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Outra Face

Summary:

━━━ Putz, cara! Que inferno! ━━ Desta vez, foi Bro Santa quem bufou, irritado ao ver Gris impedindo, mais uma vez, Enjin de passar a mão por baixo da sua camisa.━━━ Eu sabia que o Enjin era viciado em sexo, mas, qual é... precisava dessa melação toda? ━━ resmungou, torcendo o nariz antes de terminar de tomar o restante da bebida no copo. ━━━ É ótimo que vocês estejam bem, mas poupem a minha inocência!  Vão para um quarto e me deixem fora disso...

Ou,
Gris Rubion não fazia ideia do que estava se inscrevendo quando se declarou a Enjin.

Work Text:

Canva Town era, sem dúvida, uma cidade bonita. Entre os Cleaners, poucos questionavam esse fato. Havia algo naquela paisagem confusa, porém bela, que sempre deixava qualquer visitante impressionado, incapaz de compreender como a arquitetura da cidade havia evoluído tanto até alcançar aquele nível.

 

Assim que se pisava em Canva Town, a visão eram invadidos por uma explosão de cores, formas e texturas que dançavam pelas ruas. Em cada canto, desenhos e grafites se espalhavam pelas casas, transformando fachadas, muros e até calçadas em um mosaico vivo. A cidade parecia existir apenas para que os artistas testassem, sem qualquer restrição, os limites da própria criatividade, contagiando quem a visitasse com sua energia vibrante.

 

No meio daquela paisagem única, um restaurante famoso se destacava, seu letreiro brilhando na esquina como um farol de luz quente. Lá dentro, a festa acontecia a todo vapor: risadas, música e o tilintar de copos preenchiam o ambiente, criando uma atmosfera cativante. Por algum milagre, Semiu conseguira alinhar as folgas de todos os Cleaners em um único dia, tornando possível que a organização inteira se unisse para homenagear o homem que a liderava.

 

Quando a ideia chegou aos ouvidos de Gris Rubion, ele hesitou, duvidando que a recepcionista conseguisse conciliar a agenda apertada dos Cleaners. No entanto, contra todas as expectativas, ela tornou o impossível realidade. Com uma precisão impressionante, ajustou as rondas, reorganizou as equipes e garantiu que ninguém fosse impedido de participar do tão aguardado aniversário de Arkha Corvus.

 

Graças a isso, o restaurante, que normalmente nunca fechava à noite, fez uma rara exceção, fechando o salão e mobilizando toda a equipe para atendê-los. Em meio ao burburinho alegre e ao aroma inebriante da comida, o tempo parecia se expandir, sendo quebrado apenas pelas gargalhadas soltas de Remlin, que corria atrás das crianças em um animado e contagiante jogo de pega-pega.

 

Normalmente, naquela altura, Gris Rubion já teria se deixado envolver pela atmosfera alegre, contagiado pelo riso das crianças e pela energia vibrante do salão. Dada a sua personalidade, ninguém se surpreenderia se ele estivesse participando da brincadeira dos mais novos. Mas, ao contrário do esperado, o homem de olhos azuis permaneceu em silêncio, recostado na mesa de canto, como se estivesse completamente alheio ao que acontecia ao seu redor.

 

Para um observador menos atento, seria fácil — e até lógico — atribuir aquele comportamento estranho ao álcool. O rubor que tingia as bochechas de Gris, afinal, era uma cor impossível de ignorar. Mas, por mais convincente que essa explicação pudesse parecer à primeira vista, ela não condizia com a verdade. Por trás daquele leve calor no rosto havia algo mais profundo, uma tensão silenciosa que nenhuma bebida poderia causar, um conflito interno que se recusava a se revelar, mesmo em meio à alegria contagiante da festa.

 

Se alguém tivesse dito a Gris Rubion, meses atrás, que ele acabaria naquela posição, ele teria rido até quase perder o fôlego antes de apertar a orelha do pobre infeliz com força suficiente para fazê-lo gemer de dor. Um homem de 1,90 metro caber no colo de alguém? Absurdo! Gris era tudo, menos uma das modelos semi-nuas das revistas que Semiu folheava nas horas vagas.

 

O problema daquela ideia não estava apenas em seu peso — que, para ser claro, não era pouco — nem no fato de ele não ser mulher. Estava em tudo o que a situação carregava consigo. Gris poderia levantar várias objeções, mas nenhuma seria tão óbvia quanto a maior delas: ele era grande demais. Pesado demais. Seu porte tornava impossível simplesmente sentar no colo de alguém sem, inevitavelmente, machucar quem estivesse ali.

