Archive of Our Own ^beta

Chapter Text

'' Aqueles que não entendem a verdadeira dor nunca vão entender a verdadeira paz. ''

- Pain, Naruto.

As Nove Peças - Cap 1

Chovia bastante aquela noite, estava frio e de suas bocas podiam ver saindo fumaças - talvez logo nevasse - o que deixava o clima de Konoha ainda mais triste na visão da jovem. No carro que se movimentava devagar pelas ruas estreitas apenas o silêncio fazia companhia aquelas duas pessoas tão distintas, mas de aparências tão iguais - pelo menos, de certo modo era assim que ela enxergava as coisas com seu pai, apesar de ter herdado os cabelos azulados da mãe e a sua fragilidade em saúde.

Hyuuga Hiashi se igualava a uma estatua de tão estoico que parecia, mesmo sem expressar muitas emoções Hinata sabia quando ele estava contrariado ou emocionado com as coisas - naquele momento estava incomodado com as decisões da filha, sua criança mais velha e que de longe não parecia em nada comparado a si para escolher aquele mesmo mundo que ele trilhou quando era mais novo - uma loucura que iria apoiar, mesmo estando duvidoso de que a filha conseguiria ficar mais que poucos dias na companhia de tais pessoas.

Hinata se perguntava como seriam as coisas dali em diante, lembrava muito bem da falação do seu tio na noite anterior querendo faze-la desistir novamente daquela ideia, e com seu primo o apoiando a desistir - era uma dama e futura cabeça daquela família, deveria estudar e se formar com graça - e não se enfiar no meio do mato e do deserto sabe-se lá atrás do que e fora o risco de vida que iria correr, o moreno ficava de pelo arrepiados só de imaginar, mas ela foi resoluta e agora lá estava ela, indo em direção do único aeroporto da região - em direção do incerto.

Mostraria ao mundo o quão forte e parecida era com o Arqueólogo e pesquisador Hyuuga Hiashi e não decepcionaria a imagem da mãe, a quem prometera na frente do túmulo a nunca mais ser fraca e recuar no sinal de menor perigo. Foi com isso em mente que saíra do carro em direção da sala de embarque onde conheceria um velho conhecido de seu pai.

xxxxxxxxxxxxxxxx DIAS ATUAIS - EM ALGUM LUGAR DO EGITO xxxxxxxxxxxxxxxxxxx

O suor escorria pelas costas, era um momento tenso e crítico - estava numa daquelas tumbas enterradas nas areias do Egito perto do Nilo atrás de uma peça que deveria estar ali e agora dera de cara com saqueadores de tumbas - fora isso, estava escutando no ponto eletrônico seu amigo aos berros a mandando sair de lá e deixar aquele orbe para trás, o que estava fora de cogitação.

De seu esconderijo podia observar seis ou sete homens, a sua visão aquela distancia não era tão boa assim e seu binóculos foi deixado para trás na correria junto com a bolsa onde estava a bendita esfera que agora tinha que voltar e recuperar. Precisava do elemento surpresa e bombas - era o que Kiba tentava lhe lembrar, mas no momento tentava carregar a arma e acertar algum tiro fatal daquela distância.

- Kiba-kun, consegue rastrear a minha bolsa? Preciso da localização exata! - sussurrou enquanto mirava na cabeça do primeiro homem.

Ela só conseguiu escutar um ruído - provavelmente do teclado, enquanto se posicionava e com o silenciador acoplado a arma deu o primeiro disparo - o homem caiu e logo uma chuvarada de balas pode ser escutada vido de diferentes direções.

- Hinata! Hinata! Achei! - era a voz de Kiba novamente. - Esta perto da base central, perto do sarcófago do tal faraó.

A morena riu e concordou mesmo sem ele ver, de onde estava foi se esgueirando no meio da areia e foi rolando escadaria abaixo enquanto não era vista de fato pelo homens que restava, dali contou cinco ainda com vida e dois caídos ao chão. Em certos momentos a sua visão podia engana-la e naquele calor atual começava a questionar se não estava alucinando com tudo aquilo. Calculou dez minutos antes de ser vista por algum deles e mais uns vinte até sair daquele lugar pela abertura feita blocos acima do sarcófago mais cedo.

- Kiba-kun, as coisas vão ficar um pouco barulhentas agora, não grite no meu ouvido também. - Hinata falou antes de puxar da bolsinha presa a sua cintura mais um pente de balas e começar a atirar.

Ela estava suja de terra e a longa trança estava presa num coque alto - a camisa cinza vinha com um colete por cima e a calça estava rasgada perto dos joelhos - mesmo assim, isso não a impediu de acertar seus adversários e de sentir um ardor no braço esquerdo, podia sentir o sangue escorrendo e o cheiro de ferro. Mesmo correndo não pode evitar olhar pra trás e sentir que vinha sendo seguida.

- Não saio daqui sem aquela peça. - sussurrou a Hyuuga enquanto corria corredor adentro.

Chapter Text

'' Só porque alguém é importante para você, não significa necessariamente que essa pessoa é boa. ''

- Sabaku no Gaara, Naruto

As Nove Peças - Parte 2

XXXXXXXXXXXXX SAGUÃO DO AEROPORTO XXXXXXXXXXXXX

 Hinata sentiu alguns pares de olhos se voltarem quase que instantaneamente para si assim que seu pai a anunciara - olhos claros e escuros a observaram dos pés a cabeça - não pudera impedir de ficar corada e tímida diante daqueles olhares questionadores e julgadores, sabia o quanto era baixa e cheinha para a idade, mas a sua mãe também era e sempre a comparavam com alguma deusa da beleza quando desfilava pelos pátios do clã usando algum kimono bonito quando ficara mais velha.

- Filha, esses aqui são Hatake Kakashi e seus alunos, agora ele também será seu mestre. - A voz firme de Hiashi a fez olhar diretamente no rosto daquele homem de aparência jovem que possuía cabelos grisalhos e metade da face coberta, apenas um de seus olhos estava amostra e era de cor negra, mas não tão intensa quanto a do outro rapaz mais novo do grupo.

- Hinata-san, esses daqui são Uzumaki Naruto e Uzumaki Karin, são primos. - A voz do Hatake era monótona e parecia ler uma página velha de jornal, mas o único olho a mostra se fechou numa fenda enquanto falava e parecia sorrir por baixo da mascara. - Enquanto esse aqui é Uchiha Sasuke.

Os três eram distintos em tudo - até mesmo os primos não se pareciam em nada - um loiro, uma ruiva e um moreno em conjunto com aquele homem mais velho parecia uma equipe bem desconecta, coisa que mais tarde se provou errada para o julgamento da Hyuuga, apesar dos pesares, aquele quarteto se completava de tal modo que as vezes Hinata não se sentiu parte daquele grupo enquanto esteve com eles.

Hiashi trocou poucas palavras com o Hatake antes de se voltar novamente para a filha e tentou mais uma vez convencê-la a desistir daquilo e voltar para casa - estudar num internato igual ao primo e a irmã, assim futuramente poderia se tornar uma dama de respeito na sociedade parecia um caminho mais seguro e honroso para qualquer mulher daquela família. Mesmo corando e gaguejando Hinata não voltou atrás em sua decisão, mesmo com seu pai a olhando daquela forma preocupada e gentil - coisa que Hiashi poucas vezes demostrara em vida. 

XXXXXXXXXXXX DIAS ATUAIS - EM ALGUM LUGAR PERTO DO NILO XXXXXXXXXXX

Hinata arfava enquanto sentia sangue e suor lhe escorrer pelo corpo, seu colete ficara para trás no corredor da câmara da tumba e agora estava novamente em posse da sua bolsa com a orbe - mesmo cansada e com alguns poucos homens atrás de si não pode deixar de rir, era sempre assim e mesmo com o corpo cheio de cicatrizes de armas, não se envergonhava de nenhuma delas - eram marcas de vitória contra aquele tipo de escoria do mundo. Eles podiam estar em maior número, mas ela era mais rápida e apesar do tiro de raspão que levara na perna ao escalar o teto para sair.

Três homens ainda restavam de pé e corriam atrás dela pelas areias escaldantes do deserto, havia pouca vegetação rasteira naquela parte e podia ver o rio Nilo ao longe - a morena se sentia com sorte e podia sentir um leve calor emanar de sua bolsa, o orbe azul parecia corresponder a algo que estava por perto.

- Não deixem aquela imunda escapar! - Gritou um dos homens, o maior dos três e o que mais se aproximava dela em corrida.

- Rápido! Senhor. Itachi quer aquela peça intacta! - A morena não conseguiu entender bem o que ele falava, mas entendera o suficiente para seu amigo fazer uma busca - assim que ela escapasse daqueles - e ela teve momentaneamente uma ideia que parecia o certo a se fazer naquele lugar e mudando de caminho, correra em direção do rio.

Um novo tiro de raspão a fizera xingar aqueles malditos antes de afundar nas águas gélidas do rio enquanto torcia para não virar comida de algum crocodilo ou pior - do seu primo Neji. A outra margem era distante e os homens não se atreveram a perseguir mais - a morte sendo devorada seria de bom grado para eles, o problema seria depois recuperar o orbe mas, não era problema no momento - e sim avisar que foram novamente passados para trás e para piorar, desta vez por uma mulher.

