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Language:
Português brasileiro
Stats:
Published:
2025-08-23
Updated:
2025-10-20
Words:
115,901
Chapters:
17/?
Comments:
37
Kudos:
100
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8
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2,196

O mar que não retorna

Summary:

Being the daughter of Poseidon has never been simple, but for Briely, Percy Jackson's younger twin sister, life has always been a whirlwind of monsters, quests, and family secrets.

However, nothing could prepare her for what happened the day she was thrown into a completely unknown universe. Trapped in a shadowy mansion, she and a mysterious prisoner share the same fate: Morpheus, the Lord of Dreams, captured by mortals and stripped of his powers.

During three long months of confinement, the demigoddess and Perpetual discover that their origins and abilities can complement each other in unexpected ways.

When they are finally freed, Morpheus decides she can't simply return to her world.
 

( This work is written in Portuguese, use Google Translate to translate)

I'm currently editing the chapters

Chapter 1: Sinopse

Notes:

(See the end of the chapter for notes.)

Chapter Text

 

             

 


 

 

O sol da tarde dourava as colinas do Acampamento Meio-Sangue, lançando sombras longas sobre os campos de morangos e o lago de canoagem.

Briely Jackson caminhou ao lado de Nico di Angelo, seu melhor amigo, enquanto os dois seguiram em direção ao pavilhão de jantar.

O ar cheirava a pinheiros e fumaça de fogueira, um lembrete constante de que, mesmo em tempos de paz após a derrota de Cronos, o perigo nunca esteve tão longe assim.

— Então, você vai mesmo fugir do treinamento de captura à bandeira outra vez? — Nico disse, um sorriso irônico brincando em seus lábios pálidos.

Ele ajustou a jaqueta preta, as mãos enfiadas nos bolsos enquanto chutava uma pedrinha no caminho. — Porque, sabe, Percy vai te arrastar pro time azul de novo, querendo ou não.

 

Briely riu, um som leve. Seus olhos verdes, idênticos ao irmão gêmeo, brilhavam com uma mistura de diversão e algo mais profundo, algo que Nico sempre parecia perceber.

 

— Ele pode tentar. Mas eu sou mais de ficar no Chale, desenhando, relaxando, ou... sei lá, evitando ser cortado ao meio por um dos filhos de Ares.

Missões e batalhas não são exatamente o meu forte, sabia? — Ela deu de ombros, tentando subir casualmente, mas Nico a conhecia bem o suficiente para notar o leve aperto em sua voz.

 

— Você não precisa ser bom em batalhas, Brie. — Nico parou de andar por um momento, olhando-a com uma seriedade que contrastava com sua atitude habitual reservada.

—E se alguém até como o Luke via algo em você, então talvez você deva parar de se esconder tanto.

 

O nome de Luke cortou como uma lâmina afiada. Breely desviou o olhar, sentindo o peso da lembrança. A dor da perda ainda era fresca, mesmo depois de tudo. Ela abriu a boca para responder, mas antes que pudesse, uma voz grave ecoou atrás deles.

 

— Briely Jackson! — Quíron trotou até eles, sua forma de centauro imponente mesmo sob a luz suave do entardecer. Seus olhos castanhos eram sérios, e havia um vinco de preocupação em sua testa. — Senhor D deseja falar com você na Casa Grande. Agora.

 

Briely trocou um olhar rápido com Nico, que apenas parece uma sobrancelha, como quem diz “Boa sorte”. Ela suspirou, acenando para o amigo antes de seguir Quíron pelas colinas até a Casa Grande.

 

Dentro da sala principal, Dionísio — ou Senhor D, como todos o chamavam — estava recostado em uma poltrona, uma lata de Diet Coke na mão e uma expressão de tédio quase palpável.

Seus olhos  se ergueram para Briely quando ela entrou, e ele deu um suspiro exagerado.

 

— Ah, Briana Jackson, aí está você — disse ele, errando seu nome de propósito, como sempre.

— Vamos direto ao ponto, porque eu tenho uma partida de pinochle me esperando. Seu pai, Poseidon, deixou claro que essa missão é sua.

E antes que você pergunte, não, eu não sei por que ele acha que você, de todas as pessoas, é uma escolha certa.

 

Briely cruzou os braços, tentando ignorar a pontada de insegurança que as palavras dele provocaram.

 

— Que missão? — Disse ela, a voz firme, mesmo que seu estômago estava revirando.

 

Dionísio tomou um gole da lata, fez uma careta e a colocou na mesa com um pequeno estrondo.

 

— Quando os deuses derrotaram Cronos pela primeira vez, ele deixou para trás um objeto. Algo perigoso.

Feito por ele mesmo, imbuido de poder. Depois da vitória, nós o tomamos.

Mas com a volta de Cronos, ele o recuperou. Agora, após uma derrota dele... ninguém sabe onde está.

Só sei que foi escondido em um de seus templos abandonados. E se alguém tem chance de encontrar, é você.

 

Briely franziu o cenho, o coração acelerando.

 

— Por quê eu? E que objeto é esse?

 

Quíron, que estava ao lado, interveio com sua voz calma, mas carregada de gravidade.

 

- Luke Castellan. Todos sabemos que ele tinha... uma ligação especial com você, Briely.

Se ele sabia algo sobre esse objeto ou sobre os esconderijos de Cronos, talvez tenha compartilhado com você, mesmo que indiretamente. Você tem alguma lembrança? Algo que ele possa ter em consideração?

 

Breely engoliu em seco, sentindo o peso de todos os olhares sobre ela. A lembrança veio como um flash, quase dolorosa em sua clareza.

Luke, com aquele sorriso torto, falando sobre Cronos uma vez pra ela em um momento de vulnerabilidade com ela.

"Brie, lembre-se do Monte Othrys. Perto daquele cume, há um templo esquecido. Cronos guardava coisas lá... coisas que nem eu entendia."

Ela não tinha dada importância na época, achando que era só mais uma de suas histórias idiotas. Mas agora...

 

— Eu... acho que sei de um lugar — admiti ela, hesitante. — Luke informou uma vez comigo que o cronos tinha um templo abandonado perto do cume do Monte Othrys. Pode estar lá onde o objeto está.

 

Dionísio parece uma sobrancelha, parecendo quase visível, o que era raro.

 

— Bem, então é lá que você vai. Essa é uma missão solo, Briana. Prepare-se e vá. Antes que alguém menos... qualificado encontre essa coisa.

 

Quíron acrescentou, mais gentilmente:

 

—É perigoso, Briely. Mas confiamos em você. Volte com o objeto, mas não interfira com ele. Apenas traga-o de volta.

 

Assentiu brevemente, sentindo o peso da responsabilidade cair sobre seus ombros. Ela saiu da Casa Grande com a cabeça girando. Do lado de fora, Nico estava encostado em uma coluna, esperando por ela. Seus olhos escuros a analisaram com preocupação.

 

— E aí? O que o Senhor D queria? — Disse ele, direto.

 

Respirou fundo brevemente antes de responder.

 

— Uma missão. Solo. Tenho que encontrar um objeto que Cronos escondeu. Algo perigoso. Está em um templo perto do Monte Othrys, eu acho.

 

Nico franziu o cenho, cruzando os braços.

 

— Sozinho? Brie, você quase nunca sai em missões, muito menos sozinho. Não gosto disso. Há algo de errado?

 

Ela forçou um sorriso, tentando parecer confiante.

 

— Vai ficar tudo bem, Nico. É só achar o objeto e trazer de volta. Não vou lutar contra monstros ou algo assim. Só... explorar um templo que está em ruínas. E Moleza.

 

Ele não pareceu confiante, mas apenas balançou a cabeça.

 

— Só... volta inteira, tá?

 

— Prometo — respondeu ela, dando um leve soco no ombro dele antes de se afastar.

 

No Chalé 3, Breely arrumou sua mochila com suprimentos —  comida uma garrafa d'água, e alguns dracmas para emergências.

Enquanto dobrava uma jaqueta, Percy e Annabeth entraram, ambos com expressões de curiosidade e preocupação. Percy, com os cabelos negros bagunçados e o mesmo olhos verde que ela, foi o primeiro a falar.

 

— Ei irmã, ouvi dizer que você tem uma missão. Solo? — disse ele

 

Annabeth, ao lado dele, acrescentou:

 

— É verdade, Brie ? O que está acontecendo?

 

Respirou fundo em breve, tentando manter a calma.

 

—É, uma missão. Algo sobre um objeto que Cronos escondeu. Eles acham que posso encontrá-lo por causa... bem, por causa de Luke. Vou pro Monte Othrys, mas é só pegar e voltar. Nada de mais.

 

Percy cruzou os braços, claramente não gostando da ideia.

 

— Nada de mais? Brie, você não costuma ir em missões sozinha. Deixa eu ir com você. Ou pelo menos leva o Grover.

 

— Não dá, Percy. É uma missão solo. Ordens do Senhor D e do nosso pai — explicou ela, tentando subir firme, embora a preocupação dele a estivesse afetando.

 

Annabeth colocou uma mão no ombro de Percy, tentando acalmá-lo.

 

— Ela consegue, Percy. Mas... toma cuidado, tá? Se algo parecer errado, volte. Não se arrisque mais do que o necessário.

 

Briely assentiu, forçando outro sorriso.

 

— Vou ficar bem. Prometo.

 

Percy suspirou, passando a mão pelos cabelos antes de puxá-la para um abraço apertado.

 

— Só... toma cuidado, tá? Se você demorar,  vamos ir a  trás de você tá.

 

— Não vai precisar — ​​disse ela, retribuindo o abraço antes de se despedir de Annabeth com um aceno.

Pegando sua mochila, ela saiu do chalé, o peso da missão crescendo a cada passo.

 


 

 

Dias de viagem exaustivos levaram ao sopé do Monte Othrys, o antigo lar dos Titãs.

O ar era, carregado de uma energia pesada antiga e opressiva que parecia sussurrar ameaças.

Brevemente seguiu as trilhas sinuosas até finalmente avistar o templo abandonado que Luke mencionou pra ela uma vez.

Era uma estrutura em ruínas, com colunas quebradas e musgo cobrindo as pedras como uma segunda pele. O silêncio era quase palpável, quebrado apenas pelo som de insetos rastejando nas sombras.

 

Ela girou o anel em seu dedo, um presente de seu pai, e o viu se transformar em uma espada de bronze celestial.

O metal brilhou sob a luz fraca do crepúsculo enquanto ela entrava no templo, os passos silenciosos, o coração batendo forte no peito.

O interior era um labirinto de corredores desmoronados, cheirando a podridão e cheio de poeira.

Por alguns minutos, explorando, sempre atenta a qualquer som além do zumbido dos insetos.

Então, em um dos salões, ela encontrou algo. Uma sala ampla, com uma mesa de pedra no centro.

Sob a mesa, o piso parecia completamente diferente, um nível de relevância quase como um buraco falso.

Curiosa, Briely empurrou a mesa com esforço, revelando o contorno de uma abertura.

Usando a ponta da espada, ela conseguiu abrir a tampa do buraco, revelando uma caixa pequena, entalhada com runas desconhecidas.

Com cuidado, ela abre a tampa da caixa. Dentro, revelou se um orbe pequeno, do tamanho de uma maçã, feito de um material que parecia pulsar com uma luz interna, quase como se estivesse vivo.

Briely franziu o cenho, notando algo escrito em grego antigo no fundo da caixa. Antes que pudesse se conter, as palavras escaparam de seus lábios em uma sugestão quase hipnótica, como se o próprio objeto a compelisse a lê-las.

Chronou kai Polykosmou Kleis — murmurou ela, a voz baixa, em transe.

De repente, o orbe ganhou vida, brilhando com uma intensidade ofuscante.

Briely saiu do transe, o coração disparado, lembrando-se das palavras de Quíron: “Não interfira com o objeto. Apenas traga-o de volta.” Mas agora já era tarde demais.

O orbe se ativou, a luz explodindo em sua mão. Uma onda de energia a engolfou, um frio cortante percorrendo sua espinha como uma lâmina de gelo.

Antes que ela pudesse recuar, uma força invisível a puxou  para cima com violência implacável.

As paredes do templo se desfizeram como névoa, desintegrando-se em um borrão de sombras e cinzas.

O chão sob seus pés desaparecidos, e sua voz se perdeu em um grito abafado, engolido por um vazio sufocante.

Tudo ao seu redor se transformou em um caos de céu despedaçado e estrelas distorcidas, girando em padrões impossíveis que desafiavam qualquer lógica. Seu corpo parecia leve e pesado ao mesmo tempo, como se estivesse sendo despedaçado e reconstruído em um único instante.

O orbe, ainda em sua mão, pulsava como um coração, cada batida ecoando em sua mente, sussurrando segredos em uma língua que ela não entendia.

 

E então, tudo ficou escuro .

 

 

 

 


 

 

 

De repente, o vazio e o caos das estrelas distorcidas cessaram.

Briely sentindo o estômago revirar quando uma rajada de frio acertou seu rosto.

Seus olhos se abriram, e o que viu a fez congelar de pavor: um céu azul claro, enquanto seu corpo despencava em queda livre.

O vento uivava em seus ouvidos, bagunçando seus cabelos e arrancando um grito rouco de sua garganta.

 

— Pelos deuses, o que está acontecendo?! — berrou ela, os braços se agitaram desesperadamente enquanto tentava encontrar algum equilíbrio no ar.

O pânico apertava seu peito como uma garra, sufocando qualquer julgamento claro.

Ela olhou para suas mãos, tremeu, e notou que o orbe não estava mais ali.

Sua mochila também havia sumido, engolida pelo vazio de onde quer que tivesse vindo. — Cadê as minhas coisas?!

O chão se aproximava de uma velocidade assustadora, revelando um terreno estranho e inquietante abaixo dela.

Era um jardim abandonado, cercado por arbustos ressecados e árvores tortuosas, com gramíneas altas.

No centro, erguia-se uma mansão colossal e decadente, um relicário de pedra e tijolo vermelho que parecia ter sido esquecido pelo tempo.

Era uma construção vitoriana, com janelas estreitas cobertas por venezianas quebradas, torres inclinadas que desafiavam a gravidade, e um telhado de ardósia preta, partes dele remendadas com placas de metal enferrujadas.

Gárgulas desgastadas vigiavam as bordas, seus rostos de pedra corroídos pelo tempo, mas ainda carregando uma expressão de ameaça.

Fios elétricos mal instalados corriam pelas paredes externas, conectados a luzes de segurança que piscavam erraticamente, um contraste estranho com a arquitetura antiga. Havia uma aura sufocante naquele lugar, uma energia que parecia vibrar, fazendo a pele de Briely se arrepiar.

 

Sem tempo para pensar, ela fechou os olhos por um instante, invocando seus poderes. A umidade do ar respondeu ao seu chamado, condensando-se em uma barreira de água que envolve um escudo líquido, desacelerando sua queda.

Com um impacto abafado, ela atingiu o solo, a água se deixou em poças irregulares ao seu redor. Ofegante e com a mente zonza, Briely se levantou, com  as pernas trêmulas. Pequenos filetes de água ainda flutuavam perto dela, como guardiões invisíveis prontos para reagir.

Ela deu alguns passos hesitantes pelo jardim, os olhos examinando o ambiente. O cheiro de terra úmida misturava-se com um odor químico sutil, talvez de algum gerador ou maquinaria próxima à mansão.

Antes que você pudesse se orientar, um ruído metálico a fez girar a cabeça. Um homem surgiu de uma trilha de cascata de ervas orgânicas, vestido com um uniforme.

Ele usava um fone de ouvido rudimentar conectado a um walkie-talkie no cinto, uma peça de tecnologia que contrastava com a aura mística de sua aparência.

Seus olhos se arregalaram ao ver a água dançando ao redor de Briely, e sua expressão passou de choque para suspeita em um instante. 

Que droga é essa?! — exclamou ele, a voz ríspida enquanto dava um passo para trás, pegando o walkie-talkie com uma mão trêmula.

— temos uma intrusa no jardim oeste! Algum tipo de... anomalia aqui. Mande backup agora!

 

— Ei, peraí, eu não sou inimiga! — Briely disse as mãos, tentando manter um tom tranquilo, embora seu coração estivesse na garganta.

— Eu só caí aqui, não sei onde estou.

O guarda não deu atenção às suas palavras, ainda gritando no walkie-talkie enquanto a encarava como se ela fosse uma ameaça iminente.

Em poucos segundos, o som de botas pesadas ecoou pelo jardim, misturado ao zumbido de um motor distante, talvez um gerador da mansão.

Mais figuras surgiram das sombras, seis delas, todas vestidas com uniformes semelhantes, Cada um carregava uma arma uma pistola, Alguns tinham lanternas táticas presas aos ombros, enquanto formavam um círculo ao redor de Briely, as armas apontadas sem hesitação.

— Fique onde está! — falou o que parecia ser o líder, um homem de meia-idade com linhas duras no rosto e um tom de comando na voz. — Explique sua presença ou será detida à força

— Eu já disse, eu não sei onde estou! — retrucou Briely, uma voz tremenda de frustração. — Só quero ir embora. Não quero problemas  com vocês!

 

— Ninguém entra na propriedade de Burgess sem autorização! — cortou outro guarda, mais jovem, mas com um olhar frio. — Abaixe... seja lá o que for  essa água, ou vamos abrir fogo!

 

Briely recuou, o instinto tomando conta. A água ao seu redor respondeu à sua tensão, e com um gesto rápido, ela lançou uma onda contra o guarda, acertando-o no peito e jogando-o para trás contra uma cerca enferrujada. Ele soltou um grunhido, e caiu com um baque, mas o ato só agravou a situação.

 

— Ameaça confirmada! Tome posição! — berrou o líder, ajustando a arma com um clique metálico.

 

Briely erguer outra barreira de água, as mãos tremendas enquanto tentava se concentrar, mas antes que conseguisse concluir o movimento, um som estranho, como um tiro abafado, rasgou o ar.

Uma dor aguda explodiu em seu ombro. Ela baixou os olhos e viu um dardo cravado em sua pele, um líquido translúcido já se espalhando sob a superfície. O efeito foi quase imediato — suas pernas cederam, a água ao seu redor desmoronou em um splash inútil, e sua visão começou a embaçar.

— Vocês... não... — murmurou ela, a voz fraca enquanto caía de joelhos. As silhuetas dos guardas se aproximavam, as luzes de suas lanternas ofuscando-a quando caía de joelhos. enquanto suas vozes se misturavam em um eco distante. A escuridão a engoliu mais uma vez.

 

 

 


 

 

Briely Sentiu  o corpo mole, como se seus ossos fossem feitos de gelatina.

Uma dormência incômoda percorria seus membros, e sua cabeça girava, um eco da dor do tranquilizante ainda pulsando em suas veias.

Ela viu que não estava mais no chão do jardim onde havia desmaiado; ela estava sendo carregada. Mãos ásperas seguravam seus braços e pernas, e o balançar irregular dos passos fazia seu estômago revirar. Vozes abafadas cortavam o ar ao seu redor, contendo-as.

 

— Cuidado, ela não é humana. Você viu o que ela fez com a água lá fora — disse um guarda, a voz baixa, quase um murmúrio, mas com um tom de nervosismo inconfundível. — Se ela acordar agora, estamos ferrados.

 

— Relaxa, Greg.o dardo vai manter-la fora de jogo por mais um tempo — respondeu outro, com uma confiança confiante. — Só precisamos deixar-la no porão. O chefe vai decidir o que fazer.

 

— Espero que o velho Burgess saiba lidar com isso. Se essa garota for o que eu acho... — O primeiro guarda parou de falar, como se temesse completar a frase.

 

 Briely Tentou brevemente mover os dedos, mas só consegui um tremor fraco. Antes que pudesse analisar mais, sentindo seu corpo sendo baixado.

O frio do mármore atingiu suas costas como uma lâmina gelada, arrancando um suspiro rouco de seus lábios.

Ela abriu os olhos lentamente, com dificuldade, a visão embaçada. Sua respiração era lenta, pesada, cada inspiração parecia um esforço monumental.  Ela Tentou se sentar, os músculos protestando, mas seu tronco mal se relaxou antes de desabar de novo contra o chão frio.

Seus olhos, ainda turvos, focalizaram algo à sua frente. A poucos metros, dentro de um orbe de vidro imenso, preso por runas douradas gravadas na base de metal que sustentava a estrutura, havia alguém.

Uma figura pálida, esguia, de uma beleza quase sobrenatural. Era um homem, completamente nu, sentado em uma postura imóvel, como uma estátua viva.

Seus cabelos negros caíram desgrenhados sobre os ombros, e seus olhos, profundos como abismos infinitos, encaravam-na diretamente. Havia algo naquela mirada que a fez estremecer — não era apenas curiosidade ou hostilidade, mas uma intensidade que parecia atravessar sua alma.

Briely abriu a boca para falar, mas a queima a vencer. Sua visão escureceu novamente, e ela desmaiou novamente, o frio do mármore sendo a última sensação que registrou.

 

 


 

Quando acordou de novo, ainda grogue, sua cabeça latejava com mais força.

Ela se levantou devagar, apoiando-se nos cotovelos, o corpo protestando a cada movimento. Piscou várias vezes, tentando clarear a visão, e notou o chão sob si.

Era um círculo de runas, idêntico ao que circundava a base do orbe de vidro à sua frente. As marcas emitiam um brilho fraco, azul-esverdeado.

O ar ao seu redor era úmido. As paredes de pedra eram escuras, cobertas por musgo em alguns pontos, e o espaço parecia sufocante, carregado de uma energia que ela não conseguia descrever.

Seus olhos voltaram para o estranho no orbe. Ele ainda a encarava, nu e silencioso, sua presença quase sufocante.

Briely sentindo um desconforto crescer dentro dela, tanto pela situação quanto pelo peso daquele olhar.

Ela se levantou com dificuldade, os joelhos tremendo,  em direção à saída da sala — uma porta de ferro pesado ao fundo, com barras reforçadas.

Mas ao se aproximar da borda do círculo de runas, uma força invisível a empurrou para trás, como um choque elétrico que fez seus dentes rangirem. Ela retrocedeu, ofegante, o coração acelerado.

Foi então que a porta rangeu, abrindo-se com um som metálico que ecoou pelo porão. Uma guarda entrou, uma mulher de meia-idade, Seu rosto era duro, marcado por linhas de cansaço, e ela carregava um bastão metálico, Seus olhos passaram por Briely com desdém antes de se voltarem para as runas, como se verificasse se estavam intactas.

— Ei, você! Me tire daqui agora! — falei Brevemente, a voz rouca, mas informações de frustração. — O que é isso? Por que não posso sair?

 

A guarda nem  olhou para ela, continuando a inspeção do círculo. Briely sentindo a raiva borbulhar em seu peito, apertando os punhos com força.

 

— Se não baixar essa barreira, juro que vou te afogar! — ameaçou ela, os olhos faiscando. — Você não tem ideia de quem eu sou!

 

A guarda finalmente parou, lançando um olhar frio por cima do ombro, mas não disse nada. Ignorou-a completamente, voltando ao seu trabalho.

Briely rangeu os dentes, o desespero misturando-se à raiva. Ela levantou as mãos, tentando invocar seu poder, chamando a umidade do ar, sentindo as correntes de água que sempre respondiam ao seu chamado. Mas nada aconteceu.

Nem uma gota, nem uma brisa. Era como se algo naquele lugar tivesse sido desligado de sua essência. Seu peito abriu, o pânico subindo como uma onda que ela não podia controlar.

— Por que... por que não funciona? — murmurou para si mesma, a voz tremenda enquanto olhava para as próprias mãos. Seus dedos passaram instintivamente pelo anel em seu dedo, sua espada. Mas ela hesitou, parando o movimento. Revelar isso agora só traria mais problemas. Precisava de um plano, não de mais inimigos.

 

A guarda, por fim, falou, a voz seca e desprovida de emoção. — Você está na Mansão Burgess. E vai ficar aqui por enquanto. Ordens do chefe.

 

Briely virou-se para ela, os olhos estreitos, a raiva explodindo.

— Me solte agora mesmo! Você não sabe com quem está mexendo! Meu irmão vai vir para trás de mim, e ele vai fazer vocês se arrependerem por cada disso!

Meu pai  também não vai perdoar vocês! Ele vai inundar este lugar inteiro, e vocês terão mais problemas que nunca imaginaram!

 

Por um instante, o guarda pareceu hesitar, uma sombra de coleta cruzando seu rosto. Seus dedos apertaram o bastão com mais força, e ela lançou um olhar rápido para o orbe de vidro, como se temesse algo maior do que as ameaças de Briely.

Mas então, sua expressão voltou ao normal, e ela voltou a ignorar, virando-se para sair da sala sem dizer mais uma palavra.

 

Briely soltou um grito de frustração, batendo as mãos no chão frio. Exausta, ela se sentou, tirando os sapatos com movimentos bruscos, como se precisasse de algo para descarregar a raiva. Seus olhos desviaram  para o estranho preso no orbe ao seu lado.

Ele parecia em condições muito piores — nu, vulnerável, preso em um espaço que não oferece nenhuma privacidade ou conforto. Ainda assim, sua presença era imponente, quase esmagadora.

 

— Ei... quem é você? — Disse ela, a voz baixa, quase um sussurro, como se temesse quebrar o silêncio opressivo do porão. — Por que você está aqui?

Ele não respondeu. Apenas continue a encará-la, aqueles olhos insondáveis ​​fixos nela, como se vissem além de sua pele, além de suas palavras.

Briely desviou o olhar, o desconforto crescendo. Ela não sabia quem ele era, mas uma coisa era certa: aquele lugar, aquelas runas, e até mesmo aquele estranho carregavam segredos que ela não estava preparada para enfrentar. Pelo menos, ainda não.

 

 


 

As horas se arrastavam como dias no porão úmido da Mansão Burgess. Briely permanência confinada no círculo de runas, o brilho azulado pulsando de forma quase hipnótica, como um lembrete constante de sua prisão.

Os guardas passando são ocasionais, suas botas ecoando nas pedras do chão, mas nenhum deles lhe dirigia mais do que um olhar fugaz. Suas perguntas, e suas ameaças, tudo caiu em ouvidos surdos.

E o estranho no orbe de vidro à sua frente, o homem pálido de olhos insondáveis, também a ignorava — ou pelo menos não respondia. Ele apenas a observava, sua presença silenciosa tão sufocante quanto as paredes de pedra ao redor.

 

Sentada com as costas encostadas na borda invisível do círculo, Briely passou os dedos trêmulos pelo chão frio, tentando, mais uma vez, invocar seus poderes.

Fechou os olhos, concentrando-se, buscando a conexão com a água que sempre fora parte dela, um eco de seu pai, Poseidon. Mas nada aconteceu. Nem uma gota, nem uma brisa úmida. Era como se algo naquele lugar tivesse sido cortado de sua essência.

A frustração queimava em seu peito, misturando-se ao desespero. Ela bateu as mãos no chão, os nós dos dedos fazendo com o impacto, mas nem isso aliviou a raiva.

Foi então que notou algo estranho. Passaram-se horas — talvez um dia inteiro, era difícil acompanhar o tempo naquele lugar sem janelas — e ela não sentia fome. Nem sede.

Seu corpo estava exausto, sim, os músculos pesados ​​e a mente enevoada, mas não havia aquele vazio no estômago, nem a secura na garganta que deveria acompanhar a privação.

Era um alívio, de certa forma, saber que não morreria de inanição ali. Mas também era inquietante. O que estava acontecendo com ela? Era o círculo de runas? A presença daquele lugar? Ou algo relacionado ao estranho que não tirava os olhos dela?

Seus olhos se encheram de lágrimas enquanto a realidade de sua situação atingia com força renovada. Ela se encolheu, virando-se de costas para o globo de vidro, como se pudesse bloquear o peso daquele olhar.

Tirou a jaqueta com movimentos lentos, dobrando-a e colocando-a sob a cabeça como um travesseiro improvisado. O tecido ainda cheirava a terra um lembrete de onde ela estava antes de tudo desmoronar.

As lágrimas escorreram silenciosamente no início, mas logo os soluços baixinhos escaparam, ecoando no silêncio opressivo do porão.

 

Pai... por favor... — murmurou ela, a voz entrecortada, as mãos unidas em uma prece desesperada.

Eu ouça. Me tire daqui. Eu não sei onde estou, não sei o que está acontecendo... por favor, me ajude.

Mas não houve resposta. Nenhum rugido distante do mar, nenhum tremor nas paredes que pudesse indicar a presença de Poseidon. Apenas o silêncio, cortado pelo zumbido quase imperceptível das runas.

O vazio era mais doloroso do que qualquer golpe físico. Briely enterrou o rosto na jaqueta, os soluços se intensificaram por um momento antes de se reduzirem a um choro baixo, quase um lamento.

Percy... — sussurrou, chamando o nome do irmão como se ele pudesse ouvi-la através da distância impossível que os separava.

Tô com medo. Muito medo. Onde eu vim parar? Esse orbe... ele me teletransportou pra algum lugar. Uma mansão de alguém. Não sei o que é isso que lugar e esse, Percy... não sei o que fazer.

 

A exaustão finalmente a venceu. Seus olhos pesaram, as lágrimas secando em seu rosto enquanto o sono a reivindicava.

Ela se encolheu ainda mais, o corpo tremendo de leve, não pelo frio, mas pelo medo que parecesse crescer a cada segundo naquele lugar.

O último pensamento consciente foi uma pergunta sem resposta: como ela havia ido parar ali, e o que aquela mansão — e aquele estranho — guardavam?

 

Enquanto dormia, algo começou a se manifestar. Imagens fragmentadas invadiram sua mente, mais vívidas do que qualquer sonho que ela já teve.

Era um castelo de vidro, erguendo-se em um céu impossível, com núcleos que não pertenciam ao mundo que ela conhecia. Figuras indistintas caminhavam por paisagens que mudavam a cada instante — campos de areia dourados se transformavam em oceanos de escuridão, montanhas desmoronando em névoa.

Um calor suave se envolveu, quase reconfortante, mas também havia uma presença, algo ou alguém que ela não conseguiu identificar.

Não era hostil, mas também não era acolhedor. Era... curioso.

 

Briely acordou ofegante, o coração disparado, o corpo ainda escolhido no chão frio. Por um instante, não sabia onde estava, a linha entre o sonho e a realidade borrada. Seus olhos encontraram os do homem pálido no orbe de vidro.

Ele ainda a observava, como sempre, mas dessa vez havia algo diferente em seu olhar. Uma centelha, talvez de curiosidade, talvez de algo mais profundo. Ela não sabia dizer o que era.

 

— O que foi isso? — Disse ela, mais para si mesma do que para ele, a voz rouca do choro e do sono.

 

Ele não respondeu, é claro. Mas, por um breve instante, Briely jurou que sentiu algo — uma presença em sua mente, como um sussurro que não conseguiu decifrar.

Ela piscou, confusa, sacudindo a cabeça como se pudesse evitar a sensação. Algo naquele homem, na forma como ele a encarava, fazia sentir que eu precisava manter a guarda alta.

 

 


 

 

 

 

Os dias no porão da Mansão Burgess se arrastavam como uma eternidade indistinta.

Briely havia perdido a noção do tempo, incapaz de distinguir se haviam se passado dois, três ou cinco dias desde que teve aquele primeiro sonho estranho.

O brilho azulado das runas que formavam sua prisão parecia pulsar em um ritmo cruel, quase zombeteiro, como se soubesse que ela não tinha para onde ir, nada para fazer além de esperar. E, acima de tudo, havia o olhar daquele estranho no orbe de vidro.

Ele não dizia uma palavra, mas seus olhos — profundos, insondáveis, e de alguma forma... divertidos — não desviavam dela nem por um segundo.

 

Briely sentia um calor irritante subindo pelo pescoço toda vez que percebia aquele olhar fixo.

Era como se ele soubesse algo que ela não sabia, como se estivesse se divertindo com sua impotência.

Ela tentou ignorá-lo no início, focando sua raiva nos guardas que ocasionalmente passavam pelo porão.

Eles eram sua única distração, além do tédio sufocante e dos sonhos que continuavam a invadir suas noites.

 

— Ei, seus covardes! — gritou ela, a voz ecoando pelas paredes úmidas enquanto batia as mãos contra a barreira invisível do círculo de runas.

O impacto fez seus pulsos doerem, mas ela não se importou. — Vocês acham que isso vai me segurar pra sempre? Meu irmão e meu pai vão vir atrás de mim, e quando um  deles chegarem, vocês vão desejar nunca terem nascido.Eles vão matar cada um de vocês!

 

Os guardas, dois homens de rostos endurecidos e uniformes gastos, trocaram olhares rápidos.

Eles não responderam, como sempre, mas Briely notou a tensão em seus ombros, o leve aperto nos maxilares.

Um deles desviou os olhos, fingindo ajustar o cinto, enquanto o outro segurou o rifle com mais força, como se temesse que as ameaças dela pudessem se tornar reais a qualquer momento.

Isso trouxe a Briely uma pequena satisfação, um vislumbre de controle em um lugar onde ela não tinha nenhum. Mas era uma vitória fugaz.

Os guardas seguiram seu caminho, os passos ecoando até desaparecerem, deixando-a novamente sozinha com o silêncio... e com aquele olhar.

 

Ela se virou para o orbe de vidro, os punhos cerrados ao lado do corpo. O homem pálido ainda a encarava, os cantos de seus lábios levemente curvados em algo que parecia um sorriso sutil, quase imperceptível. Mas estava lá. E isso a enfureceu ainda mais.

 

— O que é tão engraçado? — disparou ela, aproximando-se da borda do círculo, o mais perto que conseguia chegar do orbe sem cruzar as runas.

— Para de me encarar como se eu fosse um bicho num zoológico! Se tem algo a dizer, fala logo. Ou pelo menos para de me olhar assim. Tá me dando nos nervos!

 

Ele não respondeu, é claro. Apenas continuou a observá-la, os olhos brilhando com aquela mistura de curiosidade e diversão que a deixava inquieta. Briely bufou, cruzando os braços e virando as costas para ele com um movimento brusco.

Sentou-se no chão frio, encostando a lateral do corpo na barreira invisível, mas mesmo de costas, ela sentia o peso daquele olhar. Era como uma presença física, um peso que parecia pressionar suas costas, sua nuca, cada canto de sua mente.

Ela tentou se concentrar no som de sua própria respiração, no frio do chão, em qualquer coisa que não fosse ele. Mas não adiantava.

 

— Ridículo — murmurou para si mesma, cerrando os dentes. — Nem sei por que me importo. Ele nem fala. Só fica aí... olhando. Como se eu fosse um quebra-cabeça ou algo assim.

 

Os dias continuaram a passar dessa forma, uma monotonia quebrada apenas pelas breves passagens dos guardas e pela persistência daquele olhar.

Briely passava a maior parte do tempo sentada ou deitada, encarando o teto de pedras ou tentando arranhar as runas com as unhas — um esforço inútil que só deixava suas mãos machucadas.

A única outra coisa que marcava o tempo eram os sonhos. Eles continuavam, noite após noite, cada vez mais vívidos, mais estranhos.

Agora havia vozes, murmúrios que ela não conseguia compreender completamente, como se alguém estivesse falando de muito longe, ou através de uma parede de água. E, em cada despertar, lá estavam aqueles olhos, fixos nela, como se esperassem algo.

 

Em uma dessas noites, o sonho foi particularmente intenso. Briely se viu em um deserto de areia negra, o céu acima dela fragmentado como um espelho estilhaçado, refletindo imagens impossíveis de lugares que ela nunca vira.

O ar era pesado, carregado de uma energia que parecia viva, e os murmúrios estavam mais altos, mais insistentes, embora ainda indistintos. Ela tentou correr, tentou gritar, mas seu corpo não obedecia. Então, de repente, acordou com um salto, o coração disparado, o corpo coberto de suor apesar do frio do porão.

 

Seus olhos encontraram os dele imediatamente. Ele ainda a encarava, sem piscar, sem desviar.

O leve brilho de diversão parecia ter dado lugar a algo mais... intenso, quase exigente. Era como se ele soubesse o que ela acabara de sonhar, como se estivesse esperando uma reação.

 

— Chega! — explodiu ela, levantando-se de um pulo e batendo as mãos contra a barreira invisível. A dor subiu por seus braços, mas ela ignorou.

— Para de me olhar assim! Eu sei que você tá fazendo algo com meus sonhos. Não finja que não! Tô cansada disso, entendeu? Fala logo o que você quer ou para de me encarar de uma vez!

 

Ele não se moveu, não disse uma palavra. Apenas continuou a observá-la, o rosto impassível, mas com aquele brilho nos olhos que parecia dizer que ele estava ouvindo cada palavra, absorvendo cada gesto. Briely bufou novamente, o rosto vermelho de raiva e frustração.

Ela virou as costas para ele mais uma vez, sentando-se com as pernas cruzadas e os braços firmemente cruzados sobre o peito. Mas o peso daquele olhar não desaparecia. Sentia os cabelos da nuca se arrepiarem, como se ele pudesse ver através dela, mesmo de costas.

 

— Você é insuportável — resmungou ela, baixinho, quase como se esperasse que ele ouvisse. — Se não vai falar, pelo menos me deixa em paz.

 

Exausta, ela se deitou no chão frio, usando a jaqueta como travesseiro. Fechou os olhos, tentando forçar o sono, mas sua mente estava agitada, cheia de perguntas sem respostas.

Ainda sentia o olhar dele, mas o cansaço acabou vencendo. Quando o sono finalmente veio, foi inquieto, carregado de ansiedade. E então, no meio da escuridão de sua mente, uma voz ecoou, clara e profunda, cortando o silêncio como uma lâmina.

 

Não resista aos sonhos. Não desejo machucá-la.

 

Briely acordou abruptamente, o corpo tenso, os olhos arregalados enquanto ofegava. O porão estava exatamente como antes, o brilho das runas iluminando o espaço de forma fantasmagórica. E lá estava ele, ainda a encarando, sem desviar, sem mudar de expressão. Mas algo em seu olhar parecia... confirmar o que ela acabara de ouvir.

 

— Era você, não era? — perguntou ela, a voz rouca, mas carregada de certeza. — Aquela voz no meu sonho. Era você.

 

Ele não respondeu de imediato, mas houve um leve movimento, quase imperceptível. Um aceno de cabeça, tão sutil que ela poderia ter imaginado. Mas ela viu. E isso bastou para que a raiva se misturasse a uma curiosidade inquietante.

 

— Tá bom — disse ela, depois de um longo silêncio, a voz mais calma, mas ainda afiada. — Eu vou te ouvir. Vou tentar. Mas não pense que confio em você. Só quero entender o que tá acontecendo.

 

Ela se deitou novamente, fechando os olhos com relutância. As horas pareceram se arrastar, o silêncio do porão broken apenas pelo som de sua própria respiração. O cansaço a vencia aos poucos, e finalmente o sono veio, mais profundo dessa vez. E, com ele, veio o sonho.

 

Briely se viu em um espaço vazio, um vácuo onde não havia céu nem chão, apenas uma escuridão infinita quebrada por fragmentos de luz que pareciam pulsar como estrelas distantes.

A sensação era sufocante, mas também estranhamente familiar. E então, a voz retornou, alta e clara, como se viesse de todos os lados ao mesmo tempo.

 

Está aqui, Era ele.

Briely olhou ao redor, e então o viu — uma figura, quase indistinta contra o fundo negro, mas inconfundivelmente ele. Seus olhos brilhavam com a mesma intensidade que ela conhecia do orbe, mas havia algo mais vulnerável em sua presença ali, como se aquele lugar o expusesse de uma forma que o porão não podia.

 

— Sim, tô aqui — respondeu ela, a voz ecoando de forma estranha naquele vazio. Ela deu um passo incerto em direção a ele, embora não soubesse se havia um "chão" sob seus pés. — Quanto tempo você tá preso aqui? Nesse orbe, nesse lugar... quanto tempo?

 

Ele a olhou por um longo momento, como se pesasse suas palavras. Seus lábios se moveram, mas antes que qualquer som saísse, o espaço ao redor começou a tremer. As luzes pulsantes se apagaram uma a uma, e a escuridão pareceu se fechar como uma onda. Briely sentiu um puxão, como se algo a arrancasse dali, e então acordou com, o corpo tenso no chão frio do porão.

 

Seus olhos encontraram os dele imediatamente. Dream ainda a encarava, mas agora havia algo diferente em seu rosto — uma sombra de frustração, talvez, ou de algo mais profundo. Ele não falou, e ela também não disse nada por um longo momento. Apenas o silêncio os conectava, carregado de perguntas que nenhum dos dois podia responder... ainda.

 

Briely se sentou lentamente, o coração ainda acelerado. Ela não sabia o que acabara de acontecer, mas uma coisa era certa: aquele estranho, quem quer que fosse, não era apenas um prisioneiro como ela. Havia algo maior, algo divino. E, pela primeira vez, ela sentiu que talvez — apenas talvez — precisasse dele para isso.

 

 

 


 

CAST  👇

 

Deva cassel como Briely 

 

 

 

 

 

 

 

Notes:

Capítulo editado e melhorado :)

Chronou kai Polykosmou Kleis
Tradução: "Chave do Tempo e do Multiverso” ou “Chave do Tempo e dos Muitos Mundos”.

 

Podem imaginar a brielly como a atriz Deva cassel em aparência.

Chapter 2

Notes:

Capítulo editado :)

Chapter Text

 

   

Os dias no porão da Mansão Burgess continuavam a se arrastar, um ciclo interminável de pedra fria, sombras e o brilho opaco das runas que delimitavam a prisão de Briely.

O tédio era sufocante, mas algo havia mudado desde que os sonhos começaram a se tornar mais claros.

A cada noite, ela se via em cenários impossíveis, conversando com o estranho preso no orbe de vidro.

As trocas de palavras eram fragmentadas, instáveis, como se a própria realidade dos sonhos tremesse ao redor deles.

Até que, em uma noite particularmente vívida, o sonho se estabilizou de forma quase tangível.

Briely se encontrou em um penhasco negro, cercado por um céu de tons violetas e dourados, onde estrelas pareciam se mover como peixes em um lago.

O ar era pesado, carregado de uma energia que parecia vibrar em sua pele. E lá estava ele, o estranho do orbe, sentado em uma rocha lisa, sua figura pálida contrastando com o ambiente surreal.

E lá estava ele, o estranho do orbe, sentado em uma rocha lisa, sua figura pálida contrastando com o ambiente surreal.

Ela hesitou ao notar que, no sonho, ele estava completamente nu, a pele quase luminescente sob a luz estranha do céu. Um calor subiu ao seu rosto, e ela desviou o olhar por um instante, sentindo uma pontada de vergonha.

— Tá brincando comigo, né? — murmurou para si mesma, antes de reunir coragem e se aproximar.

murmurou para si mesma, antes de reunir coragem e se aproximar.

Sentou-se na rocha ao lado dele, mantendo uma distância segura, os olhos fixos em um ponto distante no horizonte. 

— Isso é um sonho, Briely. Só... ignora.

Ele a observou com um leve inclinar de cabeça, os olhos profundos e insondáveis, como sempre.

Mas havia algo mais relaxado em sua postura ali, como se o Sonhar fosse um lugar onde ele pudesse ser mais ele mesmo. Quando falou, sua voz era grave, ressonante, ecoando no vazio ao redor.

— Eu sou Morpheus, Sonho dos Perpétuos. É assim que me chamam... ou chamavam, antes de estar aqui. Briely franziu o cenho, virando a cabeça para encará-lo.

 

O nome acendeu um alarme em sua mente, mas não do jeito que ele provavelmente esperava. Ela conhecia Morpheus — ou pelo menos achava que conhecia.ou pelo menos descobriu que conhecia.

No Acampamento Meio-Sangue, Morpheus era só mais um deus menor, ligado aos sonhos, mas longe de ser uma figura de destaque entre os Olimpianos.

E certamente não alguém que se apresentava com tanto... peso. Ela cruzou os braços, um sorriso debochado curvando seus lábios.

— Morpheus, hein? — disse, a voz pingando desconfiança. — Tá tentando se passar pelo deus dos sonhos que conheço, é isso? Olha, eu sei que tá preso aí, mas inventar histórias não vai te ajudar a sair. Se quer brincar, tudo bem, eu brinco junto. Mas não me toma por idiota.

 

Os olhos dele se estreitaram, mas não havia raiva ali, apenas uma curiosidade afiada. Ele inclinou a cabeça, como se tentasse entender algo fora de alcance.

Ele inclinou a cabeça, como se tentasse entender algo fora de alcance.

— Não brinco. Sou Morpheus, um dos Perpétuos, guardião do Sonhar, o reino onde todas as histórias e sonhos convergem. Meu domínio é vasto, mas agora... estou preso, como você. E você, quem é para duvidar de mim com tal certeza?

 

Briely bufou, rolando os olhos. Ainda achava que ele estava tentando irritá-la ou manipulá-la, mas decidiu entrar no jogo. Afinal, não tinha muito mais a fazer naquele porão maldito.

 

— Tá bom, “Morpheus”. Se você é mesmo quem diz ser, os deuses e semideuses já saberiam. Um deus preso não passa despercebido, sabia? Especialmente alguém como você, supostamente tão importante.

Um deus preso não passa despercebido, sabia?

Especialmente alguém como você, cumpriu tão importante.

Ela fez uma pausa, o tom mais sério agora.

—  E meu nome é Briely. Sou uma semideusa, e filha de Poseidon. E antes que você pergunte, sim, *

E antes que você pergunte, sim,

* o* Poseidon.

Passo um período de tempo no Acampamento Meio-Sangue, um lugar onde semideuses como eu vivem, treinam e tentam sobreviver às loucuras que os deuses jogam na gente.

Acabei aqui por causa de uma missão que deu errado. Peguei um objeto estranho, li umas palavras em transe, e bum — caí do céu, literalmente, e acordei caindo do céu e acabei no jardim e depois disso fiquei presa nesse porão. Então, qual é a sua desculpa?

 

Morpheus franziu a testa, o gesto sutil, mas evidente no rosto pálido. Ele a encarou por um longo momento, como se estivesse tentando encaixar as peças de um quebra-cabeça impossível.

Ele a encarou por um longo momento, como se estivesse tentando encaixar as peças de uma quebra-cabeça impossível.

— Poseidon... conheço-o. Senhor dos mares, esposo de Anfitrite, pai de Tritão.

Mas uma filha? 

Uma semideusa, nascida de um mortal e de um deus?

E esse...

Acampamento Meio-Sangue?

Isso não estava em meu conhecimento.

Briely congelou por um segundo, depois soltou uma risada amarga. Não queria soar como se estivesse se gabando, mas a ignorância dele a pegou de surpresa — e, de certa forma, a ofendeu.

 

Ela e seu irmão gêmeo eram bastante conhecidos no mundo dos deuses, especialmente por serem filhos proibidos, nascidos após o pacto dos Três Grandes. Como ele podia não saber?

 

— Sério? — retrucou ela, o tom afiado. — Não quero me vangloriar, mas eu e meu irmão gêmeo não somos exatamente desconhecidos entre os deuses.

retrucou ela, o tom aprimorado.

Filhos proibidos de Poseidon, já ouviu falar? E o Acampamento Meio-Sangue é tipo... o centro de tudo pra gente. Como você não sabe disso?

E o Acampamento Meio-Sangue é tipo...

o centro de tudo pra gente. Como você não sabe disso?

Ou  você tá preso há tanto tempo aqui que perdeu o contato com o mundo? Morpheus não respondeu de imediato. Seus olhos a dissecaram, buscando algo além das palavras.

Morpheus não respondeu imediatamente. Seus olhos a dissecaram, buscando algo além das palavras.

Briely aproveitou o silêncio para fazer outra pergunta, a curiosidade mordendo sua mente. — Aliás, há quanto tempo você tá preso aí nesse orbe?

 

Ele hesitou, como se as palavras fossem pesadas demais para serem ditas. Quando falou, sua voz era baixa, carregada de uma melancolia que a pegou desprevenida. — Desde 1916. Décadas, Briely. Décadas neste confinamento, longe do Sonhar, longe de meu propósito.

 

Os olhos dela se arregalaram, e sua boca formou um “o” silencioso. Uma expressão de choque cruzou seu rosto. Décadas. Desde 1916? Era tempo demais. Ela engoliu em seco, tentando processar a enormidade disso.

.

— Caramba... tá falando sério? Isso é... — Ela balançou a cabeça, tentando se recompor. — Tá, mas me diz uma coisa.

Ela balançou a cabeça, tentando se recompor.

— Tá, mas eu digo uma coisa.

Você é mesmo *o* Morpheus? Porque, se for, não tô entendendo como ninguém sabe que você tá aqui. Ele a encarou, e pela primeira vez, uma sombra de irritação passou por seus traços.

Ele a encarou, e pela primeira vez, uma sombra de proteção passou por seus traços.

Seus olhos brilharam com algo perigoso, mas ele controlou a voz ao responder. — Já disse quem sou. Não minto. Sou Morpheus, Sonho dos Perpétuos. E minha prisão é um assunto que nem todos poderiam compreender plenamente.

— Já disse quem sou. Não minto. Sou Morpheus, Sonho dos Perpétuos.

E minha prisão é um assunto que nem todos puderam compreender plenamente.

Briely ergueu as mãos, quase como se estivesse se rendendo, mas seu tom ainda carregava um fiapo de provocação. — Tá, tá, calma. Só tô tentando te entender.

 

Esse negócio de ‘Perpétuo’... não faz sentido pra mim. No lugar de onde venho, você seria só um deus menor, sabe? Filho de Hipnos, algo assim. Então, me explica direito.

 

Morpheus permaneceu em silêncio por um instante, como se decidisse o quanto revelar. Enquanto isso, ele parecia notar algo estranho nas palavras dela, nos nomes e lugares que mencionava.

Ele inclinou a cabeça, a irritação dando lugar a uma análise fria. 

— Antes de explicar mais, quero saber sobre esse assunto que você considera relevante. O objeto que trouxe aqui. Era Como?

O que você fez exatamente?

Briely suspirou, passando a mão pelo cabelo bagunçado.

Não via mal em contar, embora achasse que ele estava desviando do assunto. 

— Era uma esfera pequena, preta, com uns símbolos gravados. Peguei ela na mão durante a missão, li umas palavras que surgiram na minha cabeça, como se eu estivesse em transe.

Aí bum o mundo girou, senti como se estivesse sendo puxado por um redemoinho, e acordei caindo do céu perto dessa mansão mal-assombrada.

Fui capturada logo depois. É isso.

Os olhos de Morpheus brilharam com algo novo — compreensão, talvez, ou uma suspeita confirmada. Ele se inclinou um pouco mais para a frente, a voz grave e carregada de certeza.

 

Então, ouça. Há algo que você precisa considerar. 

Talvez você tenha sido trazido de um lugar muito distante, de uma realidade que não se alinha com o que conheço.

Isso pode explicar por que não estou familiarizado com os nomes ou lugares de que fala.

O Acampamento Meio-Sangue, os filhos proibidos de Poseidon... nada disso me é conhecido.

Briely o encarou, boquiaberta. A ideia era absurda, impossível. Ela achava que tinha sido teletransportada para um canto esquecido do mundo, talvez uma mansão assombrada ou um reduto de cultistas loucos.

Mas uma realidade diferente

Isso era demais.

— Espera aí, o quê? 

exclamou ela, rindo nervosamente.

— Uma realidade diferente? Tá falando sério? Isso é loucura até pros meus padrões, e olha que eu lido com deuses e monstruosidades quase todo dia.

Não, não, eu só fui teletransportado pra esse lugar esquisito.

Não tem isso de ‘outra realidade’. Você tá me zoando, né? Morpheus não sorriu. Não havia traço de brincadeira em sua expressão.

perfuraram, e pela primeira vez, Briely sentiu um frio na espinha que não tinha nada a ver com o porão úmido.

—EU Não “zombo”. Sou o guardião do Sonhar, e já vi muitas possibilidades, muitos caminhos se cruzarem em sonhos. Você fala de coisas que não reconheço, de histórias que não se alinham com o que sei. Pense nisso. Você pode estar mais longe de casa do que imagina.

Você fala de coisas que não reconheço, de histórias que não se alinham com o que sei. Pense nisso.

Você pode estar mais longe de casa do que imagina.

O sonho começou a tremer então, as cores do céu se desfazendo como tinta em água. Briely sentiu um puxão familiar, o sinal de que estava sendo arrancada de volta ao mundo real.

Antes que desaparecesse, ela lançou um último olhar para Morpheus, sua mente girando com dúvidas.

Será que ele estava certo? Ou será que era só mais um truque da mente de um prisioneiro desesperado?

Quando  ela acordou no porão, ofegante e com o coração disparado, os olhos dele ainda a encaravam através do vidro.

E, pela primeira vez, Briely não soube o que dizer. Apenas o encarou de volta, o peso de suas palavras ecoando em sua mente como um pesadelo do qual não podia escapar.

Apenas o encarou de volta, o peso de suas palavras ecoando em sua mente como um pesadelo do qual não podia escapar.

 

 


 

 

 

 

Os dias seguintes à conversa no sonho foram um tormento de pensamentos desencontrados para Briely.

Sentada no chão frio do porão, dentro do círculo mágico que a aprisionava ao lado do orbe de vidro de Morpheus, ela se abraçava com força, os joelhos contra o peito, tentando segurar a sanidade que parecia escapar a cada segundo.

O círculo, traçado com símbolos arcanos que pulsavam com uma energia opaca, não só a impedia de sair como também ainda sustentava seu corpo.

— ela não sentia fome, não precisava comer, mas isso só tornava a prisão ainda mais desumana.

Era como se sua própria existência estivesse suspensa, um eco do que ela fora no mundo real.

— Isso não pode ser real — sussurrou para si mesma, a voz trêmula ecoando no porão vazio da Mansão Burgess.

— Não pode ser verdade. Eu não posso ter sido teletransportada pra um maldito universo. Isso é insano. Absurdo.

Seus dedos remexiam nervosamente o anel em seu dedo, um objeto que parecia comum à primeira vista, mas que carregava um peso muito maior.

Era um presente de Poseidon, seu pai, uma espada de bronze celestial forjada para ela, capaz de se transformar do anel para a lâmina com um simples comando mental.

Ela nunca foi muito habilidosa com armas, mas ter aquele pedaço de casa, aquele vínculo, era a única coisa  que a mantinha ancorada.

Agora, porém, o gesto de mexer no anel só trazia angústia, uma expressão de dor se formando em seu rosto enquanto pensava em Morpheus, preso no orbe de vidro há mais de sete décadas, desde 1916. E se ela ficasse ali tanto tempo quanto ele? E se nunca escapasse daquele buraco escuro e sufocante?

E se ela ficasse ali tanto tempo quanto ele? E se nunca escapasse daquele buraco escuro e sufocante?

— Eu não posso ficar aqui presa  por décadas — murmurou, a voz se elevando em desespero. — Não vou aguentar isso. Não dá!

Seus olhos se voltaram para a porta de ferro que levava às escadas do porão. Os guardas, agora a serviço de Alex Burgess — o filho de Roderick, Uma frustração queimante, misturada com um pânico crescente, explodiu dentro dela.

Levantando-se, ela correu até a borda do círculo, sentindo a barreira invisível que a impedia de ir além, e bateu com os punhos contra o ar, como se pudesse romper a magia com pura força de vontade.

— Ei! Me deixa sair daqui! — gritou, a voz rouca ecoando pelo porão. — Vocês não podem me manter aqui pra sempre, seus covardes!  ou quem quer que esteja aí em cima, me solta! Eu vou encontrar um jeito de quebrar isso, e vocês vão se arrepender eu juro!

— Vocês não podem me manter aqui pra sempre, seus covardes! ou quem quer que esteja aí em cima, me solte! Eu vou encontrar um jeito de quebrar isso, e vocês vão se arrepender, eu juro!

Do outro lado da porta, a pequena janela gradeada se abriu, revelando o rosto de um dos guardas, um homem de meia-idade com uma expressão de tédio absoluto. Ele a encarou sem mover um músculo, imune aos gritos desesperados dela.

— Para de fazer barulho, garota. Ninguém vai te soltar. Ordens do Sr. Burgess. Se não calar a boca, vamos ter problemas — disse ele, a voz monótona, antes de fechar a janela com um estalo.

disse ele, a voz monótona, antes de fechar a janela com um estalo.

 

Briely recuou, ofegante, os punhos ainda cerrados, o peito subindo e descendo rapidamente. O pânico ainda pulsava em suas veias, mas ela sabia que não adiantava.

Não ali, não contra magia que ela nem entendia. Seus ombros caíram em derrota, e ela voltou ao centro do círculo, deslizando para o chão mais uma vez.

Seus olhos, porém, desviaram para o orbe de vidro ao seu lado, onde Morpheus a observava em silêncio, seus olhos profundos e insondáveis atravessando a barreira translúcida.

Ela se deitou no chão frio, usando o braço como travesseiro, e encarou o orbe. Morpheus estava lá, sua figura pálida e etérea, os olhos fixos nela com uma intensidade que a deixava ao mesmo tempo desconfortável e estranhamente reconfortada.

Então, ele fez algo inesperado: levantou uma mão e a pressionou contra o interior do vidro, como se tentasse alcançar algo além da barreira. O gesto era simples, mas carregado de uma intenção que ela não conseguia definir.

Um sorriso fraco, quase imperceptível, curvou os lábios de Briely. Ela fechou os olhos, tentando ignorar o peso no peito, e deixou o cansaço tomar conta. Talvez, só talvez, dormir a ajudasse a escapar, mesmo que apenas por algumas horas.

Quando o sono veio, ela se encontrou novamente no Sonho, em um lugar que parecia uma mistura de floresta e caverna, com árvores de troncos translúcidos e luzes pulsantes dançando no ar como vaga-lumes.

Morpheus estava lá, sentado em uma pedra lisa, como se a esperasse. Ela se aproximou, o peso do porão começando a se dissipar agora que estava fora daquela prisão, mesmo que só em sonho, e sentou-se perto dele.

