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Language:
Português brasileiro
Stats:
Published:
2025-08-24
Updated:
2025-11-25
Words:
132,420
Chapters:
17/?
Comments:
48
Kudos:
118
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17
Hits:
3,226

O mar que não retorna

Summary:

Being the daughter of Poseidon has never been simple, but for Briely, Percy Jackson's younger twin sister, life has always been a whirlwind of monsters, quests, and family secrets.

However, nothing could prepare her for what happened the day she was thrown into a completely unknown universe. Trapped in a shadowy mansion, she and a mysterious prisoner share the same fate: Morpheus, the Lord of Dreams, captured by mortals and stripped of his powers.

During three long months of confinement, the demigoddess and Perpetual discover that their origins and abilities can complement each other in unexpected ways.

When they are finally freed, Morpheus decides she can't simply return to her world.
 
Percy Jackson x Sandman crossover
(Percy sister x Yandere Morpheus)

 

( This work is written in Portuguese, use Google Translate to translate)

I'm currently editing the chapters

Chapter 1: Começo

Notes:

(See the end of the chapter for notes.)

Chapter Text

 

             

 


 

 

 

 

O sol da tarde dourava as colinas do Acampamento Meio-Sangue, lançando sombras longas sobre os campos de morangos e o lago de canoagem.

 

Briely Jackson caminhou ao lado de Nico di Angelo, seu melhor amigo, enquanto os dois seguiram em direção ao pavilhão de jantar.

 

O ar cheirava a pinheiros e fumaça de fogueira, um lembrete constante de que, mesmo em tempos de paz após a derrota de Cronos, o perigo nunca esteve tão longe assim.

 

“Então, você vai mesmo fugir do treinamento de captura à bandeira outra vez?” Nico disse, um sorriso irônico brincando em seus lábios pálidos.

 

Ele ajustou a jaqueta preta, as mãos enfiadas nos bolsos enquanto chutava uma pedrinha no caminho.

“Porque, sabe, Percy vai te arrastar pro time azul de novo, querendo ou não.”

 

Briely riu, um som leve. Seus olhos verdes, idênticos ao irmão gêmeo, brilhavam com uma mistura de diversão e algo mais profundo, algo que Nico sempre parecia perceber.

 

“Ele pode tentar. Mas eu sou mais de ficar no Chalé, desenhando, relaxando, ou... sei lá, evitando ser cortado ao meio por um dos filhos de Ares. Missões e batalhas não são exatamente o meu forte, sabia?” Ela deu de ombros, tentando subir casualmente, mas Nico a conhecia bem o suficiente para notar o leve aperto em sua voz.

 

“Você não precisa ser bom em batalhas, Brie.” Nico parou de andar por um momento, olhando-a com uma seriedade que contrastava com sua atitude habitual reservada.

“E se alguém até como o Luke via algo em você, então talvez você deva parar de se esconder tanto.”

O nome de Luke cortou como uma lâmina afiada. Briely desviou o olhar, sentindo o peso da lembrança.

“Ele tava errado,” murmurou.

“Não tava.” Nico baixou a voz. “E você sabe.”

A dor da perda ainda era fresca, mesmo depois de tudo.

Ela abriu a boca para responder, mas antes que pudesse, uma voz grave ecoou atrás deles.

 

“Briely Jackson!” Quíron trotou até eles, sua forma de centauro imponente mesmo sob a luz suave do entardecer.

Os dois viraram ao mesmo tempo. O centauro vinha trotando, o rosto preocupado.

Seus olhos castanhos eram sérios, e havia um vinco de preocupação em sua testa. “Senhor D deseja falar com você na Casa Grande. Agora.”

 

Briely trocou um olhar rápido com Nico, que apenas ergueu uma sobrancelha, como quem diz “Boa sorte”.

Ela suspirou, acenando para o amigo antes de seguir Quíron pelas colinas até a Casa Grande.

 

Dentro da sala principal, Dionísio — ou Senhor D, como todos o chamavam — estava recostado em uma poltrona, uma lata de Diet Coke na mão e uma expressão de tédio quase palpável.

 

Seus olhos se ergueram para Briely quando ela entrou, e ele deu um suspiro exagerado.

 

“Ah, Briana Jackson, aí está você,” disse ele, errando seu nome de propósito, como sempre.

“Vamos direto ao ponto, porque eu tenho uma partida de pinochle me esperando. Seu pai, Poseidon, deixou claro que essa missão é sua.”

“E antes que você pergunte, não, eu não sei por que ele acha que você, de todas as pessoas, é uma escolha certa.”

 

Briely cruzou os braços, tentando ignorar a pontada de insegurança que as palavras dele provocaram.

 

“Que missão?” disse ela, a voz firme, mesmo que seu estômago estivesse revirando.

 

Dionísio tomou um gole da lata, fez uma careta e a colocou na mesa com um pequeno estrondo.

 

“Quando os deuses derrotaram Cronos pela primeira vez, ele deixou para trás um objeto. Algo perigoso.”

“Feito por ele mesmo, imbuído de poder. Depois da vitória, nós o tomamos. Mas com a volta de Cronos, ele o recuperou. Agora, após a derrota dele...”

“ninguém sabe onde está. Só sei que foi escondido em um de seus templos abandonados. E se alguém tem chance de encontrar, é você.”

 

Briely franziu o cenho, o coração acelerando.

 

“Por quê eu? E que objeto é esse?”

