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Tortas de maçã e poemas nunca lidos

Notes:

(See the end of the work for notes.)

Work Text:

Jeongin abre o forno, verificando se o pão já estava dourado o suficiente, a crosta brilhando lhe fez abrir um sorriso.

Lembrava da primeira vez que o fez com o auxílio de sua mãe, a cozinha nunca havia ficado tão bagunçada. Agora, lembranças tanto antigas como recentes apareciam em sua mente. Antes de se mudar, sua mãe fez questão de ensinar tudo a Jeongin, não queria que o mesmo ficasse sozinho sem saber se virar.

Com um pano de prato enrolado na mão, a forma foi retirada do forno com cuidado, sendo rapidamente colocada na mesa. O cheiro fazendo Jeongin salivar, não poderia deixar de agradecer sua mãe na próxima carta que fosse mandar.

Ele suspirou vendo que a manteiga estava quase acabando, já não bastava a frustração de hoje mais cedo, quando abriu o pote de açúcar para fazer uma bela torta de maçã e não havia quase nada. Apenas o suficiente para a geleia, mas não para a massa, seu açúcar estava no fim e ainda era a segunda semana do mês.

Não sabia como iria aguentar mais três semanas, até sua mãe trazer as compras da grande cidade, há quatro horas de onde morava, o lugar onde se recusou a viver a uns meses atrás.

Desde que sua mãe se casou com um duque tudo estava diferente, não exatamente mudado, mas nada igual a antes. Como se recusou a morar na cidade, sua mãe não conseguiu ir para a cidade sem que antes a casa fosse reformada. Era uma casa antiga, mas não estava velha, Jeongin gostava dela do jeito que era.

Mas sua mãe insistiu, e ainda usou o tempo que a casa ficaria indisponível para tentar trazer Jeongin para a cidade, mas não conseguia se habituar. Não só com a casa nova que era grande demais, mas tantas coisas que Jeongin não conseguia se acostumar – Menos a banheira presente em cada banheiro, poderia facilmente se acostumar com elas.

Não só a casa, mas também a cidade não era para si. Gostava de ir religiosamente todos os sábados buscar maçãs na quinta da senhora Kim, de levar pegar um livro e sua caneta de pena, arranjar um lugar entre as árvores para sentar e ficar ali até as raízes das plantas se prenderem em seu corpo, ou só até o entardecer mesmo.

Talvez em outra vida, Jeongin gostasse do barulho da cidade, das pessoas ou até dos vários utensílios de comida esquisitos que havia visto na casa grande, que talvez nem fosse tão grande assim, mas era o suficiente para fazer Jeongin se sentir pequeno. Mas agora gostava da calmaria do campo, de voltar cansado para casa depois de uma longa caminhada, de abrir o forno e ver um pão que ele mesmo fez, não as várias empregadas que não o deixavam nem chegar perto da cozinha. Gostava de como vivia, não trocaria isso, não tão cedo.

 

Com o resto do açúcar, Jeongin resolveu fazer uma compota de maçã, sua favorita. A combinação do pão levemente salgado – Jeongin nunca acertava a quantidade certa de sal – com a doçura das maçãs e talvez mais açúcar do que o necessário, era perfeita. Poderia se alimentar assim por dias.

Jeongin suspirava. Olhava para a última fatia de pão em sua mão, como se a culpa de ter acabado tão rápido fosse dela. Mas em compensação era a última mordida perfeita, a quantidade perfeita de compota, o pão sem cascas, apenas o centro macio esperando para ser mastigado e engolido em uma mordida só.

Mas em segundos, quando três batidas na porta foram ouvidas, a última mordida perfeita de Jeongin estava no chão. Ele pulou de susto, o som alto do punho na porta batendo com força na porta de madeira o assustou mais do que devia. Ele encarava o pão virado com a geleia para baixo, e soltava sons de insatisfação enquanto se levantava para ir em direção a porta.

Quando abriu, viu ao longe o que parecia um entregador. Olhou para baixo e viu uma carta, não foi preciso raciocinar muito. Assim que viu o selo que fechava a carta, já sabia exatamente sobre o que se tratava.

 

As mãos de Jeongin já doíam de tantas maçãs que a cesta carregava. Era sábado, o dia onde, sua única preocupação era ir no pomar da família Kim e não sair de lá, até que pegasse mais maçãs do que realmente conseguia carregar.

Salivava com a ideia de fazer uma bela torta de maçã – sua favorita – mas suas fantasias foram rapidamente interrompidas quando a imagem do pote de açúcar vazio voltou à sua mente.

Quando os portões da saída entraram em sua visão, junto à uma árvore que ficava logo ao lado, Jeongin pôde ver alguém, que ao se aproximar via se tratar de Seungmin.

Nunca foram muitos próximos. Mesmo com suas mães tendo uma ligação forte, suas únicas interações eram quando Jeongin ia buscar maçãs, mas eram raras. Se perguntava o que Seungmin queria consigo.

— Você vai? Já deve ter recebido a carta não? — Seungmin pergunta de cabeça baixa, sempre usando poucas palavras, como se não quisesse perder tempo com Jeongin.

— No baile? — Apenas viu Seungmin suspirar e acenar com a cabeça, como se fosse óbvio — Vou ter que ir, te vejo lá como sempre né?

Desde que seu padrasto se mudou da vila onde moravam, as obrigações passaram para ele. Como comparecer em eventos como os bailes que aconteciam todo final de primavera e início de inverno viraram seu trabalho.

Mas não reclamava, afinal era única obrigação, e até que se divertia vendo a senhora Kim obrigar Seungmin a interagir com outros da sua idade, era engraçado vê-lo sair de um cachorrinho fofo para um gato arisco, que arranharia qualquer um que chegasse perto.

— Te vejo lá então, tenta não cair em nenhum buraco tá? É um perigo real esses dias — Seungmin diz se desencontrando da árvore e indo em direção à sua casa, sem nem esperar uma resposta de Jeongin.

Conversar com Seungmin era definitivamente uma experiência interessante.

Notes:

Primeiro capítulo postado!
Foi bem curtinho só pra introduzir o Jeongin, inclusive já aviso logo que o Chan no comecinho não é muito citado, a história meio que vai ser inteira no “ponto de vista” do Jeongin!!
Enfim é isso, me deixem saber o que vocês acharam eu vou ler tudo e responder tudo um beijooo