— Você parecia... inquieta — disse ele, a voz grave ressoando no ambiente estranho, cada palavra carregada de uma calma que contrastava com a turbulência dentro dela. — Antes de adormecer.

Briely suspirou, passando a mão pelo rosto, os dedos roçando o anel de prata que ainda sentia, mesmo no sonho. — É que... eu não consigo parar de pensar no que você disse. Sobre eu estar longe de casa, mais longe do que imagino.

Isso me destrói por dentro, sabe? E pensar que você tá preso aqui desde antes de eu nascer... eu não quero acabar assim. Não suporto a ideia de passar décadas nesse círculo.

Morpheus a encarou por um longo momento antes de responder, os olhos como poços de escuridão que pareciam conter universos inteiros. Quando falou, sua voz tinha uma suavidade que raramente mostrava.

— Não conheço esse Acampamento Meio-Sangue de que fala, Briely. Nem filhos semideuses de Poseidon, além de Tritão, seu herdeiro divino. Não sei das histórias ou dos lugares que descreve. Mas sua dor... isso eu compreendo. E isso, eu posso compartilhar.

Ela o olhou, surpresa com o tom dele. Não era exatamente consolo no sentido humano, mas havia uma sinceridade ali, uma tentativa de conexão que a pegou desprevenida. Ela engoliu em seco, sentindo os olhos arderem por um instante antes de se recompor.

— Então... você acha mesmo que eu tô... perdida de um jeito que não dá pra explicar? — perguntou, a voz mais baixa agora, quase um sussurro.

— Acho que você foi trazida de um  lugar que não reconheço como parte do que sei — respondeu ele, escolhendo as palavras com cuidado, o tom metódico mas não frio. —

Mas também acredito que há caminhos, mesmo nos lugares mais distantes. Eu te ajudarei a voltar para casa, Briely. De alguma forma, encontraremos um meio.

Briely o encarou, um calor se espalhando em seu peito, uma faísca de esperança acendendo-se em meio à escuridão de sua mente.

Pela primeira vez em dias, ela sentiu algo além de desespero. Sem pensar muito, movida por um impulso de gratidão, ela se inclinou para frente e o abraçou, os braços envolvendo a figura etérea dele por um breve momento.

Só então percebeu — com um choque de constrangimento que a fez corar violentamente — que ele ainda estava nu no sonho, como sempre. Sua pele parecia fria, mas vibrante, quase como se fosse feita de energia pura, e o rosto dela ficou vermelho como um tomate. Ela se afastou rapidamente, cobrindo o rosto com as mãos.

— Ah, deuses, me desculpa! — exclamou, a voz abafada pelas mãos, o coração disparado. — Eu esqueci de novo que você... tá assim! Caramba, isso é tão estranho!

Morpheus inclinou a cabeça levemente, e pela primeira vez, algo como um traço de diversão passou por seus olhos, embora sua expressão permanecesse quase impassível. — Não há problema. as formas são apenas reflexos. Não há vergonha nisso.

Briely espiou por entre os dedos, ainda envergonhada, mas conseguiu dar uma risada nervosa.

— Tá bom, mas ainda assim é esquisito pra mim. Vamos... mudar de assunto, por favor, antes que eu cave um buraco aqui e me enterre de vergonha.

Ele assentiu, e o ambiente ao redor deles pareceu responder ao desejo dela de fugir do constrangimento.

A floresta-caverna se dissolveu lentamente, dando lugar a novos cenários conforme os dias e semanas se passavam.

Os encontros entre eles tornaram-se mais frequentes — Briely passava a maior parte do tempo dormindo, não apenas pelo cansaço mental, mas porque era a única forma de escapar da opressão do porão e do círculo mágico.

Morpheus a levava a diferentes paisagens nos sonhos, cada uma mais impressionante e vívida que a anterior: uma praia de areias prateadas; um jardim de flores que mudavam de cor com o toque, cada pétala pulsando com luz própria; e até mesmo um campo de morangos que cheirava exatamente como o que havia no Acampamento Meio-Sangue, um lugar que parecia saído diretamente de suas memórias mais queridas.

 

 

 


 

 

Foi nesse campo de morangos, sob um céu de tons rosados que lembravam o amanhecer, que eles  tiveram uma das conversas mais longas e abertas até então.

 

Briely estava sentada no chão, colhendo um morango e brincando com ele entre os dedos enquanto falava, a mente perdida em lembranças agridoce.

— Esse lugar me lembra tanto o Acampamento — disse ela, um sorriso saudoso curvando seus lábios.

— Lá tinha um campo de morangos gigantesco, sabe? A gente colhia eles pras oferendas pros deuses, ou só por diversão mesmo. Meus amigos... a gente passava horas lá, rindo, falando besteira. Meu irmão gêmeo, principalmente. Ele vivia me tirando do sério, mas... eu daria qualquer coisa pra vê-lo agora. 

Morpheus estava sentado ao lado dela, os olhos fixos no horizonte, mas claramente ouvindo com atenção, cada palavra dela parecendo ser absorvida por ele. — E sua família? Além de seu irmão, como era?

 

Briely deu de ombros, o sorriso diminuindo um pouco enquanto remexia o anel-espada no dedo, sentindo o peso dele mesmo no sonho. — Minha mãe... ela era incrível, sabe como é? Criar dois filhos de Poseidon não é exatamente um passeio no parque.

E meu pai... bom, ele é um deus. Não dá pra esperar que ele esteja por perto fazendo panquecas no café da manhã.

Mas Poseidon me deu isso aqui. — Ela ergueu a mão, mostrando o anel. — É uma espada de bronze celestial. Só preciso pensar, e ela se transforma. Não sou tão boa de lutar, mas... é como ter um pedaço dele comigo.

E os amigos que fiz no Acampamento eram minha verdadeira família. Annabeth, Grover, o nico o Tyson meu meio irmão a gente passou por tanta coisa juntos.

Até uma guerra, alguns anos atrás. — Ela hesitou, mordendo o lábio antes de continuar. — Eu não sou muito boa com espada, sabia? Sei me virar, consigo invocar   água se precisar, mas sempre fui mais de resolver as coisas na conversa. Ou correndo, se não tiver jeito.

— Ela soltou uma risada baixa, mas havia um tom de insegurança ali, como se estivesse confessando algo que a envergonhava.

Morpheus virou a cabeça para encará-la, e sua voz era calma, quase reconfortante, embora carregada de uma gravidade natural. — Nem todos os caminhos exigem lâminas. Há força em palavras, em conexões. Você parece carregar isso, mesmo sem perceber.

Ela corou levemente com o elogio indireto, mexendo no morango com mais intensidade, quase esmagando a fruta entre os dedos. — Valeu... acho. E você? Como é a sua... família, ou sei lá como você chama isso?

Ele fez uma pausa, como se as palavras fossem difíceis de encontrar, algo raro para alguém tão articulado quanto ele.

Quando falou, sua voz era mais baixa, carregada de algo que parecia uma nostalgia distante.

— Tenho irmãos e irmãs, os Perpétuos. Somos sete, cada um com um domínio próprio. Destino, Morte, Desejo, Desespero, Delírio, Destruição... e eu, Sonho. Não somos uma família como a sua, mas há laços. Conflitos, também, inúmeros e antigos.

O Sonhar, meu reino, é mais do que um lugar. É parte de mim, uma extensão do que sou. E lá, tinha aliados.

Lucienne, minha bibliotecária, guardiã das histórias inumeráveis que o Sonhar contém. E Jessamy, meu corvo... — Ele parou, os olhos escurecendo, a mandíbula se apertando por um instante. — Ela foi morta, tentando me salvar, quando fui capturado.

Briely franziu o cenho, sentindo um aperto no peito ao ouvir a dor velada na voz dele. — Como você acabou aqui? Quero dizer, preso nesse orbe? Como alguém pega um cara como você?

Morpheus olhou para o céu rosado, como se visse algo além dele, algo que não estava ali. — Eu estava vulnerável, após um evento que me enfraqueceu. Roderick Burgess, o homem que originalmente controlava este lugar, tentou invocar outro de nós, um dos Perpétuos, mas me capturou por engano.

Ele acreditava que eu lhe daria poder, imortalidade, riquezas além da imaginação. Roubou meus objetos — minha areia, meu rubi, meu elmo. Sem eles, sou... diminuído. Preso. — Ele fez uma pausa, o tom se tornando mais sombrio. — Ele não conseguiu nada do que queria.

Morreu sem respostas, sem recompensas. Mas seu filho, Alex, Agora nos mantém aqui, na esperança de que eu ceda, ou que consiga extrair algo de mim. Ou  também agora de você.

Briely o encarou, processando as palavras, a mente girando com a ideia de quem era  Alex Burgess, aquele velho que nunca aparecia, Uma mistura de raiva e frustração cresceu dentro dela, não só por ela mesma, mas por Morpheus, preso por tanto tempo, privado de tudo que era seu.

— Isso é absurdo — disse ela, a voz baixa, mas firme. — Seus objetos... a gente precisa recuperá-los, então. Não dá pra você ficar preso pra sempre por causa de um velho. E eu... eu não quero passar o resto da minha vida nesse círculo maldito.

 

Ele a olhou, e havia algo em seus olhos que não estava lá antes — uma determinação quieta, quase como um juramento silencioso.

— Não ficaremos. Encontraremos um caminho, Briely. Para recuperar o que é meu... e para levá-la de volta ao seu lar, onde quer que ele esteja.

 

Ela sorriu, um sorriso genuíno dessa vez, embora ainda carregado de incerteza e saudade. — Então tá. Somos uma dupla agora, hein? Vamos fazer isso juntos, de algum jeito.

Morpheus não sorriu de volta, mas a leveza em sua expressão era resposta suficiente — um brilho sutil nos olhos, um relaxar quase imperceptível de seus ombros.

O campo de morangos ao redor deles parecia brilhar um pouco mais, como se o Sonhar refletisse a pequena chama de esperança que começava a crescer entre os dois. Eles continuaram ali, conversando sobre pequenos detalhes de suas vidas

— ou existências, no caso dele — enquanto o sonho se estendia, um refúgio temporário do porão frio e do círculo mágico que os aguardava na realidade.


 

Os dias se passavam, mas no Sonho tempo era um conceito maleável, moldado pelos desejos de quem habitava aquele reino.

Briely, ainda presa no porão da Mansão Burgess na realidade, buscava cada vez mais refúgio nos sonhos que Morpheus criava para ela.

Era como se vivesse mais ali, imersa em paisagens impossíveis, do que no mundo real, confinada sob o peso opressivo de sua prisão.

Morpheus, por outro lado, tornou-se uma presença constante, alguém que ela   apreciava, Ele era gentil com ela de um jeito que ela não esperava, guiando-a por mundos oníricos com uma paciência que a fazia sentir-se única.

Naquela noite, enquanto adormecia no porão, o Sonhar a acolheu com uma praia de areias brancas e um oceano de um azul tão profundo que parecia guardar todos os mistérios do universo.

Briely riu alto, correndo descalça até a beira da água, as ondas lambendo seus pés enquanto gritava por cima do ombro: — Tá virando rotina, hein, Morpheus? Sempre me trazendo pro mar! Cê não tem outra ideia não?

Ele caminhava atrás dela, a figura alta e imponente contrastando com a leveza do cenário, o manto negro esvoaçando ao vento onírico como feito de sombras. — Não é rotina se é o que você gosta — respondeu, a voz grave, mas com um tom mais suave do que o habitual, quase brincalhão. — O oceano combina com você. É... parte da sua essência.

Ela virou-se de repente, salpicando água na direção dele com um sorriso travesso. — Tá, admito que amo isso aqui. Mas vem cá, entra na água comigo! Para de ficar só parado aí parecendo uma estátua sombria.

— Ela riu, aproximando-se e notando mais uma vez a diferença de altura entre eles. — Sério, como você é tão gigante? Eu me sinto uma formiguinha perto de você, sabia? Sou minúscula!

Morpheus inclinou a cabeça, e um sorriso genuíno, ainda que discreto, curvou seus lábios pálidos, algo raro que parecia iluminar seu rosto de um jeito inesperado.

Ele parecia achar graça na comparação, os olhos brilhando com uma leve diversão enquanto a observava.

— Você pode ser pequena em estatura, Briely, mas sua presença é... impossível de ignorar — disse ele, enquanto se aproximava um passo, diminuindo ainda mais a distância entre eles.

 

Briely sentiu o rosto aquecer, mas tentou disfarçar com uma risada. — Uau, agora tá até me elogiando? Quem diria que o Senhor dos Sonhos sabia ser tão charmoso!

— Ela deu um passo para trás, ainda rindo, mas acabou tropeçou , quase caindo.

Ele foi rápido, segurando-a pelo braço com uma firmeza gentil, impedindo que ela escorregasse.

O toque dele era frio, mas reconfortante, e ele a segurou por um instante a mais do que o necessário, os olhos fixos nos dela com uma intensidade que a fez engolir em seco. — Cuidado — murmurou ele, a voz quase um sussurro, e então soltou-a com relutância, voltando a caminhar ao lado dela pela praia.

Ela respirou fundo, recuperando o ritmo, e decidiu mudar de assunto enquanto o acompanhava. — Tá bom, me diz uma coisa: se você pode criar qualquer lugar no Sonhar, qual foi o mais doido que já fez? Tipo, algo que eu nem consigo imaginar.

Morpheus pensou por um momento, o olhar perdido no horizonte onde o céu parecia pulsar com cores impossíveis. — Certa vez, criei um labirinto de memórias para um sonhador que queria reviver cada erro que cometeu. Ele se perdeu nelas. O Sonhar nem sempre é gentil, mesmo quando eu desejo que seja.

Ela o encarou, surpresa, mas não intimidada. — Isso é meio assustador, mas também incrível. Você já fez algo assim pra mim? Tipo, um lugar que mostre algo sobre mim mesma?

Ele virou o rosto para ela, os olhos profundos como abismos estrelados. — Ainda não. Mas, se pedir, eu farei. Embora... acredito que você já saiba quem é. — Havia uma suavidade em sua voz, quase como se ele quisesse que ela percebesse o quanto a admirava, sem dizer as palavras.

Briely sorriu, um pouco desconcertada, mas continuou tagarelando enquanto caminhavam. Mais tarde, o cenário mudou para um campo de flores silvestres, onde ela correu entre as pétalas coloridas, rindo e tentando convencer Morpheus a se juntar a ela.

— Vem cá, não seja tão sério! Só corre comigo um pouco, vêm! — gritou ela, girando entre as flores com uma leveza infantil.

 

Ele permaneceu de pé por um momento, observando-a com aquele quase-sorriso que parecia reservado só para ela. Então, para surpresa de Briely, ele deu alguns passos na direção dela, não exatamente correndo, mas acompanhando-a de um jeito que parecia dizer que estava ali por ela, e só por ela.

Quando ela parou, ofegante e rindo, ele se aproximou e, com um gesto inesperado, pegou uma flor do campo e a colocou atrás da orelha dela, os dedos roçando levemente sua pele. — Você traz... vida a este lugar — disse ele, a voz baixa, quase como se confessasse algo para si mesmo.

Ela piscou, surpresa, mas logo riu. — Tá virando poeta agora? Cuidado, Morpheus, vou começar a achar que você gosta mesmo de mim! —  disse brincando.

Ele não respondeu, mas o olhar dele, fixo nela com uma mistura de intensidade e ternura, falou mais do que palavras poderiam.

Ele estava apaixonado por ela, mesmo que não admitisse em voz alta.

 

 


 

O porão da Mansão Burgess continuava sendo uma prisão sufocante, impregnado de poeira e um silêncio que parecia vivo, carregado de décadas de sofrimento.

Briely, naquele dia estava sentada dentro de seu círculo mágico, sentia o peso do confinamento como uma corrente invisível. Morpheus, aprisionado em sua jaula de vidro próxima, mantinha a mesma postura imponente de sempre, os olhos fixos em algum ponto além do que ela podia ver, um misto de paciência milenar e fúria contida.

Naquela tarde, algo finalmente mudou. Alex Burgess, agora um homem velho e frágil, foi empurrado por Paul em uma cadeira de rodas até o porão. Seus olhos cansados encontraram os de Morpheus, e havia um peso em sua voz ao falar, quase um lamento.

— Eu... eu sempre disse que, se pudesse, te libertaria. Mas não posso. Não sem garantias.

 

Morpheus inclinou a cabeça de forma quase imperceptível, mas não respondeu, seu silêncio mais cortante do que qualquer palavra.

 

— Meu pai... ele te temia. E eu entendo por quê. Você não é um homem, é algo... muito além disso. Não sei o que faria comigo, com Paul. Só quero... uma promessa. Prometa que não nos machucará — continuou Alex, a voz tremendo.

 

O Senhor dos Sonhos permaneceu impassível, os olhos como abismos insondáveis. Alex esperou, mas nenhuma resposta veio. Derrotado, ele sussurrou: — Eu nunca mais descerei aqui. Nunca.

 

Briely, de seu canto, levantou o queixo com determinação, sua voz ecoando com uma força que fez Alex se encolher. — Vocês devem ter medo. Soltem-nos agora. Juro que um dia a ira do mar virá para vocês.

Paul desviou o olhar, visivelmente desconfortável, enquanto Alex parecia ainda mais nervoso. Sem mais palavras, Paul girou a cadeira de rodas, e, em um movimento descuidado, roçou a barreira que mantinha Morpheus preso, quebrando o selo mágico que o confinava. Os dois subiram as escadas, deixando o porão em um silêncio pesado.

Os guardas, que observavam de longe, começaram a cochichar entre si. — Essa garota... não é humana. Você ouviu como ela falou? Parece uma ninfa... ou pior, uma deusa caída. — E aquele? Um dos Dráculas, só pode ser. Ficar preso tanto tempo e ainda ter esse olhar... eu não chegaria perto dele.

 

Naquele instante, a voz de Morpheus ecoou na mente de Briely, clara e firme: — O selo foi rompido.

Ela o fitou, o coração disparando, mas antes que pudesse responder, um dos guardas piscou, os olhos vidrados enquanto um sorriso sonhador se formava em seu rosto. Morpheus dominara sua mente, preenchendo-a com visões de praias ensolaradas e férias perfeitas.

O guarda, como se estivesse em transe, pegou a arma e atirou na barreira de vidro que prendia o Senhor dos Sonhos. O som ecoou como um trovão no porão, e os cacos se espalharam pelo chão.

 

Morpheus estava livre.

 

Briely sentiu o ar mudar ao seu redor, como se a presença dele, agora desimpedida, preenchesse cada canto do espaço.

Ele se voltou para ela, os olhos intensos, e sua voz mental ressoou mais uma vez: — vou libertarla Prepare-se.

 

Com um gesto quase imperceptível, ele estendeu a mão, e a barreira invisível que a prendia tremeu antes de se desfazer.

Briely caiu de joelhos, ofegante, o corpo protestando contra a súbita liberdade após tanto tempo. Ela levantou o olhar para ele, e pela primeira vez no mundo real, ouviu sua voz física, grave e autoritária, cortando o silêncio do porão: — vamos, Briely, Não temos mais nada a fazer aqui.

 

Ela congelou por um momento, seus olhos percorreram a figura dele, completamente nu, como estivera na prisão por décadas.

O rosto dela ficou vermelho como fogo, e ela rapidamente desviou o olhar, murmurando: — P-pelos deuses, você... tá pelado! Não dá pra, sei lá, arrumar uma roupa ou algo assim?

 

Um traço de diversão, quase imperceptível, passou por seu rosto pálido.

— Minhas vestes foram roubadas de mim. Mas haverá tempo para isso depois. Agora, precisamos ir.

 

Os dois guardas restantes recuaram, armas em punho, o medo estampado em seus rostos trêmulos. Mas não tiveram chance. Morpheus abriu a mão, e dela fluiu um pó de areia negra e cintilante, materializando-se como uma extensão de sua essência.

O pó dançou pelo ar como um sopro vivo, envolvendo os homens. Eles caíram ao chão suavemente, adormecidos, os rostos serenos como se sonhassem com algo muito melhor do que suas vidas poderiam oferecer.

 

Sem mais delongas, Morpheus se aproximou dela, ainda nu, mas com uma presença tão imponente que quase anulava qualquer constrangimento. — Vamos — disse ele, a voz firme.

 

Antes que Briely pudesse responder ou se preparar, o mundo ao redor vibrou. O porão sombrio parecia se dissolver em grãos dourados, como se as paredes de pedra desmoronassem feitas de areia.

O chão cedeu sob os pés dela, e ela teve tempo apenas de dar um passo hesitante antes de ser sugada para um redemoinho de escuridão e luz. A sensação era desorientadora, como cair através de um vazio sem fim, o vento chicoteando seu rosto e cabelos.

 

 


 

 

A queda foi breve, mas intensa. Quando a areia finalmente cedeu, eles aterrissaram juntos sobre uma praia iluminada por um céu que parecia em constante mutação, ora tingido de púrpura, ora de um azul profundo salpicado de estrelas.

Desta vez, Morpheus caiu sobre ela, mas, para alívio de Briely, ele estava agora vestido,O peso de seu corpo  a pressionou contra a areia por um instante, e ela ofegou, as mãos instintivamente empurrando seus ombros enquanto o calor subia ao seu rosto novamente.

— Tá... tá mais vestido agora, pelo menos — murmurou ela, tentando disfarçar o constrangimento com um tom brincalhão, enquanto ele se levantava com uma calma inabalável, oferecendo a mão para ajudá-la a se erguer.

 

Ele segurou a mão dela com firmeza, puxando-a para cima, os olhos fixos nos dela por um momento antes de responder: — estamos no Sonhar.

Antes que Briely pudesse dizer mais ou processar a transição abrupta, uma figura surgiu à distância, caminhando com naturalidade por aquela praia onírica.

Era uma mulher de pele escura e expressão firme, carregando um livro fechado nos braços. Seus passos eram elegantes, quase como se deslizasse sobre a areia, e seus olhos transmitiam uma mistura de surpresa e alívio ao se fixarem em Morpheus.

— Mestre? — disse ela, a voz carregada de reverência, mas também de uma preocupação contida. — Finalmente voltou.

 

Seus olhos percorreram Briely de cima a baixo, analisando-a com curiosidade. Morpheus, agora completamente no controle, respondeu com a voz suave, mas carregada de autoridade inquestionável: 

— Lucienne, esta é uma aliada inesperada.

— Aliada? 

Briely cruzou os braços, lançando um olhar debochado para ele.

— Você praticamente me sequestrou pro seu mundinho dos sonhos, sabia? Não sei se 'aliada' é uma palavra certa.

Lucienne deu um pequeno sorriso, como quem sabe mais do que revela. — Bem-vinda ao Sonhar, senhorita. Temos muito a conversar.

— Bem-vinda ao Sonhar, senhorita. Temos muito a conversar.

Morpheus inclinou a cabeça levemente, como se reconhecesse a verdade nas palavras de Lucienne, e então voltou-se para Briely. 

— Há muito a ser feito. O Sonhar sofreu na minha ausência. Mas você... estará seguro aqui, por hora.

Briely o encarou, ainda processando tudo, mas sentindo um alívio profundo por estar longe do porão, mesmo que num lugar tão estranho quanto o Sonhar. 

— Tá bom, mas se tiver mais quedas desse tipo, avisa antes, tá? Meu coração não aguenta

brincou ela, tentando aliviar a tensão.

Ele não riu, mas o canto de sua boca se ergueu ligeiramente, um quase-sorriso que ela já conhecia tão bem.

Lucienne, observando a interação, pareceu anotar mentalmente algo sobre a dinâmica entre os dois, mas não comentou.

Apenas indicou o caminho à frente, onde o horizonte do Sonhar se estendia com promessas de beleza e mistério.

 

 

Chapter 3

Notes:

Capítulo editado :)

(See the end of the chapter for more notes.)

Chapter Text

 

 

  

      

 

 

 

De volta ao castelo em ruínas, Morpheus observava os salões vazios e as sombras silenciosas do Sonhar.

Cada detalhe denunciava o abandono: os partidos, os corredores rachados, a biblioteca quase deserta. Lucienne estava ao lado dele, firme, mas com um olhar triste.

— Eles acreditaram que você os abandonou. Não seria a primeira vez que um Perpétuo faz isso disse ela.

Morpheus apenas inclinou a cabeça, uma expressão fechada.

— Eu não os abandonei. Fui tomado. Mas agora... vou restaurar tudo.

E para isso, preciso das minhas ferramentas: a areia, o elmo e o rubi. Sem elas, não posso reconstruir o Sonhar.

 

Briely , que observava em silêncio, cruzou os braços, seus olhos verdes mar vagando pelo salão com uma melancolia que não conseguia esconder.

O Sonhar que ela conheceu dos sonhos que Morpheus criou para ela uma vez era vibrante, cheio de vida, com torres prolongadas e jardins que incluem cantar sob a luz de um céu impossível.

Agora, tudo era cinza, quebrado, um eco de algo que já foi grandioso. Ela mordeu o prazer inferior, a voz saindo mais baixa do que pretendia.

— Eu não imaginava que estaria assim... tão diferente do que vi nos sonhos.

Morpheus virou-se para ela, seus olhos profundos capturando os dela por um instante.

Havia algo ali, uma sombra de dor que ele raramente deixava transparecer, mas não disse nada sobre o estado do Sonhar.

Em vez disso, desviou o olhar e falou com Lucienne, a voz firme.

— Lucienne, ajude Briely a encontrar algo adequado para vestir. Preciso de tempo para reunir os elementos necessários para invocar as Parcas.

 

Lucienne assentiu, um leve aceno de cabeça, antes de se aproximar de Briely com um sorriso gentil, embora ainda carregado de tristeza pelo estado do reino.

 

— Venha comigo, minha senhora. Vamos encontrar algo para você.

 

Antes de seguir Lucienne, Briely hesitou, aproximando-se de Morpheus.

Seus olhos estavam cheios de preocupação, e ela não conseguiu esconder o leve tremor na voz.

 

— Morpheus, tem certeza de que quer fazer isso? Invocar as Parcas... elas me assustam um pouco. Não sei, não é perigoso?

Ele a encarou, sua expressão suavizando por um instante quase imperceptível.

Havia uma intensidade em seu olhar que ela não percebeu, um desejo de tranquilizá-la que ia além de suas palavras.

 

— Vai ficar tudo bem, Briely. Elas não me farão mal, e eu não permitirei que nada chegue até você. Confie em mim.

 

Ela concordou, ainda um pouco insegura, mas reconfortada por Tom Dele, antes de seguir Lucienne pelos corredores esfarelados do castelo.

As paredes, agora estavam nuas, rachadas pelo tempo e pela negligência. Lucienne converteu-se até uma sala menor, tão desgastada quanto ao resto do castelo, onde um grande armário de madeira escuro ainda resistia ao colapso. O ar ali cheirava a poeira.

 

Lucienne abriu o armário com cuidado, revelando algumas peças de roupa que, embora antigas, ainda carregavam um eco de roupas.

Ela pegou um Vestido verde  o tecido fluido e delicado, com um tom que lembrava o mar em um dia de tempestade. Entregou-o a Briely com um leve sorriso.

 

— Este deve servir minha senhora, Experimente, Vou procurar algo para você comer enquanto se troca.

 

Briely pegou o vestido, admirando o cor e a textura, antes de assentir.

Lucienne saiu da sala, e Briely se trocou rapidamente, sentindo o tecido acariciar sua pele.

O vestido era simples, mas elegante, caindo sobre ela de forma que parecia feito sob medida.

Ela se olhou em um espelho rachado na parede, quase irreconhecível.

 

Lucienne voltou momentos depois, trazendo uma bandeja de prata com um pouco de pão, frutas, Briely sentou-se em uma cadeira rangente e comeu um pouco, agradecendo a atenção com um sorriso tímido.

 

— Obrigada, Lucienne. Você não precisa se preocupar tanto.

 

— É o mínimo que posso fazer  respondeu Lucienne, em voz gentil, enquanto observava Breely terminar a refeição.

— Vamos voltar, o mestre Morpheus deve estar quase pronto.

 

Quando retornaram ao salão principal, Morpheus estava de pé perto de um círculo de invocação traçado no chão com pó de estrelas esmaecidas.

Ele já havia reunido quase tudo: um frasco com sangue de uma criatura do Sonhar, uma pequena esfera pulsando com o batimento de uma mente viva, o hálito de um fantasma capturado em um cristal translúcido.

Só faltava o sacrifício maior, Gregory, a gárgula que ele próprio criara eras atrás. Mas, ao ver Briely entrando no salão, ele parou, os olhos fixos nela, uma rara pausa em sua postura habitual de frieza.

 

— Você está... bonita — disse ele, a voz  ecoando no salão vazio, carregada de algo que parecia mais do que um simples elogio.

 

Briely riu, um som leve que cortou a tensão do ambiente, enquanto girava o tecido do vestido com os dedos, um pouco desconfortável pela atenção, mas achando graça.

 

— Parece um vestido de festa, não acha? É lindo, mas não sei se combina com... isso tudo.

Ela gesticulou para o entorno decadente, ainda sorrindo.

 

Morpheus inclinou a cabeça, um leve brilho nos olhos enquanto a observava, os lábios se curvando em algo que quase poderia ser um sorriso, não fosse ele tão contido.

 

— Combina com os seus olhos. Verdes como o mar.

 

Ela corou, um calor subindo às bochechas, mas não percebeu a intenção por trás das palavras.

Para Briely, era apenas um comentário gentil, algo que amigos diriam.

Ela desviou o olhar, rindo baixinho, alheia ao peso que aquelas palavras carregavam para ele.

 

— Obrigada, Morpheus. É muito gentil da sua parte.

 

Lucienne, que observava a troca de longe, ergueu uma sobrancelha quase imperceptivelmente, um leve brilho de entendimento nos olhos.

Ela captou o tom de Morpheus, a forma como seus olhos se detinham em Briely por um segundo a mais do que o necessário, mas não disse nada.

Apenas cruzou os braços, mantendo-se em silêncio, um leve sorriso de canto de boca denunciando que ela sabia mais do que deixava transparecer.

 

Morpheus desviou o olhar, retomando sua compostura habitual, a voz voltando ao tom frio e determinado de sempre enquanto apontava para o círculo de invocação.

 

— Está quase pronto. Só falta uma coisa. Gregory.

 

Briely assentiu, a leveza do momento anterior desaparecendo enquanto a gravidade do que estava por vir se instalava novamente.

Ela sabia exatamente o que significava sacrificar Gregory,  a tristeza na voz de Morpheus era palpável, e ela sentiu um aperto no peito.

 


 

 

 

A viagem até a Casa dos Mistérios foi envolta em um silêncio pesado, o ar do Sonhar carregado de uma melancolia que parecia se infiltrar nos ossos.

Briely caminhava ao lado de Morpheus, seus passos hesitantes sobre o solo irregular de um reino em ruínas.

O vestido verde que Lucienne havia escolhido para ela parecia deslocado naquele cenário de decadência, um ponto de cor em meio a tons de cinza e sombra.

Ela lançava olhares desconfiados ao redor, como se esperasse que algo emergisse das brumas oníricas.

 

Morpheus quebrou o silêncio, sua voz profunda e medida ecoando no vazio.

— Estamos a caminho da Casa dos Mistérios, lar de Caim e Abel.

São os primeiros irmãos da criação mortal, condenados a repetir um ciclo eterno de violência e remorso.

Caim, temperamental e amargo. Abel, por sua vez, é mais brando.

Briely estreitou os olhos, o vento  bagunçando seus cabelos enquanto processava as palavras.

 

— Como na história que conheço? O primeiro assassinato?

 

— Uma versão dela  respondeu Morpheus, 

— As histórias dos mortais raramente capturam a verdade inteira. E lá também encontraremos Gregory, uma gárgula que criei há eras. 

 

Briely virou-se para ele, captando um tom de pesar em sua voz, embora o rosto dele permanecesse uma máscara de indiferença.

 

— Ele parece importante para você.

 

Morpheus não respondeu de imediato, apenas continuou andando, seus olhos distantes como se vislumbrassem algo além do horizonte do Sonhar. Finalmente, murmurou:

 

— Ele é. Mas o que preciso fazer... não será fácil.

Ela quis perguntar mais, mas algo na postura rígida dele a fez se calar.

Quando chegaram à Casa dos Mistérios. A porta rangeu ao se abrir antes mesmo de serem anunciados, revelando dois homens tão opostos. Caim  e Abel

 

—  mestre Morpheus... quanto tempo  disse Abel, a voz gentil, enquanto se aproximava com um aceno hesitante.

 

Caim apenas bufou, seus olhos estreitos passando de Morpheus para Briely.

 

— E quem é essa ?  perguntou Caim.

 

Morpheus deu um passo à frente,  silenciando qualquer possível hostilidade, enquanto sua mão se erguia em um gesto calmo.

— Esta é Briely. Ela está sob minha proteção Caim.

 

Abel assentiu, o sorriso se alargando um pouco enquanto se dirigia a ela.

 

— Bem-vinda, senhorita. Entrem, por favor.

 

Antes que pudessem cruzar o limiar, Gregory, a gárgula, pousou com um impacto que fez o chão tremer, suas asas membranosas se dobrando contra o corpo  Seus olhos,  brilharam ao reconhecer Morpheus, e ele soltou um ronco baixo, afetuoso, abaixando a cabeça para o mestre.

 

Morpheus aproximou-se, sua mão pálida tocando a superfície áspera do rosto da criatura com uma ternura raramente vista nele. Seus dedos traçaram as fissuras na pedra, e sua voz saiu baixa, carregada de uma dor contida.

 

— Sinto muito, meu velho amigo... preciso de você uma última vez.

 

Briely observou a cena, o coração apertado pela conexão palpável entre os dois. Morpheus se virou para Caim e Abel, erguendo a voz apenas o suficiente para ser ouvido, enquanto explicava o que precisava fazer.

Abel, com os olhos marejados, tentou protestar, mas as palavras morreram em sua garganta, substituídas por um soluço silencioso.

Caim, por outro lado, explodiu em fúria, avançando um passo com os punhos cerrados.

— Você desaparece por um século e retorna só para tirar de nós o companheiro mais fiel que temos?! 

 Sua voz ecoou pela Casa dos Mistérios.

 

Mas Gregory, como se compreendesse cada palavra, tocou a mão de Morpheus com uma garra gentil, soltando um som baixo e resignado.

Seus olhos  se fixaram no mestre, e ele inclinou a cabeça em aceitação, pronto para o que viria.

 

Em um ritual silencioso e sombrio, realizado sob os olhares pesados de todos, Morpheus absorveu a essência da gárgula.

Um brilho opaco envolveu os dois, a forma de pedra de Gregory dissolvendo-se em luz antes de se fundir ao corpo de Morpheus.

Ele fechou os olhos por um momento, uma ruga de sofrimento cruzando sua testa, enquanto murmurava uma promessa quase inaudível.

 

— Sua energia restaurará o Sonhar, meu amigo. Não será em vão.

 

Abel chorava baixinho, o rosto enterrado nas mãos, enquanto Caim, por mais furioso que estivesse, não interveio, apenas encarando Morpheus.

De volta ao castelo em ruínas, a força de Gregory agora pulsava dentro de Morpheus, uma energia sombria que parecia fortalecer sua presença, embora não apagasse as sombras de cansaço em seus olhos.

Ele reuniu os itens necessários, traçando o círculo de invocação com pó de estrelas desbotado, cada movimento preciso, quase ritualístico, enquanto o salão vazio ecoava o peso de seus intentos.

Briely aproximou-se, o tecido verde de seu vestido ondulando levemente, seus olhos verdes mar cheios de uma preocupação que não conseguia esconder.

 

— Você tem certeza de que quer mesmo fazer isso agora? Você ainda está fraco, Morpheus. 

Sua voz era baixa, quase um sussurro, carregada de inquietação.

 

Ele ergueu o olhar para ela,  seus olhos encontrando os dela por um longo instante.

Havia determinação ali, mas também algo mais, uma suavidade que raramente se permitia mostrar.

 

— Não posso esperar, Briely. Cada momento que passa sem minhas ferramentas, o Sonhar definha. Confie em mim. 

Sua voz, embora firme, carregava um tom de garantia, como se quisesse aplacar os medos dela.

 

Ela assentiu lentamente, embora a dúvida ainda nublasse seu rosto, e recuou um passo, observando enquanto ele retomava os preparativos.

O peso do sacrifício de Gregory pairava no ar, uma sombra silenciosa entre eles, enquanto o círculo de invocação começava a pulsar com uma luz fria e etérea, anunciando a chegada iminente das Parcas.

 


 

 

Quando a vela foi acesa e o círculo completo, a sala se encheu de vento e sombras.

As Parcas apareceram 

três mulheres em uma só.

suas formas se fundindo e separando como fumaça, suas vozes sobrepostas ecoando como um coro de ecos antigos.

 

— Pergunte, Sonho dos Perpétuos. Tens apenas três perguntas.

 

Morpheus, com sua postura rígida e olhar penetrante, escolheu com cuidado.

Primeiro, quis saber onde estava sua areia.

Elas responderam que estava nas mãos de Johanna Constantine.

uma exorcista que lidava com assuntos que poucos ousavam tocar.

 

Depois, perguntou pelo elmo.

Elas revelaram que o objeto fora levado para o Inferno, guardado por um demônio.

 

Por fim, o rubi.

Este havia caído nas mãos de John Dee,

um homem perigoso e instável, trancado no mundo desperto.

 

 Morpheus deixou escapar um leve suspiro, mais para si mesmo, enquanto as sombras do círculo começavam a se dissipar.

 

— Conheci uma Constantine há muito tempo. Parece que essa família ainda cruza meu caminho.

 

Briely o observava de uma distância segura, seus dedos nervosos entrelaçados, sentindo o peso do momento.

Mas, antes que pudesse se aproximar, as Parcas reapareceram subitamente diante dela, envolvendo-a em uma névoa densa e gélida que a isolou de Morpheus.

O ar ao seu redor tornou-se sufocante, e ela deu um passo para trás, o coração disparado, um grito assustado escapando de seus lábios.

MORPHEUS!

 

Ele deu um passo em direção a ela, mas a barreira de névoa o impediu de avançar, seus olhos escuros faiscando com uma mistura de preocupação e frustração.

Uma das Parcas, a mais velha, com cabelos como teias de aranha, soltou uma risada baixa e áspera, aproximando-se de Briely até que seu rosto enrugado estivesse a centímetros do dela.

Saudações, filha de Poseidon. Embora não seja do nosso Poseidon, não é, minha querida? 

Sua voz era um sussurro cortante, carregado de um conhecimento antigo que fez a pele de Briely arrepiar.

 

Antes que ela pudesse responder, outra das Parcas, com olhos como poços sem fundo, avançou, sua presença sufocante enquanto falava em enigmas, as palavras serpenteando como névoa em sua mente.

Seu caminho é sombrio, criança do mar. Olhos fechados e  nunca retornarás ao seu  lar. o eterno, te prenderá em correntes invisíveis, tomará o que recusas  a dar, sua marca será gravada em tua essência , uma união  sera forjada. Frutos nascerão de um solo não escolhido. e o caminho de volta se fechará se não enxergares a verdade, a rejeição será o fio que corta, mas também o que ata. Cuidado, pois o que sonhas pode te devorar.

 

Briely franziu a testa, o peito apertado, tentando decifrar o emaranhado de palavras, mas quanto mais pensava, mais confusa se tornava.

 

— Eu... não entendo.

murmurou, sua voz trêmula, os olhos verdes marejados de incerteza.

 

A terceira Parca, com um rosto que parecia mudar a cada piscar de olhos, aproximou-se, sua mão fria  segurando a bochecha de Briely com uma ternura perturbadora.

Seus lábios se curvaram em um sorriso que não transmitia calor.

 

Pobre criança. sonhos nem sempre são confiáveis.

 

Com isso, as Parcas desapareceram do Sonhar, a névoa se dissipando tão rapidamente quanto surgira, deixando Briely atordoada.

Seus joelhos cederam por um instante, e ela cambaleou, o mundo girando ao seu redor. Morpheus, livre da barreira, correu até ela, sua expressão carregada de preocupação enquanto segurava seu rosto entre as mãos pálidas, os dedos firmes, mas gentis, buscando algum sinal de ferimento.

 

— O que elas disseram a você? Machucaram-na? 

perguntou, sua voz profunda, mas tensa, os olhos vasculhando os dela.

 

Brevemente engoliu em seco, ainda tremendo, tentando organizar os pensamentos em meio ao caos que as palavras das Parcas haviam plantado.

 

— Elas... disseram coisas estranhas.

Algo sobre um caminho sombrio, sobre não voltar para casa...

E sonhos que nem sempre são confiáveis ​​Não entendi muito bem, mas parece um aviso.

 

Morpheus franziu a testa, uma sombra cruzando seu rosto, mas sua voz encontra calma, quase reconfortante.

 

— Elas falam para confundir, para semear dúvidas. Não se preocupe com isso, Briely.

 

Ela balançou a cabeça, os olhos ainda nublados pela inquietação, e murmurou, quase para si mesma.

 

— Elas queriam me avisar de alguma coisas. Não sei o quê, mas...

elas sabem também que eu sou de outro universo. Isso me preocupa um pouco.

 

Morpheus ficou em silêncio por um momento, os lábios pressionados em uma linha fina, a atenção evidente em sua expressão.

Sem dizer mais nada, ele a pegou no colo com um movimento fluido, ignorando o leve protesto dela.

Suas bochechas coraram, e ela tentou se soltar, envergonhada.

 

— Eu posso andar, Morfeu. Foi só uma tontura momentânea. Eu  já estou bem.

 

— Não 

respondeu ele, enquanto a segurava

— Eu Vou levá-la.

Ele a caminhou até o castelo em ruínas, os passos firmes ecoando no silêncio do Sonhar, até que chegou a uma sala de teto alto e paredes desgastadas pelo tempo.

Ele se sentou com cuidado em uma cadeira de madeira escura, o tecido verde de seu vestido contrastando com o ambiente sombrio.

Lucienne, que os aguardava ali, mudou-se rapidamente, seus óculos refletindo a luz fraca enquanto olhava para Briely com preocupação genuína.

 

— O que aconteceu? O que exatamente as Parcas disseram a você minha senhora?

disse Lucienne, sua voz de urgência, as mãos cruzadas à frente do corpo.

 

Breely hesitou, os dedos tamborilando nervosamente no braço da cadeira, antes de responder, a voz baixa.

 

— Elas falaram de um caminho sombrio... algo sobre não voltar para casa. Não entendi muito bem o que significa.

 

Lucienne apresenta uma sobrancelha, lançando um olhar rápido e inquisitivo para Morpheus, que se encontra em silêncio, sua expressão indecifrável.

Após um momento, ele falou, a voz calma, mas com um peso subjacente.

— Descanse um pouco, Briely. 

Ele fez um gesto quase imperceptível para Lucienne, e os dois saíram da sala, deixando Briely sozinha com seus pensamentos tumultuados.

As  palavras das Parcas ainda reverberavam em sua mente, uma sombra que se recusava a dissipar.

 

 


 

 

Depois de ficar sozinha, Briely continuou a remoer as palavras das Parcas, sentindo o peso delas como uma névoa densa em sua mente.

"Sonhos nem sempre são confiáveis",

ecoava repetidamente.

Ela franziu o cenho, tamborilando os dedos na cadeira.

Será que  elas estão falando do Morpheus? Não, eu confio nele. Talvez algum sonho de semideus que eu venha a ter?

Pouco provável. Ou talvez algum deus... eles sempre foram a fonte de problemas às vezes.

Ela balançou a cabeça, tentando expulsar os pensamentos.

"Só vou ficar quebrando a cabeça se tentar entender isso agora",

murmurou para si mesma, levantando-se da cadeira com determinação. Decidiu procurar Morpheus.

 

Após alguns minutos vagando pelos corredores do Sonhar, ela o encontrou em uma sala vazia e desgastada, com as paredes marcadas pelo tempo e o ar carregado de um silêncio quase tangível.

Morpheus estava de pé, imerso em seus próprios pensamentos, mas seus olhos se fixaram nela assim que ela entrou.

Havia uma intensidade em seu olhar, uma admiração que ele não verbalizou.

— Morpheus, não preciso descansar mais. Estou bem

disse ela, quebrando o silêncio.

Ele assentiu lentamente, os olhos ainda presos aos dela, como se estivesse avaliando algo mais profundo.

— Vai buscar suas ferramentas agora? 

perguntou Briely, tentando manter a voz firme.

— Sim 

respondeu ele, a voz dele  ecoando na sala vazia.

 

— Quero ir com você. 

afirmou ela, sem hesitar.

 

Morpheus inclinou a cabeça ligeiramente.

— É mais seguro que fique aqui com Lucienne no sonhar. Estará protegida.

— Não, eu sei me virar. 

retrucou ela, cruzando os braços, o tom desafiador.

 

Ele ergueu uma sobrancelha, claramente duvidando dela, mas havia um leve traço de diversão em sua expressão.

Após um momento de silêncio, ele suspirou.

— Está bem. Mas com uma condição: você não se afasta de mim. E Permanece ao meu lado o tempo todo.

Briely assentiu vigorosamente, um sorriso iluminando seu rosto.

— Combinado.

— O mundo desperto daqui pode ser perigoso para você. 

acrescentou ele, a voz carregada de uma preocupação genuína.

— Não quero que se machuque.

— Entendo 

disse ela, ainda sorrindo.

Então, aproveitou o momento para perguntar algo que a incomodava há algum tempo.

— Depois que você conseguir reunir todas as suas ferramentas, você poderia me ajudar a encontrar um caminho de volta ao meu universo? 

 

Morpheus franziu a testa, uma reação quase imperceptível que ela não notou.

Ele hesitou por um instante antes de responder.

— Veremos o que pode ser feito.

 

Ele estendeu a mão para ela, os dedos longos e pálidos pairando no ar entre eles.

Briely  aceitou o gesto, sua mão encaixando-se na dele. Ele a puxou gentilmente, mas com firmeza.

— Vamos agora para o mundo desperto — declarou ele.

Ela sorriu, o coração batendo mais rápido.

— Somos uma dupla, então?

Internamente, Morpheus sentiu um leve sorriso surgir, embora seu rosto permanecesse impassível. 

— Claro.

respondeu ele, com um tom quase suave.

Num instante, a sala ao redor deles dissolveu-se como fumaça, e eles desapareceram do Sonhar.

 


 

 

As ruas frias do mundo desperto cortavam a noite como cicatrizes escuras, o ar gelado trazendo o cheiro de asfalto úmido e decadência.

Morpheus, o Rei dos Sonhos, caminhava com passos firmes, sua presença imponente.

Ao seu lado, Briely acompanhava o ritmo, sua mão ainda segura firmemente na dele, um contato que parecia tão natural quanto necessário após a transição abrupta do Sonhar para o mundo desperto.

O toque dela  era uma âncora silenciosa, um lembrete de que ela estava ali, ao seu alcance, sob sua proteção.

Ele não a soltava, e ela não o  questionava, embora  ela sentisse o peso daquele aperto, firme,  como se ele temesse que ela pudesse desaparecer na noite.

De repente, um som de asas cortou o ar acima deles, um bater rítmico que fez Briely erguer os olhos.

Um corvo negro desceu em um voo baixo, pousando desajeitadamente no ombro de um poste de luz próximo.

Seus olhos pequenos e brilhantes os encaravam com uma mistura de curiosidade e insolência, a cabeça inclinada como se estivesse avaliando os dois.

Briely soltou uma risada baixa, surpresa, enquanto Morpheus franziu a testa, claramente pouco satisfeito com a interrupção.

 

“Quem é você, espião de penas?”

perguntou ela, o tom leve, quase brincalhão, ainda com a mão presa na de Morpheus.

 

O corvo abriu o bico, e, para surpresa dela, uma voz rouca e carregada de personalidade saiu dali.

“O nome é Matthew. Sou o novo corvo do chefe. Pelo menos, tô tentando ser. Ele tá meio difícil de convencer, sabe?”

 

Morpheus lançou um olhar cortante para o pássaro, sua expressão endurecendo ainda mais.

“Eu não pedi companhia. Volte ao Sonhar, Matthew. Não preciso de suas... observações.”

 

Briely virou-se para ele, os olhos arregalados, quase implorando.

“Ah, vamos lá, Morpheus. Deixa ele ficar. Olha só pra ele, coitado.”

Ela apontou para o corvo, que inclinou a cabeça de um jeito que parecia intencionalmente patético, como se estivesse colaborando com o apelo dela.

“Ele só quer ajudar. Por favor?”

Ela fez uma cara que era impossível de resistir, os lábios formando um biquinho leve, os olhos brilhando com uma doçura que desarmava qualquer argumento.

O olhar dela perfurava as defesas do Morpheus, tocando algo profundo dentro dele, algo que ele tentava sufocar

— o amor que crescia por ela, incontrolável, inegável.

Ele sustentou o olhar dela por um longo momento, a mandíbula tensa, os olhos prateados oscilando entre irritação e rendição.

Por fim, soltou um suspiro baixo, quase inaudível, e assentiu com um leve movimento de cabeça.

“Que seja".

 

Matthew soltou um grasnido satisfeito, batendo as asas antes de voar para mais perto, pairando acima deles.

“Valeu, chefe! E você,  bela moça, tem meu respeito. Não é todo dia que alguém dobra o Rei dos Sonhos.”

 

Briely riu, apertando a mão de Morpheus de leve como um gesto de gratidão.

sem perceber o quanto aquele pequeno toque acelerava algo dentro dele.

“Viu? Ele só precisava de uma chance,” disse ela, sorrindo para o corvo.

 

Morpheus não respondeu, mas seus olhos se demoraram nela por um instante a mais antes de voltarem para a rua à frente.

Ele não conseguia negá-la, não queria. Cada pedido dela, por menor que fosse.

 mesmo que disfarçasse sob a fachada de indiferença.

O aperto em sua mão não afrouxou enquanto continuavam a caminhar, Matthew agora os acompanhando, as asas batendo com um som quase rítmico contra o silêncio opressor da noite.

O primeiro destino era uma igreja antiga, suas paredes de pedra desgastadas pelo tempo, os vitrais quebrados lançando fragmentos de luz colorida no chão empoeirado.

O interior era iluminado por velas tremulantes, o cheiro de cera derretida misturando-se ao ar pesado de santidade e desespero.

Johanna Constantine estava lá.

no centro de um exorcismo, sua voz ecoando pelas paredes com uma mistura de autoridade e sarcasmo afiado.

“Saia agora, seu desgraçado, ou eu te mando de volta pro inferno com um chute no traseiro!”

gritava ela, segurando um crucifixo manchado enquanto traçava sigilos no ar com a outra mão, o rosto marcado por suor e determinação.

Morpheus observava de longe, escondido nas sombras da entrada, seus olhos frios analisando cada movimento.

Ele se voltou para Briely, que estava ao seu lado, e murmurou:

“Fique aqui  do lado de fora. Se algo acontecer, chame-me.” 

Ela franziu a testa, claramente contrariada, mas assentiu com um suspiro.

“Tudo bem, mas não demore. Não gosto de ficar de babá do vazio.”

A leveza em suas palavras era um contraste com a tensão do ambiente.

e Morpheus sentiu um canto de sua boca se curvar quase imperceptivelmente antes de se virar e entrar na igreja.

 

 


 

Dentro da igreja, o ar estava denso com o cheiro de incenso e algo mais sombrio, algo que pertencia aos reinos abaixo.

Johanna terminava o exorcismo, o demônio preso em um círculo de sal uivando em agonia antes de ser banido com um flash de luz amarelada e um grito final.

Antes de desaparecer, a criatura fixou seus olhos em Morpheus e rosnou com desdém:

“O Rei dos Sonhos, hein? Preso por mortais e agora mendigando por migalhas. Patético.”

Morpheus não se abalou, seu olhar profundo parecendo atravessar a essência da criatura, que foi sugada de volta para o abismo com um gemido distorcido.

 

Johanna, limpando o suor da testa com a manga de sua jaqueta de couro gasta, virou-se para ele sem demonstrar surpresa, os olhos semicerrados com um misto de curiosidade e irritação.

“Se o Rei dos Sonhos veio até mim, não deve ser por devoção,”

disse ela, o tom carregado de um humor ácido que parecia ser sua marca registrada.

 

Morpheus inclinou a cabeça levemente, sua voz calma mais cheia  de propósito.

“Preciso de sua ajuda, Constantine. Minha areia dos Sonhos. Sei que não está mais com você, mas pode descobrir onde está.”

 

Ela cruzou os braços, avaliando-o por um momento antes de soltar um suspiro dramático.

“Tudo bem, Majestade. Mas espero que tenha algo em troca. Não trabalho de graça.”

Ele apenas assentiu.

 

Enquanto isso, do lado de fora da igreja, Briely aguardava próximo à entrada, o ar frio da noite mordendo sua pele.

Matthew, pousou em uma pedra próxima, suas penas escuras quase se fundindo com as sombras ao redor.

Ele inclinou a cabeça, os olhos pequenos brilhando com curiosidade enquanto a encarava.

 

“Oi, meu nome e Briely. É um prazer conhecer o novo corvo do Morpheus,”

disse ela, oferecendo um sorriso gentil enquanto se encostava na parede áspera da igreja.

 

Matthew grasnou baixinho antes de responder.

“Igualmente, senhorita. Eu sou Matthew. Pra ser honesto, a Lucienne que me mandou vir atrás dele. Disse que o chefe precisava de um par de olhos extras, mesmo que ele não admita.”

 

Briely riu suavemente.

“Entendo. Ele é meio... teimoso, né?”

 

“Teimoso é pouco,”

retrucou Matthew, batendo as asas de leve.

“Escuta, é verdade que você ficou presa com o chefe? Tipo, de verdade?”

 

Ela assentiu, o sorriso diminuindo enquanto uma sombra passava por seu rosto.

“Sim, ficamos presos juntos naquele lugar por três meses. Não foi... fácil.”

 

Matthew inclinou a cabeça, claramente intrigado.

“Três meses? Caramba. E qual é a relação de vocês agora? São amigos ou o quê?”

 

Briely hesitou por um momento, encarando o corvo antes de responder.

“Somos amigos. Ele é... bom, ele é o Morpheus. Não é exatamente o tipo de pessoa que se abre fácil, sabe?”

 

“Sei sim,”

respondeu Matthew, com um tom que sugeria que já tinha lidado com a frieza do Rei dos Sonhos mais de uma vez.

“Mas ele parece diferente com você. Não sei explicar. Só um palpite de corvo.”

 

Ela riu de novo, balançando a cabeça.

“Talvez. Mas somos só amigos. E você, como tá sendo trabalhar pra ele?”

 

“Ah, é um desafio. O cara não é exatamente caloroso. Mas tô pegando o jeito. Pelo menos, espero que sim,”

disse Matthew, soltando um grasnido que parecia uma risada.

 

A conversa fluiu com leveza, Briely e Matthew trocando comentários sobre as peculiaridades do morpheus.

O tempo passou quase despercebido até que a porta pesada da igreja rangeu, abrindo-se com um som grave.

Morpheus emergiu das sombras do interior, seguido por Johanna Constantine, que o  caminhava com um ar confiante.

Johanna avistou Briely e Matthew do lado de fora e se aproximou com um sorriso torto, os olhos brilhando com um interesse evidente.

Ela parou a poucos passos de Briely, inclinando a cabeça enquanto a avaliava de cima a baixo.

“E quem temos aqui? Não sabia que o Rei dos Sonhos viajava com companhia tão... encantadora. Sou Johanna Constantine. Prazer em te conhecer.”

O tom tinha um leve flerte, o sorriso dela carregado de charme enquanto estendia a mão.

Briely sorriu de volta, apertando a mão dela com naturalidade.

“Oi, eu sou Briely. Prazer em te conhecer também.”

Morpheus, que observava a interação de perto, franziu a testa, uma sombra de irritação cruzando seu rosto normalmente impassível.

Ele deu um passo à frente, interrompendo o momento com sua voz grave e cortante.

“Constantine, precisamos da areia. Não temos tempo a perder com apresentações desnecessárias.”

Johanna virou-se para ele, o sorriso se alargando ao notar o tom cortante e a postura tensa do Rei dos Sonhos.

Ela ergueu uma sobrancelha, claramente divertida.

Calma, Senhor dos Sonhos. Já vamos buscar sua areia mágica. Só estou me apresentando pra sua bela namorada antes. Educação básica, sabe?”

 

Briely riu, balançando a cabeça.

“Ele não é meu namorado. Somos só amigos.”

Johanna inclinou a cabeça, os olhos brilhando com um misto de surpresa e malícia

. “É mesmo? Não sabia. Interessante.

Seu mirada passou de Briely para Morpheus, como se estivesse avaliando algo invisível entre os dois, antes de soltar uma risada baixa.

Bem, então, vamos andando. Não queremos deixar Sua Majestade ainda mais impaciente, né?

Morpheus não respondeu, mas seus olhos se estreitaram ligeiramente, a tensão em sua expressão revelando mais do que ele gostaria.

Ele fez um gesto para que seguissem, e o grupo começou a se mover pela noite.

 


 

A busca os levou a uma casa decadente na periferia da cidade, um lugar que parecia sugado de toda vida, suas janelas cobertas por cortinas rasgadas, o ar ao redor carregado de um peso que parecia grudar na pele como névoa.

Rachel, uma antiga conhecida de Johanna, vivia ali, e a energia da areia dos Sonhos pulsava de dentro da casa como um coração doente.

Johanna insistiu em entrar sozinha, empurrando a porta rangente com o ombro.

Deixem comigo,”

disse ela, confiante, lançando um olhar por cima do ombro para Morpheus e Briely, que esperavam do lado de fora e Matthew, empoleirado em um poste de luz quebrado, suas penas brilhando na penumbra.

