais nada ao seu redor além disso. Os golpes aumentavam em frequência cada vez mais. A velocidade, a força, tudo ficava mais e mais a cada ataque.

Já Aizawa estava começando a ficar um pouco preocupado. Eles estavam se aproximando muito rápido do fundo do beco, o que o deixaria em extrema desvantagem. Por outro lado, ele estava conseguindo se defender de todos os ataques, fazendo Katsuki acertar seus braceletes ultra comprimidos, o que já deveria ter, no mínimo, feito os braços de seu aluno tremer, perder estabilidade, ou cansá-lo. Mas nada disso estava acontecendo. Mesmo com essa velocidade absurda. É como se as leis da física estivessem sendo quebradas.

Um sorriso arrogante cresce no rosto de Katsuki após perceber o fundo do beco se aproximando devagar em sua visão periférica. Ele não perde o foco nem por um segundo, pelo contrário, Bakugou começa a aumentar ainda mais a frequência e força dos ataques. “E então, sensei, o que vai fazer agora?!”

Então, talvez por uma piada do destino, no exato momento em que ele diz isso…

CRACK!

A katana de madeira se quebra no meio assim que Katsuki acerta mais um golpe nos braceletes ultra comprimidos.

—...

Porra.

—Eu avisei.

Avisou nada!

Katsuki só percebeu agora, mas ele cometeu um erro básico que não deveria ter cometido. Esqueceu da física. A energia nunca é destruída, apenas transformada. E a energia cinética dos golpes da katana precisam ir para algum lugar, e como o bracelete de Aizawa não absorve, essa energia acaba voltando para a katana. E a madeira não aguentou a repetição constante de golpes. Toda vez que a arma batia no bracelete, pequenas microfissuras internas surgiam. Até que tudo se acumulou, e a madeira não aguentou mais. Então, mesmo parecendo inteira por fora, por dentro estava se destruindo.

Ação e reação.

Bakugou tentou ficar em uma posição de ataque. Mas ele demorou para absorver o que aconteceu, o que deu tempo para Aizawa pegar suas fitas e amarrar Katsuki completamente, prendendo suas pernas e braços.

Quando ele estava preso por completo, e com a katana de madeira quebrada em algum canto no chão. “Isso. Eu vou fazer isso, Bakugou.”

Ele quase pode sentir uma veia saltando com isso, mas preferia se conter perante a isso. “Humph… exibido.” Então, a mesma voz que iniciou o teste mais uma vez se faz presente, dando o veredito.

“O teste acabou. Voltem para a sala de monitoramento!”

Ouvindo isso, Aizawa tira suas fitas de Bakugou, que estava bufando alto nesse momento. Embora, o rosto estivesse mais calmo do que ele esperava. “Você não me parece irritado.”

“Por que eu estaria?” Bakugou responde, pegando os resto da katana de madeira e dando uma olhada. “Huh… tralha idiota.” Ele jogou o resto no fundo do beco, já que estavam completamente quebradas no meio. “Vamos voltar agora?”

Aizawa assente, sem dizer mais nada e tirando seus braceletes.

A caminhada de volta é… estranhamente calma. Katsuki não parecia preocupado, ao menos, ele não estava externalizando isso se estivesse.

“Onde?”

“Hum?” Bakugou resmunga de volta para seu professor, virando o olhar brevemente.

“Onde você aprendeu… isso?”

Porra…

Katsuki já sabia que essa pergunta viria em algum momento, e tinha se preparado para isso, decidindo continuar a mentira que sua mãe iniciou quando os seus amigos idiotas foram pra casa dele. Mesmo assim, mentir era uma das coisas que ele mais odiava, e, se deu conta que agora vai ser uma das coisas que mais vai ter que fazer.

“Quatorze dias é muito pouco tempo pra aprender tudo isso do zero.”

—Nossa, eu nem imagino o que o depressivo iria achar se a gente falasse que na verdade foi um ano!

Ele nem iria acreditar, pra começo de conversa.

—...

—Ainda seria engraçado…

Ah… é claro que seria Kizu, claro…

“Foi… minha mãe.” Katsuki respira fundo quando diz isso, ele não podia falhar em explicar isso, não para seu professor. “Ela me botou em aulas de katana. A velha bruxa acha que isso iria me ajudar a ter mais paciência e menos raiva, e, isso veio a ser útil agora.” Quando ele fala isso, Aizawa parece não reagir, como ele fez com quase tudo.

Katsuki está tentando focar seu olhar na frente, então ele não conseguiria ver mesmo se ele reagisse, mas o silêncio ainda é amedrontador.

“Posso conhecer seu mestre?” Aizawa diz depois de alguns segundos de um silêncio tenso.

Bakugou não sabe o porque ele iria querer isso, mas não parece ser algo ruim. Aurora o alertou muito sobre manter toda essa questão dos caçadores e onis em segredo, então Katsuki imagina que ela vai aceitar isso de bom grado. Até porque ela realmente é sua mestra, então não vai ser nenhuma mentira. Eles vão estar apenas escondendo parte da história verdadeira, mas a base vai estar ali, totalmente verdadeira.

“É mestra, na verdade.” Katsuki o corrigi. “E sim, posso chamar ela depois, se vocês marcarem um dia.”

“Sim, isso seria… bom.”

Depois disso, eles seguem em silêncio até a sala de monitoramento. Chegando em passos pesados e meio lentos.

A primeira coisa que Katsuki nota são seus amigos. Kirishima e Mina estavam por perto, cada um segurando uma ponta de sua katana, os rostos exibindo uma preocupação quase tocável. Kaminari parecia mais nervoso do que Katsuki. Jirou parecia calma, mas ela estava mexendo muito as mãos. Sero parecia o mais verdadeiramente calmo ali, tentando ser a voz da razão.

Os professores pareciam… normais? Ele não viu muita diferença neles. Isso o deixou mais preocupado do que gostava de admitir. Embora, o sorriso visível no rosto do All Might o confunde um pouco.

Porque o All Might tá sorrindo daquele jeito estranho?

—...

“Sr. Bakugou!” Nezu é o primeiro a falar a palavra. “Posso dizer que estou impressionado com o que vi!”

Isso deixa os olhos de Katsuki saltando, sem perceber. “O-o que?!” Ele não pode evitar gaguejar. Bakugou esperava muitas coisas, mas isso? Não, com certeza não.

“É exatamente isso que você ouviu, jovem Bakugou!” All Might diz, um sorriso no rosto.

“Você impressionou a gente, moleque.” Midnight completou.

Katsuki estava… sem saber como reagir. Claro, ele sabe que criou uma estratégia que teoricamente poderia funcionar se ele tivesse prestado mais atenção e feito tudo mais rápido. Mas nunca achou que fosse algo de impressionar. Parecia comum comparada a outras estratégias.

“Mas eu perdi essa merda de teste!” Bakugou grita com os olhos ainda visivelmente saltados.

“Sim, isso é verdade. Mas o que você fez neste teste indica o que mais queríamos ver. Evolução, adaptação, e determinação.” Cementoss comenta, levantando um de seus dedos, como se estivesse explicando algo em aula.

Agora, uma voz alta e animada toma a sala. “EXACTLY! Nós vimos você analisar os becos até achar o perfeito!” Katsuki quase sente vergonha com um adulto usando palavras em inglês no meio de frases assim. Mas levando em conta que é o Present Mic, ele decide relevar.

“A mudança de ataque no meio do ar foi inteligente. Se fosse mais rápido, poderia ter te feito ganhar a luta.” Vlad diz com os braços cruzados, mas um pouco mais solto que o normal.

“Todos nós concordamos que você merece sim continuar na U.A, Sr Bakugou! Só resta um de nós dar sua opinião sobre isso…” A cabeça de Nezu vira para Aizawa, ao lado de Katsuki. “Qual é seu verídico, Aizawa?”

Todos os olhos se fixam em Aizawa agora. Os professores, diretor, amigos de Katsuki. E até mesmo Bakugou vira a cabeça para o lado, todos querendo ver o resultado final.

Aizawa apenas fechou os olhos com isso, ficando em silêncio por alguns segundos que pareceram minutos.

Katsuki estava tenso, mas seus amigos pareciam ainda mais. Mina e Kaminari pareciam estar prestes a ter um infarto. Kirishima segurava sua ponta da katana de Katsuki com uma força desnecessariamente alta. Jirou e Sero pareciam mais contidos ainda agora, fazendo movimentos rápido demais com as mãos ou pernas, indicando o nervosismo silencioso deles. Os professores estavam cochichando um pouco também, uma Recovery Girl cansada murmurando um “Ele ama fazer esse drama.” para os outros.

Depois de um minuto que mais pareceu uma hora, Aizawa finalmente diz algo.

“Sim. Ele merece continuar.”

Notes:

Sério, cês não tem noção do QUANTO isso demorou. Eu sei que o capítulo parece curto(Tem 5600 palavras. Isso não é curto T-T), mas nossa, conseguiu dar TUDO errado.

Acho que aquela maldição que falam que escritores tem é real, porque não é possível. No MESMO dia que postei o capítulo, o meu computador deu problema no SSD. E eu sei mexer em computador, eu remontei TUDO, até ver qual era o problema, e o problema é essa merda que vou ter que comprar um novo.

Resumindo: sem isso, não dá pra usar o pc. Aí eu tentei escrever no cell e foi COMPLICADO. Ai, de algum jeito, eu consegui fazer meu antigo notebook funcionar(Ele ta com a tela quebrada), mas consegui dar um jeito, e arrumei outra tela pra ele. Então… tudo bem, isso foi resolvido. Ainda vou comprar um novo SSD, mas pelo menos isso já foi.

Agora, sobre o capítulo. Eu considero essa minha primeira cena um pouco mais longa de preparação de luta e luta em si(Já que a cena no cap 4 foi curtíssima). Eu sei que não tá às mil maravilhas, mas foi o máximo que consegui fazer. Nunca fui boa em cenas de luta, e essa é a primeira que fiz de verdade. E meu plano é melhorar a partir daqui. MUITO!

