Chapter Text
A noite ainda jovem não parecia ter caído para os garotos naquele apartamento, cujas risadas ecoavam pelos quartos vazios do local. Wooyoung e Changbin eram amigos desde o fundamental, era de costume se encontrarem às vezes na casa de um ou de outro para conversar, fosse uma conversa entre os dois ou um encontro com mais amigos. Naquele dia em específico, estavam apenas os dois, sentados na sala do apartamento do Seo enquanto riam e compartilhavam pizza, tteobokki e soju. Era plena sexta feira, podiam fazer o que bem entendessem.
— Você ri de mim pelas pessoas que eu gostava quando a gente era mais novo, mas e aquele seu webnamoradinho que era do Canadá, ein? Acha que eu ia deixar passar? — O mais velho cutucou o amigo com o ombro, sorrindo e encostando no sofá ao seu lado, abraçando as pernas. Pelo rubor no rosto e a voz mole, era óbvio que as duas garrafas e meia de soju já haviam surtido efeito em Changbin.
— Por favor, esquece disso, fazem anos. — Reclamou enquanto enfiava pelo menos metade de um pedaço de pizza na boca, deixando a mão na frente, escondendo-a enquanto mastigava. — Ok, ambos somos um desastre na vida amorosa, isso é óbvio. Eu já disse que se nada der certo, a gente casa no final.
— Não ia mudar muito, eu acho. — Deu de ombros, colocando um pouco do tteobokki na tigela que estava usando, comendo. — Faz uns bons meses que a gente se viu, né? — O Jung respondeu com um murmurar, acenando positivamente com a cabeça. — Seu pai ainda tá naquela pira de investigador?
— É claro que sim. E um dia ele já saiu disso? — Murmurou, desagradado. — Acha que ele um dia vai desistir disso? Changbin, é insuportável, eu juro. — Virou um copinho de soju na boca, limpando o canto da mesma com o próprio polegar. — Nem eu mesmo aguento mais, ele não vê que isso não vai dar em lugar nenhum, ele tá praticamente trabalhando sozinho contra algo genuinamente muito grande. É, tipo, o governo, sabe? Eles fazem o que querem, eles que administram o país mesmo. Eu suspeito que tem alguma coisa errada, meu pai já me contou que toda vez que ele tá perto de descobrir algo, alguém do partido dele se mete em alguma confusão e ele é desestabilizado por isso.
— Claro que deve ter algo errado, é política, política é um jogo sujo. — Deu de ombros, se espreguiçando. — Mas ele tá desde sempre nessa…
— E ele não vai parar. — Cutucou a pizza usando os hashis que usava para comer o tteobokki , suspirando. — Tá ficando tarde, eu vou voltar de metrô pra casa, acho melhor eu ir, né?
— Fica mais um pouco. — Reclamou, manhoso, caindo deitado no ombro do amigo, que sorriu como resposta, fazendo carinho entre seus cabelos. — Já sei, dorme aqui!
— Posso não, tem muita coisa em casa pra eu arrumar. — Tomou impulso para levantar e assim o fez, se espreguiçando. Estava mais sóbrio que ChangBin ao menos. — Quer ajuda com alguma coisa? As louças ou..
— Não, tá tudo bem, pode ir em paz. — Se levantou também, arrumando as roupas. — Quer carona pra casa? Digo, quer que eu te leve lá?
— Deve ter álcool suficiente no seu sangue pra fazer a sua moto rodar, então eu realmente acredito que é mais seguro pra nós dois eu ir sozinho. — Riu, bagunçando o cabelo do baixinho. — Te mando mensagem quando chegar, viu?
— Tá bom, cuidado, e se cuida. — Abraçou-o de lado numa breve despedida, o levando até a porta.