 

Enquanto Johanna desaparecia no interior sombrio da casa, Briely cruzou os braços, o vento frio da noite fazendo-a estremecer ligeiramente.

Ela olhou para Morpheus, que permanecia imóvel, os olhos fixos na porta como se pudesse ver através dela.

“Acha que ela vai conseguir?”

perguntou, a voz baixa, quase um sussurro.

 

Morpheus virou-se para ela.

“Constantine sabe o que faz. Mas a areia... é um fardo perigoso para qualquer mortal.  Vamos esperar.”

Sua voz era calma, mas carregava uma tensão subjacente que não passou despercebida por Briely.

 

Ela assentiu, mordendo o lábio inferior enquanto olhava para a casa.

“Espero que ocorra tudo bem lá dentro.”

Os minutos se arrastavam, e a demora começou a inquietar. Briely batia o pé no chão de forma impaciente, a testa franzida.

“Já faz tempo demais. Algo deve está errado,”

murmurou ela, mais para si mesma do que para Morpheus.

Ele, porém, sentiu um aperto no peito, uma mistura de preocupação pela areia e por Briely, tão perto do perigo.

Antes que pudesse dizer algo, ela o encarou, os olhos decididos.

“Vamos entrar. Não dá pra ficar só esperando aqui do lado de fora.”

 

Sem aguardar uma resposta, ela avançou, e Morpheus a seguiu, a porta abrindo-se com um empurrão de sua mão pálida, a madeira rangendo em protesto.

Dentro, a cena era inquietante.

O interior da casa era sufocante, o papel de parede descascando revelando paredes mofadas.

o chão coberto por poeira e objetos quebrados.

Briely avistou Johanna caída perto de uma mesa, inconsciente.

o rosto pálido e uma marca de queimadura leve em sua mão.

Perto dela, Rachel jazia em um canto, o corpo frágil e consumido, os olhos vidrados enquanto segurava uma bolsa de couro com força desesperada.

como se sua vida dependesse disso.

 

JOHANNA!”

gritou Briely, o coração disparando enquanto dava um passo à frente, o instinto a impulsionando na direção da mulher caída.

Mas antes que pudesse se aproximar, Morpheus estendeu um braço na frente dela, bloqueando seu caminho com uma firmeza inabalável.

Seus olhos encontraram os dela por um breve instante, uma ordem silenciosa brilhando neles.

 

“Fique aqui,”

disse ele, a voz grave e inegociável.

Briely hesitou, mas assentiu com relutância, os punhos cerrados enquanto o observava avançar.

Morpheus aproximou-se de Johanna, agachando-se ao seu lado e tocando sua testa com a ponta dos dedos.

Uma onda de energia sutil a despertou, e ela abriu os olhos, ofegante, o peito subindo e descendo rapidamente.

Maldição… aquela coisa é veneno puro pra humanos,”

murmurou ela, levantando-se com esforço, o rosto ainda pálido, mas os olhos recuperando o brilho de sempre.

 

Morpheus não respondeu, seus olhos agora fixos em Rachel.

Ele pegou a bolsa de areia com um movimento preciso, sentindo o poder familiar retornar a ele, uma parte de sua essência se reconectando como um pedaço perdido de um quebra-cabeça.

Ele se levantou, pronto para deixar o lugar, a bolsa segura em sua mão, mas Briely não conseguia tirar os olhos da mulher no canto, o coração apertado com compaixão diante do sofrimento estampado em cada linha do rosto dela.

Ela deu um passo à frente, segurando o braço de Morpheus com gentileza, mas com uma urgência o que o fez parar.

“Espera. Por favor, não tem algo que você possa fazer por ela?”

perguntou, a voz suave, mas carregada de um pedido sincero.

“Ela não tem culpa disso. Olha o estado dela.”

 

Morpheus virou-se para Rachel, seus olhos frios analisando a figura frágil na cama.

Johanna, agora ao lado da mulher, também lançou um olhar para ele, uma mistura de curiosidade e expectativa em sua expressão.

Então, ele voltou seu olhar para Briely.

e a  intensidade daqueles olhos dela , cheios de empatia, o fez ceder.

Ele suspirou baixinho, quase imperceptivelmente.

“Posso fazer algo por ela,  Posso dar a ela um fim em paz.”

disse ele. O rosto de Briely se iluminou com um sorriso agradecido, um brilho de alívio cruzando suas feições.

Morpheus ergueu uma mão, fazendo um gesto para que ela se afastasse.

“Espere lá fora com Matthew e a Constantine.”

 

Briely hesitou por um momento, mas assentiu, confiando nele.

“Tudo bem. Obrigada, Morpheus.”

Ela lançou um último olhar para Rachel antes de se virar e seguir para a saída.

Johanna a acompanhou, lançando um olhar por cima do ombro para Morpheus.

Do lado de fora, o ar frio da noite parecia menos sufocante comparado ao peso opressor da casa.

Matthew pousou no ombro de Briely, suas asas batendo suavemente.

“O chefe tá fazendo caridade agora? Isso é novo,” grasnou o corvo.

Briely riu baixinho, balançando a cabeça.

“Ele só tá sendo... humano, de um jeito estranho.”

Ela olhou para a porta, a preocupação ainda presente em seus olhos, enquanto esperava que Morpheus cumprisse sua promessa.

 

 


 

 Johanna estava encostada em um poste de luz quebrado, os braços cruzados, o rosto marcado por uma tristeza contida enquanto olhava para o vazio.

Briely, ao seu lado, observava-a com empatia, sentindo o clima pesado que pairava entre elas.

Matthew, empoleirado no ombro de Briely, mantinha os olhos atentos.

 

“Sinto muito pela Rachel,”

disse Briely, a voz suave, quebrando o silêncio.

Ela colocou uma mão hesitantemente no braço de Johanna, um gesto de conforto.

 

Johanna assentiu, os lábios pressionados em uma linha fina, os olhos ainda distantes.

“Obrigada. Ela... não era uma má pessoa. Só pegou algo que nunca deveria ter tocado.” 

Depois de um momento, ela virou a cabeça para Briely, os olhos semicerrados com uma curiosidade quase investigativa.

“Diga-me uma coisa. O senhor dos sonhos sempre cede assim tão fácil pros seus pedidos? ”

 

Briely piscou, surpresa.

“O quê? Não, quer dizer...  Ele não ‘cede’ pra mim. Eu só pedi, e ele concordou. Não é nada demais.”

 

Matthew soltou um grasnido baixo, quase uma risada, inclinando a cabeça enquanto encarava Johanna.

“Pelo que vi hoje, se ela pedir, o chefe cede rapidinho. ele não diz não pra ela.”

 

Johanna ergueu uma sobrancelha, um sorriso torto brincando em seus lábios enquanto olhava de Briely para o corvo.

“Interessante. O Sandman não é exatamente conhecido por ser misericordioso.

Não o bastante pra ajudar alguém que tá com algo dele, como a areia.

Ele é mais do tipo ‘pegue o que é meu e você vai sumir’.

O que você tem que faz ele agir diferente, hein?”

 

Briely franziu a testa, desconfortável com a insinuação, mas respondeu com sinceridade.

“Não é nada disso. Estou ajudando ele agora, e ele vai me ajudar com algo em troca. É só... um acordo. Nada mais.”

 

Johanna assentiu lentamente, os olhos ainda avaliando Briely como se tentasse decifrar algo mais profundo.

“Entendo. Só se cuida, tá bem? Tipos como ele não são exatamente... previsíveis. Ou seguros.”

Ela fez uma pausa, o tom suavizando um pouco.

“Mas você parece saber lidar com ele.”

 

Antes que Briely pudesse responder, Johanna avistou um movimento na entrada da casa.

Morpheus emergiu da escuridão, sua figura alta e imponente destacando-se contra o fundo sombrio da porta.

ele caminhava, a bolsa de areia agora segura em sua mão, o rosto tão impassível quanto sempre, mas com um brilho sutil de algo indefinível nos olhos .

Ele se aproximou da Briely, ignorando Johanna e Matthew por um momento, sua presença parecia puxá-lo como um ímã.

 

“Está feito,” disse ele. Seus olhos encontraram os dela, e por um instante.

havia algo mais ali, algo que não precisava de palavras.

“Rachel não sofrerá mais. Vamos.”

 


 

“Já recuperamos o que vim buscar,”

disse ele, cortando a conversa.

“Não há motivo para nos demorarmos aqui.”

 

Johanna deu de ombros, acenando com um gesto casual, o rosto ainda marcado pelo esforço da noite.

Sempre um prazer, Majestade. Se precisar de mim pra achar mais das suas bugigangas mágicas, sabe onde me encontrar. Mas não espere que eu faça isso de graça da próxima vez.

Ela virou-se para Briely, estendendo a mão com um sorriso cansado, mas genuíno.

Foi bom te conhecer, Briely. Se cuida, tá bem? O mundo dele não é exatamente um passeio no parque.”

 

Briely apertou a mão dela, retribuindo o sorriso.

“Obrigada, Johanna. Você também. Boa sorte por aí.” 

 

Johanna assentiu, lançando um último olhar intrigado para Morpheus antes de se virar e desaparecer na escuridão da noite, seus passos ecoando até sumirem.

Matthew, que estava empoleirado no ombro de Briely, soltou um grasnido baixo, quase como se estivesse analizando a situação.

Ele bateu as asas e voou para um poste próximo, claramente percebendo que o chefe queria um momento a sós com Briely.

Seus olhos pequenos brilharam na penumbra enquanto ele se acomodava, fingindo desinteresse.

 

Morpheus inclinou a cabeça em reconhecimento ao gesto de Johanna ao partir.

Ele esperou até que Johanna estivesse fora de vista antes de falar, a voz baixa.

carregada de algo que não era apenas preocupação.

“Você não precisava vir. O mundo desperto não é tão seguro para você.”

 

Briely sorriu, o tom brincalhão de sempre, alheia à tempestade interna que suas palavras causavam nele.

“Relaxa, Morpheus. Passei por coisas piores no meu universo. Isso aqui não foi nada. Tô bem, e sei me cuidar caso algo aconteça.”

Ela cruzou os braços, notando a sobrancelha erguida dele, um sinal claro de que ele não acreditava muito na bravata dela.

“Além disso, não sou tão frágil quanto você pensa. Posso ser assustadora se eu quiser.”

 

Ele apenas a observou.

os olhos capturando cada detalhe dela como se quisesse guardá-la em um sonho que nunca se desfizesse.

“Tudo bem, mas ainda quero que fique perto de mim, como prometeu,” disse finalmente.

a voz dele era firme, mas com um traço de algo mais profundo, algo que ela não captou.

 

“Tá bom,” respondeu ela, sorrindo,

sem perceber a profundidade do que ele sentia.

 o sorriso ainda brincando em seus lábios. “Agora, qual é o nosso próximo passo, parceiro? O  seu elmo ou o rubi?”

Matthew interveio, voando para perto de Morpheus, a voz dele cortando o silêncio.

“Se quer minha opinião, o Inferno não parece um lugar de férias. Mas, ei, sou só um corvo. O que eu sei?”

 

“O elmo está no Inferno,”

confirmou Morpheus, os olhos fixos no horizonte escuro, a linha de sua mandíbula tensa enquanto pensava no que os aguardava.

“Será desafiador. Mas não há escolha. O Sonhar não pode ser restaurado sem todas as minhas ferramentas.”

 

Briely apenas deu de ombros, o vento levantando uma mecha de seu cabelo enquanto sorria, um desafio nos olhos. “Então vamos ao Inferno. Não é como se eu tivesse algo melhor pra fazer.”

 

Ele sentiu um aperto no peito, uma mistura de admiração por sua coragem e temor pelo que estava por vir.

Queria protegê-la de tudo, mantê-la longe de qualquer perigo, mas sabia que ela nunca aceitaria ser deixada para trás.

E, em segredo, ele não queria que ela ficasse.

Sua presença, mesmo sem o sentimento que ele desejava que ela tivesse por ele também.

 era a única coisa que parecia ancorar sua essência em meio ao caos.

 

“Vamos retornar ao Sonhar primeiro,” disse ele.

“Preciso preparar o caminho para o que nos espera. E você… precisa estar pronta.”

 

Ela riu baixinho.

um som que para ele era mais doce que qualquer melodia do Sonhar, mesmo que doesse saber que não era  ele como ele desejava.

“Vamos lá então.”

 

Enquanto caminhavam, a noite engolindo seus passos, Morpheus permitiu-se um pensamento que raramente deixava emergir.

Sabia que o Inferno seria implacável, mesmo para ele. Mas o verdadeiro medo não era o que poderiam enfrentar lá, e sim o que poderia acontecer a ela.

Em silêncio, ele renovou um juramento na sua mente: enquanto ela estivesse ao seu lado, nada a tocaria.

Não enquanto ele existisse.

Notes:

 

Não sou muito boa em enigmas mais fiz o melhor que consegui. Conseguiram entender?

 

Chapter 4

Notes:

Capítulo editado ;)

Chapter Text

 

    

 

Morpheus conduziu Briely e Matthew de volta ao Sonhar .

A transição do mundo desperto para o Sonhar sempre trazia uma sensação de deslocamento, como se o próprio tecido da realidade se dobrasse e se reformasse.

 

Lucienne os aguardava nos portões do castelo, sua figura elegante e composta contrastando com a preocupação evidente em seus olhos.

Ao ver Morpheus e Briely, um alívio visível tomou conta dela, seus ombros relaxando ligeiramente.

“Meu senhor, fico aliviada em vê-lo de volta. E a você também, senhorita Briely.”

 

Morpheus assentiu, sua expressão tão impassível quanto sempre, mas havia um brilho de determinação em seus olhos.

“Recuperamos a areia. Agora, partiremos para o Inferno. Meu elmo está lá, e não descansarei até que todas as minhas ferramentas estejam de volta ao Sonhar.”

 

Lucienne franziu o cenho, voltando sua atenção para Briely com uma preocupação.

“Você vai com ele? Para o Inferno?  Senhorita Briely, isso é uma péssima ideia.

Você é humana... mesmo com a proteção do mestre, as coisas podem não sair bem.

O Inferno não é um lugar para mortais, nem mesmo para os mais corajosos.”

 

Briely sorriu, um brilho desafiador nos olhos enquanto cruzava os braços.

“Não se preocupe, Lucienne. Eu não sou totalmente humana como você está pensando. Sou uma semideusa. Posso me proteger.”

 

Lucienne não pareceu convencida, suas mãos se apertando uma contra a outra enquanto sua preocupação se aprofundava.

Ela lançou um olhar rápido para Morpheus, percebendo a intensidade com que ele observava Briely, mesmo que sutil.

Ela já havia notado há muito tempo os sinais do afeto que ele nutria por ela, um sentimento tão vasto.

e temia o que ele poderia fazer  se algo acontecesse a ela.

“Ainda assim... o Inferno é traiçoeiro. Por favor, reconsidere senhorita.”

 

Briely balançou a cabeça, o tom gentil, mas firme.

“Eu agradeço, de verdade. Mas vou junto com ele. Vai ficar tudo bem.”

 

Lucienne suspirou, sabendo que não havia como dissuadi-la.

Seus olhos voltaram para Morpheus, uma súplica silenciosa que ele não pareceu registrar.

Sem mais palavras, o grupo se preparou para a jornada ao Inferno, o peso da decisão pairando sobre eles como uma sombra.

 


 

O ar gelado do Inferno cortava como lâminas invisíveis, carregado de um cheiro sulfúrico que parecia corroer até mesmo a esperança.

Um frio sobrenatural se infiltrava nos ossos, diferente de qualquer temperatura mortal; era um frio que parecia sugar a vida de dentro para fora.

 

“Tem muitos nomes. Averno, Tártaro, Hades… a região infernal que vocês chamam de Inferno,”

falou Morpheus, sua voz grave e distante, enquanto seus olhos escuros pareciam atravessar as profundezas do lugar, como se ele próprio fosse parte daquela escuridão.

 

“Então, o Inferno existe?”

perguntou Matthew, surpreso, suas penas se eriçando enquanto girava a cabeça para absorver cada detalhe do ambiente hostil.

 

“Sim, para alguns,”

respondeu Morpheus, o tom carregado de uma sabedoria antiga que parecia ecoar além das palavras.

 

“Isso significa que não existe se você não acredita nele?” insistiu Matthew, inclinando a cabeça com curiosidade.

 

“Você acreditava nisso? Quando era humano?”

retrucou Morpheus, um leve suspiro escapando dele enquanto fixava o corvo com um olhar penetrante.

 

Suspirando, Matthew respondeu:

“Sim. Eu simplesmente não esperava que o Inferno fosse frio. Então, para onde vamos?”

 

“Sugiro que sigamos os condenados,”

disse Morpheus, apontando para um caminho tortuoso à frente, ladeado por saliências que pareciam se mover como seres vivos, retorcendo-se com uma vontade própria.

 

O grupo avançou, o ar gelado e pesado os envolvendo enquanto atravessavam.

Morpheus caminhava à frente, firme, mas segurava a mão de Briely com uma força protetora, guiando-a por escadas irregulares que rangiam sob o peso de eras de abandono.

Cada degrau parecia protestar contra sua presença, e o som ecoava como um lamento distante.

 

“O Hades…”

Briely começou, hesitante, sua voz quase engolida pelo silêncio opressivo do lugar.

“Quero dizer, o tio Hades, como ele é aqui nesse universo? Você o conhece?”

 

Morpheus desviou o olhar, seus olhos refletindo a luz espectral que parecia surgir de lugar nenhum, lançando sombras inquietantes ao redor.

“Sim, Briely. Conheço. Posso lhe contar sobre as contrapartes deles e até sobre seu pai quando voltarmos. Mais tarde, falarei um pouco sobre os deuses desse universo. Por enquanto, concentre-se."

 

Eles continuaram até chegar a um imenso portão, seus contornos grotescos esculpidos em pedra negra, com detalhes que pareciam pulsar como veias.

A paisagem era fria, desolada, diferente de qualquer descrição que Briely já ouvira em seu mundo.

Ela observou o ambiente com um leve estremecimento.

“Parece um pouco com o Submundo de casa, sabe? Lá no meu universo... tem essa mesma vibe sombria, esse peso no ar. Só que aqui é... mais frio.”

 

Matthew olhou para ela, curioso, mas Morpheus apenas apertou sua mão um pouco mais firme, um gesto silencioso de reconhecimento enquanto prosseguiam.

“Um rei não pode entrar no reino de outro monarca sem ser convidado,”

respondeu ele com firmeza, sua voz cortando o ar como um decreto.

“Há regras e protocolos que devem ser seguidos.”

 

Ao se aproximarem do portão, uma voz ecoante e rouca os saudou, carregada de desdém e provocação.

“Tem um na porta… À porta da condenação. Ladrão, bandido ou prostituta? Há espaço para mais um…”

 

“Saudações, Squatterbloat,”

disse Morpheus com autoridade, sua presença dominando o espaço.

“Peço uma audiência com seu soberano.”

 

“Mm. Sim, meu palhaço. Então, onde está sua coroa?”

zombou o demônio, seus olhos brilhando com malícia enquanto se inclinava para mais perto, o fedor de enxofre emanando de sua forma retorcida.

 

“Guarde sua língua, demônio. O Governante do Inferno não será gentil com quem insulta um convidado de honra.

E eu sou um convidado neste reino, pois sou meu próprio monarca. Abrirá os portões do Inferno e nos deixará passar?”

retrucou Morpheus, cada palavra afiada como uma lâmina.

 

Squatterbloat, com um grunhido relutante, conduziu-os pelo portão, e o grupo seguiu por um caminho tortuoso, subindo escadas irregulares.

Morpheus segurava a mão de Briely com cuidado e firmeza, cada toque transmitindo segurança.

A paisagem ao redor parecia mudar a cada passo, moldada pelos caprichos de um poder superior.

 

“A Estrela da Manhã?”

perguntou Briely, olhando ao redor com um misto de fascínio e temor, enquanto as formas distorcidas das rochas se retorciam como se observassem sua passagem.

“Temos que passar a noite neste lugar literalmente esquecido por Deus?”

 

“Sim,” respondeu Morpheus, sério, seus olhos fixos no horizonte sombrio.

“Mas não se preocupe, estarei com você.”

 

“Como o Diabo?” sussurrou Matthew, assustado com a magnitude do local, suas asas tremendo levemente.

“O Governante do Inferno não é um mero diabo?”

 

“Não é qualquer anjo,” explicou Morpheus calmamente, sua voz carregada de um peso que parecia carregar eras de história.

“Quando nos conhecemos, Lúcifer era o anjo Samael. O mais belo, mais sábio e mais poderoso de todos os anjos. Com exceção apenas do Criador, Lúcifer é talvez o ser mais poderoso que existe.”

 

“Mais poderoso que você?” perguntou Matthew, surpreso, seus olhos redondos fixos em Morpheus.

 

“De longe,” respondeu Morpheus.

“Principalmente agora.”

 

Finalmente, chegaram a uma cela, um espaço frio e úmido, onde o ar parecia sufocar qualquer esperança. Matthew comentou, desconfiado, enquanto olhava ao redor.

O demônio… sumiu.”

 

Dentro da cela, uma figura frágil os encarou, seus olhos cheios de um reconhecimento doloroso.

Senhor dos Sonhos… Kai’ckul… e você?”

falou ela, ofegante, a voz tremendo com uma mistura de alívio e desespero.

 

“Quem é ela?” perguntou Matthew, surpreso, enquanto suas asas batiam inquietas.

 

Senhor dos Sonhos?”

continuou a mulher, respirando pesadamente.

Kai’ckul… eu sabia que você viria. Por favor, liberta-me. Somente o teu perdão pode me libertar.”

 

Briely tentou se aproximar, movida por uma mistura de curiosidade e compaixão.

mas Morpheus a puxou para mais perto dele, apertando sua mão com firmeza, um gesto protetor que a manteve colada ao seu lado.

Ela sentiu um arrepio percorrer sua espinha, não apenas pelo ambiente gélido, mas pela presença angustiada da mulher.

Em sua mente, perguntas rodopiavam:

o que essa mulher havia feito para estar ali, condenada, e ela estava ali por tanto tempo?

 

“Por quanto tempo ela está aqui?” perguntou Matthew, curioso, repetindo a pergunta como se tentasse absorver a gravidade da situação.

 

Mais de 10.000 anos,” respondeu Morpheus com firmeza. Briely arregalou os olhos, chocada, e virou-se para ele, buscando confirmação.

“É verdade?” perguntou, seus olhos encontrando os dele,  sem acreditar.

Morpheus não respondeu com palavras; apenas a encarou, seu olhar profundo e impenetrável, carregado de uma história que ela não podia compreender.

 

10.000 anos? Como… como isso é possível?

perguntou a mulher, incrédula, seus olhos arregalados enquanto sua voz tremia.

 

Foi porque você me desafiou,”

respondeu Morpheus calmamente, sem desviar o olhar.

 

Você… você ainda me ama?

perguntou ela, a voz tremendo com uma esperança frágil.

 

Morpheus desviou o olhar, lançando um breve e intenso vislumbre para Briely antes de responder com firmeza.

Não. Eu não a amo mais. Amo outra pessoa.”

 

Briely engoliu em seco, sentindo um arrepio percorrer seu corpo ao ouvir aquelas palavras.

Ela Não sabia de quem ele falava, mas a intensidade de sua voz e o olhar que ele lhe lançou mexeram com algo dentro dela.

Seu coração apertou de uma forma que ela não conseguia explicar.  

embora permanecesse alheia ao fato de que era para ela que os olhos de Morpheus sempre retornavam.

 

“Não se preocupem com isso,”

disse Morpheus suavemente, virando-se para Matthew e Briely.

“Venham. Temos assuntos mais importantes a tratar.”

 

Ele conduziu Briely para longe da cela, segurando sua mão com firmeza, enquanto Matthew os seguia, observando cada movimento.

A presença da mulher ali era inquietante, mas Morpheus permanecia resoluto, sua determinação inabalável enquanto guiava seus companheiros para o próximo confronto.

 

Eles se aproximaram de um imponente palácio infernal, suas torres retorcidas perfurando a escuridão como dentes afiados.

Lúcifer Morningstar e Mazikeen os aguardavam, os olhos do primeiro brilhando com curiosidade e um desafio velado.

 

Olá, Sonho."

"Saudações a você, Lúcifer Morningstar,” disse Morpheus, mantendo a postura firme.

Saudações, Mazikeen dos Lillim.”

 

Lúcifer franziu o cenho, olhando para Briely ao lado de Morpheus.

“Vejo que trouxe companhia,” disse ele, a voz carregada de ironia.

Seus olhos percorreram Briely, mas então seu olhar se congelou, um espanto claro em sua expressão.

Espere… o que é isso?” murmurou, sentindo algo estranho na aura da jovem.

“Essa presença parece um certo Deus, Morpheus… o que você está fazendo com um membro do panteão grego?

Poseidon tem uma filha semideusa e eu não sabia?”

 

Morpheus apertou a mão de Briely ainda mais, puxando-a para trás de si, e bloqueando a visão de Lúcifer sobre ela.

“Não é da sua conta, Lucifer” disse ele, a voz cortante como gelo.

Ela me acompanha. Você  Não precisa saber de Nada mais.”

 

“Hm…” Lúcifer arqueou uma sobrancelha, desconfiado, mas recuou um passo, estudando a situação.

“Veremos como isso se desenrola.”

 

Lúcifer sorriu, mas não era um sorriso amigável.

Sempre misterioso. Mas vamos ao que importa. Presumo que esta não seja uma visita social.

Ou veio, quem sabe, reconhecer a soberania do Inferno?”

 

“Você sabe que não é disso que se trata,” disse Morpheus.

“Vim recuperar algo que me pertence. Meu Elmo de Estado foi roubado e acredito que esteja com um de seus demônios.”

 

Ah, Morpheus… sempre tão direto,”

murmurou Lúcifer.

Mas as coisas não são tão simples aqui. Existem regras, protocolos. Diga o nome e o trarei a você.”

 

“Não sei o nome,” respondeu Morpheus.

 

Um sorriso se abriu lentamente no rosto de Lúcifer.

Então teremos que convocar todos eles.”

 

Mazikeen ergueu o queixo e estalou os dedos.

Das profundezas do palácio, um rugido se ergueu, seguido por um coro de vozes, até que o chão pareceu tremer.

 

“Muito bem, Sonho,” disse Lúcifer, com um brilho divertido nos olhos.

Todos estão aqui. Faça sua pergunta.”

 

O salão do Inferno estava lotado. Demônios de todas as formas e tamanhos, desde sombras rastejantes até criaturas titânicas, se reuniam para ver o que estava por vir. O ar vibrava com expectativa.

 

Lúcifer ergueu a mão, pedindo silêncio, e então, com um sorriso enigmático, disse:

Pronto, Sonho. Você pode perguntar. Qual demônio está com seu capacete? Vamos entrevistá-los um de cada vez ou…?”

 

Morpheus ergueu o queixo, a postura firme.

“Isso não será necessário.”

 

Lúcifer inclinou levemente a cabeça, intrigado.

“Nos surpreende a facilidade com que você desiste, Dream. Sabemos o quanto você confiou em suas ferramentas.

Mas as ferramentas são as armadilhas mais sutis. Tornamo-nos dependentes delas e, sem elas, ficamos vulneráveis, fracos e indefesos.”

 

“Não totalmente,”

respondeu Morpheus, a voz tão fria quanto o mármore.

“Recuperei minha areia. Ela me trouxe até aqui, e agora trará para mim o que é meu.”

 

A voz ecoou pelo salão.

Diga-me seu nome, demônio.”

 

Um murmúrio correu entre a multidão. Um demônio avançou, esguio e arrogante, com olhos que pareciam abismos.

“Eu tenho que contar a ele?”

perguntou, com um sorriso torto.

 

Mazikeen respondeu antes que Lúcifer pudesse falar:

Esse é Choronzon. Um Duque do Inferno.”

 

Os olhos de Morpheus se estreitaram.

Choronzon… O elmo é meu. Você deve devolvê-lo para mim.”

 

Choronzon riu, um som gutural e provocador.

“Não. Agora é meu. Troquei-o com um mortal por algo insignificante. Foi uma troca justa. Não infringi nenhuma lei.”

 

“E se o Rei dos Sonhos quiser seu elmo de volta,”

completou Lúcifer, com um brilho malicioso nos olhos,

ele terá que lutar por ele.”

 

Choronzon abriu os braços, teatral.

Exato.

Eu o desafio, Dream. Se vencer, seu capacete será devolvido.

Mas se perder, você será meu escravo aqui no Inferno… por toda a eternidade.”

 

Matthew deu um passo à frente, a voz carregada de preocupação.

“mestre, isso é loucura…”

 

Mas Morpheus não desviou o olhar do demônio.

“Eu aceito os termos.”

 

A sala explodiu em gritos e risos demoníacos. Choronzon gargalhou, saboreando cada segundo, enquanto o ar ao redor parecia pulsar com uma energia sombria.

Briely apertou a mão de Morpheus instintivamente, seu coração disparando.

com  medo e admiração pela determinação  dele.

Ele retribuiu o aperto por um breve momento, um gesto quase imperceptível de conforto, antes de soltá-la.

e dar um passo à frente, enfrentando o desafio que definiria não apenas sua busca, mas talvez seu destino no Inferno.

Chapter 5

Notes:

Capítulo extra longo

Capítulo editado ;)

Chapter Text

 

 

 

Lúcifer ergue as asas, imponente, enquanto a arena do Inferno se abre em um grande círculo de fogo e trevas.

 

Lúcifer:

— Governante dos Sonhos, quem lutará por você?

 

Morpheus, firme respondeu:

— Eu mesmo me representarei.

 

Lúcifer, sorri  de canto.

— Muito bem. E Choronzon, quem lutará por você?

 

Choronzon, com um tom quase servil diz:  

— Eu escolho... você, meu senhor.

 

Lúcifer ergue a sobrancelha, um brilho de orgulho e desafio nos olhos.

— Assim seja.

 

Matthew, inquieto diz:

— Chefe, isso é loucura. Você não precisa fazer isso sozinho!

 

Briely,  rapidamente  se aproximou dele, ela toca o braço de Morpheus, preocupada.

“Morpheus, por favor, não faça isso. É loucura enfrentar Lúcifer, ainda mais agora. Eu... eu não quero que algo aconteça com você.”

Morpheus a encara por um instante, seus olhos profundos fixos nos dela, verdes como o mar.

Internamente, ele sorri ao perceber a preocupação genuína em seu olhar.

"Ela se preocupa comigo"

pensa, enquanto delicadamente retira a mão dela de seu braço.

levando-a aos lábios e depositando um beijo gentil.

“ Não se preocupe comigo, Briely. Eu estarei bem.“

 

Lúcifer  observa a interação.

com um sorriso sinistro, seus pensamentos ecoando na mente afiada.

"Então, ele gosta dela talvez até a  ame. Que interessante."

 

Morpheus se vira pro Matthew, e diz

“ volte para o Sonhar Matthew. Esta batalha é minha.”.

Ele se vira para Briely, o com tom firme .

“E você, Briely, vá com ele. Não é seguro para você aqui.“

 

Briely, hesitante, morde o lábio inferior, receosa de deixá-lo ali  sozinho, mas acaba assentindo com relutância.

“Tudo bem... mas, por favor, tome cuidado.“

 

Lúcifer intervém, sua voz deslizando como veneno, um sorriso cruel nos lábios:

Não tão rápido, querido sonho.

Que tal um pequeno incentivo? Se você perder, a garota ficará conosco.”

Ele gesticula com um brilho nos olhos, como se estivesse se divertindo com a situação.

 

Morpheus se vira para Lúcifer, sua expressão endurecendo, a raiva contida brilhando em seu olhar.

— Você não a tocará, Lúcifer. Isso eu garanto.

 

Lúcifer ri baixo.

— Por agora, não farei mal a ela. Se você vencer, poderá levá-la de volta.

Ele acena com a mão, e o chão sob Briely de repente se abre em um buraco negro.

Ela grita ao cair, enquanto Morpheus avança um passo, seu rosto tomado por fúria e preocupação.

Matthew solta um grasnado de pânico ao lado dele.

 


 

 

 

 

A onde Briely cai.

Ela aterrissa com um impacto suave em uma sala escura e fria, iluminada apenas por tochas bruxuleantes nas paredes de pedra.

Seu coração dispara ao perceber que não está sozinha. Uma mulher de presença marcante,

Mazikeen.

está sentada em uma cadeira ornamentada, observando-a com curiosidade.

Briely, assustada, rapidamente retira o anel de seu dedo.

O objeto brilha e se transforma em uma espada de bronze celestial, reluzente, que ela aponta para a mulher com determinação.

 

Mazikeen, ergue uma sobrancelha, parecendo mais divertida do que ameaçada.

“Calma, garota. Não vou machucá-la. Abaixe isso antes que se machuque.”

 

Briely hesita, os olhos estreitados pra ela, mas não abaixa a espada.

“Quem é você? ”

 

Mazikeen, com um leve sorriso, aponta para uma cadeira à sua frente.

“Sente-se querida. Vamos conversar, Não mordo... pelo menos não hoje.”

 

Briely, ainda estava desconfiada, mais acaba se sentando, mantendo a espada ao alcance, pronta para qualquer movimento que ela fizesse.

Mazikeen observa a arma com interesse genuíno.

“Essa é uma espada bem maneira. Tem um  nome?”

 

Briely, ainda cautelosa a respondeu,

“Sim eu a  Chamo de Tempestade.”

 

Mazikeen sorri, inclinando a cabeça.

“ Um nome forte. Combina com você. ”

  Ela se recosta na cadeira, seus olhos avaliando Briely de cima a baixo.

“ Você é muito bonita, sabia? Deve atrair muitos olhares. Mas me diga, qual é a relação entre você e o Senhor dos Sonhos?”

 

Briely, respondeu,

“Somos só amigos.”

 

Mazikeen, com um sorriso debochado respondeu

“ Amigos, hein? Não parece. Há algo mais aí, dá pra sentir. ” 

Mais Ela muda rapidamente de assunto.

“Quantos anos você tem, garota?“

 

Ela olha pro demônio e reponde: Dezesseis.

 

Mazikeen, ergueu as sobrancelhas, um brilho de diversão nos olhos.  

“você e Bem nova não é ?” 

Internamente ela reflete:

"Dezesseis anos... se ela for quem diz ser, todos saberiam de uma filha de Poseidon nesses anos. Será que está mentindo?"

 

Briely, firme, como se percebesse a dúvida dela  reafirmou que tem dezesseis. 

 

Mazikeen ri baixo dela.

“Tudo bem, pequena. Me diga, você é mesmo filha de Poseidon?“

 

Briely, sem hesitar a respondeu.

"Sou.”

 

Com isso Mazikeen, se inclinou para frente, olhando pra ela com um o olhar perspicaz.

“ E ele sabe que você está aqui, no Inferno, na companhia do Rei dos Sonhos? Duvido que Poseidon deixaria sua preciosa filha vagar por um lugar como este.”

 

“ Eu não o conheço. Não pessoalmente

Mazikeen, franzindo a testa.

pensa consigo mesma:

"Então, Morpheus talvez a tenha sequestrado antes mesmo de seu pai saber de sua existência?  Isso é... intrigante."

“Quanto tempo você está com o Senhor dos Sonhos?”

 

Ela respondeu

“ Três meses, mais ou menos.“

 

Mazikeen assente, tamborilando os dedos na cadeira, claramente pescando mais informações.

enquanto mantém a conversa leve.

“ Entendo. Bem, ainda  temos tempo pra conversar mais. Afinal, você não vai a lugar nenhum tão cedo, não é?”

 


 

 

 

Enquanto isso na arena, o caos ainda reverbera.

Matthew, estava empoleirado em um canto elevado, ele agita as asas com ansiedade, seus olhos negros fixos no ponto onde Briely desapareceu.

Matthew, murmura  para si mesmo, preocupado

“  Onde está a senhorita Briely? Ela não deveria ter sido levada assim. Chefe, precisamos encontrá-la logo. Isso não tá certo."

 

Morpheus, de pé no centro da arena, ignora por um momento os gritos dos demônios ao seu redor.

Seus olhos estão fixos em Lúcifer, um olhar fulminante, carregado de raiva contida e determinação.

Cada músculo de seu rosto parece esculpido em pedra, mas suas mãos se fecham em punhos, como se estivesse pronto para outro confronto.

 

Lúcifer, percebendo a dele tensão, ergue uma sobrancelha e solta uma risada baixa, quase melodiosa, caminhando com passos calculados em direção a Morpheus.

“ Relaxe, Sonho. Sua garota está bem. Está com Mazikeen, uma companhia... digamos, adequada. Não há necessidade de tanto drama. Por agora, ela está segura.” 

Ele inclina a cabeça, o sorriso se alargando com um toque de provocação.

“ Ou será que você não confia em mim?”

 

Morpheus, respondeu com voz  cortante:

“Sua palavra não significa nada para mim, Lúcifer. Se algo acontecer a ela.”

 

Lúcifer ri novamente, 

“Tanta paixão. Adoro isso em você, Morpheus. Vamos resolver a questão da garota... em breve.”

 

A arena vibra com gritos demoníacos. Lúcifer caminha para o centro, cada passo reverberando como um trovão, mas a troca de olhares entre ele e Morpheus permanece como uma batalha silenciosa.

 

Choronzon, como mestre de cerimônias, anuncia:

“Bem-vindos, senhores do Inferno! Hoje testemunhamos um duelo entre o Governante dos Sonhos e a Estrela da Manhã, no jogo mais antigo. Uma batalha de imaginação e poder!”

 

Lúcifer abre um sorriso frio:

“Vamos ver se você ainda é digno do título que carrega, Morpheus.“

 

Morpheus, calmo“ Estou pronto.“

 

As chamas aumentam. A arena silencia. O primeiro movimento está prestes a ser feito.

 

A arena mergulha em um silêncio profundo. O ar pesa, como se o Inferno inteiro prendesse a respiração.

 

Lúcifer dá um passo à frente, o olhar frio e desafiador.

Então, vamos começar.

“Eu sou um lobo, feroz e faminto, caçando sob a lua sangrenta.”

Uma explosão de energia.

Lúcifer se transforma em um lobo gigantesco, as presas brilhando, o pelo feito de fumaça e fogo.

Ele avança.

 

Morpheus ergue o queixo, tranquilo:

— Eu sou um caçador, um homem com a lança certeira, que encontra o lobo e o abate.

Sua forma muda.

Surge um caçador com armadura negra, a lança em mãos, firme, mirando o peito do lobo.

 

Matthew, no alto, comenta nervoso:

“Isso é insano. Eles estão se transformando em palavras... em ideias.”

 

Lúcifer rosna, a voz ecoando mesmo na forma de fera:

— Então eu sou uma serpente, que desliza, veneno nas presas, escondida na sombra para matar o caçador.

 

O corpo do lobo se contorce, transformando-se em uma serpente colossal, verde-escura, os olhos ardendo como brasas.

Ela avança.

 

Morpheus, firme, responde:

— Eu sou um pássaro, um falcão no alto, que mergulha e devora a serpente.

 

Lúcifer sorri, voltando à forma angelical por um instante.

— Eu sou um gato, ágil e veloz, que caça o pássaro no ar.

 

Morpheus:

— Eu sou um lobo, maior do que o anterior, que mata o gato.

 

O ritmo acelera.

Cada frase é um golpe, cada palavra uma forma.

A plateia de demônios ruge enquanto o duelo prossegue, cada forma mais ameaçadora que a anterior.

 

Lúcifer sorri, a voz carregada de desprezo: 

— Muito bem, Sonho, mas ainda está jogando pequeno.

Eu sou um dragão, imenso, com asas que cobrem o céu, cuspindo chamas que consomem tudo.

 

O calor do fogo ilumina a arena, os demônios gritam em aprovação.

 

Morpheus ergue o olhar, inabalável:

— Eu sou uma árvore antiga, enraizada na terra, imune às chamas, que sufoca o dragão com seus galhos eternos.

 

Lúcifer, os olhos brilhando, inclina a cabeça com um sorriso perigoso:  

— Então eu sou um machado, afiado, que corta a árvore ao meio.

 

Morpheus fecha os olhos, a voz baixa mas firme:

— Eu sou uma ferrugem que corrói o machado até o pó.

 

Os demônios murmuram, inquietos. A cada transformação, a tensão aumenta.

 

Lúcifer ergue a mão, a aura crescendo, e grita:

— Então eu sou uma doença, invisível, sem cura, que consome tudo.

 

Morpheus, com calma, responde:

— Eu sou esperança.

 

A arena silencia.

A palavra ecoa como um sino quebrando o ar pesado.

A própria luz do Inferno vacila.

 

Lúcifer hesita, a expressão fechada.

Esperança...

 

Matthew, aliviado:

— Isso é o que eles não entendem... esperança não morre.

 

Lúcifer, com um sorriso forçado, declara: 

— Muito bem, Sonho... o capacete é seu.

Os gritos dos demônios ecoam pela arena, alguns em fúria, outros em descrença. Choronzon, derrotado, cai de joelhos, ofegante.

Lúcifer caminha até Morpheus, os olhos semicerrados, mas um sorriso elegante no rosto.

Ele segura o capacete nas mãos, reluzindo com um brilho sombrio.

— Muito bem, Sonho... uma vitória é uma vitória.

Como prometido, o capacete é seu.

 

Na arena, o ar ainda está carregado com a tensão do duelo recém-terminado.

Lúcifer, com seu sorriso característico, cruza os braços e encara Morpheus, que ainda o está  olhando com os olhos fulminantes ainda.

Lúcifer: “ Não se preocupe tanto, Sonho. Vou trazer a garota de volta, como prometido. ”

Ele acena com a mão em direção a Choronzon, que se levanta rapidamente, ainda ofegante da derrota.

“ Vá buscá-la, Choronzon. E não me faça esperar.”

 

Choronzon assente com um grunhido subserviente e se afasta, desaparecendo por uma das portas escuras da arena.

 


 

Enquanto isso, Mazikeen e Briely, que continuam na sala fria e mal iluminada, embora agora  conversando sobre assuntos banais.

Mazikeen, com um tom levemente condescendente, mas curioso, inclina a cabeça enquanto observa Briely.

“Então, você já viu algum demônio de verdade antes de hoje? Ou só ouviu histórias assustadoras sobre nós ?“

Briely, um pouco desconfortável, mas mantendo a compostura.

— Eu... já vi coisas estranhas. Mas demônios como vocês? É a primeira vez.

 

Mazikeen ri baixo, claramente achando graça na ingenuidade da garota, tratando-a como uma criança.

“Você é divertida, sabe?. Dá quase vontade de te colocar no colo e contar histórias de ninar infernais.”

 

Briely franze a testa, claramente não gostando da ideia, mas antes que possa responder, um som pesado ecoa do lado de fora.

Choronzon bate na porta com força, sua voz rouca ressoando através da madeira grossa.

 “Garota, hora de ir. Ordem de Lúcifer.”

 

Mazikeen se levanta, esticando os braços com uma expressão de leve tédio, mas um sorriso genuíno no rosto.

“Bem, foi um prazer conhecê-la, pequena. Cuide-se aí fora. “

 

Briely assente, um pouco surpresa pela despedida amigável, e responde com um tom firme, mas educado.

— Foi... interessante. Adeus.

 

Choronzon entra, seu rosto marcado por impaciência, e agarra o braço de Briely com uma força desnecessária.

Ele a puxa para fora da sala, ignorando os protestos dela enquanto a guia por um corredor escuro e úmido.

 

Briely, tenta se soltar, e fala com raiva.

“Me solta! Eu sei andar sozinha, seu idiota!”

 

Choronzon para no meio do corredor, virando-se para ela com um olhar irritado.

Ele aperta ainda mais o braço dela, sua voz um rosnado baixo.

“Fique quieta, humana, e pare de se contorcer. Não tenho paciência pra seus chiliques.’’

 

Briely o encara com um olhar fulminante, os olhos verdes  dela brillhando de fúria.

Me solta agora seu idiota, ou você vai se arrepender!’’

 

Choronzon ri, um som áspero e desdenhoso, claramente subestimando-a. Ele não a solta, e isso é o bastante para acender a raiva dentro dela.

Briely cerra os dentes, seus poderes despertando.

Uma onda de água surge atrás dela, como se evocada do próprio ar, crescendo rapidamente e inundando o corredor.

Choronzon a solta de repente, seus olhos arregalados enquanto encara a onda crescente.

Antes que possa reagir, a água o atinge com força total, arrastando-o pelo corredor enquanto ele tenta se segurar nas paredes de pedra,  mais sem sucesso.

 

De volta à arena, Morpheus e Lúcifer estão de pé, o capacete reluzindo na mão de Morpheus.

Ambos ouvem um rangido estranho vindo da grande porta por onde Choronzon entrou.

Lúcifer franze a testa, inclinando a cabeça com curiosidade.

 

Lúcifer, murmurando para si mesmo.

"O que está acontecendo agora?”

 

O rangido da porta se intensifica, como se algo estivesse pressionando com uma força descomunal do outro lado.

O barulho cresce até que, de repente, a porta se rompe com um estrondo ensurdecedor.

Uma torrente de água irrompe, inundando a arena como uma onda furiosa.

Morpheus arregala os olhos por um breve momento.

mas um sorriso sutil curva seus lábios ao perceber a origem do caos.

Matthew, ao lado dele, fica boquiaberto, suas asas batendo em choque.

 

Matthew, murmura:

“o que é isso?! É um dilúvio ou o quê?”

 

Choronzon é arrastado pela corrente, caindo desajeitadamente no centro da arena.

tossindo e cuspindo água enquanto tenta se levantar, meio atordoado.

Demônios ao redor riem ou murmuram em confusão.

Então, passos rápidos ecoam do corredor escuro, e Briely aparece na entrada, com cabelo e vestido molhado  seus cabelos grudado no rosto.

 

Morpheus se move rapidamente até ela, seus olhos examinando-a por qualquer sinal de ferimento.

Ele a abraça com força, uma mão segurando suavemente seu rosto enquanto a outra a mantém perto de si.

“ Você está bem? Fizeram algo a você?”

 

Briely, ofegante, mas aliviada ao vê-lo, sorri levemente. 

“Estou bem. Só... meio molhada.“

 

Morpheus solta uma risada quase inaudível, o alívio visível em seu rosto.

Ele se abaixa e deposita um beijo gentil em sua testa, apertando-a mais contra si por um momento. Briely protesta com um murmúrio.

“ Você tá me apertando demais, Morpheus.”

 

Ele a segura por mais um instante, como se precisasse confirmar que ela está realmente ali, antes de soltá-la com relutância, mantendo uma mão em seu ombro.

“Desculpe. Só precisava ter certeza.“

 

Lúcifer, observando a cena com um sorriso torto, intervém com sua voz melíflua, olhando para o chão encharcado e a porta destruída.

  “ Bem, devo dizer, garota, você fez uma bela bagunça aqui. ” 

Ele cruza os braços, os olhos brilhando com uma mistura de diversão e curiosidade.

Isso só confirma o que suspeitei. Você é mesmo filha de Poseidon, não é?”

 

Briely o encara por um momento, mas não responde, mantendo a postura firme. Morpheus, no entanto, dá um passo à frente, posicionando-se sutilmente entre ela e Lúcifer.

— Já temos o capacete. Está na hora de irmos, Briely.

 

Antes que eles se afastem, Lúcifer ergue a mão, um último comentário saindo de seus lábios com um tom de advertência pra ela

Cuide-se, garota.”

 

Morpheus lança um último olhar cortante para Lúcifer, antes de guiar Briely para fora da arena.

Matthew voando logo atrás, ainda murmurando sobre o "dilúvio" que acabou de presenciar.

 


 

As portas do Inferno se fecham com um estrondo atrás deles, selando as chamas e os gritos demoníacos do outro lado.

O ar frio do limiar entre mundos envolve Briely, fazendo-a estremecer.

Seu vestido verde, ensopado, gruda em sua pele, e seus cabelos molhados pingam enquanto ela cruza os braços para se aquecer.

Morpheus nota imediatamente, seus olhos escuros carregados de preocupação.

 

Briely, com um leve tremor na voz o vê olhando pra ela e responde:

"Estou bem, só com  um pouco de frio. Mais Posso me secar com meus poderes, não é nada."

 

Morpheus, a interrompe  com um tom gentil, mas firme, 

"Não precisa. Vamos para o Sonhar. Lá você poderá se arrumar adequadamente."

 

Ele estende a mão pra ela, e com um movimento suave, o ar ao redor deles ondula.

Em um piscar de olhos, estão no Sonhar, Morpheus se vira para Matthew, que paira ao lado deles, ainda agitado com tudo o que aconteceu.

 

"Matthew, vá falar com Lucienne. Informe-a da nossa chegada."

 

Matthew, com um olhar astuto, percebe que é uma desculpa para ficar sozinho com a senhorita Briely.

Ele assente com um leve grasnado, batendo as asas. 

"Claro, chefe. Vou indo."  

Ele lança um último olhar para Briely antes de voar para longe.

 

Morpheus guia Briely por um corredor  até um quarto aconchegante,  Ele aponta para um Vestido preto

disposto sobre a cama, elegante e extravagante, mas com um toque sombrio que reflete seu estilo pessoal

"Troque-se. Estarei te esperando do lado de fora."

Briely assente enquanto ele sai, fechando a porta suavemente atrás de si.

Ela começa a tirar o vestido verde molhado, sentindo o tecido pesado deslizar por sua pele.

Ao pegar o vestido preto, nota que é um modelo de festa, como os que princesas usariam em contos antigos, com camadas de tecido e um decote delicado.

Ela sorri para si mesma, pensando que todas as roupas que Morpheus  veste são pretas.

"Ele definitivamente tem uma preferência por essa cor".

murmura, rindo baixinho.

Apesar de sentir falta de calças e blusas casuais, decide não reclamar.

afinal, no momento, não tem nem dinheiro para comprar suas próprias roupas.

Ela veste o traje, ajustando-o ao corpo, e ajeita os cabelos ainda úmidos antes de sair do quarto.

 

Do lado de fora, Morpheus a observa assim que a porta se abre.

Seus olhos percorrem o vestido, e um leve sorriso toca seus lábios enquanto ele fala, com um tom que carrega um flerte sutil. 

"O vestido ficou muito bonito em você. A cor combina perfeitamente."

 

Briely, sem perceber a intenção por trás das palavras, sorri de volta, sua expressão iluminando. 

"Obrigada! Fico feliz que ache isso."

 

Morpheus sente algo quente crescer dentro dele, seu coração aquecendo-se com aquele sorriso inocente.

Ele se aproxima, passando a mão gentilmente pelos cabelos dela, ainda um pouco molhados, ajeitando uma mecha com cuidado.

Depois, oferece o braço.

Briely o entrelaça com o dela, e os dois começam a caminhar juntos pelos corredores do Sonhar.

enquanto andam juntos, morpheus pergunta com curiosidade:  

"O que aquele demônio fez para você ter que usar os seus poderes?"

 

Briely, franzindo a testa ao lembrar, responde:

"Quando ele me levou da sala onde eu estava com a  Mazikeen, ele segurou meu braço com muita força.

Isso me machucou, e eu fiquei com raiva.

Então, acabei usando meus poderes nele."

 

No momento em que ela menciona que o demônio machucou seu braço, Morpheus para de andar abruptamente.

Briely o encarou, confusa.

"O que foi? Por que parou?"

 

Ele segura o outro braço dela com delicadeza, e Briely estremece levemente com o toque inesperado. 

"Não se preocupe, Morpheus. Estou bem, sério. Vai passar logo."

 

Morpheus, com um tom que não admite discussão.

"Não. Eu quero ver."

 

Briely tentou protestar.

"Não precisa, de verdade..."

Mas ele a ignora, puxando o tecido da manga do vestido com cuidado.

Seus olhos escurecem ao verem a mancha roxa em sua pele, uma marca clara da brutalidade de Choronzon.

A fúria surge em seu rosto, e sua voz sai baixa, carregada de ameaça.

"Eu vou matá-lo."

 

Briely, sentindo um arrepio subir por sua espinha ao ouvir a palavra 'matar', responde rapidamente, com um toque de medo na voz,,

"Não, você não precisa fazer isso! Eu não sinto dor, e não quero que você mate ninguém por minha causa.

Eu já cuidei dele, lembra? O demônio teve o pior mergulho da vida dele."  

Ela ri, tentando aliviar o clima.

mas Morpheus não acha graça alguma.

 

Briely, continua insistindo.

"Sério, eu posso me curar na água. Mais tarde eu faço isso, se você está tão preocupado."

 

Morpheus, discorda.

"Não precisa."  

Ele toca o braço dela, passando a mão suavemente sobre a marca. Briely sente um formigamento, e ao olhar, percebe que a mancha desapareceu, curada por seu poder.

Ele continua com a mão ali, acariciando a pele dela com um toque que parece mais demorado do que necessário.

 

Briely, um pouco desconfortável, tenta puxar o braço de volta.

"Estou bem agora, pode parar."

 

Mas Morpheus segura o braço dela com delicadeza, levando-o aos lábios e depositando um beijo suave na pele.

Briely cora imediatamente, suas bochechas tingidas de vermelho, e solta uma risada nervosa.

"Ei, não sou uma criança para você ficar beijando meus machucados!"

 

Morpheus a encara, um sorriso misterioso curvando seus lábios enquanto responde com um tom baixo e enigmático. 

"Eu sei que você não é uma criança."

 

Briely, sentindo um estranho desconforto com o olhar dele, uma sensação que não consegue definir.

ela cruza os braços e muda de assunto rapidamente.

"Então... o que vem agora?"

 

Morpheus coloca a mão em seu ombro, e responde:

"Vamos ao Mundo Desperto em breve para recuperar o rubi."

 

Briely assente, e os dois continuam caminhando.

Ele retoma a conversa, curioso sobre o que aconteceu com ela enquanto estava ela estava separada dele no Inferno.  

"Sobre Mazikeen... o que vocês conversaram?"

 

Briely, encolhendo os ombros.

"No começo, eu a ameacei com minha espada."  

Morpheus ergue uma sobrancelha ao ouvir isso, seus olhos descendo para o anel em sua mão, sabendo que ele se transforma na espada dela.

"Mas depois nos sentamos e conversamos. Ela parecia só curiosa sobre mim, nada de mais."

 

Morpheus perguntou:

"Curiosa sobre o quê, exatamente?"

 

Briely, fazendo uma careta emburrada:

" Sobre eu ser filha do Poseidon, Ela também não acreditou que eu tenho dezesseis anos.

Ficou me tratando como uma criança o tempo todo. Foi  um pouco irritante."

 

Morpheus, com um tom sério,disse pra ela :

"É melhor que pensem assim. Se alguém descobrir que você é de outro universo, as coisas podem se complicar.

Além disso, aos olhos de todos aqui, seria melhor você dizer que tem apenas três meses , o tempo que você  está neste universo,  e que já nasceu completamente adulta.

Isso evitará perguntas desnecessárias."

 

Briely assente, embora um pouco a contragosto, o que Morpheus percebe em sua expressão.

"Tudo bem, eu entendo."

 

Eles finalmente chegam a uma sala ampla, onde Lucienne os espera junto a Matthew. Lucienne ajusta os óculos, seus olhos astutos notando imediatamente a mão de Morpheus no ombro de Briely e o vestido preto que ela usa, tão semelhante ao estilo dele.

Preto sempre foi a cor do chefe, e Lucienne sabe que havia outros vestidos de diferentes tons disponíveis.

A escolha deliberada de Morpheus não passa despercebida por ela; é um sinal, uma reivindicação sutil.

Um peso aperta seu peito ao perceber que a senhorita Briely nem mesmo parece notar o significado disso.

Lucienne, que conhece Morpheus há tempo suficiente, sabe que ele nunca é tão carinhoso com ninguém, exceto com amantes e, dessa vez.

ele parece mais apaixonado do que nunca.

 

Lucienne, forçando um sorriso profissional, "Fico feliz que tenham voltado inteiros. Matthew me contou o que aconteceu no Inferno."

 

Morpheus assente, retirando a mão do ombro de Briely, mas mantendo-se perto dela.

"Sim. Agora vamos ao Mundo Desperto para recuperar o rubi."

 

Lucienne e Matthew trocam um olhar rápido, enquanto Morpheus foca seu olhar  em Briely.

 


 

 

A transição para o mundo desperto foi abrupta, como atravessar uma cortina de água fria.

Eles emergiram em um espaço sombrio, um ambiente claustrofóbico iluminado apenas por luzes tremeluzentes de lâmpadas antigas.

Antes de Morpheus dar um passo em direção ao restaurante, ele parou e olhou para Briely, o rosto carregado de preocupação.

O rubi era perigoso, e ele não queria colocá-la em risco novamente.

“Briely, seria melhor você ficar aqui fora ” disse ele, a voz firme, mas com um tom de relutância.

“Não quero você perto disso.”

 

Ela o encarou, notando a hesitação em seus olhos, e respondeu com um leve sorriso.

“ Não se preocupe comigo, Morpheus. Vou ficar bem.”

 

Ele se aproximou, segurando seus ombros com delicadeza, os olhos fixos nos dela.

“Se qualquer coisa acontecer, eu verei através dos olhos de Mathew. Apenas me chame, e eu a encontrarei.”

 

Briely assentiu, sentindo o peso da preocupação dele. Morpheus se inclinou e deu um beijo em sua testa.

demorando-se mais do que o necessário, como se quisesse gravar aquele momento.

Depois, virou-se para Mathew, que os acompanhava. 

“Cuide dela, Mathew. Eu volto logo.”

 

Mathew ergueu as asas, respondendo com confiança.

“ Claro, chefe. Deixa comigo. A senhorita vai ficar segura.”

 

Com um último olhar para Briely, Morpheus desapareceu na direção do restaurante, deixando os dois sozinhos na rua escura.

