Actions

Work Header

Under the skin

Chapter 3: Breath

Chapter Text

- Então... alguma novidade no trabalho? – dessa vez foi Lydia quem ligou. Ele estava evitando o assunto com todas as forças.

- Estou finalizando a implementação do projeto. A empresa me fez uma proposta de ficar como responsável pela manutenção, mas acho que não quero. Posso deixar minha referência como consultor caso dê algum problema, mas não foi para isso que eu estudei e me dediquei tanto na academia. Acho que vou procurar o pai do Scott, o FBI está me chamando.

Apesar das palavras falarem sobre planos e ideias boas, sua voz era monótona e ele sabia que ela estava ouvindo toda a tristeza que ele sentia. E ambos sabiam que ele não estava triste por causa do trabalho.

O silêncio se estendeu, desconfortável.

- E aí, como foi com aquele vampiro? Os gêmeos estão bem?

Havia coisas mais seguras em que poderiam tocar além do fato de que Derek quebrou seu coração sem ao menos tentar.

- Você não pode ir embora sem falar com ele, Stiles. – é claro que Lydia não ia deixar ele fugir tão fácil assim.

- Ele foi embora sem falar comigo. – o rancor na sua voz foi inesperado e extremamente desnecessário. Stiles já tinha lidado com esse problema, ele teve anos para lidar com o fato de que Derek saiu da sua vida sem se despedir.

- Talvez... seja esse o problema. Você já pensou nisso? No quanto isso foi difícil pra ele?

- Você acha o que? Que ele se sente... culpado?

- Não, não culpado. Quer dizer... – a risada que mais parecia um soluço que deixou os lábios de Lydia falava mais sobre todo o passado de Derek do que qualquer coisa que ela pudesse acrescentar – É claro que ele se sente culpado, ele é um merda de um mártir, mas eu não acho que é culpa o que ele sente por você.

- Não, não é. – Stiles mordeu o canto do seu dedo em um gesto nervoso e se lembrou do toque de Derek em suas mãos quando elas tremiam e sentiu o toque dos seus lábios quando se beijaram e se lembrou que Derek não conseguiu olhar pra ele antes de entrar no carro e ir embora.

Derek entendia o que Stiles sentia. Ele entendeu que Stiles foi salvo pelo pack para seguir sua vida. Como ele entendia que isso fazia suas mãos tremerem e fazia ele ter pesadelos, embora eles tenham diminuído com o tempo. Derek entendia, mas não compartilhava do alívio de ter partido. Os pesadelos dele não diminuíram com o tempo, por isso ele não mostrou nenhum sinal de ter um pack ou um alfa ou mesmo um amigo com quem pudesse falar sobre isso. Não sobre o passado, mas sobre o futuro, e sobre o presente, sobre Stiles. Derek estava sozinho.

Talvez ele sempre esteve sozinho. Desde que Paige morreu em seus braços, desde que sua família queimou na sua frente, desde que ele teve que enterrar Laura, desde que ele teve que matar Peter, desde que ele recolheu o corpo morto de Erica do chão frio daquele cofre. Derek sempre esteve sozinho, exceto...

Exceto quando ele entrava no quarto de Stiles para se esconder da polícia porque ele... confiava nele. Mesmo que ele dissesse que não, ele sempre buscou socorro com Stiles. Sempre. Baleado, envenenado, se afogando, preso em um porão sendo torturado, olhando nos olhos de Boyd enquanto ele morria, Stiles estava lá, porque Derek procurava por ele.

Por isso Derek não podia olhar em seus olhos e partir.

- Eu já sei o que fazer. – Stiles disse rápido, desligando o celular e pegando a jaqueta antes de sair.

o0o

Giving this world everything I've got

Running through the woods,

running through this shots

Tryna to survive a day!

All I want is that you

extend your hand to me

Tudo era muito pior depois do beijo.

No começo, tudo o que Derek tinha que fazer era ignorar que Stiles estava ali. Isso era fácil, ele podia sentir seu cheiro, ouvir seu coração, seus passos, sua voz quando se aproximava. Era só sair do caminho e seguir com seu dia.