Não demorou muito para o Jung tomar o caminho de casa. Os braços cruzados tentavam proteger o corpo do vento cortante que passava entre as pessoas no centro. Seoul, a cidade que nunca dormia. Eram pessoas e pessoas passando pelas calçadas, atravessando as ruas, andando rápido o suficiente para quase estarem correndo, de forma organizada, obviamente, todas com o mesmo objetivo; Chegar em seus lares o mais rápido possível para poderem descansar em paz e iniciar bem o fim de semana.
E Wooyoung também. Mal via a hora de mergulhar em suas cobertas, procurar algo legal para assistir e passar o final de semana inteiro maratonando compulsoriamente qualquer coisa que pudesse manter sua mente ocupada. Não era como se fosse próximo o suficiente de pessoas para ser chamado para "rolês", Wooyoung tinha poucos amigos, mas muitos colegas, fazer o quê se era, não apenas extrovertido, mas sociável também? Era o combo perfeito, as pessoas que não reconheciam isso nele! Bem, era o que ele preferia acreditar.
Sentiu o queixo bater com o frio, que parecia estar agora manifestando-se de dentro para fora, como um medo estranho, o que era aquilo, afinal? Esfregou as mãos antes que procurasse uma máscara no bolso, colocando-a para proteger o rosto do frio e acelerando o passo.
Bem, ou pelo menos era o que pensou que faria.
Sentiu duas presenças estranhas, como se estivessem o protegendo, muito pelo contrário. Seu instinto era de correr, mas assim que sentiu o metal gelado na parte baixa de suas costas, não conseguiu fazer nada a não ser se arrepiar e entrar em completo estado de choque. Suas pernas falharam, não conseguia se mexer nem se quisesse.
— Continua andando. — Um dos indivíduos mandou, num tom firme, porém sussurrado, sua calma contratava com a maneira que o interior de Wooyoung se retorcia pedindo por alguma piedade. Jung apenas continuou andando como o foi mandado, desesperado com a situação. Estava sendo sequestrado a plena luz da lua, com as ruas movimentadas como nunca, era patético. Wooyoung se sentia patético. Ele pensava em gritar, pedir socorro, mas seu corpo simplesmente não reagia, estava com medo, tremendo de medo, tremores muito mais intensos do que os que o frio anteriormente o causava.
— Você vai entrar na próxima esquina, na direção da banca de jornais. — Desta vez, quem se pronunciou foi uma voz vinda do lado oposto, era uma voz não tão firme assim. Wooyoung olhou por cima do ombro esquerdo num reflexo de uma vitrine, notando que estavam de máscaras, não conseguia ver seus rostos, porém via que a pessoa que havia falado consigo por último era menor, apesar de parecer mais forte. Provavelmente era quem carregava a arma, visto a pressão maior que sentira quando foi percebido olhando para aquela direção. — Sim ou não? — Wooyoung acenou positivamente. Não conseguia parar de pensar em fugir, porém não conseguia tentar, tinha medo demais para isso.
Seu coração disparava cada vez mais conforme a esquina se aproximava. Com seu corpo latejando de tensão conforme seu coração retumbava, Jung se questionava por que seu corpo havia desistido por completo da sobrevivência. Começava a questionar a situação em seus pensamentos: O que queriam? O que iriam fazer? Por quê queriam a si, uma pessoa desinteressante e sem qualquer tipo de influência? Talvez fosse uma escolha aleatória.. Ele realmente parecia tão indefeso? Droga, deveria ter aceitado ir para a academia com Changbin quando o garoto o ofereceu.
Imerso na própria mente, quando percebeu, já havia virado a rua, estava completamente vazia, destoando-se da aglomeração de poucas ruas atrás. Parou em meio a calçada, bem onde ela dobrava, sem olhar para trás, abaixando a cabeça e só esperando seja lá o que fosse para vir, respirando rápido até demais, não parecia oxigenar o cérebro corretamente, sem contar o coração que batia aceleradamente como nunca vira. Fisicamente? Estava praticamente ofegante.