A morena estava cansada e com uns litros de sangue a menos no corpo, sendo um chamariz para qualquer animal carnívoro por perto, antes de perder a consciência tinha certeza de escutar alguém lhe chamar ao longe. Enquanto Kiba estava do outro lado do ponto eletrônico estava gritando pela amiga ouvia as águas a engolir sem poder fazer nada, não demorou muito para perder contato. 

- MAS QUE DROGA HINATA! - O grito frustrado do Inuzuka chamara a atenção de quem estava por perto da sala, pra sua sorte era apenas seu colega Shino, não saberia o que dizer se fosse o patriarca Hyuuga ou o primo perfeitinho de sua amiga.

- O que houve Kiba? - O rapaz de porte alto e cabelos curtos se aproximou e notou a tela do notebook apagada indicando a queda de sinal. Os dois estavam esperando qualquer sinal de vida durante uns minutos enquanto o Aburame fizera Kiba contar o que tinha acontecido exatamente, o moreno estava visivelmente nervoso.

- Hinata sumiu, estava fugindo de uns cara e resolveu se meter no meio do rio. - O moreno coçou as bochechas tatuadas enquanto explicava. - Ela levou alguns tiros de raspão no braço, quadril e perna, não deveria ter se metido num lugar cheio de crocodilos. - Kiba passou a sussurrar temendo ser escutado por mais alguém. - Ela conseguiu pegar a orbe azul, é pequena e igual às outras, com runas e desenhos na sua superfície e pelo jeito ela não era a única atrás dessa vez, havia muitos homens na volta daquela tumba atrás da peça.

Antes que Shino pudesse abrir a boca, os dois ouviram chiados e o som de engasgo que vinha do aparelho na mesa - os dois correram e suspiraram aliviados ao escutar a morena se arrastando pela seca margem do rio. Antes que qualquer um pudesse falar a voz fraca e rouca da Hyuuga se fez presente.

- Kiba-kun, procure por um tal Senhor. Itachi. - Estava respirando com dificuldade e cansada demais para andar, não fazia ideia de como chegara nas margens do outro lado do rio e muito menos de como não for a feita de lanche por algum animal. A voz saiu cheia de estática e muito disforme, mas no momento estavam mais aliviados pela vida da amiga do que se importar em fazer o que quer que seja.

- Hinata-chan, não se mova mais, vamos mandar ajuda! Anda Kiba, avise a Karui-san sobre o paradeiro e seu estado atual de saúde. - Shino não perdeu tempo em dar novas ordens e pôs o amigo para trabalhar, mesmo com o péssimo estado do aparelho, os dois ainda a escutaram rir.

A Hyuuga estava sem fôlego e cansada, mas sabia o quanto aquela aquisição havia sido importante e o quanto estava mais perto de ter uma das coleções mais raras do mundo se a lenda envolta daquelas peças for verdadeira - entretanto, naquele momento deveria buscar mais informações sobre o tal homem e ignorar de fato as conversas que havia escutado na noite anterior sobre uma orbe rouba, visto que o ladrão era alguém que ela conheceu no passado e mortos não falam mais - ou saem por ai roubando coisas antigas.

Uchiha Sasuke. Um nome tão antigo quanto aquele lugar desértico onde estava caída.

Chapter Text

'' Quanto mais você vive, mais você entende que a realidade é feita de dor, sofrimento e vazio. ''

- Uchiha Madara, Naruto

Morto - part 1

XXXX LEMBRANÇAS - HIASHI HYUUGA XXXXXX

Aquele grupo tão desconexo ao ver de Hiashi, não passava de jovens sonhadores, mas ele mesmo já fora assim quando mais novo e agora sentia o peso da idade em suas costas ao observar a filha de 16 anos se juntando a eles enquanto Neji e Hanabi iam a internatos estudar.

- Kakashi, deixo a minha filha aos seus cuidados. - Comentou o Hyuuga enquanto apertava a mão do Hatake.

- Dependerá mais dela do que de mim, senhor. - O grisalho respondeu de forma enfática enquanto olhava a pequena que ainda estava meio escondida atrás do pai.

Hiashi assentiu e depois voltou a sua atenção para a filha novamente, era hora de se despedir e ele ainda achava aquela ideia tola, sua filha era frágil e delicada demais assim como sua esposa fora enquanto viva e jovem de saúde, as duas gravidezes lhe tiraram uma vida alegre e feliz enquanto tentava dar a família o tão sonhado herdeiro masculino - para a infelicidade dos anciões apenas as meninas sobreviveram a infância - e para a sua infelicidade, a sua esposa não.

- N-não se preocupe p-pai. - E lá estava a velha gagueira novamente. - Vou ficar v-viva e honrar o senhor e a m-mamãe. - Por mais que tenta-se, não conseguia falar de outra forma com as pessoas, mas ela estava confiante de que isso ia mudar algum dia, depois quem sabe de tanto treinamento e conhecimento pelo mundo com aquelas novas pessoas.

Ele concordou e a deixou ir, era a menor daquele bando e com certeza a mais frágil também, mas era agora como seu irmão lhe dissera antes, tem que se dar tempo ao tempo e esperar o que virá dele.

XXXXXX DIAS ATUAIS, CAIRO - EGITO XXXXXXX

O aeroporto bem climatizado a deixava em paz - suas roupas quentes e de madame não - infelizmente eram as únicas que lhe serviam e agora lá estava ela enrolada em um vestido de cetim azul com babados brancos que escondiam as suas ataduras e cicatrizes de olhares questionadores, o cabelo estava solto e aquele rosto aristocrático lhe rendiam alguns momentos em solidão. O sangue azul que corria em suas veias era mais forte do que ela gostaria, mas não era ruim.

Hinata as vezes se perguntava se era isso mesmo que a sua mãe gostaria de ver dela ao ficar mais velha e não igual as outras moças de sua idade que na maioria das vezes já estavam casadas e com filhos - sabia que no auge de seus vinte e sete anos já não era jovem e provavelmente um casamento com filhos seria arriscado, mas ter uma família parecia um sonho de criança - poderia ter sido igual ao primo e se casado, mas nunca teria visto ou experimentado metade do que já tinha visto e isto não tinha preço.

Quando enfim seu voo foi chamado ela não pode deixar de sentir falta da vida noturna do Egito, era um lugar animado e bem diferente de seu lar - o Japão e a pacata e tranquila Konoha. Tinha o privilegio de morar em um lugar onde apenas ficava a mansão no meio de uma área de mata reservada a toda sua família.

O voo teria uma conexão com na Índia e depois seguiria para o Japão. Quando chegou em Tóquio já era noite e não havia muitas pessoas pelas ruas da grande cidade, no aeroporto estavam seu pai e sua irmã lhe esperando, Hanabi estava cada vez mais bonita e com um rosto que lembrava ao seu pai - que diferente de si, não puxava em nada a sua falecida mãe. Mesmo com cinco anos de diferença, o amor e respeito que sentiam uma pela outra era forte e mesmo que as duas vivessem realidades distintas, a cumplicidade entre elas era algo de se admirar.

- Irmã, está tão elegante nessas roupas. - O comentário da caçula era cheio de sarcasmo e zombaria. - Uma verdadeira dama, quase não a reconheço sem aquelas calças e todo aquele pó pelo corpo.

Hinata apenas riu e concordou - de fato, as roupas emprestadas de Karui eram de longe nem um pouco parecidas com as suas usuais. A sensação de ter as pernas livres e poder correr por aí é ótimo, mas pelas atuais circunstancias deveria deixar as calças de lado - por enquanto. Ko ainda era o motorista particular da família e Hinata o adorava desde criança, dentro do carro foram trocando conversas fiadas sobre as novas descobertas enquanto escutava Hanabi falar o quanto aquilo deixaria o primo delas de cabelos em pé - Neji era de longe um aristocrata.

A sua casa ficava afastada da cidade e era rodeada por uma planície e lindas sakuras que em tempo de florescimento pintava todo o lugar de tons rosados. Quando chegaram já estava anoitecendo e todos acharam melhor que a morena deveria descansar mais e se recuperar dos tiros que levou na ultima expedição, para o desgosto do primo que só soube disso quando a viu pessoalmente e quase matou os amigos dela ao reclamar que não fora avisado sobre aquilo - claro que Hiashi apaziguou as conversas e mandou todos irem se trocar para o jantar.

Hinata rumou para o seu quarto sendo acompanhada pelos amigos enquanto contava com mais detalhes o que tinha acontecido e como não se recordava em nada de como conseguira sair do rio.

- Só me lembro de estar afundando e depois sentir uma grande leveza, mas não no corpo. - A morena não sabia por em palavras. - Era mais como se por dentro, entende, as coisas tivessem ficado igual uma pena e depois, estava na margem do rio, sangrando e escutando vocês dois.

- Isso é um pouco estranho, devemos pesquisar mais a respeito dessas joias. - Shino comentou enquanto a via entrar no próprio quanto. - Quando recuperou a primeira peça, algo parecido aconteceu, talvez tenha relação.

- Ou não, Hinata-chan já passou por muitas coisas assim Shino. - O comentário de Kiba não pareceu muito aceitável ou plausível ao Aburame.

- Bom, no momento tudo o que espero é que esses problemas não aconteçam com tanta frequência. - Os dois concordaram com a Hyuuga.

O quarto da morena era grande e espaçoso já que quase não tinha moveis lá dentro, a grande sacada do segundo andar dava em direção da entrada da mansão e nas paredes estavam quadros de viagens com fotografias de descobertas e de sua família. A cama de casal era o único lugar caótico - cheio de almofadas e pelúcias, um velho costume de criança da qual ela não conseguia se livrar - o piso de madeira escura era coberto por tapetes e alguns pufes espalhados.