Eu reescrevi aquela cena de luta um monte de vezes T-T. Até chegar nesse nível que considero aceitável, tipo, acho que deu pra entender né? Enfim, tô escrevendo essas notas finais meio ferrada de sono. MUITO na verdade- então desculpem qualquer coisa.

Sobre o casal, possivelmente vamos ficar em Katsuki x Uraraka. Mas, de novo, secundário. Então vai demorar.

E yeyyyyyyy- U.A finalmente ekskskskskks. Personagens de Bnha vão começar a aparecer bem mais agora. E também, vamos ter bastante convivência nos dormitórios. Além de Katsuki tendo que de ALGUM jeito equilibrar essas duas vidas dele, esses… dois mundo.

Inclusive, gostaria de perguntar. O que vocês estão achando da história até aqui?

E da minha escrita? Como deu pra perceber, a cada capítulo tô tentando melhorar mais e arriscar ainda MAIS. Eu tinha muito medo de cenas com muitos personagens, e acho que fiz um bom trabalho no capítulo 4, por exemplo. Diminui o tamanho dos parágrafos de modo geral, como deu pra ver. Às vezes vão ter alguns caps com uns mais curtos, e outros com uns mais longos. Depende de quanta coisa vai acontecer no capítulo em questão.

E ahhhh, quero muito saber. O que vocês estão achando da Aurora e da Sakeme? Minhas duas personagens originais que eu mesma criei. E que vão ser importantes aqui. O que acharam delas?

E do meu Katsuki? Tão curtindo ele aqui?

Além da MARAVILHOSA Kizu. Sério, eu amo escrever a Kizu skskksks. É muito divertido.

Enfim, é isso.

Tenham um bom dia e uma boa semana! :D

Chapter 7: Capítulo 7 - Mentira

Notes:

(See the end of the chapter for notes.)

Chapter Text

Katsuki tinha algumas reclamações quanto ao seu quarto no dormitório, sendo a principal estar no quarto andar. Normalmente, isso não seria um problema, mas considerando que as missões que ele teria que fazer aconteciam à noite, especificamente na madrugada, isso agora virou uma questão para se lidar. Ele não tinha medo de ter que saltar da sacada do quarto andar, e pular de novo pra voltar. Mas manter a discrição com isso ao longo do tempo não seria uma tarefa fácil.

O layout desse prédio também o incomodava. Veja, Katsuki entende a necessidade de manter as garotas e garotos separados. Meninos no lado esquerdo e meninas a direita dentro do prédio, menos na área comum. Mas ele se desacostumou com essas coisas depois de ficar no castelo infinito por tanto tempo. Lá, era diferente, não existia separação de gênero. Katsuki e Sakeme já tiveram que dividir o quarto mais de uma vez, Aurora praticamente os obrigava a isso. De acordo com ela, ajudava a criar caráter e a melhorar a relação dos dois. Nenhum dos dois realmente se importava com isso, mas não tinham problemas em obedecer.

Agora, Bakugou estava sentado em seu quarto, tendo terminado de abrir a última de suas caixas. Após toda a organização, tudo estava relativamente comum. Nem em sua casa seu quarto tinha muitas decorações, ele vendeu a maioria faz muito tempo. A única adição notável era principalmente suas katanas.

Aurora o ajudou com isso também, recomendado alguns suportes de katana que poderiam ser úteis. De início, Katsuki comprou um katanakake pra por na parede. Um suporte tradicional feito para exibição. Ele colocou sua katana velha lá, e as de madeira encostadas em algum canto. A mais recente ainda estava na bainha em seu cinto, junto com sua arma de apoio na outra ponta. Sua mestra também deu leques extras que ele deixou em uma mesinha próxima.

Já eram seis da tarde, e ele passou todo o momento, desde que foi aceito novamente na U.A, até agora, organizando as coisas. Logo, Katsuki ouve algumas batidas na porta. Ele estava tentando adiar esse momento, mas supõe que é algo “importante” de ser feito. Mesmo sem sua audição nova ativada, dava pra ouvir as vozes do outro lado.

Bakugou suspirou um pouco com isso, estava na hora. Ficou frente a porta por um momento, abrindo-a como se estivesse tirando um curativo de uma ferida.

Ao abrir, ele quase se surpreendeu. “O que vocês todos estão fazendo aqui?!” Katsuki esperava seu pequeno grupo ali, não todas da 1-A, até mesmo o Todoroki estava ali. Mineta felizmente foi inteligente o suficiente e se manteve longe. Katsuki odiava aquele merdinha pervertido. O olhar de Bakugou passa por um Midoriya visivelmente nervoso, mas não dura mais do que um segundo.

Que idiotas…

—Isso é quase fofo. Quase.

“Não é óbvio?” Mina que começa, com as mãos gesticulando para todos os colegas atrás e ao lado dela.

Katsuki apenas levanta uma sobrancelha com isso, em dúvida. Não foi isso que eles combinaram antes. Quando Aizawa disse que ele estava novamente aceito na U.A, Mina e Kirishima praticamente pularam nele o abraçando, deixando a katana dele cair, além de fazer todos os três cair no processo, arrancando algumas risadas dos presentes que estavam observando com expectativa. Eles combinaram de fazer uma pequena comemoração, com Katsuki aceitando apenas por não querer passar batido por isso. Mas o combinado com certeza não envolvia todos da 1-A.

“Você não tava aqui quando fizemos a competição de apresentações de quarto! Então, vamos resolver isso!” Mina explica como se fosse óbvio, olhando por cima do ombro de Katsuki para o quarto. “Aquilo são mais katanas?!”

Bakugou passou os olhos pelos outros ali, e viu alguns olhares curiosos para seu cinto, a katana e o leque especificamente. Isso faz ele dar um suspiro pesado, não tinha nenhum problema com eles vendo seu quarto. Mas, nada disso foi planejado, e querendo evitar dor de cabeça, resolveu aceitar o pedido aparentemente inocente.

“Tsk… tá, mas sejam rápidos seus idiotas!” Katsuki abre um pouco de espaço na porta, deixando-os entrar ou ver os seus aposentos livremente.

Com isso, Mina e seu grupo são os primeiros a partir em arrancada para dentro. Alguns decidem ficar olhando com um pouco mais de cautela, sem entrar. Todoroki parece entrar sem medo, Lida e Uraraka também, com um Izuku nervoso os seguindo. Por um ou dois segundos, os olhos de Katsuki e Deku se cruzam, e o tempo parece ficar em câmera lenta para ambos. Os verdes dele encontram os vermelhos de Katsuki, mas, um parece não reconhecer o outro muito bem, principalmente o esverdeado.

—Esse merdinha acha que realmente consegue esconder algo da gente?

—Diz algo!

E o que teria para dizer? Eu já suspeitava.

—Huh… que chato.

A primeira a comentar algo é Jirou. “Esse quarto parece estranhamente… simples?” Ela comentou, olhando ao redor. Nem mesmo a televisão estava ali.

Os outros parecem perceber isso também. “Eu não imaginava que você fosse ter tão poucas decorações, Bakugou.” Tsuyu diz enquanto olha ao redor do quarto, que parecia super básico.

“Eu admiro seu minimalismo, Bakugou! Isso demonstra sua evolução!” Lida fala, movendo as mãos em posições robóticas como sempre.

O comentário de Lida quase faz uma veia saltar do rosto de Bakugou.

Minimalismo?! Quem esse quatro olhos de merda acha que é em?

Katsuki se inclina um pouco em direção a Lida ao ouvi-lo.”EI!” Ele grita brevemente para chamar a atenção para si. “Isso não é minimalismo, eu só não tenho grana pra comprar todas essas merdas que vocês tem!” Alguns olhares se arregalaram ao ouvir, e outros parecem engasgar com o ar. “Por que esses olhares?! Não é todo mundo que tem dinheiro pra gastar como se fosse água, porra!”

Isso faz todo mundo ficar em silêncio por um tempo, até mesmo Mina e Kirishima, que estavam focados na katana que estava no suporte, ou nas de madeiras encostadas no canto do quarto. Ninguém realmente esperava que justo o Katsuki não tivesse dinheiro. Izuku tinha uma boa noção disso, por conta da mudança de bairro. Seu grupo também tinha consciência de que Bakugou não era rico. Eles visitaram a casa dele, e notaram isso, embora, não comentaram nada por conta da privacidade dele. Mas nem eles esperavam que estivesse nesse nível.

Por que todo esse silêncio?!

—O que você esperava?

—Não tem uma decoração sequer nesse quarto!

E a merda do pôster do All Might na parede?!

—Esse um único pôster tem o mesmo efeito de um livro sozinho em uma prateleira. Todo mundo tem, mas ninguém nota.

—Ou seja, ele não conta como decoração.

Merda.

Como sempre, Todoroki é o primeiro a quebrar o gelo, com seu tato social mínimo. “Bem que eu achei esse quarto parecido com o da Uraraka…” A mão dele estava no queixo, como se estivesse falando algo inteligente.

“Ah?!” Uraraka reage, ainda meio atordoada pela comparação. “O meu quarto não é tão vazio assim!”

“É sim!” Um coro inteiro de vozes responde, deixando Uraraka branca por um momento, como se sua alma estivesse saindo do corpo. A atenção nela dura o suficiente até que as katanas fiquem em foco, ou seja, menos de dois segundos depois.

“Isso… são realmente katanas?” Katsuki ouve Toru perguntando, próxima do katanakake em que ele pôs sua antiga arma.