Tomou um cutucão com a arma. — À direita, segue a rua. — O garoto mais jovem mandou, Wooyoung obedeceu. — Tem um beco entre duas casas, na frente daquele carro, você vai entrar nele. — Outro aceno positivo. O garoto foi andando na frente, como se fizesse piada ao deixar Wooyoung sozinho com uma pessoa apenas em sua escolta.
— Ele não é relutante como nos disseram. — O mais alto começou, Wooyoung estranhou o tom terno da pessoa mesmo quando agia daquela maneira. “Nos disseram.” Realmente, Wooyoung era um alvo. Achava que aquelas coisas só aconteciam em filmes.. Mas e se não fosse? E se eles só quisessem o usar? Quis chorar com a possibilidade, era melhor que o matassem ali mesmo. Preferia ser sequestrado por anos do que ter qualquer limite seu violado.
— Seokzi, cala a boca, foco no que você faz. — Ouviu por acidente, como se ouve uma música vazando pelo fone de alguém no trem. O nome não fazia sentido, era Seokzi, havia ouvido Seokzi e aquele era o problema: A fonética coreana não possuía aquele som de Z, era algo estrangeiro. Não era possível aquilo ser um nome real.
— Silêncio. — O menor mandou. Uma figura esperava em frente ao carro, de braços cruzados. Foi recebido por ela, que tocou seu rosto e levantou-o como se o examinasse. A luz da lua refletia em seu rosto, iluminando o cabelo loiro e as correntes na máscara preta. Olhando de relance, percebia as duas figuras que o levaram também tendo as mesmas máscaras, apenas aí seu cérebro teve tempo de associar o som do tintilar das correntes que ouvia desde que começaram a o guiar.
A nova figura pareceu tomar o controle da situação facilmente. Algemou Wooyoung e o colocou na parte de trás do carro, onde o garoto ficou entre seus sequestradores. A palavra ainda não parecia fazer sentido para si. Não conseguia os encarar, não apenas pelo medo, mas pelos chapéus que usavam escondendo parcialmente o rosto, alguns até com a ajuda de uma franja.
— Vamos acabar logo com isso. — O garoto que desconhecia, sentado num dos bancos da frente, virou para si. Não conseguia enxergar ao certo pela visão turva de medo. — Celular no chão e ele apagado, vocês sabem o que fazer. — O menor ao seu lado murmurou um pedido de licença antes de apalpar seus bolsos, entregando o celular para o homem à frente. Se assustou quando um pano abafou sua boca, prendendo a respiração e ouvindo Seokzi rir, colocando mais pressão.
— Tá fazendo meu trabalho mais fácil. — Disse em meio a um riso um tanto sádico. Quis gritar, mas nada saia de sua garganta, seu corpo ainda não respondia, e responderia muito menos quando Seokzi o forçou contra o encosto do banco, de maneira desconfortável. Os sentidos ficavam cada vez mais distante sem o oxigênio necessário para funcionarem, seu corpo amolecia cada vez mais e seus olhos ficavam pesados, tentava lutar contra o inevitável. Em uma tentativa desesperada de não se asfixiar, seu corpo buscou por oxigênio, inalando a substância praticamente forçada no seu sistema como se fosse o mais puro ar. Não demorou muito até que a consciência de Wooyoung se perdesse no completo vazio. Tudo era escuro agora.
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— Por que Sani não voltou do carro ainda? — Jongho indagou, batendo com a colher no sorvete restante ao fundo do pote que tinha em mãos. Um grunhido irritado saiu entre os lábios do mais novo do recinto quando o colega deu-lhe um tapa na nuca. — Qual foi?
— San vai acabar com a tua raça se te ouvir chamando ele pelo nome perto de um estranho. — Yunho tirou o bucket hat e máscara, suspirando cansado por terem chegado há pouco tempo.