A morena rumou ate a lateral da cama e se abaixou - os amigos acompanharam o gesto e ficaram mais atrás - fazendo uma pequena pressão com as mãos o piso cedeu revelando um compartimento que foi arrastado para o lado mostrando um cofre, depois de digitar a senha e abrir a porta todos os três podiam ver outro orbe colocado lá dentro, do mesmo tamanho daquela que ela trazia na bolsa, mas de outra cor.

Rubro. Parecia um rubi, só que era muito mais valioso e raro. A pedra azul parecia refletir a outra - lado a lado, pareciam emanar poder e algo a mais que deixara os três sem fôlego por um momento - era '' muito belo '', o sussurro que Kiba deixou escapar era tudo aquilo que os outros dois pensavam. As duas peças foram guardadas juntas e o Inuzuka acabara por ser arrastado por Shino para que Hinata pudesse descansar depois da longa viagem de avião e carro.

Sozinha em seu quarto pode finalmente suspirar e sentir o quanto estava mais que exausta - adorava viajar, mas ultimamente estava se sentindo esgotada emocionalmente, mesmo que demorasse a aceitar - as roupas emprestadas por Karui foram fáceis de tirar e não demorou a ficar só de camisola pelo quarto. Aquele nome ainda a atormentava - o garoto estava morto a mais de dez anos e parecia que não tinha se passado um dia sequer - os pesadelos ainda a atormentavam, apesar da terapia.

Lá na parede, no mural que tinha com várias fotos de viagens que fizera em suas andanças pelo mundo escondida entre outras, tinha uma que já estava amarelada e com manchas - um pouco de sangue talvez - mas, mostrava cinco rostos que lembrava-se bem e se perguntava como os fantasmas podiam falar ou roubar.

XXXXXXXXX DIAS ATUAIS, HOKKAIDO - JAPÃO XXXXXXXX

Lá fora começava a nevar e a noite se mostrava com fria, um grupo de pessoas estava junto da lareira em busca de se aquecer enquanto conversavam sobre o jantar. Um dos rapazes apenas ria das reclamações da única mulher presente que aparentemente não gostara nada das piadas feitas mais cedo.

Tinha um rapaz, o mais alto deles e que estava em silêncio observando aquela conversa se desenrolar, perguntava-se como as coisas tinham chegado naquele ponto - aqueles três pareciam se completar e ao mesmo tempo podia ver que faltava alguma coisa em um deles. Juugo não estava ali para julgar ou adivinhar o que estava faltando ou sobrando na vida de ninguém, mas, devia a sua vida aquele homem e gostaria de retribuir de alguma forma - talvez, trazendo o que falta a ele para ser feliz.

O moreno estava afastado dos outros quando se sentiu sendo observado - o homem de cabelos alaranjados o olhava novamente daquela forma reflexiva e não pode deixar de desviar novamente o olhar - lá fora, enquanto a neve caia, os seus pensamentos vagavam juntos.

Chapter Text

'' Ninguém se importava com quem eu era até colocar uma máscara. ''

- Uchiha Obito, Naruto

Morto - Part 2

XXXXXX ÁREA DE DECOLAGEM - KONOHAGAKURE, JAPÃO XXXXXXX

Hinata sentia seu rosto esquentar cada vez mais que escutava alguém reclamando, depois da despedida do pai e o breve reconhecimento dos colegas novos todos partiram em direção da salinha onde esperariam o avião sair, o que não demorou muito para acontecer e agora estavam todos em fila encabeçados pelo Hatake que estava analisando alguma coisa que o deixara com uma expressão um tanto quanto cômica, Kakashi parecia duvidar dos próprios pensamentos.

Kakashi sussurrava para si mesmo como separaria aqueles quatro sem que acabasse em morte ou abuso corporal - Naruto era barulhento demais e Karin muito explosiva, os dois juntos acabariam por se matar e se colocasse a ruiva perto de Sasuke - bom, ele acabaria por ser violado e havia prometido aos pais do moreno que cuidaria bem dele.

- Sasuke e Naruto juntos também não daria certo e a pequena Hyuuga acabaria por sofrer no meio daqueles dois e a Karin... - Kakashi suspirou, o gênio forte da ruiva era difícil de controlar e não poderia comprometer a sua aliança com a família Hyuuga. - Bom, vamos lá!

- Decide isso logo Kakashi-sensei! Estamos atrasando todo mundo! - Naruto reclamou novamente enquanto escutava o pessoal atras de si resmungar pela demora do grisalho. Hinata concordou, já se formava uma grande fila atrás deles.

- Ahá! Irão Sasuke, Hinata e eu na fileira da frente enquanto vocês dois irão na de trás e tratem logo de andar, estão atrapalhando o transito. - Comentou o Hatake enquanto entrava na aeronave, o que lhe rendeu olhares de ódio vindo de seus alunos mais velhos que trataram de entrar e dar espaço aos outros.

Hinata apenas suspirou enquanto seguia o grupo, nunca tinha viajado de avião antes - na verdade, a única viagem que fizera fora de barco e isso foi a muitos anos atrás - esperava que não balança-se tanto igual a um navio, ou poderia vomitar no colo de alguém. Sentia seu corpo começar a suar frio e com o coração nos pés quando fora surpreendida com uma mão tão pálida quanto a sua, só que maior e com uma aspereza que a assustou.

Até aquele momento não tinha prestado atenção nos detalhes do grupo, em suas particularidades e diferenças - só agora dera a devida atenção ao Uchiha e não podia negar o quanto ele parecia bonito, mesmo sendo tão novo, o olhar de ônix não demonstrava fraqueza ou insegurança - apenas uma leve irritação, talvez pelo incomodo de sentar ao lado de uma medrosa feito ela, mas aquilo era só por nunca ter viajado daquele jeito.

- Pode parar de mexer as mãos? Não vai acontecer nada e acaba por distrair a minha atenção com essa sua inquietação. - A voz fria e um pouco rouca do moreno a fizeram ficar quieta e balançar a cabeça, ela deveria demonstrar força, afinal era filha de Hyuuga Hiashi.

Quando o avião decolou a mão de Sasuke voltou a se colocar sobre a de Hinata, ela estava nervosa demais para ficar quieta e foi ali que o moreno percebeu que aquele tique nos dedos só a afetava quando estava extremamente nervosa ou tímida.

XXXXXXXXXXXX DIAS ATUAIS, KONOHA - JAPÃO XXXXXXXXXXX

Hyuuga Neji estava nervoso, apesar da chegada de sua querida prima as atuais circunstancias não o deixava descansar em paz. Pare ele Hinata deveria se comportar como uma verdadeira dama, uma mulher qualificada para liderar aquela família e ser o centro daquele clã se não fosse todas as adversidades sofridas pela família nos últimos anos.

Mas parece que só ele pensa assim, seu próprio tio e pai dela não reclama e até a apoia nessas viagens enquanto abriga os dois amigos dela que estão longe de serem da aristocracia e do mesmo ramo social que eles - não que julgasse as pessoas pelo dinheiro, mas logo eles que estão tão a margem de outras famílias importantes não se relacionavam com qualquer pessoa e lá estava aqueles dois - o cachorro de nome akamaru ficava mais tempo lá fora e ajudava a vigiar a propriedade.

Quando passou pelo escritório do tio apenas viu a dupla dinâmica composta pelo Aburame e o Inuzuka a mexerem nos computadores enquanto digitavam numa velocidade surpreendente - seu tio não estava por lá então não dera muita atenção a eles. Foi encontrar o tio na sala de chá junto de suas primas que pareciam estar debatendo sobre alguém.

- O que pediu para aqueles dois pesquisarem agora Hinata-sama? - Foi a primeira coisa que Neji falou ao se juntar a eles.

- O de sempre, alguém. - A morena respondeu sem dar muita importância. - O homem tem algumas peças e provavelmente acabei por pegar uma antes dele.

- Sabe o nome? - Neji acomodou-se ao lado do tio enquanto se servia do chá.

- Um Lord. Itachi, existem alguns por aqui, como o filho do Fugaku, dono das propriedades de lã e outros como o filho de Mebuki ou Arata. - Comentou Hiashi enquanto observava as filhas discutindo sobre as roupas da próxima viagem de Hanabi e sua volta ao internato. - Com um irmão mais novo.

- São pessoas influentes, não acho que entrariam no mundo da pirataria em troca de alguns trocados. - Hanabi comentou simplesmente, na cabeça dela não fazia sentido alguém com tanto dinheiro estar roubando por ai.

- Existem muitas pessoas ambiciosas por ai minha filha, nada impediria alguém de conseguir ficar mais rico se isso dependesse de roubar outras pessoas ou coisas. - Hiashi comentou enquanto via os mais velhos concordarem. - Apesar de não ser comum, já vi muitas pessoas influentes que se perderam ao entrarem nesse mundo paralelo.

Os quatro continuaram conversando mais um pouco até os outros integrantes da família chegarem. Hyuuga Hizashi o irmão mais novo e gêmeo de Hiashi chegou acompanhado de uma dama de cabelos achocolatados presos em dois coques com uma pequena criança a tira colo nos braços - o bebê também tinha os cabelos da mesma cor e a pele leitosa dos Hyuugas - o mais velho vinha acompanhado da nora e do neto, a jovem Tenten e o pequeno Hotaru - a alegria daquela casa ao ver de todos os membros Hyuugas.