“Não é óbvio?” A voz sai com alguma rispidez, só que sem a arrogância forçada que ele teria antigamente. Katsuki aproveitou isso para se virar em direção a todos os colegas dele que ali estavam. “Eu sei que vocês idiotas devem estar cheio de dúvidas e todas essas merdas.” Katsuki suspira um pouco, se preparando para as explicações inventadas de sempre. Já estava quase ficando profissional em enganar as pessoas nesse ponto. “Vamos, podem perguntar o que quiserem. Vou responder logo, e sejam objetivos!” Bakugou enfatiza a última palavra, mesmo sabendo que eles vão ignorá-la completamente. Conhecia muito bem todo mundo ali.

Logo, todas as perguntas usuais começaram. “Onde?” “Como?” “Quando?” “Quem?” Vindo de todas as direções, Katsuki já podia sentir a cabeça latejando só por conta do barulho. Muitas pessoas falando ao mesmo tempo ainda o deixava confuso, mas, ele treinou o suficiente para lidar com isso.

Enquanto Katsuki se encarregava de responder todas as perguntas mais comuns, duas pessoas se mantiveram inesperadamente em silêncio. Deku e Uraraka.

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Uraraka estava pasma, pra começo de conversa. Inicialmente, ela até prestou atenção nas explicações que Bakugou dava, mas seu olhar rapidamente começou a varrer o quarto, e percebeu que realmente não era tão diferente do dela. Na verdade, o quarto de Katsuki era até mesmo mais vazio que o da própria.

Óbvio, ela não esperava que fosse a única com dificuldades financeiras na U.A. Mas ninguém realmente esperava que Katsuki tivesse uma dificuldade desse naipe, ou de qualquer outro na verdade. Ela sabe que Bakugou não devia ser um exemplo de qualquer coisa, mas não tinha como evitar admirá-lo depois do festival esportivo. Na luta deles, ele lutou de verdade, sem subestimá-la, foi o único que realmente a levou a sério, e tratou-a como uma adversária à altura.

Ela nunca contara nada disso a Katsuki, afinal, não tem como saber o tipo de reação que ele poderia ter. Só que o vendo agora, e sabendo de suas condições financeiras, ela não pode impedir a si mesma de se sentir um pouco mais conectada a ele. Ao menos de modo superficial.

Bakugou… você também passa por isso?

Eu… não podia imaginar.

Seus pensamentos giravam exclusivamente em volta disso agora, sem conseguir realmente focar em qualquer coisa que Bakugou pudesse estar explicando sobre suas katanas ou leques.

A maioria das pessoas tratava isso como brincadeira, ou só não se importam. Sempre achavam divertido brincar como Uraraka comprava a comida mais barata quando saiam juntos, ou como seu celular ainda tinha botões e uma tela pequena menor que a de alguns relógios atuais. Ela tentava levar na brincadeira, e fingia não ligar, mas machucava. Só pensar nisso faz Ochako fechar os olhos com uma força surpreendente, além de deixar seu semblante significativamente mais escuro.

Será que… ele também passa por isso?

Acho que não… é o Bakugou afinal.

Não acho que alguém realmente tenha coragem para falar isso na cara dele.

Então, um pensamento veio à sua mente, fazendo seus olhos abrirem um pouco, arregalados em surpresa. Katsuki Bakugou não tinha mais poderes, e ela dúvida muito que uma katana possa compensar isso. As pessoas devem achar ele fraco agora que não tem mais suas explosões tão características dele.

Não, isso não pode ser verdade…

O Bakugou não é fraco!

Uraraka pode não ter visto ele usando aquela katana, mas tem a mais absoluta certeza de que Katsuki deve saber usar aquilo como ninguém.

Desde a luta deles no festival, Uraraka vem se esforçando quatro vezes mais para aumentar ainda mais sua força. Isso culminou, entre outras coisas, nela indo para a academia mais cedo do que toda a turma, ao menos, era isso que ela achava. Sempre que chegava para treinar, Bakugou estava lá, tendo chegado talvez dez minutos antes dela. E, meia-hora depois, Kirishima também costumava vir, comprintado os dois e indo para o lado de Katsuki treinar.

Ela sabe que ele é esforçado, talvez o mais esforçado da turma inteira. Por conta destes fatos, Uraraka fica tranquila em ter a certeza de que Katsuki não iria se deixar ficar para trás por conta de perder algo como sua individualidade.

Sim! O Bakugou que eu conheço não iria ficar pra trás por conta de algo assim!

Por um momento, um sorriso se forma no seu rosto. E ela olha diretamente para o rosto de Bakugou, que estava ocupado aparentemente abrindo o leque e mostrando como as pontas são extremamente afiadas. Katsuki estava explicando tudo com uma paciência surpreendente para seus antigos padrões. O que fez o sorriso de Uraraka aumentar ainda mais por alguns poucos segundos.

Ele parece estar mais paciente…

Talvez… ele finalmente pare de ser mal com Deku!

Isso tira um pouco do sorriso do rosto dela. Ochako odeia lembrar dessa parte do Katsuki. Ela sempre tenta não interferir muito nisso, até porque é um assunto pessoal que envolve Izuku e Bakugou, e mais ninguém. Só que ainda incomodava ter essa incerteza sobre como andava a relação deles dois. Ela já conversou com suas amigas e Lida sobre isso mais de uma vez.

Uraraka deu alguns tapinhas leves na cabeça com as duas mãos ao pensar nisso.

Não! Eu prometi pra mim mesma que eu não iria me envolver!

Esse assunto é entre Izuku e Katsuki, e é melhor deixar assim. Ela passa o olhar no melhor amigo por um momento, percebendo o olhar fixo de Deku até o loiro.

Esses dois tem realmente muita bagagem pra resolver…

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Nada estava fazendo sentido para Midoriya. Desde crianças, mais de dez anos, esse é o tempo que ele vem escrevendo sobre Bakugou. Izuku sabia cada detalhe possível sobre o amigo, sobre a individualidade dele, sobre a família dele, a vida inteira dele.

Depois que Katsuki se mudou da antiga casa, as coisas mudaram bastante, sim. Mas, Deku ainda continuava observando e estudando-o, categorizando cada coisa que via, anotando cada detalhe. E, desde que se lembra, Katsuki nunca fez aulas de katana, e muito menos teve interesse nisso em algum momento da vida. Então… por que ele estava mentindo falando que fazia aula a meses? Deku não conseguia entender.

P..por quê?

Desde que se encontraram acidentalmente na pizzaria ontem, essa pergunta ronda sua cabeça.

Por que mentir?

Você é forte Kacchan! Não tem porque as pessoas duvidarem de você…

Isso… não faz sentido!

Uma das principais regras sobre Bakugou é: Ele nunca mente. Mesmo quando eram crianças, Katsuki abominava a mentira, e sempre abominou. É por isso que mesmo hoje em dia, Bakugou não troca muitas palavras com Izuku. Até hoje, ele deve imaginar que Deku estava mentindo sobre não ter individualidade antigamente. Isso foi algo que Izuku sempre admirou no loiro, nesse ponto Katsuki é o ápice da integridade.

Ou era. Agora aqui estava ele, mentindo. Com esse pensamento, Deku fixa seu olhar em Bakugou, com seu semblante preocupado de sempre, os olhos grandes e levemente arregalados, fixos no rosto do amigo de infância.

Kacchan…

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Katsuki ficou cerca de meia-hora tendo que dar falsas explicações para todos os que estavam ali presentes. E isso o deixou mais no limite do que queria admitir, até que ele decidiu acabar com isso o mais rápido possível, especialmente depois de uma pergunta perigosa até demais, a qual ele não estava pronto para contar ou sustentar uma mentira sobre.

“Espera, o que é isso no seu pulso?”

—Ihhh… Fudeu.

Bakugou não sabe de quem veio essa pergunta, mas veio do meio do grupo, então deve ter sido de algum idiota. Kaminari talvez. Isso ativou um alerta nele, ainda não tinha feito uma mentira para explicar a marca. Claro, ele poderia só falar que é uma tatuagem e tentar sustentar isso, mas, ele sabia que isso iria acabar indo parar nos ouvidos dos professores, principalmente por conta de Lida. E considerando sua quase expulsão, Katsuki sabia que estava em cordas bambas aqui, e não queria atiçar mais ainda os responsáveis por essa decisão.

“Chega!” Katsuki grita, apontando para a porta aberta em seguida. “Todos, pra fora! Agora!”

A maioria da 1-A não parece entender o porquê disso, mas alguns dão um passo pra trás, apenas para garantir.

“Mas por quê?” Kaminari pergunta, meio perdido.

Mina concorda com o amigo, balançando a cabeça. “É, fizemos algo errado?” Ela diz isso enquanto bota a katana de madeira que estava segurando de volta no mesmo canto.

“Eu só preciso de um tempo sozinho.” Katsuki tenta responder sem tanta animosidade para seus amigos, mas afia os olhos assim que se vira para o pequeno grupo da 1-A agora reunido frente a si. Alguns já tinham ido embora durante as explicações básicas, então, estava bem mais vazio que antes. Lida, Uraraka, Koda, Ojiro, Aoyama e Sato, por exemplo. Eles se despediram falando que tinham outras responsabilidades ou algo assim, pelo que Bakugou lembra.

“Ainda vamos comemorar sua volta pra U.A, não é?” Kirishima que fala dessa vez, segurando uma outra katana de madeira apoiada nos ombros, só por diversão. Em seguida, jogando-a no canto igual Mina fez.

Katsuki assentiu lentamente. “Me esperem lá embaixo. Agora, todos vocês idiotas, vão!”

A maioria parece entender a mensagem, e começam a sair sem muita demora. Em especial, Mina e Kirishima apertam levemente seu ombro antes de descer.

“Fique bem, Blasty!”

“É Kats, estamos aqui pra qualquer coisa que precisar!”

Os dois falam, segurando um ombro cada um. Katsuki não se encolhe nem um centímetro sequer. Depois do abraço deles dois mais cedo, isso parecia até… comum.

Porra… eu tô gostando demais dessa merda né?

—Sim.

Eu tô ficando mole demais…

—Isso é ruim?

—Você não sabe né?

—É claro que não sabe… por quê saberia?