— Chega, não quero mais conversa inapropriada aqui, vocês tão achando que isso aqui é brincadeira? — O capitão impôs, calando os dois. — Ash, de volta pros computadores, não sei o que você vai fazer, vai lá jogar, sei lá, só some daqui. Seokzi, você fica. Se Mount voltar e pegar qualquer um de vocês rodeando o estranho assim, vocês vão pagar, e vocês sabe que não vai ser barato, entendidos? — Murmuraram algo, o que se tornou incompreensível. — Eu falei, entendidos? — Um coro de "Sim, capitão" se fez presente. — Sooseong, eu quero você aqui. — Não veria, mas os garotos compartilharam um olhar no mínimo esquisito quando requisitou a presença de Sooseong.
Hongjoong, ou melhor, Hyeoc, para os estranhos, era o capitão dali. Costumava dizer que era o único com neurônios o suficiente para não se render ao caos, por mais que soubesse que era tão caótico quanto qualquer um dos outros seis, nas vezes que sua sanidade se esvaia. O capitão correu as mãos pelo cabelo num suspiro profundo, agora rodeando o garoto preso numa cadeira qualquer. Tinha um cigarro aceso entre os lábios, Sooseong já havia perdido a conta de quantos cigarros ele havia fumado naquele meio tempo. A convivência o fazia ver através de Hyeoc, era claro o tamanho estresse do capitão, mas por que?
Hyeoc abaixou-se para olhar o rosto do jovem em sua frente. Jovem . Aquela frase não caia certo em seus pensamentos, aquilo parecia errado, haviam feito algo errado. Céus, San iria matar Yunho e Jongho com suas próprias mãos. Como era habitual, assim que levantou, de uma vez só, deu de cara com Yeosang, parado em sua frente, o encarando de forma neutra, talvez pela proximidade que encarava o estranho.
— Perdeu o que aqui? — Perguntou, um pouco irritado pelo susto. San costumava chamar Yeosang de ratazana devido ao garoto ser tão sorrateiro a ponto de viver assustando a todos daquela maneira. Não era nada demais para alguém que dançava por uma vida toda.
— Você tava tão próximo do estranho, eu achei incomum. — Deu de ombros, se espreguiçando. — Quer conversar?
— Não, eu tô legal, obrigado. — Acenou com a cabeça, procurando pelo celular nos bolsos, procurando por uma foto em específico, tinha que estar ali em algum lugar.
— Tem certeza? Você tá agindo, não sei, estranho ..
— Eu já disse que tô legal, Kang Ye-
— Kronos. — A voz do outro lado da sala corrigiu, era San, nem um pouco contente. — Preciso falar com o Hyeoc sozinho, se me dá licença, Kronos. Os outros dois ficam. — Espantou-o com a mão, se aproximando de ambos, e da cadeira com o estranho, obviamente. — O que a gente já conversou sobre nomes perto de estranhos? — Kim ouviu uma risada travessa vindo de um dos quartos ao lado, com certeza era JongHo, aquele moleque..
— Foi um escape, eu tô.. Não sei, Mount, não sei. — Suspirou, passando a mão entre os cabelos. O maior retribuiu o olhar com a mesma preocupação, Hongjoong sabia o que ele estava pensando.
— Acho que pegamos a pessoa errada. — O Choi sussurrou, quase inaudivelmente, ouvindo um longo suspiro carregado num misto de decepção, confusão e um fundo de puro desespero.
— Eu tenho certeza. — Tragou o cigarro novamente, rodeando a cadeira onde o garoto estava amarrado. Sooseong conseguia ver um círculo de cinzas se formando no chão, ou o esboço disso. Estavam ambos líder e capitão completamente agoniados com a situação. — A gente não pode devolver ele, quem garante que ele não vai abrir a boca?
— A gente pode simplesmente matar ele. — Deu de ombros, simples. Hongjoong quase se engasgou com o próprio ar. Não soube dizer se foi pela fala do líder ou pelos grunhidos vindos da pessoa na cadeira. Ok, ele estava a muito pouco de acordar.