- Espero que tenham gostado dos bolinhos, é receita nova graças aos condimentos mandados pela dama Karui-san. - Hizashi comentou enquanto se acomodava junto do irmão e a nora ficava ao lado do marido Neji.

- As suas guloseimas são as melhores do mundo tio, sinto falta delas toda vez que saio de casa. - Hinata lamentou enquanto sorria para o tio que riu de volta.

- Bom, é só não viajar mais. - Todos começaram a rir do comentário, era mais fácil o mundo ruir do que a morena parar em casa.

XXXXXXXXXXX ZHANGYE - GANSU, CHINA XXXXXXXXXXX

Quando o avião pousou perto do mar chinês Hinata se perguntava que tido de experiências viveria de agora em diante, se todo o seu esforço valeria apena e como não atrapalharia os seus novos companheiros. O carro alugado por Kakashi os afastou rapidamente da civilização e os levou a uma área rochosa e quase inabitada - dizia quase por que agora eles estavam lá.

- Devo avisar a todos que essa região é conhecida como Zhangye Danxia, aqui vocês só verão rochas coloridas e muita poeira, então armem bem suas barracas e não deixem nenhum lagarto os morder. - Os mais novos apenas escutavam com atenção. - Iremos acampar aqui em Binggou por ser mais perto do rio Lyuan e amanhã começaremos a trabalhar.

Todos concordaram e foram atrás de seus equipamentos - pequenas mochilas com apenas o essencial e seus sacos de dormir é claro. Karin foi a primeira a notar a falta de uma tenda e com isso começou a resmungar falando que não queria dividir.

- Então deixem-me pensar. - Mais uma vez Kakashi se pôs a resmungar, o que para Hinata parecia ser como um habito, um bem chato na verdade. - Naruto e Sasuke juntos só acabaria em morte, Karin e Sasuke acabaria por tentar abusar e não quero o irmão dele no meu pé... Sem chance de colocar Karin com Hinata, ela a mataria... Vamos ver...

Hinata apenas não entendia, tinham agora ela e a ruiva como mulheres daquele grupo, era só elas partilharem o mesmo espaço, não entendia o por que daquela demora toda para escolher.

- Decide logo Kakashi-sensei! - Naruto reclamou, estava cansado. - Daqui a pouco escurece e ficamos no frio dattebayo!

- Sasuke e Hinata... - A morena poderia jurar que escutou o Uchiha bufar, igualmente a Karin. - Naruto e Karin na outra enquanto eu fico sozinho, agora tratem de monta-la ou ficaremos no frio.

Se Naruto pudesse, teria voado no pescoço do professor, preferia dormir no relento do que compartilhar sua tenda com a prima - achava a ruiva um saco com dupla personalidade - um cobra em Sasuke por perto e um alma caridosa com o Uchiha do seu lado.

As duplas se dividiram e foram tratar de montar seus espaços para dormir - Sasuke como sempre levou a sua barraca para uma parte mais afastada das outras duas - gostava de privacidade e não era a filha de um Duque que o faria mudar de ideia. A Hinata bastou apensas suspirar e ajudar o moreno.

XXXXXXXXXXXX DIAS ATUAIS, KONOHA - JAPÃO XXXXXXXXXXX

Kiba saiu do escritório com Shino ao seu lado enquanto buscavam pela amiga, depois de longas horas de pesquisa e muitas batidas de cabeça com Shino a respeito de tal homem misterioso, eles chegaram a uma conclusão que parecia mais do que satisfatória. A família toda estava reunida na sala de chá.

- Deveria beijar os meus pés e me fazer juras de amor eterno Hinata-chan. - O comentário de Kiba fez a morena rir enquanto olhava os companheiros chegando com alguns papéis em mãos.

- Acho difícil, mas tenta. - Hanabi comentou enquanto ria dos amigos da irmã.

- Bom, senhorita Hanabi-san, depois de pesquisar por muitos homens que eram fazendeiros, politicos, ministros, duques, condes... - Todos olhavam o moreno andar em circulos enquanto balançava aquele monte de folhas. - O detalhe dele ter sido roubado pelo irmão foi crucial para achar o cara...

- O que Kiba está tentando dizer é que depois de fazermos uma limpa nos nomes fornecidos pelo seu pai, nós apenas focamos naqueles ricos e com irmãos do sexo masculino... - Shino interrompeu Kiba de falar e agora ele foi também interrompido.

- Falem de uma vez, quem é esse homem? - Hanabi não tinha muita paciência com toda aquela conversa fiada.

- Chegamos a Lord. Uchiha Itachi da produção de Lã e seu irmão mais novo Uchiha Sasuke, o engraçado é que tem muitas informações sobre o tal Itachi mas... - Kiba fora novamente proibido de falar.

- V-vocês só podem estar errados. - Hinata estava de pé e parecia pálida. - Não tem como U-uchiha Sasuke esta envolvido na história dos orbes ou em qualquer outra.

- Como não? Eles são os únicos que se encaixam nisso tudo. - Kiba protestou, ele e Shino haviam dado duro naquela investigação e estavam certos de terem encontrado as pessoas certas.

- Vocês estão errados! - A morena sentia seu peito doer, era como se tivessem tirado seu chão e agora não conseguia respirar direito. - Uchiha S-Sasuke está morto.

- Como sabe disso Hinata-chan? - Tenten perguntou, achava a sua prima pálida demais e suas mãos, não, seu corpo todo parecia tremer enquanto negava aquela história.

- E-eu estava lá! O vi m-morrer! Sasuke esta m-morto. - Todos sabiam que aquele gaguejar fora deixado para trás ainda na adolescência e naquele momento era como se aquela menina estivesse ali na frente de todos, com os olhos brilhantes de lagrimas nunca derramadas.

Chapter Text

'' Trabalho duro é inútil para aqueles que não acreditam em si mesmos. ''

- Naruto Uzumaki, Naruto

 

Distinto Demônio Part 1

 

XXXXXXXXXXXXXX ZHANGYE - GANSU, CHINA XXXXXXXXXXXXXXX

 Hinata sentia todos os músculos do corpo tremerem de dor, nem mesmo quando deitou no seu colchão dentro da tenda conseguiu relaxar. Algum caminhão parecia ter passado por cima de si, sabia que todo e qualquer treinamento que teria de agora em diante seria mais que doloroso - seu primo Neji era bondoso demais para lhe machucar - o que a fez rir por lembrar dele e logo após choramingar de dor.

 Estava tão absorta em pensamentos que nem notou quando seu companheiro de tenda entrou e passou a tirar seus sapatos, diferente de si que arfava e tentava nem se mexer o Uchiha parecia feito de rocha, nem mesmo aparentava ter suado durante o treinamento enquanto lá estava ela naquela situação deplorável. Tentou desviar os olhos, mas não conseguiu, o corpo esguio com alguns músculos era bonito demais para ser ignorado - o que causou uma vermelhidão gigante do rosto da pobre duquesa. 

 Sasuke percebendo aquela situação também se sentiu incomodado - estava mais que acostumado com esses olhares de cobiça vindo de outras pessoas, só que pelo menos ela estava quieta e na sua. Podia-se notar o estrago feito por Kakashi na pobre duquesa - que era totalmente o oposto do que o moreno tinha em mente no começo daquilo tudo. Sempre pensou na jovem como alguém de fibra e de tal imponência igual ao pai, mas não, tudo o que via era um ser de bochechas fartas e olhar assustado.

 Aquela noite seria agitada com o vento lá fora que podia ser ouvido igual uivos de lobos, todos estavam abrigados e com comida enlatada disponível para passar a noite mas, nenhum deles conseguiu um banho descente que os limpasse de verdade - estavam livres do suor e da poeira, mas seus corpos estavam cansados e nada relaxados.

 A jovem duquesa tinha lágrimas nos olhos e se perguntava quanto tempo aguentaria aquilo antes de correr e se esconder debaixo das cobertas em casa. Karin mal lhe dirigia a palavra e seus olhares eram ameaçadores, o sorridente Naruto não parecia muito inteligente, mas a tratava super bem e lhe parecia um sol em meio a um dia chuvoso enquanto seu novo mestre Kakashi parecia ter sempre a cabeça nas nuvens, mas era um hábil lutador e conselheiro.

 Seu companheiro de quarto era quieto e silencioso igual uma rocha, conseguia até ser mais quieto que ela - o que parecia funcionar bem entre eles. A morena estava tão perdida em pensamentos que só notou que era chamada quando teve a visão interrompida por algo.

 - O-o que é isso? - Seus olhos estavam arregalados e olhavam para o potinho verde de forma curiosa. Sasuke suspirou novamente antes de balançar o objeto em mãos.

 - É pomada para dor, passe nas áreas roxas. - Hinata segurou o potinho em mãos enquanto se sentava no colchão. - Não preciso dele agora.

 - Obrigada U-uchiha-san.

 Sorrindo agradecida ela destampou apenas para sentir um forte aroma de menta, o creme viscoso não parecia ter sido feito em alguma farmácia - talvez alguém da família de Sasuke tivesse lhe dado de forma para se lembrar de casa - foi com esses pensamentos que Hinata ficou naquela noite antes de dormir.

XXXXXXXXXX REGISTO DE VIAGEM U.S. XXXXXXXXXXXXXX

 Não lembro da data e nem em que mês foi isso, só que a aproximadamente dez ou doze anos atrás quando ainda era um adolescente em busca de poder para ser reconhecido em casa que a conheci.