 

Quíron, que estava ao lado, interveio com sua voz calma, mas carregada de gravidade.

 

“Luke Castellan. Todos sabemos que ele tinha... uma ligação especial com você, Briely. Se ele sabia algo sobre esse objeto ou sobre os esconderijos de Cronos, talvez tenha compartilhado com você, mesmo que indiretamente. Você tem alguma lembrança? Algo que ele possa ter mencionado?”

 

Briely engoliu em seco, sentindo o peso de todos os olhares sobre ela.

A lembrança veio como um flash, quase dolorosa em sua clareza.

 

Luke, com aquele sorriso torto, falando sobre Cronos uma vez pra ela em um momento de vulnerabilidade com ela.

 

Brie, lembre-se do Monte Othrys. Perto daquele cume, há um templo esquecido. Cronos guardava coisas lá... coisas que nem eu entendia.”

 

Ela não tinha dado importância na época, achando que era só mais uma de suas histórias idiotas. Mas agora...

 

“Eu... acho que sei de um lugar,” admitiu ela, hesitante.

“Luke me contou uma vez que Cronos tinha um templo abandonado perto do cume do Monte Othrys. Pode estar lá onde o objeto está.”

 

Dionísio ergueu uma sobrancelha, parecendo quase impressionado, o que era raro.

 

“Bem, então é lá que você vai. Essa é uma missão solo, Briana. Prepare-se e vá. Antes que alguém menos... qualificado encontre essa coisa.”

 

Quíron acrescentou, mais gentilmente:

 

“É perigoso, Briely. Mas confiamos em você. Volte com o objeto, mas não interfira com ele. Apenas traga-o de volta.”

 

Briely assentiu brevemente, sentindo o peso da responsabilidade cair sobre seus ombros. Ela saiu da Casa Grande com a cabeça girando.

Do lado de fora, Nico estava encostado em uma coluna, esperando por ela. Seus olhos escuros a analisaram com preocupação.

 

“E aí? O que o Senhor D queria?” disse ele, direto.

 

Briely respirou fundo antes de responder.

 

“Uma missão. Solo. Tenho que encontrar um objeto que Cronos escondeu. Algo perigoso. Está em um templo perto do Monte Othrys, eu acho.”

 

Nico franziu o cenho, cruzando os braços.

 

“Sozinha? Brie, você quase nunca sai em missões, muito menos sozinha. Não gosto disso. Há algo de errado?”

 

Ela forçou um sorriso, tentando parecer confiante.

 

“Vai ficar tudo bem, Nico. É só achar o objeto e trazer de volta. Não vou lutar contra monstros ou algo assim.”

“Só... explorar um templo que está em ruínas. Moleza.”

 

Ele não pareceu convencido, mas apenas balançou a cabeça.

 

“Só... volta inteira, tá?”

 

“Prometo,” respondeu ela, dando um leve soco no ombro dele antes de se afastar.

 

No Chalé 3, Briely arrumou sua mochila com suprimentos — comida, uma garrafa d’água, e alguns dracmas para emergências.

 

Enquanto dobrava uma jaqueta, Percy e Annabeth entraram, ambos com expressões de curiosidade e preocupação.

Percy, com os cabelos negros bagunçados e os mesmos olhos verdes que ela, foi o primeiro a falar.

 

“Ei irmã, ouvi dizer que você tem uma missão. Solo?”

Annabeth, ao lado dele, acrescentou:

“É verdade, Brie? O que está acontecendo?”

Briely respirou fundo, tentando manter a calma.

“É, uma missão. Algo sobre um objeto que Cronos escondeu. Eles acham que posso encontrá-lo por causa...”

“Bem, por causa de Luke. Vou pro Monte Othrys onde eu acho que pode estar, mas é só pegar e voltar. Nada de mais.”

Percy cruzou os braços, claramente não gostando da ideia.

“Nada de mais? Brie, você não costuma sair em missões sozinha. Deixa eu ir com você. Ou pelo menos leva o Grover.”

“Não dá, Percy. É uma missão solo. Ordens do Senhor D e do nosso pai,” explicou ela, tentando soar firme, embora a preocupação dele a estivesse afetando.

Annabeth colocou uma mão no ombro de Percy, tentando acalmá-lo.

“Ela consegue, Percy. Mas... toma cuidado, tá? Se algo parecer errado, volte. E Não se arrisque mais do que o necessário.”

Briely assentiu, forçando outro sorriso.

“Vou ficar bem. Prometo.”

Percy suspirou, passando a mão pelos cabelos antes de puxá-la para um abraço apertado.

“Só... toma cuidado, tá? Se você demorar, vamos ir atrás de você tá.”

“Não vai precisar,” disse ela, retribuindo o abraço antes de se despedir de Annabeth com um aceno.

Pegando sua mochila, ela saiu do chalé, o peso da missão crescendo a cada passo.

 


 

₊˚.༄🌊₊˚.༄𓆝 ✮ ✮ 𓅨 ✮ ✮𓆝 ༄₊˚.🌊༄₊˚

 


 

 

Dias de viagem exaustivos a  levaram ao sopé do Monte Othrys, o antigo lar dos Titãs.

O ar era carregado de uma energia pesada antiga e opressiva que parecia sussurrar ameaças.

Briely seguiu as trilhas sinuosas até finalmente avistar o templo abandonado que Luke mencionou pra ela uma vez.

Era uma estrutura em ruínas, com colunas quebradas e musgo cobrindo as pedras como uma segunda pele.