Agora tudo isso era sufocante. Era como se seu cheiro estivesse em todo lugar: sua sala, seu carro, suas roupas, na merda do copo de café. Ele às vezes ouvia sua voz ou sua risada e corria para sair do seu caminho, mas às vezes ele estava em casa, encolhido em sua cama, e era como se as batidas do coração de Stiles ecoassem dentro de seu próprio peito, como quando se beijaram, e ele não tinha para onde fugir.

Mais de uma vez Derek se pegou sentado no sofá ou na cadeira em sua mesa de trabalho, virando e revirando o celular em mãos nervosas, o contato de Cora na tela. Ele podia ir pro Brasil, não seria difícil começar uma carreira lá, ele não tinha nada a perder. Cora ia achar estranho, mas ele poderia só dizer que não queria mais ficar sozinho.

Isso era uma verdade dolorosa, ela poderia ouvir que não estava mentindo.

Ele encarou o celular mais uma vez, sua mão estava tremendo. Ele jogou o aparelho longe, segurando a própria cabeça, respirando rápido e raso, tentando se acalmar.

O pânico crescendo em seu peito não deixou ele ouvir a campainha, não ouviu as batidas na porta ou o chamado desesperado. Não ouviu a voz, os passos, as batidas do coração até que a sua respiração estivesse batendo contra o seu rosto, próximo demais.

- Respira comigo, Derek, vamos, inspira, segura, isso, solta. – ele deixou a própria expiração escapar pela boca como exemplo – Vamos lá, de novo. Respira fundo... Isso.

Stiles estava ali, na sua frente, dentro do seu apartamento, vestindo sua jaqueta, perto demais.

- O que você... Como você entrou aqui?

O sorriso de lado, presunçoso.

- Você me subestima. Eu sei abrir fechaduras desde os 8 anos de idade e eu peguei seu endereço no RH no dia depois de te ver na empresa pela primeira vez.

- Eu suponho que você tenha meu telefone também, podia ter me ligado dizendo que estava vindo. – sua respiração voltou ao normal com o choque, agora ele tentava entender por que estava fingindo estar irritado quando tudo o que sentia era uma imensa vontade de puxar Stiles contra ele e...

- Você me atenderia? – Stiles perguntou, sério. Seu rosto sustentando uma tensão e uma expectativa muito maiores do que a pergunta exigia.

E Derek se lembrou de porquê ele não podia estar ali.

- Não. – ele engoliu em seco – Acho que você devia ir embora, inclusive.

- Ah, eu vou. Eu vim aqui pra isso, na verdade. Te falar que eu estou indo embora. É, é isso. O projeto está acabando e eu vou... seguir minha carreira em outro lugar.

- Bom. – palavra mais difícil que já disse em toda a sua vida, todo o ar faltando novamente.

- Bom. – Stiles respirou fundo e balançou a cabeça em negação. Ele também parecia estar com dificuldades de respirar.

Devagar, como uma tortura, Stiles retirou sua jaqueta. Ele segurou ela por um momento, pensando no que fazer, e por fim puxou a mão de Derek, aconchegando a peça no seu antebraço. Stiles tentou sorrir, mas acabou mordendo o lábio. Ele fez um gesto de cabeça, como se buscando em si mesmo a afirmação para isso. Olhou Derek diretamente nos olhos e virou as costas, saindo e fechando a porta.

Os joelhos de Derek cederam imediatamente e ele se abraçou à jaqueta como se ela pudesse salvar sua vida, inspirando o cheiro de Stiles misturado ao dele para se impedir de rugir, de gritar, mas não impediu as primeiras lágrimas, que não pôde segurar.

Estava sozinho de novo.

Singing outside waiting for the words to come

Living my life tryna do what's right,

And hope for a better day

You know those words you wrote me

brought me to my knees

- Eu vim te pedir pra vir comigo, na verdade. – a porta se abriu de repente e a voz de Stiles soava magoada e incerta, traída. E então ele viu o homem encolhido no chão e seu tom mudou completamente – Derek...