Correram para frente do garoto e colocaram rapidamente suas máscaras. Choi arrumou a postura, segurando a arma que portava no coldre. Pronta para puxá-la quando fosse necessário. Os outros dois fechavam a entrada da sala como uma barreira, mesmo a porta já estando fechada.
Wooyoung se sentiu tonto, um pouco estranho, seu corpo parecia mais pesado, a ponto de sentir que iria tombar para uma de suas laterais, visto que não tinha apoio nenhum ali. Grunhiu mais uma vez, como se estivesse acabando de acordar num final de semana de manhã, seu corpo parecia preguiçoso quando, na verdade, estava apenas voltando ao seu funcionamento habitual.
Suspirou, tentando afastar o cabelo do rosto, foi quando percebeu que estava amarrado. Suas mãos estavam presas, suas pernas estavam presas.. Tentou se debater procurando se soltar daquilo até finalmente levantar a cabeça, quase dando um pulo de susto, bem, se pudesse.
Duas figuras que não conhecia, com chapéu e máscara com correntes, um tinha os olhos bem estreitos e estava segurando uma arma ainda estava guardada no coldre, provavelmente; Outro tinha um olhar indecifrável, mas era possível ver mechas de seu cabelo metade branco, metade preto. Os dois o encaravam pesadamente, Wooyoung se sentiu minúsculo.
— Quem é você? — O garoto de olhos de tigre questionou. Wooyoung tinha certeza que ele estava caçando.
— Jung Wooyoung. — Como uma boa caça, Wooyoung respondeu sem pensar duas vezes.
— O que você faz?
— Nada. — respondeu de supetão, logo se contradizendo. — Eu estudo relações internacionais. — Respondeu tremulamente, com a respiração acelerando.
— Olha nos meus olhos. — Ordenou. Com dificuldade, Wooyoung o fez, encarando seu sequestrador. "Sequestrador", era tão difícil e estranho entender aquilo.
— Quem são seus pais, garoto? — Foi a vez do, até então, desconhecido falar.
— S-São…
— Rápido! — Choi acelerou, Wooyoung se encolheu como uma criança prestes a chorar, Hongjoong apertou o ombro de San como um aviso para pegar leve.
— Jung Woohyeop e Lim Sunkyu. — Disse num tom trêmulo, hiperventilando praticamente.
"Jung Woohyeop"
Bingo .
Ex-Militar alinhado ao Partido Justiça da Coreia, o polar oposto do atual governo, possui uma estranha obsessão com investigações envolvendo o governo e tudo que desfruta de sua existência. Incluindo a organização H.A.L.A, mesmo que essa não se alinhasse com o mesmo.
Eram incontáveis vezes que o homem havia chegado perto de descobrir algo relacionado ao grupo, sempre sendo impedido, interrompido, o que fosse, ele apenas não poderia descobrir, de forma alguma, e os integrantes fariam qualquer coisa para evitar que fossem expostos.
O que poderia ser realmente qualquer coisa.
E foi nesta linha de raciocínio que resolveram colocar de vez um fim nessa perseguição, nem que custasse a vida de alguém. Apenas não esperavam que, sabe raios como, pegariam a pessoa errada.
Hyeoc mentalmente se reafirmou; San realmente mataria Ash e Blade com suas próprias mãos.
— Quem foram os-
— Ash e Blade. — Hyeoc respondeu, acendendo outro cigarro.
— Ok, quer saber? Pra mim, já deu- — O líder sacou a arma no coldre, apontando-a em direção a Wooyoung, que fechou os olhos instantaneamente, se perdendo num choro que quase o dava dó, sendo impedido pelo capitão, que segurou em seu ombro.
— Não mata ele. — Uma nova voz se fez presente. Era Kronos, também usando sua máscara. Ele tinha o sangue gelado, se metia onde queria quando bem entendia, sem se importar com consequências como tomar uma surra de Mount. — Ele pode nos servir de algo, vai saber quanta informação útil esse garoto pode carregar? — Caminhou até aproximar-se de ambos e a cadeira, cruzando os braços
— Não sei se deveria- Para de chorar, engole esse choro, agora. — Mount ordenou agressivamente, batendo na cadeira. Wooyoung pareceu desesperado para conseguir cessar o choro, falhando. Sooseong e Hyeoc se entreolharam, anotando mentalmente considerar uma re-avaliação sobre a agressividade constante e crescente de Mount.