 

Para Gris Rubion, esse raciocínio era simples, tão óbvio quanto 2 + 2 sempre resultar em 4. Ainda assim, por algum motivo que ele não conseguia compreender, Enjin não parecia enxergar as coisas da mesma maneira.

 

Ao contrário do esperado, o líder do time Akuta não parecia nem um pouco incomodado com o peso de Gris em seu colo. Pelo contrário, o homem mais novo agia com naturalidade, rebatendo as palavras de Bro Santa com seu sorriso característico, como se nem percebesse que cada risada perto da orelha de Gris enlouquecia silenciosamente a figura paterna de muitos membros da organização.

 

Nada daquilo fazia sentido, e mesmo assim Gris Rubion permanecia ali, corando como um adolescente na puberdade, enquanto Enjin o despertava de seus devaneios com beijos na nuca sempre que julgava necessário.

 

No começo, depois daquela estranha e boba discussão que culminou em uma confissão involuntária, Gris previu que Enjin exigiria tempo. Aceitar que ele não era completamente heterossexual, pensou Gris, poderia ser um processo lento, talvez até atravessando uma fase de negação semelhante à que ele mesmo experimentara. Por essa razão, Gris restringiu-se. Ele limitou cada ação e cada frase, ajustando o ritmo cuidadosamente para que Enjin pudesse se sentir à vontade em seu próprio ritmo.

 

Agora, lembrando disso, Gris não sabia se ria da ironia da situação ou se afundava de constrangimento. Afinal, em nenhum momento ele suspeitou que o jogo viraria, e que seria ele quem estaria prestes a implorar a Enjin para "ir com calma".

 

De repente, um beijo súbito e quente na nuca arrancou Gris Rubion das profundezas do próprio subconsciente. Um arrepio percorreu-lhe a espinha e, antes que pudesse reagir, dedos tatuados deslizaram pela parte interna da coxa, traçando caminhos que despertavam cada fibra do seu corpo. Não era a primeira vez que o bastardo realizava tais gestos, mas o efeito continuava certeiro, fazendo Gris corar tanto que precisou se esconder atrás dos cabelos.

 

Como Enjin conseguia agir com tanta naturalidade? Mesmo desviando o olhar dos amigos, não conseguia deixar de ouvir os gemidos irritados de August Stilza, misturados às reclamações dele e de Semiu, xingando Enjin de "filha da puta possessivo" e protestando sobre o quanto eram grudentos. Na mente turva do giver, cada protesto servia como combustível para seu impulso, tornando impossível resistir à tentação de se inclinar e roubar um beijo daqueles lábios macios do homem mais velho.

 

Gris sentiu o chão desaparecer sob seus pés. O zelador leal e descontraído, a figura que o havia atraído por tanto tempo, estilhaçava-se. Em seu lugar, revelava-se uma face predadora e obscena que ele jamais suspeitara. Com cada gole, o controle de Enjin se desfazia. As palavras sussurradas ao ouvido de Gris tornavam-se mais cruas e intensas, despertando um vício que queimava sob sua pele e fazia seu corpo inteiro tremer.

 

━━━ Putz, cara! Que inferno! ━━ Desta vez, foi Bro Santa quem bufou, irritado ao ver Gris impedindo, mais uma vez, Enjin de passar a mão por baixo da sua camisa.━━━ Eu sabia que o Enjin era viciado em sexo, mas, qual é... precisava dessa melação toda? ━━ resmungou, torcendo o nariz antes de terminar de tomar o restante da bebida no copo. ━━━ É ótimo que vocês estejam bem, mas poupem a minha inocência!  Vão para um quarto e me deixem fora disso...

 

━━━ Por favor... repita isso só mais uma vez... ━━ Semiu arqueou as sobrancelhas e revirou os olhos, incapaz de acreditar no que via. Enjin, completamente indiferente à presença delas, cravou os dentes em uma parte exposta do pescoço de Gris, como se o resto do mundo não existisse. ━━━ Urg... porra. Você devia ganhar um prêmio por ser tão insuportável...

 

━━━ Com ciúmes, minha querida amiga? ━━━ Enjin se afastou da mordida com um sorriso provocador e, num movimento firme, cobriu a boca de Gris com a mão, silenciando-o. O gesto era ao mesmo tempo possessivo e desafiador, direcionado à Semiu. ━━━ Se não gosta do que vê, afaste-se... eu não vou a lugar nenhum. Este é o único canto onde as crianças não entram, então não sairei daqui...