 Naruto e Karin já eram meus companheiros desde criança - morávamos perto o bastante para saber das coisas difíceis da vida um dos outros quando conhecemos Kakashi-sensei e ele acabou por se tornar um professor para todos nós. Saíamos em viagens apenas para testar nossos meios de sobrevivência enquanto crescíamos longe das responsabilidades de sermos os filhos herdeiros.

 Iriamos a China quando Kakashi-sensei nos contou que uma nova companheira se juntaria a equipe. A filha do Conde Hyuuga - todos sabiam de sua fama não só como um aristocrata que fugia da sociedade, mas como pelos seus feitos históricos então pensávamos... Pelo menos, eu pensei... Que sua filha seria mais destemida e ousada, não como Karin que chegava a ser desagradável, mas... Aquela ratinha miúda de pele quase translúcida e olhar meigo não parecia se encaixar naquela vida dura.

 Sempre pensei nela como uma boneca que deveria ficar guardada em uma caixa de vidro em algum lugar alto para não se quebrar... Só que a sua voz, céus... Foi naquele momento que senti meus instintos florescerem e fiquei me perguntando como alguém assim conseguiu me atrair.

 Tive muito tempo para pensar... E agora estou cá, morto... Ou nem tanto. Um Uchiha não morre tão fácil assim.

XXXXXXXXXXX DIAS ATUAIS - HUASCARÁN - HUARAZ, PERU XXXXXXXXX

 Depois de uma viagem demorada de navio e dois aviões a Hyuuga finalmente chegou ao continente Americano e pode apreciar as suas belezas tropicais e calorosas, bem diferente do jeito serio e pouco intimista dos europeus ou asiáticos - ficou entre alguns povos pequenos da região que a acompanharam ate a localização de sua nova caçada, mas seguiria viagem sozinha - ninguém mais precisava saber da existência daquelas pedras.

 O clima era mais ameno e sentia as pedras um pouco escorregadiças por causa da neve, mas mantinha-se firme enquanto escalava e já conseguia avistar o topo - mesmo que um pouco encoberto. Subir um dos vários pontos da Montanha a fizera apreciar ainda mais aquele lugar, apesar do frio e da neblina, o lugar parecia saído de um conto.

 - Pode me explicar novamente por que está no meio de tanta neve? - A voz ruidosa de Kiba era a sua única companhia naquele lugar. - Pare de olhar tanto para baixo, me deixa enjoado!

 Hinata tentou segurar o riso, podia escutar Shino reclamando ao fundo com o amigo.

 - Pare de olhar! Estou quase no topo, e você? - Os dois podiam escutar o arfar da morena enquanto escalava. - Saia desse sofá e da biblioteca!

 - Aqui é tão confortável Hinata-chan e bem longe do abutre. - Shino apenas concordou, os Hyuugas os tratavam super bem, mas o primo de Hinata conseguia reclamar até do modo como eles respiravam, o que deixava o moreno de marcas nas bochechas irritado.

 Ela teria rido mais, só que agora havia finalmente alcançado o topo e as reclamações do Inuzuka não pareciam ter tanta importância quanto aquela visão de tirar o fôlego - apensar da neve podia-se observar os picos gelados e as lagunas de um azul turquesa que pareciam refletir o céu - não existia lugar melhor para se morrer, esse era o seu pensamento. Depois de horas caminhando e escalando sentia o corpo pesado, mas não era hora para se descansar, aos seus pés lá embaixo podia-se ver parte do sítio de escavação das ruínas de Chavín de Huantar.

 - Me sinto nos céus, literalmente falando. - Não obteve respostas do amigo e apenas passou a caminhar pelo local, de acordo com o mapa que tinha consigo deveria estar perto da entrada, mas antes deveria achar um portal.

 - Então não se preocupa que seu ex-companheiro-fantasma apareça por aí? - Kiba não perdia uma oportunidade de lhe bagunçar. - Já que está no céu? - Hinata não podia ver, mas Kiba fez um sinal de cruz enquanto falava do morto.

 - Pro inferno Kiba-kun! - Essa fora a única coisa dita por Hinata antes de sair caminhando pelo local, tinha seus olhos acostumados a observar os mínimos detalhes então apenas deixou que os sons naturais a acompanhassem naquela jornada. Os detalhes como a volta dos mortos ou irmãos mais velhos fora totalmente varrida para debaixo do tapete por enquanto.

XXXXXXXXXXXXXX ZHANGYE - GANSU, CHINA XXXXXXXXXXXXXXX

 A água fria fazia seus dentes trincarem e o corpo doer ainda mais, se era um banho relaxante que queria - deveria ir para casa então - foi com esses pensamentos que tratou de se molhar o mais rápido possível para sair dali, sabia que se não toma-se um banho de verdade acabaria por feder pior que peixe podre - mas, o que poderia fazer? Estava no meio do nada acampada com outros homens e a sua única companhia feminina parecia um dragão raivoso.

 Foi com esses pensamentos que saiu rapidamente da água corrente e se escondeu no meio de suas roupas quentes e confortáveis - as botas marrons com pelo lhe traziam um alento e uma lembrança de afeto vinda de seu primo Neji - mesmo com raiva e a contra gosto daquela viagem, ele lhe fora gentil o suficiente para lhe dar o par de botas mais confortável e quentinho que poderia arranjar.

 O pequeno córrego transmitia as cores alaranjadas das rochas e parecia esconder as pessoas - o que lhe era de grande alívio - jamais trocaria de roupa na frente de outra pessoa. Foi prestando atenção em cada formação rochosa do lugar que voltou ao acampamento, tinha sido a ultima a ir se banhar então estavam todos a sua espera, era a hora do almoço e todos estavam famintos.

 Sentia falta da comida do tio nessas horas, para o desagrado do pai que insistia em dizer que o irmão mais novo não precisava se meter no meio da cozinha.

 - Espero que goste da comida de hoje Hinata-chan! Consegui coelhos! - A voz animada de Naruto sempre a deixava com um rubor nas bochechas e a fazia lembrar da irmãzinha.

Chapter Text

'' O destino dos que procuram a vingança é sombrio. ''

- Hatake Kakashi, Naruto

Distinto Demônio - Part 2

XXXXXXXXX DIAS ATUAIS - HUASCARÁN - HUARAZ, PERU XXXXXXXXX

O interior da montanha não condizia minimamente com o seu exterior, lá dentro haviam várias passagens e mais parecia um labirinto sem saída. Hinata sentia o seu corpo aquecido graças a corrida que fazia - havia por acidente ativado uma armadilha e agora tinha uma rocha oval gigante atrás de si - não sabia exatamente em que direção ia, só queria achar um lugar bom o suficiente para se jogar e escapar, mas até agora seguia um caminho reto sem curvas.

Os deuses ouviram suas preces e uma curva foi a deixa para se espremer contra a parede e a rocha seguir adiante. Sentia o coração palpitar e tinha até a vista um pouco turva pelo esforço.

- Essa foi por pouco. - A voz de Kiba vinda do fone a assustou a principio, havia esquecido totalmente do amigo.

- Você me assusta as vezes Kiba-kun.

- Digo o mesmo, só que sou um homem muito corajoso e apto para o trabalho. - Kiba então começou a resmungar. - O problema é essa mini câmera presa a sua roupa e o fone que me permite não só escutar como vê tudo o que você vê.

Ela apensas suspirou e voltou a caminhar, ainda era um caminho reto e não queria saber que fim tinha a rocha anterior, então apenas parou e tirou a bússola do bolso - o norte não ficava muito longe então ainda andaria mais um pouco - tinha a noção de ter dado a volta no mundo e mesmo assim não ter saído do lugar.

Kiba fez silêncio ao lado de Shino enquanto observavam tudo pelo écran da tela, as paredes eram cobertas por uma fina vegetação e pequenos filetes de água que emergiam de fendas, a fumaça fria ainda podia ser vista mesmo através da tela. Um lugar frio que parecia desabitado e esquecido pelo homem.

Quando enfim uma forte luz se fez presente os três suspiraram - o lugar era de tirar o fôlego e os ouvidos super sensíveis de Kiba sofreram ao escutar o gritinho de entusiasmo da Hyuuga. O lugar tinha uma enorme serpente rochosa de boca aberta jorrando água e aos seus pés tinham formações que lembravam vagamente humanos, em um dos olhos da serpente rochosa algo brilhava intensamente.

O caminho até lá era composto por pedras soltas na água, mas nada que abalasse a felicidade da morena que finalmente havia achado o seu maior desejo no momento.

XXXXXXXXXXXXX REGISTO DE VIAGEM U.S. XXXXXXXXXXXXXXX

Nós éramos diferentes desde sempre, ele era o gênio que sempre se dava bem em tudo, e eu... Eu era a segunda opção de todos, um desastre.

Nosso pai sempre o preferiu e nunca escondeu isso de mim, minha mãe... Tudo era diferente com ela mas, mesmo assim eu sabia... O amor dela por ele era sempre maior que por mim.

O engraçado disso tudo, o amor que sempre busquei neles, só encontrei naquele de quem sempre tive inveja. Ele me ensinou tudo o que poderia ensinar a uma criança cinco anos mais nova e desesperada por atenção... Mesmo que eu nunca admita isso em voz alta.

O que sou agora é tudo a sombra do que ele nunca foi. Sou uma sombra, um pária enquanto ele é requisitado, influente, mais forte e... Quem escolheria alguém como eu por filho?