O silêncio era quase palpável, quebrado apenas pelo som de insetos rastejando nas sombras.

Ela girou o anel em seu dedo, um presente de seu pai, e o viu se transformar em uma espada de bronze celestial.

O metal brilhou sob a luz fraca do crepúsculo enquanto ela entrava no templo, os passos silenciosos, o coração batendo forte no peito.

O interior era um labirinto de corredores desmoronados, cheirando a podridão e cheio de poeira.

Por alguns minutos, ela ficou explorando, sempre atenta a qualquer som além do zumbido dos insetos.

Então, em um dos salões, ela encontrou algo.

Uma sala ampla, com uma mesa de pedra no centro.

Sob a mesa, o piso parecia completamente diferente, um nível de relevância quase como um buraco falso.

 

Curiosa, Briely empurrou a mesa com esforço, revelando o contorno de uma abertura.

 

Usando a ponta da espada, ela conseguiu abrir a tampa do buraco, revelando uma caixa pequena, entalhada com runas desconhecidas.

 

Com cuidado, ela abriu a tampa da caixa.

Dentro, havia um orbe pequeno, do tamanho de uma maçã, feito de um material que parecia pulsar com uma luz interna, quase como se estivesse vivo.

Briely franziu o cenho, notando algo escrito em grego antigo no fundo da caixa.

No fundo da caixa, palavras em grego antigo.

Ela não queria ler.

Mas leu.

Antes que pudesse se conter, as palavras escaparam de seus lábios em uma sugestão quase hipnótica, como se o próprio objeto a compelisse a lê-las.

 

Chronou kai Polykosmou Kleis,” murmurou ela, a voz baixa, em transe.

 

De repente, o orbe ganhou vida, brilhando com uma intensidade ofuscante.

Briely saiu do transe, o coração disparado, lembrando-se das palavras de Quíron: “Não interfira com o objeto. Apenas traga-o de volta.”

Mas agora já era tarde demais.

 

O orbe se ativou, a luz explodindo em sua mão.

Uma onda de energia a engolfou, um frio cortante percorrendo sua espinha como uma lâmina de gelo.

Antes que ela pudesse recuar, uma força invisível a puxou para cima com violência implacável.

Ela caiu — ou subiu, não sabia mais 

As paredes do templo se desfizeram como névoa, desintegrando-se em um borrão de sombras e cinzas.

 

O chão sob seus pés desapareceu, e sua voz se perdeu em um grito abafado, engolido por um vazio sufocante.

 

Tudo ao seu redor se transformou em um caos de céu despedaçado e estrelas distorcidas, girando em padrões impossíveis que desafiavam qualquer lógica.

Seu corpo parecia leve e pesado ao mesmo tempo, como se estivesse sendo despedaçado e reconstruído em um único instante.

 

O orbe, ainda em sua mão, pulsava como um coração, cada batida ecoando em sua mente.

Ouvindo Sussurros em línguas que ela nunca aprendeu.

E então, tudo ficou escuro.

 

 


 

 

₊˚.༄🌊₊˚.༄𓆝 ✮ ✮ 𓅨 ✮ ✮𓆝 ༄₊˚.🌊༄₊˚

 

 


 

 

De repente, o vazio e o caos das estrelas distorcidas cessaram.

 

Briely sentiu o estômago revirar quando uma rajada de frio acertou seu rosto.

 

Seus olhos se abriram, e o que viu a fez congelar de pavor: um céu azul claro, enquanto seu corpo despencava em queda livre.

 

O vento uivava em seus ouvidos, bagunçando seus cabelos e arrancando um grito rouco de sua garganta.

 

“PELOS DEUSES, O QUE ESTÁ ACONTECENDO?!” berrou ela, os braços se agitando desesperadamente enquanto tentava encontrar algum equilíbrio no ar.

 

O pânico apertava seu peito como uma garra, sufocando qualquer julgamento claro.

 

Ela olhou para suas mãos, tremendo, e notou que o orbe não estava mais ali.

 

Sua mochila também havia sumido, engolida pelo vazio de onde quer que tivesse vindo.

“Cadê as minhas coisas?!”

 

O chão se aproximava de uma velocidade assustadora, revelando um terreno estranho e inquietante abaixo dela.

 

Era um jardim abandonado, cercado por arbustos ressecados e árvores tortuosas, com gramíneas altas.

 

No centro, erguia-se uma mansão  decadente, um relicário de pedra e tijolo  que parecia ter sido esquecido pelo tempo.

 

Era uma construção vitoriana, com janelas estreitas cobertas por venezianas quebradas, e um telhado de ardósia preta.

 

Gárgulas desgastadas vigiavam as bordas, seus rostos de pedra corroídos pelo tempo, mas ainda carregando uma expressão de ameaça.

 

Fios elétricos mal instalados corriam pelas paredes externas, conectados a luzes de segurança que piscavam erraticamente, um contraste estranho com a arquitetura antiga.

Havia uma aura sufocante naquele lugar, uma energia que parecia vibrar, fazendo a pele de Briely se arrepiar.

 

Sem tempo para pensar, ela fechou os olhos por um instante, invocando seus poderes.

A umidade do ar respondeu ao seu chamado, condensando-se em uma barreira de água que envolveu um escudo líquido, desacelerando sua queda.

 

Com um impacto abafado, ela atingiu o solo, a água se espalhando em poças irregulares ao seu redor.