Suas mãos estavam tremendo de novo e ele só respirava porque seu rosto estava afundado no cheiro dele, de Stiles. Ele sentiu a aproximação, sentiu o toque leve em suas costas e se moveu só o suficiente para apoiar sua testa contra o joelho do homem à sua frente. Ele inspirou fundo, segurou, e expirou, e tudo o que sentia era Stiles. Ele tentou se endireitar, mas conseguiu só o suficiente para elevar sua testa na altura do seu quadril, ainda incapaz de olhar para cima. Inspirou novamente e expirou. Stiles.

Sentiu os dedos correndo seus cabelos, calmos, gentis, repletos de história e de carinho e seu corpo estremeceu de dor porque ele não merecia isso. A dor era familiar, foi o necessário para retrair suas garras e seus dentes, e só então ele se deu conta de que havia se transformado.

- Não. – sua voz era baixa e rouca e, com toda a força do seu ser, ele se afastou, ainda ajoelhado no chão, se sentando sobre seus tornozelos. O ar que entrava em seus pulmões com essa distância era frio e impuro. Recolheu a jaqueta do chão e se levantou em um movimento rápido, se virando para pendurar a peça de roupa em algum lugar, qualquer lugar, encontrou uma cadeira e se apoiou nela, de costas para Stiles.

Não podia olhar pra ele.

E é claro que ele sabia disso.

- Olha pra mim. – o pedido era suave, mas, ao não ter uma resposta, se tornou rígido – OLHA. PRA. MIM.

Ele não era fraco. Ele não era covarde. Não é mais um adolescente que se apaixona e deixa todo mundo morrer porque não sabe tomar decisões.

Stiles não seria mais um nessa lista.

Ele se virou e encarou o menino – não, homem, ele era um homem agora, foi o menino que ficou para trás, em Beacon Hills.

- Eu consigo te ver, Derek. Eu consigo ler em você tudo o que você não está dizendo. Você não quer que eu vá, e também não quer se afastar de mim. Não quer me beijar, mas também não quer me machucar para eu desistir de você.

- Talvez eu deva fazer isso.

- Você não vai fazer. – Stiles disse sorrindo, o merdinha petulante – Por que você não é capaz de deixar de me amar, mas também não é capaz de permitir que eu te ame. – ele se aproximou, ficando a centímetros de distância, seus dedos correndo o contorno do seu rosto, como se ele fosse uma lembrança – Só me diz por que você tá fazendo isso com a gente.

Singing outside waiting for the world to call

Living my life tryna do what's right

In the hope of a better day

And all I want is that you

extend your hand to me

- Eu não sou seguro, Stiles. – ele disse, baixo, beijando a palma da sua mão antes de se afastar, lentamente – Você deixou tudo, sua casa, seu pai, seus amigos, porque você queria se sentir seguro. – ele suspirou e finalmente olhou de verdade aqueles olhos que nunca pareciam vivos dessa forma em seus sonhos – Eu não sou seguro.

- Não, Derek. Eles escolheram me salvar. – ele suspirou, triste, mas comentou com um tom de deboche – O meu plano, desde o momento em que eu percebi isso, era deixar eles se distraírem e voltar, sabe? Foda-se o que eles querem para a minha vida, a vida é minha e, se eu quiser morrer em Beacon Hills, eu vou. – seu olhar era desafiador, como se Derek tivesse sugerido exatamente isso – E foi aí que eu entendi que o que eu quero não é sair de Beacon Hills ou me afastar do sobrenatural ou esquecer as pessoas que eu amo só para “ser salvo”. Eu não quero sobreviver. Eu quero poder fazer as minhas escolhas para viver a minha vida do jeito que eu quero.

Ele se afastou um pouco, entrelaçando seus dedos aos de Derek, e o tom triste voltou à sua voz.