Mas foi ele que me apoiou, lutou pelos meus desejos e me ajudou a seguir nesta vida como explorador enquanto ele seguia seu destino de ser o chefe da família e ser líder de um clã... Então, eu lembro que ela é tudo isso também, uma pessoa influente e líder de um clã respeitado, como seria a sua vida agora...

No começo, ela fugia de mim igual o diabo foge da cruz, mas eu via... Sentia o seu desejo, seu olhar de cobiça... Felizmente ela era diferente das outras e não me agarrava ou fazia juras de amor eterno... Infelizmente isso também me impedia de sentir suas mãos macias ou escutar aquela voz melodiosa com mais facilidade.

Dividir a tenda com ela parecia um sacrifício enorme no começo, ela tinha medo de mim e eu nunca fui agradável com ninguém... Só que depois, aquela voz me fazia desejar agarra-la e joga-la naquele colchão da barraca e fazer loucuras para dois adolescentes. Nunca desejei tanto alguém como ela naquela época.

Estava ficando cada vez mais vulnerável e aquilo não me parecia nada bom.

XXXXXXXXX DIAS ATUAIS - HUASCARÁN - HUARAZ, PERU XXXXXXXXX

- É tão bonito. - A voz de Hinata ressoou por todo lugar com um eco longo e profundo.

- Sabemos disso, agora pega logo aquela pedra antes que o teto caia sobre a sua cabeça. - A voz ansiosa de Kiba acabava com seus prazeres, as vezes se perguntava por que não tinha o deixado se afogar naquele lago quando mais novo.

A morena riu, mas fez o que foi mandado e avistou alguns ramos grossos o suficiente para aguentar o seu peso - não era magrinha como outras mulheres - então tinha que sempre pensar com cuidado onde pisava.

- Hinata-chan, é mesmo a pedra da luz? - A voz de Shino era mais suave e baixa, não queria distrair a amiga, mas aquela luz cintilante que emanava do olho da cobra era mais que fascinante até mesmo para ele que era um amante assumido de insetos.

- Sim, sim... Só que por as mãos nela será um pouco complicado, as paredes não me parecem muito seguras. - Os olhos dela tentavam de fato encontrar um lugar mais fácil para a escalada, mas a água que escorria daquela boca aberta havia feito estragos no corpo de rocha deixando tudo mais liso e cheio de limo. - Não vai ser uma subida muito legal.

- Tente usar as luvas com pinos de metal. - A sugestão do Aburame foi certeira. - Obrigada Shino-kun.

As luvas estavam no bolso - eram pretas, mas continham diferente das convencionais, pontas levemente arredondadas para maior atrito e fixação em locais desnivelados - era um presente do seu pai. Foi assim caminhando pelas pedras soltas até ficar lado lado da água corrente, as plantas pareciam firmes o suficiente e não parecia haver nenhum mecanismo de defesa que a impedisse de subir.

Agarrou-se e foi subindo devagar, testando toda superfície e quando atingiu o topo, foi deslizando até chegar a cabeça, ainda se podia ver as formas das escamas - um trabalho bem feito, parecia até reluzir ainda mesmo que por baixo daquele limo todo. Foi se deslizando igual uma serpente até ficar na altura dos olhos de pedra - o olho direito não era o orbe, mas parecia reluzir feito ouro enquanto a outra era clara e lembrava vagamente os olhos Hyuugas.

Depois de retirar o orbe - o mesmo tinha as mesmas formas desenhadas em sua superfície - e tinha o mesmo calor que parecia aquecer o seu corpo de dentro para fora, talvez fosse isso mesmo, pois passara a baforar mais quente do antes.

- É tão bonita. - Os olhos da Hyuuga brilhavam olhando aquela nova aquisição.

Do outro lado da tela Kiba e Shino observavam a tudo calados e por estarem tão concentrados na visão a suas frentes que não notaram quando outro Hyuuga entrou na sala. Neji sabia que a prima já estava em outra aventura mirabolante e desejava com todas as forças que fosse a ultima - coisa que definitivamente não seria - conhecia bem demais a mais nova para saber disso.

O aparelho que usavam emitiu um forte barulho e todos os três puderam ver quando o teto começou a ceder - das rachaduras algumas coisas começavam a sair rastejando e apenas o grito de susto de Hinata foi ouvido por eles.

- Hinata! Saia dai! - Os três amigos se assustaram com o grito vindo de Neji, estavam distraídos demais para notar o novo companheiro de sala.

- São serpentes! Várias delas! - O comentário da Hyuuga foi escutado pelos três enquanto ela deslizava pelo corpo de pedra enquanto corria - as pedras antes que facilitaram seu caminho agora estavam afundando e a água parecia subir rápido - se não achasse a saída mais próxima poderia morrer afogada ou pelo veneno daqueles animais.

Hinata corria com a pedra em mãos, as luvas estavam dificultando um pouco, mas naquele momento tudo o que ela queria era sair dali o mais rápido possível. Foi indo pelo corredor contrário ao que entrou enquanto escutava o sibilar das serpentes em seu encalço, parecia aumentar a cada passada que dava.

Não saberia dizer em que momento enfiou a orbe branca dentro da bolsinha que carregava nas costas e nem quando foi parar em uma sala aberta com várias passagens.

- A porta da esquerda! A segunda porta! - Shino mandou apressadamente. - Corre!

Graças aos seus os seus companheiros contavam com o mais alto equipamento tecnológico e pode através dele detectar as ondas de calor - só queria que tivessem visto as serpentes mais cedo - claramente um erro que não iria acontecer novamente.

- Acho bom sair daí com vida Hinata-chan! - Kiba falou em seu ouvido. - Neji esta te ameaçando, se morrer, ele se suicida e vai atrás de você!

A morena riu enquanto seguia o caminho indicado pelo amigo. Foi seguindo reto e o barulho das serpentes parecia finalmente diminuir enquanto um brilho surgia a sua frente - o ar gelado alcançou o seu rosto como uma brisa de boas vindas e tudo o que ouvia era o mais puro vento que passava entre as montanhas.

- Graças a Kami, me senti revivendo a captura do orbe vermelho. - Ela respiarava ofegante enquanto olhava a entrada da caverna fechar-se novamente com um forte estrondo seguido de um pedregulho que acabou por esmagar algumas serpentes que ainda estavam por seguir atrás dela.

Antes que seus amigos ou seu primo pudessem dizer alguma coisa Hinata se sentiu cercada e ameaçada - através da bruma vinda do lugar podia-se observar silhuetas escondidas a sua volta - talvez cinco ou seis pessoas. É claro que o característico barulho de armas sendo carregadas também se fez presente.

- Duquesa Hyuuga, que prazer finalmente conhece-la. - A voz que a saudou era no mínimo sedutora e incrivelmente familiar, mas ela não conseguia associar a ninguém em suas lembranças momentâneas.

A sombra que emergiu da neblina era bonita e alta, o porte físico de um rei e a aparência de um anjo - um daqueles que caiu dos céus precisamente, mas ainda um anjo - o cabelo preto e escorrido estava amarrado em um laço bem depositado ao seu ombro, mas foram os olhos que a prenderam no lugar, mesmo com aquelas marcas de olheiras, o tom de ônix lhe era familiar demais.

- Quem é você? - A falta de modos provavelmente causaria uma gastura em seu primo, mas quem liga pra isso nesses momentos.

- Ah, perdão. - O sorriso de lado era o mesmo, os dois pareciam a cópia carbono um do outro. Assustador.

- Desculpe a indelicadeza de minha parte, me chamo Uchiha Itachi.

- Prazer. - Foi com muito custo que continuou a falar. - Hyuuga Hinata, mas acho que o senhor já saiba quem sou.

- Eu disse que era ele. - O sussurro de Kiba passou quase que despercebido pela morena.

- Não usemos de nossas armas, não seria muito delicado. - O comentário de Itachi a fez arregalar um pouco os olhos, tentava ser o mais discreta possível ao tentar pegar a sua pequena glock nas costas. - Como deu pra notar, tenho mais homens e munição, não vamos ser indisciplinados.

- O que você quer então? Não tenho tempo para sentar e tomar chá. - O sorriso do homem sumiu de sua face tão rápido quanto havia surgido.

- Estou trabalhando neste ramo a alguns anos exclusivamente em expedição atrás dessas relíquias e tenho sido... Sabotado, por assim dizer, que a vossa senhoria e meu queridíssimo irmão fizeram isso. - Itachi gesticulava enquanto falava de suas atuais façanhas. - Perdi meu tempo fazendo novas buscas pois, enquanto apenas possuo duas peças o meu irmão já está a minha frente com a sua ajuda.

- Irmão? N-não sabia que possuía irmãos senhor Uchiha. - A cabeça da morena parecia que ia explodir com aquela informação. O olhar do Uchiha parecia divertido enquanto lhe respondia.

- Além do Sasuke? Nenhum que esteja vivo por aí, meus pais foram muito fiéis.

- B-bom, que eu saiba, o S-sasuk-ke esta morto. - Falar o nome do antigo parceiro ainda lhe causava muita dor.

- Que engraçado pensar assim não acha? - Itachi voltou a seriedade enquanto contava as boas novas a garotinha a sua frente. - Um tempo atrás o vi pessoalmente, tão desgrenhado quanto um mendigo possa ser, mas ainda era o meu irmãozinho me roubando descaradamente uma joia tão importante quanto essa em suas mãos agora.