Bakugou não consegue responder o toque deles dois, então apenas acena com a cabeça pra eles, torcendo para entenderem seu “obrigado” indireto. Felizmente, eles não questionam nada, e apenas saem pela porta. Quando todos já tinham saído, apenas uma pessoa ficou em pé sem mover um músculo sequer… Deku.

Izuku estava parado em um canto do quarto, perto da porta, olhando fixamente para as katanas de Katsuki.

“Tá esperando o que em Deku?! Vai embora logo, porra!” Bakugou disse já se sentando na cama, esperando que Midoriya fosse embora sem querer causar mais nenhum alvoroço entre eles.

Inicialmente, Deku se vira em direção a porta, começando a andar. Isso faz Katsuki soltar um suspiro que ele estava guardando a um tempo, todas aquelas pessoas no seu quarto era cansativo, muito mais do que ele esperava. Mas Deku mais uma vez o surpreende. Ao invés de passar pela porta, Izuku a fecha, deixando os dois sozinho no quarto, e trancando-a em seguida. Um pequeno click é ouvido.

Katsuki levanta a cabeça com isso, olhando quase diretamente para Deku.

Porra… o que esse merdinha quer agora?

—Ele é um yandere e vai matar a gente, eu to avisando…

Cala. A. Boca.

Agora, Deku estava em pé na frente de Katsuki, olhando para os próprios pés enquanto pensava no que fazer. Já Bakugou estava olhando diretamente para Izuku agora, ainda sentado na cama, e olhando pra cima, para conseguir alcançar seu olhar sem ter que se levantar.

Ambos estavam em um silêncio tenso, ao menos na perspectiva de Izuku. Para Katsuki, estava tudo, menos silencioso. Graças à sua nova audição, ele arranjou um novo truque para identificar mentiras ou outras emoções mais silenciosas que as pessoas ao redor dele podem estar tentando esconder. As batidas do coração. Ansiedade costuma acelerar o coração, e Katsuki seria capaz de apostar muito dinheiro que Izuku com certeza tem algum nível disso, principalmente agora.

Dito e feito, quando ele focou no corpo de Deku, ele foi capaz de ouvir tudo. O coração dele estava batendo mais rápido que o comum, e também dava pra ouvir até as gotas de suor em sua testa. Esse truque não é perfeito, e Katsuki ainda não sabe como diferenciar uma simples mentira de um episódio de ansiedade, por exemplo. Mas, já era uma nova arma silenciosa que ele poderia usar em muitas situações.

Depois de mais de cinco minutos parados, com Deku olhando para os próprios pés e Katsuki o observando, Bakugou já estava ficando de saco cheio. E, quando ele sentiu que iria rosnar para Deku falar o que queria logo, finalmente Izuku decidiu se pronunciar.

“Por que…” Deku engoliu em seco, ele não sabia como perguntar isso. “Por que você… mentiu?” Ele levanta a cabeça em direção a Katsuki com isso, olhando diretamente para seus olhos.

Bakugou já esperava algo assim, se fosse sincero. O coração do Izuku estava muito acelerado, e não parecia uma mentira, era ansiedade. Ele acreditava no que estava dizendo, mesmo com seu nervosismo de sempre. Katsuki suspirou um pouco, cansado de conversar sobre isso, mas precisava falar, principalmente com Deku. Aquele merdinha era extremamente observador, em um nível quase assustador.

“No que eu teria mentido?” Katsuki disse rapidamente, de forma seca.

Deku olhou novamente para os pés com isso. “Você disse que… fazia aulas de katana. A meses…” Ele respira um pouco antes de continuar, reunindo o máximo de coragem que pode. “Mas, isso não é possível! Eu fiz minhas pesquisas, o professor de katana mais próximo da sua casa fica a quase três horas de distância, e o local de trabalho deles sendo a mesma coisa!” Deku faz uma pausa, reunindo as informações na sua mente. “E o mais barato deles já é bem caro! E dado a sua… situação financeira, eu duvido que a tia Mitsuki tenha dinheiro pra isso.”

Agora, Izuku levantou a cabeça mais uma vez, segurando o máximo possível o olhar aparentemente neutro do amigo. “Um professor privado seria ainda mais caro que esses outros, então… não tem como você ter tido aulas.” Fechando os olhos e elevando um pouco o tom de sua voz, ele continua. “Por que você mentiu?! Você é Katsuki Bakugou, e nunca mente! Nunca…” A voz abaixo um pouco na última parte, como se estivesse sussurrando, mas Bakugou escuta perfeitamente, não querendo perder nenhuma parte.

Katsuki poderia inventar uma desculpa. Porra, ele poderia só gritar para Deku ir embora e nunca mais responder tais perguntas, afinal, não tinha nenhuma obrigação em responder qualquer uma dessas coisas. Mas, se fosse sincero, Bakugou não aguentava mais mentir ou gritar. Ele sempre abominou a mentira desde que se reconhece por gente, e isso realmente o fazia se sentir mal, principalmente quando envolvia Mina, Kirishima, Jirou, e todo seu grupo. Katsuki valoriza aquelas pessoas, e mentir pra elas era quase uma traição implícita na sua perspectiva.

Só que ele não poderia dizer a verdade. Katsuki prometeu a Aurora que não diria isso para ninguém, e manteria essa promessa. E se contasse para Deku sobre os onis e ele não entendesse? E se Deku não concordar com a forma como os caçadores agem e tentasse intervir? E se Deku fosse alvo de um oni por tentar comprovar a existência deles? Eram muitos riscos envolvidos em contar isso para um não caçador.

Com isso na cabeça, Bakugou resolveu ir pelo caminho mais… complexo. O da meia-verdade.

“Por que eu minto…?” Katsuki repete a mesma pergunta de Deku a ele mesmo, com o rosto ainda desligado e fechado. “Pelo mesmo motivo pelo qual você esconde que sua individualidade na verdade veio do All Might.”

Os olhos de Deku se arregalaram com isso, e Katsuki pode ouvir o coração dele acelerando a níveis quase assustadores.

Tsk, que idiota…

—...Vai realmente revelar isso logo agora?

Fica na sua Kizu.

Eu tenho um plano aqui.

—Ok né…

Katsuki não deixa que Deku comece a tentar dizer algo, e continua falando. “Vendo agora, eu consigo ver como isso era quase… óbvio.” Ele se levanta da cama em que estava sentado, ficando frente a frente com Izuku, tendo como diferença só a altura agora. “Desde que o All Might apareceu na cidade, você foi… mudando, evoluindo, subindo. Eu já estava suspeitando de algo assim desde Kamino.” Katsuki levanta um pouco a mão esquerda, com a palma virada para cima. “Mas quando percebi que perdi meus poderes pra sempre, eu parei de pensar sobre. Só que lembrando agora, também tem o que o All Might disse quando derrotou aquele desgraçado que roubou meu poder.”

Bakugou não consegue evitar apertar um pouco a mão ao relembrar de All For One. “Dá próxima vez, será você.” Ele repete em referência a All Might. “Naquela hora, só você realmente pareceu entender essa mensagem de um jeito diferente das outras pessoas.” Bakugou suspira um pouco com essa fala, mantendo a voz controlada. “Eu nunca cheguei a perguntar isso pro All Might. Minha mente tem tido muitas outras preocupações, como deu pra perceber.” Gesticula rapidamente para sua katana no cinto. “Mas agora eu te pergunto. Você recebeu seu poder do All Might, não é?”

Vendo a calma estranhamente passiva de Katsuki, o coração de Deku parece acelerar ainda mais, e um pouco de suor parece escorrer em suas bochechas, poucas gotas.

Depois de alguns segundos de silêncio, um sorriso de canto de boca surge em Katsuki, com um “Tsk.” audível e característico. “Você não nega nada disso, então tudo é verdade, não é?” Os olhos de Bakugou se fecham um pouco mais com isso, como se tivesse a certeza da resposta.

“O que vai fazer, quando você souber?” Deku perguntou com o rosto um pouco tenso e rígido.

Katsuki dá de ombros com isso. “Nada.”

Isso deixa Izuku de boca aberta por um momento. “N..nada?”

“Na verdade, eu diria que estamos em uma situação… parecida agora.” Katsuki agora levanta o braço direito, tirando as pulseiras grossas que estavam no pulso, deixando a marca totalmente visível.

Ao ver a marca, Deku parece ter um mini treco. “Kacchan!” Deku inconscientemente segura o braço de Katsuki vendo-a. “Isso é uma tatuagem?! Por que você fez isso? A tia Mitsuki sabe? E os professores? Aizawa? Isso vai diminuir muito su-”

Katsuki não deixa que Deku continue nesse surto dele, e dá um tapa leve em seu rosto com a mão livre, também aproveitando para tirar a mão dele do seu braço. “Se acalma! Seu nerd idiota! Isso não é uma tatuagem!”

Deku nem parece se importar com o tapa ao ouvir a última frase do amigo. “Não é uma… tatuagem?”

Bakugou assentiu, fazendo a marca brilhar em branco por um momento e gerando um pequeno redemoinho de vento em sua mão. “Digamos que… eu também arranjei alguém para me dar um poder.”

Vendo isso, o olhar de Deku praticamente começa a brilhar. “Uau…” Ele aproxima a mão levemente do redemoinho, apenas para conseguir sentir o vento e ver se é realmente real. Izuku pôde sentir o vento gerado pela mão do amigo, além da marca brilhando em branco.

Depois que Katsuki desfez o redemoinho, uma pergunta mais importante surgiu na mente de Deku. “Quem te deu esse poder?” Ele falou isso com mais medo do que gostaria de admitir. Tinha completa noção de que seu amigo nunca viraria um vilão ou se submeteria a alguém assim. Mas, ele perdeu os poderes, então não dava pra adivinhar.