Ofegante e com a mente zonza, Briely se levantou, as pernas trêmulas.

Pequenos filetes de água ainda flutuavam perto dela, como guardiões invisíveis prontos para reagir.

 

Ela deu alguns passos hesitantes pelo jardim, os olhos examinando o ambiente.

O cheiro de terra úmida misturava-se com um odor químico sutil, talvez de algum gerador ou maquinaria próxima à mansão.

 

Antes que pudesse se orientar, um ruído metálico a fez girar a cabeça.

Um homem surgiu de uma trilha de ervas altas, vestido com um uniforme.

 

Ele usava um fone de ouvido rudimentar conectado a um walkie-talkie no cinto, uma peça de tecnologia que contrastava com a sua aparência.

 

Seus olhos se arregalaram ao ver a água dançando ao redor de Briely, e sua expressão passou de choque para suspeita em um instante.

 

“QUE DROGA É ESSA?!” exclamou ele, a voz ríspida enquanto dava um passo para trás, pegando o walkie-talkie com uma mão trêmula.

“Temos uma intrusa no jardim oeste! Algum tipo de... anomalia aqui, uma Possível entidade! Mandem reforços! agora!”

 

“Ei, peraí, eu não sou inimiga!” Briely ergueu as mãos, tentando manter um tom tranquilo, embora seu coração estivesse na garganta.

“Eu só caí aqui, não sei onde estou.”

 

O guarda não deu atenção às suas palavras, ainda gritando no walkie-talkie enquanto a encarava como se ela fosse uma ameaça iminente.

 

Em poucos segundos, o som de botas pesadas ecoou pelo jardim, misturado ao zumbido de um motor distante, talvez um gerador da mansão.

 

Mais figuras surgiram das sombras, seis delas, todas vestidas com uniformes semelhantes.

Cada um carregava uma arma — pistola. Alguns tinham lanternas táticas presas aos ombros, enquanto formavam um círculo ao redor de Briely, as armas apontadas sem hesitação.

 

“Fique onde está!” falou o que parecia ser o líder, um homem de meia-idade com linhas duras no rosto e um tom de comando na voz.

“Explique sua presença ou será detida à força.”

 

“Eu já disse, eu não sei onde estou!” retrucou Briely, a voz tremendo de frustração.

“Só quero ir embora. Não quero problemas com vocês!”

 

“Ninguém entra em Fawney Rig sem permissão do senhor Burgess!” cortou outro guarda, mais jovem, mas com um olhar frio.

“Abaixe... seja lá o que for essa água, ou vamos abrir fogo!”

 

Briely recuou, o instinto tomando conta.

A água ao seu redor respondeu à sua tensão, e com um gesto rápido, ela lançou uma onda contra o guarda, acertando-o no peito e jogando-o para trás contra uma cerca enferrujada.

Ele soltou um grunhido e caiu com um baque, mas o ato só agravou a situação.

 

“Ameaça confirmada! Tomem posição!” berrou o líder, ajustando a arma com um clique metálico.

 

Briely ergueu outra barreira de água, as mãos tremendo enquanto tentava se concentrar, mas antes que conseguisse concluir o movimento, um som estranho, como um tiro abafado, rasgou o ar.

 

Uma dor aguda explodiu em seu ombro.

Ela baixou os olhos e viu um dardo cravado em sua pele, um líquido translúcido já se espalhando sob a superfície.

O efeito foi quase imediato — suas pernas cederam, a água ao seu redor desmoronou em um splash inútil, e sua visão começou a embaçar.

 

“Vocês... não...” murmurou ela, a voz fraca enquanto caía de joelhos.

As silhuetas dos guardas se aproximavam, as luzes de suas lanternas ofuscando-a enquanto suas vozes se misturavam em um eco distante.

A escuridão a engoliu mais uma vez.

 


 

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Briely sentiu o seu corpo mole, como se seus ossos fossem feitos de gelatina.

 

Uma dormência incômoda percorria seus membros, e sua cabeça girava, um eco da dor do tranquilizante ainda pulsando em suas veias.

 

Ela viu que não estava mais no chão do jardim onde havia desmaiado; estava sendo carregada.

Mãos ásperas seguravam seus braços e pernas, e o balançar irregular dos passos fazia seu estômago revirar.

Vozes abafadas cortavam o ar ao seu redor.

 

“Cuidado com ela, pelo amor de Deus. Ela Não é humana. Viu o que fez com a água?” disse um guarda, a voz baixa, quase um murmúrio, mas com um tom de nervosismo inconfundível.

“Se ela acordar agora, estamos ferrados.”

 

“Relaxa, Greg. O dardo vai mantê-la fora de jogo por mais um tempo,” respondeu outro, com uma confiança forçada.

“Só precisamos deixá-la no porão. O chefe vai decidir o que fazer.”

“Espero que o velho Burgess saiba lidar com isso. Se essa garota for o que eu acho…” O primeiro guarda parou de falar, como se temesse completar a frase.

Briely tentou mover os dedos, mas só conseguiu um tremor fraco.

Antes que pudesse analisar mais, sentiu seu corpo sendo baixado.

O frio do mármore atingiu suas costas como uma lâmina gelada, arrancando um suspiro rouco de seus lábios.

 

Ela abriu os olhos lentamente, com dificuldade, a visão embaçada.

Sua respiração era lenta, pesada, cada inspiração parecia um esforço monumental. Tentou se sentar, os músculos protestando, mas seu tronco mal se ergueu antes de desabar de novo contra o chão frio.