- Devo comentar alto que estava mais uma vez certo? - O comentário de Kiba fora totalmente ignorado pelo amigo e Hyuugas.

Os sentimentos que Hinata sentia só poderiam ser descritos como ódio, raiva e mágoa por ele... Não só ele como a seus antigos companheiros que deveriam saber sobre a verdade durante todo esse tempo e preferiram fingir que não era nada demais e a mandaram embora igual um peso morto. Se pudesse encontrar cada um deles, não hesitaria em meter bala em cada um deles.

E mais uma vez estava com a vida arriscada por causa dele. Não. Pelo irmão mais velho e presumidamente mais forte que ela, até por que, enquanto ela estava sozinha ele aparecera ali com homens armados até os dentes. Mataria o Uchiha e jogarias suas cinzas em algum vulcão - e ela não se referia a um especifico.

- Claro que nunca chegaria a matar o meu irmão, não sou um selvagem. - A voz dissimulada do moreno a tirou de seu torpor momentâneo de ódio. - Então, estou aqui encarecidamente atrás de um acordo que agrade a nós dois Duquesa.

- A sua esquerda Hinata-chan. - Esse foi o único sussurro que escutara direito, Shino tinha um plano. Foi se afastando lentamente enquanto respondia ao Uchiha.

- Terei que recusar Lord Uchiha, por mais que seja tentadora a sua proposta.

A única coisa que aconteceu após essa frase foi uma saraivada de tiros em direção da morena que correra para trás enquanto descia aquele lugar de forma irregular. Mais abaixo sabia que descia uma parte da nascente com água o suficiente para se enfiar dentro - tudo o que precisava naquele momento era continuar descendo o mais rápido possível e sair dali sem tantos litros a menos de sangue no corpo.

Um loiro vinha mais a frente e parecia ser o mais rápido do grupo, parecia farejar a morena até perde-la de vista em uma formação rochosa - a única coisa que escutara após isso foi o barulho alto de alguma coisa batendo em água - mais a baixo, um rio começava a se formar e graças a neblina fria que era mais grossa na parte baixa pouco podia ser visto.

- Merda! Un! Encontrem-na! - O loiro parecia raivoso. - Espero que morra de frio! Un!

- Acho difícil, a garota tem sido uma pedra em nossos sapatos a muito tempo Deidara. - A voz do Uchiha vinha logo atrás de si, o moreno não parecia aborrecido. - Vejam nas proximidades, ela não deve estar tão longe assim.

Os homens saíram depois do comando do Uchiha, enquanto ele ficava a pensar o quanto era parecido com o seu irmão mais novo em alguns aspectos e não pode deixar de rir - os dois compartilhavam de gostos muito parecidos.

Chapter Text

'' A única razão de sermos tão apegados às memórias, é que elas não mudam, mesmo que as pessoas tenham mudado. ''

- Sabaku No Gaara, Naruto

Tentação

XXXXXXXX ZHANGYE - GANSU, CHINA XXXXXXXXX

 O vento lá fora era cortante e qualquer barulho fora os trovões era escutado nas tendas, quer dizer, quase todas. Hinata encolhia-se a uma bola toda vez que fazia-se um barulho nos céus e ela rezava a eles que parassem ou ela não dormiria aquela noite - e nem o Uchiha ao seu lado que parecia bufar através das cobertas. Não havia o que poderia ser feito, desde mais nova que ela morria de medo de tempestades.

- Hyuuga, são apenas trovões, não vão mata-la! - A voz indignada de Sasuke pode ser ouvida, mas para ela aquilo não era nada amigável, estava morrendo de medo e já podia sentir os olhos molhados pelas lágrimas não derramadas.

 A última coisa que conseguia era se acalmar e ignorar os sons lá fora. Então tudo pareceu ficar em silêncio. Sentiu um calor agradável através das cobertas e dois pares fortes de mãos lhe segurando, num momento estava só e no outro se encontrava sendo abraçada pelo Uchiha.

 Hinata teria gritado se tivesse voz, mas o choque lhe deixou muda, o que agradou o moreno no momento, agora lá estava ele a lhe afagar os curtos cabelos azulados enquanto o mundo parecia ruir lá fora. Sentia o rosto esquentar e agradecia pela garota de olhos perolados estar coberta e não poder vê-lo naquele momento. Ela não estava numa situação muito diferente do moreno, corada dos pés a cabeça, Hinata tentava raciocinar enquanto lidava com a sua atual situação - quando estava em casa em noites de tempestades, cabia ao seu primo Neji lhe confortar e acalma-la, mas o máximo que o primo fazia era lhe segurar as mãos toda vez que gritava de medo - ter um corpo maior e mais forte que o seu daquela forma lhe parecia muito intimo.

 Mas antes que tenta-se formular qualquer frase para o Uchiha outro raio cruzou os céus e ela agradeceu a eles por ter o rapaz lhe ajudando naquele momento, o abraçou tão forte que pode escutar o barulho de alguma coisa estalando - o movimento rápido de retirar as cobertas e se agarrar a Sasuke o deixara surpreso, não imaginaria que seria abraçado de volta. Os dois não falaram nada, apenas ficaram abraçados enquanto chovia lá fora e acabaram por dormir assim, com as mãos pousadas nas costas de sua companheira de cabana enquanto a cabeça dela repousava em seu peito.

XXXXXXXXX DIAS ATUAIS, KONOHA - JAPÃO XXXXXXXXXXX

 Neji apenas observava como a sua prima parecia um animal enjaulado andando em círculos no centro do tapete tibetano da sala de chá enquanto resmungava as melhores formas de torturas ao ser humano. Normalmente ele iria explicar como aquela atitude não seria nenhum pouco apropriada para uma dama da sociedade como ela, mas a quem queria enganar? A prima poderia envolve-lo nas torturas, então apenas observava calado enquanto fingia bebericar seu chá.

- Neji, o que acha de espanca-lo com um taco de golfe? Ou quem sabe corta-lo e jogar sal em suas feridas... - Hinata passou novamente a resmungar, enquanto o outro Hyuuga sentia a sua sobrancelha tremer diante daquelas maluquices da prima. - Talvez um pouco de ácido não seria má ideia, o que me diz?

- Você espera que ele sobreviva a tudo isso no final?

- Mas é claro, ele me deve muitas explicações! - Hinata fechou a cara enquanto parava de andar. - Ele mentiu para mim, ninguém faz isso e sai ileso!

 Neji apenas suspirou enquanto balançava a cabeça negativamente - aquela vida que sua prima levava a fez virar um homem das cavernas. - Sinceramente, penso que deveria se preocupar mais com o mais velho, Itachi-san é a sua pedra no sapato neste momento.

 Hinata sentiu o rosto corar ao lembrar do moreno mais velho - pelas pesquisas de Kiba o senhor Uchiha já tinha mais de trinta anos e não era casado, mesmo sendo dono de muito dinheiro e influencia na região - seus pais viviam tranquilos em uma fazenda deixando tudo nas mãos dele enquanto seu irmão mais novo saia do tumulo para lhe roubar, mas não podia negar, era um homem muito bonito, aliás - bonito até demais.

- Ele não é importante.

- Não vá se apaixonar pelo problema Hinata. - A frase dita pelo primo a fez enrugar as sobrancelhas, naquele momento a sua única preocupação era encontrar o mais novo dos irmãos e lhe dar uma coça. Vendo que não conseguiria nada com o primo tratou de sair de lá, precisava pensar e não conseguia fazer isso de estomago vazio - talvez conseguisse algo na cozinha se o seu tio estivesse por lá - e depois iria praticar, a sua mira ainda não era das melhores.

XXXXXXXXXX ZHANGYE - GANSU, CHINA XXXXXXXXX

 O estampido pode ser escutado de longe.

- Uau Hinata-chan! Que mira! Da próxima vez deveria vir comigo caçar, tenho certeza que teríamos mais alimentos assim! - A voz animada de Naruto a fez ruborizar enquanto abaixava a arma, a sua mira estava melhorando e conseguira acertar todos os alvos com perfeição enquanto era observada pelos outros.

- É realmente de se admirar Hinata-chan. - Até mesmo Kakashi lhe elogiou, de todos os quatro era apenas ele e Sasuke com boas pontarias e agora com a adição da Hyuuga, uma nova força parecia surgir naquele grupo. Atirar com uma arma era completamente diferente de atirar usando arco e flecha e sabia muito bem manuseá-lo, mas não sabia se estaria apta a usar um arma de fogo - já vira seu pai e tio usando em caçadas quanto tinham tempo e sempre escutara como são perigosas e fatais - esperava nunca precisar de fato usar uma. 

XXXXXXXX DIAS ATUAIS, KONOHA - JAPÃO XXXXXXXXXX

 Havia momentos na vida da Hyuuga que ela desejava não ter o sobrenome que tinha, e aquele era um desses momentos - um jantar formal feito por uma família influente como os Nara não deveria de fato ser ignorada e muito menos esquecida então lá estava ela de braços dados com o pai enquanto andavam pelo salão cumprimentando a velhos conhecidos que não sabiam ainda de sua volta ao Japão.

 O seus afazeres eram discretos se comparados aos de seu velho pai - não era de conhecimento público que Hinata era uma caçadora de artefatos, então para muitos ela era apenas uma moça que já passava da idade de casar que preferia viajar o mundo do que dar netos ao pai - Neji poderia concordar com o fato de que a prima deveria constituir família mas, se ela estava feliz assim, que mal teria em continuar.