— Ele tá assustado, deixa ele. — A voz de Kronos soava como um sussurro macio, calmo, era estranho. — Enfim, deixemos ele aqui, não tem como ele ser localizado. — Suspirou, caminhando até a cadeira onde o Jung se encontrava e andando em volta do mesmo.
— Venda ele de novo então, deixa ele aí até a gente decidir o que fazer com ele. E para de chorar, ou eu te dou um motivo pra chorar de verdade. — O líder ameaçou novamente, fazendo tanto Hyeoc como Kronos revirarem os olhos ao perceber a vítima ainda chorando.
— Explica a situação pros outros, eu e Kronos ficamos com ele aqui, vendo se ele para de chorar ou sei lá. — Espantou-o com a mão, o deixando um pouco chocado com a audácia. Só deixaria aquilo passar porque, afinal, Hyeoc também era um líder ali. — Só vai logo. — Ordenou. Mount o olhou de cima a baixo antes de sair, provavelmente isso renderia uma breve discussão mais tarde.
— Seokzi, atrás de mim. Rápido. — O líder demandou, saindo da sala e sendo seguido por Seokzi.
Kronos encostou no sofá em frente à cadeira onde o estranho se encontrava, enquanto o líder não moveu um músculo, parado em sua frente, apenas dando poucos passos para trás sem conseguir desviar o olhar da direção do mesmo garoto. Ele não havia parado de soluçar ainda.
Hyeoc não costumava ter tanta piedade com estranhos, mas sabendo das circunstâncias, era um pouco difícil.
— Você é um desistente, não é? Seokzi comentou que você foi uma das pessoas mais fáceis que eles já conseguiram pegar, você não relutou ou coisa assim. — Se esticou para próximo de Wooyoung e sorriu de canto, acariciando o queixo de Wooyoung como se fosse um bichinho ou algo do tipo. Wooyoung percebia os olhos do mascarado; Kronos? sorrindo e sentiu seu estômago revirar com aquilo, sem saber se era por medo, culpa, nervosismo.. — Deve ter sido fácil mesmo, você é tão pequenininho.
— Você reclamou do Mount que tava deixando ele ruim, você tá fazendo pior. — Empurrou o ombro do Kang, suspirando. Ele levantou os braços como se acabasse de ser rendido, se recostando no sofá. Hyeoc se aproximou e procurou pela bandana que carregava nos bolsos, dobrando-a propriamente para fazer uma venda.
Se aproximou em passos leves, segurando a vítima pelo queixo e levantando seu rosto, o encarando com expressão nenhuma. Aquele olhar era indecifrável, parecia quase como um vazio? Jung não conseguia descrever, e nem tentaria, estava ocupado demais orando mentalmente para que nenhum daqueles olhares desconhecidos fossem a última visão que teria.
Amarrou a bandana com força suficiente para a manter ali mesmo caso ele viesse a se agitar ou similares, encarando o garoto enquanto pensava, correndo a mão entre os cabelos num suspiro pesado.
Não fazia ideia do que fariam, mas esperava que não desse tudo errado, simplesmente não poderia dar nada errado.
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— Jongho e Mingi. — Por mais que tivesse chamado apenas dois deles, os presentes na pequena sala de computadores praticamente pularam de susto, todos voltando-se para o Choi que acabara de entrar com Yunho, exceto o próprio Jongho, que o encarava pelo reflexo do monitor desligado.
Mingi sabia que San era o último a chamá-los pelos próprios nomes quando estavam com algum estranho em sua base.
— Que foi? — Respondeu, num olhar desinteressado.