Seus olhos, ainda turvos, focalizaram algo à sua frente.

A poucos metros, dentro de um orbe de vidro imenso, preso por runas douradas gravadas na base de metal que sustentava a estrutura, havia alguém.

 

Uma figura pálida, esguia, de uma beleza quase sobrenatural.

Era um homem, completamente nu, sentado em uma postura imóvel, como uma estátua viva.

 

Seus cabelos negros caíam desgrenhados sobre os ombros, e seus olhos, profundos como abismos infinitos, encaravam-na diretamente.

Havia algo naquela mirada que a fez estremecer, não era apenas curiosidade ou hostilidade, mas uma intensidade que parecia atravessar sua alma.

 

Briely abriu a boca para falar, mas a queimação venceu.

Sua visão escureceu novamente, e ela desmaiou mais uma vez, o frio do mármore sendo a última sensação que registrou.

 


 

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Quando ela acordou de novo, ainda grogue, sua cabeça latejava com mais força.

 

Ela se levantou devagar, apoiando-se nos cotovelos, o corpo protestando a cada movimento.

Piscou várias vezes, tentando clarear a visão, e notou o chão sob si.

 

Era um círculo de runas, idêntico ao que circundava a base do orbe de vidro à sua frente.

As marcas emitiam um brilho fraco, azul-esverdeado.

 

O ar ao seu redor era úmido. As paredes de pedra eram escuras, cobertas por musgo em alguns pontos, e o espaço parecia sufocante, carregado de uma energia que ela não conseguia descrever.

 

Seus olhos voltaram para o estranho no orbe.

Ele ainda a encarava, nu e silencioso, sua presença quase sufocante.

 

Briely sentiu um desconforto crescer dentro dela, tanto pela situação quanto pelo peso daquele olhar.

 

Ela se levantou com dificuldade, os joelhos tremendo, em direção à saída da sala, uma porta de ferro pesado ao fundo, com barras reforçadas.

 

Mas ao se aproximar da borda do círculo de runas, uma força invisível a empurrou para trás, como um choque elétrico que fez seus dentes rangerem.

Ela retrocedeu, ofegante, o coração acelerado.

 

Foi então que a porta rangeu, abrindo-se com um som metálico que ecoou pelo porão.

Uma guarda entrou, uma mulher de meia-idade. Seu rosto era duro, marcado por linhas de cansaço, e ela carregava um bastão metálico.

Seus olhos passaram por Briely com desdém antes de se voltarem para as runas, como se verificasse se estavam intactas.

 

“EI, VOCÊ! ME TIRE DAQUI AGORA!” gritou Briely, a voz rouca, mas cheia de frustração.

“QUEM É VOCÊS? O QUE É ISSO? POR QUE NÃO POSSO SAIR?”

 

A guarda nem olhou para ela, continuando a inspeção do círculo.

Briely sentiu a raiva borbulhar em seu peito, apertando os punhos com força.

 

“Se não baixar essa barreira, juro que vou te afogar!” ameaçou ela, os olhos faiscando.

“Você não tem ideia de quem eu sou!”

 

A guarda finalmente parou, lançando um olhar frio por cima do ombro, mas não disse nada.

Ignorou-a completamente, voltando ao seu trabalho.

 

Briely rangeu os dentes, o desespero misturando-se à raiva.

Ela levantou as mãos, tentando invocar seu poder, chamando a umidade do ar, sentindo as correntes de água que sempre respondiam ao seu chamado.

Mas nada aconteceu.

 

Nem uma gota, nem uma brisa.

Era como se algo naquele lugar tivesse desligado sua essência. Seu peito se apertou, o pânico subindo como uma onda que ela não podia controlar.

 

“Por que... por que não funciona?” murmurou para si mesma, a voz tremendo enquanto olhava para as próprias mãos.

Seus dedos passaram instintivamente pelo anel em seu dedo, sua espada.

Mas ela hesitou, parando o movimento.

Revelar isso agora só traria mais problemas. Precisava de um plano, não de mais inimigos.

A guarda, por fim, falou, a voz seca e desprovida de emoção.

“Você está na Mansão Burgess. E vai ficar aqui por enquanto. São Ordens do chefe.”

Briely virou-se para ela, os olhos estreitos, a raiva explodindo.

“Me Solte Agora Mesmo! Você não sabe com quem está mexendo! Meu irmão vai vir atrás de mim, e ele vai fazer vocês se arrependerem por cada segundo disso!”

"Meu pai também não vai perdoar vocês! Ele vai inundar este lugar inteiro, e vocês terão mais problemas que nunca imaginaram!”

 

Por um instante, a guarda pareceu hesitar, uma sombra de dúvida cruzando seu rosto.

Seus dedos apertaram o bastão com mais força, e ela lançou um olhar rápido para o orbe de vidro, como se temesse algo maior do que as ameaças de Briely.

 

Mas então, sua expressão voltou ao normal, e ela virou-se para sair da sala sem dizer mais uma palavra.

 

Briely soltou um grito de frustração, batendo as mãos no chão frio.

Respirou rápido, curto, tentando não chorar.

Exausta, ela se sentou, tirando os sapatos com movimentos bruscos, como se precisasse de algo para descarregar a raiva.

Seus olhos desviaram para o estranho preso no orbe ao seu lado.

