Chapter Text
Será que foi essa a sensação que a princesa sentiu ao tomar o veneno?
A dor me consumia de dentro para fora, mais cruel do que qualquer lâmina ou flecha que já enfrentei nas guerras que comandei. Não era apenas física, era como se cada batida do coração rasgasse minha alma.
[SISTEMA]
Sistema? O que é isso?
[PROJETO: PROTEÇÃO À PRINCESA FALSA DO DUCADO]
ACEITAR | NEGAR
Minha intuição sempre foi minha aliada. Mesmo tomado pelo medo, cliquei em ACEITAR. Em seguida, fui engolido por um breu profundo, um vazio sufocante.
Então ouvi uma voz familiar mas ao mesmo tempo estranha, distante, como um eco vindo de outro mundo. Olhei para cima e vi… minha princesa. Só que não era ela.
“Pequeno príncipe, a mulher à sua frente é Cha Siyoon.”
As palavras me golpearam como uma lâmina gelada. Lembrei-me da conversa que tive com a princesa semanas atrás:
— Eu vim de um lugar distante, onde estava construindo minha vida como arqueóloga, disse ela.
— Até que acordei no corpo de Penélope.
Agora fazia sentido. A verdadeira aparência da princesa estava diante de mim. Eram idênticas… mas tão diferentes.
Enquanto meus olhos percorriam a tela luminosa do sistema, imagens me invadiram em avalanche. Eu via tudo: cada memória, cada injustiça, cada ferida aberta na alma dela. Vi sua felicidade ao estudar arqueologia, a alegria inocente ao encontrar um esqueleto na caverna. Mas também vi a dor sufocante de viver no corpo da duquesa, as tentativas falhas de sobreviver, os ciclos de morte e derrota.
Meu estômago se revirou. Uma náusea cruel me dominou. Era como se eu estivesse morrendo com ela.
De repente, um rugido ecoou, fazendo o vazio tremer. Uma luz dourada explodiu, cortando a escuridão como um sol nascendo em plena noite. Na direção do som, vi o grande dragão dourado — Sylas, o símbolo de Eorka, aquele cujas histórias todos os cidadãos reverenciavam. Ele era colossal, imponente, e seus olhos brilhavam como brasas vivas.
Por um instante, temi que seu fogo viesse apenas para acabar com meu sofrimento.
— Olá, herdeiro… — a voz ecoou grave, carregada de séculos de sabedoria. — Vejo que o futuro não tem sido gentil com nosso reino. Aquele demônio… conseguiu derrotá-la quase todas as vezes. Mas desta vez, finalmente, foi vencida.
— Preste atenção, criança — rugiu Sylas, e o som reverberou como trovões em cavernas ancestrais. Meus joelhos quase cederam.
— Já viu todo o passado. Agora compreende que grande parte do sofrimento daquela jovem veio de vocês.
Seu olhar dourado me atravessava como se pudesse ver até o mais profundo de minha alma.
— Você é o único que pode mudar esse destino — continuou.
— A única peça que ainda pode impedir que tudo se repita.
— Que… missão é essa? — engoli em seco, meu coração disparado, lutando contra o medo que ameaçava me dominar.
— Esta é a última oportunidade, herdeiro — a voz de Sylas se tornou um rugido baixo, carregado de gravidade.
— Voltará ao passado, ao ponto inicial desta linha do tempo. Lá, deverá proteger Cha Si Yoon acima de tudo. Não basta salvá-la: precisará conquistar sua confiança. Sem isso, não haverá vitória.
Senti minhas mãos tremerem. O peso da responsabilidade era esmagador.
— Mas… como saberei que é ela de fato? — perguntei, quase implorando.
— Como poderei enfrentar aqueles demônios que ameaçam nosso reino?
Sylas inclinou a cabeça, como se minha dúvida fosse ao mesmo tempo tola e natural.
— Você saberá, jovem dragão. O sistema guiará seus passos, mas a verdadeira força estará em suas escolhas. Cada gesto, cada palavra, cada olhar carregará peso. Esta é sua única chance de corrigir tudo… ou perder para sempre.
Ele então fez uma pausa, e sua voz ecoou como o toque final de um julgamento:
— Isto é ser um verdadeiro imperador: compreender que suas escolhas moldam não apenas a si, mas o destino de todos à sua volta.
O silêncio caiu pesado. Apenas o eco do rugido do dragão permanecia, como se carregasse em si todo o destino de Eorka.
Minha missão estava clara: proteger, conquistar a confiança de Cha Siyoon e lutar contra o impossível. Mas a dúvida corroía minha mente:
“Será que eu conseguiria cumprir tudo antes que fosse tarde demais?”
De repente, uma nova tela brilhou ao meu lado esquerdo:
[SISTEMA]
PROJETO: PROTEÇÃO À PRINCESA FALSA DO DUCADO — Segunda Parte
Mundo sendo remodelado…
Você aceita ir para a nova fase da missão?
Tempo restante: 15 segundos.
Se nenhuma escolha for feita, ACEITAR será selecionado automaticamente.
— Sylas! — grunhi, a voz embargada.
— O que eu faço? Como posso me preparar? Para onde estou indo?!
O dragão me fitou com calma, seus olhos dourados reluzindo como sóis antigos.
— Você sempre esteve preparado — disse.
— Desde pequeno, foi moldado para ser o melhor em tudo. Agora, seja o herói que Eorka precisa… e o herói que Cha Siyoon precisa.
A tela piscou uma última vez:
[SISTEMA]
Parabéns! Bem-vindo à Segunda fase do Projeto: Proteção à Princesa Falsa do Ducado.
O breu me engoliu novamente.
……………
— Príncipe herdeiro…
— Príncipe herdeiro! — a voz era insistente.
Abri os olhos e vi Cedrico me sacudindo. Estávamos em uma carruagem, o balanço das rodas me trazendo de volta à realidade. O mundo… estava diferente.
— Vossa Alteza, chegamos ao palácio — disse ele, com calma.
Pisquei, confuso. Reconheci o caminho. Estávamos no dia em que eu conheci a princesa.
{Quebra de Tempo}
Ao entrar no palácio, tive certeza: havia voltado no tempo para o dia do baile de aniversário do segundo príncipe.
O céu estava tingido de laranja e púrpura pelo pôr do sol. Respirei fundo, tentando acalmar o turbilhão em meu peito.
— Hoje é o baile do filho da imperatriz, correto, Cedrico? — minha voz saiu estranhamente calma.
— Sim, majestade. Mas… não recebemos aviso requisitando sua presença.
Um sorriso breve passou por meus lábios.
Ainda não tiveram tempo de me enviar o convite.
— Preciso de descanso — respondi após um instante.
— Deseja que eu chame os criados para preparar um banho? — perguntou Cedrico.
— Sim. Mas deixe minha espada por perto. Nunca se sabe quem pode aparecer de surpresa.
Enquanto caminhava para meus aposentos, um pensamento pulsava em minha mente como uma profecia inevitável
“A contagem regressiva já começou.”