“Eu chamei ela pra vir esses dias pra conversar com Aizawa.” Katsuki comenta sem muito medo, ele já começou, agora teria que sustentar essa história até o fim. “Você pode conhecê-la assim, e por extensão, All Might também poderá. Pode ficar tranquilo, ela não é nenhum tipo de vilã.” Bakugou tenta tranquilizar Deku, com algum sucesso razoável.

Isso faz Deku suspirar de felicidade, mas antes que ele possa dizer algo, Katsuki se apressa. “Eu não vou falar nada sobre o seu… poder, pra ninguém. E espero que faça o mesmo.” A cara de Bakugou é séria enquanto fala, sem nenhum tipo de brincadeira ou sequer a raiva de sempre que Deku esperava.

O rosto de Izuku também tinha um semblante sério enquanto respondia. “Sim! Pode contar comigo, Kacchan!”

Izuku estava… feliz. Vendo agora, esse Katsuki é diferente do de antes de Kamino. Agora, ele estava menos raivoso, gritando pouco, e parecia mais paciente com seus amigos próximos, até mesmo com os que ele não conversava muito. Isso deixava Deku orgulhoso do amigo, toda essa mudança de comportamento significava evolução. Mudança. E uma mudança muito boa, para Katsuki e todos ao redor dele.

Um sorriso bobo e inocente surge no rosto de Deku em direção a Katsuki, e ele nem pensa direito quando faz isso. “Kacchan, eu estou tão feliz por vo-”

“Ei! Que sorrisinho de merda é esse na sua cara?!”

Ah… aí está o antigo Katsuki. Deku pensa, levantando as mãos em sinal de uma rendição falsa. “D..desculpa!”

Katsuki suspira um pouco. “Você pode ir embora agora? Eu realmente apreciaria um tempo sozinho agora.”

“Ah, claro! Desculpa por ter incomodado!” Deku se apressa em dizer, andando até a porta e destrancando ela. Mas, antes de sair, se vira em direção ao amigo. “Eu… posso participar da comemoração com você e seu grupo lá embaixo…?” Izuku não é bobo, sabe que provavelmente nunca seria convidado por Katsuki. Pelo contrário, ele seria desconvidado se tentasse entrar de penetra.

Katsuki apenas dá de ombros mais uma vez. “Faça o que quiser.” Bakugou se vira até a sacada do quarto com isso, olhando para o céu do lado de fora. “E avise aqueles idiotas me esperando que vou demorar só mais vinte minutos no máximo para descer.”

Deku se vê sorrindo novamente com essa resposta. Ele não o desconvidou como o esperado. “Certo! Até mais tarde, Kacchan!” Izuku finalmente saiu do quarto após isso, fechando a porta com cuidado. E quando Katsuki ouviu um pequeno click, foi como se um peso de uma tonelada tivesse saído de suas costas.

—Cacete… isso demorou mais do que eu esperava.

Humph…

Não demorou tanto assim.

Katsuki focou seu olhar no céu, apoiando os braços na sacada. Ele não planejou nada do que aconteceu hoje, mas, tudo acabou dando certo no final. Ainda odiava ter que mentir só pra ter alguma explicação para o Deku, mesmo que ele não tenha mentido por completo. Tecnicamente, a marca pode ser categorizada como uma espécie de poder, mesmo que não seja uma individualidade propriamente dita.

Por um momento, Bakugou fixou seus olhos na lua, que já estava perto de chegar em algum ponto verdadeiramente alto no céu. O sol já não podia mais ser visto direito, e daqui a poucos minutos, os demônios escondidos na cidade iriam começar a agir. Suas missões seriam principalmente feitas na madrugada, então ainda lhe restava muito tempo para planejar e descansar.

—Você está… feliz?

“Por que acha isso?” Katsuki diz em voz alta. Depois de tanto tempo, Bakugou pegou o costume de falar com Kizu naturalmente enquanto estava sozinho sem mais ninguém por perto. Isso o ajudava a não achar que estava ficando louco, embora, qualquer um que visse acharia o extremo contrário.

—Ué, porque você está sorrindo!

Realmente, Katsuki tinha um meio sorriso na boca enquanto olhava para a lua. Quase como se ele pudesse ver seu próprio reflexo nela.

“Algum problema com isso?” A voz de Bakugou sai calma, seca. É como se ele nem estivesse prestando atenção direito.

Se Kizu tivesse um corpo, Katsuki tem a mais absoluta certeza de que ela estaria engolindo em seco agora.

—Nenhum, é só… você está calmo demais.

—Não pensei que a conversa com o yandere maluco realmente fosse te afetar tanto…

Isso acaba fazendo Bakugou soltar um pequeno e distante “Tsk.”

“Não foi a conversa com o Izuku que me fez ficar assim.”

—...

Kizu notou que Katsuki chamou o Deku de Izuku. E ela decidiu não comentar.

“Eu só estou… animado. Agora sim as coisas vão ficar… interessantes.” Katsuki segurou o cabo da katana por um momento ao dizer isso, fixando ainda mais seu olhar na lua, e no próprio reflexo que via ao olhar para o astro no espaço.

Desde que se lembra, a lua sempre teve um efeito estranho sobre si mesmo. Antigamente, quando era pequeno, o astro conseguia acalmá-lo a níveis assustadores. Mitsuki vivia contando sobre como ele tentava alcançar a lua com os bracinhos sempre que via, mas, nunca conseguia. Não importa o quanto tentasse, nunca iria conseguir.

Kizu via isso com algum grau de preocupação. Esse Katsuki olhando para a lua parece… diferente. Ele era calmo. Preocupantemente calmo. Mas a próxima coisa que ele viu Bakugou fazendo a preocupou… muito.

Quando a Lua chegou em um ponto alto o suficiente, Katsuki levantou o braço direito na direção dela, quase como se estivesse tentando alcançá-la.

—Porra…

Fora dos dormitórios, no chão, em uma distância segura. Aizawa olhou pra isso com olhos em desconfiança.

 

Notes:

Sério, quantas coisas conseguem dar errado em um mês só? Meu NOTEBOOK quebrou agora, escrevi tudo isso no celular. Sério, dei meu máximo pra escrever isso até agora domingo. Mas deu certo!

O que acharam? Hehehhehe. A última linha foi como?

E simmmm, tivemos um pequeno pov da Uraraka e do Izuku. O que acharam? Eu não sei tão BEM escrever o Deku, podemos dizer que essa foi praticamente a primeira vez. Acho que fui bem.

Não tenho muito mais para falar T-T. Mas bem, espero que tenham curtido! To AMANDO escrever essa história, e ainda estamos apenas no início!

Sim, estamos só no início ehhehehehhe.

E com esse capítulo, oficialmente ultrapassamos as 50mil palavras inclusive! Então yeyyyy!

Tenham um bom dia e uma boa semana! :D 

Chapter 8: Capítulo 8 - Yasha

Notes:

(See the end of the chapter for notes.)

Chapter Text

Katsuki estaria mentindo se dissesse que não estava ansioso. A comemoração não durou muito, já que todos ali teriam aula no dia seguinte, e precisavam descansar. Lida garantiu que todos foram pro quarto antes das dez da noite, e Bakugou resolveu não se implicar com isso. Na realidade, isso é algo ótimo, e ele não vai perder essa chance que o acaso lhe concedeu.

Agora, Bakugou estava no quarto contando os segundos até que seu corvo idiota chegasse com a missão. A sacada estava completamente aberta, sem nenhum pano, e Katsuki se mantinha sentado na cama, olhando quase que diretamente para a área de fora. Sua roupa continuava sendo a social de sempre, aquilo que normalmente usaria para dormir. Além disso, tinha uma mochila em suas costas, na qual deixou tudo aquilo necessário para a missão.

Seu cabelo também estava amarrado, o máximo possível que ele conseguia. No passado, Katsuki já ouviu muito sua mãe dizer que o cabelo deles era extremamente rebelde, e por isso não valia a pena o esforço para amarrá-lo. Bakugou nunca chegou a ligar pra isso, mas desde que começou a acompanhar Sakeme nas missões, ele começou a entender bem mais essa questão.

Para a maioria dos caçadores, uma máscara já serve. E como muitos só tem a vida como caçador, e nenhuma vida mais “pública”, eles não veem a necessidade do uso de um disfarce mais complexo do que isso. No caso de Katsuki, ele tem sim uma vida pública como herói. Porra, ele participou do festival esportivo e ganhou, isso por si só já o fazia ser conhecido por muitas pessoas, e, onis, ele imagina.

Tudo isso levava a um fato: Katsuki precisa de um disfarce melhor.

Jamais imaginei que diria isso, mas…

—O quê?

Eu agradeço pelo estágio com o Best Jeanist.

—...

—O QUÊ?!

Katsuki odiou cada segundo do estágio que fez com aquele herói, foi completamente inútil. A todo momento, Best Jeanist tentava consertar a personalidade “quebrada” de Bakugou, e, nunca chegou a funcionar. Pelo contrário, ele diria que ficar naquele estágio só fez sua personalidade piorar ainda mais no final de tudo, afinal, tudo que sentiu ali é que estava ficando para trás enquanto os outros estavam evoluindo.

Contudo. Best Jeanist parecia ter tomado como missão pessoal deixar o cabelo de Katsuki arrumado, o que ele mesmo pensava ser impossível. Surpreendentemente, o herói conseguiu arrumar o cabelo rebelde de Bakugou. Claro, o formato foi uma merda, mas, as técnicas que ele usou para conseguir esse feito poderiam ser úteis, e Katsuki garantiu que fixaria cada uma delas na sua mente.

Tudo isso leva ao formato atual do seu cabelo, que estava completamente amarrado em um rabo de cavalo. Isso lhe custou uma quantidade de produtos capilares inaceitavelmente alta, e mais de meia-hora na frente do espelho no banheiro.

Porra… eu não tenho dinheiro pra todos esses produtos não!

—Pelo bem do seu disfarce, você vai ter que arranjar.

Tsk… que merda.