Briely começou a andar, os passos leves, enquanto Mathew a seguia, suas garras clicando no chão. Ele logo falou, a voz rouca e preocupada.

“Não devíamos nos afastar muito daqui, senhorita.”

 

Ela deu de ombros, um sorriso travesso nos lábios. 

“Bobagem, Mathew. Só vou andar  um pouquinho mais longe.”

 

Ele a seguiu, relutante, enquanto cruzavam para o outro lado do restaurante.

Briely parou, olhando para os lados da rua, os olhos curiosos.

Mathew voou até seu ombro e pousou, inclinando a cabeça. 

 “O mestre se importa muito com você, sabia? Ele não gostaria que você se machucasse.”

 

“Não vai acontecer nada”

retrucou ela, revirando os olhos. 

“Vocês dois se preocupam demais.”

 

Mathew pensou para si mesmo, as asas tremendo levemente.

Se algo acontecer com ela sob minha supervisão, o mestre vai me depenar vivo.”

 

Briely se sentou em um banco próximo, os olhos vagando pelos prédios altos e pelas estrelas no céu.

Uma tristeza a envolveu enquanto pensava em casa, na mãe, Sally, e no irmão, Percy.

Eles adorariam conhecer um lugar como aquele, com toda a sua estranheza e caos.

Mathew pulou de seu ombro para o banco ao seu lado, notando a mudança em seu humor. 

“As estrelas são bonitas, não são?  perguntou ela.”

 

“Sim, são, senhorita” respondeu Mathew, inclinando a cabeça para o céu.

Depois de um momento.

ele arriscou uma pergunta

“Você gosta do chefe, tipo... de um jeito romântico?“

 

Briely franziu a testa, claramente frustrada. 

“Somos só amigos, Mathew. Por que todo mundo insiste nisso? Você não é o primeiro a perguntar.”

 

Ele inclinou a cabeça, curioso.

“ Quem mais perguntou?”

 

“Joana, a mazikeen também"

respondeu ela, cruzando os braços.

" Ela também quis saber que tipo de relacionamento eu tenho com Morpheus."

 

Mathew pensou, com um leve brilho nos olhos :

Bem, talvez porque todos percebam que ele gosta de você, e só você que ainda não percebeu.”     

 Mas decidiu ficar calado. Isso não era assunto dele. O chefe que resolvesse isso.

 

“O chefe é bastante carinhoso com você ”

comentou Mathew, tentando manter o tom neutro.

"Talvez por isso as pessoas confundam."

 

Sim, ele é carinhoso comigo ”

admitiu ela, pensativa.

“ E bem protetor, também as vezes.”

Então, mudou de assunto, apontando para o céu.

“Olha, aquela é a constelação de Órion. E ali, Cassiopeia. Você sabia que...”

 

Mathew ouvia, claramente impressionado com o conhecimento dela, enquanto ela continuava a explicar sobre as estrelas.

Algumas pessoas passavam pela rua, lançando olhares estranhos para Briely, que usava um vestido preto longo, elegante como o de uma rainha ou princesa, completamente fora de contexto naquele ambiente.

Outros pareciam intrigados por ela estar falando com um corvo.

Mathew notou e comentou, a voz seca.

  “Acho que estão olhando estranho por causa de mim...”

 

Briely riu, os olhos brilhando.

“ Talvez seja o vestido. Ou talvez seja eu falando com você. Que seja.”

 


                                 

 

                     

 

Morpheus entrou na lanchonete, no centro do espaço estava John Dee, segurando o rubi com mãos trêmulas, a joia pulsando com uma luz rubra e ameaçadora, como se estivesse viva.

 

John Dee ergueu os olhos, reconhecendo a presença de Morpheus.

Um sorriso estranho, quase infantil, curvou seus lábios.

“Olá. Eu sou John. Que bom que você está aqui. Acabou a energia. Então não há TV... e não há ninguém com quem conversar.”

"O que você acha que está fazendo?"

 

Morpheus avançou com passos deliberados, sua voz cortante como o frio de uma noite sem fim. 

 

John inclinou a cabeça, os olhos brilhando com uma mistura de desafio e desespero.

  “Você é o Sandman, não é? Minha mãe me avisou que você viria atrás dele. Quer o rubi de volta para continuar espalhando suas mentiras.“

 

O rubi não foi feito pra isso"

retrucou Morpheus, a voz firme, sem um traço de hesitação.

"Ele está machucando você, John. E machucando este mundo."

 

John apontou para o rubi, suas mãos tremendo enquanto segurava a joia como se fosse sua própria vida. 

“Ele está me mostrando a verdade. Essa é a verdade da humanidade.“

 

Morpheus estendeu a mão, os dedos pairando sobre o rubi, que brilhou intensamente como se reconhecesse seu verdadeiro mestre.

“O rubi contém muito do meu poder. Ele está te machucando, John. Se continuar com isso, só vai aumentar sua dor.“

 

John riu, um som rouco e amargo, os olhos arregalados com uma loucura contida. 

“Você acha que eu sou o problema? Meu pai pegou o rubi de você. No momento em que ele fez isso, seu reinado acabou.

Tudo o que era seu passou a ser meu.

Meu poder. Minha vida. Como se sente sabendo que tenho sua vida nas minhas mãos?”

 

Morpheus o encarou, sua voz grave, cada palavra pesando como uma sentença. 

“Você está machucando os sonhadores deste mundo. Mas ainda não é tarde pra se salvar.”

 

John Dee apertou o rubi com mais força, sua expressão se contorcendo em um misto de raiva e triunfo.

“Se o rubi contém seu poder, então destruí-lo vai destruí-lo também. ”

Com um grito de desespero, ele esmagou a jóia nas suas mãos.

A pedra explodiu em fragmentos de luz carmesim, liberando uma onda de energia que sacudiu o Sonhar.

John caiu de joelhos, exausto, um sorriso maníaco no rosto enquanto encarava Morpheus. 

“Eu destruí você...”

 

Morpheus permaneceu de pé, impassível, enquanto a luz dos fragmentos do rubi parecia ser absorvida por ele, sua forma tornando-se ainda mais imponente. 

Não, John. Você destruiu o rubi. E, ao fazer isso, liberou o poder que estava preso nele de volta pra mim.

Algo que eu nunca teria considerado.

Mas o rubi dos sonhos nunca foi feito pra mortais.

Não é culpa sua. Durma bem, John.”

 


 

 

Morpheus emergiu na rua do restaurante, o peso do confronto com John Dee ainda pairando em seus ombros, mas com uma nova força pulsando dentro dele após ter absorvido o poder do rubi.

Ele voltou ao local onde havia deixado Briely e Mathew, mas ao chegar, franziu a testa ao não encontrá-los no ponto exato.

Seus olhos se estreitaram por um momento, uma sombra de preocupação cruzando seu rosto.

Então, ele fechou os olhos brevemente, conectando-se à visão de Mathew.

 

Em instantes, ele os localizou.

Caminhou com passos firmes e silenciosos até o banco onde Briely estava sentada, ainda olhando para as estrelas, com Mathew ao seu lado.

O corvo notou a aproximação de Morpheus primeiro, suas asas se agitando levemente enquanto inclinava a cabeça em reconhecimento.

Briely virou-se para ele, os olhos brilhando com curiosidade e uma pitada de alívio.

"Conseguiu?"

perguntou ela, a voz, carregada  expectativa.

 

Morpheus assentiu, um leve sorriso curvando seus lábios enquanto se sentava ao lado dela no banco. 

“Sim. Absorvi o poder do rubi. Está de volta onde pertence.”

 

Briely devolveu o sorriso, um calor sutil em sua expressão.

Morpheus prosseguiu, sua voz calma, mas carregada de determinação.

“Devemos voltar ao Sonhar. ”

Ele estendeu a mão para ela, um gesto gentil, mas firme. Briely a pegou, levantando-se com ele.

Mathew, que os observava, começou a andar atrás deles, suas garras clicando no chão.

 

Enquanto caminhavam, Morpheus continuou, o tom reflexivo.

“Agora que recuperei todas as minhas ferramentas, posso reconstruir o Sonhar.”

 

Mathew, voando brevemente para pousar em um poste próximo antes de voltar a andar, perguntou com sua voz rouca:

“Todo o dano que o rubi causou... você pode desfazer?”

 

Morpheus desviou o olhar para 

“O rubi não fez isso. John apenas o usou para revelar feridas que estavam escondidas, mas nunca cicatrizaram.

Amanhã, a reconstrução começará.

Neste reino e no meu. Mas pelo menos esta noite… a humanidade dormirá em paz.”

 

Briely olhou para Morpheus, seus olhos buscando os dele enquanto caminhavam.  "Então… está tudo bem agora?”

 

Ele a encarou por um momento, a expressão dele suavizando-se 

“Sim” respondeu, apertando a mão dela um pouco mais.

um gesto quase inconsciente, mas cheio de significado.

Briely sorriu, o calor de sua presença mesclando-se à tranquilidade que Morpheus parecia emanar naquele momento.

 

 

 

 

 

 

 

 

De longe, oculto nas sombras de um beco próximo.

Desejo observava a cena com um sorriso astuto nos lábios, os olhos dourados brilhando com uma mistura de curiosidade e malícia.

 

“Então os rumores são verdadeiros, meu querido irmão ”

murmurou Desejo para si mesmo, a voz doce como mel, mas com um veneno sutil por trás.

Seus olhos se fixaram nas mãos entrelaçadas de Morpheus e Briely enquanto caminhavam.

a jovem semideusa que parece ser o assunto do momento entre os deuses, demônios e além.

Desejo inclinou a cabeça levemente, o sorriso se alargando de forma quase conspiratória.

“Os rumores sobre os dois podem, sim, ser verdadeiros… Interessante.”

 

Ele cruzou os braços, o olhar acompanhando o trio enquanto se afastavam.

 


 

 

 

O ar do Sonhar parecia vivo, vibrando com uma energia renovada enquanto Morpheus trabalhava incansavelmente na reconstrução de seu reino.

A cada movimento de suas mãos, ele restaurava salões grandiosos, corredores sinuosos e torres  se erguiam.

Briely o observava de perto durante o dia, seus olhos seguindo cada gesto.

O poder que ele exalava era palpável, uma mistura de autoridade e delicadeza que parecia moldar o mundo ao seu redor com uma precisão quase poética.

 

 “Isso é... inacreditável’', murmurou ela, quase para si mesma, enquanto via um vitral se formando no ar.

Morpheus virou a cabeça de leve, um quase sorriso em seus lábios.

“Ainda há muito a fazer. Mas o essencial está quase pronto”.

 

Quando o sol começou a se pôr no horizonte do Sonhar,  um espetáculo de tons dourados e violeta, Morpheus completou a maior parte da restauração.

Ele se voltou para Briely, seu olhar firme, mas gentil.

“ Venha. Tenho algo para te mostrar.“

 

Ele a conduziu por um corredor recém-reconstruído, iluminado por velas flutuantes que projetavam sombras suaves nas paredes.

Pararam diante de uma porta de madeira entalhada com símbolos etéreos. Morpheus a abriu com um leve gesto, revelando um quarto deslumbrante.

O espaço era amplo e acolhedor, com uma cama enorme no centro, coberta por lençóis de seda preta e cortinas translúcidas.

Uma penteadeira de madeira escura, ricamente trabalhada, estava posicionada perto de uma janela que mostrava um céu estrelado.

Um banheiro adjacente, visível por uma porta entreaberta, exibia uma banheira imensa, esculpida em mármore negro, com detalhes dourados.

 

Reconstruí este espaço especialmente para você

disse Morpheus.

 

Ela deu um passo à frente, os olhos arregalados. 

“É... lindo. Muito lindo. Obrigada, Morpheus.”

 

Ele apenas assentiu, observando-a enquanto ela explorava o ambiente.

Então, ele a conduziu até um closet amplo, escondido atrás de uma parede que deslizou silenciosamente ao seu comando.

Dentro, fileiras de vestidos pendiam em suportes de madeira e metal, nas mais diversas cores: brancos,verdes,azuis,pretos, vermelhos e rosas.

 

— Preparei estas roupas para você  disse ele.

enquanto ela passava a mão pelos tecidos, parando em um vestido azul de tecido leve e sedoso.

 

— São tão bonitos...  murmurou ela, sentindo a textura fina sob os dedos.

— Este azul é incrível.

 

Fico feliz que tenha gostado. Eu mesmo os escolhi”.

 respondeu Morpheus, um leve brilho de satisfação em seu tom. Ele cruzou os braços, encostando-se ao batente da porta do closet.

“Você quer descansar um pouco?”

 

Briely virou-se para ele, um sorriso tímido em seus lábios.

  “Sim, acho que seria bom.”

 

“Vou pedir a Lucienne para trazer algo para você comer. Tem alguma preferência?” 

perguntou ele, sua voz mantendo aquele tom calmo e controlado.

 

“Não, qualquer coisa está bem”

respondeu ela, ainda olhando ao redor, absorvendo cada detalhe do quarto.

 

“Então passarei para te ver mais tarde” 

disse Morpheus, inclinando a cabeça em uma despedida sutil antes de se virar e deixar o quarto com passos silenciosos.

 

Assim que ele saiu, Briely soltou um suspiro suave, ainda maravilhada.

Ela voltou ao closet, pegando um vestido leve e fino, de um tecido quase translúcido, que parecia perfeito para dormir.

Enquanto o segurava, pensou que, se ele não se incomodasse, talvez pedisse calças e blusas no futuro.

Por enquanto, porém, isso seria o suficiente. Com o vestido nas mãos, ela seguiu para o banheiro.

 

A banheira já estava cheia, como se o próprio Sonhar tivesse antecipado sua necessidade.

A água estava quente, com um aroma sutil de lavanda pairando no ar. Briely se despiu e mergulhou, sentindo a tensão do dia derreter enquanto relaxava contra o mármore.

Depois de um longo banho, ela se enrolou em uma toalha macia, vestiu o vestido leve e voltou ao quarto.

Sentando-se na penteadeira, começou a trançar o cabelo úmido, seus dedos movendo-se com calma enquanto olhava seu reflexo no espelho.

 

 

 

Enquanto isso, Morpheus encontrou Lucienne em um dos corredores do palácio.

onde ela organizava alguns tomos antigos em uma estante restaurada.

Seus óculos reluziam sob a luz fraca enquanto ela erguia o olhar para ele.

 

“Lucienne, Preciso que leve algo para Briely comer”  instruiu Morpheus, sua voz firme, mas com um toque de suavidade que não passava despercebido.

 

“Claro, meu senhor. Em que quarto ela está?” perguntou Lucienne, ajustando os óculos enquanto o encarava com uma curiosidade contida.

 

Morpheus permitiu que um leve sorriso curvasse seus lábios, algo quase enigmático.

Ela está no quarto da rainha.”

 

Lucienne hesitou por um breve segundo, suas sobrancelhas se franzindo. 

“Meu senhor, você não... Ela sabe?”

 

“ Não, ela não sabe ”

respondeu Morpheus, o tom baixo, quase conspiratório. 

“E espero que continue assim por enquanto.”

 

Lucienne assentiu, embora um leve aperto se formasse em seu peito.

Ela conhecia as implicações daquele espaço, o peso  emocional que ele carregava.

Sem dizer mais nada, ela inclinou a cabeça em respeito.

“Vou preparar algo para ela.”

 

Ela seguiu para a cozinha, pegando uma bandeja com uma tigela de sopa cremosa, pão recém-assado e uma jarra de água com infusão de ervas.

Carregando tudo com cuidado, ela caminhou até os aposentos da rainha e bateu suavemente na porta.

 

“Entre” respondeu a voz de Briely.

 

Lucienne abriu a porta, encontrando Briely terminando de trançar o cabelo na penteadeira. Ela depositou a bandeja sobre uma mesa pequena perto da cama.

“Trouxe algo para você comer minha senhora.”

 

Briely virou-se, sorrindo. 

“Muito obrigada, Lucienne.”

 

Lucienne retribuiu o sorriso, embora houvesse um peso em seu olhar.

“Como você está?”

 

“Estou bem, de verdade”

respondeu Briely, ajustando a última mecha de cabelo antes de se levantar.

 

“Vou deixá-la comer em paz então”.

“Se precisar de algo, pode chamar a mim ou ao mestre. Estaremos aqui para ajudar”

 disse Lucienne, inclinando-se levemente antes de se retirar.

 

Briely agradeceu novamente e se aproximou da mesa, sentando-se para comer.

A sopa estava quente, reconfortante.

Depois de terminar, ela se levantou, Então, deitou-se na cama, os lençóis pretos a envolvendo como um abraço suave.

Em poucos minutos, o cansaço a venceu, e ela adormeceu profundamente, seu rosto relaxado contra o travesseiro.

 

 

Morpheus, que ainda estava trabalhando na reconstrução de uma das torres externas, sentiu o momento em que o sono a tomou.

Uma conexão invisível, como um fio de sonho, pulsou dentro dele. Ele parou o que estava fazendo, suas mãos baixando.

enquanto uma expressão indecifrável cruzava seu rosto.

Silenciosamente, ele caminhou de volta ao palácio, seus passos ecoando apenas para si mesmo no vazio do Sonhar.

 

Chegando ao quarto de Briely, ele abriu a porta sem fazer som, entrando com a leveza de uma sombra.

A luz fraca das estrelas do Sonhar filtrava-se pela janela, iluminando o rosto dela enquanto dormia.

Morpheus se aproximou da cama, sentando-se na beira com cuidado para não perturbá-la.

Seus olhos, profundos e insondáveis, observaram cada traço dela.

Com um gesto quase inconsciente, ele estendeu a mão e afastou uma mecha de cabelo que caía sobre o rosto dela, seus dedos pairando por um momento antes de recuarem.

 

Ele ficou ali por um tempo, apenas observando o ritmo calmo de sua respiração, o silêncio do quarto preenchido apenas pelo som distante dos sonhos que fluíam pelo reino.

Então, com a mesma discrição com que entrou, ele se levantou, lançando um último olhar para ela antes de sair.

Havia deveres a cumprir, e o Sonhar ainda precisava de sua atenção.

Mas, por aquele breve instante, algo em seu olhar sugeria que o peso de suas responsabilidades não era a única coisa que ocupava sua mente.

 

A porta se fechou atrás dele, tão silenciosamente quanto se abriu, deixando Briely descansar em paz.

 


 

 

Briely acordou lentamente, os resquícios de um sonho agradável ainda dançando em sua mente.

Ela havia sonhado com os lagos de canoagem do Acampamento Meio-Sangue, o sol refletindo na água calma enquanto remava ao lado de amigos que não via há tanto tempo.

Um sorriso leve curvava seus lábios enquanto sentia alguém balançando seu ombro gentilmente.

Seus olhos se entreabriram, pesados de sono, e ela encontrou Morpheus ao seu lado, sua figura imponente suavizada pela luz matinal que filtrava pelo Sonhar.

 

“Acorde, querida”,  murmurou ele, a voz baixa e profunda, enquanto se inclinava mais perto, sussurrando diretamente em seu ouvido.

O hálito dele roçou sua pele, e Briely sentiu um arrepio  identificar.

Morpheus, por sua vez, percebeu o leve cheiro dela, algo doce e natural.

que fez seus olhos escurecerem um pouco mais, um desejo reprimido brilhando neles.

 

Ela tentou manter os olhos abertos, mas o sono a puxou de volta, suas pálpebras se fechando novamente.

Morpheus soltou uma risada baixa, quase inaudível, achando graça na forma como ela lutava contra o cansaço.

Ele se inclinou ainda mais, segurando o rosto dela com uma mão, os dedos longos e frios traçando delicadamente sua bochecha.

O toque  era gentil, mas carregado de algo mais profundo.

 

Briely abriu os olhos novamente, desta vez com um pouco mais de clareza, e ele soltou o rosto dela, recuando apenas o suficiente para manter a compostura.

Ela se sentou na cama, coçando os olhos e bocejando, os cabelos desgrenhados caindo sobre os ombros.

 

“Eu preferia deixá-la dormir mais” ,  começou Morpheus, sua voz mantendo aquele tom controlado, 

“Mas já é bem tarde. A manhã passou, e não quero que durma tanto assim.”

 

Ela assentiu, ainda grogue, murmurando um “tá bem” quase inaudível.

Ele continuou, apontando para o banheiro com um gesto sutil da cabeça. 

“Já preparei um banho para você.”

 

“Obrigada” disse ela, levantando-se com um pouco de sono ainda pesando em seus movimentos.

Cambaleou até o closet, pegando um vestido Vestido azul claro  que encontrou entre as opções. 

Morpheus a observava de onde estava, sentado na beira da cama. Seus olhos acompanhavam cada movimento dela, fixando-se no vestido que ela usava no momento,  fino e quase translúcido.

A luz do quarto parecia atravessar o tecido, delineando as curvas de seu corpo de uma forma que ele não conseguia ignorar.

Interiormente, ele pensou que deveria adicionar robes pretos ao armário dela, talvez mais vestidos escuros que combinassem com ele...  com seus próprios desejos.

 

Briely, alheia aos olhares intensos que a seguiam, entrou no banheiro com o vestido azul claro nas mãos, ansiosa para se recompor.

O banho já estava pronto, a água quente exalando um aroma floral sutil.

Ela se despiu rapidamente, mergulhando na banheira e deixando a água levar embora os últimos vestígios de sono.

Não queria deixá-lo esperando por muito tempo. Após o banho, vestiu o vestido e saiu.

 

“Estou quase pronta” disse ela ao vê-lo ainda lá, sentado na cama. Sentou-se na penteadeira e começou a desfazer a trança que ela fez  na noite anterior, os dedos dela  trabalhando nos cabelos úmidos.

 

Morpheus se levantou, aproximando-se dela com passos silenciosos.

Antes que ela pudesse continuar, ele pegou a trança de suas mãos, começando a desfazê-la ele mesmo, os dedos movendo-se com  precisão.

 

“Eu posso fazer isso sozinha”  protestou ela, franzindo a testa de leve e virando o rosto para ele, uma careta fofa se formando em seus lábios.

 

 “Quero ajudar ” respondeu ele, o tom firme, mas com um traço de diversão. Seus olhos brilharam ao notar a expressão dela.

achando-a adorável.

 

Briely bufou baixinho, desviando o olhar.

Internamente, ela pensou  que, às vezes, ele devia achá-la uma criança, tratando-a como se não fosse capaz de cuidar de si mesma.

Morpheus, como se sentisse o rumo de seus pensamentos, pegou a escova na penteadeira e começou a alisar os cabelos dela, desfazendo os nós com cuidado.

“Não faça caretas” disse ele, um tom humorado na voz, enquanto a encarava pelo reflexo do espelho.

 

Ela revirou os olhos, mas deixou que ele continuasse.

Quando ele  terminou, os cabelos dela caíam soltos e arrumados sobre os ombros.

Morpheus deu um passo para trás, satisfeito, e ofereceu o braço a ela.

“Vamos. Vou levá-la para comer.”

 

Briely assentiu, aceitando o braço dele enquanto se levantavam.

No caminho para a sala de jantar, ele quebrou o silêncio. 

“Gostou do sonho desta noite?”

 

“Sim, muito”,  respondeu ela, um sorriso nostálgico surgindo.

"Sonhei com os lagos do Acampamento Meio-Sangue. Foi... reconfortante.”

 

De repente, ela parou no corredor, olhando ao redor como se quisesse ter certeza de que estavam sozinhos. Morpheus ergueu uma sobrancelha, curioso.

“O que houve?”

 

“Quero perguntar algo a você”,  disse ela, hesitante, a voz um pouco mais baixa.

 

Uma faísca de expectativa brilhou nos olhos dele, um pensamento interno de satisfação ao imaginar que ela poderia querer algo dele.

“ Diga. O que você deseja?”

 

Briely mordeu o lábio de leve antes de falar.

“Você... conseguiu alguma pista sobre como eu posso voltar para casa? Para o meu universo?”

 

O rosto de Morpheus se fechou instantaneamente, a felicidade que sentira momentos antes foi evaporado como fumaça.

Por dentro, uma sombra se formou, um peso que ele não deixou transparecer.

“Não, ainda não”  respondeu,  com a voz controlada, 

“ainda estou Estou pesquisando.”

 

Ela assentiu, aliviada e grata.

sem perceber a mentira por trás de suas palavras

“Obrigada. Fico feliz em saber que está tentando.”

 

“Se eu encontrar qualquer coisa, comunicarei  a você no instante” , continuou ele, as palavras saindo com uma facilidade que escondia suas verdadeiras intenções.

Ele não estava pesquisando.

E, mesmo que encontrasse algo, jamais a deixaria ir.

Não agora, não depois de tudo o que sentia por ela.

 

Ele a conduziu até a sala de jantar, um espaço vasto com uma mesa longa coberta por uma variedade de alimentos: frutas frescas, pães quentes, carnes assadas e sobremesas.

Morpheus sentou-se em uma ponta da mesa, apontando para a cadeira oposta.

“Sente-se. Sirva-se do que quiser.”

 

Briely obedeceu, pegando um pouco de pão e frutas enquanto fazia perguntas a ele sobre sobre o Sonhar, Morpheus a  respondia com paciência.

Mas, em sua mente, uma única coisa ecoava sem parar: o desejo dela de voltar para seu universo.

Ele havia prometido ajudá-la, sim, mas isso foi antes.

Antes de se apaixonar por ela.

Antes de perceber que não suportaria sua ausência.

 

Seus olhos a observavam enquanto ela comia.

alheia aos pensamentos sombrios que se formavam  na mente dele.

Morpheus sabia que faria o que fosse necessário para mantê-la ali, ao seu lado.

Mesmo que isso significasse tomar medidas drásticas.

Mesmo que isso significasse prender um pedaço do coração dela ao seu coração  para sempre.

 


A sala de jantar estava envolta em um silêncio confortável enquanto Morpheus e Briely comiam, o tilintar ocasional de talheres contra os pratos ecoando suavemente no espaço vasto.

Briely mordiscava uma fruta, os olhos vagando pela decoração etérea do ambiente, enquanto Morpheus a observava de sua ponta da mesa.

os pensamentos ainda girando em torno do desejo dela de voltar ao seu universo.

A tensão interna dele era uma corrente oculta, invisível para ela.

De repente, a porta da sala se abriu, e Lucienne entrou apressada, acompanhada por Mathew, que pousou em um canto da mesa com um bater de asas inquieto.

O rosto de Lucienne estava estampado com preocupação, seus óculos refletindo a luz fraca enquanto ela se aproximava.

Briely ergueu o olhar, curiosa, enquanto Morpheus franziu a testa levemente, já antecipando algo fora do comum.

’’Me desculpem por interromper ”

começou Lucienne, a voz tensa, mas respeitosa. 

“Mas é algo urgente.”

 

Ela se dirigiu a Morpheus, estendendo uma carta selada com um símbolo que lembrava ondas e um tridente entalhado em cera azul.

  “Chegou endereçada pra você mestre e a você...  senhorita Briely.”

Briely, que estava na outra ponta da mesa, inclinou a cabeça, uma expressão de preocupação cruzando seu rosto. 

“Pra mim?De quem  é? ”

perguntou, a voz carregada de inquietação.

Morpheus pegou a carta, seus olhos estreitando-se ao ler o nome escrito na caligrafia elegante e as marcas do selo.

Sua mão apertou o papel com uma raiva contida, mas ele manteve a compostura, escondendo a emoções sob a máscara de frieza que usava tão bem.

Ele olhou para Briely, os olhos dele encontrando os dela.

É uma carta de Poseidon.”

 

 

 

A atmosfera na sala de jantar, antes leve, agora pesava como uma nuvem de tempestade.

Briely olhava para a carta nas mãos de Morpheus, o coração apertado enquanto processava as palavras que ele acabara de dizer.

O silêncio era quase palpável, quebrado apenas pelo leve farfalhar das asas de Mathew enquanto ele se ajustava, ainda atordoado pela revelação.

 

 

Lucienne ajustou os óculos, claramente tentando manter a compostura.

"Sem querer ser intrusiva, meu senhor, mas... o que o Senhor dos Mares do panteão grego poderia querer com vocês dois?"

 

Matthew grasnou baixo, inclinando a cabeça com curiosidade e preocupação.

"Nunca vi nenhum desses deuses por aqui. Eu também Não faço ideia do que querem, especialmente com você senhorita Briely."

 

Lucienne virou-se para Briely, o olhar inquisitivo.

"Você sabe de algo, Briely? Aconteceu alguma coisa no Inferno ou no mundo desperto quando você esteve lá?"

 

Briely mordeu o lábio, hesitando por um momento.

Seus olhos buscaram os de Morpheus, que a encarou de volta com uma intensidade que a fez estremecer internamente.

Finalmente, ela olhou para Lucienne e Mathew, respirando fundo.

"Eu... acho que posso ter uma ideia."

 

Lucienne ajeitou os óculos novamente, franzindo a testa.

"E qual seria essa ideia?"

 

Briely engoliu em seco, sentindo o peso das palavras antes de deixá-las escapar.

"Eu sou filha de Poseidon.  uma semideusa. Deve ser por isso que a carta foi enviada."

 

Lucienne ficou boquiaberta, os olhos arregalando-se atrás das lentes.

"O quê?!"

 

Mathew abriu as asas por um instante, claramente pasmo.

"Então foi você quem criou aquela onda no Inferno? Eu não achei que tivesse sido você. Lucifer chegou a mencionar algo sobre isso, mas pensei que fosse lorota."

 

Morpheus, que até então permanecera em silêncio, quebrou o lacre da carta com um movimento deliberado, desdobrando o pergaminho.

Ele começou a ler em voz alta, a voz  enchendo a sala com um tom que misturava autoridade e irritação.

"Sonho dos Perpétuos

chegou ao meu conhecimento que você está com uma filha minha, uma que não me lembro de gerar, uma semideusa que, até este momento, desconheço. Eu e meu panteão gostaríamos de conhecê-la e averiguar se a notícia é verdadeira. Sabemos que ela está no seu reino, sob sua proteção, e gostaríamos de chamá-los para um jantar, a fim de conhecê-la. Esperamos que venham em dois dias, às sete da noite, trazendo-a consigo para que possamos vê-la e confirmar a veracidade dos rumores. Aguardamos ansiosamente sua presença.

Assinado, Poseidon, Senhor dos Mares, Abalador da Terra, Pai dos Cavalos."

 

Quando terminou, o silêncio que se seguiu era sufocante.

Briely franziu a testa, levantando-se da cadeira e aproximando-se de Morpheus, os olhos fixos na carta.

"Como eles souberam disso?"

 

Morpheus dobrou o papel com cuidado.

os dedos ainda apertando as bordas com uma tensão escondida.

Ele encontrou o olhar dela, a resposta saindo com uma certeza fria.

"Pode ter sido quando você usou seus poderes no Inferno.Alguns demônios viram, e as fofocas devem ter se espalhado."

 

Briely assentiu lentamente, a mente girando com possibilidades e temores, enquanto Lucienne e Mathew trocaram olhares preocupados.

Morpheus, por dentro, sentia uma nova onda de possessividade crescer.

Não importava o que Poseidon ou seu panteão quisessem, ele não a entregaria.

Não a eles, nem a ninguém.

 


 

 

 

O silêncio na sala de jantar permanecia denso, como se o peso da carta de Poseidon ainda pairasse no ar.

Lucienne, após um momento de choque, recompôs-se, ajustando os óculos com um gesto quase mecânico.

"Então, você carrega o sangue de um deus,"

disse ela, a voz misturando admiração e incredulidade enquanto encarava Briely.

 

Briely assentiu lentamente, um leve desconforto em sua expressão.

"Sim, é verdade."

 

Mathew, ainda pousado na borda da mesa, soltou um grasnido baixo, quase um murmúrio.

"Nossa, isso é... inesperado."

 

Morpheus, sentado em sua ponta da mesa, não disse nada.

Seus olhos, profundos e insondáveis, fixavam-se em Briely com uma intensidade que escondia um turbilhão de pensamentos.

Ele não traía emoção, mas a tensão em sua postura era evidente para quem o conhecesse bem.

 

Lucienne, tentando navegar pela situação com cuidado, inclinou a cabeça.

"Sem querer ser intrusiva, quantos anos você tem, Briely?

Como é possível que Poseidon não soubesse de você?

Os gregos, especialmente ele, não deixariam um filho por aí sem supervisão."

 

Briely abriu a boca para responder, pronta a dizer que tinha 16 anos, mas antes que pudesse falar, Morpheus interveio, sua voz cortante como uma lâmina afiada.

"Ela tem três meses,"

declarou ele, o tom firme, quase desafiador.

"Quando ela nasceu, ela já veio ao mundo totalmente crescida.

Por isso, não é uma criança no sentido físico.

E, no momento em que nasceu, foi capturada e presa comigo."

 

Lucienne arregalou os olhos ainda mais, a boca entreaberta em choque.

"Três meses?" murmurou ela, quase para si mesma, enquanto assimilava a informação.

No fundo de sua mente, uma onda de desconforto cresceu.

Ela olhou para Morpheus, percebendo a intensidade com que ele observava Briely, e um pensamento inquietante se formou: ele estava apaixonado por ela desde o instante em que ela "nasceu".

Isso a fez sentir uma pontada de mal-estar, não por julgar sentimentos, mas por perceber a complexidade e profundidade de algo que ela não sabia como abordar.

 

Mathew, por sua vez, soltou um grasnido indignado, batendo as asas.

"O quê? Isso é possível? Eu não fazia ideia de que ela era tão... nova assim!"

 

Morpheus voltou seu olhar para o corvo, a expressão impassível.

"Sim, é possível. Embora seja extremamente raro, tais nascimentos podem ocorrer sob circunstâncias excepcionais."

 

Lucienne, ainda tentando processar tudo, pigarreou e desviou o assunto, buscando terreno mais seguro.

"A biblioteca foi restaurada, meu senhor. Precisamos aproveitar para organizar os registros e talvez pesquisar mais sobre isso...

E talvez também sobre o convite de Poseidon."

 

Morpheus assentiu, levantando-se da mesa com uma graça quase sobrenatural.

Ele estendeu a mão para Briely, que a aceitou com um leve hesitar.

"Vamos verificar isso, Lucienne,"

disse ele, a voz calma, mas carregada de uma autoridade que não admitia discussão.

Ele olhou para Briely.

um brilho possessivo nos olhos.

e a conduziu para fora da sala, deixando Lucienne e Mathew para trás.

 

Assim que a porta se fechou atrás deles, Lucienne soltou um suspiro longo, ajustando os óculos novamente enquanto encarava a mesa cheia de pratos.

Seus pensamentos giravam em um misto de preocupação e desconforto.

"Três meses... totalmente crescida... e ele..." Ela não terminou o pensamento em voz alta, mas sua mente não conseguia ignorar o olhar que Morpheus lançava a Briely.

Havia algo ali, no olhar dele  uma conexão que ia além de proteção ou dever e ela sabia, isso era algo algo que a deixava inquieta.

Ela sabia que Morpheus era um ser antigo, com emoções e motivos que nem sempre podia compreender, mas isso não diminuía o peso que ela  sentia no peito.

 

Mathew, ainda na borda da mesa, inclinou a cabeça, os olhos negros brilhando com incredulidade.

"Três meses? Como isso é possível?

Quer dizer, eu sei que estamos no Sonhar, e coisas estranhas acontecem o tempo todo, mas... isso é demais, até pra mim."

Ele grasnou baixo, quase como se falasse consigo mesmo.

"E o chefe... a forma como ele olha pra ela... não sei,

Lucienne, isso me dá arrepios.

E agora esse Poseidon querendo aparecer? Isso não vai acabar bem."

 

Lucienne não respondeu de imediato, ainda perdida em seus próprios pensamentos.

Sua lealdade a Morpheus era inabalável, mas a situação trazia questões que ela não sabia como enfrentar.

"Vamos organizar a biblioteca,"

disse finalmente, a voz mais firme, como se tentasse ancorar-se em algo concreto.

"Talvez lá encontremos algo que explique mais... sobre tudo isso."

 

Mathew assentiu com um grasnido relutante, mas sua mente não deixava de revisitar.

A imagem de Morpheus segurando a mão de Briely enquanto saíam.

Havia algo naquela cena que o deixava inquieto, como se um presságio sombrio pairasse sobre o Sonhar.

Eles permaneceram ali, envoltos em seus pensamentos, enquanto o eco dos passos de Morpheus e Briely desaparecia pelos corredores.

 


 

O som dos passos de Morpheus e Briely ecoava pelos vastos corredores do Sonhar enquanto se aproximavam da biblioteca recém-restaurada.

Quando as grandes portas de carvalho se abriram, Briely ficou paralisada por um instante, os olhos arregalados diante da imensidão do lugar.

Estantes que se estendiam em todas as direções, repletas de livros, pergaminhos e tomos de todos os tamanhos e cores.

O ar cheirava a papel antigo e tinta seca, carregado de uma energia quase palpável.

 

"É... enorme," murmurou ela, a voz baixando enquanto girava o pescoço para tentar abarcar todo o espaço.

 

Morpheus esboçou um leve sorriso, quase

imperceptível, mas carregado de orgulho.

"Aqui está guardado todo o conhecimento dos sonhos e das histórias que a humanidade já concebeu.

E aqui, Briely, posso te preparar para o encontro com os gregos. Vamos começar."

 

Ele a conduziu por entre as estantes até uma mesa ampla de madeira escura, iluminada por um candelabro flutuante que emitia uma luz suave e dourada.

Com um gesto de sua mão, vários livros surgiram na superfície da mesa, seus títulos gravados em letras douradas e prateadas.

Eram volumes sobre os deuses gregos, suas histórias, intrigas e poderes.

 

Ele deslizou um dos livros mais grossos na direção dela, abrindo-o em uma página ilustrada com a imagem de Zeus empunhando um raio.

"Leia. Conheça os que estão além do meu domínio, mas que cruzam caminhos conosco. Você precisa entender quem são antes de encontrá-los."

 

Briely olhou para o livro, mordeu a bochecha interna com força e sentiu um aperto familiar no peito.

As letras na página pareciam dançar e se embaralhar diante de seus olhos, uma confusão de traços que ela não conseguia decifrar.

Sua  Dislexia e TDAH, que são  traços comuns entre os semideuses em sua casa, tornavam a leitura um desafio quase impossível.

Ela engoliu em seco, não querendo admitir sua dificuldade, e rapidamente mudou de assunto.

 

"Por que você mentiu sobre minha idade e minha origem para Lucienne e Mathew?"

perguntou, a voz hesitante, mas carregada de curiosidade.

 

Morpheus congelou por um instante, seus olhos escurecendo.

Ele se aproximou dela, pegando sua mão com firmeza.

"Olhe para mim," ordenou, a voz baixa, mas cortante.

Briely levantou o rosto, encontrando o olhar penetrante dele, e engoliu em seco, sentindo um arrepio percorrer sua espinha.

A expressão dele era de pura fúria controlada.

"Ninguém além de mim deve saber que você vem de outro universo. Não importa quem seja. Entendeu?"

 

Ela assentiu rapidamente, o medo apertando seu peito, mas Morpheus não pareceu satisfeito.

Ele segurou o rosto dela com ambas as mãos, os dedos firmes contra sua pele, embora sem machucar de verdade. Seus olhos negros a perfuravam.

"Você entendeu? Ninguém deve saber. Diga que sim."

 

Os olhos de Briely se encheram de lágrimas, a pressão de suas mãos e a intensidade de sua voz a deixando trêmula.

"Sim... eu entendi," sussurrou ela, a voz falhando.

 

Ele viu as lágrimas escorrerem por suas bochechas e, como se um véu caísse, sua expressão se suavizou.

Soltou o rosto dela gentilmente, enxugando as lágrimas dela  com os polegares.

"Desculpe-me,"

murmurou, a voz mais baixa.

"Não quero que tenha medo de mim. Jamais te machucaria."

 

Briely se encolheu um pouco, ainda abalada com a raiva dele, mas ele a puxou para um abraço, acariciando seus cabelos com delicadeza.

"Eu me preocupo com você. Se outros souberem de onde você veio, podem tentar te matar ou pior.

Não posso permitir isso."

 

Ela respirou fundo, ainda sentindo o coração acelerado.

"Eu entendo," disse, tentando se acalmar.

 

Morpheus a apertou um pouco mais contra si, aliviado.

embora, secretamente, soubesse que  estava manipulando ela as suas  emoções.

Ninguém a mataria por sua origem, mas ele precisava que ela acreditasse nisso para mantê-la sob seu controle.

" Mais As Parcas sabem, não sabem?" perguntou ela.

 

Ele assentiu, sem soltá-la.

"Sim, mas elas não dirão nada. Não se preocupe com elas. Elas têm seus próprios jogos e segredos. Você está segura comigo."

 

Ele a apertou ainda mais, e Briely murmurou, desconfortável:

"Você está me apertando..."

 

Relutantemente, ele a soltou, enxugando mais uma lágrima que escorria por sua bochecha.

Enquanto fazia isso, seus olhos se demoraram no rosto dela, pensando em como ela era bonita, até mesmo chorando.

"Desculpe novamente. Eu me preocupo tanto com você... Não queria te assustar."

 

Ela assentiu, forcando um leve sorriso, embora o medo ainda estivesse ali, apenas abrandado.

"Eu só fiquei surpresa, só isso."

 

Morpheus observou-a por mais um instante antes de voltar ao assunto inicial.

"Devemos olhar os livros," disse, apontando para a pilha na mesa.

 

Briely hesitou, ainda um pouco desconfortável, e envergonhada por não poder ler  ela decidiu perguntar a ele :

"Você pode explicar para mim? Eu... gostaria de ouvir de você. E talvez eu possa contar as diferenças que os deuses  daqui tenham em relação ao meu universo."

 

Ele ergueu uma sobrancelha, surpreso, mas deixou os livros de lado, sentando-se mais perto dela.

"Muito bem. Vamos falar sobre o panteão grego deste universo, e sobre as diferenças entre os deuses e os Perpétuos."

 

Ele começou a explicação com um tom calmo, quase hipnótico, como se cada palavra fosse tecida com cuidado.

"Os deuses gregos aqui são forças imensas, mas não são como os Perpétuos.

Nós, os Perpétuos — Sonho, Morte, Desejo, Desespero, Destino, Delírio e Destruição

somos conceitos encarnados, aspectos fundamentais da existência.

Os deuses, por outro lado, são criações da crença humana, moldados por suas histórias e adoração.

Eles têm poder, mas são limitados por sua própria natureza e pelas narrativas que os definem.

Zeus, por exemplo, é o senhor dos céus, rei dos deuses, mas sua autoridade é contestada por suas falhas humanas,  ciúme, luxúria, vingança.

Poseidon, seu pai neste contexto, governa os mares, uma força de fúria e capricho, mas também de proteção aos navegantes que o honram.

Hades rege o submundo, sombrio e distante, mas justo em sua melancolia, ao lado de Perséfone, que traz equilíbrio com sua dualidade entre vida e morte."

 

Ele continuou, citando os outros deuses.

"Hera, rainha dos deuses, protetora do casamento, mas movida por ciúmes ferozes.

Afrodite, deusa do amor e da beleza, cujos desejos podem tanto unir quanto destruir.

Ares, o guerreiro implacável, encarnação da guerra sem razão.

Atena, sabedoria e estratégia, nascida da mente de Zeus, uma força de intelecto.

Dionísio, o deus do vinho e da êxtase, que caminha entre a alegria e a loucura.

Hermes, o mensageiro, astuto e veloz, protetor de ladrões e viajantes.

Apolo, senhor da luz, da música e da profecia, mas também da pestilência.

Ártemis, caçadora lunar, feroz e independente.

Deméter, a mãe da terra, cujo luto por Perséfone molda as estações.

Hefesto, o ferreiro, criador de maravilhas, mas marcado por sua rejeição.

E muitos outros, como Hécate, deusa da magia, e Nêmesis, a vingança inevitável."

 

Briely ouvia com atenção, absorvendo cada palavra, mesmo que sua mente ainda estivesse parcialmente presa ao momento anterior.

Quando ele terminou, ela pigarreou, hesitantemente oferecendo suas próprias comparações.

"No meu universo  os deuses gregos são um pouco diferentes em algumas coisas.

Zeus, por exemplo, é tão autoritário quanto aqui, mas lá ele é mais... paranoico, sempre achando que vai ser destronado, o que o torna meio instável.

Poseidon também é temperamentamental, mas no meu universo ele é mais próximo dos filhos semideuses.

mesmo que de um jeito meio distante. Ele tem um lado mais ‘pai’, sabe?

Hades... lá ele é bem mal compreendido, quase um cara deprimido que só quer cuidar do submundo, mas as pessoas o demonizam.

Perséfone com ele é doce, mas tem um lado sombrio que aparece quando ela está irritada."

 

Ela fez uma pausa, pensando.

"Afrodite no meu universo é mais... manipuladora, sempre mexendo com as emoções dos outros por diversão.

Ares é só um brutamontes, sem muita estratégia, diferente daqui que parece ter um lado mais complexo.

Atena é superinteligente lá também, mas ela tem um orgulho que às vezes a faz ignorar os sentimentos dos outros.

Dionísio... no meu universo, ele é meio preguiçoso, sempre reclamando do trabalho, mas tem um lado engraçado.

Hermes é um troll, sempre pregando peças, mas também muito leal aos filhos dele.

Apolo é vaidoso demais, às vezes irritante, mas se importa de verdade.

E Ártemis... ela é mais distante no meu universo, quase inacessível, mas superprotetora das caçadoras dela."

 

Morpheus ouviu com interesse genuíno, seus olhos fixos nela enquanto absorvia cada palavra.

"Fascinante," murmurou, quase para si mesmo.

"As nuances entre universos mostram como a crença molda até mesmo os imortais.

Aqui, eles são mais... arquetípicos, eu diria. Menos humanos em suas emoções, mais distantes, exceto quando suas histórias exigem drama."


 

 

Morpheus inclinou-se um pouco mais para perto de Briely, seus olhos negros brilhando com uma curiosidade quase voraz.

A biblioteca ao redor deles parecia desvanecer, o silêncio pesado carregado apenas pelo som de suas vozes.

"Conte-me mais sobre como é o relacionamento entre os semideuses e os deuses no seu universo.

Você mencionou que Poseidon não está sempre por perto uma vez pra mim. Como é essa distância?

Como os filhos lidam com pais que são tão... ausentes?"

 

Briely hesitou, mordendo o lábio inferior com força. Seus olhos se desviaram para a mesa, evitando o olhar dele, enquanto memórias desagradáveis pareciam surgir em sua mente.

"Bem... não é fácil. Os deuses, eles... aparecem de vez em quando, mas não como pais de verdade. Poseidon, por exemplo, ele se importa, eu acho, mas não pode estar sempre lá.

E também houve uma guerra, com os deuses... Muitos semideuses morreram. Amigos, pessoas que eu conhecia..."

Sua voz falhou, e ela apertou as mãos no colo, tentando controlar a emoção que ameaçava transbordar.

 

Morpheus percebeu a mudança em sua expressão, o peso da dor que ela tentava esconder. Ele suavizou o tom, inclinando a cabeça para tentar capturar seu olhar.

"Está tudo bem, Briely. Sei que lembrar disso não é agradável. Não precisa falar se não quiser."

 

Ela balançou a cabeça, forçando um leve sorriso, embora seus olhos ainda estivessem distantes.

"Não, eu estou bem. Só... não gosto de lembrar."

 

Ele asentiu, mas a curiosidade o fez  continuar.

"Como filha de Poseidon, imagino que você tenha sido protegida, não é?

Você não participou de nenhuma dessas batalhas, certo?"

 

Briely não respondeu de imediato. Seus lábios se fecharam em uma linha fina, e ela olhou para o lado, o silêncio entre eles se estendendo como uma sombra.

A falta de resposta fez um alarme soar na mente de Morpheus.

Sua expressão endureceu, a preocupação se transformando em algo mais sombrio.

Ele se inclinou mais perto, a voz baixa, mas carregada de intensidade.

"Você participou? Seu pai não te protegeu?"

 

Ela respirou fundo, finalmente encontrando coragem para responder, ainda sem encará-lo completamente.

"Existe uma regra... os deuses não podem interagir muito com seus filhos.

É uma lei antiga, algo sobre não interferir diretamente nas nossas vidas.

Então, Poseidon não podia fazer muito, mesmo que quisesse.

E sim, eu ajudei na batalha. 

 

As palavras dela caíram como pedras no peito de Morpheus.

Seus olhos se estreitaram, e uma onda de preocupação genuína, misturada com uma raiva latente contra o universo que a colocou em perigo , o consumiu.

Ele não disse nada por um momento, mas sua mente girava em um turbilhão de pensamentos.

Como poderiam ter deixado isso acontecer?

Como o pai dela, mesmo sendo um deus, não protegeu sua própria filha?

Como um lugar tão cruel poderia merecer tê-la?

 

Naquele instante, uma decisão se solidificou em seu ser.

Ele nunca, jamais, deixaria que ela voltasse para aquele universo.

Aquele lugar não a merecia.

Não merecia sua luz, sua força, sua presença.

E se, por algum milagre ou desgraça ela conseguisse retornar para lá, ele a buscaria.

Ele a traria de volta ao Sonhar com ele, mesmo que ela não quisesse.

Não importava o quanto ela implorasse, o quanto ela quisesse ficar lá, mesmo se ela sentisse saudade de seus amigos ou familiares daquele lugar miserável.

Ele não permitiria.

Saudade?

Ele poderia suprir isso.

Família?

Se ela precisasse de uma, ele  daria uma a  ela.

E eles seriam sua nova família, ele seria tudo o que ela precisava.

E  Com o tempo, ela esqueceria aqueles mortais insignificantes.

Ele garantiria isso.

 

Por fora, porém, Morpheus manteve a compostura, escondendo a tempestade de obsessão que rugia em seu interior.

Ele estendeu a mão, tocando a dela com uma gentileza calculada.

"Sinto muito que você tenha passado por isso, Briely.

Mas aqui, no Sonhar, você está segura.

Ninguém vai te colocar em perigo novamente. Eu te  prometo."

 

Ela olhou para ele, ainda com um resquício de tristeza nos olhos, mas assentiu levemente.

sem suspeitar da intensidade dos pensamentos que cruzavam a mente do Senhor dos Sonhos.

"Obrigada," murmurou, a voz fraca, mas grata.

 

Ele apertou a mão dela por um breve momento antes de soltá-la, voltando a postura ereta.

"Vamos continuar," disse, a voz firme, mas com um traço de ternura.

que escondia suas verdadeiras intenções.

"Há muito mais que você precisa saber sobre este universo... e eu estarei aqui para te guiar."

 


 

As horas se passaram na biblioteca do Sonhar, o candelabro flutuante lançando uma luz dourada sobre a mesa onde Morpheus e Briely estavam sentados.

Ele a guiava pacientemente, explicando com detalhes o que ela deveria evitar dizer ou fazer no encontro com os deuses gregos.

"Nunca mencione sua origem verdadeira, como já discutimos," reiterou ele, a voz firme, mas calma.

"Não questione a autoridade deles diretamente, mesmo que discordem de algo. Zeus, em particular, não tolera desrespeito.

E com Poseidon, mantenha a compostura, mesmo que ele tente provocar ou testar você.

Não mostre fraqueza, mas também não o desafie abertamente."

 

Briely ouvia atentamente, assentindo de tempos em tempos, embora seus olhos desviassem dos livros abertos na mesa.

Morpheus percebeu que ela não parecia confortável com a leitura, talvez por relutância ou dificuldade, mas não comentou nada.

Ele preferiu continuar explicando verbalmente, adaptando-se ao que parecia funcionar melhor para ela.

 

Quando a luz do candelabro começou a tremular, sinalizando o avançar da noite no Sonhar, Morpheus olhou para o céu estrelado além das janelas da biblioteca e se levantou.

"Já é tarde, Briely. Creio que já expliquei tudo o que você precisa saber por agora. Vamos jantar."

 

Ela o acompanhou em silêncio, os passos dos dois ecoando pelos corredores do palácio onírico até chegarem à entrada da biblioteca.

Lá, Lucienne estava ajustando uma prateleira de tomos antigos, equilibrando-os com precisão.

Ao vê-los, ela se virou e os cumprimentou com um leve aceno de cabeça.

"Boa noite, meu senhor, senhorita. Terminaram as pesquisas?"

 

Morpheus assentiu, a expressão impassível como sempre.

"Sim, Lucienne. Já cobrimos o essencial."

 

"Muito bem," respondeu ela, ajustando os óculos.

"Se precisarem de mais alguma coisa, estarei aqui."

 

Eles se despediram com um breve aceno e seguiram para a sala de jantar.

A mesa já estava posta com pratos fumegantes de alimentos que pareciam saídos de um sonho cores vibrantes, aromas que evocavam memórias distantes.

Sentados frente a frente, começaram a comer em um silêncio confortável, interrompido apenas pelo tilintar dos talheres.

Após alguns minutos, Briely pousou o garfo e olhou para Morpheus, a expressão carregada de hesitação.

 

"Estou um pouco nervosa com essa reunião," admitiu ela, a voz baixa, quase envergonhada.

 

Ele a encarou, os olhos profundos suavizando ligeiramente.

"Não se preocupe, Briely. Vai ficar tudo bem.

E se não quiser ir, não precisa.

Posso fazer com que eles venham até aqui se desejarem conhecê-la.

Não há obrigação."

 

Ela balançou a cabeça, decidida, embora a ansiedade ainda estivesse lá.

"Não, eu quero ir. Acho que é importante."

 

Morpheus assentiu, um leve brilho de aprovação em sua expressão.

"Eu estarei lá com você.

Nada vai acontecer. E, se em algum momento se sentir desconfortável, trarei você de volta imediatamente."

 

"Obrigada," murmurou ela, um pequeno sorriso aparecendo em seus lábios antes de voltar a comer.

 

Quando terminaram o jantar, Morpheus se levantou e a conduziu por um dos corredores iluminados por lampiões oníricos até um pátio interno.

Lá, uma figura peculiar estava Mervyn, o zelador do Sonhar, com sua cabeça de abóbora e atitude rabugenta, segurando um charuto apagado entre os dentes.

Ele os avistou e ergueu uma mão em saudação, a voz rouca e cheia de sarcasmo.

 

"Ei, chefe! E quem é essa? E  A nova residente que tá todo mundo comentando?"

perguntou Mervyn, os olhos brilhando na cavidade de sua cabeça de abóbora enquanto encarava Briely.

 

"Briely, este é Mervyn,"

apresentou Morpheus, a voz neutra, mas com um toque de paciência.

"Mervyn, seja educado. Ela é minha... convidada."

 

Mervyn deu uma risada seca, cruzando os braços.

"Tá bom, tá bom, chefe. Prazer, senhorita. Não liga pro que eu digo, eu só trabalho aqui. Mas se precisar de alguém pra consertar algo ou dar uns gritos, tô por aí."

 

Briely sorriu timidamente, trocando algumas palavras com ele sobre o Sonhar e perguntando como uma cabeça de abóbora conseguia falar.

Mervyn, respondeu com um misto de irritação fingida e humor ácido.

"Olha, senhorita, eu não faço as regras. Só sigo o que o chefe inventa.

Pergunta pra ele como eu acendo um charuto sem queimar minha cara!"

 

Morpheus observava a interação à distância, um raro vislumbre de contentamento em sua expressão.

Ver Briely conversando com os residentes do Sonhar, começando a se integrar ao seu mundo, o deixava satisfeito de uma forma que ele não expressaria em palavras.

Após alguns minutos, ele se aproximou, colocando uma mão suavemente nas costas dela.

um gesto quase imperceptível, mas carregado de posse.

 

"Mervyn, está tarde. E a Briely precisa descansar," disse ele, o tom firme, mas sem hostilidade.

 

Mervyn deu de ombros, acenando com uma mão.

"Tá certo, chefe. Boa noite, senhorita. Não deixa o chefe te assustar muito, hein?"

Ele riu roucamente enquanto os via se afastarem.

 

Enquanto Morpheus e Briely desapareciam pelo corredor, Mervyn ficou olhando, os olhos brilhando com curiosidade.

Ele murmurou para si mesmo, coçando a lateral de sua cabeça de abóbora.

"Hmm... o Abel tava certo. O chefe tá mesmo caidinho por ela. Quem diria, o Sr. Cara Séria todo sentimental..."

Ele deu uma risada baixa e voltou ao seu trabalho, o pensamento pairando em sua mente.

 


 

 

 

 

Briely foi deixada em seu quarto por Morpheus na noite anterior.

O ambiente onírico do Sonhar a envolveu em um sono profundo, e quando acordou, já era noite novamente.

Ela se levantou da cama, caminhando até a janela para observar o céu estrelado do reino dos sonhos, as constelações dançando de forma impossível.

Um leve bater na porta a tirou de seus pensamentos.

 

"Entre," disse ela, virando-se para a porta.

 

Morpheus entrou, sua presença imponente preenchendo o espaço. Seus olhos a encontraram imediatamente.

observando-a junto à janela com uma intensidade que ela não percebeu por completo.

"Dormiu bem?" perguntou ele.

 

"Sim, obrigada," respondeu ela, oferecendo um leve sorriso.

 

Ele se aproximou um pouco, as mãos cruzadas atrás das costas.

"Dessa vez, deixei você dormir mais. Você  Acabou dormindo o dia inteiro como resultado."

 

Ela riu timidamente, coçando a nuca. 

"Não se preocupe," disse ele, um brilho sutil nos olhos.

"Que tal caminharmos ao redor do lago? O ar noturno do Sonhar pode ser... revigorante."

 

"Claro, adoraria," respondeu Briely, animando-se com a ideia.

 

Eles saíram do quarto e seguiram pelos corredores do palácio até chegarem às margens de um lago de águas cristalinas que refletiam as estrelas.

A areia sob seus pés era macia, quase irreal, e o silêncio ao redor era quebrado apenas pelo som suave das ondas.