 

Por um instante, a recepcionista da organização dos Cleaners abriu a boca, prestes a retrucar o giver de guarda-chuva. Mas, ao ver Gris completamente corado e tentando em vão esconder o rosto, Semiu sentiu um misto de pena e divertimento. O carinho que nutria por ele, somado ao reconhecimento de tudo o que já fizera pela organização, fez com que a morena soltasse um suspiro silencioso, rendendo-se à situação e permitindo que Enjin saísse vitorioso da discussão.

 

No fim, fosse homem ou mulher, Semiu sentia uma pena profunda da alma azarada que cometera o erro de se apaixonar por Enjin.

 

━━━ S-semiu...? ━━ Gris Rubion engasgou por trás da mão de Enjin, o coração disparado. Por mais que passar por tudo isso diante deles fosse constrangedor, a simples ideia de ficar sozinho com o líder do time Akuta parecia ainda mais aterrorizante. ━━━ E-espere-

 

━━━ Hm? ━━ August Stilza murmurou, virando o rosto na direção da secretaria ao vê-la se levantar. ━━━ Aonde você vai?

 

━━━ Vou procurar outro lugar para beber... Se fossem mulheres, eu até ficaria, mas como não são, prefiro me manter longe de qualquer possível cena traumática...

 

Bro Santa se anima. ━━━ Opa! Espere por mim, Semiu. Acho que sei onde Eishia pode estar com o restante do pessoal!

 

━━━ N-não-

 

━━━ Bem... ━━ August cantarolou pensativo, ignorando por completo o fato de que Gris parecia ficar mais pálido a cada segundo. ━━ Se minha irmãzinha vai estar lá, então não tenho motivo algum para continuar aqui!

 

━━━ Então vamos... quero ver se consigo uma vodca no bar enquanto os procuramos. ━━ Semiu Grier suspirou, descontraída, afastando-se da mesa acompanhada dos outros dois membros da organização. Mas, antes de desaparecer de vez, ela lançou um olhar rápido por cima do ombro. ━━━ Se divirtam, vocês dois... avisarei a todos que foram para o hotel mais cedo...

 

Gris Rubion ficou ali,  absolutamente imóvel, observando a despedida do grupo sem conseguir desviar o olhar. Pelo sorriso nos lábios, parecia que Bro havia dito alguma bobagem, mas nenhuma palavra conseguia alcançar sua mente. No lugar disso, algo crescia por dentro, escalando em intensidade: um mal pressentimento entrelaçado a uma excitação irritante, que se enroscava como um nó em seu estômago e fazia os batimentos cardíacos de seu coração disparar.

 

━━━ Finalmente... ━━ Enjin gemeu. ━━━ pensei que eles nunca fossem embora...

 

Sem permissão, os lábios do mais novo voltaram a tocar a nuca de Gris. Mas, desta vez, Enjin não se contentou com um único beijo. Distribuiu vários, cada um mais úmido que o anterior, antes de finalizar com um chupão na base do pescoço.

 

━━━ Mmmgh!-

 

━━━ Você é tão fofo, Gris… cada gemido seu me destrói o controle. Mal consigo me controlar… se não fosse por eles, já teria você só para mim há muito tempo…

 

Envergonhado, Gris segurou o pulso de Enjin, tentando afastar a mão dele de sua boca. Em teoria, aquilo deveria ser simples, exigindo apenas um pouco de força bruta. Mas o simples pensamento de infligir a menor dor em Enjin fez seu corpo vacilar. A necessidade irresistível de protegê-lo, o anseio de não causar a mínima dor, superava qualquer reflexo ou comando. Assim, cada esforço se tornava quase inútil, anulado pela atração febril que os consumia.

 

━━━ Mas tudo bem… Pensando bem, foi o melhor… Ninguém mais pode ver o quanto você fica linda quando goza só por mim, nas minhas mãos…

 

Um grito surpreso e abafado escapou dos lábios de Gris, quase sufocado pelo choque e pelo prazer inesperado. Seus olhos piscavam, incrédulos, enquanto o corpo parecia reagir antes da mente: a mão de Enjin havia se infiltrado por baixo de sua camisa, explorando cada contorno do seu peito, apertando e brincando com a ponta sensível. Um arrepio percorreu sua espinha, e ele se perguntou, atônito, quando diabos ele tinha conseguido chegar tão longe.

 

━━━ Isso… ━━ Enjin murmurou em satisfação, a respiração quente roçando o ouvido ruborizado de Gris, que estremeceu ao sentir o olhar dourado e predatório sobre si. ━━━ Pode gemer. Eu quero que eles ouçam, Gris. Deixe-os saberem que você é meu, e que a única pessoa que consegue tirar esses sons de você sou eu.

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