Bakugou começou a bater os pés com isso, odiava conversar sobre este assunto em específico. Dinheiro é uma questão que ele decidiu deixar para o Katsuki do futuro resolver. Agora, ele tinha outro foco, sua primeira missão… solo. Sem Sakeme, Aurora, ou qualquer ajuda. Será somente ele com a missão de matar algum oni que está causando problemas.

Mesmo já tendo matado onis sozinho antes, dessa vez é diferente. É uma missão propriamente dita, não um demónio que ele ouviu sem querer e matou sem muitas dificuldades. Esse pode e provavelmente terá um Kekkijutsu, as artes de sangue demoníaco. Os poderes que onis mais fortes têm e podem usar. Katsuki já lutou com alguns assim ao lado de Sakeme, mas nunca sozinho. Essa será a primeira vez.

Cansado de ficar sentado, se levantou ajeitando a bainha da katana no seu cinto, e andando até a sacada.

Katsuki focou seu olhar no vasto espaço fora dos dormitórios, tinha tanto verde ali. Grama, árvores, até mesmo flores. Nem parecia que todo mundo ali estava em uma das maiores cidades do Japão.

Após isso, Bakugou focou seu olhar no céu, assim como sua audição. Prestando atenção em cada som, não querendo perder seu corvo quando ele aparecer.

Quando fez isso, ele quase conseguiu sentir Kizu se remexendo dentro da mente dele. Mas, isso é impossível, então não passa de uma sensação passageira. Ainda assim, continua sendo irritante. Kizu estava muito estranha desde antes da comemoração que ele fez com os amigos e colegas, e Bakugou não fazia a menor ideia do motivo.

Ei, Kizu.

—Hum?

Por que você tá tão estranha hoje?

—...

—Como assim estranha? Eu to normal, porra!

Katsuki revira os olhos com isso.

Não, não está!

Assim que eu olhei pro céu, eu praticamente consegui sentir seu incômodo!

—...Não sei do que você está falando.

Não se faça de ingênua!

—...

Kizu não diz mais nada depois disso, o que faz Katsuki soltar um longo suspiro, apertando os olhos com um pouco mais de força que o comum.

Se lhe perguntasse qual é a coisa mais irritante em Kizu, Bakugou com certeza falaria desse comportamento. É parecido com conversar com uma criança. Ela nunca diz quando algo está a incomodando, e parece que não sabe ter uma conversa normal sem parecer toda misteriosa. Katsuki pensa que isso é culpa dele também. Se Kizu nada mais é do que as partes escondidas dele mesmo, isso significa que ele também já foi assim, e ainda é às vezes.

Porém, quando já tinha desistido dessa conversa…

—A Lua.

Isso faz Katsuki parar de focar no céu por um momento, olhando por cima dos ombros como se pudesse ver Kizu ao seu lado, mesmo com ela estando somente em sua mente.

Como assim?

—Olhe para a lua.

Bakugou não entende o porquê disso, mas, considerando tudo ele obedece sua voz interior. O que poderia dar errado em observar a lua? Não é como se isso fosse algo incomum também. Uma hora ou outra ele vai ter que se acostumar com o astro, afinal, todo seu trabalho como caçador ocorre as noites e madrugadas.

Sem pensar muito mais, ele foca seu olhar na lua. E, depois de um minuto inteiro olhando, acontece… nada.

E então? É pra acontecer o que em Kizu?

—Você não sente nada de diferente…?

Hein?!

Por que eu sentiria algo olhando pra porra da lua, Kizu?!

—Ah?!

Kizu quase conseguiu sentir-se tropeçando em si mesma dentro da mente de Katsuki.

—Mas… você mesmo sentiu algo mais cedo quando fez a mesma coisa!

Isso faz Katsuki levantar suas sobrancelhas em dúvida.

Tá maluca Kizu?

Eu não faço ideia do que caralhos você está falando!

—...

—Você… não se lembra?

Me lembrar do quê?!

—Da… lua? De antes de você descer pra comemoração que seu grupo fez?

Kizu, para de inventar coisas.

Depois que o merdinha do Deku saiu, a gente desceu menos de cinco minutos depois!

Não aconteceu nada mais.

Kizu ficou em silêncio por um momento, pouco mais de quinze segundos.

O que foi agora?

—Nada!

—Eu acho que só alucinei um pouco aqui… ignora o que eu disse.

Você é estranha, sabia?

—...Vai se ferrar.

Katsuki fez um sorriso de canto de boca com isso. Ao menos a Kizu normal estava de volta. Ele até pensou em continuar aquela conversa estranha sobre a lua, mas antes que o pensamento se completasse em sua mente…

Um corvejar é ouvido ao fundo vindo até ele, e Bakugou sente os olhos brilhando com isso. “Finalmente, porra!” Sem esperar, Katsuki ajeita a katana no seu cinto, e usa a concentração total para dar um pulo alto o suficiente, da sua varanda, para chegar alguns metros à frente no chão, aproveitando que a resistência extra o deixava poder sobreviver a quedas muito maiores.

Bakugou pousou no chão pouco mais a frente, cerca de dez metros. Pulando da sua varanda do quarto andar sem muitas dificuldades.

Mesmo com todos dormindo, Katsuki preferia conversar com seu corvo a uma distância segura dos dormitórios. Principalmente porque os corvos tem uma fama de gritar com alguma frequência, e se Kirishima, que tinha o quarto ao lado do seu, ouvisse algo e acordasse, Bakugou não faz ideia de como faria para explicar o corvo no seu quarto, ou, na varanda. Mesmo que seu amigo não fosse entender nada do que o corvo falasse, já que ele não é um caçador, ainda assim seria preocupante.

Finalmente no chão, o corvo pousa ao lado de Katsuki e começa a falar, ou seja, gritar.

“Aqui estão suas ordens!” O corvo grita, e Bakugou quase se encolhe com isso. “Vá até a área pobre da cidade, no extremo norte de Musutafu!”

Isso faz um alerta piscar na cabeça de Katsuki.

Extremo norte… isso é perto de onde eu moro!

—Você mora nos dormitórios agora, quem tá lá é sua mãe no caso…

Exatamente!

“Pessoas vêm desaparecendo naquela área, incluindo todos os heróis ou vigilantes de baixo poder que vão investigar! A chance de ser um oni é alta. Mate o demônio!” Antes que Bakugou tivesse a chance de falar algo, o corvo começa a bater as asas novamente. “Não seja visto por heróis!” O animal começa a voar para longe novamente, e, antes de sair do alcance, ele afirma. “Essa é sua primeira missão solo como um caçador! Lembre-se, seu dever é esse antes de ser um herói!” Com isso, o corvo sai de seu campo de visão.

Katsuki se sente preso no chão por alguns segundos passageiros, mas logo se recompõe, deixando as costas retas, e afiando seu olhar.

Tá na hora…

—Vamos nessa, porra!

Agora, ele levanta a cabeça, olhando diretamente para frente. Concordando mentalmente com Kizu. “Vamos!” Diz não muito alto, para não correr risco de ninguém ouvir, afinal, Bakugou ainda estava a poucos metros dos dormitórios, mesmo estando no chão.

Sem esperar por mais nada, Katsuki começa a correr até o muro mais próximo da U.A, atento a todas as câmeras, desviando conscientemente de todas que conseguia identificar. O som da eletricidade é pessoalmente fácil de notar com sua nova audição, então percebê-las é relativamente fácil.

Não foi difícil achar um ponto cego entre os muros, e pular eles foi mais fácil ainda, o fazendo pousar em um beco próximo. Antes de continuar, ele foca sua audição em todo o ambiente ao redor, apenas para garantir que não havia ninguém o vendo ali. O único coração que bateu no ambiente foi o dele próprio, o que é um ótimo sinal, ele está sozinho ali.

Katsuki tira a mochila das costas por um momento, e abre, começando a trocar sua roupa social pelo traje dos caçadores de onis.

.

.

.

.

.

.

.

Já completamente vestido com as vestes dos caçadores, o haori, e uma máscara que sempre usava quando acompanhava Sakeme em outras missões. A máscara em questão estava ao lado de sua cabeça, e tinha um formato característico de lobo, além de ser bem estilizada. A katana estava na bainha em seu cinto, assim como os leques de apoio, tudo em seu devido lugar.

Bakugou estava terminando de por toda a roupa social que tirou na mochila, tinha que lembrar de voltar para buscá-la e trocar de roupa antes de chegar de novo nos dormitórios.

—Ei, onde você vai deixar essa mochila?

Katsuki… não planejou isso com tanto preparo quanto gostaria. Mas, é um fato, ele não poderia levar a mochila consigo. Além de ser algo que vai o impedir de lutar no seu máximo, também é um jeito de reconhecê-lo, e se uma câmera acabar vendo a mochila, será problemático. Claro, isso seria problemático de qualquer forma, mas Bakugou tem consciência de que não é invencível, e de que isso pode acontecer em algum momento, então melhor prevenir do que remediar.

Vou deixar em algum canto por aqui.

—...

—Isso é sério?

Algum problema?

—Claro! Alguém pode roubar a mochila assim!

…Eu vou deixar ela bem escondida.

—...Quando alguém roubá-la de você, vou fazer questão de dizer que avisei.

Bakugou se olha por um momento, não é o suprassumo do disfarce, mas deve servir mais que o suficiente por agora. Seu cabelo estava tão bem arrumado em um rabo de cabo que quase não era visível, então, até onde ele sabe, tudo estava dando certo.

A mochila no final acabou sendo guardada no menor vão que ele pode empurrá-la. E, para não perder a localização, resolveu tirar uma foto com o celular de todo o local. Além disso, Katsuki também marcou o local em seu mapa pessoal como “Mochila”. Parece claro o suficiente para o mesmo, é algo que ele não esquecerá facilmente.

Após todos os preparativos, Bakugou respirou fundo por um momento, e… começou.