Ele parecia em condições muito piores, nu, vulnerável, preso em um espaço que não oferecia nenhuma privacidade ou conforto.

Ainda assim, sua presença era imponente, quase esmagadora.

“Ei... quem é você?” disse ela, a voz baixa, quase um sussurro, como se temesse quebrar o silêncio opressivo do porão.

“Por que você está aqui?”

Ele não respondeu.

Apenas continuou a encará-la, aqueles olhos insondáveis fixos nela, como se vissem além de sua pele, além de suas palavras.

 

Briely desviou o olhar, o desconforto crescendo.

Ela não sabia quem ele era, mas uma coisa era certa: aquele lugar, aquelas runas, e até mesmo aquele estranho carregavam segredos que ela não estava preparada para enfrentar.

Pelo menos, ainda não.

 

 


 

₊˚.༄🌊₊˚.༄𓆝 ✮ ✮ 𓅨 ✮ ✮𓆝 ༄₊˚.🌊༄₊˚

 


 

As horas se arrastavam como dias no porão úmido da Mansão Burgess.

Briely permanecia confinada no círculo de runas, o brilho azulado pulsando de forma quase hipnótica, como um lembrete constante de sua prisão.

 

Os guardas passavam de vez em quando, suas botas ecoando nas pedras do chão, mas nenhum deles lhe dirigia mais do que um olhar fugaz.

Suas perguntas, e suas ameaças, tudo caía em ouvidos surdos.

 

E o estranho no orbe de vidro à sua frente, o homem pálido de olhos insondáveis, também a ignorava, ou pelo menos não respondia.

Ele apenas a observava, sua presença silenciosa tão sufocante quanto as paredes de pedra ao redor.

 

Sentada com as costas encostadas na borda invisível do círculo, Briely passou os dedos trêmulos pelo chão frio, tentando, mais uma vez, invocar seus poderes.

 

Fechou os olhos, concentrando-se, buscando a conexão com a água que sempre fora parte dela, um eco de seu pai, Poseidon.

Mas nada aconteceu.

Nem uma gota, nem uma brisa úmida. Era como se algo naquele lugar tivesse cortado sua essência.

 

A frustração queimava em seu peito, misturando-se ao desespero.

Ela bateu as mãos no chão, os nós dos dedos doendo com o impacto, mas nem isso aliviou a raiva.

 

Foi então que notou algo estranho. Passaram-se horas, talvez um dia inteiro (era difícil acompanhar o tempo naquele lugar sem janelas), e ela não sentia fome.

Nem sede.

 

Seu corpo estava exausto, sim, os músculos pesados e a mente enevoada, mas não havia aquele vazio no estômago, nem a secura na garganta que deveria acompanhar a privação.

 

Era um alívio, de certa forma, saber que não morreria de inanição ali.

Mas também era inquietante.

O que estava acontecendo com ela? Era o círculo de runas? A presença daquele lugar? Ou algo relacionado ao estranho que não tirava os olhos dela?

 

Seus olhos se encheram de lágrimas enquanto a realidade de sua situação a atingia com força renovada.

Ela se encolheu, virando-se de costas para o orbe de vidro, como se pudesse bloquear o peso daquele olhar.

 

Tirou a jaqueta com movimentos lentos, dobrando-a e colocando-a sob a cabeça como um travesseiro improvisado.

O tecido ainda cheirava a terra, um lembrete de onde ela estava antes de tudo desmoronar.

 

As lágrimas escorreram silenciosamente no início, mas logo os soluços baixinhos escaparam, ecoando no silêncio opressivo do porão.

 

“Pai... por favor…” murmurou ela, a voz entrecortada, as mãos unidas em uma prece desesperada.

“Me ouça. Me tire daqui. Eu não sei onde estou, não sei o que está acontecendo... por favor, me ajude.”

 

Mas não houve resposta.

Nenhum rugido distante do mar, nenhum tremor nas paredes que pudesse indicar a presença de Poseidon.

Apenas o silêncio, cortado pelo zumbido quase imperceptível das runas.

 

O vazio era mais doloroso do que qualquer golpe físico.

Briely enterrou o rosto na jaqueta, os soluços se intensificando por um momento antes de se reduzirem a um choro baixo, quase um lamento.

 

“Percy…” sussurrou, chamando o nome do irmão como se ele pudesse ouvi-la através da distância impossível que os separava.

“Tô com medo. Muito medo. Onde eu vim parar? Esse orbe... ele me teletransportou pra algum lugar.”

“Uma mansão de alguém. Não sei o que é, que lugar e esse... Percy... não sei o que fazer.”

 

A exaustão finalmente a venceu.

Seus olhos pesaram, as lágrimas secando em seu rosto enquanto o sono a reivindicava.

 

Ela se encolheu ainda mais, o corpo tremendo de leve, não pelo frio, mas pelo medo que parecia crescer a cada segundo naquele lugar.

 

O último pensamento consciente foi uma pergunta sem resposta: como ela havia ido parar ali, e o que aquela mansão, e aquele estranho, guardavam?

 

Enquanto dormia, algo começou a se manifestar.

Imagens fragmentadas invadiram sua mente, mais vívidas do que qualquer sonho que ela já teve.

 

Era um castelo de vidro, erguendo-se em um céu impossível, com núcleos que não pertenciam ao mundo que ela conhecia. Figuras indistintas caminhavam por paisagens que mudavam a cada instante, campos de areia dourados se transformavam em oceanos de escuridão, montanhas desmoronando em névoa.