Dessa vez, Morpheus segurou a cintura dela enquanto caminhavam, sua mão firme contra o tecido de sua roupa.

Briely ergueu uma sobrancelha, lançando-lhe um olhar desconfiado.

 

"É para você não tropeçar,"

explicou ele, o tom sério, mas com um leve brilho de algo mais nos olhos.

 

Ela estreitou os olhos, claramente não acreditando na desculpa.

"Sei..." murmurou, mas antes que pudesse dizer mais, algo estranho aconteceu.

O chão sob seus pés pareceu se deslocar de repente, fazendo-a tropeçar para frente. Morpheus, com reflexos rápidos, a segurou com firmeza.

 

"Eu avisei," disse ele, a voz carregada de uma falsa preocupação.

Secretamente, ele havia manipulado o terreno do Sonhar para que isso acontecesse, apenas para ter uma desculpa para mantê-la ainda mais  perto.

"A areia ainda está instável em algumas partes."

 

Briely, agora um pouco insegura, acreditou na mentira. "Ah... tá bom, então."

 

Sem aviso, Morpheus a ergueu no colo, segurando-a com facilidade contra seu peito.

"Assim está melhor," declarou ele, um leve sorriso curvando seus lábios.

 

Ela corou intensamente, sentindo o calor subir ao rosto.

" Ei, Me coloca no chão! Não precisa me carregar, eu consigo andar!"

Ele, ignora o protesto dela  com uma calma inabalável. Seus braços a seguravam com uma firmeza que não deixava espaço para argumentação.

 

Briely ficou um pouco envergonhada, o coração acelerando enquanto tentava racionalizar a situação.

"Talvez ele goste de mim," pensou por um breve momento, mas rapidamente descartou a ideia.

"Que absurdo. Ele é um Perpétuo, só quer me proteger. Só isso."

Além disso, mesmo que fosse, seu coração ainda se agarrava a Luke, apesar de tudo  apesar da traição dele a ela e aos amigos, apesar de sua morte.

Ela não conseguia deixar seus sentimentos por ele para trás.

 

Morpheus caminhava com ela no colo, os passos firmes na areia, o silêncio entre eles se estendendo por o que pareciam horas. Finalmente, Briely quebrou o silêncio, a voz suave.

"Essa praia... é igual à que você me levava nos sonhos quando estávamos presos naquele porão."

 

Ele olhou para ela, os olhos brilhando ao lembrar das  memórias compartilhadas entre eles .

"Sim ela é”.

 

Com cuidado, ele a colocou no chão e sentou-se na areia, o corpo relaxado, mas sempre atento a ela.

Briely se sentou ao lado dele, os dois em silêncio enquanto observavam o horizonte. Quando o sol começou a se pôr ou, no Sonhar, algo que simulava um amanhecer com tons dourados e rosados, ela suspirou, admirada.

"O amanhecer aqui é lindo."

 

Morpheus virou-se para ela, os olhos fixos nos dela, um sorriso raro e genuíno em seu rosto.

"É, mesmo," disse ele.

mas não  ele não estava falando do amanhecer.

Briely, alheia ao verdadeiro significado de suas palavras, continuou olhando para o horizonte.

 

Ele a puxou gentilmente para mais perto, a mão em seu ombro.

"Deite a cabeça aqui," murmurou, indicando seu próprio ombro.

"Você parece exausta."

 

Ela protestou levemente, franzindo o cenho. "Não precisa, eu tô bem..."

 

"Insisto," retrucou ele, a voz baixa, mas firme. Não demorou muito para que ela cedesse, descansando a cabeça no ombro dele.

Em poucos minutos, o cansaço a venceu, e ela adormeceu, o rosto relaxado contra ele.

 

Morpheus virou-se para observá-la, emoção crua brilhando em seus olhos normalmente impassíveis.

Seus dedos traçaram suavemente os contornos dos lábios dela, um desejo quase incontrolável de beijá-la ali, naquele momento, surgindo em seu peito.

Mas ele se conteve, os dentes cerrados.

"Em breve," pensou ele, convencido. "Ela ainda me vê como um amigo, mas não resiste tanto aos meus toques.

Ela se apaixonará por mim em breve. Eu sei disso."

 

Com cuidado, ele a pegou no colo novamente, aninhando a cabeça dela contra seu peito.

Inclinou-se e beijou sua testa, sentindo o calor de seu corpo contra o dele.

"Ela é tão quentinha," pensou ele.

Ele começou a caminhar de volta para o palácio, carregando-a com cuidado. 

 

No meio do caminho, encontrou Caim e Abel, os dois irmãos que residiam no Sonhar. Caim, com sua expressão habitual e Abel, com um olhar mais curioso e gentil, o cumprimentaram com um aceno de cabeça.

Seus olhos se fixaram em Briely, aninhada nos braços de Morpheus, mas nenhum dos dois fez comentários em voz alta.

Eles apenas observaram enquanto Morpheus passava por eles, desaparecendo pelo corredor.

 

Assim que ele sumiu de vista, Abel se inclinou para Caim, cochichando com uma mistura de surpresa e diversão.

"Você viu isso, irmão? O mestre carregando a garota desse jeito..."

 

Caim bufou, cruzando os braços,

"Hmph. Nunca vi o chefe tão... apegado a alguém. O que você acha que tá rolando aí? os rumores são verdadeiros."

 

Abel deu de ombros, coçando a nuca.

"Não sei, mas... ele parece diferente com ela. Mais... humano, de certa forma.

Ou talvez mais obcecado. E  Difícil dizer."

 

Os dois continuaram cochichando enquanto a figura de Morpheus e Briely se perdia na distância. 

 

 


 

 

Morpheus, ao invés de levar Briely para o quarto dela, decidiu levá-la para seu escritório particular no Sonhar.

Ele a colocou cuidadosamente em um sofá de veludo escuro, ajustando uma manta leve sobre ela enquanto ela dormia profundamente.

Sentou-se em sua mesa, rodeado por pergaminhos, trabalhando em silêncio enquanto a observava de soslaio.

As Horas se passaram, o tempo no Sonhar escorrendo como areia, até que já era quase tarde.

Ele sabia que naquela noite deveriam encontrar os deuses gregos.

E decidiu interromper o sonho em que a havia mergulhado enquanto ela dormia  um pequeno truque para mantê-la descansando mais do que o necessário.

 

Aproximando-se do sofá, ele a acordou com um toque suave no ombro.

Briely abriu os olhos devagar, piscando confusa ao se sentar. Ele se colocou ao lado dela, a voz baixa e reconfortante.

"Está na hora, Briely. Você deve se preparar para o encontro com os gregos."

 

Ela esfregou os olhos, franzindo o cenho. "Nossa, eu não costumo dormir tanto assim."

 

"Talvez você estivesse mais cansada do que pensava," respondeu ele, um leve brilho de diversão nos olhos

enquanto escondia o fato de que vinha influenciando sutilmente o sono dela para mantê-la descansando mais tempo.

"Venha, vou ajudá-la a se preparar."

 

Briely ergueu uma sobrancelha, hesitante.

"A Lucienne não pode fazer isso?"

 

"Lucienne está ocupada no momento,"

retrucou ele com um tom calmo, mas firme. Um sorriso divertido curvou seus lábios enquanto ele inclinava a cabeça.

"Está com vergonha de mim ajudando?"

 

Ela bufou, cruzando os braços, mas um leve rubor surgiu em suas bochechas.

"Não é isso. Eu sei me arrumar sozinha, tá bom?"

 

"Desta vez, não," disse ele, a voz carregada de uma autoridade que não deixava espaço para discussão.

Antes que ela pudesse protestar mais, ele estalou os dedos, e o mundo ao redor deles girou em um borrão de sombras e luz.

Em um piscar de olhos, estavam no quarto dela.

 

"Primeiro, tome um banho," instruiu ele, apontando para o banheiro anexo.

"Eu vou preparar suas roupas."

 

Briely revirou os olhos, mas obedeceu, desaparecendo no banheiro enquanto o som da água começava a ecoar.

Morpheus, por sua vez, dirigiu-se ao closet de seu próprio quarto 

que ficava ao lado do dela, um detalhe que ela desconhecia.

e abriu as portas de ébano com um gesto.

Seus olhos se fixaram em um Vestido vermelho , a cor profunda e ardente como o rubi que outrora foi parte de seu poder.

Ele havia escolhido aquela peça com intenção: um símbolo que os deuses gregos notariam, uma marca sutil de posse e conexão com ele.

Pegou também uma Caixa de joias  contendo um colar de rubi, com pedras que brilhavam como sangue congelado, e brincos combinando.

Com os itens em mãos, voltou ao quarto dela.

 

Quando Briely retornou, envolta em um robe e secando o cabelo com uma toalha, encontrou Morpheus à espera perto da penteadeira.

Ele estendeu o vestido vermelho para ela, os olhos fixos nos dela. Ela pegou a peça, franzindo o cenho com um leve sorriso.

"Vermelho? Achei que você fosse me dar algo preto, já que é sua cor preferida," brincou, rindo suavemente.

 

Ele retribuiu com um sorriso enigmático, os olhos escurecendo de significado.

"Hoje não."

 

Ela foi até o biombo no canto do quarto para trocar de roupa, reaparecendo momentos depois.

O vestido abraçava suas curvas, o vermelho vivo contrastando com sua pele de maneira hipnotizante.

Morpheus a encarou por um longo momento, a expressão suavizando.

"Você está linda,"

murmurou, a voz mais grave do que o habitual.

 

Ele abriu a caixa de joias, revelando o colar de rubi que parecia incrivelmente caro, as pedras capturando a luz de forma quase sobrenatural.

Com um cuidado deliberado, ele se aproximou e colocou o colar ao redor do pescoço dela, os dedos roçando levemente sua pele enquanto ajustava o fecho.

Depois, colocou os brincos, cada movimento metódico, Por fim, ele pegou um pente e começou a arrumar o cabelo dela, transformando-o em um coque baixo e elegante, os dedos trabalhando com uma destreza surpreendente.

 

Briely observava tudo pelo espelho, um pouco desconcertada.

"Você vai ficar brincando de boneca comigo agora?"

perguntou, tentando aliviar o clima com uma risada nervosa.

 

Morpheus a olhou através do reflexo, um brilho predatório nos olhos enquanto respondia com um tom baixo e provocador.

"Eu adoraria."

 

Ela desviou o olhar rapidamente, o rosto corando enquanto tentava esconder a vergonha.

Virando-se para o espelho por completo, ela analisou seu reflexo, o vestido, as joias, o cabelo.

"Parece que eu sou uma daquelas princesas da era medieval,"

comentou, um leve sorriso nos lábios.

 

Ele se aproximou, ficando ao lado dela no reflexo.

"Mais como uma rainha,"

disse ele, a voz carregada de duplo sentido.

 

Sem esperar resposta, ele ofereceu o braço a ela, conduzindo-a para fora do quarto.

Eles desceram pelos corredores até o salão principal, onde Lucienne os aguardava.

A bibliotecária ajustou os óculos ao vê-los, seus olhos percorrendo o vestido vermelho e as joias de Briely com uma expressão de surpresa contida, mas não fez comentários.

Ela apenas assentiu para Morpheus.

"Tudo pronto, meu senhor?"

 

"Sim," respondeu ele, o tom firme.

Com um gesto de sua mão, o ar ao redor deles ondulou, e o mundo do Sonhar se dissolveu em sombras enquanto se teletransportavam para o encontro com os deuses gregos.

 


 

         

 

 


 

O ar ao redor de Morpheus e Briely ondulou como água, e em um piscar de olhos, eles se materializaram diante de um palácio majestoso, erguido sobre uma plataforma de mármore reluzente.

Torres de coral e pérolas incrustadas brilhavam sob uma luz aquática, e o som de ondas distantes ecoava pelo ar.

Briely olhou ao redor, admirada, e então virou-se para Morpheus, os olhos cheios de curiosidade.

 

"Onde estamos?"

perguntou ela, a voz carregada de assombro.

 

"Este é o palácio de Poseidon, em Valhala," respondeu Morpheus, sua voz calma, mas com um traço de tensão enquanto observava o entorno com cautela.

 

Eles pararam diante de uma imensa porta de bronze decorada com gravuras de criaturas marinhas.

Antes que pudessem tocá-la, a porta se abriu sozinha, revelando uma sala ampla com paredes que pareciam fluir como água. No centro, Poseidon os esperava, imponente, com uma túnica azul-escura que lembrava o oceano em tempestade.

Seus olhos, de um verde profundo como o mar, fixaram-se imediatamente em Briely. Ele deu um passo à frente, uma aura de poder emanando dele.

 

"Então é verdade,"

disse Poseidon, a voz  ressoando pela sala.

"Você é minha filha."

Ele fechou os olhos por um momento, como se sentisse algo invisível, e então abriu um sorriso.

"Sinto minha própria essência em você."

 

Ele se aproximou, cumprimentando Morpheus com um aceno formal, mas reservado, e então olhou para Briely, os olhos suavizando ao notar semelhanças , o mesmo tom de cabelo olhos que espelhavam as profundezas do oceano.

"Queria muito conhecê-la,"

admitiu ele, a voz carregada de um afeto inesperado.

"Estou feliz por ter uma filha.

Os membros do panteão, seus tios e primos, também estão ansiosos para conhecê-la.

Venham comigo."

 

Poseidon gesticulou para que o seguissem, levando-os por um arco até uma sala de banquetes com um ambiente mais leve, banhada por uma luz dourada que parecia vir de lugar nenhum e de todos os lugares ao mesmo tempo.

Antes de entrarem, Morpheus segurou a mão de Briely, os dedos entrelaçando-se aos dela com firmeza.

Ela lançou um olhar curioso para ele, mas não disse nada enquanto seguiam Poseidon através da porta.

 

Ao entrarem, o burburinho de conversas cessou abruptamente.

Todos os olhos na sala se voltaram para eles.

Briely sentiu um arrepio ao perceber dezenas de figuras divinas, cada uma irradiando uma aura única e esmagadora.

Ela apertou a mão de Morpheus com mais força enquanto Poseidon erguia a voz.

 

"Permitam-me apresentar minha filha, Briely,"

anunciou ele, o tom orgulhoso ecoando pela sala.

"Uma descendente minha, recém-descoberta entre nós."

 

Os deuses a cumprimentaram, alguns com acenos solenes, outros com sorrisos calorosos. 

sentindo a força reduzida, mas inconfundível, da essência de Poseidon emanando dela, algo que os outros claramente perceberam.

Enquanto tomavam seus assentos em uma longa mesa de mármore coberta de iguarias divinas, Morpheus inclinou-se para Briely e murmurou em seu ouvido.

 

"Parece que quase todos os gregos vieram," disse ele, a voz baixa, mas com um traço de sarcasmo.

 

Ela olhou ao redor, notando a sala cheia.

Havia figuras imponentes como Zeus, com sua barba grisalha e olhos que faiscavam como trovões;

Hera, majestosa e observadora;

Atena, com um olhar penetrante de sabedoria;

Ares, com um sorrisão predatório; e muitos outros.

Os deuses a observavam em silêncio, alguns murmurando entre si.

 

Afrodite, sentada perto de Ares, inclinou-se para o deus da guerra, os lábios curvados em um sorriso malicioso.

"Olhe, eles têm um laço estranho... Ele a protege como se fosse dele, mas ela parece apenas vê-lo como amigo,"

sussurrou ela, os olhos fixos no vestido vermelho de Briely.

"E esse vestido... você sabe o que significa. É o rubi dele, uma marca."

 

Ares deu uma risada baixa, balançando a cabeça.

"O Senhor dos Sonhos marcando território? Isso vai ser interessante."

 

Outras deusas, como Hera e Atena.

também notaram o vestido, trocando olhares de compreensão, mas sem comentar em voz alta.

Poseidon, sentado à cabeceira da mesa, inclinou-se para Briely com curiosidade.

"Conte-me sobre seu nascimento, filha. Como isso aconteceu?"

 

Briely hesitou por um momento, sentindo os olhos de todos sobre ela.

"Eu... tenho três meses desde que nasci," respondeu ela.

 

Poseidon ergueu uma sobrancelha, surpresa e preocupação cruzando seu rosto.

Antes que ele pudesse falar, Morpheus interveio, a voz firme.

"Ela tem apenas três meses, mas nasceu adulta.

Foi capturada por ocultistas no momento em que veio ao mundo e permaneceu comigo, onde também fui mantido prisioneiro nesse período."

 

Poseidon franziu o cenho, os olhos estreitando-se para Morpheus.

"E você não pensou em me avisar? Tive que saber da existência dela por fofocas e rumores!"

 

"Eu o avisaria em breve,"

retrucou Morpheus, a expressão impassível.

mas ninguém na sala pareceu acreditar nele.

Murmúrios de descrença ecoaram discretamente entre os deuses.

alguns revirando os olhos ou trocando olhares céticos.

 

A história de Briely despertou piedade em alguns, como Deméter e Héstia, que a trataram com uma gentileza extra, os olhos cheios de compaixão.

"Mal nasceu e já foi presa por humanos," murmurou Héstia para si mesma, balançando a cabeça.

 

Outros deuses começaram a fazer perguntas, que Briely respondeu com uma mistura de timidez e curiosidade.

Apolo, sentado perto dela, parecia particularmente encantado, conversando animadamente com a prima.

"Você é uma visão, Briely,"

disse ele com um sorriso brilhante, os olhos dourados faiscando.

"Uma verdadeira joia do mar. Como conseguiu sobreviver a tanto tempo com presa por humanos estúpidos?"

 

Briely riu, relaxando um pouco com o tom leve de Apolo.

"Não sei, acho que só... sobrevivi. E o Morpheus me ajudou."

 

"Ah, sim, o Senhor dos Sonhos,"

disse Apolo, lançando um olhar provocador para Morpheus, que estava sentado ao lado de Briely, a expressão cada vez mais tensa.

"Ele parece muito... atencioso com você."

 

Morpheus permaneceu em silêncio, os olhos fixos em Apolo como se pudesse incinerá-lo com um olhar.

Briely, alheia à tensão, continuou conversando, respondendo a perguntas de outros deuses enquanto o jantar prosseguia.

 

Hera, ao lado de Zeus, observou-a com um olhar penetrante, mas não hostil.

"Você tem muito a aprender, criança. Mas parece ter um espírito forte. Isso é bom."

 

Atena, sempre analítica, interveio com um tom de interesse genuíno.

"Você demonstra curiosidade, Briely. Já pensou em estudar nossas histórias e estratégias? Eu poderia guiá-la."

 

"Isso seria incrível," respondeu Briely, animada com a ideia.

 

Ares deu uma risada rouca, batendo com o punho na mesa.

"Estudos? Que tal treinar com uma lança na mão? Aposto que você tem o fogo do combate no sangue!"

 

Briely riu, balançando a cabeça.

"Talvez, quem sabe? Mas acho que prefiro evitar brigas por enquanto."

 

Enquanto as conversas fluíam.

Morpheus observava em silêncio, a irritação crescendo cada vez que Apolo fazia Briely rir com suas piadas e comentários galanteadores.

Ele segurava o garfo com mais força do que o necessário, os nós dos dedos brancos.

 

Mais tarde, Poseidon voltou a falar diretamente com Briely, o tom mais pessoal.

"Você é a primeira filha mulher que tenho, Briely.

Sempre quis uma garotinha, mas só tenho um filho, Triton, seu irmão.

Ele não está aqui agora, mas gostaria de apresentá-los. Quero conhecê-la melhor.

E gostaria de convidá-la para morar comigo. Tenho certeza de que você adoraria conhecer a Atlântida."

 

Ao ouvir essas palavras, Morpheus apertou o garfo com tanta força que o metal se dobrou e quebrou com um estalo audível.

Todos na sala viraram-se para ele, sobrancelhas erguidas.

Ele baixou o utensílio com uma calma forçada.

"Desculpem-me," disse, a voz fria.

"Briely é uma residente do Sonhar agora. Minha responsabilidade agora."

 

Poseidon estreitou os olhos, a voz firme.

"Ela é minha filha, Morpheus. Ela deveria decidir se quer vir comigo ou não."

 

Briely, sentindo a tensão crescer, interveio rapidamente.

"Obrigada, pai. Vou pensar na sua oferta."

 

Poseidon sorriu para ela, satisfeito.

"Estarei esperando, filha."

 

A conversa na mesa retomou, os deuses envolvendo Briely em mais perguntas e histórias.

Dionísio, rindo alto, não parava de oferecer vinho a ela, enchendo sua taça repetidamente.

"Beba, prima! E a Melhor forma de conhecer a família!"

incentivava ele com um sorriso travesso.

 

Briely, rindo das palhaçadas de Apolo e das piadas exageradas que ele contava, acabou bebendo mais do que deveria.

Suas bochechas estavam coradas, e ela dava risadinhas mais frequentes.

Morpheus notou imediatamente, a expressão endurecendo.

 

"Poseidon," disse ele, a voz cortante, mas controlada.

"Creio que devemos encerrar o jantar. Briely precisa descansar."

 

Poseidon olhou para a filha, vendo-a risonha enquanto Apolo contava mais uma história absurda sobre suas aventuras.

Ele sorriu, satisfeito ao vê-la feliz,

mas Morpheus lançou um olhar fulminante para Apolo.

que pareceu se divertir ainda mais com a reação do senhor dos sonhos.

 

Os outros deuses começaram a se despedir de Briely, cada um com suas palavras.

Zeus, de forma surpreendente, foi o primeiro.

"Você é bem-vinda no panteão, jovem. Volte quando quiser. Temos muito a compartilhar."

 

Hera assentiu, a expressão suavizada. "Cuide-se, criança. E mantenha essa força que vejo em você."

 

Atena ofereceu um leve sorriso.

"Se precisar de orientação, me procure."

 

Ares deu uma risada alta.

"E se quiser treinar, já sabe onde me encontrar! Vamos ver se você tem o sangue de um guerreiro!"

 

Afrodite se aproximou com um sorriso sedutor, mas genuíno.

"Você é encantadora, querida. Cuide desse coração. E desse... guardião tão zeloso ao seu lado,"

acrescentou, lançando um olhar provocador para Morpheus.

 

Um a um, os deuses se despediram, deixando palavras de boas-vindas e curiosidade.

Finalmente, Poseidon pediu um momento a sós com Briely, levando-a para um canto mais afastado, longe dos olhos de Morpheus.

Ele a encarou com um olhar sério, mas afetuoso.

 

"Briely, saiba que sempre poderá me visitar... e, se quiser, até morar comigo na Atlântida. Mas fique de olho na sua relação com Morpheus.

Espero que não haja confusões."

 

Ela franziu o cenho, confusa.

"Nós somos apenas amigos."

 

"É verdade mesmo?" perguntou ele, os olhos analisando-a com atenção.

Ele notou o vestido vermelho, a cor inconfundível do rubi de Morpheus, e uma pequena apreensão cresceu em seu peito.

Ainda assim, viu sinceridade na expressão dela.

 

"Sim, pai. Só amigos," reiterou ela.

 

Poseidon suspirou, decidindo acreditar nela.

"Tudo bem. Mas tenha cuidado com ele.

Se algo acontecer, se você não quiser mais ficar no Sonhar, venha morar comigo."

Ele tirou do bolso uma pequena concha pendurada em um colar delicado e entregou a ela.

"Se quebrar esta concha e pensar em mim, será teletransportada até onde eu estiver."

 

Ela pegou o objeto com cuidado, os olhos brilhando de gratidão.

"Obrigada, pai."

 

Ele a puxou para um abraço apertado, a voz suave.

"Espero que me visite em breve."

 

"Eu vou," prometeu ela, retribuindo o abraço.

 

Poseidon a soltou, e nesse momento Morpheus se aproximou, a expressão fechada.

"É hora de irmos," disse ele, a voz cortante.

 

Poseidon lançou um último olhar para Morpheus, acenando para a filha em despedida.

Ele percebeu como Morpheus tomou a mão de Briely rapidamente, puxando-a para perto de si.

com um gesto que parecia mais possessivo do que protetor.

Enquanto os dois se teletransportavam, desaparecendo em um borrão de sombras, Poseidon ficou parado, os olhos estreitados.

"Não é nada bom,"

pensou ele.

"O jeito que ele olha para ela... ela é apenas uma criança aos olhos do tempo.

O Senhor dos Sonhos sente algo por minha filha, e eu sei que isso não vai acabar bem."

Sua mão apertou o tridente ao seu lado, uma preocupação profunda gravada em seu rosto enquanto o salão vazio ecoava o som distante das ondas.

Chapter 6

Notes:

Capítulo editado ;)

Chapter Text

 

 

O ar ao redor de Morpheus e Briely vibrou com a familiar energia do Sonhar, e em um instante, eles estavam de volta no salão principal do reino.

As luzes suaves  iluminavam o ambiente.

Briely, ainda sob o efeito do vinho de Dionísio, cambaleou ligeiramente ao pisar no chão polido, um risinho escapando de seus lábios enquanto tentava se equilibrar.

 

Morpheus a segurou pelos braços, seus dedos firmes envolvendo-a para evitar que ela caísse.

Seus olhos  brilhavam com uma mistura de irritação e algo mais profundo enquanto a encarava.

"Você está completamente bêbada,"

disse ele, a voz, carregada de um tom que não deixava espaço para discordância.

 

Ela riu, balançando a cabeça desajeitadamente.

"Não, não estou... eu tô bem, de verdade!"

Sua voz saía arrastada, os olhos meio fechados, enquanto um sorriso bobo se formava em seu rosto.

 

Sem paciência para discussões, Morpheus a pegou no colo com facilidade, seus braços fortes envolvendo-a como se ela não pesasse nada.

"Você precisa descansar. Vou levá-la para o seu quarto," afirmou ele.

Briely não protestou, apenas encostou a cabeça no peito dele, sentindo o calor que emanava sob o tecido escuro de sua roupa.

Seus olhos se fecharam quase instantaneamente, o embalo do movimento e a exaustão do vinho a puxando para um sono profundo.

O ritmo constante do coração de Morpheus sob seu ouvido parecia uma canção de ninar, e em segundos, ela estava inconsciente, os lábios ligeiramente entreabertos, respirando suavemente contra ele.

 

Morpheus caminhou pelos corredores do Sonhar, os passos ecoando no silêncio do palácio. Ele a carregava com cuidado.

mas seus pensamentos estavam longe dali.

Enquanto subia as escadas em direção ao quarto dela, sua mente voltou ao jantar com os deuses gregos.

A forma como Apolo a fazia rir, os olhares provocadores, a atenção excessiva do deus dourado.

tudo isso fez um nó apertado se formar em seu peito.

Ele apertou os dentes, jurando para si mesmo que manteria Apolo bem longe dela, custe o que custasse.

E então havia a proposta de Poseidon.

A ideia de Briely aceitando morar na Atlântida o incomodava profundamente, um medo que ele não queria admitir crescendo em seu âmago.

O que será que os dois conversaram a sós?

Ele viu Poseidon entregando algo a ela, mas não conseguiu distinguir o que era.

Uma ruga de preocupação formou-se em sua testa enquanto pensava nisso.

 

Chegando ao quarto de Briely, ele abriu a porta com um leve gesto de sua mão e a deitou na cama ampla, coberta por lençóis negros.

Com um toque delicado, ele afastou uma mecha de cabelo do rosto dela, seus dedos demorando-se mais do que o necessário enquanto acariciava sua bochecha.

Ela parecia tão pacífica ali, vulnerável, os traços suavizados pelo sono. Mas antes que ele pudesse se afastar.

um murmúrio baixo escapou dos lábios dela, quase inaudível.

"Eu te amo..."

 

Morpheus congelou, os olhos arregalando-se em choque.

Um êxtase inesperado tomou conta dele, um calor subindo por seu peito.

Será que ela estava começando a amá-lo?

Será que, finalmente, aqueles sentimentos que ele guardava com tanto zelo estavam sendo correspondidos?

Um sorriso quase imperceptível curvou seus lábios enquanto ele se inclinava mais perto, os pensamentos girando em sua mente.

Talvez devesse olhar os sonhos dela, ver o que se passava em seu inconsciente...

 

Mas então ela murmurou novamente, ainda dormindo.

 as palavras saindo mais claras dessa vez.

"Eu te amo... Luke."

 

O mundo de Morpheus desabou em um instante.

A felicidade que o preenchia momentos antes se estilhaçou, substituída por uma raiva incandescente que fez suas mãos tremerem.

Ela disse que o ama. Aquele semideus do universo dela insignificante.

Seus olhos escureceram, a fúria transbordando enquanto se inclinava sobre ela.

Com um gesto brusco, ele tocou a testa dela, interrompendo o sonho que a envolvia.

A conexão com o mundo onírico se rompeu de forma abrupta, como um vidro estilhaçando, e Briely acordou de sobressalto.

ainda sob os efeitos do álcool, os olhos confusos e nublados.

 

"O que..."

murmurou ela, a voz arrastada, piscando lentamente enquanto tentava focar no rosto de Morpheus acima dela.

O olhar dele, porém, estava carregado de uma fúria que fez um arrepio de medo correr por sua espinha.

Ela franziu o cenho, a mente enevoada, convencida de que ainda estava sonhando.

Afinal, como poderia ser real? Era só um pesadelo estranho.

 

Sem aviso, Morpheus segurou os ombros dela com força, os dedos cravando-se em sua pele enquanto a encarava com uma intensidade que a fez engolir em seco.

"Você o ama? Diga a verdade para mim,"

exigiu ele, a voz baixa,  carregada de uma raiva contida que parecia prestes a explodir.

 

Ela piscou, ainda perdida, a cabeça girando com o efeito do vinho.

"Quem?"

perguntou, genuinamente confusa, sem entender do que ele estava falando.

Ela Achava que estava tendo apenas um sonho estranho, algo sem sentido.

mas não estava gostando nada da sensação de ameaça que aquele "sonho" que ela estava tendo trazia.

 

A resposta pareceu enfurecê-lo ainda mais.

Com um movimento rápido, ele a empurrou contra o colchão.

o corpo dela afundando nos lençóis macios enquanto as costas batiam contra a cama.

O impacto a deixou atordoada, o coração disparando de medo.

"Você ama aquele garoto miserável?"

Rosnou ele, o rosto a centímetros do dela, os olhos queimando com uma mistura de ciúme e desespero.

 

Briely, ainda bêbada e sem filtro, percebeu que ele falava de Luke.

Sem pensar nas consequências, sem sentir o peso da situação.

 ela assentiu com um leve sorriso confuso.

"Sim, eu ainda amo ele..."

 

As dela palavras foram como uma lâmina atravessando Morpheus.

Mas, em vez de recuar, ele se aproximou ainda mais, encostando a testa na dela, o calor de sua respiração misturando-se à dela.

"Eu amo você, Briely. Eu te amo,"

confessou ele, a voz rouca, carregada de uma emoção crua que parecia rasgar cada palavra.

 

Ela gaguejou, os olhos arregalados, o cérebro lutando para processar o que ouvia.

"O-o quê...?"

balbuciou, incrédula, o coração batendo descompassado.

"Isso... isso é um sonho. Um pesadelo,"

murmurou ela, tentando se convencer, a mente dela estava  embriagada incapaz de distinguir realidade de ilusão.

 

Morpheus sorriu, um sorriso sombrio que não alcançava os olhos.

Ele sabia que não era um sonho, mas não a corrigiu.

"Sim, é,"

mentiu ele, a voz suave, mas com um tom perigoso.

"Os vinhos de Dionísio são fortes. Você não vai lembrar de nada amanhã."

Antes que ela pudesse responder, ele a beijou com força, os lábios colidindo contra os dela em um beijo desesperado, cheio de posse.

Briely tentou empurrá-lo, as mãos frágeis batendo em seu peito, mas não tinha força contra ele.

O beijo era sufocante, roubando seu ar, até que ele finalmente a soltou, seus lábios se separando com um estalo baixo.

 

Ela ofegou, tentando recuperar o fôlego, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, Morpheus a beijou novamente.

dessa vez mais invasivo, sua língua forçando passagem entre os lábios dela, explorando-a sem hesitação.

O beijo era intenso, faminto, carregado de uma urgência que a deixava atordoada. Quando ele finalmente se afastou, segurou a cabeça dela com as mãos, um fio de saliva ainda conectando suas bocas.

Ele a encarou, os cabelos dela bagunçados, os olhos cheios de lágrimas, as bochechas coradas e a respiração ofegante.

Uma beleza quebrada, vulnerável, que o fazia perder qualquer resquício de controle.

Ele pensou, com uma intensidade quase dolorosa, que ela era linda assim.

que o tentava de maneiras que ele não podia resistir.

 

Briely chorava agora, as lágrimas rolando por seu rosto enquanto tentava entender o que estava acontecendo.

"Eu quero minha mãe... mãe... irmão, me ajuda... pai, socorro,"

soluçava ela, a voz trêmula, o corpo se contorcendo nos braços dele em uma tentativa inútil de se libertar.

 

"Shh, meu amor, não tenha medo. Estou aqui. Você não precisa deles,"

murmurou Morpheus, a voz enganosamente calma enquanto a puxava contra seu peito, ignorando suas tentativas de escapar.

Ele a segurou com firmeza, como se pudesse apagar o medo dela apenas com sua presença.

Mas os soluços de Briely só aumentaram, a confusão e o terror misturando-se em sua mente embriagada.

 

Ele a beijou novamente, e depois mais uma vez, cada beijo mais insistente que o anterior, como se tentasse marcá-la, torná-la sua de uma vez por todas.

Seus lábios desceram ao pescoço dela, deixando marcas vermelhas na pele delicada, mordiscando a orelha dela até ouvir um gemido baixo de dor e surpresa.

Ele voltou aos lábios dela, beijando-a até que o ar novamente lhe faltasse, mordendo com força suficiente para que um fio de sangue manchasse sua boca.

Briely, exausta e sobrecarregada, acabou desmaiando nos braços dele, o corpo dela caiu  mole contra o dele.

 

Com cuidado, Morpheus a deitou na cama, ajeitando-a sobre os lençóis. Ele passou a mão sobre as marcas que deixou no pescoço dela,  curando os hematomas e os lábios feridos.

apagando qualquer traço físico do que acabou de acontecer.

Ele Sentou-se ao lado dela por um momento, observando o peito dela subir e descer em um ritmo lento, o rosto dela  ainda estava úmido de lágrimas, mas agora sereno.

 

Ele se repreendeu internamente por não ter se contido.

por ter tomado aquele primeiro beijo deles de forma tão bruta.

Mas não havia arrependimento verdadeiro em seu peito.

Ela não lembraria de nada amanhã, mas ele sim.

Ele guardaria cada detalhe, cada toque, cada som.

Seus pensamentos voltaram a Luke, e a raiva reacendeu.

"Se ele estivesse vivo nesse momento, eu mesmo o mataria,"

murmurou para si mesmo, os punhos cerrados.

"Se ele fosse desse universo, eu o teria destruído. Mas isso não importa.

Ela está comigo aqui.

E se alguém do universo dela aparecer, não voltará vivo."

Ele olhou para Briely, ainda inconsciente.

e sussurrou, mais para si mesmo do que para ela:

"Você é minha. Vou fazer você nunca mais pensar nesses humanos.

Você vai me amar, isso e só uma questão de tempo.

nós vamos ter nossa própria família juntos."

 

Ele se inclinou, beijando a testa dela suavemente, inalando o cheiro doce de seus cabelos enquanto o som da respiração dela preenchia o silêncio.

Permaneceu ali por algumas horas, apenas observando, até que finalmente se levantou, deixando-a dormir.

Caminhou até seu próprio quarto, os pensamentos ainda agitados.

ele sabia que não conseguiria se conter por muito mais tempo com ela.

Por agora ele decidiu focar em seus deveres no Sonhar para ocupar a mente.

Por agora, ele tinha controle.

E tentaria mantê-lo pelo menos por enquanto.

 


 

 

 

 

 

 

Briely acordou algumas horas depois, a cabeça latejando como se um tambor ressoasse dentro de seu crânio.

Seu corpo parecia pesado, cada músculo reclamando com um leve desconforto, e uma pontada de enjoo revirava seu estômago.

Sua boca estava seca, a língua colando no céu da boca, e a sede a fazia sentir como se não bebesse água há dias.

Ela gemeu baixinho, passando as mãos pelo rosto enquanto tentava organizar os pensamentos embaralhados.

Fragmentos da noite anterior dançavam em sua mente, borrados e distorcidos.

Lembrava-se vagamente de conversar com seu pai, Poseidon, e de um gesto dele, como se estivesse lhe entregando algo. 

 

Franziu o cenho, sentando-se na cama com dificuldade, e enfiou a mão no bolso do vestido que ainda usava.

Seus dedos tocaram um objeto pequeno e frio.

Ao puxá-lo para fora, viu O colar  com uma delicada concha pendurada, um presente de seu pai.

Um leve sorriso tocou seus lábios enquanto o segurava.

Decidiu amarrá-lo ao pulso, transformando-o em uma pulseira.

O peso da concha contra sua pele era reconfortante.

 

Exausta, ela se deixou cair de volta na cama, o corpo ainda fraco demais para se levantar por completo.

A ressaca a fazia se sentir miserável, e ela se repreendeu mentalmente por ter bebido tanto.

"Como eu fui idiota por beber desse jeito," murmurou para si mesma, a voz rouca.

Pensou em Morpheus, com uma pontada de vergonha.

Ele teve que literalmente carregá-la de volta para o quarto.

e ela nem se lembrava disso.

O que ele deve estar pensando dela agora? Sentindo-se patética, ela se jogou contra os travesseiros, cobrindo o rosto com as mãos enquanto tentava ignorar o mal-estar.

 

Minutos se passaram, ou talvez mais — ela havia perdido a noção do tempo  até que um leve bater na porta a tirou de seu estado de autocomiseração.

"Entre," disse ela, a voz fraca, sem se levantar.

 

A porta se abriu, revelando Lucienne, com sua postura sempre composta e um olhar gentil, embora preocupado.

Ela carregava uma bandeja com comida e uma xícara fumegante de chá e um pequeno frasco de remédio.

"O Mestre pediu que eu trouxesse algo para ajudá-la, minha senhora,"

disse Lucienne, depositando a bandeja na mesa ao lado da cama.

 

Briely gemeu, colocando as mãos no rosto com vergonha.

"Obrigada, Lucienne...  eu tô me sentindo horrível.

 

Lucienne sentou-se na beirada da cama, um gesto raro de proximidade, e a encarou com empatia.

"Como você está se sentindo, minha senhora?"

 

"Com uma ressaca horrível,"

admitiu Briely, esfregando as têmporas.

"Minha cabeça parece que vai explodir."

 

Lucienne assentiu, apontando para o chá e o frasco na bandeja.

"O chá vai acalmar seu estômago, e o remédio ajudará com a dor.

Também irei preparar um banho para você, caso deseje se refrescar."

 

Briely balançou a mão, um pouco envergonhada.

"Eu posso preparar o banho sozinha, Lucienne. Não precisa se preocupar comigo assim. Tá tudo bem."

 

"Tudo bem, como desejar," respondeu Lucienne com um leve aceno de cabeça, sem insistir.

"Mas, minha senhora, devo dizer...

você bebeu muito mais do que deveria.

E, honestamente, nem foi tanto assim, considerando os efeitos que está sentindo."

 

Briely deu um risinho fraco, embora sem humor.

"Pois é. Eu me lembro de boa parte do jantar embora depois que bebi mais de uma taça, não lembro de quase nada.

Só flashes. Acho que os vinhos do Senhor Dionísio são...

um pouco fortes demais pra mim."

 

Lucienne ergueu uma sobrancelha, o tom ligeiramente repreensivo, mas ainda gentil.

"Os vinhos de Dionísio são fortes mesmo para muitos imortais.

Para você, sendo metade humana, com um corpo tão... frágil, afetam muito mais do que deveriam.

O Mestre Morpheus não deveria ter deixado você beber tanto.

Afinal, você ainda é jovem."

 

Briely corou, sentindo-se ainda mais envergonhada.

"Você... você nos viu chegar? Quero dizer, eu não lembro de como voltei pro quarto."

 

Lucienne ajustou os óculos, o olhar suavizando.

"Vocês retornaram por volta da meia-noite. Agora já são quatro da tarde. voce já  Dormiu bastante, o que é bom para se recuperar."

 

"Quatro da tarde?"

Briely piscou, surpresa, passando a mão pelos cabelos desgrenhados.

"Eu perdi metade do dia..."

 

Lucienne aproveitou para mudar de assunto, curiosa.

"E como foi o encontro com os deuses gregos senhorita? Gostou deles?"

 

Um leve brilho surgiu nos olhos de Briely, mesmo com o mal-estar.

"Sim, gostei bastante. Eles foram... surpreendentes. Meu pai, Poseidon, me convidou pra morar com ele na Atlântida.

Disse que posso visitá-lo quando quiser. E o Apolo..."

Ela deu um risinho.

"Ele era engraçado. Todos me trataram muito bem, na verdade."

 

Lucienne inclinou a cabeça, processando as palavras.

"O Senhor Poseidon pediu que você fosse morar com ele?"

 

"Sim," respondeu Briely, brincando com a pulseira de concha em seu pulso, sem perceber o gesto.

 

Lucienne observou o movimento, os olhos fixando-se na pequena concha.

Ela pensou consigo mesma que o Mestre Morpheus certamente não deve ter ficado feliz com essa proposta.

 mas manteve o pensamento para si. Em vez disso, perguntou.

"Essa pulseira... foi um presente do Lorde Morpheus?"

 

Briely balançou a cabeça, passando os dedos pela concha com carinho.

"Não, foi um presente do meu pai." Ela sorriu levemente.

"É lindo, né?"

 

"Sim, é muito bonito," concordou Lucienne.

franzindo o cenho de leve enquanto sentia uma pequena energia emanando da concha, algo que a deixou inquieta.

"Mas... há algo de especial nisso, não é?"

 

Briely assentiu, ainda sorrindo.

"Meu pai disse que, se eu precisar de ajuda, basta quebrar a concha.

Isso me transportará até onde ele estiver. É como um... pedido de socorro, eu acho."

 

Lucienne ficou visivelmente tensa, embora tentasse disfarçar.

"O Lorde Morpheus sabe sobre essa pulseira?"

 

"Não," respondeu Briely, alheia à preocupação da bibliotecária.

"Ainda não contei pra ele."

 

Lucienne engoliu em seco, os pensamentos acelerando.

Se Morpheus descobrisse sobre isso, a primeira coisa que faria seria se livrar da pulseira.

E se Briely decidisse deixar o Sonhar para morar com Poseidon na Atlântida...

ela nem queria imaginar a reação do Mestre.

A possessividade dele era algo que ela conhecia bem, mesmo que raramente falasse sobre isso.

 

Mudando de tom para não alarmá-la, Lucienne se levantou.

"Estarei na biblioteca caso precise de algo, minha senhora.

Por favor, tome o remédio para se sentir melhor.

E o Lorde Morpheus pediu que eu a avisasse:

ele está na sala do trono se quiser vê-lo. Também disse que passará mais tarde para verificar como você está."

 

"Obrigada, Lucienne,"

disse Briely, a voz ainda fraca, mas sincera.

 

Lucienne fez uma leve reverência antes de sair, deixando Briely sozinha no quarto. Sentindo-se um pouco mais disposta, ela decidiu se levantar para tomar um banho.

A água morna ajudou a aliviar a tensão em seus músculos, embora o enjoo ainda fizesse sua cabeça girar de leve.

Depois, vestiu um Vestido rosa claro  que encontrou no armário, o tecido leve e confortável contra sua pele.

Sentou-se na cama novamente e encarou o frasco de remédio que Lucienne trouxe.

A cor verde não era nada convidativa, quase parecendo algo tóxico, mas ela sabia que precisava tomá-lo.

Com uma careta, engoliu o líquido de uma vez, o gosto amargo e terrível quase a fazendo engasgar.

"Ugh, que nojo," murmurou, estremecendo.

 

Deitou-se sobre os travesseiros macios, fechando os olhos por um momento. Aos poucos, a dor de cabeça começou a diminuir, assim como o enjoo.

Quando ela se Sentiu um pouco melhor, alcançou a bandeja que Lucienne trouxera e pegou algo para comer —um pedaço de pão e algumas frutas. Mastigou devagar, os pensamentos vagando enquanto encarava o teto.

 

Sua mente voltou aos deuses gregos. Eles eram tão diferentes dos deuses de seu universo.

Zeus — o próprio Zeus! — disse que ela era bem-vinda entre eles.

E seu pai, Poseidon, a contraparte do pai verdadeiro dela, a convidou para morar com ele.

Era algo que seu pai verdadeiro nunca fez.

A tristeza apertou seu peito ao pensar nisso.

Por que aqui ela parecia ser mais valorizada pelos deuses daqui do que os deuses de seu próprio universo?

eles a trataram como se ela já fosse da família um constrate bastante diferente do os deuses do seu universo.

 

Ela brincou distraidamente com a pulseira de concha.

os olhos perdidos em pensamentos.

Talvez ela devesse considerar a proposta de Poseidon?

Mas o Morpheus está certo, é se eles descobrirem sobre ela ser de outro universo?

Ele se importa muito com ela, às vezes ele  até exagera.

Será que ficaria magoado se ela decidisse ir visitar o Poseidon e ficar alguns dias lá com ele?

Ela Suspirou, sem saber o que fazer, enquanto o peso de suas decisões ainda pairava no ar.

Por agora, só queria descansar um pouco mais, deixar a ressaca passar.

 


 

 

A sala do trono do Sonhar era imponente, com seus degraus de mármore e o trono esculpido em obsidiana.

Morpheus, estava sentado ali, um livro antigo repousando em suas mãos.

As páginas amareladas e o cheiro de pergaminho velho preenchiam o ar, mas sua mente não estava nas palavras.

Seus olhos,  encaravam o texto sem realmente lê-lo.

Em vez disso, flashes da noite anterior inundavam seus pensamentos.

O jantar com os deuses gregos, e, acima de tudo, Briely. O modo como ela ria, como seus olhos brilhavam sob a luz dourada do salão, e, é claro.

o momento em que ele perdeu o controle com ela.

quando ele a  beijou, e e claro palavras dela, confessando que amava outro, Luke.

O nome ecoava em sua mente como um espinho cravado, irritante e persistente.

 

Ele cerrou a mandíbula, os dedos apertando as bordas do livro com mais força do que o necessário.

Antes que pudesse se afundar ainda mais em seus pensamentos, uma batida leve na porta o tirou de seu transe.

 

"Entre," disse ele, a voz grave e controlada, como sempre.

 

Lucienne entrou, os passos silenciosos contra o chão polido.

Sua expressão era neutra, mas seus olhos atrás dos óculos redondos carregavam uma preocupação sutil.

"Mestre, já entreguei o remédio e o chá para a senhora Briely,"

informou ela, parando a alguns metros do trono.

 

Morpheus ergueu o olhar do livro, fechando-o suavemente e colocando-o de lado.

"E Como ela está?" perguntou.

 

"Está com uma ressaca considerável, mas o remédio deve ajudá-la a melhorar em breve,"

respondeu a bibliotecária, ajustando os óculos.

"Ela dormiu por muitas horas, o que também é bom para a recuperação."

 

Ele assentiu, um breve aceno de cabeça. "Obrigado, Lucienne."

 

Ela hesitou por um momento antes de falar novamente, o tom cauteloso.

"Mestre, se me permite... está tudo bem com o senhor? Desde o jantar de ontem, parece... distante.

Não quero ser invasiva, apenas me preocupo."

 

Morpheus a encarou, os olhos estreitando-se por um segundo.

Ele não estava acostumado a ser questionado, nem mesmo por alguém tão leal quanto Lucienne.

Ainda assim, suavizou a expressão, oferecendo um leve sorriso que não chegou aos olhos.

"Estou bem, Lucienne. Apenas lembrava de algo. Não há com o que se preocupar."

 

Ela inclinou a cabeça em respeito, reconhecendo que não deveria insistir.

"Como desejar, Mestre. Estarei na biblioteca se precisar de mim."

Com uma pequena reverência, ela se retirou, deixando Morpheus sozinho mais uma vez.

 

Ele voltou ao livro, abrindo-o na mesma página de antes, mas sua mente continuava longe.

O silêncio da sala do trono era sufocante, e seus pensamentos, inevitavelmente, retornavam para a Briely.


 

 

Enquanto isso, no quarto, Briely começava a se sentir significativamente melhor.

O remédio, apesar de seu gosto horrível que ainda parecia impregnado em sua língua, havia feito um milagre.

A dor de cabeça latejante havia desaparecido.

o enjoo se reduzira a quase nada, e seu corpo parecia menos pesado.

Ela se levantou da cama, alisando o vestido rosa claro que vestia, e respirou fundo.

Ela Ainda sentia uma pontada de vergonha ao pensar na noite anterior.

Não se lembrava de quase nada após o jantar, apenas fragmentos borrados, e isso a deixava nervosa.

 

Saindo do quarto, caminhou pelos corredores etéreos do Sonhar, os vitrais coloridos projetando luzes dançantes nas paredes.

No meio do caminho, encontrou Mervyn, o zelador do reino, carregando uma pilha de ferramentas.

Ele a cumprimentou com um aceno de cabeça e um sorriso.

"Bom dia, senhorita! Ou melhor, boa tarde, né? Dormiu bem?"

 

Briely riu suavemente, um pouco envergonhada.

"Boa tarde, Mervyn. Dormi sim, obrigada. E você, como tá?"

 

"Ah, tô bem, só arrumando umas coisas. Esse castelo não se conserta sozinho, sabe?"

Ele riu, ajustando a pilha de ferramentas nos braços.

"Se precisar de algo senhorita, é só chamar."

 

"Obrigada," disse ela, sorrindo antes de continuar seu caminho.

 

Chegando à sala do trono, Briely hesitou por um momento na entrada.

A porta estava entreaberta, e ela pôde ver Morpheus sentado em seu trono, um livro nas mãos, o olhar fixo nas páginas. 

Ela não conseguia ler o título do livro ou qualquer palavra escrita na capa — as letras pareciam se embaralhar diante de seus olhos, como sempre acontecia por causa de sua dislexia.

Pigarreando suavemente, ela chamou a atenção dele.

 

"Ei," disse ela, a voz mais baixa do que pretendia.

 

Morpheus ergueu os olhos imediatamente ao ouvir o som de sua voz.

Seus lábios se curvaram em um leve sorriso, quase imperceptível, enquanto ele fechava o livro e o colocava de lado.

Seus olhos, no entanto, fixaram-se na boca de Briely por um momento a mais do que o necessário, lembranças  da noite anterior voltando com força.

Isso quase o fez perder o foco novamente.

 

"Lucienne me disse que você estava aqui," continuou Briely, alheia aos pensamentos dele.

"Eu não queria interromper sua leitura."

 

"Não se preocupe com isso," respondeu ele. Ele se levantou do trono, descendo os degraus

Ao se aproximar, sorriu de leve, os olhos ainda a fixos nela.

"Você está bem?"

perguntou ela, franzindo o cenho ao notar o olhar distante dele por um instante.

 

Morpheus piscou, voltando ao presente.

"Sim, estou bem. Apenas pensando em algo."

Ele fez uma pausa, estudando o rosto dela.

"E você? Recuperou-se totalmente?"

 

"Sim," respondeu Briely, aliviada por mudar de assunto.

"O remédio foi horrível, sério, Mas funcionou rápido. Já tô bem melhor."

 

"Estou mais tranquilo sabendo disso," disse ele, o tom genuíno.

Então, com um leve tom de curiosidade, acrescentou:

"E da noite anterior... você se lembra de algo?"

 

Briely franziu o cenho, tentando puxar as memórias fragmentadas.

"Eu lembro do jantar, de conversar com os deuses... e me despedi do meu pai e dos outros. Mas depois disso, tá tudo meio borrado."

Ela deu de ombros, um pouco envergonhada. "Por quê? Aconteceu algo que eu deveria lembrar?"

 

Morpheus assentiu lentamente.

Ela não lembrava que ele a beijou, nem mesmo de sua confissão pra ela ou sobre  sobre ela dizer que amava aquele garoto.

Era melhor assim, talvez.

"Nada importante," respondeu ele, a voz neutra. Ele gesticulou para os degraus do trono.

"Venha, sente-se comigo."

 

Ela o seguiu, sentando-se ao lado dele nos degraus.

Enquanto ajustava o vestido sobre as pernas, as mãos repousando no tecido, Morpheus notou algo em seu pulso.

Uma pulseira, com uma pequena concha pendurada, emanando uma aura que ele reconheceu imediatamente. Poseidon.

Seus olhos se estreitaram, e uma ruga de descontentamento formou-se entre suas sobrancelhas.

 

"Isso foi o que Poseidon deu a você, não foi?"

perguntou ele, o tom cuidadosamente controlado, mas com um traço de tensão.

 

Briely olhou para a pulseira, um leve sorriso tocando seus lábios.

"Sim, foi um presente do meu pai. Quando estávamos indo embora. É lindo, né?"

 

"Posso vê-lo de perto?" pediu ele, estendendo a mão.

"Sinto a aura de Poseidon na concha.

Pode ser perigoso. Eu só quero examiná-lo, para ter certeza de que não vai machucá-la."

 

Ela franziu o cenho, segurando o pulso de forma protetora.

"Não vai me machucar. Meu pai disse que é só uma forma de me conectar a ele, caso eu precise de ajuda."

 

Morpheus inclinou a cabeça,

os olhos escurecendo por um instante, embora ele mantivesse a calma na superfície.

"Você não pode ter certeza disso, Briely. Você o conheceu ontem. Como pode confiar nele tão rápido?"

 

"Eu sei que não vai me machucar," insistiu ela, a voz firme. "É um presente do meu pai. Eu confio nele."

 

A raiva borbulhou dentro de Morpheus, mas ele a conteve com maestria.

Como ela podia defender Poseidon depois de tão pouco tempo?

Ainda assim, ele não demonstrou sua frustração.

"Só quero protegê-la. É tudo o que me importa."

 

Briely sorriu suavemente, tocando a concha com carinho.

"Eu sei. Mas confie em mim, tá bem? Isso não vai me fazer mal."

 

Ele suspirou, percebendo que ela não cederia tão facilmente.

Ela Era teimosa, e isso o irritava tanto quanto o intrigava.

Decidiu que examinaria a pulseira mais tarde, quando ela estivesse dormindo ou distraída.

Por agora, mudou de assunto.

"E quanto aos deuses gregos? Gostou do jantar?"

 

O rosto de Briely se iluminou.

"Sim, muito! Eles foram tão amigáveis. Nunca pensei que pudessem ser tão receptivos comigo. Me senti em casa lá."

 

Morpheus assentiu, incentivando-a a continuar, embora por dentro sentisse um aperto crescente.

 

"E eu tava pensando..."

Ela hesitou por um momento, mas então sorriu, os olhos brilhando de empolgação.

"Será que você poderia me levar lá de novo?

Eu queria visitar meu pai, quem sabe em breve.

E o Apolo também, ele foi tão legal comigo."

 

O mundo pareceu congelar para Morpheus. Sua expressão permaneceu impassível, mas por dentro, uma tempestade se formava.

"Não," disse ele, a voz cortante, mas controlada.

 

Briely piscou, confusa.

"Não? Por que não?"

 

"Não é seguro que você os visite tão cedo. Pelo menos por enquanto,"

respondeu ele, os olhos fixos nos dela, tentando transmitir a gravidade da situação.

"É melhor que você fique comigo. Caso alguém descubra sobre sua origem... eles podem querer matá-la. Não podemos arriscar."

 

Ela franziu o cenho, a confusão se misturando com preocupação.

“eles não vão descobrir, vão?"

 

"Apollo tem o dom de detectar mentiras," disse Morpheus, a voz firme.

"Ele sabe que mentimos sobre sua idade e sua origem ontem à noite.

É melhor que você fique longe dele, e de qualquer grego, por enquanto."

 

Briely o encarou, surpresa.

"Você sabia disso? Por que não falou nada ontem?"

 

"Eu sabia que Apollo não comentaria nada na frente dos outros. Não naquela noite," respondeu ele, a voz calma, mas carregada de autoridade.

Vendo a preocupação crescer no rosto dela, ele apertou sua mão de leve, oferecendo um conforto calculado.

"Isso é sério, Briely. É por isso que você precisa permanecer aqui comigo.

Aqui você estará segura. Eu garanto isso."

 

Ela o olhou por um longo momento, os olhos buscando algo nos dele. Então, assentiu lentamente.

"Eu confio em você."

 

Morpheus sorriu internamente, satisfeito. Ela havia abandonado, pelo menos por enquanto, a ideia de visitar os gregos ou seu pai.

A mentira sobre o Apollo foi algo que ele disse com base nas histórias humanas, mas não era  necessariamente verdadeira.

Mais Ela não precisava saber disso.

 

"Fique tranquila," disse ele, a voz suavizando.

"Vamos nos distrair com outra coisa. Que tal irmos a biblioteca?"

 

Briely assentiu, um leve sorriso voltando ao seu rosto. Ele se levantou, oferecendo a mão para ajudá-la, e os dois começaram a caminhar pelos corredores do Sonhar.

Enquanto andavam, Morpheus notou que ela, inconscientemente, se aproximava mais dele.

seus passos quase em sincronia com os seus.

Um sorriso secreto curvou seus lábios.

O medo que ele plantou nela  sobre os deuses gregos descobrirem a sua origem havia surtido efeito.

Era uma mentira, é claro eles não a matariam, mas ela não precisava saber disso.

O importante era mantê-la perto, sob sua proteção... e seu controle.

 

 


 

 

 

Ao chegarem à biblioteca.

Mathew,  voou em direção a eles, suas asas  batendo alegremente.

"E aí, pessoal! Bom ver vocês por aqui!" crocitou ele, pousando em uma estante próxima.

 

Lucienne, que organizava alguns volumes em uma mesa próxima, ergueu o olhar e fez uma leve reverência.

"Mestre, senhorita Briely. Bem-vindos."