Quando começou a acompanhar Sakeme nas missões, ele sempre se perguntou porque eles não iam pulando de prédio em prédio até os locais. Parecia muito mais rápido chegar aos locais fazendo isso. Mas, logo ele entendeu o porquê. Em um mundo onde heróis e vigilantes existem, ir pelos telhados não era algo realmente inteligente se você queria se esconder efetivamente dos mesmos.

Então, com isso, Katsuki aprendeu qual a melhor forma de se locomover como um caçador, que ele estava usando nesse mesmo momento. Correndo pelas partes superiores dos becos, e, quando tiver certeza de que não tem nenhum herói ou vigilante ao redor, ir pelos telhados para acelerar as coisas.

Bakugou estava pulando, se apoiando nas janelas e paredes para se impulsionar e continuar no ritmo da corrida. A concentração total aumentava todas as suas características básicas a tal ponto, que, sua velocidade fazendo isso conseguia se manter com uma constância quase sobrenatural. E, a todo momento, Katsuki mantinha sua audição elevada ativada ao máximo possível, ficando de olho em qualquer coisa estranha e que pareça viva ou esteja o seguindo.

Se encontrasse um oni, ele faria uma pausa para matá-lo. O maior problema é principalmente se ele notar algum herói ou vigilante ao redor, porque isso acabaria exigindo um desvio do seu caminho para evitar o indivíduo infeliz que estivesse ali perto.

Katsuki ficou fazendo isso por cerca de meia-hora, e, já estava chegando em uma parte mais pobre da cidade. Embora, ainda estivesse um pouco longe do extremo norte.

É impressão minha, ou tem menos heróis nessa área?

Ele diz enquanto pula de um telhado pro outro, olhando ao redor por um pequeno momento. E, onde a vista alcançava, não tinha ninguém em nenhum telhado.

—O que você esperava? Estamos na parte pobre da cidade, idiota!

Eu sei disso!

Mas… porra, nem mesmo um herói qualquer?

—Até mesmo os vigilantes ficam fora dessa área… o que é surpreendente.

Hm… sim, é…

Quanto mais Katsuki corria entre os telhados, mais ele se irritava. A diferença entre o centro da cidade e aquela área era assustadora, inaceitável. Essa é a parte com mais crimes da cidade inteira, então, por que não tinha ninguém ali? Nada estava fazendo sentido.

Porra…

—...

—Vai fazer algo?

Agora, Katsuki estava olhando de cima do telhado para uma situação que o deixava dividido. Com sua audição no máximo, ele ouviu alguém clamando por ajuda. Um garoto. Pensando ser um oni, ele foi correndo, mas quando chegou perto, só conseguiu ver abaixo no beco um garoto sendo roubado.

Eu devo interferir?

Bakugou poderia fazer um desvio para lidar com essa situação sem muitas dificuldades, mas isso poderia gerar repercussões que não estava pronto para lidar. Primeiro, se qualquer um dos dois, a vítima ou o criminoso, vissem ele usando sua katana ou leque, e isso caísse nos ouvidos de alguém da U.A, não seria difícil ligar tudo isso a ele. Se isso acontecesse, possivelmente Katsuki seria expulso pela segunda vez, afinal vigilantismo é crime.

Merda! Eu não posso deixar que me identifiquem…

—É só usar os punhos ué…

Isso faz os olhos de Katsuki brilharem em reconhecimento por um momento.

Porra! Eu tinha esquecido disso!

Boa Kizu!

—Huh… não tem de que…

Fazer isso não iria lhe garantir muita coisa, mas, já tiraria muito as suspeitas deles. Pelo que qualquer um na U.A saiba, ele só luta com katanas e leques agora, e nunca que teria força nos punhos o suficiente para lidar com essa situação.

Resolvendo isso, ele tirou a katana e os leques do cinto por alguns segundos, deixando-os no telhado. Não podia ser visto com eles.

De mãos nuas e máscara, ele começa a se movimentar. Usando a concentração total para cair atrás do criminoso, que estava prendendo o garoto na parede nesse momento, fazendo algum tipo de revista para ver se tinha mais algo de valor, ou coisa assim.

Assim que ele pousa no chão, fazendo um barulho considerável, o criminoso fica em alerta e se vira por completo, tinha uma arma em uma de suas mãos, e a outra tinham garras consideráveis, possivelmente sendo sua individualidade. “Ei! Quem é você mascarada?!”

Isso faz Katsuki levantar as sobrancelhas por um segundo atrás da máscara.

Mascarad…a?

—Ahhahahahha! O merdinha acha que você é uma mulher!

Bakugou quase se vê dando um sorriso de meia-boca com o riso de Kizu. É o século vinte e dois, e pessoalmente falando, Katsuki realmente não se importa em ser chamado assim. Para todos os efeitos, isso é até melhor, e tiraria muitas suspeitas dele se de alguma forma ele ficasse famoso por ser vigilante.

Tsk… “A mascarada”...

É um bom nome na verdade.

—Para uma vigilante? Huh, é, até que dá, eu acho.

“Já vou avisando que eu achei primeiro o moleque! Ele é me-”

Antes que o bandido pudesse continuar falando, Bakugou se apressou e ativou a concentração total enquanto girava levemente o torso, e dando um impulso leve com o quadril. Obviamente, Katsuki não queria matar esse merda, mas, ainda queria machucar, então, resolveu só apagar ele. Com o punho direito bem fechado, Bakugou dá um soco na mandíbula do bandido, usando a concentração total apenas o suficiente apenas para apagar ele por completo… e talvez quebrar uma ou duas coisas. Nada que um médico não consiga resolver.

O soco foi mais forte do que o esperado, e assim que Katsuki o atingiu, por um momento, era como se desse para ver a alma do bandido saindo do corpo de tão forte.

Não durou muito, mas por dois ou três segundos, uma memória invadiu a mente de Katsuki. Memória essa que não era dele.

— — — — — — — — — — — — — — — —

“Aquele pirralho… andando despreocupado assim na rua… vai ser o roubo mais fácil da minha vida!” O bandido checa a munição de sua arma por um momento, além de também dar uma olhada em suas garras na outra mão, todas bem afiadas.

“Ah! Tá na hora!”

— — — — — — — — — — — — — — — —

Bakugou voltou para a realidade logo após a última fala do bandido, meio confuso.

Mas… que porra?

—Você também viu?

Sim, e que merda foi essa?!

—Eu… eu não faço ideia.

Katsuki volta seu olhar para o bandido agora, que estava caído no chão, desacordado, e com a mandíbula visivelmente quebrada. Não tinha como isso ser uma individualidade do criminoso, afinal ele nem sequer teria tempo pra isso, e, ele já tinha aquelas garras estranhas na mão secundária.

…Eu preciso falar disso com Aurora depois.

—Tirou as palavras da minha boca.

Então, Bakugou lembrou. O garoto, a vítima do roubo, ainda estava ali. Se virando completamente na direção dele, Katsuki foca seu olhar nele, querendo ver se estava machucado de alguma forma.

O moleque estava visivelmente com medo, os olhos arregalados e com o corpo todo tremendo. Deve ter pouco mais do que dez anos, então, o medo faz sentido. Provavelmente à primeira vez que é assaltado também, essa reação no olhar dele… Katsuki se lembra disso, ele já viu esse mesmo olhar várias vezes em sua curta vida até agora.

“Você está bem, criança?” Katsuki sabe que isso é uma pergunta burra, só que precisa saber se fisicamente ele estava machucado ou não. E chamá-lo de criança também faz parte do plano. Se, por algum motivo, esse garoto falar dele pra polícia ou algum jornalista, vão achar que além da vigilante ser mulher, também vão pensar que é uma adulta já formada. Isso vai tornar qualquer suspeita sobre Bakugou quase impossível de fazer sentido, então, ele já consegue se salvar sem problemas.

A criança mal consegue balbuciar palavras direito, mas, Katsuki consegue identificar que fisicamente ele parece estar sem ferimentos visíveis, o que faz Bakugou soltar um suspiro tranquilo que estava preso em sua garganta.

“Ótimo…” Olha ao redor por um momento, parando os olhos no bandido recém-derrotado. “Escute… você consegue ir pra casa daqui?”

Rapidamente, o garoto balançou a cabeça em um sim rápido.

“Vá então, eu o acompanharei dos telhados, apenas para garantir que você chegue bem. Se sentiria mais seguro assim?”

Os olhos do moleque brilham por um momento, quase em lágrimas, e, dessa vez, ele consegue soltar umas palavras. “S..sim! Por f..favor!” A voz saiu um pouco mais tremida do que ele esperava, mas dava para entender perfeitamente.

Katsuki dá um meio-sorriso por baixo da máscara, e, em seguida, tira a máscara um pouco. Apenas o suficiente para o moleque ver seu rosto, os olhos e seu meio-sorriso. “Qual seu nome, garoto?” Diz enquanto se abaixa para ficar na mesma altura do moleque.

O garoto ainda fala com a voz um pouco tremida, mas com um pouco mais de confiança por poder ver o rosto do seu salvador. “Y-yasha…”

Bakugou faz o máximo que consegue para falar com um tom mais calmo e paciente, e se certifica de não encostar no garoto. “Yasha, não… precisa se preocupar, ok?” Ele alonga um pouco um sorriso, fechando os olhos. “Eu vou… proteger essa área agora, então, se depender de mim, nunca mais você ou qualquer um vai passar por isso de novo.” Katsuki abre os olhos novamente, com um pouco mais de seriedade agora. “Mas, eu não vou estar aqui a todo momento. Evite sair à noite, e… tente aprender a se proteger.”

Por um momento, Yasha arregalou ainda mais o olhar, como se fosse a primeira vez que ouvira isso na vida.

O garoto até parecia querer dizer mais algo, mas Bakugou queria acelerar um pouco as coisas, não podia demorar tanto quanto estava nas ruas. “Agora, eu vou subir pros telhados, e ficar te vigiando até chegar em casa, então… se sinta protegido!” Após isso, Katsuki usa a respiração em concentração total para pular de parede em parede, até chegar no teto.