 

Um calor suave a envolveu, quase reconfortante, mas também havia uma presença, algo ou alguém que ela não conseguiu identificar.

 

Não era hostil, mas também não era acolhedor.

Era... curioso.

 

Briely acordou ofegante, o coração disparado, o corpo ainda encolhido no chão frio.

Por um instante, não sabia onde estava, a linha entre o sonho e a realidade borrada. Seus olhos encontraram os do homem pálido no orbe de vidro.

 

Ele ainda a observava, como sempre, mas dessa vez havia algo diferente em seu olhar. Uma centelha, talvez de curiosidade, talvez de algo mais profundo.

Ela não sabia dizer o que era.

 

“O que foi isso?” disse ela, mais para si mesma do que para ele, a voz rouca do choro e do sono.

 

Ele não respondeu, é claro.

Mas, por um breve instante, Briely jurou que sentiu algo, uma presença em sua mente, como um sussurro que não conseguiu decifrar.

 

Ela piscou, confusa, sacudindo a cabeça como se pudesse afastar a sensação.

Algo naquele homem, na forma como ele a encarava, a fazia sentir que precisava manter a guarda alta.

 


 

₊˚.༄🌊₊˚.༄𓆝 ✮ ✮ 𓅨 ✮ ✮𓆝 ༄₊˚.🌊༄₊˚

 


 

Os dias no porão da Mansão Burgess continuavam a se arrastar, um ciclo interminável de pedra fria, sombras e o brilho opaco das runas que delimitavam a prisão de Briely.

Ela havia perdido a noção do tempo, incapaz de distinguir se haviam se passado dois, três ou cinco dias desde que teve aquele primeiro sonho estranho.

A única medida de tempo eram as rondas dos guardas e o brilho azul-esverdeado das runas que a prendiam.

E o olhar dele.

Ele não dizia uma palavra, mas seus olhos  profundos, insondáveis, e de alguma forma... divertidos 

não desviavam dela nem por um segundo.

Briely sentia um calor irritante subindo pelo pescoço toda vez que percebia aquele olhar fixo.

Era como se ele soubesse algo que ela não sabia, como se estivesse se divertindo com sua impotência.

Ela tentou ignorá-lo no início, focando sua raiva nos guardas que ocasionalmente passavam pelo porão.

“EI, SEUS COVARDES! ”gritou ela, socando a barreira até os pulsos arderem.

“Meu irmão e meu pai vão vir atrás de mim. Quando eles chegarem, vocês vão implorar pra morrer rápido!”

Os dois guardas pararam no corredor.

Trocaram um olhar rápido.

Um apertou o rifle. O outro engoliu em seco.

Nenhum respondeu.

Isso trouxe a Briely uma pequena satisfação, um vislumbre de controle em um lugar onde ela não tinha nenhum.

Mas era uma vitória fugaz.

 

Os guardas seguiram seu caminho, os passos ecoando até desaparecerem, deixando-a novamente sozinha com o silêncio... e com aquele olhar.

Ela se virou para o orbe, punhos tão cerrados que as unhas cravavam nas palmas.

O homem pálido não tinha movido um músculo, mas a curva mínima nos lábios estava lá. Um sorriso que não chegava a ser sorriso.

“O que é tão engraçado?” cuspiu ela, dando um passo até a barreira faiscar contra sua pele.

“Para de me encarar como se eu fosse um bicho no zoológico! Fala alguma coisa, ou pelo menos desvia esses olhos. Tá me deixando louca!”

Silêncio.

Apenas o brilho frio das estrelas dentro daqueles olhos.

Briely bufou, cruzou os braços com força e girou nos calcanhares.

Desabou no chão, costas contra a barreira invisível.

Ainda sentia o olhar dele.

 

“Ridículo” sussurrou, rangendo os dentes.

“ Nem sei por que eu ligo. Você nem fala. Só fica aí… olhandoComo se eu fosse um quebra-cabeça ou algo assim.”

O silêncio respondeu por ele.

E, pela primeira vez, o quase-sorriso dele pareceu um pouco menos divertido.

E um pouco mais triste.

 

 

Os dias continuaram a passar dessa forma, uma monotonia quebrada apenas pelas breves passagens dos guardas e pela persistência daquele olhar.

 

Briely passava a maior parte do tempo sentada ou deitada, encarando o teto de pedras ou tentando arranhar as runas com as unhas — um esforço inútil que só deixava suas mãos machucadas.

 

A única outra coisa que marcava o tempo eram os sonhos. Eles continuavam, noite após noite, cada vez mais vívidos, mais estranhos.

Em uma dessas noites, o sonho foi particularmente intenso. Briely se viu em um deserto de areia negra, o céu acima dela fragmentado como um espelho estilhaçado, refletindo imagens impossíveis de lugares que ela nunca vira.

 

O ar era pesado, carregado de uma energia que parecia viva, e os murmúrios estavam mais altos, mais insistentes, embora ainda indistintos.

Ela tentou correr, tentou gritar, mas seu corpo não obedecia.

Então, de repente, ela acordou com um salto, o corpo coberto de suor frio.

Seus olhos encontraram os dele imediatamente.

Ele ainda a encarava, sem piscar, sem desviar.

 

O leve brilho de diversão parecia ter dado lugar a algo mais... intenso, quase exigente.

Era como se ele soubesse o que ela acabara de sonhar, como se estivesse esperando uma reação.