— Olhos em mim, pirralho. Sooseong, some daqui. — Seonghwa levantou calmamente, já sabendo o que esperar, deixou um tapinha no ombro de Yunho e outro mais delicado em Mingi antes de sair e foi embora. Já Mingi, que não havia sido avisado de nada? Tremia como um filhote de pardal recém caído do ninho. Apesar de estar praticamente sussurrando, o tom agressivo de San impactava-os tanto como gritos.
San fechou a porta assim que Seonghwa fora embora, ficando sozinho com os outros.
Jongho lentamente virou-se para a direção do outro Choi, desviando o olhar para Yunho, que não retribuiu o olhar, apenas se manteve firme encarando o líder; e então Mingi, que parecia estar muito mais desesperado que todos ali.
— Quê é? — Jongho perguntou, como se não notasse a irritação no olhar do líder.
— Qual de vocês três é dislexo? — Questionou, num sussurro. Nenhum deles pareceu entender muito.
— Quê? — Jongho retrucou.
— “Quê?”, Jongho? Vocês deram informações erradas! Agora a gente tem um inocente preso com a gente e um investigador maluco pelo mundo atrás da gente!
— É só um inocente, o que exatamente de mal ele poderia fazer? — Se espreguiçou, suspirando. Yunho conteve a vontade de revirar os olhos. Mingi parecia prestes a explodir.
— Ele é filho do investigador, Jongho, filho dele! Filho-dele! — Silabou, tentando fazê-lo entender a dimensão da situação.
JongHo ficou quieto por um instante, o problema era muito pior do que havia entendido. — C-Como? Apenas. Como foi que isso… Como?! — Exclamou, indignado. Com o tom da sua voz aumentando com a tensão, coube a San se aproximar e apertar seu braço numa forma de repreensão. — Ai, ai, ai, eu falo baixo, me solta!
— Vocês conseguiram confundir Woohyeop com Wooyoung, parabéns vocês dois, viu? A gente coloca Mingi e Jongho pra trabalharem juntos e evitar problemas, e vocês nos causam problemas! — A tensão na voz do Choi mais velho não parecia sequer oscilar por nada naquele mundo. — Eu vou ter que perder meu tempo e fazer dois times de táctico e tecnologia?
— Nós não somos perfeitos, estamos sujeitos a erros. — Jongho retrucou, voltando a postura relaxada de antes. Tentou se defender de alguma forma, fazendo Yunho mentalmente se questionar por que raios haviam permitido que Jongho crescesse e se tornasse um Choi San em miniatura?
— Não, vocês não estão-
— O que a gente faz agora? — O tom grave da voz de Mingi se fez presente, estranhamente fazendo os dois se calarem, talvez por ser a primeira vez que falara naquele momento. — Devolvemos ele? — Sua voz era trêmula, assustada.
— Não podemos arriscar, não dá pra confiar nele, vai que a gente devolve ele e ele conta tudo pro pai dele? O que nos garante que ele não vai fazer isso? Por mais que ele não saiba nossos nomes, ou onde a gente tá, tudo nas mãos daquele velho é um perigo. — Mount suspirou, arrumando seus cabelos.
— Então a gente… Fica com ele? — Jongho arqueou a sobrancelha, cruzando os braços. A última pessoa que havia entrado na organização havia sido Mingi e já fazia um bom tempo.
— Acho que até segunda instância, vai ter que ser. — Deu de ombros, os outros três acenaram positivamente, sem saber se daria certo ou não. Bem, certo era a última coisa que poderia dar. — Vamos, a gente vai voltar mais cedo.
— O garoto vai junto? — Jongho questionou, dobrando a cadeira de rodas de MinGi para que pudessem levar de volta, indo ajudar o mesmo a levantar pouco depois. Song estava num dia bom o suficiente para não precisar daquilo. Jongho recebeu um carinho nos cabelos vermelhos, sorrindo feito um gatinho sendo acariciado.