 

"Temos algo a conversar, Lucienne," disse Morpheus, voltando-se para a bibliotecária.

Então, olhando para Briely, acrescentou: "Já volto. Escolha algo para ler, se quiser."

 

Briely assentiu, e Mathew aproveitou para acompanhá-la.

"Vem comigo, senhorita! Vou te mostrar as melhores estantes. Aqui tem de tudo, sabia? Histórias de amor, batalhas, dragões, o que você quiser!"

 

Ela riu suavemente, seguindo o corvo enquanto passeava pelos corredores de prateleiras que pareciam não ter fim.

Seus olhos brilhavam com a quantidade de livros, mesmo sabendo que não conseguiria lê-los sozinha.

Chegando a uma mesa onde havia papéis em branco e lápis, ela decidiu se sentar. Pegou um lápis e começou a desenhar, traçando linhas delicadas enquanto Mathew continuava a tagarelar.

 

"Então, tem um livro aqui sobre um cara que enfrenta um dragão de três cabeças. Bem louco, né? Quer que eu pegue pra você?" perguntou o corvo, inclinando a cabeça.

 

Briely sorriu, sem erguer os olhos do desenho.

"Não, valeu, Mathew. Tô bem assim por enquanto."

 

Ele observou o papel, vendo as formas tomando vida sob o traço dela.

"Ei, você desenha bem mesmo! Quem são esses dois?"

 

Ela hesitou por um momento, olhando para o desenho de sua mãe e seu irmão, os traços familiares trazendo uma pontada de saudade.

"São... pessoas importantes pra mim," disse ela, a voz suave, mas com um tom que indicava que não queria se aprofundar no assunto.

 

Mathew assentiu, respeitando o limite.

"Entendi. Bom, você tem um talento incrível, sabia? Mas se não tá afim de ler, posso ler pra você.

Que tal? Aqui na biblioteca tem de tudo. Escolha um, qualquer um!"

 

Briely mordeu o lábio, a vergonha subindo ao rosto enquanto olhava para as estantes. As palavras nos títulos dos livros pareciam dançar e se embaralhar, impossíveis de decifrar.

"Hm... eu não sou muito fã de ler," confessou, tentando disfarçar.

 

Mathew inclinou a cabeça, preocupado. "Senhorita? Tá tudo bem?"

 

Ela hesitou, os dedos brincando nervosamente com o lápis. Então, com um suspiro, decidiu ser honesta.

"Eu... eu tenho dislexia. É difícil pra mim ler. As palavras meio que... não fazem sentido."

 

O corvo piscou, surpreso, mas logo assentiu com compreensão.

"Ah, entendi. Sem problema, senhorita. A gente dá um jeito. Posso pegar um livro e ler pra você, se quiser."

 

Nesse momento, Morpheus, que ouviu e viu tudo através dos olhos de Mathew

um truque que raramente usava, mas não hesitava quando se tratava de Briely 

terminou sua conversa com Lucienne e caminhou em direção a eles.

Mathew o cumprimentou com um aceno de asa.

"Mestre! Eu tava só conversando com a senhorita aqui.

Vamos ler juntos outra hora, tá bem, Briely?"

 

"Claro, Mathew. Valeu,"

respondeu ela, sorrindo enquanto o corvo se afastava.

 

Morpheus se aproximou, segurando um livro que pegara em uma das estantes.

Sentou-se ao lado dela, colocando o volume à sua frente.

"Que tal esse? É sobre a história dos Perpétuos," disse ele, a voz suave, mas com um traço de curiosidade.

"Quer ler comigo?"

 

Briely hesitou, as bochechas corando levemente de vergonha.

Ela olhou para o livro, as letras na capa tão indecifráveis quanto sempre.

"Eu... eu tenho dislexia," admitiu, a voz baixa.

"Meu cérebro é tipo... programado pro grego antigo, sabe? Ler é difícil pra mim."

 

Morpheus a encarou, os olhos suavizando. "Por que não me disse antes?"

perguntou gentilmente, sem qualquer traço de julgamento.

 

Ela deu de ombros, evitando o olhar dele.

"Eu... não sei. Fiquei com vergonha, acho.

É por isso que não quis ler quando você tava me explicando sobre os deuses gregos."

 

"Está tudo bem," assegurou ele, a voz calma, quase reconfortante.

"Não há motivo pra se envergonhar disso comigo."

Ele abriu o livro, os dedos deslizando pelas páginas até encontrar o início do texto.

"Vou ler para você."

 

Briely sorriu, um pouco mais aliviada, e se acomodou ao lado dele.

Morpheus começou a ler, sua voz grave e melodiosa enchendo o ar da biblioteca enquanto contava histórias antigas sobre os Perpétuos

sua origem, seus papéis no universo. Ela ouvia atentamente, interrompendo de vez em quando com perguntas curiosas.

 

"Então, a Morte... ela é mesmo tão gentil assim como você descreve?"

perguntou Briely, os olhos brilhando de interesse.

 

Morpheus sorriu de leve, parando a leitura por um momento.

"Sim, de um jeito que pode surpreender. Ela entende a dor da perda como ninguém.

Mas também pode ser implacável quando necessário."

As horas passaram sem que nenhum dos dois percebesse, o silêncio da biblioteca apenas quebrado pela voz de Morpheus e pelas perguntas de Briely.

De longe, Lucienne os observava, ajustando os óculos.

Lucienne sabia que não deveria se envolver, mas sabia onde aquela conexão os levaria.

Por agora, porém, ela apenas voltou aos seus livros, deixando-os.

 


 

 

 

Alguns dias se passaram desde o momento na biblioteca.

e Morpheus decidiu que era hora de tirar Briely do ambiente  do Sonhar por um tempo.

Ele a levou ao mundo desperto, a um parque silencioso em um canto tranquilo da cidade.

As árvores balançavam sob uma brisa suave, e o som distante de risadas infantis misturava-se ao farfalhar das folhas.

Morpheus caminhava devagar, a mão segurando a dela com firmeza, quase como se temesse soltá-la.

Sua presença, sempre imponente, parecia contrastar com o ambiente mundano ao redor, mas havia algo de sereno em seus passos, como se ali, naquele momento, ele pudesse fingir ser apenas mais um entre os mortais.

Briely, ao seu lado, seguia com os olhos atentos, absorvendo cada detalhe: casais rindo enquanto tiravam selfies, idosos caminhando com passos lentos, crianças correndo pelo gramado com gritos de alegria.

 

Eles se sentaram em um banco de madeira desgastado, e Morpheus puxou um pequeno saco de grãos do bolso de seu casaco preto um gesto tão humano e inesperado que Briely não pôde evitar um sorriso.

Ele jogava os grãos no chão com precisão, observando um bando de pombos que se dispersava e retornava, bicando avidamente.

Briely pegou alguns grãos também, imitando-o, rindo baixinho quando um pombo mais ousado quase pegou o grão de sua mão.

 

"Olha só, eles não têm medo de nada," disse ela, divertida, jogando mais alguns grãos.

 

Morpheus a observou, os olhos intensos fixos nela por um momento a mais do que o necessário.

"Nem todos têm medo do que não conhecem," respondeu ele.

 

Enquanto alimentavam os pombos, Briely virou o rosto para observar as pessoas ao redor.

Um sorriso suave surgiu em seus lábios quando uma pequena garotinha, de não mais que quatro anos, a encarou com olhos curiosos e acenou timidamente.

Briely acenou de volta, inclinando-se um pouco para frente.

"Oi, pequenina," murmurou, a voz cheia de ternura.

 

A criança riu e correu de volta para sua mãe,

Morpheus, ao ver a interação, sentiu algo apertar em seu peito.

Um pensamento cruzou sua mente, rápido e incontrolável:

ela seria uma mãe incrível.

Ele podia imaginar, com uma clareza quase dolorosa, futuros filhos deles correndo pelo sonhar.

com os olhos dela, talvez, ou o cabelo dela.

O pensamento o pegou desprevenido no momento, mas não o rejeitou.

Ele Queria isso.

Queria-a de um jeito que não conseguia mais ignorar.

 

"Está um dia ótimo, não acha?" disse Briely, tirando-o de seus devaneios.

Ela estava olhando para o céu, o sol tocando sua pele de um jeito que parecia destacar cada traço que ele já memorizou.

 

"Sim," respondeu ele, a voz mais baixa do que o usual, os olhos demorando-se nela, absorvendo cada detalhe.

Ele não conseguia desviar o olhar, não queria.

"Você gosta de crianças?"

perguntou de repente, o tom casual, mas carregado de uma curiosidade quase urgente.

"Já pensou em ser mãe?"

 

Briely piscou, surpresa com a pergunta tão aleatória. Ela riu, jogando mais um punhado de grãos no chão.

"Hm... gosto de crianças, sim.

Não penso muito nisso, sabe? Talvez no futuro, quem sabe."

Ela deu de ombros.

sem perceber a intensidade com que ele a encarava.

 

"E quanto a se casar? Ter uma família?"

continuou ele, inclinando-se levemente na direção dela, como se cada palavra dela fosse essencial para sua própria existência.

 

Ela hesitou, o rosto corando um pouco.

"Já pensei algumas vezes, mas não tanto assim. Quer dizer, é algo distante, né?"

Sua mente, por um breve momento, voltou a Luke. Mas ele estava morto, e o peso daquela perda ainda doía em algum canto escondido de seu coração.

Ela forçou um sorriso.

"E você? Já casou alguma vez?"

 

Morpheus ergueu uma sobrancelha, um leve sorriso curvando seus lábios ao notar a curiosidade genuína nos olhos dela.

"Sim, eu me casei uma vez. E tive um filho."

 

"Sério?" Os olhos dela se arregalaram, e ela inclinou a cabeça.

com aquela expressão que ele achava adorável 

a surpresa misturada com uma inocência que o desarmava.

"Eu não imaginava."

 

Ele riu baixo, .

"Há muito sobre mim que você ainda não sabe, Briely."

Mas por dentro, sua mente estava em outro lugar.

Como conquistá-la?

Como fazer com que ela o visse da forma como ele a via?

Ele não suportaria um rejeição; a ideia o corroía como um veneno.

Era melhor, muito melhor, que ela se apaixonasse por ele antes que ele se declarasse, antes que ele a  pedisse em algo tão definitivo quanto um casamento.

Mas seus esforços até então pareciam vãos.

Mesmo agora, perguntando sobre filhos e casamento, ele não conseguiu uma resposta clara, não conseguiu sentir que ela o desejava da mesma forma.

Ele sabia que Ela o via apenas como um amigo, um protetor talvez, mas não como ele queria.

Ele queria que ela o amasse, que o quisesse com a mesma intensidade que ele sentia por ela.

Esse pensamento o atormentava, cavando um buraco em seu peito.

 

Antes que pudesse se afundar mais em seus próprios devaneios.

uma voz familiar soou atrás deles.

 

"Interessante... o Senhor dos Sonhos, sentado num parque, alimentando pombos. E com uma linda companhia. Isso é novo."

 

Morpheus ergueu os olhos imediatamente, reconhecendo a presença antes mesmo de vê-la.

Morte estava ali, os cabelos escuros caindo sobre os ombros, o sorriso sereno iluminado pela luz do sol que parecia envolvê-la.

Um colar prateado reluzia suavemente contra sua pele, o ankh pendurado como um lembrete de quem ela era.

Ela os cumprimentou com um aceno leve, o olhar dançando entre o irmão e a jovem ao lado dele.

Havia algo diferente em Morpheus, uma tensão silenciosa que ela percebeu, mas não comentou, apenas inclinando a cabeça com curiosidade para Briely.

 

"Veio me visitar, irmã?"

perguntou Morpheus, levantando-se lentamente, os últimos grãos caindo de sua mão enquanto os pombos se dispersavam.

 

"Vim trabalhar,"

respondeu Morte com um leve dar de ombros, enfiando as mãos nos bolsos de sua jaqueta preta.

Depois, inclinou a cabeça, o olhar fixo em Briely.

"E vocês? Querem me acompanhar? É um dia tranquilo, nada muito pesado."

 

Morpheus virou-se para Briely, gesticulando com a mão.

"Briely, esta é minha irmã, Morte. Morte, esta é Briely."

 

Briely sorriu timidamente, estendendo a mão.

"É um prazer conhecê-la. Ouvi falar de você pelo Morpheus."

 

Morte apertou a mão dela, o sorriso caloroso contrastando com a essência de sua natureza.

"O prazer é meu, querida. Você é a nova filha de Poseidon, não é?

Ouvi dizer que está com meu irmão."

 

"Sim," respondeu Briely, assentindo.

"Estou morando com Morpheus no Sonhar agora."

 

Morpheus olhou para Briely, a expressão neutra.

"Você quer acompanhar minha irmã?"

 

"Sim, claro," disse ela, curiosa sobre o trabalho da Morte, mesmo que houvesse um leve nervosismo em seu tom.

 

"Muito bem," respondeu Morpheus, guiando-a ao lado de sua irmã com um toque leve nas costas.

Sem pressa, eles deixaram o parque para trás, seguindo Morte pelas ruas da cidade.

 

Morte andava na frente, os passos leves e quase dançantes, como se carregasse uma melodia que apenas ela ouvia.

Morpheus e Briely a seguiam lado a lado, a mão dele ocasionalmente roçando a dela, um contato que ele buscava de forma quase inconsciente.

Morte olhou por cima do ombro e piscou para Briely, o gesto carregado de uma leveza que contrastava com sua essência.

"Vamos, o primeiro da lista não está longe."

 

Atravessaram algumas ruas até chegarem a um pequeno prédio antigo, o cheiro de tinta descascada e umidade impregnando o ar.

Subiram as escadas estreitas até um apartamento modesto, cada degrau rangendo sob seus pés.

Dentro, um homem idoso estava sentado numa poltrona, o olhar perdido na janela, uma xícara de chá frio esquecida ao seu lado.

Ele se virou quando sentiu algo, como se soubesse da chegada deles.

Morte se aproximou com um sorriso gentil, agachando-se ao seu lado.

 

"É hora, querido," disse ela suavemente, a voz como um sussurro reconfortante.

 

O homem apenas suspirou, um alívio sereno em seu rosto enrugado enquanto seus olhos encontravam os dela.

"Eu já sabia que vinha. Obrigado."

 

Briely, ao lado de Morpheus, observou em silêncio, os olhos arregalados.

Ela apertou a mão dele com força, quase sem perceber.

Não havia dor, apenas uma estranha paz, e a luz fraca da tarde que entrava pela janela parecia suavizar a cena.

Quando a alma do homem seguiu Morte por um breve instante antes de desaparecer, Briely se virou para Morpheus, a voz baixa.

"É... lindo e triste ao mesmo tempo."

 

"Assim é o ciclo," respondeu ele, apertando a mão dela de volta, o tom da voz carregado de uma solenidade antiga, mas seus olhos estavam nela, não na cena.

 

Eles seguiram para outros lugares: uma jovem em um hospital, pálida e frágil, que sorriu ao ver Morte como se reconhecesse uma velha amiga; e, por fim, uma casa onde Morte levou um bebê, segurando-o nos braços com uma ternura que partiu o coração de Briely.

Ela assistiu, os olhos marejados, enquanto pensava na dor da mãe daquele pequeno bebê.

Uma lágrima escapou, e Morpheus, notando imediatamente, puxou-a para mais perto, o braço envolvendo-a de forma protetora.

 

"Eu estou bem,"

murmurou ela, a voz embargada.

"Só estou pensando na mãe... como ela vai se sentir."

 

Ele passou a mão pelo rosto dela, enxugando a lágrima com o polegar.

Então, puxou a cabeça dela contra seu peito, impedindo-a de olhar mais.

" Você Não precisa ver isso," disse ele, a voz baixa, quase um sussurro.

Por dentro, porém, ele pensava em como ela era sensível, como ela  chorava com facilidade, como ela  tinha um coração tão bondoso.

Isso só o fazia amá-la mais.

Ele queria protegê-la de tudo, possuí-la de um jeito que ninguém mais poderia.

 

Morte os olhou pelo canto do olho, um leve sorriso curvando seus lábios ao ver o irmão tão estranhamente gentil com a garota.

Era algo que ela não comentaria, mas que guardaria na memória.

 

Em algum momento, enquanto esperavam em uma praça entre uma visita e outra, Morte se sentou em um banco e olhou para Briely com um interesse silencioso, brincando com uma folha seca entre os dedos.

"Você tem uma alma bonita," disse ela de repente, o tom casual, mas sincero.

"E um olhar curioso sobre o mundo. Isso é raro, querida."

 

Briely corou levemente, sentindo o calor subir ao rosto. "Obrigada," respondeu, sorrindo suavemente para Morte.

 

Morpheus, ao lado dela, assentiu.

"Ela tem mesmo uma alma linda," acrescentou, os olhos fixos nela com uma intensidade que a fez corar ainda mais.

 

"Cuide bem dela, irmão. Ela é uma jovem adorável,"

comentou Morte, sorrindo para ele enquanto se levantava, jogando a folha ao vento com um gesto leve.

 

Eles voltaram ao parque à medida que o sol começava a se inclinar, tingindo o céu com tons dourados e alaranjados, enquanto longas sombras se estendiam pelo gramado.

Morte parou, girou sobre os calcanhares e sorriu para os dois com aquela expressão calorosa que parecia suavizar até o semblante mais sério de Morpheus.

 

"Foi um bom dia," disse ela, com leveza, enquanto o vento agitava seus cabelos.

"Vocês são uma ótima companhia."

 

Ela olhou para o irmão com um toque de seriedade escondido no brilho dos olhos, cruzando os braços de forma casual.

"Não suma, Sonho. E você, Briely, se cuide, tá bom? Vocês dois."

 

Morpheus assentiu com a cabeça, e Morte continuou, olhando para Briely.

"Espero vê-la no próximo jantar de família, querida. Estarei te esperando."

 

Briely riu suavemente, sem perceber o duplo sentido nas palavras de Morte. Para ela, soava como um convite divertido e informal.

"Vou adorar ir," respondeu, inclinando a cabeça com um sorriso tímido.

 

Morpheus, no entanto, entendeu perfeitamente. Ele sorriu para a irmã, a expressão impassível, mas com um brilho de reconhecimento.

"Irei levá-la comigo no próximo jantar," disse ele, a voz firme.

 

Até breve, Bri,"

disse Morte, piscando para Briely antes de desaparecer entre os transeuntes, sumindo como um sopro de vento.

 

Por alguns segundos, o silêncio reinou entre eles. Morpheus continuou olhando o vazio onde a irmã estivera, o rosto impassível, mas com um brilho de reflexão em seus olhos.

Sua irmã o conhecia bem demais.

Ela aprovava Briely, aceitava-a na família deles de uma forma que ele não esperava, mas que o enchia de uma satisfação profunda.

Só faltava Briely.

Isso seria só uma questão de tempo, ele se convencia disso.

Ele a teria.

E ela o amaria não importava quanto tempo levasse.

Virando-se para ela, segurou sua mão com firmeza.

 

"Vamos," disse ele, começando a andar.

Em sua mente ele pensava.

Em breve.

Ela seria dele, ela o amaria como ele a amava.

e nada nem ninguém, o impediria de alcançar isso.

Chapter 7

Notes:

Capítulo editado;)

(See the end of the chapter for more notes.)

Chapter Text

    

 

 

Quando eles saíram do parque, já era tarde. O crepúsculo havia dado lugar a um céu de tons profundos, e as luzes da cidade começavam a brilhar.

Morpheus caminhava ao lado de Briely, sua mão envolvendo a dela.

com uma naturalidade que escondia a intensidade de sua obsessão.

Ele não soltava, não queria soltar.

Cada toque, por mais casual que parecesse, era uma reivindicação silenciosa.

 

"Vamos a um lugar," disse ele, 

"Quero que conheça um velho amigo meu."

 

Briely ergueu as sobrancelhas, um sorriso curioso nos lábios.

"Velho amigo? Quem é? Você não tem muitos."

 

Ele lançou-lhe um olhar de canto, um traço de humor  dançando em seus lábios.

"Poucos. Este é um dos mais antigos."

 

Eles caminharam por algumas ruas, o silêncio entre eles confortável para ela, mas carregado de pensamentos para ele.

Chegaram a uma taberna antiga, com paredes de tijolos escuros e claramente abandonada.

Morpheus parou diante da porta e a empurrou, apenas para encontrá-la trancada. Briely riu baixinho, o som leve cortando o ar.

 

"Esqueceu que o mundo muda, Morpheus?"

 

Ele inclinou a cabeça, sua expressão impassível

"Alguns lugares deveriam permanecer eternos."

Virou-se para ela, apontando para a rua com um gesto elegante.

"Venha, ele deve estar em outro lugar."

 

Seguiram até uma pequena cafeteria moderna e iluminada, o aroma de café fresco impregnando o ar.

Lá dentro, em uma das mesas, um homem de aparência comum, mas com um olhar caloroso e curiosamente atemporal, os cumprimentou.

Hob Gadling,

imortal por escolha de Morte e, indiretamente, por interesse de Morpheus.

 

"Você está atrasado, Sonho," disse Hob, o tom brincalhão.

"Cem anos e alguns minutos... estou surpreso.

E dessa vez você trouxe companhia. Olá, senhorita."

 

Morpheus sentou-se com sua habitual postura rígida, mas elegante, enquanto Briely se acomodava ao lado dele.

"Acho que te devo desculpas," disse Morpheus, ."Sempre ouvi dizer que não é educado deixar um amigo esperando."

Ele gesticulou levemente.

"Hob, esta é Briely. Briely, este é Hob Gadling."

 

Hob a cumprimentou com um aperto de mão firme, um sorriso genuíno no rosto.

"Então, você é o Hob? Morpheus já me falou sobre você. É um prazer conhecê-lo,"

disse ela, sorrindo.

 

"Igualmente," respondeu Hob, recostando-se na cadeira, os olhos brilhando com curiosidade.

"Estou um pouco surpreso por Morpheus trazer companhia."

Ele notou o olhar de Morpheus sobre Briely, um olhar que ele, com todos os seus séculos de vida, reconheceria em qualquer lugar: apaixonado, possessivo.

"Você é realmente imortal?" perguntou ela, inclinando-se para frente, os olhos cheios de perguntas.

 

Hob riu, um som rouco e genuíno.

"Sim, vivi mais do que deveria, digamos assim."

 

Ela continuou, incapaz de conter sua curiosidade.

"Você também viu guerras, reis e reinos caírem? Como é viver tanto tempo sem cansar?"

 

Hob respondeu com humor, claramente divertido com a enxurrada de perguntas.

"Oh, eu vi de tudo um pouco. Guerras, sim. Reis, sim. E quanto a cansar...

bem, há dias que pesam mais que outros, mas a vida tem seus encantos.

Você aprende a encontrar novos motivos pra continuar."

 

Morpheus os observava, uma mão apoiada sobre a mesa, a outra repousando discretamente sobre a de Briely, os dedos entrelaçados como se fosse a coisa mais natural do mundo.

Hob notou, é claro, e um brilho de entendimento cruzou seus olhos.

Quando Briely se levantou para ir ao banheiro, deixando-os sozinhos por um momento.

Hob não perdeu tempo.

 

"Então, como você conheceu essa  adorável moça?"

perguntou, inclinando-se para frente, a curiosidade evidente.

 

Morpheus olhou para a mesa, os olhos fixos em um ponto inexistente.

"Ela é uma convidada minha no Sonhar. E, como você, ela é... singular."

 

"E vocês dois..."

Hob ergueu uma sobrancelha, um sorriso malicioso nos lábios.

"Nunca te vi assim, amigo. Pelo jeito que olha pra ela, qualquer idiota saberia que está apaixonado.

Não me diga que ainda não aconteceu nada entre vocês."

 

"Não," respondeu Morpheus.

"Não ainda. Mas isso mudará em breve."

 

Hob riu baixo, balançando a cabeça.

"Eu sabia. Você a ama. Nunca imaginei que veria o Senhor dos Sonhos rendido.”

"Escute, não perca tempo.

Diga a ela o que sente. A vida é curta,  não pra alguém como você.

Mais pra ela,Se você esperar demais, alguém pode chegar antes.”

“Ou pior, algo pode acontecer, e você nunca terá a chance.

Seja arrojado, meu amigo. Conquiste-a, peça-a em casamento, em namoro se for isso que quer.”

“Não deixe o orgulho ou a hesitação te pararem.

Mulheres como ela não aparecem todo dia, nem mesmo em séculos."

 

As palavras de Hob, destinadas a encorajar, tiveram um efeito mais profundo e sombrio em Morpheus.

Ele não precisava de incentivo para sentir a urgência; ele  já sentia.

Mas o conselho do amigo apenas atiçou sua obsessão.

 inflamando a ideia de que ele precisava agir rápido, precisava torná-la sua antes que qualquer coisa ou qualquer um pudesse intervir.

Casamento, sim.

Ele a queria como esposa, como sua, de forma irrevocável.

O pensamento pulsava em sua mente, uma determinação fria e absoluta.

Ele sabia que não poderia se conter por muito mais tempo.

 

A conversa continuou, mas Morpheus estava parcialmente ausente, perdido em planos, até que Briely voltou.

Ela se sentou ao lado dele, o cheiro suave de seu perfume invadindo os sentidos dele de uma forma que ele não conseguia ignorar.

 

Hob sorriu para ela.

"Não quer comer algo? Aqui tem um café delicioso e alguns bolos que você pode gostar."

 

"Ah, sim, por que não?" respondeu ela, escolhendo um bolo de chocolate da vitrine. Enquanto mordia um pedaço, a conversa fluiu entre os três, com Hob contando histórias de tempos antigos e Briely fazendo mais perguntas, encantada com cada detalhe.

Morpheus, por sua vez, falava pouco, mas seus olhos raramente deixavam Briely, absorvendo cada gesto, cada sorriso, cada palavra.

 

Quando saíram da cafeteria, a noite já havia caído sobre a cidade.

As luzes dos postes lançavam um brilho amarelado sobre a calçada molhada pela chuva fina que caíra mais cedo.

O ar tinha aquele cheiro fresco de terra e café, e Briely caminhava entre os dois homens, ainda encantada com as histórias que ouvira.

 

Hob, de mãos nos bolsos e um sorriso nos lábios, olhou para ela com curiosidade.

"Você me fez mais perguntas em uma hora do que muitos em uma vida inteira," comentou, divertido.

 

Briely riu, balançando os ombros.

"Não é todo dia que se conhece alguém que já viu séculos de história acontecendo. Eu Tive que aproveitar."

 

Morpheus caminhava ao lado dela, atento a cada palavra, cada movimento. Hob, vendo a forma como o Senhor do Sonhar mantinha os olhos sobre Briely, não resistiu a provocar.

"E você..."

Hob parou por um instante, olhando para Morpheus com um ar malicioso.

"Diga a ela logo, antes que alguém faça isso na sua frente e você se arrependa."

 

Morpheus apenas ergueu uma sobrancelha, o rosto impassível, mas por dentro, o comentário de Hob ecoava como um desafio.

Briely olhou para ele, franzindo o cenho, sem entender.

"De quem ele está falando? Você quer me dizer algo?"

 

Morpheus não respondeu de imediato, seus olhos encontrando os dela por um segundo antes de desviarem.

Hob, percebendo que talvez tivesse ido longe demais, deixou o assunto morrer ali.

Voltou-se para Briely com um tom mais leve.

"Cuide-se, senhorita. Viver é um presente, mas também um peso às vezes.

Tenho uma estranha sensação de que seu caminho não será leve."

 

Briely arqueou as sobrancelhas, surpresa com a seriedade repentina, mas sorriu.

"Eu me viro bem."

 

Morpheus interveio, a voz firme, quase possessiva.

"Ela vai ficar bem. Eu a tenho comigo. Não precisa se preocupar com ela."

 

Chegaram a uma esquina, onde as luzes eram mais fracas e as pessoas menos numerosas. Morpheus parou, fitando Hob com seu olhar penetrante.

"Até a próxima vez, velho amigo."

 

Hob apertou a mão de Morpheus e olhou para Briely com um sorriso gentil.

"Espero ver você novamente, Briely, com Morpheus. Mas, se não... bem, aproveite cada segundo."

 

Com um último aceno, Hob seguiu seu caminho, desaparecendo na multidão da cidade.

 

Ficaram apenas Briely e Morpheus. Ela olhou para ele, os olhos brilhando sob a luz fraca dos postes.

"Hob é interessante."

 

"Fico feliz que se deram bem,"

respondeu ele, a voz grave, mas com um tom de satisfação que escondia a tempestade de pensamentos em sua mente.

Ele segurou a mão dela, o toque frio e firme entrelaçando seus dedos, como se precisasse daquele contato para se ancorar.

O desejo, a obsessão, queimava dentro dele. Ele não podia esperar muito mais.

Hob estava certo  ele não podia arriscar perdê-la.

Ela seria sua, de qualquer forma.

 

"Vamos voltar pro Sonhar?" perguntou ele, os olhos fixos nos dela, um brilho quase predatório neles.

 

"Vamos," disse ela, e naquele instante o mundo à volta pareceu dissolver-se, a noite da cidade escorrendo como tinta até dar lugar ao céu estrelado do Sonhar.

Mas, enquanto atravessavam de volta para seu reino, Morpheus sabia:

sua paciência estava se esgotando.

Ele a queria, precisava dela, e faria o que fosse necessário para que ela entendesse que pertencia a ele, apenas a ele, para sempre.

 


 

 

 

 

 

 

 

O Sonhar os recebeu com o céu já escurecido, cravejado de estrelas .

Morpheus guiou Briely para uma praia de areias prateadas, uma das muitas paisagens oníricas de seu reino.

Ele segurava a mão dela enquanto caminhavam, seus passos sincronizados, até que chegaram à margem da água, o som das ondas preenchendo o silêncio da noite.

 

Ele parou, virando-se para ela.

"Gostou do dia?" perguntou.

 

Briely sorriu, os olhos brilhando com entusiasmo.

"Gostei bastante. Foi incrível conhecer Hob, ouvir todas aquelas histórias... e a cafeteria, o cheiro do café. Tudo. Foi um dia perfeito."

 

Ele assentiu, um leve traço de satisfação em seus lábios, enquanto a observava falar animadamente.

"E a Morte, minha irmã, O que achou dela ?"

 

Ela riu, caminhando ao lado dele enquanto as ondas lambiam a areia perto de seus pés.

"Ela é... surpreendente. Gentil de um jeito que eu não esperava.

E Hob, meu Deus, ele é como um livro de história ambulante. Como você consegue ter  um amigo tão interessantes?"

 

Morpheus inclinou a cabeça, um meio sorriso brincando em seus lábios.

" fico feliz que tenha gostado de conhecê-lo." Ele fez uma pausa, apontando para a areia. "Vamos nos sentar?"

 

Ela concordou, sentando-se na areia fria e macia ao lado dele, os olhos fixos na água que refletia o brilho do céu estrelado.

Por um momento, ficaram em silêncio, apenas o som das ondas e o vento suave os envolvendo. Morpheus quebrou o silêncio, sua voz grave cortando o ar como uma lâmina.

 

"Você gosta de morar aqui  comigo no Sonhar?"

 

Briely virou o rosto para ele, surpresa com a pergunta, mas respondeu com um sorriso genuíno.

"Gosto. Muito. É lindo aqui, de um jeito que às vezes parece impossível.

E todos são gentis comigo. Principalmente a Lucienne eo Matthew"

 

Por dentro, Morpheus sentiu uma onda de alívio e prazer.

Seu reino, sua criação, era algo que ele valorizava profundamente, e saber que ela se sentia em casa ali o enchia de uma satisfação quase palpável.

Ele inclinou a cabeça, os olhos fixos nela. "Fico feliz que se dê bem com todos.

É importante para mim que você se sinta... acolhida."

 

Ela sorriu, brincando com a areia entre os dedos.

"Eu me sinto. Mais do que em qualquer lugar que já estive."

 

Ele fez uma pausa, o coração  ou o que equivalia a isso em sua essência  batendo com uma intensidade que ele raramente experimentava.

Seus olhos brilharam com antecipação, como se a próxima pergunta fosse carregar o peso de mil séculos.

"E...  Você gosta de mim?"

 

Briely congelou por um instante, surpresa com a pergunta direta.

Ela olhou para ele, encontrando aquele olhar dele intenso, fixo nela.

O peso daquele momento parecia esmagador, como se sua resposta pudesse mudar tudo.

Então, ela sorriu, um pouco tímida, mas sincera.

"É claro que gosto de você, Morpheus. Por que não gostaria?"

 

Ele a puxou para um abraço repentino, os braços envolvendo-a com uma firmeza que quase a pegou desprevenida.

Seu rosto estava perto do dela, a voz rouca quando falou.

"Eu te amo, Briely. Amo muito."

 

Ela piscou, processando as palavras, e uma risada leve escapou de seus lábios enquanto ela retribuía o abraço.

pensando que ele falava de um amor fraternal, de amizade profunda.

"Eu também me preocupo muito com você, sabia? Você é importante pra mim."

 

Mas para Morpheus, aquelas palavras não eram de amizade.

Eram um eco do que ele sentia, mesmo que ela não entendesse ainda.

Ele a segurou com mais força por um momento, antes de repetir, a voz carregada de emoção crua.

"Eu te amo muito mesmo. E me preocupo com você... mais do que posso expressar."

 

Ela sorriu contra o ombro dele.

"Também me preocupo com você. Muito."

 

Dentro de sua mente, os pensamentos de Morpheus giravam em um turbilhão.

Ela gosta de mim.

Isso é suficiente.

Ela pode me amar com o tempo.

Mas ele sabia, no fundo, que não podia esperar mais.

Não queria esperar mais.

Ele inclinou a cabeça, repousando-a no pescoço dela, sentindo o calor de sua pele, o cheiro suave que o intoxicava.

Cada respiração dela era um lembrete de sua necessidade, de seu desejo.

Não, ele não podia esperar. Não mais.

 

"Morpheus, tá tudo bem?"

A voz dela o trouxe de volta, cheia de preocupação, enquanto ela sentia a tensão nele.

 

Ele a soltou relutantemente.

embora cada fibra de sua essência gritasse para mantê-la ali, contra ele.

"Sim. Estou bem,"

murmurou, a voz controlada, mas com um tom que traía a tempestade dentro dele.

 

Briely se levantou depois de um tempo, caminhando até a margem da água, os pés descalços sendo lambidos pelas ondas.

Ele a observou em silêncio, os olhos seguindo cada movimento dela.

Ela se abaixou, tocando a água com as mãos, o vestido se molhando no processo, mas ela não parecia se importar.

Enquanto brincava com a água, ela estava perdida em seus pensamentos sobre o que ele havia dito, sentia o peso do olhar dele nas costas, um calor que parecia atravessar sua pele.

 

Usando seus poderes pra se distrair, ela criou pequenos peixinhos de água, moldando-os com gestos delicados.

Eles nadavam e giravam alegremente sobre a superfície, brilhando sob a luz das estrelas. Morpheus se aproximou, parando ao lado dela, os olhos fixos nas criações dela.

 

"Isso é incrível,"

murmurou ele, um sorriso genuíno, cruzando seus lábios.

 

Ela riu, encolhendo os ombros.

"É algo que eu fazia em casa. No começo, era horrível nisso."

 

Ele se agachou ao lado dela, os olhos ainda nas pequenas formas aquáticas antes de se voltarem para ela.

"Você tem um talento raro. Até o mais simples dos seus gestos carrega beleza." Sua voz era baixa.

quase um sussurro, carregada de uma intenção que ela não captou.

 

Ela sorriu, sem perceber o flerte estranho, e tentou moldar outras formas, estrelas, conchas, pequenas ondas que dançavam na palma de sua mão.

"Olha isso. Consegui fazer uma concha direitinho. Tá vendo os detalhes?"

 

Ele observou.

mas seus olhos logo voltaram para o rosto dela, iluminado pelo brilho da água e das estrelas.

"Perfeito," disse ele.

mas não estava falando da concha.

"Você ilumina qualquer escuridão, Briely. Até a minha."

 

Ela riu, balançando a cabeça.

"Você é dramático, sabia? Mas acho fofo."

Ela moldou um pequeno orbe de água e, com um gesto brincalhão, jogou na direção dele, molhando levemente seu peito.

 

Morpheus ergueu uma sobrancelha, mas um sorriso raro e genuíno surgiu em seu rosto.

Briely riu alto e logo correu em direção à água, tentando escapar, mas ele foi mais rápido.

Em um movimento fluido, ele a pegou no meio do caminho, girando-a no ar enquanto ela ria sem parar.

 

"Não é justo! Você nem me deu tempo pra correr!"

exclamou ela, ofegante de tanto rir, enquanto ele a mantinha nos braços.

 

"Foi você quem começou, me molhando,"

retrucou ele, a voz carregada de um tom brincalhão que raramente usava.

 

Ela revirou os olhos, ainda rindo. "Foi só um respingo! O Senhor dos Sonhos não aguenta um respingo de água?"

 

Ele a olhou nos olhos.

um brilho malicioso neles.

"Você pode me molhar quando quiser. Não me importo, desde que seja você."

 

Ela riu ainda mais, achando a fala brega, e balançou a cabeça.

"Nossa, Morpheus, que cafona!"

 

Ele inclinou a cabeça, um leve sorriso nos lábios.

"Se ser cafona te faz rir assim, então aceito o título com prazer."

 

Antes que pudessem continuar, um som de asas cortou o ar, e Matthew, o corvo, pousou na areia perto deles.

Morpheus soltou Briely com relutância, seus olhos se estreitando enquanto encarava o corvo.

 

"Então, é aí que vocês estavam," disse Matthew, sua voz rouca carregada de um tom casual. "Lucienne tá te procurando, chefe."

 

Briely sorriu, cumprimentando o corvo.

"Oi, Matthew. Como tá?"

 

"Melhor agora que te vejo, garota,"

respondeu o corvo, inclinando a cabeça.

"E aí, como foi o rolê no mundo desperto? Ouvi dizer que teve encontro com gente importante."

 

Ela riu, sentando-se na areia enquanto contava.

"Foi incrível. Conheci a Morte, irmã do Morpheus. E um amigo dele, Hob, que é tipo... imortal.

Passamos o dia conversando, tomando café. Foi ótimo."

 

Morpheus os observava em silêncio, seus olhos fixos em Briely enquanto ela interagia com Matthew.

A decisão já estava formada em sua mente, sólida como as fundações de seu reino.

Ele a pediria em casamento.

Faria as coisas do jeito certo, ou pelo menos do jeito que achava que deveria ser feito.

Primeiro, ele buscaria a bênção de Poseidon, o pai dela. Se Poseidon aceitasse, ótimo.

Seria mais fácil convencer Briely.

Ele tinha certeza de que Poseidon poderia pressioná-la a aceitar, se necessário.

Mas, se Poseidon recusasse...

bem, Morpheus não precisava realmente de sua bênção.

Ele faria as coisas do seu jeito, de qualquer forma.

 

Ele se declararia para ela após a resposta da carta de  Poseidon chegar.

E dependendo do que fosse dito, as coisas poderiam mudar.

Mas uma coisa era certa: ele não esperaria mais.

Ela seria sua, de um jeito ou de outro.

Notes:

As coisas vão ficar muito sombrias no próximo capítulo

Chapter 8

Notes:

Capítulo editado;)

Chapter Text

   

 

 

 

O castelo no Sonhar erguia-se majestoso sob o céu noturno, suas torres de ébano refletindo a luz pálida de uma lua onírica.

Morpheus e Briely entraram no salão principal, onde Lucienne os aguardava, seus óculos repousando na ponta do nariz enquanto segurava um maço de pergaminhos.

Seu olhar perspicaz caiu sobre Briely, notando as pontas do vestido molhadas e salpicadas de areia.

Eles devem ter estado na praia, pensou ela, mas manteve a expressão neutra.

 

"Concluí o censo que você pediu mestre," começou Lucienne, dirigindo-se a Morpheus com sua habitual precisão, enquanto ajustava o pergaminhos em suas mãos.

"Há 11.062 moradores registrados no Sonhar."

 

Morpheus assentiu, o rosto impassível, mas atento. "E quanto aos Arcanos?" perguntou, a voz  ecoando pelo salão.

 

Lucienne respirou fundo, hesitando por apenas um instante antes de responder.

"Gault, Corintio e o Verde Violinista desapareceram."

Seus olhos encontraram os dele, firmes, sabendo o peso que aquelas palavras carregavam.

"E há rumores entre as criaturas sobre um vórtice. Pode estar surgindo novamente."

 

Morpheus franziu a testa, uma sombra cruzando seu rosto, mas sua postura permaneceu inabalável.

"É real," afirmou ele, a voz carregada de uma certeza.

"Este é o primeiro vórtice desta era."

 

Enquanto Morpheus refletia sobre as implicações de um vórtice uma força capaz de desestabilizar não apenas o Sonhar, mas o próprio tecido da realidade.

Matthew se aproximou, suas asas batendo levemente antes de pousar no ombro de uma estátua próxima. 

"Senhor, posso vigiar o vórtice no mundo desperto,"

ofereceu-se, a voz determinada.

"Assim teremos controle e notaremos qualquer alteração antes que se torne um problema."

 

Morpheus permaneceu em silêncio por um momento, os olhos distantes, antes de responder.

"Muito bem. Faça isso. Mas mantenha contato constante. Ao menor sinal de instabilidade, me avise imediatamente."

 

Briely, que até então ouvia em silêncio, inclinou a cabeça, a curiosidade brilhando em seus olhos.

"Um vórtice? O que é isso?"

 

Morpheus virou-se para ela, o olhar suavizando por uma fração de segundo.

"Não é algo com que você precise se preocupar, Briely."

 

Ela abriu a boca para insistir, mas decidiu. Não insistir, apenas assentiu levemente, confiando que, se fosse importante, ele lhe contaria no momento certo.

 

"Tenho trabalho a fazer,"

disse Morpheus. Ele se aproximou, inclinando-se para depositar um beijo suave na testa de Briely.

um gesto inesperado prós presentes ali, na frente de Lucienne e Matthew.

 

Matthew soltou um coaxar baixo, quase como uma risada abafada, enquanto Lucienne apertou o livro em suas mãos com um pouco mais de força, seus pensamentos girando rapidamente.

Mestre... ultimamente ele nem se preocupa mais em demonstrar carinho por ela na frente de ninguém. E esse olhar... ele está tramando algo. Conheço esse brilho nos olhos dele. Não é nada bom.

Mas ela nada disse, mantendo sua compostura impecável.

 

Morpheus se retirou sem mais palavras,  enquanto desaparecia por um dos corredores do castelo.

O silêncio que ficou foi pesado por um instante, até que Matthew quebrou a tensão.

 

"Bom, eu vou indo. Tenho um vórtice pra vigiar, né?"

disse o corvo, batendo as asas e voando para fora do salão, deixando uma brisa leve em seu rastro.

 

Lucienne ajustou os óculos, voltando-se para Briely com um leve sorriso.

"Vou retornar à biblioteca. Há muito a organizar ainda. Boa noite, senhorita."

 

Briely retribuiu o sorriso,"Boa noite, Lucienne. Vou trocar de roupa e dormir um pouco. Estou exausta."

 

"Descanse bem senhorita,"

respondeu Lucienne, antes de se virar e seguir em direção aos corredores que levavam à vasta biblioteca do Sonhar.

 

Briely ficou sozinha no salão por um momento. Com um suspiro, ela seguiu para seus aposentos, o som de seus passos ecoando suavemente nas paredes.

 


 

 

 

 

 

Morpheus atravessou os corredores do castelo com passos firmes,  A conversa com Lucienne e Matthew ainda ecoava em sua mente, o vórtice.

uma força primordial e descontrolada que poderia despedaçar o equilíbrio delicado entre o Sonhar e o mundo desperto  pressionando seus pensamentos como uma tempestade distante.

Mas havia algo mais, algo que, mesmo em meio ao caos iminente, ocupava sua consciência Briely.

 

Ele entrou em seu escritório, A mesa no centro, refletindo a luz fraca de um candelabro que nunca se extinguia.

Sobre ela, repousava uma pena de corvo e um frasco de tinta Morpheus sentou-se, os dedos  pairando sobre a pena por um momento antes de pegá-la com determinação.

 

Ele começou a escrever, as palavras fluindo em uma caligrafia elegante e firme, direcionadas a Poseidon,  pai de Briely naquele universo ele era uma versão do pai dela original.

Cada traço da pena parecia carregado com  uma certeza inabalável enquanto ele escrevia.

 

 

 

---

 

Ao  Poseidon, Senhor dos Mares.

 

Escrevo com o mais profundo respeito e a mais sincera intenção, e venho humildemente solicitar a mão de sua filha, Briely, em matrimônio. Meu coração,  encontrou nela uma luz que não posso ignorar. Amo-a com uma devoção que transcende os limites de meu domínio, e desejo tomá-la como minha esposa, para protegê-la, honrá-la e compartilhar com ela as eras que ainda hão de vir.

 

E por isso peço sua bênção como pai dela. Estou plenamente consciente da gravidade de tal pedido e da união entre nos, o que este casamento pode representar. Prometo que, sob minha guarda, ela será tratada com a dignidade e o carinho que merece, e que jamais permitirá que mal algum a alcance enquanto eu existir.

 

Aguardo sua resposta com  esperança, confiando que considere este pedido com a sabedoria que lhe é característica.

 

Atenciosamente,  

Morpheus, Senhor dos sonhos.

 

---

 

 

 

 

 

 

Morpheus releu a carta uma vez, os olhos estreitados, garantindo que cada palavra carregasse o peso de sua intenção.

Satisfeito, ele dobrou o pergaminho com cuidado, selando-o com um selo de cera. Erguendo a mão, ele invocou um redemoinho de areia dourada, os grãos dançando ao redor do pergaminho até que ele desapareceu de sua palma, enviado através dos planos para  o reino de Poseidon.

 

O silêncio retornou ao escritório, mas Morpheus não encontrou paz.

Ele recostou-se na cadeira por um momento, os olhos fixos no candelabro, a mente girando.

em seus pensamentos, a resposta de Poseidon que o deixava inquieto.

 

Horas se passaram, ou o que pareciam horas no tempo maleável do Sonhar.

Morpheus não conseguia se concentrar em mais nada.

os pergaminhos de Lucienne, os relatórios de sonhos descontrolados.

tudo parecia trivial diante da incerteza que o consumia.

enquanto deixava o escritório e seguia para a Sala do Trono.

 

Morpheus tomou seu lugar, sentando-se com a postura régia, mas havia uma tensão em seus ombros, uma inquietude que não combinava com sua figura imponente.

Em suas mãos, ele segurava um livro antigo, um tomo de contos oníricos que deveria revisitar, mas seus olhos deslizavam pelas páginas sem realmente enxergar as palavras.

Sua mente estava em outro lugar , onde sua carta poderia estar sendo lida por Poseidon.

 

 

 

 

no quarto de Briely, onde ela descansava, ela estava  alheia aos planos que ele traçava para o futuro de ambos.

 

 

 

 

 

De tempos em tempos, ele virava uma página, o som ecoando no silêncio da sala.

mas era evidente que não estava prestando atenção.

Um suspiro quase imperceptível escapou de seus lábios, algo que poucos, talvez apenas Lucienne ou Matthew, reconheceriam como um raro sinal de impaciência.

Ele fechou o livro com um movimento brusco, colocando-o ao lado no braço do trono, e recostou-se, os olhos fixos no teto abobadado da sala.

Sua mão tamborilava levemente no braço do trono, um gesto humano demais para o Rei dos Sonhos.

 

A noite no Sonhar se estendia, e Morpheus permaneceu ali, envolto em seus pensamentos.

Ele sabia que a resposta de Poseidon não tardaria, mas, até lá, ele aguardaria.

 

 


 

 

 

 

 

 

 

No  reino submarino, Poseidon, Senhor dos Mares, estava em seu salão de coral e pérola.

O tridente repousava ao seu lado,  enquanto uma brisa de areia dourada se materializou diante dele, depositando o pergaminho selado de Morpheus em suas mãos.

Ele rompeu o selo com um movimento brusco, os olhos estreitando-se enquanto lia as palavras cuidadosamente redigidas pelo Senhor dos Sonhos.

 

Cada linha da carta confirmava o que Poseidon já suspeitava.

 

Ele desconfiou  que Morpheus nutria algo por Briely  havia sentido, naquela única noite em que a conhecera durante o jantar, uma tensão no ar, o brilho nos olhos do Perpétuo que não podia ser ignorado enquanto a sua filha interagia com o Apolo.

Mas ler a confissão de amor e o pedido formal pela mão de sua filha trouxe uma onda de preocupação que agitou as águas ao seu redor.

Briely, sua um única filha embora com a aparência e a mente de uma adulta, era ainda uma criança em essência , ela tinha  apenas três meses de existência.

Como deus, Poseidon entendia a rapidez com que seres como eles amadureciam, apesar da sua filha ser meia humana mas isso não diminuía sua inquietude.

 

Ele segurou o pergaminho com mais força, as ondas de seu salão ecoando sua agitação interna.

Eu Deveria ter insistido mais  para que ela viesse morar comigo.

 pensou, recordando o jantar em que a conheceu.

Naquela noite, quando ele perguntou pra ela o relacionamento entre ela eo senhor dos sonhos Briely expressou que não via Morpheus como um interesse romântico.

e era  isso que  o preocupava agora  profundamente.

O que um Perpétuo como Morpheus poderia fazer diante de sentimentos não correspondidos.

Poseidon sabia que, apesar de ser um deus, sua força pouco significava contra um ser como Morpheus os Perpétuos estavam acima das leis dos deuses, governados apenas por suas próprias naturezas implacáveis.

Um Perpétuo apaixonado era uma força imprevisível, e isso o enchia de temor por sua filha.

 

Ele se levantou, o pensamento voltando à pulseira que deu a Briely naquela mesma noite do jantar.

um presente que permitiria que ela se teletransportasse diretamente até ele, bastando que ela quebrasse a concha e pensasse nele.

 

 

Agora, ele só podia esperar que ela a usasse caso algo acontecesse.

 

 

 Por favor Use-a, minha filha, se precisar  de ajuda. Darei um jeito de ajudá-la, custe o que custar, pensou, com o  rosto endurecido.

 

Sentando-se novamente, Poseidon pegou um pergaminho de alga prensada e uma pena feita de espinha de peixe, começando a redigir sua resposta a Morpheus.

Sua mão tremia levemente,com medo do que a sua resposta poderia causar a sua única filha.

 

---

 

 

 

Ao Estimado Morpheus, Senhor do Sonhar e Rei dos Sonhos,

 

Recebi sua missiva e considerei cuidadosamente sua proposta de matrimônio com minha única filha, Briely.

Com todo o respeito que lhe é devido como um dos Perpétuos, e reconhecendo a profundidade de seus sentimentos conforme expressados, devo educadamente declinar seu pedido.

Briely, apesar de sua aparência e maturidade aparente, é ainda jovem em essência, com apenas alguns meses de existência.

Como seu pai, não posso aprovar um casamento neste momento, pois acredito que ela precisa de mais tempo para compreender plenamente o mundo e seu lugar nele.

 

Além disso, julgo que seria melhor para Briely passar um tempo em meu reino, sob minha proteção e orientação.

Vou buscá-la em breve no Sonhar, para que possamos nos conhecer melhor como família e para que ela tenha o espaço necessário para crescer sem pressões adicionais.

Acredito que isso será o melhor para todos os envolvidos.

 

Aguardo sua compreensão e espero que esta decisão não cause atritos entre nós. 

 

Com respeito,  

Poseidon, Senhor dos Mares e Guardião das Profundezas

 

---

 

 

 

 

Poseidon releu a carta, certificando-se de que seu tom era firme, mas diplomático.

 sabia que desafiar um Perpétuo diretamente poderia ter consequências desastrosas.

Ele selou o pergaminho com um selo de cera azul-marinho, adornado com o símbolo de um tridente, e invocou uma corrente de água para carregá-lo de volta ao Sonhar.

onde Morpheus o receberia.

Enquanto a carta desaparecia nas ondas, Poseidon recostou-se em seu trono, os olhos fixos no vazio abissal de seu salão, a mente fervilhando com planos e preocupações.

Ele faria o que fosse necessário ao seu alcance para proteger sua única filha, mesmo que isso significasse enfrentar.

um Perpétuo apaixonado.

 


 

 

 

 

O salão do trono do Sonhar estava envolto em um silêncio opressivo.

Morpheus, sentado em seu trono, parecia uma estátua viva, os olhos fixos em um ponto distante.

a mente ainda girando com pensamentos sobre a resposta do Poseidon.

A inquietude que o consumia desde o envio da carta a Poseidon era quase palpável, uma tensão que parecia carregar o ar ao seu redor com eletricidade sombria.

 

Lucienne entrou na sala, seus passos ecoando suavemente no chão polido.

Em suas mãos, ela carregava um pergaminho selado com cera azul-marinho, o símbolo de um tridente gravado nele como uma marca inconfundível do reino dos mares.

Seu rosto, sempre controlado e profissional, mostrou um leve traço de preocupação ao se aproximar do Senhor do Sonhar.

 

“Meu senhor,” disse ela, a voz calma, mas com uma nota de cautela, inclinando-se levemente ao entregar o pergaminho.

 

 

Uma mensagem do Senhor dos Mares, Poseidon.”

 

 

Morpheus ergueu os olhos para ela, o brilho em suas íris negras quase apagado, como um céu noturno sem estrelas.

Ele pegou a carta com um movimento lento, mas suas mãos traíam uma tensão contida, os dedos  apertando o selo antes de romper-lo com um estalo seco.

Lucienne recuou um passo, observando em silêncio enquanto ele desdobrava e começava a ler.

 

A cada linha que seus olhos percorriam, a aura ao redor dele parecia se intensificar, tornando-se mais densa, mais sufocante.

As sombras nas paredes pareceram se contorcer, como se alimentadas por uma emoção que ele raramente deixava transparecer.

 

Quando terminou de ler, o rosto de Morpheus estava transformado.

Seus olhos, agora totalmente negros, pareciam engolir a luz ao redor, e uma carranca profunda marcava sua expressão, algo que Lucienne raramente via.

Ele amassou o pergaminho em sua mão com uma força que fez o papel quase se desfazer, os nós dos dedos embranquecendo.

Uma energia sombria pulsava dele, fazendo o ar no salão parecer mais frio, mais pesado.

 

Como ele ousa me negar?

 

rosnou Morpheus, sua voz baixa, mas carregada de uma fúria contida que reverberava como um trovão distante.

E ainda por cima dizer que vai levá-la embora dos meus domínios?”

 

Lucienne engoliu em seco, seu instinto de preservação lutando contra sua preocupação genuína.

Ela sabia que algo estava errado, profundamente errado.

 mas também sabia o quão perigoso era desafiar o Senhor do Sonhar quando ele estava nesse estado.

Ainda assim, sua lealdade tanto a ele quanto ao equilíbrio do reino a fez falar.

 

“Meu senhor, está tudo bem?”

perguntou, sua voz hesitante, os olhos fixos na figura imponente diante dela.

 

Morpheus virou-se para ela, o olhar tão penetrante que parecia atravessar sua alma.

Por um momento, o silêncio entre eles foi quase tangível, um abismo de tensão.

Poseidon negou meu pedido,” disse ele finalmente.

 

Lucienne franziu a testa, a preocupação agora evidente em sua expressão.

“Que pedido, meu senhor? Posso saber?”

 

Ele a encarou por mais um longo momento antes de responder, a voz firme, mas carregada de uma emoção que ela não conseguia decifrar completamente.

Meu pedido pela mão de sua filha em casamento.”

 

Lucienne sentiu um peso cair sobre ela, como se o próprio castelo tivesse tremido por um instante.

Seus olhos se arregalaram ligeiramente, e ela ajustou os óculos automaticamente.

“Milorde... você pediu a mão da senhorita Briely?”

Sua voz saiu mais aguda do que o normal, a apreensão clara em cada sílaba.

Ela sempre soube que Morpheus sentia algo por Briely, mas nunca imaginara que ele tomaria um passo tão definitivo assim, não agora pelo menos.

 

Sim,”

respondeu ele, sem hesitação, sem um pingo de dúvida em sua voz.

Pedi a mão dela em casamento.”

 

Lucienne hesitou, sabendo que estava pisando em terreno perigoso, mas precisando entender a extensão da situação.

“E ela concordou com isso, milorde?”

 

O silêncio que se seguiu foi mais revelador do que qualquer palavra.

Morpheus não respondeu de imediato, seus olhos desviando-se para o pergaminho amassado em sua mão.

Lucienne percebeu a verdade antes mesmo de ele confirmar, e sua voz saiu quase como um sussurro.

“Ela não sabe, não é, milorde?”

 

Não,”

admitiu ele, a voz agora mais fria, mais distante, mas ainda carregada de uma determinação inabalável.

Ela não sabe ainda. Mas isso não importa.”

 

Lucienne sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Nunca o vira assim não desse jeito, tão obstinado, tão cego por algo – ou alguém.

“Talvez isso seja para o melhor, meu senhor,”

sugeriu ela, tentando apaziguar a tempestade que via se formando diante dela.

“Talvez—”

 

Não,”

interrompeu Morpheus, sua voz cortante.

Eu não vou aceitar essa resposta.”

Ele começou a se levantar do trono, ao seu redor, cada movimento carregado de uma energia sombria que parecia distorcer a própria realidade do salão.

 

Lucienne deu um passo à frente instintivamente, seguindo-o enquanto ele começava a se dirigir para a saída.

“Meu senhor, não faça nenhuma loucura agora, por favor,”

implorou, a preocupação agora explícita em sua voz.

“Ela é só uma menina. Isso não está correto. O que quer que você esteja pensando, eu peço que reconsidere.”

 

Morpheus parou por um breve instante, virando a cabeça apenas o suficiente para lançar um olhar gélido sobre o ombro.