 

“CHEGA!” explodiu ela, levantando-se de um pulo e batendo as mãos contra a barreira invisível.

A dor subiu por seus braços, mas ela ignorou.

“ Para de me olhar assim!  ” “Eu sei que você tá fazendo algo com meus sonhos.  ”

“E Não finja que não!  ”

“Tô cansada disso, entendeu?  ” “Fala logo o que você quer ou para de me encarar de uma vez!”

 

Ele não se moveu, não disse uma palavra. Apenas continuou a observá-la, o rosto impassível, mas com aquele brilho nos olhos que parecia dizer que ele estava ouvindo cada palavra, absorvendo cada gesto.

Briely bufou novamente, o rosto vermelho de raiva e frustração.

Ela virou as costas para ele mais uma vez, sentando-se com as pernas cruzadas e os braços firmemente cruzados sobre o peito.

Mas o peso daquele olhar não desaparecia.

Ela Sentia os cabelos da nuca se arrepiarem, como se ele pudesse ver através dela, mesmo de costas.

Ela tentou se concentrar no som de sua própria respiração, no frio do chão, em qualquer coisa que não fosse ele.

Mas não adiantava.

 

“Você é um companheiro de cela insuportável ” resmungou ela, baixinho, quase como se esperasse que ele ouvisse. 

“Se não vai falar, pelo menos me deixa em paz.”

 

Exausta, ela se deitou no chão frio, usando a jaqueta como travesseiro.

Fechou os olhos, tentando forçar o sono, mas sua mente estava agitada, cheia de perguntas sem respostas.

Ainda sentia o olhar dele, mas o cansaço acabou vencendo. Quando o sono finalmente veio, foi inquieto, carregado de ansiedade.  

E então, no meio da escuridão de sua mente, uma voz ecoou, clara e profunda, cortando o silêncio como uma lâmina.

Não resista aos sonhos. Não desejo machucá-la.”

 

Briely acordou abruptamente, o corpo tenso, os olhos arregalados enquanto ofegava.

O porão estava exatamente como antes, o brilho das runas iluminando o espaço de forma fantasmagórica.

E lá estava ele, ainda a encarando, sem desviar, sem mudar de expressão.

Mas algo em seu olhar parecia... confirmar o que ela acabara de ouvir.

 

“Era você, não era? ”perguntou ela, a voz rouca, mas carregada de certeza.

"Aquela voz no meu sonho. Era você.”

 

Ele não respondeu de imediato, mas houve um leve movimento, quase imperceptível.

Um aceno de cabeça, tão sutil que ela poderia ter imaginado. Mas ela viu.

E isso bastou para que a raiva se misturasse a uma curiosidade inquietante.

 

“Tá bom ”disse ela, depois de um longo silêncio, a voz mais calma, mas ainda afiada.

“Eu vou te ouvir. Vou tentar. Mas não pense que confio em você. Só quero entender o que tá acontecendo.”

 

Ela se deitou novamente, fechando os olhos com relutância. As horas pareceram se arrastar, o silêncio do porão quebrado apenas pelo som de sua própria respiração.

O cansaço a vencia aos poucos, e finalmente o sono veio, mais profundo dessa vez.

E, com ele, veio o sonho.

 

Briely se viu em um espaço vazio, um vácuo onde não havia céu nem chão, apenas uma escuridão infinita.

A sensação era sufocante,  E então, a voz retornou, alta e clara, como se viesse de todos os lados ao mesmo tempo.

"Está aqui.”

Era ele.

Briely olhou ao redor, e então o viu.

uma figura, quase indistinta contra o fundo negro, mas inconfundivelmente ele.

Seus olhos brilhavam com a mesma intensidade que ela conhecia do orbe, mas havia algo mais vulnerável em sua presença ali.

“Sim, tô aqui ” respondeu ela, a voz ecoando de forma estranha naquele vazio.

Ela deu um passo incerto em direção a ele, embora não soubesse se havia um “chão” sob seus pés. 

“Quanto tempo você tá preso aqui? Nesse orbe, nesse lugar... quanto tempo?”

 

Ele a olhou por um longo momento, como se pesasse suas palavras.

Seus lábios se moveram, mas antes que qualquer som saísse, o espaço ao redor começou a tremer.

As luzes pulsantes se apagaram uma a uma, e a escuridão pareceu se fechar como uma onda.

Briely sentiu um puxão, como se algo a arrancasse dali, e então acordou, o corpo tenso no chão frio do porão.

 

Seus olhos encontraram os dele imediatamente.

Dream ainda a encarava, mas agora havia algo diferente em seu rosto uma sombra de frustração, talvez, ou de algo mais profundo.

Ele não falou, e ela também não disse nada por um longo momento.

Apenas o silêncio os conectava, carregado de perguntas que nenhum dos dois podia responder... ainda.

Briely se sentou lentamente, o coração ainda acelerado.

Ela não sabia exatamente o que acabou de acontecer, mas uma coisa era certa: aquele estranho, quem quer que fosse, não era apenas um prisioneiro como ela.

Havia algo maior nele, algo divino. 

 

 

 

CAST  👇

 

Deva cassel como Briely 

 

 

 

 

 

 

 

Notes:

Capítulo editado e melhorado :)

Chronou kai Polykosmou Kleis
Tradução: "Chave do Tempo e do Multiverso” ou “Chave do Tempo e dos Muitos Mundos”.

 

Podem imaginar a brielly como a atriz Deva cassel em aparência.