— Sim, deixar ele sozinho é perigoso, só preciso de roupas suas emprestadas, por precaução.
— Minhas?!
— É o mínimo que você pode fazer depois dessa confusão toda, Choi Jongho. — Revirou os olhos, dando um tapa na nuca do mais novo, que reclamou baixinho com isso. Era mais fácil dizer sobre o que Jongho não reclamava.
Demoraram pouco mais de uma hora depois que San, numa decisão sem muito fundamento, decidiu que o refém deveria ir com outras roupas para casa, queimando sem pensar duas vezes as outras. Naquela altura, Wooyoung já havia perdido completamente a noção do tempo passado. Assim que entraram no carro, lhe foi retirado o último dos sentidos que ainda sobrara quando colocaram tampões em seus ouvidos, estava completamente alheio ao mundo. Já havia pensado tanta coisa que não conseguia mais sequer processar a situação, não sabia se era um pesadelo e ele acordaria em breve, não sabia se estava fantasiando a situação, não sabia se era o álcool que havia ingerido mais cedo, apenas não fazia sentido, nada fazia sentido. Não era lá a pessoa mais religiosa do mundo, mas as antigas orações de proteção que sua mãe lhe ensinara quando era criança estavam caindo bem naquele momento.
Desejava apenas sair vivo daquela situação inteira.
Em algum ponto, sentiu-se ser colocado, provavelmente, no ombro de alguém, sendo carregado ainda petrificado de medo para outro lugar desconhecido, o que seria mais um naquela noite?
Quando finalmente teve certeza que estava sentado em outro lugar novamente, lhe foram retirados os tampões, ok, conseguia ouvir, se é que ali havia algo para ouvir, ainda sentia estar num silêncio severo.
Decidiu que era melhor que estivesse ficado naquele silêncio.
Ouviu o som de uma arma sendo engatilhada, se encolhendo e engolindo seco novamente, contendo a vontade de chorar novamente.
— Wooyoung, me ouvindo? — Era o garoto dos olhos de tigre, de novo? — Me ouvindo? — Reforçou a pergunta, agressivamente.
— Sim. — Respondeu, alto e audivelmente, despistando o medo que sentia. Só aí percebeu que também estava sem o que haviam amarrado em sua boca.
— Acho bom. — Wooyoung suspirou, aliviado, de certa forma? — Você só vai tirar essa venda quando ouvir a porta fechar, entendido?
— Sim. — Repetiu, no mesmo tom.
— Também não precisa ser alto assim. — Murmurou uma voz desconhecida por si, ou conhecida? Já nem lembrava mais.
— Quieto. — Ordenou o líder. — Ok, solta ele. — Foi uma questão de segundos até seus tornozelos serem desamarrados, em seguida de seus pulsos. Wooyoung mentalmente agradeceu por aquilo. — Agora, quando a porta fechar, apenas e somente quando a porta fechar, sim?
— Sim. — Respondeu em tom audível, não mais tão alto.
— Bom, então. — E silêncio, novamente.
Até finalmente a porta se fechar.
Wooyoung ainda esperou mais tempo do que lhe fora mandado para que, finalmente, retirasse a venda, se permitindo olhar em volta do ambiente em que fora deixado.
A luz, mesmo que fraca, parecia queimar seus olhos. Era um quarto espaçoso, porém vazio, com nada além da cama onde estava sentado e uma porta onde conseguia enxergar ser um banheiro, nada mais.
Esfregou o rosto ainda desacreditado da situação, levantando e andando em volta tentando se achar naquele vazio, terminando por voltar a sentar na cama onde fora deixado, ainda assustado em proporções inimagináveis.
Estava sozinho, num lugar desconhecido, com pessoas desconhecidas e sem nem mesmo saber o que lhe aconteceria no dia de amanhã.
Fechou os olhos novamente e caiu deitado na cama, escondendo o rosto entre as mãos.
Se aquilo fosse um pesadelo, que, por favor, acordasse naquele exato momento.