Volte para a biblioteca, Lucienne,”

ordenou, a voz baixa, mas tão autoritária que não deixava espaço para discussão.

Era um comando, não um pedido, e o peso dele fez Lucienne recuar, mesmo contra sua vontade.

 

Ele não esperou por uma resposta, retomando seu caminho com passos decididos, sua figura desaparecendo pelo corredor.

 

 

em direção aos aposentos de Briely.

 

 

 

O ar ao seu redor parecia se curvar, as sombras se estendendo como garras, como se o próprio Sonhar respondesse à fúria que queimava em seu mestre.

 

Lucienne permaneceu onde estava por longos momentos, os olhos fixos no corredor vazio por onde ele desapareceu.

Sua mente girava com apreensão,  pesando com o medo do que poderia acontecer.

Ela conhecia o temperamento de Morpheus, sua natureza implacável como Rei dos Sonhos... e também dos Pesadelos.

Sabia que, quando ele fixava sua vontade em algo, poucos.

 

 

se é que alguém  conseguiam detê-lo.

 

 

E agora, com Briely no centro, Lucienne temia as consequências, para a jovem senhorita.

Com um suspiro trêmulo, ela ajustou os óculos mais uma vez, virando-se lentamente para retornar à biblioteca.

Mas não havia paz em seus passos. Enquanto caminhava pelos corredores silenciosos do Castelo.

sua mente não conseguia se livrar da imagem de Morpheus, movido por uma fúria sombria que ameaçava engolir tudo em seu caminho.

Ela só podia esperar que, de alguma forma, o Senhor do Sonhar encontrasse um resquício de controle antes que fosse tarde demais.

 

 

 


 

 

 

Os corredores do Sonhar pareciam pulsar com a energia sombria que emanava de Morpheus enquanto ele caminhava em direção ao quarto de Briely.

Sua fúria, outrora ardente como um inferno ao ler a recusa de Poseidon, começava a se transformar em algo mais frio, mais calculado, mas não menos perigoso.

As sombras ao seu redor se moviam como extensões de sua vontade, e o próprio ar parecia se curvar à sua presença.

Ele chegou à porta do quarto dela, a mão pairando sobre a maçaneta por um breve instante antes de girá-la com um movimento quase delicado, contrastando com a tempestade que ainda rugia dentro dele.

 

Ao entrar, a penumbra do quarto o envolveu. As cortinas  deixavam passar apenas um fraco brilho da luz etérea do Sonhar, iluminando a figura de Briely, que dormia pacificamente em sua cama.

O peito dela subia e descia em um ritmo suave, o rosto relaxado, um contraste gritante com a tensão que havia dominado Morpheus momentos antes.

Ao vê-la assim, tão vulnerável, tão serena, uma parte da raiva que ele sentia por Poseidon pareceu se esvair.

substituído por algo mais profundo, mais obsessivo.

Ele se aproximou silenciosamente, sentando-se na beira da cama, os olhos negros fixos nela.

como se pudesse gravar cada detalhe de sua imagem em sua mente eterna.

 

Ele estendeu a mão, os dedos pálidos roçando suavemente o rosto dela.

O toque, embora leve, foi o suficiente para perturbar o sono de Briely.

Seus olhos se abriram devagar, enevoados pelo sono, e ela piscou algumas vezes antes de focar na figura ao seu lado.

Um leve sobressalto percorreu seu corpo ao perceber quem estava ali, tão perto.

 

“Morpheus?” murmurou ela, a voz rouca e sonolenta, esfregando os olhos.

“Você me acordou... o que está fazendo aqui?”

 

Ele a observou por um momento, os olhos ainda intensos, mas agora tingidos com carinho.

ainda que carregado de uma determinação sombria.

Meu amor, me desculpe por te acordar, mas temos que discutir algumas coisas,”

disse ele, a voz baixa, quase um sussurro.

mas carregada de uma urgência que fez Briely franzir a testa.

 

Meu amor? O que há com ele?

pensou ela, a mente ainda lutando contra o véu do sono.

Sentando-se na cama, ela coçou os olhos novamente e perguntou, confusa:

“Discutir algo? Isso não pode esperar?”

 

Infelizmente, não,”

respondeu ele, o tom firme, os olhos nunca deixando os dela.

“Isso é para o nosso futuro.”

 

Ela congelou por um instante, o coração acelerando sem que soubesse por quê.

“Nosso futuro? O que você quer dizer? Está acontecendo alguma coisa?”

perguntou, a voz agora mais alerta, um traço de preocupação surgindo.

 

Morpheus inclinou-se ligeiramente para frente, o olhar penetrante.

É sobre o destino que nos espera. O nosso futuro juntos,”

disse ele, as palavras carregadas de uma certeza.

O que fez o estômago de Briely se apertar.

 

“Nosso futuro juntos? Destino que nos espera?” Ela repetiu, a confusão evidente em sua voz.

“Do que você está falando, Morpheus? Você não está fazendo sentido nenhum.”

 

Ele não respondeu de imediato.

Em vez disso, pegou as mãos dela com  gentileza, levando-as aos lábios e depositando um beijo suave sobre os nós dos dedos dela.

Seus olhos buscaram os dela, intensos, quase hipnóticos.

Eu pedi sua mão em casamento ao seu pai,

declarou ele, a voz firme, e sem hesitação.

 

Briely ficou imóvel, os olhos arregalados, como se não pudesse processar o que acabou de ouvir.

"O QUEE?”

exclamou ela, com a a voz  incrédula.

 

Eu pedi sua mão em casamento ao seu pai, meu amor,”

repetiu ele, sem desviar o olhar dela.

 

“Você pediu minha mão em casamento ao Poseidon?”

perguntou ela, ainda atordoada, a incredulidade misturando-se com um crescente desconforto.

Puxando as mãos das dele, ela recuou instintivamente, o coração disparando.

 

Morpheus não pareceu perturbado pela reação dela.

Eu te amo, Briely. Sempre te amei, desde o tempo em que ficamos presos juntos. Fiz o que meu amor por você exigiu, mais seu pai negou a minha proposta” confessou ele.

 

O rosto dela se suavizou por um breve momento ao saber, que Poseidon havia negado o pedido.

 

Um alívio silencioso a percorreu, mas isso não durou.

Morpheus continuou, o olhar endurecendo.

Ele negou minha proposta, mas isso não nos impede de casar.”

 

Antes que ela pudesse responder, ele se levantou da cama e, para seu absoluto choque.

Ele se ajoelhou-se diante dela.

Briely, você me daria a honra de ser minha esposa e ser minha rainha?”

 

perguntou ele , os olhos fixos nos dela, uma mistura de esperança e paixão queimando neles.

 

Briely ficou perplexa, o rosto pálido enquanto o encarava.

Como eu sou idiota, realmente uma idiota, pensou, com a mente girando.

Ele realmente me ama. Todo aquele carinho, toda aquela preocupação... era isso.

Ele nunca me viu como uma amiga.

É por isso que todos perguntavam sobre o relacionamento entre nós.

 

 

O peso daquela realização a atingiu, e a presença dele, mesmo ajoelhado, parecia sufocante.

Ele era um Perpétuo, não um deus, mas algo muito além disso.

e o medo do que ele poderia fazer se fosse negado começou a crescer dentro dela.

um arrepio de apreensão percorrendo sua espinha.

 

“Morpheus, eu... eu...”

gaguejou ela, as palavras travando na garganta.

“Eu... , Eu, não posso aceitar sua proposta. Eu vejo você somente como um amigo.”

 

Ele se levantou lentamente, o rosto impassível.

mas os olhos escurecendo de uma forma que fez o coração dela disparar.

Briely saiu da cama rapidamente, colocando-a como uma barreira entre eles, enquanto dava um passo para trás.

Eu sei que você não me ama como eu te amo,”

disse ele, a voz agora mais fria, mais afiada.

Mas isso não importa.

 

“Eu não poderia aceitar sua proposta,”

insistiu ela, a voz tremendo ligeiramente, tentando manter a compostura.

 

Por quê não?

perguntou ele, dando um passo na direção dela, a presença dele parecendo preencher todo o quarto.

 

Ela engoliu em seco, o medo apertando seu peito.

“Eu amo alguém, Morpheus. E eu não poderia me casar com você,” confessou ela.

O rosto dele se contorceu por um instante, uma sombra de raiva passando por seus olhos.

E Aquele semideus do seu universo, Luke, não é?  Bem Ele  já está morto afinal,” disse ele, com voz cortante,  e desdenhosa.

 

“Mesmo assim, eu não poderia aceitar sua proposta,” retrucou ela, a determinação misturando-se ao medo.

“Eu quero voltar para casa, Morpheus. Isso nunca daria certo.”

 

“Nunca daria, não é?”

Um sorriso frio e perturbador curvou os lábios dele, enviando um arrepio gelado pela espinha dela.

Ela deu outro passo para trás, o instinto gritando para fugir.

O sorriso dele apenas se alargou, uma promessa sombria escondida ali.

Eu fiz do jeito certo. Fui amável eu esperei antes, até você se ajustar a vida aqui, e eu até  perguntei a você, lhe dei uma escolha,E eu   esperava que você aceitasse,

disse ele, a voz agora um murmúrio perigoso.

E você me negou. Negou o meu amor por você

 

Ele avançou na direção dela com uma velocidade que a pegou de surpresa.

Briely se virou, correndo em direção à porta, mas antes que pudesse alcançá-la.

Morpheus a agarrou pela cintura, puxando-a contra si com uma força implacável.

Ele inclinou a cabeça, os lábios roçando o pescoço dela em um beijo possessivo que fez sua pele se arrepiar de desconforto.

“Me solta, Morpheus!”

gritou ela, tentando se debater, mas os braços dele eram como ferro ao seu redor.

 

Ele a girou, empurrando-a contra a porta, o corpo dele pressionando o dela com uma intensidade esmagadora.

Você ousou me negar, meu amor?”

murmurou ele, os olhos negros como abismos, a voz um sussurro carregado de fúria e obsessão.

Você não tem escolha. Não entende? Você é minha. Sempre foi, desde o momento em que ficamos presos juntos.”

 

“Não!” protestou ela, virando o rosto para longe, mas ele não a deixou escapar.

Sua mão segurou firme o queixo dela, forçando-a a encará-lo, e então ele a beijou.

Foi um beijo duro, exigente, os lábios dele esmagando os dela com uma força que não deixava espaço para recusa.

Era , sufocante e avassalador, enquanto suas mãos a mantinham presa, uma delas na nuca dela, a outra na cintura, garantindo que ela não pudesse se mexer.

O beijo não tinha ternura, apenas domínio, uma reivindicação brutal.

O que fez o coração dela disparar de medo e repulsa.

enquanto ela tentava empurrá-lo para longe, mas sua força era insuficiente contra a dele.

 

 

 

Morpheus não cedeu, seus lábios pressionando os dela com uma exigência feroz, um beijo  que não deixava espaço para resistência.

Sua língua invadiu a boca de Briely, dominando-a com um sabor agridoce de possessão, explorando cada canto enquanto ela tentava se afastar, o corpo tremendo sob o peso dele.

Não havia gentileza, apenas uma necessidade crua, quase violenta, de reivindicar o que ele acreditava ser seu.

Suas mãos deslizaram pelo robe fino que ela usava, os dedos frios traçando a textura do tecido antes de descerem lentamente, percorrendo as curvas dela.

com uma intenção clara.

O que a fez sentir um nó no estômago.

 

Ele afastou os lábios apenas o suficiente para murmurar contra a pele dela.

A voz rouca e carregada de uma promessa .

Você não aceitou minha proposta. Mas não se preocupe, meu amor. 

 

 

 Tenho outro método para fazer você se casar comigo.

 

 

  Um Método  que vai fazer que nem mesmo seu pai e ninguém do panteão grego  poder interferir entre nos eles vão concordar com o nosso casamento Depois disso.

afinal você não terá escolha a não ser aceitar, eu  não  vou precisar  que concorde para torná-la minha esposa.”

 

O coração dela disparou, o medo apertando seu peito enquanto ela tentava processar as palavras.

Então, ele inclinou a cabeça.

os olhos negros brilhando com algo perigoso, e sussurrou:

Você  é virgem, não é, meu amor?”

 

Essas palavras a acertaram como um golpe, e lágrimas começaram a escorrer por seu rosto, quentes e silenciosas.

O pânico tomou conta dela, sua mente gritando por uma saída.

 

Ela sabia que não podia lutar contra Morpheus – ele era um Perpétuo, um ser além de qualquer poder que ela pudesse conjurar.

 

Mas talvez ela pudesse fugir.

Em desespero, seus olhos captaram o jarro de água na mesinha ao lado da cama.

Concentrou-se, invocando seus poderes com um pensamento trêmulo, a água começando a se agitar e crescer dentro do recipiente.

 

Morpheus, consumido por sua obsessão, não percebeu a massa de água se formando, cada vez maior, até que se tornou uma onda furiosa.

Ele continuou a beijá-la, as mãos ainda explorando o corpo dela, alheio ao perigo que se aproximava.

De repente, a água o atingiu com força, um impacto que o fez grunhir e soltá-la.

por um instante, o corpo dele recuando contra a parede com o choque da força.

 

Briely aproveitou o momento, o coração batendo descontroladamente.

Com um movimento rápido, girou o corpo, abriu a porta atrás dela e disparou para fora do quarto.

Seus pés descalços batiam contra o chão frio do corredor enquanto corria, o robe esvoaçando atrás dela.

A voz de Morpheus ecoou pelo corredor, um rugido furioso que fez sua pele se arrepiar.

“BRIELLY!!”

 

Ela não olhou para trás, mais o medo do que ele poderia fazer com ela ficou  pulsando em suas veias.

Como a situação chegou a isso? 

pensou, as lágrimas ainda caindo enquanto corria.

Ele ia me estuprar , como ele pode, Eu confiava nele.

Ele era meu amigo.

A traição cortava fundo, misturando-se ao terror de ser pega.

Sua mente girava, buscando uma solução, um refúgio.

Lucienne. Ela poderia me ajudar.

 

Os corredores do Sonhar pareciam infinitos, as sombras dançando nas paredes como se zombassem dela.

Briely continuou correndo, derrubando objetos atrás de si em uma tentativa desesperada de atrasar Morpheus.

Mesas laterais caíam com estrondo, vasos  se estilhaçavam no chão, criando uma bagunça caótica em seu rastro.

Ela não sabia se ele estava atrás dela, mas não ousava parar para verificar.

Invocando mais de seus poderes, ondas de água começaram a surgir ao seu comando, irrompendo de fontes e pequenos reservatórios espalhados pelo palácio disparando em todas as direções com o objetivo de confundilo a onde ela estava indo.

As ondas colidiam contra as paredes, destruindo algumas salas no processo, quebrando estruturas delicadas e espalhando destroços em várias direções.

 

Mavryn, me desculpe por toda essa bagunça, pensou ela, a culpa pesando por um instante antes de ser engolida pelo instinto de sobrevivência.

A água continuava a se mover, formando barreiras líquidas que ela esperava esperançosa que o atrasassem.

Seus pulmões queimavam, as pernas tremiam de exaustão, mas ela não parava, os ecos da voz de Morpheus ainda ressoando em sua mente como um pesadelo do qual não podia acordar.

ela sabia que parar agora significava ser capturada por ele e isso, ela não podia permitir.

 


 

 

Briely corria desesperadamente pelos corredores do Sonhar, o coração batendo tão forte que parecia que ia explodir no peito.

O eco dos estrondos da água que ela invocara ressoava atrás dela, misturado ao som de destroços caindo e paredes sendo atingidas.

Seu robe estava desgrenhado, os pés descalços escorregando no chão polido, mas ela não parava.

Finalmente, avistou a entrada da biblioteca, um vislumbre de esperança em meio ao caos.

Assim que chegou à porta, colidiu com alguém saindo dali.

 

Lucienne deixou escapar um som surpreso ao ser empurrada para trás pelo impacto.

“Minha senhora! Você está bem? O que está acontecendo com toda essa barulhada?”

perguntou ela, a voz carregada de preocupação enquanto se equilibrava.

Então, seus olhos se estreitaram ao observar Briely mais de perto.

Os lábios da jovem estavam machucados e vermelhos, inchados, o cabelo completamente bagunçado, e marcas leves  chupões pontilhavam a pele delicada de seu pescoço.

O rosto de Briely estava manchado de lágrimas, os olhos vermelhos e inchados de tanto chorar.

“Minha senhora, você está bem?”

repetiu Lucienne, agora com um tom mais urgente, estendendo a mão para tocar o ombro dela.

 

Briely agarrou o braço de Lucienne com força, os dedos tremendo enquanto se segurava nela como se fosse sua última ancora.

“Lucienne, me ajuda!, por favor” implorou, a voz rouca e quebrada, as lágrimas escorrendo novamente pelo rosto.

Antes que pudesse explicar mais, um estrondo ensurdecedor ecoou pelo corredor próximo, o som da água que ela invocou colidindo contra algo, derramando-se e destruindo partes do palácio.

 

Lucienne olhou na direção do barulho, os olhos arregalados.

“O que está acontecendo?” perguntou, a voz tensa, voltando-se para Briely.

 

“Sou eu!” admitiu Briely, ofegante, as mãos ainda agarradas ao braço de Lucienne.

“São só os meus poderes.

Eu... eu precisei... Lucienne, por favor, me ajuda. O Morpheus ele enlouqueceu. Ele se declarou pra mim, tentou me forçar... Ele tentou me estuprar para se casar comigo!”

As palavras saíram em um soluço desesperado, o corpo dela tremendo enquanto as lágrimas caíam sem controle.

 

Lucienne ficou pálida por um instante, mas rapidamente assumiu uma expressão determinada.

Sem perder tempo, ela puxou Briely para dentro da biblioteca, fechando a porta atrás delas com um clique firme.

O interior do vasto salão estava silencioso, o contraste com o caos do lado de fora quase sufocante.

Lucienne guiou Briely até um canto mais reservado, atrás de uma mesa alta, tentando criar uma barreira visual caso alguém entrasse.

 

“ Preciso que Se acalme, minha senhora,” disse Lucienne, a voz calma, mas carregada de preocupação enquanto colocava uma mão reconfortante no ombro de Briely. “Vai ficar tudo bem.”

 

Não vai!”

retrucou Briely, a voz aguda, enquanto se encolhia contra a mesa, os olhos arregalados de pânico.

Ele vai me encontrar aqui, Lucienne. E  Ele não vai parar. Você não entende, ele... ele disse que eu não tinha escolha, que eu seria dele de qualquer jeito!”

 

Lucienne hesitou por um momento, ajustando os óculos com um gesto nervoso, antes de falar.

“Eu sabia da paixão do mestre por você,” admitiu ela, a voz baixa, 

“E sabia sobre a proposta de casamento que ele fez a Poseidon. Eu mesma entreguei a carta com a resposta do Senhor dos Mares  a ele.”

 

Briely congelou, os olhos se arregalando ainda mais enquanto encarava Lucienne com uma mistura de incredulidade e traição.

“Você sabia disso? Que ele me amava? Por que nunca me contou?” acusou ela, a voz tremendo de raiva e medo.

Ela passou as mãos pelos cabelos desgrenhados, puxando-os em um gesto de puro pânico.

 

Lucienne baixou o olhar por um instante, claramente desconfortável, mas sua voz permaneceu firme.

“Não era meu dever contar a você, minha senhora. E, francamente... todos sabiam. Todos no Sonhar  viam o modo como ele a olhava, como a tratava. Era evidente.”

 

TODOS MENOS EU !!

explodiu Briely, as mãos agora cobrindo o rosto enquanto tentava controlar a respiração ofegante.

Como eu não vi isso, estava na minha cara, Como eu fui tão cega? E agora ele... ele...”

Sua voz se quebrou, incapaz de completar a frase, o corpo tremendo enquanto o medo a dominava mais uma vez.

Ela olhou para a porta da biblioteca, esperando a qualquer momento ouvir os passos de Morpheus ou sua voz ecoando pelo salão.

 

 

 

 

 


 

 

 

 

 

O silêncio tenso dentro da biblioteca foi interrompido pelo som de passos firmes ecoando no corredor lá fora.

O coração de Briely disparou, batendo tão forte que parecia que ia explodir no peito.

Seus olhos se arregalaram, o pânico apertando sua garganta enquanto ela olhava para Lucienne, que também ouviu o som e imediatamente se virou para ela.

 

“Esconda-se senhorita,” sussurrou Lucienne, a voz urgente, mas controlada.

“Eu vou tentar conversar com o mestre. Vá, agora!”

 

Briely não hesitou. Correu para trás de uma estante alta, encolhendo-se entre os volumes oníricos, o corpo tremendo enquanto tentava controlar a respiração.

O cheiro de papel antigo e magia a envolvia, mas não oferecia nenhum conforto.

Lá fora, ela ouviu a voz grave de Morpheus, discutindo algo com Lucienne.

As palavras eram abafadas pela distância e pelas paredes da biblioteca, impossíveis de distinguir, mas o tom dele, carregado de autoridade e irritação.

O que fez o medo dela disparar ainda mais.

Sua mente girava, incapaz de pensar direito, o pânico nublando qualquer raciocínio claro.

 

Seus olhos vasculharam o ambiente desesperadamente, até que avistaram a janela da biblioteca, alta e estreita.

mas aberta para o exterior do castelo.

Uma ideia desesperada surgiu em sua mente.

Pular. Já passei por coisas piores do que pular uma janela.

 pensou, os dentes cerrados enquanto se movia silenciosamente em direção ao vidro.

Chegando lá, ela olhou para baixo  era uma longa queda , mas não havia muinta escolha era isso ou ficar alí esperando até que ele decidisse procurá-la alí dentro da biblioteca, ela decidiu pular.

Ela Estava pronta para pular a janela quando ouviu a voz de Lucienne, tensa e respeitosa dizendo algo como:

“Meu senhor.”

 

E No mesmo instante, ela ouviu o som da porta da biblioteca se abrindo.

E Sem pensar duas vezes, Briely pulou. Enquanto caía, invocou seus poderes, desesperada para amortecer o impacto.

A água se formou abaixo dela em uma tentativa de almofada líquida, mas não foi rápido o suficiente.

Ela caiu com força, o braço direito batendo no chão de pedra com um impacto que enviou uma onda de dor aguda por seu corpo.

Um gemido escapou de seus lábios enquanto ela se levantava, trêmula, olhando para o braço um pouco machucado.

Um hematoma já começava a se formar, a pele arranhada e latejando.

 

Foi então que seus olhos caíram sobre a pulseira em seu pulso  o colar que Poseidon havia lhe dado na noite do jantar.

agora amarrado como um bracelete.

com a concha delicada que agora tinha rachado levemente com o impacto da queda.

A lembrança a atingiu como um raio.

O colar.

Ele pode me teletransportar para o Poseidon.

No pânico do momento, ela havia esquecido completamente da existência daquele artefato.

Seus dedos trêmulos tocaram a concha enquanto pensava:

Eu só tenho que quebrá-la e pensar no  Poseidon.

Mas está um pouco rachada agora... será que ainda vai funcionar?

 

Ela olhou para cima, o coração parando ao ver Morpheus na janela da biblioteca, encarando-a com um olhar fixo.

A presença dele parecia sufocante mesmo à distância, os olhos dele brilhando com uma mistura de irritação.

Meu amor,”

chamou ele, a voz ecoando  com um tom que misturava repreensão e algo  próximo a ternura.

Pare de correr. Você já causou um tumulto no castelo com seus poderes, destruindo várias salas que eu reconstruí... Isso até que funcionou, um pouquinho. E olhe para você, está machucada agora. Fique aí parada.”

 

O pânico a consumiu por completo.

Sem hesitar, Briely apertou a concha na mão, os dedos tremendo enquanto usava toda a força que podia para quebrá-la.

O som de algo se estilhaçando foi acompanhado por um clarão ofuscante de luz aquática.

No instante seguinte, ela desapareceu da vista de Morpheus.

teletransportada para longe do Sonhar.

 

Na janela, a expressão de Morpheus se contorceu em fúria pura.

Seus punhos se cerraram, as sombras ao redor dele se agitando como se respondessem à sua raiva.

Ele percebeu tarde demais o propósito daquele colar ele deveria ter examinado o artefato mais de perto,  enquanto ela dormia.

Ele sentiu a leve aura de Poseidon emanando dele.

mas nunca imaginaria que servisse para algo assim.

Um erro que não cometeria novamente.

Seus olhos ainda fixos no ponto onde Briely havia estado, ele murmurou para si mesmo 

“voce não vai fugir pra longe meu amor, eu vou te trazer de volta.”

 


 

 

 

O brilho aquático da concha quebrada envolveu Briely, e por um breve instante.

Ela sentiu o mundo girar ao seu redor, como se fosse sugada por uma correnteza invisível.

 

Mas quando a luz se dissipou, ela não estava no reino de Poseidon como ela  esperava.

Seus pés tocaram o chão duro de uma cidade litorânea no mundo desperto.

o som das ondas ao longe misturando-se ao ruído de carros e vozes humanas.

O ar salgado enchia seus pulmões enquanto ela olhava ao redor, desnorteada.

Ela Estava de robe, os cabelos desgrenhados e o braço machucado latejando de dor.

As pessoas nas ruas a encaravam com curiosidade e estranheza, alguns cochichando entre si enquanto passavam.

 

 

 

 

“Olha só essa moça, que roupa é essa?” murmurou um homem de meia-idade para a esposa, que balançou a cabeça em desaprovação.  

 

 

“Coitada, deve estar perdida… ou pior,” sussurrou uma jovem mãe, empurrando o carrinho de bebê para longe de Briely com um olhar preocupado.  

 

 

“Deve ser alguma maluca, quem anda assim na rua?” resmungou um rapaz, rindo com os amigos enquanto apontava na direção dela.

 

 

 

Mais Uma senhorinha de aparência gentil, com um xale de lã sobre os ombros, aproximou-se dela, franzindo a testa com preocupação.

“Moça, você está bem? Parece que acabou de sair de um acidente. Tá tremendo toda, coitadinha.”

 

Briely, ainda ofegante, forçou um sorriso fraco.

“Eu... estou bem, obrigada. Só... um pouco hum perdida.”

 

A mulher não pareceu muito convencida, mas tirou um casaco velho e puído dos ombros e o ofereceu.

“Toma moça, se cobre com isso. Não dá pra andar por aí assim, vai pegar um resfriado ou coisa pior. Escuta, quer que eu te leve pra delegacia? Tá num estado que não parece certo, alguém precisa te ajudar.”

 

Briely balançou a cabeça rapidamente, sabendo que a polícia não poderia fazer nada por ela.

“Não, não precisa, eu... eu vou ficar bem. Obrigada mesmo.”

Ela pegou o casaco, envolvendo-o ao redor de si, sentindo o tecido áspero contra a pele.

“Eu realmente agradeço.”

 

A senhorinha franziu ainda mais a testa, mas não insistiu.

“Tudo bem, moça, mas toma cuidado, tá? Se precisar, volta aqui, eu moro logo ali na rua de cima.”

Briely acenou, já se afastando rapidamente, quase correndo.

A idosa ficou parada no mesmo lugar, observando-a de longe com um olhar preocupado, murmurando para si mesma:

“Espero que ela fique bem, pobrezinha…”

 

Briely começou a andar pelas ruas lotadas, trombando em pessoas que a olhavam com  irritação.

“Desculpe,” murmurava ela, sem sequer parar para ouvir as respostas.

Seu único pensamento era chegar até a praia.

Lá, perto do mar, estaria segura.  

ou pelo menos era o que ela tentava acreditar.

 

Quando ela finalmente alcançou o píer, o sol já estava baixo no horizonte, tingindo o céu de tons alaranjados.

A praia estava quase vazia, exceto por apenas algumas figuras solitárias caminhando ao longe.

Briely desceu os degraus de madeira até a areia, sentindo a textura fria sob os pés descalços.

Ela  já Estava pronta para entrar no mar, para se conectar com a água e  chamar por seu pai.

certamente ele poderia a ajudar.

quando seus olhos captaram uma figura no píer acima dela.

Morpheus.

Ele estava lá e a encarava.

os olhos negros brilhando como abismos, o rosto com uma mistura de irritação e impaciência.

O coração dela parou por um instante, o pânico subindo.

 

Ela não deu nem dois passos pra longe quando ouviu a voz dele, grave e cortante, ecoando pelo ar.

Você achou mesmo que poderia fugir de mim, meu amor?”

 

Briely se virou rapidamente, o corpo tenso, e lá estava ele.

de pé no píer, a figura sombria destacando-se contra o céu crepuscular.

“Não,” sussurrou ela, girando nos calcanhares e correndo em direção ao mar.

Mas antes que pudesse dar mais alguns passos, ele estava lá, à sua frente, bloqueando o caminho.

 

Você fugiu de mim,” disse ele, a voz, carregada de uma repreensão e descontentamento.

Meu amor, você realmente acreditou que eu não te encontraria, onde quer que você estivesse?

 

Briely recuou, o coração dela disparado.

“Não! Você  Fique longe de mim!” gritou, erguendo as mãos.

Seus poderes se manifestaram em um instante, o mar atrás dela rugindo em resposta.

Uma onda gigantesca se formou, crescendo em direção a ele enquanto as poucas pessoas na rua gritavam de terror ao ver o fenômeno.

 

 

“Meu Deus, o que é isso?!” berrou um homem, agarrando a mão da namorada enquanto corriam para longe.

“corre!” gritava outro, tropeçando na areia.

 

 

Morpheus apenas suspirou, como se estivesse lidando com uma criança teimosa.

Ele avançou até ela, as mãos segurando os ombros dela com firmeza.

Briely se contorceu no aperto dele, gritando

“Seu desgraçado, me solta!” Mas no instante seguinte, a onda os engoliu.

 

A água caiu com força, mas ela ainda sentiu os braços dele ainda firmes em seus ombros.

Quando a onda recuou, eles estavam encharcados, mas ilesos.

O cabelo negro de Morpheus colava no rosto dele, gotas escorrendo pela pele pálida, enquanto ele a encarava com uma intensidade que a fez tremer.

Lágrimas começaram a rolar pelo rosto dela ao perceber que seus poderes, sua única arma, não tinham efeito algum contra ele.

“Não, não, não…” murmurou ela, a voz quebrando.

“Isso não pode estar acontecendo, meus poderes… eles não fazem nada!”

 

Você fugiu de mim,

repetiu ele, a voz agora mais dura.

E olhe o que causou. Todo esse caos. Para de fazer birra, meu amor. Olhe ao redor, vê o que você está causando aos humanos por aqui.”

Ele a manipulava, sabendo do carinho que ela tinha pela vida humana.

Briely olhou, os olhos arregalados de horror ao ver prédios próximos com janelas estilhaçadas, carros capotados e destroços espalhados pela força da onda que ela criou.

O remorso a atingiu como um soco no estômago.

enquanto Morpheus, por dentro, sorria, satisfeito ao ver o coração mole dela se quebrando.

 

Briely o empurrou pra longe dela, as mãos batendo contra o peito dele.

“Pare com isso! Eu não estou fazendo birra! Eu só quero ficar o mais longe possível de você! Depois do que você tentou fazer comigo, me solta, Morpheus!.

Eu confiava em você, e você tentou me forçar, tentou me estuprar e me obrigar a casar com você!   Como pôde?”

 

Ele não se moveu, apenas a segurou e a puxou mais contra si,  abraçando-a.

Você não precisa ter medo de mim, meu amor. Eu só quero o que é melhor para nós.”

 

Desesperada, ela arrancou o anel do dedo,  o metal se transformar em sua uma espada de bronze celestial, brilhando com uma luz fraca.

Sem hesitar, ela tentou golpea-lo nas costas.

 mas a lâmina apenas deslizou contra a pele dele, sem deixar nem um arranhão.

“Não, não, não...” murmurou ela, a voz quebrando de frustração.

 

Morpheus inclinou a cabeça, um leve sorriso nos lábios.

“Você tentou me esfaquear pelas costas, meu amor? Isso não funciona comigo. Essa sua espada não tem efeito algum contra mim.

Você só está conseguindo me irritar ainda mais com toda essa luta, quando sabe que isso não adiantara nada. Eu sou um Perpétuo, meu amor, e você sabe disso. Então pare já com isso.”

Ele arrancou a espada da mão dela com um movimento brusco e a jogou para longe, o metal tilintando na areia.

 

No céu acima, nuvens escuras começaram a se formar, trovões ecoando enquanto tempestades e furacões em menor escala se agitavam.

Um reflexo do desespero de Briely.

O mar atrás deles se tornou violento,As pessoas ao redor gritavam, correndo para longe do caos sobrenatural.

 

 

 

“Tá tendo um terremoto, corre!” berrou uma mulher, segurando uma criança no colo enquanto fugia.

“Isso não é natural, vamos embora!” gritava um grupo de adolescentes, tropeçando uns nos outros na pressa.

Um leve terremoto fez o chão tremer.

e Briely, mesmo preocupada com os humanos, sabia que não podia parar.

Se ela não fugisse agora, algo em sua intuição gritava que nunca mais teria chance.

 

“Não me toque!” berrou ela, enquanto ele tentava acalmá-la, a mão estendida.

Eu confiava em você! E Você tentou me estuprar, me forçar a casar com você!

Eu te odeio! Você era meu amigo, como pôde tentar fazer isso comigo?

Eu confiava tanto em você!

 

Ele a apertou com mais força, os dedos cravando na pele dela enquanto seu olhar se obscurecia.

As palavras dela pareceram acertá-lo como um golpe físico.

Os  olhos dele escureceram ainda mais, a raiva transbordando.

enquanto isso a tempestade ao redor deles se intensificava, furacões se formando quase perto deles, a chuva caindo.

Você não entende o quanto eu te amo,” rosnou ele.

Eu nunca te vi como uma amiga, Briely. Sempre te amei, desde o primeiro instante.”

 

 

Ao redor deles, os humanos gritavam mais alto, carros sendo arrastados pela força do vento, prédios tremendo.

 

“Socorro, alguém nos ajuda!” gritava um homem, enquanto outros se escondiam sob qualquer abrigo que encontravam.

 

 

 

Briely empurrou mais ondas de água contra ele, projéteis afiados que se chocavam contra seu corpo sem efeito.

Ela conseguiu se soltar e entrar no mar, a água chegando até os joelhos, mas antes que pudesse ir mais longe.

braços fortes a envolveram por trás.

Ela sabia que era ele, mesmo sem olhar. Desesperada, usou seus poderes, lançando mais  água contra ele, mas nada parecia funcionar.

Você só está se cansando, meu amor,” disse ele, a voz firme.

“Você me pegou desprevenido uma vez, mas isso não vai mais acontecer.”

Ele a soltou por um momento quando ela  mordeu a sua mão, após ele tentar tocar seu rosto.

ele não ficou com raiva mas achou graça naquilo, um sorriso sombrio surgindo enquanto a deixava correr.

Ela entrou mais no mar.

mas logo ele a pegou novamente, as costas dela pressionando contra o peito dele.

 

Já Chega disso,”

disse ele, enquanto a tirava da água.

Você não vai a lugar algum.”

 

“Me solta! Socorro!” gritava ela, desesperada.

“Por favor, Morpheus, me deixa ir!”

 

 

Mas as palavras foram engolidas por um flash de areia.

 

 

No instante seguinte, Eles estavam de volta ao Sonhar.

 

 

 

 

 

 

 

 

De longe, na praia, uma criatura marinha enviada por Poseidon observava a cena com olhos atentos.

 

 

Poseidon que havia sentido o uso da concha de sua filha, mas também percebeu que algo estava errado, que talvez o artefato foi danificado.

 

Ele ordenou que todos os seus súditos nas proximidades procurassem por sua filha Briely com urgência e a levassem até ele ou avisassem  a ele caso a vissem em algum lugar.

 

A criatura, escondida entre as ondas, viu tudo, ouviu cada palavra trocada entre Briely e Morpheus.

 

mas não não ousou interferir, sabendo que seria destruído pelo Senhor dos Sonhos se fosse vista.

 

Outras criaturas marinhas próximas também testemunharam o confronto.

sentindo pena da jovem senhorita enquanto murmuravam entre si sobre o que presenciaram.

 

 

Após a saída de Briely e Morpheus, a criatura  nadou rapidamente para relatar tudo o que viu acontecer a Poseidon.

 

 


 

 

 

 

 

 

Ele a soltou assim que chegaram ao Sonhar, os pés dela tocando o chão úmido de uma clareira próxima ao castelo.

Morpheus deixou que ela corresse, propositalmente, sabendo que o Sonhar era seu domínio e que ela nunca escaparia novamente.

 

Briely não perdeu tempo, começando a correr imediatamente.

mesmo sabendo que era inútil.

Ela Não foi em direção ao castelo, mas para longe dele ali, ela correu até avistar uma floresta escura e envolta em névoa à sua frente.

 

Ela se lembrou de Mathew comentando sobre aquele lugar.

a Floresta dos Pesadelos.

 

Morpheus ficou parado na clareira, apenas observando-a com um brilho nos olhos que a fez estremecer.

Ele gostava de vê-la fugir, percebeu ela, o coração apertando de terror.

 

Ela correu pela floresta, passando por árvores retorcidas, os galhos parecendo garras que tentavam agarrá-la.

Até que Seus pés tropeçaram em um galho, e ela caiu com força no chão, o impacto reverberando em seu braço machucado.

Um grito de dor escapou de seus lábios enquanto lágrimas brotaram novamente.

Antes que pudesse se levantar, algo a puxou pelas costas, jogando-a contra o solo da floresta.

Era ele.

 

Morpheus a prendeu no chão sob seu peso, o corpo dele pesando sobre o dela, os olhos brilhando com uma mistura de raiva e desejo doentio.

Você já se cansou de correr, meu amor?”

perguntou ele, a voz embora suave, mas carregada de perigo.

Eu deixei você correr, mas agora chega. Você poderia ter ido para o castelo.

Nossa primeira vez seria lá, em um lugar digno.

Mas agora... não consigo me controlar mais. Prometo que compenso isso em breve.”

 

“Não, por favor, não faça isso!”

implorou ela, as lágrimas escorrendo enquanto ele se inclinava e a beijava à força, os lábios dele esmagando os dela com uma fome desesperada.

O beijo era invasivo, sufocante, a língua dele forçando passagem enquanto ela tentava se afastar, as suas mãos empurrando contra o peito dele.

 

Shh, meu amor,

murmurou ele contra a boca dela.

Sua fuga, sua luta... só me deixaram com mais raiva. Mais impaciente.”

 

Ele começou a puxar o robe dela, o tecido rasgando com facilidade sob suas mãos, expondo a pele dela ao ar frio da floresta.

Ela gritava, implorando.

POR FAVOR MORPHEUS, NÃO PRECISA  DISSO! VOCÊ NÃO PRECISA FAZER ISSO, EU ACEITO SUA PROPOSTA, EU JURO, SÓ PARE, PARE COM ISSO!”

 

Ele parou por um momento, os olhos brilhando com uma satisfação doentia.

Já e Tarde demais, Briely. Mas fico feliz que finalmente diga que  aceite .”

Então, sem mais palavras, ele continuou, os lábios descendo pelo pescoço dela, beijando e mordendo a pele exposta com força, deixando marcas vermelhas.

Seus dedos exploraram mais para baixo, deslizando por entre as coxas dela até alcançar sua intimidade.

Ele não hesitou, forçando entrada com dois dedos, movendo-os dentro dela sem qualquer gentileza.

 

Briely gritou, o corpo tenseando de dor e medo, enquanto ele invadia seu espaço mais privado, o toque dele era violento e possessivo, explorando-a enquanto ela se debatia sob ele.

 

 Eu te odeio!” berrou ela, as palavras carregadas de raiva e desespero,

mas isso só pareceu alimentar o desejo dele.

 

Ele continuou, os dedos movendo-se com uma precisão cruel, ignorando os gritos dela, até que, contra a vontade dela.

o corpo dela reagiu, um clímax  que a fez soluçar de humilhação.

 

Você pode me odiar, minha rainha, mas eu vou fazer você me amar,”

disse ele, em voz baixa 

E vamos começar agora.”

 

Veja só, meu amor,”

sussurrou ele, enquanto tirava as próprias roupas, revelando o corpo pálido e esguio, os músculos definidos tensionados com desejo.

 

Ele a encarava, os olhos devorando cada centímetro da pele exposta dela.

Em sua mente, ele pensava.

como ela era perfeita sob ele. Ele queria possuí-la em todos os sentidos, marcá-la como sua, gravar cada toque em sua memória para que nunca mais ela tentasse escapar.

 

Ela sentiu o membro dele contra sua entrada, duro e insistente, e as lágrimas rolaram mais rápidas.

“Espera, por favor, Morpheus, espera!” implorou, mas ele não ouviu.

Ele a olhou nos olhos, o olhar  cheio de uma fome voraz.

Vai doer um pouco, meu amor, porque é sua primeira vez. Mas isso vai melhorar, e logo você vai sentir prazer.”

Com um movimento lento, ele se inseriu nela, a dor aguda rasgando através dela como uma faca.

“Para! Por favor, tá doendo!” gritou ela, o corpo tremendo sob o dele.

Ele a beijou, engolindo os gritos dela, enquanto continuava a empurrar.

Aguente um pouco, meu amor. Eu sei que você aguenta,”

murmurou ele contra os lábios dela, a voz quase carinhosa, mas os movimentos dele  permaneciam implacáveis.

 

Ele beijava as lágrimas que escorriam pelo rosto dela, os lábios macios contrastando com a violência de seus movimentos.

Aguente um pouco, meu amor. E A dor logo vai passar.”

Ele continuou, inicialmente lento, cada estocada parecendo um tormento, cada movimento a fazendo sentir como se estivesse sendo rasgada ao meio.

Então, ele acelerou, o ritmo brutal, os gemidos baixos e roucos dele misturando-se aos soluços desesperados dela.

 

 

 

 

Horas se passaram, o corpo dela incapaz de resistir mais, a dor misturando-se a uma exaustão avassaladora.

 

Várias vezes ela quase desmaiou, a mente se dissociando, mas ele sempre a trazia de volta, beijando-a com força ou aumentando a intensidade, fazendo-a gritar.

Acorde, minha rainha, fique comigo,” dizia ele.

 

Até que, finalmente depôs de horas, ela sentiu algo quente a preencher por dentro, uma sensação de plenitude que a fez estremecer 

ele havia gozado dentro dela.

Ele a beijou novamente, encostando a testa na dela, os olhos negros fixos nos dela enquanto ofegava.

Ela começou a fechar os olhos.

e dessa vez ele deixou, permitindo que a escuridão a envolvesse enquanto ela desmaiava completamente em seus braços.

 

Morpheus a segurou contra si, os olhos brilhando com uma satisfação doentia enquanto olhava para o corpo inerte de sua amada.

Você é minha agora, Briely,”

murmurou ele, a voz carregada de uma promessa sombria. Ele beijou a testa dela com uma ternura perturbadora.

E eu vou cuidar de você agora , meu amor tudo vai ficar bem.”

 

 

 

 

 

 


 

 

 

Morpheus carregou o corpo inconsciente de Briely de volta ao Sonhar, dirigindo-se aos seus aposentos privados.

Seus passos eram firmes, o peso dela em seus braços parecendo insignificante diante de sua determinação.

No caminho, encontrou Lucienne, que parou abruptamente, seu rosto normalmente sereno congelado em uma máscara de choque.

Seus olhos percorreram a cena com uma lentidão dolorosa:

Briely, agora enrolada no casaco de Morpheus, parecia uma boneca quebrada.

Marcas arroxeadas salpicavam todo o seu pescoço, os lábios inchados e mordidos exibiam traços de sangue seco, e o cabelo dela estava emaranhado com galhos e folhas.

Lucienne sabia, naquele momento, o que o mestre havia feito com Briely.

Ela esperava que a jovem conseguisse fugir quando escapou com o presente que o lorde  Lorde Poseidon deu a ela e ela o usou  quando fuigiu do sonhar.

mas isso não ocorreu, afinal.

 

“Mestre, o que você fez?”

A voz de Lucienne saiu trêmula, carregada de uma mistura de medo e reprovação.

Ela sabia, no fundo, a resposta, mas precisava ouvir as palavras dele.

 

Morpheus lançou-lhe um olhar cortante.

O que eu precisava fazer, Lucienne,”

respondeu ele, a voz fria e cortante como uma lâmina, sem espaço para questionamentos.

 

Lucienne sentiu um aperto no peito.

Sua lealdade a Morpheus era inabalável, mesmo depois disso, mas algo dentro dela se retorcia ao ver o estado de Briely.

“ No final, o mestre conseguiu o que queria,”

pensou ela, um peso de culpa se instalando em sua mente.

Jovem senhorita, eu sinto muito.”

No entanto, ela sabia que questioná-lo agora seria inútil, talvez até perigoso.

Com um aceno de cabeça resignado, ela deu passagem, seus olhos seguindo a figura imponente de Morpheus enquanto ele continuava, com Briely inconsciente em seus braços.

 

Ao chegar ao quarto, Morpheus a deitou na cama com uma reverência perturbadora, seus dedos demorando-se por um instante em seu rosto.

Ele se deitou ao lado dela, puxando-a para seus braços, e deu um beijo suave em sua testa.

Agora você não vai se separar mais de mim,”

sussurrou contra a pele dela.

 

Briely, ainda perdida na escuridão de sua inconsciência, não respondeu.

Seu rosto, mesmo em repouso, carregava traços de angústia, as sobrancelhas franzidas como se estivesse presa em um pesadelo sem fim.

 

Morpheus a segurou com mais força, os dedos cravados em sua cintura, como se temesse que ela pudesse evaporar no ar.

Fechou os olhos, inalando o cheiro de terra e medo que ainda impregnava sua pele.

Ele sabia que havia cruzado um limite irreversível.

mas também sabia que faria tudo de novo.

sem hesitar, para mantê-la ao seu lado.

 

Seus dedos começaram a traçar os contornos do corpo dela, deslizando lentamente por baixo do casaco que a cobria, explorando cada curva com uma posse deliberada.

Você não tem ideia do quanto esperei por isso,”

murmurou ele, a voz rouca, quase um rosnado baixo

Do quanto te quis desde o primeiro momento que te vi.”

Ele inclinou a cabeça, os lábios roçando o pescoço dela, beijando as marcas arroxeadas que ele mesmo havia deixado.

E agora você é minha. Não vou deixar ninguém te tirar de mim.”

 

Ele puxou o casaco de lado, expondo mais da pele machucada de Briely, os olhos fixos em cada detalhe como se estivesse memorizando cada marca.

Tão perfeita assim,”

disse ele, a mão deslizando pela lateral do corpo dela, apertando com firmeza.

só minha.”

 

Ele se moveu, ajustando o corpo dela contra o seu, os lábios descendo pelo pescoço até a clavícula, deixando um rastro de beijos possessivos.

Eu poderia te acordar agora,

sussurrou contra a pele dela, os dentes roçando de leve enquanto falava.

Fazer você sentir tudo de novo, sentir o quanto te desejo.”

Ele parou por um momento, se contendo, e então riu baixo, o som ecoando no silêncio do quarto.

Mas vou te dar esse tempo. Só um pouco mais de descanso, meu amor. Porque quando você acordar, não vou me segurar mais com você. ”

 

Ele se inclinou mais uma vez, capturando os lábios inchados dela em um beijo, forçando passagem enquanto sua mão deslizava mais para baixo, explorando a pele exposta com um toque que era ao mesmo tempo desejo e controle.

Ninguém vai te tirar de mim agora, Briely,”

murmurou contra a boca dela, os dentes roçando o lábio inferior.

Nem seu pai, nem algum deus, nem mesmo  o destino.

Você é minha, e vou provar isso quantas vezes for preciso.”

“Descansa enquanto pode, meu amor,”

sussurrou ele, os lábios roçando a testa dela mais uma vez.

“Porque quando você acordar, vamos nos casar.

E não vai haver mais fugas suas. Só eu e você... pra sempre.”

 

 

 


 

 

 

Quando Briely acordou, a primeira coisa que sentiu foi o corpo dolorido e pesado, uma dor aguda no abdômen e, principalmente, entre suas pernas.

O peso de alguém a abraçando a fez congelar.

e ela sabia exatamente quem era.

As lágrimas começaram a cair no mesmo instante, soluços baixos escapando dela enquanto tentava processar a realidade.

Morpheus a puxou para si com firmeza, o peito dele pressionado contra suas costas.

 

Shh minha rainha, está tudo bem. Vou cuidar de você,

disse ele, a voz suave, mas carregada de uma posse que a fez tremer.

Briely encolheu-se instintivamente ao som daquelas palavras.

Ela lembrava vividamente da brutalidade dele, da forma como ignorou seus gritos e súplicas para ele  parar.

Ele a havia tomado à força no chão frio da floresta.

Sem dizer nada, ela manteve os olhos fechados, recusando-se a encará-lo.

Implorar agora não adiantaria, afinal.

 

“Olhe pra mim,”

ordenou ele, a voz baixa, mas com um tom que não admitia desobediência.

 

Ela se recusou, mantendo o rosto virado, os olhos apertados.

Morpheus suspirou, e ela sentiu a mão dele tocar sua bochecha, os polegares limpando as lágrimas que escorriam.

Olhe pra mim, Briely,”

repetiu, agora com um tom mais autoritário, que fez um arrepio de medo percorrer sua espinha.

 

Com relutância, ela abriu os olhos.

embora quisesse negar e desobedecer.

Decidiu não o irritar agora, temendo o que ele poderia fazer com ela novamente.

Seus olhares se encontraram, e ela o encarou com raiva e tristeza, os olhos inchados de tanto chorar.

Ele pareceu estudar sua expressão por um momento antes de falar.

 

Você se sentiria melhor com um banho,”

disse ele, sem esperar por uma resposta.

Ele a pegou no colo de repente, carregando-a em direção ao banheiro.

Briely ficou rígida em seus braços, sem forças para resistir.

Ao chegarem, ele a colocou no chão com cuidado, mas suas mãos logo removeram o casaco que a cobria, deixando-a completamente nua.

Instintivamente, ela cruzou os braços sobre o corpo, tentando se cobrir enquanto ele se afastava para preparar a banheira.

 

Quando voltou, Briely deu um passo para trás, mas Morpheus apenas a pegou no colo novamente, ignorando seu retroceder.

Ele a colocou dentro da banheira, a água quente envolvendo seu corpo e oferecendo um alívio momentâneo à dor física.

Mas o instante de paz se desfez quando ele começou a tirar suas próprias roupas.revelando o corpo nu, pálido e esguio.

Briely se encolheu, movendo-se rapidamente para o lado oposto da banheira, o coração disparado.

 

“Minha querida esposa, por que você está fugindo de mim?”

perguntou ele, o tom quase zombeteiro enquanto se aproximava dela.

Ela se levanta e sai da banheira colocando espaço entre eles, mais ele se move para o lado onde ela esta.

As pernas dela tremeram, e um sorriso lento se formou nos lábios dele ao perceber isso.

 

Esposa? Esposa? Eu não sou sua esposa, Morpheus! Você me estuprou!”

exclamou ela, a voz carregada de raiva enquanto o encarava, os olhos brilhando de ódio.

Ele, no entanto, pareceu achar a reação adorável, os olhos escuros brilhando ao vê-la enfrentalo.

 

Você é minha esposa agora,”

retrucou ele, aproximando-se até ficar a apenas alguns passos dela.

E vou tornar isso oficial, quer você aceite ou não.”

 

Briely não soube o que a possuiu naquele momento.

Mais Ao ouvir aquelas palavras, algo dentro dela explodiu.

Sem pensar, ela ergueu a mão e deu um tapa no rosto dele, o som ecoando nas paredes do banheiro.

 

O rosto de Morpheus virou um pouco para o lado com o impacto, e por um breve instante, o silêncio foi sufocante.

 

Você me bateu,”

disse ele, a voz baixa, perigosa, causando arrepios nela.

Briely deu um passo para trás, as costas colidindo com a parede fria do banheiro.

Ele virou o rosto lentamente, os olhos brilhando ao encará-la.

“Ninguém pode me bater.”

 

E o que você vai fazer comigo dessa vez? Vai me estuprar de novo? Me forçar a casar com você?”

retrucou ela sem pensar, a voz tremendo de raiva, embora o medo pulsasse em cada palavra.

 

Morpheus avançou, encostando o corpo no dela, o calor de sua pele contrastando com a frieza da parede.

Ele levantou o queixo dela com os dedos, forçando-a a olhar para ele.

Agora que você não é mais donzela, eu posso me casar com você, mesmo que não queira.

Afinal, eu tirei isso de você. Nem mesmo Poseidon poderia ajudar você agora.

Ele não terá outra escolha senão aceitar. Ele  Não pode se opor a mim.”

 

Ele a beijou sem aviso, um beijo dominante que ela não conseguiu evitar.

Em seguida, suas mãos agarraram a cintura dela, levantando-a com facilidade e a levando de volta para a banheira.

Ele a colocou na frente dele, sentando-se atrás, as costas dela pressionadas contra o peito nu enquanto a abraçava por trás.

Suas mãos começaram a lavá-la, passando pela pele dela, removendo traços de terra da floresta que ainda grudavam em seu corpo.

 

Os olhos de Briely desceram para a água, e ela notou o tom avermelhado que tingia a superfície, o sangue seco de suas coxas dissolvendo-se lentamente.

Aquilo a fez sentir um nó na garganta, a vontade de chorar voltando com força, mas ela engoliu o choro, segurando as lágrimas com o pouco de força que ainda tinha.

 

Morpheus moveu as mãos para lavar aquela área, mas Briely se encolheu violentamente, agarrando sua mão com uma força que nem sabia que ainda possuía.

“Eu faço isso,” disse ela, com voz rouca.

 

Não. Você não se moverá. Eu lavarei minha esposa,”

respondeu ele, firme, já retomando o movimento.

Suas mãos a lavaram com uma determinação que parecia gentil.

mas o sangue se espalhando na água fazia Briely se encolher ainda mais. o corpo tenso sob o toque dele.

 

Ele beijou o pescoço dela, os lábios quentes contra a pele marcada.

Está tudo bem. Você não precisa ficar tensa. Não farei nada com você aqui,”

murmurou ele, as mãos dele continuando a lavá-la, suas mãos deslizando com cuidado sob a pele dela , o que a fazia estremecer.

 

 


 

 

 

No coração do reino submarino, as correntes pareciam mais agitadas, como se espelhassem a tempestade que rugia dentro de Poseidon.

O deus dos mares estava encurvado em seu trono de coral, os olhos fixos em um ponto distante, enquanto sua mente girava em tormento.

Horas haviam se passado desde que um de seus súditos mais fiéis.

um tritão de confiança, trouxe as notícias perturbadoras pra ele  sobre o que aconteceu na praia com sua filha, Briely, e Morpheus, o Senhor dos Sonhos.

Cada palavra do relato ecoava em sua mente  Briely, ferida e desesperada usando seus poderes contra o Morpheus.

Oque seu súdito disse que ouviu sua filha falando que o senhor dos sonhos tentou fazer com ela, como ele a levou embora.

 

Poseidon havia enviado cartas, emissários e até mensagens para o reino dos sonhos, mas nenhuma resposta veio.

O silêncio de Morpheus era uma afronta.

E  uma confirmação de suas piores suspeitas.

Ele temia pelo que sua filha, sua única filha, estaria enfrentando agora  nas mãos do morpheus.

Ele mal teve tempo de conhecê-la, apenas uma única noite de conexão, e agora ela parecia perdida para ele.

Seu súdito relatou tudo o que ouviu, e a pena que Poseidon sentia por sua garotinha era um peso esmagador em seu peito.

Ele tinha quase certeza de que, a essa altura, Morpheus já a tomou para si.

 

 

 

 

 

 

Enquanto isso, Artemis sentiu uma mudança no ar.

Uma sensação aguda, como o estalar de um fio invisível, percorreu seus sentidos.

Ela percebeu que a virgindade de sua prima Briely se foi.

Desde que Afrodite, alguns dias após conhecer Briely em um jantar, a  confidenciou que a jovem perderia sua pureza muito em breve.

e pediu a Artemis para ficar de olho, ela mantive uma vigilância discreta.

Afrodite queria saber exatamente quando isso ocorresse, e Artemis, preocupada com o destino de sua prima, decidiu monitorar a situação de perto.

Agora, com essa mudança confirmada, a inquietação apertou seu coração.

Ela sabia que Briely não estava noiva, e o fato dela  de ter perdido sua virgindade para o Senhor dos Sonhos, Morpheus, a enchia de apreensão.

 

Preocupada e determinada a agir, Artemis se teletransportou para o reino de seu tio.

Ao encontrar Poseidon, não se deteve com formalidades.

Seus olhos, sempre atentos como os de uma predadora, cravaram-se nos dele.

 

“Tio, senti a virgindade de Briely desaparecer. Morpheus a desonrou,”

declarou ela, sem rodeios, a voz firme, mas carregada de preocupação pela prima.

 

Poseidon sentiu um nó apertar em seu peito, uma confirmação que ele temia, mas que agora era inegável.

Sua tristeza pela filha se misturou a uma raiva fervente, sua mão apertando o tridente com tanta força que o coral ao redor estalou.

“Como ele ousou?

Eu Deixei claro que negava esse casamento, e mesmo assim ele desonrou minha filha.

Ele me deixa sem escolha a não ser aceitar essa união forçada.

Como um Perpétuo, ele está além de qualquer intervenção minha.

Não há nada que eu possa fazer para reverter isso.”

Sua voz  como um trovão, cheia de frustração e impotência.

“Eu temi mesmo que isso acontecesse.”

 

Artemis observou seu tio com olhos estreitados, vendo a dor e a raiva estampadas em seu rosto.

Ela sabia que ele estava certo; contra um Perpétuo, até mesmo um deus como Poseidon tinha suas limitações.