 A sua mente não estava necessariamente naquele ambiente de música calma e lenta - pensava na ultima peça e como fazeria para encontra-la, não havia achado em mapas a sua localização e muito menos alguma pista como as outras que tinham poemas ou pinturas. A mansão da família Nara era bastante grande e de aspecto acolhedor, então para os três Hyuugas presentes não era um incomodo ficar alguns instantes antes de voltarem para casa - para a sorte de Hanabi que pode recusar ao explicar que ficaria com a prima/cunhada Tenten de olho em seu filho enquanto Hizashi apenas recusou - seu irmão era o líder então ele que fosse, simples assim.

 Hinata logo se separou do primo e fugiu em direção das mesas de comes e bebes - precisava de álcool para apaziguar as ideias que vinha tendo para quando encontrar o Uchiha - o discurso do patriarca Shikaku sobre a noite agradável era um monologo que mal lhe passava pela cabeça quando escutou risadinhas vindo de um grupo perto de si composto por mulheres que se afogavam em babados e seda rendada.

- Vejam! Vejam! Ele é tão charmoso.

- Um deus grego! - A moça passou a se abanar enquanto falava com as outras. - Gostaria de ver mais dessa divindade.

 As risadinhas continuaram e com a sua curiosidade gritando a Hyuuga procurou por esse deus grego de que elas tanto falavam e então sentiu o chão sumir dos seus pés por uns instantes ao ver quem era.

- Esta olhando nesta direção! - Elas pareciam tão animados ao vê-lo que Hinata acabou soltando uma risada involuntária, apesar de não gostar da visão que tinha daquele homem. Elas olharam para a direção da morena e cochicharam a seu respeito - É a garota Hyuuga!

- Garota? Ela está mais para uma solteirona, a minha irmãzinha sim é uma garota!

- Riquinha metida a besta! Se acha só por que é Duquesa!

- Deixem a esquisita para lá! Olhem! Ele esta vindo! - O que parecia ser uma competição de quem estava mais bem vestida e tinha o sorriso mais encantador acabou assim que o moreno passara por ela e fora cumprimentar Hinata.

- Duquesa Hyuuga, que honra vê-la mais uma vez. - A voz continha um tom de malícia que a deixou desconcertada, fazia tanto tempo que alguém falara assim com ela que não pode deixar de ficar mexida.

 Uchiha Itachi vestia um terno todo preto composto com uma camisa de tom carmesim que parecia reluzir a cor dos seus olhos negros - um brilho avermelhado parecia sair deles - o cabelo preto perfeitamente amarrado era um contraste com aquela pele pálida de quem não dormia bem a alguns dias. Talvez ele não dormisse mesmo, sabendo que tinha um irmão voltado dos mortos a lhe roubar.

- A momentos atrás pensava em como me vingar do seu irmão, mas penso que o senhor não gostaria de ser o seu substituto. - O comentário ácido e nenhum pouco formal da Duquesa o fez rir.

- Essa pose de valentona não combina em nada com a vossa aparência senhora, deveria sorrir e aceitar uma dança comigo. - Hinata não teve tempo de responder, o Uchiha a conduzira ao centro do salão onde outros casais também dançavam.

 Hinata não pode evitar corar, não dançava abertamente em festas a não ser com seu primo, tio ou pai então ser conduzida dessa forma por alguém como o Uchiha lhe parecia um pouco constrangedor e sabia que tinha virado alvo de fofoca - sentia o olhar do pai e primo queimando em suas costas e não podiam fazer nada - ninguém ali queria virar alvo de algum escândalo, por menor que fosse.

- Devo confessar que fiquei surpreso com a sua presença neste jantar, nunca vejo as mulheres Hyuugas nesses lugares. - Itachi falava a olhando nos olhos, com a cabeça baixa ele parecia sussurrar muito próximo de seu rosto corado. - Exceto, a esposa de seu primo que devo recordar deve estar descansando após ter um bebê.

- É um homem muito bem informado senhor Uchiha. - Aquela voz parecia lhe embriagar de alguma forma e Hinata não estava gostando disso, essa aproximação toda a estava deixando mais nervosa do que gostaria de admitir.

 Hinata não saberia dizer se a música havia acabado ou não, ele não parecia disposto a solta-la enquanto rodopiavam por ai - em uma dessas voltas teve a certeza de ver o primo tentando se aproximar, mas sendo segurado pelo tio - ela deveria se livrar daquele problema sozinha.

- A minha proposta ainda esta de pé Duquesa, tenho certeza que as coisas seriam agráveis se nos uníssemos contra o meu querido irmão. - Os lábios de Itachi raspavam em suas bochechas e lhe davam arrepios.

- S-sugiro que não peça novamente por minha ajuda. - Hinata suspirou quando enfim fora solta por ele. - Não sei o que pensa a meu respeito, mas não conseguirá as minhas peças dessa forma.

 Itachi riu e se curvou um pouco, beijando a mão da Hyuuga e se aproximando novamente - o corpo dos dois pareciam estar colados de tão próximos a deixando em alerta - num momento rápido e que lhe fora de um tanto ousadia teve um beijo rápido roubado de seu ex parceiro de dança.

- A deixarei pensar mais sobre isso Duquesa, por hora a deixarei em paz. - Curvando-se um pouco Uchiha Itachi saiu do salão a deixando paralisada pelo seu comportamento. Fora minutos depois engolida pelo pai e primo que viram tudo o que acontecera.

- Devo ir atrás daquele bastardo tio? - A voz raivosa de Neji a trouxera de volta a realidade.

- Não, sem escândalos ou até mesmo eu já teria atirado contra aquele rapaz. - Hiashi continuou. - O comportamento dele não reflete em nada os ensinamentos deixado por Fugaku-san.

Neji parecia bufar enquanto Hiashi e Hinata apenas suspiraram, a noite para eles havia acabado e não tinha sido muito bem aproveitada.

XXXXXXXX ZHANGYE - GANSU, CHINA XXXXXXXXX

- Do que tem medo exatamente? Não é como se fosse lhe machucar.

 Os dois estavam na mesma situação - o vento chiava lá fora e só podiam escutar as gotas de chuva caindo violentamente no chão - lá dentro os dois estavam juntos novamente, desta vez abraçados e para melhorar a situação Sasuke acabou por juntas os dois colchões que estavam estirados no chão para ficar mais confortável para os dois.

- N-não s-sei. - Hinata estava deitada com os braços rodeados no tronco do Uchiha enquanto sua cabeça repousava no seu peito e podia dessa forma escutar os batimentos de seu coração. - F-fico de-dessa forma t-toda vez que c-cai t-tempestade.

 Outro trovão cruzou os céus e desta vez ela apenas apertou ainda mais o Uchiha, parecia que ele nem conseguia respirar de tão apertado e era aquele cheiro dele que parecia acalma-la no meio de todo aquele caos.

- Não tenho esses medos bobos.

- N-não é b-bobo! - Hinata não conseguia ver o rosto do moreno direito, pois estavam com a lamparina apagada, mas podia notar o Uchiha franzindo o cenho enquanto tinha seu corpo apertado como se fosse um ursinho de pelúcia, mas enquanto ele não reclamasse de ser apertado daquele jeito ela estava agradecendo.

- O que faz para não ter medo?

- G-geral-mente Neji can-cantava p-para mim do-dormir. - Enquanto sussurrava aquele momento intimo dos primos não pode deixar de sorrir, pobre Neji que vinha ao seu quarto segurar em suas mãos e cantar musicas bobas de criancinha para poder faze-la dormir.

- Não espere que eu cante para você. - Sasuke sussurrou quase horrorizado com essa ideia, nunca tinha feito seu irmão mias velho passar por algo parecido e não seria ele a fazer isso.

- N-não tem p-problema. - Ela não pode deixar de rir. - M-mas se-seria eng-graçado.

 Ela parou de rir quando sentiu as mãos dele se moverem pelas suas costas. De repente sentiu o seu olhar cair sobre si e não pode deixar de corar, aquele olhar dele parecia atravessar a sua alma e lhe devorar inteira - quando ela conseguiu fixar seu olhar no dele parecia como se o mundo lá fora tivesse parado de rodar e tudo tivesse ficado em silêncio.

 Não soube dizer quando e nem como num momento estavam se olhando e no outro se beijando - os lábios de Sasuke pareciam se fundir com o seu e como ela nunca tinha beijado antes não sabia como reagir e nem como corresponder a aquele ato - foi com um arfar que deixou o beijo mais intenso e sentiu a língua de Sasuke roçar na sua. Céus, se ele queria a seduzir, estava conseguindo.

 O beijo era doce, a boca da pequena Hyuuga parecia como um pedaço do céu que deveria abrigar anjos - Sasuke estava tentado a ir mais além, mas sabia que aquilo a assustaria até a alma e não queria magoá-la de forma alguma - se contentou em apenas passar as mãos em suas costas e agarrar seus curtos cabelos azulados. Se afastaram e tentavam recuperar a sua respiração enquanto pensavam o quanto aquilo havia sido diferente e estranhamente bom - Hinata não sabia o que se passava na cabeça do Uchiha, mas sabia que ele não iria passar disso - enquanto Sasuke pensava em como poderia continuar a beija-la sem serem interrompidos.

 As noites de tempestade passaram a ser as preferidas do Uchiha daquele dia em diante sem ele ao menos perceber por que.