Yasha olha pra isso com profunda admiração, os olhos brilhando achando tudo aquilo impressionante. Na perspectiva da criança, a lua estava quase perfeitamente atrás do seu salvador, que ele acha ser salvadora, deixando tudo ainda mais incrível e divino para ele.

Agora, na ponta do telhado, Katsuki dá mais um olhar para baixo, diretamente pro olhos de Yasha agora. Ele lança um último sorriso para o moleque, antes de encaixar a máscara novamente no rosto, escondendo a própria face mais uma vez.

O garoto aparenta reagir a isso bem, ao menos é isso que parece quando Katsuki o vê. Bakugou rapidamente pega sua katana novamente, assim como os leques, encaixando nos respectivos lugares no seu cinto. Seguindo o moleque pelos prédios enquanto ele anda, ficando mais ou menos visível para ele, apenas o suficiente para Yasha conseguir o ver sempre que levanta a cabeça.

—Isso é meio estranho, não acha?

Eu preciso garantir que o garoto chegue em casa seguro de algum jeito!

E, não tem ninguém nós seguindo pra ver isso…

Katsuki confirma isso olhando para trás e pros lados rapidamente, a audição no seu máximo, podendo ouvir tudo ao redor que estivesse a cento e cinquenta metros dele. Ele volta a visão pra Yasha logo em seguida, enquanto pula para outro prédio a sua frente.

—Não é disso que eu falo! Eu digo que é estranho você ser… bom… com crianças.

Bakugou não sente indignação ou nada negativo na voz de Kizu, mas, dito daquele jeito parecia um insulto.

E por quê isso seria estranho?!

Pode-se dizer que esse é o maior “segredo” de Katsuki. E, a pior parte é que ele nunca fez questão de esconder esse seu lado, apenas… acabou acontecendo.

Desde que se lembra, Bakugou sempre foi bom cuidando de crianças. Isso veio de seu passado, já que por muito tempo teve que trabalhar em um orfanato para conseguir ganhar algum dinheiro, e desde antes da separação dos seus pais. Mesmo que as condições fossem melhores antigamente, ele gostava de ter o próprio dinheiro para gastar. Pedir dinheiro para seus pais era… humilhante, no melhor dos cenários.

De forma impressionante, ele se deu muito bem trabalhando nos orfanatos. Não pagava tanto, e em geral ele cuidava de muito mais coisas do que o seu papel de cozinheiro assistente, mas… as crianças gostavam dele, e quando precisava, Katsuki podia cuidar delas sem muitas dificuldades. Nunca que vai admitir esse fato para alguém, só que no início ele fez isso muito mais para tentar ter alguma espécie de redenção do que qualquer outra coisa. No caminho pra isso, Bakugou se viu… apegado às crianças. O suficiente pra ele cogitar ficar naquele lugar, mesmo pagando menos que outros. Pouco tempo antes de entrar na U.A, ele se viu obrigado a sair para focar no treinamento.

—É só… é você, sabe?

—Você tem a fama de ser alguém violento e animalesco, e quando você tava falando com o moleque, parecia muito mais calmo e… compassivo.

Isso é… um problema?

Katsuki lançou outro olhar para Yasha após isso. Mesmo de cima dos telhados, ele pode ver um pequeno sorriso no rosto do garoto, parecia… animado, quase saltitando. Provavelmente isso vem de toda a segurança que Bakugou tentou garantir para o moleque. Pensando nisso, Katsuki sente um meio-sorriso aparecendo novamente no seu rosto, não dá pra se segurar direito vendo isso.

—...S..

Bakugou pensou ter conseguido ouvir Kizu falando algo, mas ela pareceu segurar o que quer que estivesse pensando em falar, e, nos segundos seguintes ao silêncio, ele quase pensou ter conseguido ouvir Kizu suspirando agora.

—Não… não é um problema.

Tsk… ainda bem.

—Uhum…

Até uma lesma perceberia que Kizu estava escondendo algo, e, isso não passou despercebido por Katsuki. Mas, estava cansado de discutir com sua… voz interior, então resolveu só ignorar por agora. Era melhor assim. Ele ainda tinha uma missão para concluir, e não estava muito longe da área designada a si pelo corvo idiota que recebeu.

Não demorou muito mais, e Katsuki viu Yasha parando em uma casa pequena algumas poucas ruas à frente. O garoto ficou parado na porta por alguns segundos, o que deu tempo para Bakugou observar bem a moradia. Era pequena, ainda mais do que a sua, e ele dúvida muito que dê para mais do que uma pessoa viver bem naquele lugar. Na verdade, até mesmo uma pessoa sozinha teria dificuldade ali.

Logo, o garoto parece tomar coragem para bater na porta, mas, antes disso, Yasha se vira um pouco, e balança um pouco as mãos em uma despedida desajeitada na direção de Katsuki. Vendo isso, Bakugou levanta um pouco a mão, também se despedindo do moleque que conheceu e salvou hoje.

Após essa despedida, a porta da casa dele se abre abruptamente, e uma mulher que Katsuki acha ser a mãe ou irmã do garoto o abraça, e dá pra perceber algumas lágrimas em seu olhar. E, assim, Katsuki vê uma deixa para sair. O garoto estava seguro agora, e ele pode dizer que salvou ao menos uma pessoa hoje. Mesmo que não seja necessariamente de um oni, ainda foi um salvamento.

Quando Yasha entra em casa de forma visível, portas fechadas e tudo, Katsuki finalmente começa a voltar a correr na direção em que estava antes.

.

.

.

.

.

.

.

Não demorou até que finalmente Katsuki chegasse na parte pobre da cidade, no extremo norte. É uma das maiores partes da cidade, e também a mais insegura de todos. Claro, não tinha tantos vilões poderosos ali, mas, tem vilões de pequeno porte em grande quantidade, e pouquíssimos heróis patrulhando essa área também. All Might era um dos poucos grandes heróis que ainda se preocupava em proteger essas pessoas sempre que podia, mas agora, sem ele… a criminalidade nessa área em específico aumentou bastante.

Bakugou rapidamente balança a cabeça com isso, ele não pode focar nisso agora. Ele tem um oni pra matar.

Sem mais demora, ele pula do telhado de uma casa até um beco próximo, focando sua audição em qualquer coisa minimamente estranha. Faltava pouco pra meia-noite, então muitos já estavam dormindo.

Mesmo com sua audição ativa o máximo possível, Bakugou não conseguia ouvir nada de muito estranho. Focando em todas as quatro direções, nada parecia chamar muito sua atenção, e tudo isso enquanto ele corria entre dezenas de becos diferentes. Focando pra cima, também não tinha nada de muito estranho nas casas e sobrados um pouco maior que as outras que ali estavam.

Merda… não parece ter nada de estranho aqui…

—Tem certeza?

Eu to correndo pra todos os lados com minha audição no máximo!

Esquerda, direita, frente, atrás, cima… não tem nada que indique a existência de um oni aqui.

—Baixo, talvez?

Katsuki arqueia uma das sobrancelhas com isso.

Baixo..?

—Sim, ué! Esse lugar tem um sistema de esgotos, não é?

Eu acho que sim… mas onde minha mãe e eu moramos essa merda para de funcionar sempre!

Aqui eu tenho quase certeza de que esse sistema de esgotos só não funciona.

Lembrar disso faz Bakugou sentir uma tremedeira leve por um momento. A quantidade de vezes que essas coisas pararam de funcionar na rua dele era impressionante, embora… ainda fosse melhor do que o lugar em que ele está agora.

—Exatamente! Se os esgotos não funcionam aqui, é o lugar perfeito para se esconder.

Bakugou para de andar por um momento, isso pode fazer sentido até. O oni pode se esconder lá durante o dia, pegar presas a noite, e guardar os restos que conseguir nos esgotos, já que ninguém se preocuparia em olhar lá. É um plano… não é muito inteligente a longo prazo, mas a curto prazo até funcionaria.

Tsk… talvez.

Não custa nada olhar, eu acho.

—Só temos que tomar cuidado com tartarugas… nunca se sabe.

Vou fingir que não ouvi o que você acabou de dizer.

—...Ehehhe!

 

Notes:

MIL DESCULPAS!

Eu sei que não postei semana passada, e agora postei só 5000 palavras. Mas, tem explicações. FINALMENTE consegui comprar um novo SSD, o que demorou um pouco, mas consegui. É menor que o meu outro antigo, mas vai servir. Já escrevi esse cap aqui no pc inclusive.

Sei que esse capítulo deveria ter a luta já, e a primeira missão em geral. Mas essa semana foi BEM RUIM, sinceramente, nem sei como consegui ter energia pra escrever isso, mas, eu consegui. Isso me levou a ficar sem dormir um pouco, mas consegui skksksksks. Funcionou.

E, posso estar meio maluca por conta do sono e ansiedade em excesso. Mas… eu gostei de fazer esse capítulo. Escrever ele foi bom, acho que consegui… melhorar minha escrita? Eu acho viu, gostei bastante desse tecnicamente falando. Além disso, ehhehheheh, esse aqui tá cheioooo de coisa que dá pra teorizar. MUITAS!

O que acharam? Sei que foi curto comparado aos outros, mas vou tentar fazer um maior no próximo. Ainda estou meio mal, mas acho que consigo! Tenho certeza que consigo na verdade! Nem que eu faça só 1000 palavras por dia até o próximo domingo. O que já daria 7000 inclusive, então daria pra fazer ksksksksks.

Enfim, MUITO obrigada a quem está lendo até aqui! Sei que essa fic não tá tendo muitas pessoas lendo agora, mas agradeço de coração a todos que estão lendo isso aqui! Vocês me motivam a continuar(Talvez um dia eu até consiga viver de escrita ksksksks. É difícil, mas quem sabe…). Obrigada a vocês que estão aqui!

Tenham todos um bom dia e uma boa semana! :D