- Eu demorei um pouco para entender isso, sabe? Mas, aos poucos, eu fui vendo que cada um deles, incluindo meu pai, fizeram as próprias escolhas também, e o que eles me deram foi uma oportunidade, não uma imposição, e eu sei que não posso impor nada como isso para ninguém. – ele olhou muito sério, como se tentasse catalogar cada uma das infindáveis cores que brincavam em seus olhos – E o que eu quero é você, Derek Hale. Essa é a decisão que eu estou tomando na minha vida agora. Aqui em New York ou em Beacon Hills ou em São Paulo ou onde você quiser. Eu não quero ver você sair da minha vida nunca mais.

Derek fechou os olhos e deixou sua testa cair contra a de Stiles, as mãos entrelaçadas como uma âncora entre eles.

- Mas eu não posso impor nada para você, Derek. – Stiles ergueu seu rosto com um gesto, fazendo com que ele o olhasse – Eu nunca faria nada que não fosse sua escolha.

Show me where it hurts,

We'll make it OK

Tell me that you'll stay

Even when I'm far away

My voice will carry through

Until the end it's me & you

We can make it if we try

E isso foi a gota final para qualquer decisão que ele pudesse tomar. Stiles estava cuidando dele, mais uma vez, fechando suas feridas de uma forma que nem ele esperava, com um gesto tão simples como respeito e carinho. E era por isso que Derek sabia que faria tudo por ele, tudo. Se ele era uma ameaça, ele também seria o protetor de Stiles pelo resto de sua vida, porque ele era a única pessoa em quem ele confiaria cegamente para entregar sua vida dessa forma e ele nunca mais seria capaz de virar as costas para ele.

Com um gesto quase desesperado, Derek soltou as mãos entrelaçadas para pegar o rosto de Stiles, trazendo ele para perto pela cintura, em um beijo quase violento, desesperado. Mas Stiles o acompanhou com a mesma fúria, empurrando ele para trás, derrubando móveis, tropeçando, até ter ele contra a parede, os corpos pressionados ao máximo, como se quisesse se fundir a ele.

- Eu vou até o fim do universo com você. – Derek tentou falar entre o beijo, as palavras se perdendo em meio ao fôlego compartilhado – Eu te amo, Stiles. Eu sempre te amei.

Stiles riu contra o beijo, a fúria se diluindo em intensidade.

- E você não vai se livrar dessa promessa.

- Promete?

Stiles olhou para ele, como se nunca tivesse visto ele daquela forma, suave e aberto, e então parece ter reconhecido algo em seu sorriso porque ele sussurrou contra seus lábios – Prometo. – e sorriu – Eu também te amo. E eu nunca vou deixar você, eu prometo, sourwolf.

All I'm saying is that

You're home,

you'll never be alone

You're home,

you'll never be alone

You're home, to be alone

You're home,

hope you find your way home

Derek sentiu como se o mundo voltasse ao seu lugar e finalmente ele poderia voltar a respirar sem medo. Sorvendo o ar entre seus lábios e os de Stiles, permitiu o beijo aprofundar mais uma vez, suas mãos puxando a camisa de Stiles em busca de pele, e ele então correu a mão por sua perna, erguendo um de seus joelhos e os dois gemeram com o contato. Derek recuperou brevemente o equilíbrio só para passar as mãos por baixo das pernas de Stiles, que imediatamente envolveu seu corpo com elas enquanto Derek guiava ambos para o quarto, que agora seria dos dois.

You're never gonna be alone

-:=:-

Notes:

12 ANOS DEPOIS...

Eu estava arrumando meus textos quando percebi que essa fic estava marcada como incompleta no meu profile e fiquei UÉ - sim, eu NÃO LEMBRAVA DELA, SINTO MUITO.

Mas eu sou uma moça compromissada com minhas coisas e decidi terminar isso aqui. A pergunta é: como? Porque eu não faço ideia do que estava se passando na minha cabeça 12 anos atrás, quando eu comecei. Tudo o que meu eu do passado deixou para mim foram esses dois capítulos, uma imagem e uma música.

E a conclusão que eu cheguei juntando tudo isso foi:

O Stiles se curou.

O Derek não.

Eu espero que tenha tido um resultado satisfatório, eu escrevi esse último capítulo com muito carinho.

Comentários são muito bem vindos!

Meu tumblr: http://insidemymint.tumblr.com/