“Tio, algumas deusas do nosso panteão já devem saber. Elas também podem ter sentido a mudança,”

acrescentou ela, a voz mais baixa, mas carregada de pesar.

 

Poseidon parou, virando-se para encará-la, seu rosto contorcido de humilhação.

“Isso só piora as coisas. Agora, todos saberão que ela foi desonrada, e que não consegui proteger minha única filha.”

 

Com um suspiro pesado, ele se levantou e caminhou em direção a seu escritório no palácio submerso, um espaço onde as correntes de água dançavam pelas janelas, refletindo a inquietação de seu coração.

Ele precisava de isolamento para processar a vergonha e a dor.

Mas não teve muito tempo para si mesmo. Anfítrite, sua esposa, encontrou-o lá, seu rosto cheio de preocupação enquanto se aproximava.

 

“É verdade?”

perguntou ela, a voz suave, mas trêmula.

“Ouvi algumas ninfas cochichando sobre o que houve com Briely na praia com Morpheus, e sobre o que poderia ter acontecido com ela a essa altura.”

 

Poseidon assentiu, o olhar distante fixo nas correntes que giravam além da janela.

“Sim, é verdade. Morpheus a desonrou, e agora não há nada que eu possa fazer além de permitir que ele se case com ela.”

 

Anfítrite aproximou-se, pousando uma mão gentil em seu ombro, um gesto de consolo diante da tempestade que ela sabia que o consumia.

“Isso é difícil, meu amor, mas talvez haja uma maneira de encontrar paz nisso. Briely está viva, e Morpheus parece determinado a mantê-la ao seu lado. Ela ficará bem.”

 

Poseidon virou-se para ela, os olhos marejados de raiva e dor.

“Talvez você esteja certa. Mas a humilhação...

Eu não consegui protegê-la dele. Deveria tê-la trazido para morar comigo.

Aqui, ela estaria mais segura conosco. Ela não teria que passar por isso.”

 

Anfítrite balançou a cabeça levemente, a expressão serena, mas firme.

“Querido, não acho que isso teria funcionado. Ele daria um jeito de conseguir o que queria. Ele é um Perpétuo, afinal.”

 

Ela ofereceu um sorriso tímido, quase frágil, mas cheio de uma força silenciosa.

“Nós somos deuses, meu amor. Temos a eternidade para nos curar. E quem sabe? Talvez este casamento traga algo positivo.

Uma união entre um Perpétuo e ela poderia fortalecê-la, protegê-la de outros perigos. Você me disse que ela é meia humana, não é?

Afrodite confidenciou que Morpheus a aprecia de uma forma... intensa.”

 

Poseidon soltou um suspiro longo, os ombros caindo enquanto se sentava em uma cadeira.

Sua mente era um turbilhão de emoções

 raiva, tristeza, impotência – mas, no fundo, ele sabia que agora não podia fazer mais nada.

O caminho à frente seria tortuoso, cheio de murmurações entre os deuses e olhares de julgamento.

Ainda assim, uma determinação  começou a se formar em seu peito.

Ele engoliria o amargo sabor da derrota.

e da perda de sua única filha.

mas não descansaria até encontrar uma forma de, pelo menos, garantir que ela tivesse algum vislumbre de segurança ou felicidade, mesmo nas mãos de Morpheus.

 

Ele olhou para Anfítrite, a voz rouca, quase um murmúrio.

“Eu falhei com ela com minha única filha. Mas juro  que, de alguma forma estarei lá pra ela, farei o que puder para ajuda-la e que ela não sofra mais do que já sofreu.”

Chapter 9: 9 edi

Notes:

Capítulo editado;)

(See the end of the chapter for more notes.)

Chapter Text

   

 

 

 

Morpheus envolveu Briely num roupão macio após o banho.

A água ainda gotejava de seus cabelos, formando pequenas poças no chão enquanto ele a conduzia de volta ao quarto, carregando-a em seu colo como se ela fosse uma criança frágil.

 

Ele a depositou na cama, o colchão afundando levemente sob seu peso.

Briely não olhou para ele, desviando o rosto com uma expressão de pura relutância, com corpo tenso.

Ele apenas suspirou, percebendo que a raiva dela ainda ardia sob a pele.

O corpo dela pulsava com as lembranças dolorosas da noite anterior, uma mistura de vergonha e medo apertando seu peito como um torno.

 

Indiferente à sua resistência, Morpheus vestiu-se com calma, os movimentos precisos e deliberados.

Ele escolheu um vestido preto  no armário, o tecido escuro e elegante.

Aproximou-se, tocando o rosto de Briely com dedos frios, forçando-a a encará-lo.

"Isso poderia ter acontecido de outra maneira, sabe ", disse ele.

" Se você simplesmente não teve fugido e aceito o que eu ofereci."

 

Briely apertou as mãos no colo, os nós dos dedos brancos de tanto apertar.

Não disse nada, apenas mordeu os lábios para conter as palavras que queria cuspir nele.

Ele contínuo, impassível.

"Trouxe esse vestido para você. Vamos, vista-se."

Sem esperar pela resposta dela começou a tirar o roupão dela, os dedos roçando sua pele enquanto ajustava o vestido no corpo dela.

Quando terminou, sentou-se ao lado dela na cama.

mas Breely imediatamente se arrastou para o outro lado, criando o máximo de distância possível.

 

Ele riu baixo, um som que fez o estômago dela revirar.

"Mesmo se você quisesse, não poderia fugir para longe de mim. Nem do que a espera."

Levante-se, com os olhos fixos nela.

" Temos algo a discutir, mas primeiro você precisa comer."

Com um gesto de mão, ele invocava uma mesa farta no canto do quarto, repleta de alimentos que exalavam um aroma doce e tentador.

Briely, no entanto, encolheu-se mais na cama como uma bola, as mãos agarrando seus cabelos molhados, o rosto escondido enquanto memórias da floresta a sufocavam.

Ela Sentia-se entorpecida, perdida em um looping de dor e desespero.

 

Morpheus voltou até ela, inclinando-se para abraçá-la.

Ele retirou as mãos dela dos cabelos com firmeza, mas sem brutalidade.

"Está tudo bem, Briely,"murmurou pra ela 

 

"Como você pode fazer isso comigo?"

Disse ela, com a voz rouca, quebrada pela raiva e pela dor.

"Como pode dizer que está tudo bem?"

 

"Isso não importa mais agora,"

respondeu ele, sem hesitação, os olhos fixos nos dela.

 

"Não importa? Como não importa?"

retrucou ela, a voz subindo um tom, embora tremesse.

 

"Você deveria comer algo,"

cortou ele, ignorando a pergunta.

O estômago de Briely se revirou, enojado pela situação, pela frieza dele, pela completa ausência de remorso.

Ele não deve ter mesmo nenhum remorso pelo que fez comigo,” Pensou ela, os olhos fixos no vazio.

" Para piorar a situação, eu nem sequer posso pedir ajuda agora. De que adiantaria? Pra quem eu pediria?

Eu confiei tanto nele que nem pensei que algo assim pudesse acontecer.

Ele é mais que um deus. Eu deveria ter desconfiado dele. Fui tão ingênua e agora não posso fazer nada.”

 

Ele interrompeu seus pensamentos, tirando-a do transe com um toque firme no ombro.

Sem dizer uma palavra, pegou-a no colo novamente, carregando-a até a mesa cheia de comida.

Sentou-a numa cadeira ao lado dele, o olhar pesado sobre ela.

Briely encarou os pratos fumegantes, frutas, pães, carnes assadas, mas ela não sentiu nada além de náusea.

"Coma, minha rainha," tentei ele, a voz baixa, mas carregado de um tom ameaçador.

" Ou vai precisa que eu a alimente ?"

 

O desafio em seus olhos a fez ceder.

Mesmo sem fome, ela pegou um pedaço de pão e começou a comer, cada mordida um esforço contra a bile que subia pela garganta.

Ela Sentia o olhar dele sobre ela, observando cada movimento como um predador.

Após um longo silêncio, ele decidiu falar.

"Briely", chamou, e ela parou de comer, os dedos trêmulos segurando o pão.

"Vou pedir a Lucienne para fazer os preparativos para nosso casamento ."

 

Ela transmite os olhos, o coração disparado.

"E se eu não aceitar?" Sua voz gaguejou, mas o olhar era firme, cheio de ressentimento e raiva, mesmo que o medo a corroesse por dentro.

"Eu posso dizer não."

 

Ele sorri , um sorriso frio, vazio, que não alcançava seus olhos.

"Minha rainha, você não tem escolha. É melhor você não me desafiar. Você sabe disso. O Nosso casamento vai acontecer ."

Inclinou-se mais perto, a voz baixando para uma sugestão de perigo.

"Você se lembra que aceitou minha proposta antes, não lembra?"

 

"Eu só disse isso para você parar!"

retrucou ela, com a voz cortante.

"Mas não funcionou, não é?"

 

" Vamos nos casar, você querendo ou não. Eu já decidi a nossa cerimônia,"

continua ele, ignorando-a.

" Vamos nos casar em uma cerimônia antiga. E Com isso Vamos unir nossas essências.

após consumarmos o nosso casamento. Você ficará ligado a mim. Você não vai mais envelhecer e não vai morrer, não que eu morra.

Nossas vidas estão ligadas para sempre."

 

O coração de Briely disparou, as palavras dele se assentando como grilhões em sua mente. Ela Sentiu vontade de chorar, as lágrimas queimando nos cantos dos olhos.

"Você nunca planejou me deixar ir embora, não é?"

Perguntou, com a voz quase sumindo.

"Nunca planejou me ajudar a encontrar um caminho de volta para casa. Mentiu quando disse que ia me ajudar, não foi?"

 

" Sim, isso é verdade ,"

admitiu ele sem hesitação, com olhos frios e implacáveis.

" Nunca pensei em ajudar-la a voltar pro seu universo depois que me apaixonei por você."

 

"Eu não quero ficar ligado a você,"

disse ela, com voz tremenda de desespero.

" Eu só queria uma vida onde eu envelhecesse e morresse.

Eu sinto tanta falta da minha família, dos meus amigos... da minha mãe, do meu irmão..."

 

A expressão de Morpheus escureceu, um brilho perigoso nos olhos.

" Sua família? Eles não são nada comparados a mim, Briely. Você é minha, e sempre será. Essa cerimônia garantirá que você esteja ligado a mim de todas as maneiras possíveis. Eu serei sua família. "

 

"Eu só quero voltar para casa"

sussurrou ela, a voz quase inaudível, quebrada.

mas é claro que ele ouviu.

 

"Sua casa é comigo agora, Briely," retrucou ele, inflexível.

" E farei de tudo para garantir que você nunca mais deseje deixar meu lado. Criaremos nossa própria família após o nosso casamento. Teremos nossos próprios filhos."

 

O pensamento de ter filhos com ele a fez estremecer, o estômago dela se contraindo com um novo tipo de medo.

 

 

"Filhos? Morpheus, eu... eu só tenho dezesseis anos ainda. Eu não quero e não estou pronta para isso ,"

gaguejou, com a voz vacilante, os olhos dela  arregalados de pavor.

 

Ele não se importou com o desespero dela.

Simplesmente retirou a da cadeira, ignorando suas tentativas de luta contra ele.

Pegou-a no colo e  a  colocou em seu próprio colo, os braços envolvedo-a.

Briely fechou os olhos, e lágrimas frescas já escorriam pelo seu rosto.

e dessa vez ela não as segura .

Morpheus inclinou-se, os lábios roçando suas lágrimas, beijando-as com uma atenção que contrastava com o terror que suas palavras provocavam.

" Filhos ," repetia a mente dela, um eco aterrorizante.

" Ele quer filhos comigo. Isso não pode estar acontecendo."

 

Segurando o rosto dela entre as mãos, ele a beijou profundamente, a língua invadindo sua boca com uma fome possessiva que a deixou sem fôlego.

Ela tentou recuar, mas não havia espaço, o corpo dele a prendeu contra si.

O beijo era bruto, os lábios dele esfregando os dela com uma urgência que não dava margem a resistência.

A língua dele explorava cada canto de sua boca, dominando-a completamente, o gosto dele era uma mistura de algo doce e amargo enchendo seus sentidos.

A saliva escorria entre suas bocas, molhada e invasiva, enquanto ele segurava sua nuca com força, impedindo qualquer movimento dela de  fugir.

Era um beijo que não pedia permissão, que tomava tudo, deixando-a sufocada e tremenda, o corpo dela ficou tenso contra o dele.

 

Quando finalmente ele a solta ele se encostou, encostou a testa na dela, os olhos como um abismo que a engolia inteira.

"Teremos filhos, meu amor ", sussurrou.

" Príncipes e princesas. Eles serão nossa família, uma prova viva do nosso amor. Você será uma mãe perfeita para eles ."

E ele a beijou novamente, selando as suas palavras.

 

Briely sentindo um arrepio gelado descendo por sua espinha, o peso do futuro se fechando ao seu redor.

Não havia como escapar disso não é?

não havia como lutar contra a vontade de um ser como ele. 

Ela estava presa, e cada palavra, cada toque, apenas apertava mais as correntes invisíveis que atavam a Morpheus.

 

 

 


 

 

 

 

 Mais tarde Morpheus conduziu Briely até a sala do trono, os passos dele ecoando pelo vasto salão de pedra escura, enquanto ela permanece em seus braços.

Lá Ele a sentou em seu colo, os braços dele  a  envolvendo com uma firmeza que não deixava espaço para ela se movimentar.

Isso só fez se sentir minúsculo e vulnerável, como uma presa encurralada sob o peso de um predador.

Lá, Lucienne os aguardava, sua expressão uma máscara de seriedade e obediência, sem deixar transparecer qualquer emoção.

 

"Lucienne", começou Morpheus, a voz dele ecoando pelo salão.

" Quero que prepare os preparativos para o nosso casamento imediatamente. Quero que tudo fique perfeito."

 

“Sim, milorde,” respondeu ela, inclinando a cabeça com respeito absoluto.

"Eu vou cuidar de tudo."

 

Morpheus descansou a cabeça no ombro de Briely, o gesto enviando um arrepio por sua espinha.

"Meu amor, você tem alguma preferência para o nosso casamento?"

Disse, o tom quase doce, mas carregado de uma expectativa que a sufocava.

 

Ela permaneceu em silêncio, os pensamentos girando em um turbilhão de desespero e resignação por tudo que estava por vir.

Sua mente estava em outro lugar, distante, tentando fugir da realidade que se fechava ao seu redor.

Ele, percebendo sua distração, beijou seu pescoço, as lábios quentes contra sua pele, tirando-a do transe.

Um arrepio involuntário percorreu seu corpo, e ela respondeu rapidamente: "Não."

 

Morpheus suspirou, uma ponta de impaciência e descontentamento em seu tom.

"Muito bem", disse ele, dispensando Lucienne com um gesto seco da mão. "

Você pode ir. Cuide de tudo, Lucienne."

 

Lucienne saiu da sala em silêncio, embora, em seu coração, uma pontada de pena pela senhorita doesse em segredo.

Briely ficou sozinho com a presença sufocante de Morpheus.

Ele se declarou, ainda segurando-a com firmeza, e a levou de volta ao quarto.

No caminho, algo fez o estômago dela se revirar: ela notou que o quarto que ela ocupava antes estava ao lado do dele.

 

" Este será o nosso quarto a partir de agora ", declarou ele, em voz baixa, mas definitiva.

" Você dormirá no meu quarto de agora em diante, meu amor."

 

Ele a depositou na cama com cuidado.

"Descanse um pouco. Amanhã será um novo dia, um dia maravilhoso, afinal e o dia do nosso casamento. Mais tarde, passarei para ver como você está. Por enquanto, quero que  você descanse,"

disse ele, os olhos fixos nela, como se pudesse devorar qualquer tentativa de resistência dela.

 

"Morpheus", ela perguntou,

"por que o meu quarto antigo estava ao lado do seu?"

 

Ele se virou para ela, um sorriso enigmático curvando seus lábios, os olhos brilhando com algo sombrio.

"Este e o quarto da rainha. Sempre ao lado do rei. Agora, você entende?"

 

Um nó se formou na garganta dela, a compreensão sobre ela como uma avalanche.

Ela tinha sido tão cega, não é?

Cada gesto, cada olhar, cada toque gentil de Morpheus não era afeto desinteressado, mas parte de um plano meticulosamente traçado para aprisioná-la.

As memórias de como ele sempre a tratava com um carinho aparente, como parecia estar sempre atento aos pequenos detalhes, agora se retorciam em sua mente como armadilhas disfarçadas, cada lembrança um golpe que a fazia sentir-se ainda mais tola.

 

Morpheus se mudou, puxando-a para perto com uma força que não admitia recusa.

Ele capturou seus lábios em um beijo profundo, dominador, os dentes roçando levemente contra sua boca enquanto a invadia com uma intensidade que a deixava sem ar.

Encostou a testa na dela, os olhos fixos nos seus.

"Descanse, meu amor. Amanhã será um dia maravilhoso", murmurou, a voz carregada de promessa.

 

Com um movimento fluido, ele se dissolveu em uma nuvem de areia, deixando Briely sozinho no quarto que agora seria deles.

Ela se deitou na cama, puxando as cobertas até o queixo como se protegeu-la da realidade, mas ela sabia que não adiantaria.

Fechou os olhos, mas as memórias da noite anterior ainda eram vívidas e cortantes como lâminas em sua mente

 o momento em que Morpheus a dominou no chão da floresta, o peso do corpo dele, a sensação de impotência que sentiu na praia, onde seus poderes não tiveram efeito algum contra ele.

Tudo se repete em um ciclo tóxico.

e agora amanhã ela tinha que se casar com ele.

 

"Por favor, não," sussurrou para o vazio, as lágrimas escorrendo por seu rosto.

"Eu só quero voltar para casa. Isso é um pesadelo."

 

Mas a realidade era implacável, um peso esmagador do que aconteceria amanhã a sufocava.

Com um soluço baixo, ela deixou as lágrimas a consumir até que o cansaço a levou ao sono.

E nem isso era um refúgio, porque ele era o senhor dos sonhos e pesadelos afinal.

Mesmo em seus sonhos, não havia como ela escapar dele.

 


 

 

 

 

 

Briely acordou com uma respiração quente em seu ouvido, o sussurro de uma voz profunda e familiar a tirando do sono.

"Acorde, meu amor,"

murmurou Morpheus, o que a fez entrar em alarme instantaneamente.

"É hora."

 

Ela abriu os olhos devagar, a mente ainda enevoada, os olhos pesados de um sono que não trouxera descanso.

Seu corpo parecia de chumbo enquanto tentava se situar.

Ele estava inclinado sobre ela, o rosto a centímetros do dela, um sorriso predatório curvando seus lábios.

 

"Você é sempre tão adorável ao acordar,"

disse ele, um brilho de desejo dançando em seus olhos  enquanto a observava naquele momento.

Sua mão roçou levemente a bochecha dela, um toque que a fez enrijecer.

 

As palavras seguintes dele a acordaram completamente.

"Lucienne estará aqui em breve para ajudá-la a escolher o vestido e se arrumar para a cerimônia."

 

O pânico subiu pela garganta de Briely como bile.

Ainda grogue, mas movida por um instinto de fuga que pulsava em seu sangue, ela tentou se afastar dele.

Seus braços se moveram desajeitadamente, buscando se erguer da cama, escapar do peso da presença dele.

Mas, claro, ele foi mais rápido.

Suas mãos fortes agarraram os braços dela, o corpo alto e dominante pairando sobre o dela, prendendo-a contra o colchão.

 

"Não... eu não quero ficar ligada a você, não quero me casar,"

disse ela, com voz fraca, mas carregada de desespero enquanto tentava se debater inutilmente sob o aperto dele.

 

Morpheus inclinou a cabeça, os olhos estreitando-se com uma mistura de irritação e divertimento sombrio.

"Eu não estou lhe perguntando," retrucou .

"Estou afirmando. Você vai se casar comigo hoje."

Ele se inclinou mais, selando suas palavras com um beijo nos lábios dela.

 

Quando se afastou, sua expressão endureceu.

" E Nem pense em tentar fugir de mim se  novo,"

acrescentou, a voz baixando para um tom ameaçador que fez os cabelos da nuca dela se arrepiarem.

Ele se inclinou ainda mais perto, os lábios roçando seu ouvido enquanto sussurrava:

"Se você ousar fugir de mim e do nosso casamento, eu vou fazer amor com você até que não consiga sequer andar por vários dias.

E, mesmo assim, você vai se casar comigo."

 

Ele recuou apenas o suficiente para encarar os olhos dela, o sorriso cruel brincando em sua boca.

"Você acha que alguém pode ajudar você agora?

Nem mesmo Poseidon pode fazer isso. Não que ele pudesse antes. Se você tivesse sucesso e conseguido fugir e ido até ele, eu ainda  iria buscá-la. Ele não poderia lutar contra mim."

 

O peso de suas palavras esmagou qualquer faísca de esperança que ainda pudesse restar em Briely.

Seus olhos se encheram de lágrimas, mas ela as conteve, não querendo dar a ele a satisfação de vê-la quebrar ainda mais.

 

"Você vai ser uma boazinha e não vai tentar nada, entendeu?"

perguntou ele,  exigindo  que ela o obedeça.

 

"Eu entendi,"

sussurrou ela, a voz trêmula, quase inaudível, com o medo de que ele repetisse o que já havia feito com ela.

"Não farei nada."

 

Morpheus assentiu, um brilho de satisfação cruel reluzindo em seus olhos.

Ele soltou os braços dela e se sentou na cama, mantendo-a sob seu olhar vigilante.

Briely se sentou a uma pequena distância, o corpo tenso, tentando criar qualquer barreira possível entre eles, por menor que fosse.

 

"Mais uma coisa,"

começou ele, com a  voz firme, mas calma, como se estivesse discutindo algo trivial.

"Eu quero o anel. Quero que renuncie à posse dele, ou eu o destruirei."

 

"O quê?"

perguntou ela, o coração se  apertando ao entender do que ele falava.

 

"O anel, meu amor. Ele é perigoso, e eu não o quero com você.

Você usou essa espada para me esfaquear pelas costas, está lembrada?" continuou ele.

"Eu quero que você me dê. Agora."

 

Briely balançou a cabeça, o desespero subindo novamente.

"Eu não... É meu. Meu pai me deu, você sabe disso. Eu não vou te dar."

 

Os olhos de Morpheus escureceram, a paciência se esvaindo.

"Se você não o renunciar de boa vontade e me der o anel, eu vou destruí-lo. Escolha."

 

"Não, por favor, Morpheus,"

implorou ela, a voz falhando com a emoção.

"É um dos poucos presentes que meu pai me deu. Deixe comigo, não me faça renunciá-lo."

 

"Não," retrucou ele, a palavra final, sem espaço para negociação.

 

Briely tentou uma última vez, os olhos brilhando com lágrimas contidas.

"Eu prometo que não vou usá-lo novamente. Eu juro pelo rio S—"

 

Antes que ela pudesse completar, a mão de Morpheus cobriu sua boca com força, interrompendo-a.

Seus olhos brilhavam com uma raiva controlada, mas assustadora.

"Não diga essas palavras novamente eu a  proíbo. Eu não quero ouvir você falar esse juramento novamente, entendeu, Briely?

Eu não quero ouvir você falar a palavra 'Styx'. Você me ouviu?" disse ele, com a  voz baixa, mas carregada de  ameaça o que fez o corpo dela tremer.

Ainda com a mão sobre sua boca, ela assentiu rapidamente, o medo pulsando em suas veias.

"Ok," murmurou, a voz abafada contra os dedos dele.

 

Ele retirou a mão devagar, os olhos ainda fixos nos dela.

"Agora me dê o anel."

 

Briely olhou para o anel em sua mão, o objeto que representava tanto para ela.

Suas mãos tremiam enquanto ela o encarava, a voz triste e derrotada enquanto falava em voz alta.

"Eu não quero que você volte mais para mim. Eu não sou mais sua portadora."

Com um movimento lento e doloroso, ela tirou o anel do dedo, cada gesto parecendo arrancar um pedaço de sua alma.

"Ok... eu renuncio a você," sussurrou, entregando-o a ele.

 

Morpheus pegou o anel com uma expressão de triunfo discreto, guardou-o no bolso interno de seu casaco e se inclinou para beijar a testa dela.

"É melhor assim," murmurou.

 

"Bom, por hora, tome um banho e se prepare. Lucienne estará aqui em breve com seu café da manhã e para ajudá-la a se arrumar,"

acrescentou ele, levantando-se da cama.

"Verei você em breve, meu amor."

 

Com um movimento fluido, ele se teletransportou em uma nuvem de areia, deixando Briely sozinha no quarto.

Seus pensamentos giravam como um redemoinho, a perda do anel pesando   em seu peito.

"O meu anel... ele pegou o meu anel," pensou, o vazio se aprofundando enquanto encarava as próprias mãos agora nuas.

 

Sabendo que não havia escapatória para o que viria, ela se levantou com movimentos pesados, o corpo parecendo não pertencer a ela enquanto se dirigia ao banheiro.

Cada passo era um lembrete de sua impotência, da prisão que Morpheus havia construído ao seu redor.

A água do banho não trouxe conforto, apenas um lembrete de que o dia do casamento era hoje.

o dia em que ela seria permanentemente ligada a ele.

Ela se sentia como uma marionete, manipulada por fios invisíveis, e não havia como cortá-los.

Ainda não. Ou Talvez nunca.

 


 

 

Após ela terminar de se banhar, o vapor ainda pairava no ar.

Briely sentou-se na penteadeira, os olhos fixos no vazio refletido no espelho.

Seus dedos tocaram o pescoço, onde as marcas da noite anterior ainda estavam visíveis, pequenas lembranças cruéis.

As imagens daquela noite voltaram à sua mente, vívidas e dolorosas, fazendo seu estômago se revirar.

Ela Ficou ali por longos minutos, encarando a própria imagem como se fosse uma estranha, até que uma batida suave na porta quebrou seu devaneio.

 

"Minha rainha, posso entrar?"

A voz de Lucienne soou do outro lado, calma, mas firme.

 

Briely demorou alguns segundos, perdida em seus pensamentos. Então, e a hora.

Com a voz monótona, respondeu:

"Sim, pode entrar."

 

Lucienne entrou, trazendo consigo uma bandeja repleta de alimentos: pães frescos, frutas maduras, uma jarra de suco.

Ela depositou a bandeja sobre a mesa e se virou para Briely, seus olhos cheios de compaixão, mas incapazes de oferecer qualquer alívio real.

 

"Sinto muito, minha senhora,"

disse Lucienne suavemente.

"Vim para ajudá-la a se preparar para o grande dia."

 

Briely se levantou da penteadeira e caminhou até Lucienne.

Lucienne gesticulou para a bandeja.

"Por favor, coma, minha senhora. Pelo menos um pouquinho."

 

Briely olhou para a comida, mas seu estômago estava fechado, sem espaço para apetite.

Lucienne colocou as mãos nos ombros dela, o toque gentil, mas insistente.

"Você precisa comer, senhorita. Eu sei que é difícil, mas tem que se alimentar."

 

Com um suspiro resignado, Briely pegou um pedaço de pão e uma fruta, levando-os à boca sem saborear.

Cada mordida era um esforço mecânico, seus olhos evitando os de Lucienne.

 

Lucienne se aproximou, hesitante.

"Posso conversar com você, minha senhora?"

 

Briely assentiu, o silêncio entre elas pesado como uma cortina de chumbo.

 

"Eu sinto muito, senhorita,"

começou Lucienne.

"Realmente sinto muito mesmo pelo que está acontecendo. O que o mestre Morpheus fez com você foi horrível.

Eu tinha esperança de que você conseguisse fugir, mas quando ele voltou com você naquele estado... Eu sinto muito."

 

Briely balançou a cabeça devagar.

"Tudo bem, Lucienne. Você não precisa se sentir culpada pelo que aconteceu comigo."

 

Lucienne baixou o olhar, as mãos unidas à sua frente.

"Eu deveria ter te avisado.

Talvez, se eu tivesse dito algo sobre os sentimentos do mestre antes... isso poderia não ter acontecido."

 

"Eu não acho que mudaria alguma coisa," respondeu Briely.

"Poderia ter sido pior se eu soubesse antes. Eu tentaria ir embora se soubesse, talvez as coisas fossem diferentes, ou talvez não.

Não dá pra saber agora. Você o conhece. Teria mudado alguma coisa?"

 

Lucienne hesitou antes de responder.

"Não, minha senhora. Mas mesmo assim..."

 

Elas ficaram em silêncio, o peso da situação pairando entre elas como uma sombra inescapável.

 

Até que Briely quebrou o silêncio, a voz trêmula.

"Agora não tem mais volta, né? Eu vou me casar com ele, mesmo não querendo."

 

Lucienne a olhou com pesar.

"Está pronta, minha senhora?"

 

"Não, não mesmo," confessou Briely, os olhos marejados.

"Eu nunca imaginei que me casaria assim, e ainda menos com alguém que eu não amo."

 

"Minha senhora, talvez seja para o melhor," disse Lucienne, tentando encontrar palavras que não soassem tão ocas.

"Afinal, o mestre Morpheus não vai aceitar que você o negue. O mestre pode ser bem cruel quando quer."

 

"Eu sei," sussurrou Briely, 

"Lembro-me de quando fomos ao Inferno. Lá, encontramos uma mulher. Ele disse que a condenou ao Inferno e que ela está lá há dez mil anos porque ela o desafiou."

 

Lucienne assentiu, o rosto sombrío.

" Eu sei o quanto cruel ele pode ser. O que ele fez com você e uma pequena parte que já mostra isso."

 

"Você não deveria ter confiado nele, minha senhora," continuou Lucienne.

"Deveria ter desconfiado. Agora, já é tarde demais."

 

Lágrimas ameaçaram escapar dos olhos de Briely, mas ela tentou contê-las, apertando os lábios com força.

Mais Não conseguiu segurar por muito tempo.

As lágrimas rolaram por seu rosto, e Lucienne, com um suspiro compassivo, a envolveu em um abraço.

 

"Você é só uma criança,"

murmurou Lucienne, acariciando as costas de Briely com delicadeza.

"Não deveria ter que passar por isso. Sinto tanto por você, minha senhora."

 

Briely soluçou contra o ombro de Lucienne, as lágrimas encharcando o tecido do vestido da mulher.

"Por que isso está acontecendo comigo?"

 

"Eu sinto muito," respondeu Lucienne, com  a voz suave, tentando confortá-la.

"Mas estou aqui. Você não está completamente sozinha, mesmo que pareça."

 

 

 

.

Depois de um tempo, quando os soluços de Briely começaram a diminuir, Lucienne mudou de assunto, sabendo que não havia mais tempo para lamentações.

"Preciso ajudar você a se arrumar, minha senhora. Eu trouxe os vestidos para você escolher e experimentar."

 

Ela pegou três caixas que havia trazido consigo e as abriu, revelando três vestidos de noiva brancos, cada um mais bonito que o outro, com detalhes delicados de renda e cetim que brilhavam sob a luz  do quarto.

Ao lado, colocou um conjunto íntimo negro sobre a cama.

Briely olhou para as peças, o coração apertado.

Um torpor a envolveu ao perceber o que aquilo significava.

Eles teriam que consumar o casamento. A ideia de Morpheus tocando-a novamente a fez sentir um nó no estômago.

Não queria isso, mas sabia que aconteceria, querendo ou não.

 

Briely se aproximou, os dedos hesitantes roçando os tecidos suaves dos vestidos.

Ela Não sentia prazer em escolher, apenas um vazio crescente.

 

"Escolha aquele que mais gosta, minha senhora,"

incentivou Lucienne, a voz gentil.

"Vou ajudá-la a se vestir."

 

Briely apontou para o mais simples dos três , um vestido sem muitos adornos, como se escolher algo menos extravagante pudesse diminuir a dor do momento.

Lucienne assentiu em aprovação, ajudando-a a vestir-se com mãos habilidosas, ajustando cada detalhe com precisão.

 

"Agora, sente-se na penteadeira, por favor,"

disse Lucienne, guiando-a até a cadeira com uma delicadeza quase maternal.

"Vou pentear seu cabelo e fazer uma leve maquiagem."

 

Briely obedeceu em silêncio, sentando-se enquanto Lucienne começava a trabalhar em seus cabelos, criando um penteado elaborado com tranças laterais e cachos soltos que emolduravam seu rosto, pontuados por pequenos rubis que brilhavam como gotas de sangue.

Ela escondeu as marcas no pescoço com uma camada de pó e Em seguida, aplicou um delineado que intensificava o olhar de Briely, e um batom vermelho que contrastava com a palidez de sua pele.

Por fim, Lucienne colocou um colar de rubis ao redor de seu pescoço, com brincos combinando que completavam o visual.

 

"Pronta, minha senhora,"

murmurou Lucienne, dando um passo atrás para admirar seu trabalho.

"Você está deslumbrante. O mestre ficará encantado."

 

Briely se encarou no espelho, mal reconhecendo a mulher que a fitava de volta. Parecia uma estranha naquele vestido de noiva, uma boneca arrumada para o prazer de outro.

Se fosse um casamento por escolha, talvez estivesse extasiada com sua aparência, mas agora... tudo o que ela queria era se encolher em um canto.

O carinho de sua mãe era o que ela mais desejava naquele momento. Ela saberia o que dizer, como confortá-la.

 

Com um suspiro baixo, virou-se para Lucienne.

"Obrigada, Lucienne. Por tudo."

 

Lucienne ofereceu um sorriso triste.

"É meu dever, minha senhora. Agora, vamos nos apressar. A noite está chegando, e com ela, o seu destino."

 

Aproximando-se mais uma vez, sua expressão tornou-se séria.

Ela segurou a mão de Briely e falou com gravidade.

"Minha senhora, tente amá-lo. 

Sei que é a última coisa que você quer ouvir, mas pelo menos finja. Com o tempo, as coisas podem melhorar.

Ninguém aqui no Sonhar tem permissão para ajudar na fuga. É para o melhor."

 

Briely assentiu, o peso em seu coração esmagado.

Sabia que, após essa noite, estaria completamente à mercê de Morpheus.

Ele seria seu marido, não por escolha dela, mas por imposição.

E não havia nada que ela pudesse fazer para mudar isso.

Notes:

Explicando a cerimônia pra vocês melhor

Após eles se casarem a essência dele vai se unir com a dela, a cerimônia vai ligalos.

como ele e um ser imortal e ela e humana (metade humana) ela ainda vai poder envelhecer e morrer eventualmente.
Mais após o casamento deles ela não vai mais envelhecer e ela não vai poder morrer não até que ele morra.
(Pois se ele morresse a ligação entre os dois se quebraria)

Chapter 10

Notes:

Capítulo editado:)

Muito OBRIGADO PELOS 100 KUDOS ♥️♥️

(See the end of the chapter for more notes.)

Chapter Text

 

 

 

Os convites para o casamento de Morpheus, o Senhor dos Sonhos, e Briely, filha de Poseidon, foram entregues.

Cada convite era uma peça de arte, confeccionado em pergaminho negro com bordas prateadas .

 

As palavras, traçadas em uma caligrafia dourada e delicada, transmitiam um convite solene:

 

 

 

"Você está convidado(a) a comparecer à cerimônia de casamento de Sonho dos Perpétuos e Briely, Filha de Poseidon.

Temos a honra de convidá-lo para celebrar  conosco nossa união em matrimônio.

Sua presença é aguardada nesta noite especial no reino do Sonhar.”

 

 

 

Os convites foram enviados apenas a familiares, amigos próximos, os Perpétuos, o Panteão Grego e algumas divindades selecionadas.

 

A notícia do casamento se espalhou como fogo selvagem, carregada por sussurros e murmúrios entre os reinos divinos.

 

Houve rumores e alguns  já sabiam o que havia acontecido com a filha de Poseidon e como o Sonho dos Perpétuos havia reivindicado sua mão.

 

apesar dos esforços do Panteão Grego para abafar o assunto, especialmente sob o peso do orgulho ferido de Lorde Poseidon.

 

 

 

 

 

 

 

 No Panteão Grego

 

Hera e Afrodite

 

Hera e Afrodite estavam juntas em um salão adornado com mármore e ouro quando os convites chegaram.

 

 Hera desdobrou o pergaminho com dedos delicados, lendo-o com um olhar carregado.

 

Após terminar, dobrou-o cuidadosamente,e  sua expressão foi tomada por tristeza.

 

"Pobrezinha," murmurou Hera,com a voz  baixa e cheia de empatia.

 

 "Eu sei exatamente como minha sobrinha deve estar se sentindo agora. O próprio Zeus fez algo semelhante comigo, e eu não tive escolha a não ser me casar com ele.

“Ela é tão jovem... já ter que passar por isso."

 

Afrodite, por outro lado, leu o convite com um sorriso malicioso, brincando com uma mecha de seus cabelos dourados enquanto inclinava a cabeça.

 

"Então ele fez isso," disse ela, divertida.

 "Artemis me contou há alguns dias o que houve. Era óbvio que depois disso eles iriam se casar. E Ele a ama, isso é claro pelo vínculo que senti entre eles.”

“Mas ela... bem, ela só o via como um amigo, não é? Parece que tudo já está resolvido, afinal."

 

Hera franziu o cenho, os olhos fixos no convite dobrado em suas mãos.

"Pobrezinha, o que ela deve estar passando agora.”

 

“Mas nós sabíamos que algo assim poderia acontecer.”

“Aquele vestido que ela usava... Ele estava marcando-a, e todas nós sabíamos disso."

 

Afrodite deu de ombros, um sorriso brincando em seus lábios.

 

"Era só uma questão de tempo. E bem...pelo que eu ouvi ele pediu a mão dela a Poseidon e ele recusou a proposta do Senhor dos Sonhos, e isso não terminou bem pra ela.”

 

"Ouvi fofocas de umas ninfas também que ela consegui fugir pra conseguir a ajuda do pai, mas o senhor dos sonhos a arrastou de volta pro reino dele. Esse convite só valida os rumores."

 

Hera assentiu, o olhar distante.

 

"Os rumores são verdadeiros. Anfitrite me confirmou. Eu Só espero que Briely mantenha o espírito forte, com tudo isso."

 

Afrodite riu suavemente, girando o convite entre os dedos.

"Bem, ela tem o sangue de Poseidon, e  vai precisar de muita força pra lidar com um ser como ele."

 

 

 

Zeus

 

Zeus, estava sentado em seu trono e  girando o convite entre os dedos,  levemente franzido as sobrancelhas cruzando seu rosto enquanto pensava.

 

"Um Perpétuo casado com um membro do nosso panteão. Minha nova sobrinha... Bem, isso ia acontecer uma hora ou outra. Isso Era bem óbvio pra todos nós."

 

Ele jogou o convite sobre uma mesa próxima, os olhos faiscando com um misto de curiosidade e indiferença.

 

 

 

 

 

Ares

 

Ares deu uma gargalhada rouca ao ler as palavras no convite.

Ele bateu com o punho na mesa, fazendo os cálices de vinho tremerem.

"Afinal, ele conseguiu o que queria! Bem, espero que minha querida prima tenha o fogo necessário pra enfrentar um ser como ele. "

Ele riu novamente, pegando um cálice e brindando ao ar. 

 

 

 

 

 

Atena

 

Atena analisou o convite com um olhar calculista, os dedos tamborilando levemente contra o braço de sua cadeira.

"Bem, eu sabia que isso ia acontecer mais cedo ou mais tarde," disse ela.

"Como ele a tratava naquela noite... e aquele vestido foi o suficiente pra qualquer um perceber. Aquilo Era uma marca, uma reivindicação. E Ela deveria ter notado os sinais antes."

 

 

 

 

Apolo

 

Apolo leu o convite com uma expressão de pena, os olhos dourados refletindo um brilho melancólico.

"Então ele realmente fez isso. Minha linda prima... é eu realmente uma pena que tenha que se casar com ele

“Se não fosse por essa imposição, talvez eu mesmo tivesse considerado pedir sua mão ao tio no futuro. Quem sabe? "

Ele suspirou, deixando o convite de lado. 

 

 

 

 

 

Poseidon

 

Poseidon segurava o convite com mãos trêmulas, a raiva e o desespero lutando dentro dele enquanto encarava as palavras douradas no pergaminho negro.

"Isso realmente está acontecendo. Minha única filha, minha pequena jóia... Eu não consegui protegê-la dele.”

“Foi por minha culpa que isso aconteceu com você. Se eu não tivesse recusado a proposta dele primeiro, quando ele pediu sua mão, isso podia não ter acontecido com você.”

“Se eu não tivesse sido tão precipitado em dizer não, talvez você não tivesse  ter que se casar assim minha filha, você ainda se casaria sim mais não desse jeito não assim as pressas e com esses rumores circulando."

Ele amassou o convite em seu punho, os olhos marejados, enquanto o peso de sua culpa o esmagava como as ondas de um mar furioso.

 

 

 


 

 

 Os Perpétuos

 

 

 

Morte

 

Sentada em um canto, ela  girava uma pequena flor negra entre os dedos enquanto lia o convite. Um sorriso triste curvou seus lábios.

Claro que  ela descobri como seu irmão conseguiu a mão dela.

 

“Você é um idiota, não é, maninho?" murmurou ela para si mesma, balançando a cabeça.

"Só espero que eles superem isso... ou pelo menos que ela sobreviva ao peso do que você fez."

 

 

 

 

 

Destino

 

Destino, leu o convite sem expressão, enquanto  folheava as páginas de seu livro encadeado.

 

"Briely não estava escrita no meu livro antes," pensou ele, os olhos fixos nas linhas invisíveis de seu tomo.

"Seu nascimento é desconhecido, e seu destino só apareceu há alguns meses. 

Ela não pertence a este universo, e  agora sua existência se entrelaça com a de meu irmão Sonho.”

“Seu destino não está escrito.E Ela é uma anomalia que não deveria estar aqui.”

“mas com este casamento, suas linhas começam a se  entrelaçar ”

 

“O que será dela, somente o tempo dirá."

 

 

 

Delírio

 

Delírio dançava em círculos, segurando o convite como se fosse um brinquedo.

 

Seus cabelos multicoloridos flutuavam ao seu redor enquanto ria descontroladamente, os olhos brilhando com uma alegria caótica.

 "Casamento! Irmão Sonho vai se casar! Flores, sonhos, bolhas de alegria! Vou ter uma nova cunhada! Será que ela gosta de peixes voadores e nuvens de algodão doce? "

Ela girou mais rápido, o convite quase escapando de suas mãos.

 

 

 

 

 

 

 

Desespero

 

Desespero, olhou para o convite com um olhar vazio, quase inerte.

Um sussurro escapou de seus lábios.

"Eu sinto o desespero dela... pobre alma. Que ela encontre um fiapo de esperança em meio às correntes que o Sonho impôs a ela."

Seus dedos traçaram as bordas do pergaminho, como se pudesse sentir o desespero de Briely através dele.

 

 

 

 

Desejo

 

Desejo, com um sorriso provocador nos lábios, traçou os nomes de Briely e de seu irmão no convite com a ponta do dedo

"Querido irmão, você realmente conseguiu o que desejava," disse ele, a voz suave como veludo, mas afiada como uma lâmina. "

“Agora você tem sua jóia. Mas ela não te deseja, não é? E dessa vez, você não vai poder me culpar pelo fracasso do seu relacionamento, vai? Ah, Sonho, você sempre foi tão teimoso... vamos ver como você lida com isso ."

Ele riu baixo, os olhos brilhando com malícia e curiosidade, ansioso para ver o drama se desenrolar.

 

 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Luciene, após ajudar Briely com os últimos retoques em seu vestido, deu um passo atrás, admirando o resultado com um sorriso suave.

"Você está linda, minha senhora. Vou avisar o mestre que já terminei."

Antes que pudesse sair, ouviram uma batida firme na porta.

Briely virou o pescoço para ver quem era enquanto Luciene abria a porta.

 

"Lorde Poseidon," disse Luciene, surpresa, fazendo uma leve reverência.

Ao lado dele estava Mervyn, que o acompanhara até o quarto.

 

"Luciene, majestade," disse Mervyn, inclinando a cabeça.

"Eu me despeço." Ele saiu, deixando-os a sós. Luciene aproveitou para murmurar,

"Vou avisar Lorde Morpheus que terminei," e também se retirou, fechando a porta suavemente atrás de si.

 

Poseidon ficou na entrada por um momento, os olhos fixos em sua filha.

"Minha filha," disse  ele, Ele a viu, parada ali, em um lindo vestido de noiva, mas com uma tristeza que parecia pesar em cada traço de seu rosto.

 

"Oi, pai," respondeu Briely, com a voz fraca, quase um sussurro.

 

"Posso entrar?" perguntou ele, hesitante.

"Eu queria te ver antes da cerimônia. E Surpreendentemente, o Senhor dos Sonhos permitiu."

 

"Entra, pai," disse ela, tentando parecer mais firme do que se sentia.

Poseidon caminhou até ela, seus olhos oceânicos brilhando com uma mistura de orgulho e dor.

 

"Você está bonita, minha filha. Uma verdadeira princesa," disse ele, oferecendo um sorriso pequeno, mas genuíno.

 

Briely conseguiu retribuir com um leve sorriso, embora mal alcançasse seus olhos. "Obrigada, pai."

 

Ele respirou fundo, o peso de suas palavras seguinte visível em sua expressão.

"Filha, eu sinto muito pelo que houve com você. Pelo que ele fez..."

 

Ela o interrompeu,com os olhos arregalados.

"Você sabe, pai? Como?"

 

Poseidon baixou o olhar por um momento.

"Eu senti quando você usou o colar que te dei. Mas você não foi teletransportada para mim.

E eu Fiquei preocupado e pedi aos meus súditos que estavam mais próximos que a procurassem.

Um tritão de confiança me contou tudo o que aconteceu na praia."

 

Briely mordeu os lábios com força, tentando conter as emoções que ameaçavam transbordar.

Poseidon continuou, a voz mais baixa agora, quase um murmúrio de culpa.

"E também, minha filha, eu receio que a notícia se espalhou um pouco. Surgiram rumores.

E  Alguns também sabem a verdade, apesar de nossos esforços para abafar o que ele fez com você."

 

O horror cruzou o rosto de Briely, suas mãos apertando o tecido do vestido.

"Eles sabem que ele... que ele... o que ele fez comigo?"

 

Poseidon assentiu lentamente, o rosto contraído de dor.

"Sim. E eu sinto muito. Eu sabia o que um Perpétuo como Morpheus poderia fazer diante de sentimentos não correspondidos. Mas nunca esperei que ele chegasse a esse ponto."

 

"Não é sua culpa, pai," disse ela, a voz tremendo.

"Você não sabia que Morpheus faria isso."

 

Ele balançou a cabeça, os punhos cerrados ao lado do corpo.

"Eu sabia que desafiar um Perpétuo diretamente poderia ter consequências desastrosas.

E Eu o desafiei ao negar sua mão. Se eu tivesse aceitado a proposta dele, se tivesse deixado vocês se casarem desde o início, talvez você não estivesse passando por isso agora."

 

Briely o encarou, os olhos marejados, mas com um brilho de determinação.

"Mesmo se você tivesse aceitado a proposta dele, eu não teria me casado com ele não mesmo.

E eu nem quero me casar com ele agora.

Pai, eu sei que você não pode fazer nada mais, não tem realmente nenhum geito? 

você não pode simplesmente me levar embora com você?

Eu não quero isso. Não quero, pai."

 

Poseidon pareceu envelhecer dez anos em um instante, o peso de sua impotência esmagando-o.

"Minha filha, eu... eu realmente queria poder ajudar você agora. Mas não posso fazer nada, a não ser aceitar que vocês se casem.

Ele te desonrou. Você era uma donzela, e ele te desonrou. Vocês precisam se casar. Sua reputação será arruinada pelo que ele fez, ainda mais agora com os rumores. Vocês devem se casar."

 

Briely balançou a cabeça, a voz subindo com uma mistura de tristeza e frustração.

"Eu não me importo com os rumores. Não me importo com a minha reputação!  Por que eu tenho que me casar com... com ele?

Pai , Você realmente não pode fazer nada? Ele disse que você não poderia, mas eu... eu quero ouvir de você."

 

Poseidon baixou os olhos, a mandíbula tensa, como se as palavras que precisava dizer fossem pedras afiadas em sua garganta.

"O Sonho te desonrou, minha filha. Então, é dever dele se casar com você. Não há outro caminho.

 

Poseidon insistiu, com olhos firmes, mesmo que cheios de dor.

"É para o seu bem, minha filha."

Ele a puxou para um abraço, e ela o retribuiu, sentindo o calor familiar de seu pai contra a frieza do destino que a aguardava.

Após um momento, ele perguntou suavemente.

"Posso te levar até o altar?"

 

Briely sentiu um nó apertar ainda mais em sua garganta, mas conseguiu assentir, sem confiar em sua voz para falar.

Antes que pudessem continuar, Luciene bateu na porta, interrompendo-os.

"Já está na hora, minha senhora. Tudo está pronto. Só falta a noiva."

 

Poseidon estendeu o braço, sua voz tentando soar reconfortante.

"Vamos, filha."

Briely aceitou, seus dedos tremendo levemente ao tocar a pele do pai. Ele a olhou nos olhos e murmurou.

"Vai ficar tudo bem, filha. Só mantenha a cabeça firme, tá bom?"

 

"Ok,"  sussurrou ela.

 

Eles caminharam juntos, passando por Luciene, em direção ao salão onde a cerimônia ocorreria.

No corredor, Briely não pôde evitar a pergunta que queimava em sua mente.

"Veio muita gente?" perguntou ela,  nervosa.

 

Poseidon lançou-lhe um olhar que tentava ser reconfortante.

"Sim, alguns dos maiores nomes do nosso panteão estão aqui, além dos irmãos de Morpheus. É uma união que ninguém quer perder... por razões diversas."

 

Eles pararam diante da porta do salão.

E Quando chegaram ela se abriu, revelando um espaço cheio de figuras divinas e etéreas, Briely engoliu em seco, o impulso de dar meia volta e fugir quase a dominando.

Se eu der meia volta e sair correndo agora... Morpheus ficaria furioso. Aposto que ele me arrastaria até o altar, pensou ela,  com o estômago revirando ao sentir os olhares de várias entidades fixos nela.

 

Poseidon sussurrou, inclinando-se levemente.

"Vamos, filha."

 

Do seus assentos, Hera e Afrodite a encararam, cada uma com suas emoções estampadas no rosto .

Hera com pena, Afrodite com um brilho de curiosidade maliciosa.

Zeus mantinha uma expressão impassível, . Atena parecia analisar cada detalhe de sua figura, enquanto Ares deu um leve aceno de cabeça.

Briely desviou o olhar, o peso de tantos olhos nela a sufocando.

 

Poseidon a guiou com passos firmes pelo corredor até o altar, onde Morpheus esperava.

Ela olhou para frente e lá estava ele, vestido em um terno preto.

Ao seu lado, uma figura estranha, vestida como um padre,  –  para oficiar a cerimônia.

O estômago de Briely se revirou ao cruzar o olhar com Morpheus.

Seus olhos  a fixavam com uma intensidade predatória, quase a fazendo dar um passo para trás.

Ela estremeceu, sentindo um frio subir por sua espinha.

 

Poseidon a levou até o altar, e Morpheus estendeu a mão para ela. Ele beijou seus dedos com  delicadeza, os lábios frios contra sua pele.

"Você está magnífica," murmurou ele, com a voz profunda.

 

Poseidon, com relutância visível, soltou a mão de sua filha, depositando um beijo gentil em sua testa como despedida.

Seus olhos encontraram os dela por um último momento, cheios de uma dor silenciosa, antes que ele se retirasse para sentar ao lado de sua esposa, Anfitrite.

Briely ficou ali, ao lado de Morpheus, sentindo o peso de seu destino fechar-se ao seu redor como uma gaiola invisível.

 

 

No altar, Morpheus pegou a mão de Briely com mais força, os dedos dele envolvendo os dela.

Eles se viraram para o cerimonialista, e ela sentiu os olhares dos convidados queimando suas costas, cada par de olhos divinos e  carregado de  curiosidade.

O cerimonialista, com sua presença estranha e quase sobrenatural, começou a falar, sua voz reverberando pelo salão.

 

"Hoje celebraremos a união deste casal, Sonho dos Perpétuos e Briely.”

“Este não é apenas um casamento, mas um vínculo eterno, uma fusão de suas almas que nenhum poder poderá desfazer.”

“Com todos presentes, vamos começar."

 

Ele olhou para Morpheus.

"Sonho dos Perpétuos, você aceita Briely como sua legítima esposa, para guiá-la, protegê-la e amá-la por toda a eternidade?"

 

Sem desviar o olhar dela, Morpheus respondeu com uma certeza fria e absoluta.

"Aceito."

 

O cerimonialista virou-se para Briely, sua expressão impassível.

"Briely, você aceita o Sonho como seu legítimo esposo, para amá-lo e respeitá-lo por toda a eternidade?"

 

Ela engoliu em seco, o coração disparado, cada batida ecoando em seus ouvidos.

Ela Hesitou, seus olhos encontrando os de Morpheus.

A intensidade dele ao encará-la era sufocante, como se ele  pudesse enxergar cada pensamento rebelde que atravessava sua mente.

Ela queria dizer não, queria gritar para todos ouvirem, mas sabia que não adiantaria.

Murmúrios baixos começaram atrás deles, um burburinho de impaciência entre os convidados.

Morpheus, percebendo sua relutância, inclinou-se ligeiramente e sussurrou pra ela .

 

"Essas perguntas são meras formalidades, Briely.

E Não vai adiantar nada se você disser não agora . Mas você deve dizer sim, ou sabe o que vai acontecer mais tarde."

 

 

Ele apertou a mão dela com mais força, como se a desafiasse a recusar ali, diante de todos.

 

O cerimonialista repetiu a pergunta.

"Briely, você aceita?"

 

Ela gaguejou, com  a voz falhando.

"Eu... eu..."

E Finalmente, com um peso esmagador no peito, murmurou,

"Eu aceito."

 

O oficiante assentiu, um leve sorriso cruzando seus lábios.

"Com estas palavras, agora passemos ao ritual de união. Vocês gostariam de fazer os votos antes de prosseguirmos?"

 

Morpheus, sem hesitar, respondeu.

"Gostaria de fazer os meus."

Ele virou-se para Briely, segurando sua mão com firmeza, e olhou profundamente em seus olhos.

"Eu, Sonho dos Perpétuos, prometo amá-la por toda a eternidade, protegê-la com cada fragmento de meu ser.

Você é minha, Briely, e eu serei seu guardião, seu soberano seu marido, até que o tempo deixe de existir."

 

As palavras dele eram belas, mas cortavam como facas no coração dela.

Briely sabia que, enquanto ele parecia sincero, seu amor era uma jaula, e ela o odiava por forçá-la a isso.

 

O cerimonialista virou-se para ela.

"E você, senhorita, gostaria de dizer seus votos?"

 

Ela sentiu o peso de todos os olhares sobre si, especialmente o de Morpheus, que parecia aguardar com uma paciência ela dizer alguma coisa também.

Em sua mente, ela pensou, Ele realmente acredita que eu vou dizer algo?

Antes que pudesse responder, Morpheus inclinou-se novamente, sua voz suave, mas carregada de uma falsa ternura.

"Meu amor, se não quiser dizer, tudo bem."

 

Briely balançou a cabeça, a voz firme apesar do tremor interno.

"Prefiro não dizer."

 

O cerimonialista assentiu, sem demonstrar julgamento.

"Vamos prosseguir, então."

 

Ele avançou, retirando uma faca cerimonial de suas vestes.

Trouxe também um cálice de prata reluzente, da mesma cor da lâmina, que repousava sobre uma bandeja.

Ele colocou a faca ao lado do cálice e caminhou na direção deles. Briely sentiu um arrepio de medo ao ver a faca, seus pensamentos girando. Uma faca? Para que ele precisa de uma faca e um cálice?

 

Morpheus, notando a apreensão em seu olhar, murmurou ao seu lado.

"Isso faz parte da cerimônia. Não se preocupe." Suas palavras não a tranquilizaram nem um pouco.

 

O cerimonialista levou a bandeja até eles e disse, com uma voz solene,

"Vamos começar. Lorde Morpheus, deseja iniciar?"

 

"Sim," respondeu Morpheus, pegando a faca da bandeja.

Ele fez um corte preciso em sua própria mão, e um sangue dourado, brilhante, começou a gotejar no cálice.

Ele olhava fixamente para Briely enquanto o sangue caía, enchendo o recipiente até a metade.

Logo, o ferimento se fechou sozinho, como se nunca tivesse existido.

 

"Agora, me dê sua mão, meu amor," disse ele, estendendo a palma para ela.

 

Briely hesitou, o coração acelerado, o medo apertando seu peito. Ele insistiu, a voz baixa, mas firme.

"Não vai doer nada, apenas um simples corte."

 

Isso não a confortou de jeito nenhum.

mais  Relutantemente, ela cedeu a mão, e Morpheus fez um pequeno corte em sua palma. "Ai!" ela exclamou, sentindo a lâmina fria rasgar sua pele.

O sangue vermelho começou a escorrer, e ele segurou o cálice sob a mão dela, guiando-a com uma de suas mãos enquanto segurava o recipiente com a outra.

O vermelho de seu sangue misturou-se ao dourado do dele, criando um líquido hipnotizante.

 

Quando o fluxo parou, Morpheus passou a mão sobre o ferimento dela, curando-o instantaneamente.

Ele levou a palma dela aos lábios, beijando-a suavemente, e ela sentiu o toque de sua língua capturando os últimos vestígios de sangue.

Um arrepio percorreu seu corpo,de desconforto.

 

O cerimonialista pegou o cálice na mão e murmurou palavras em um idioma antigo, incompreensível para Briely.

"Ash’thar vul’nemar, dra’khalis somn’thera, ul’vyn thar’esh."

As palavras pareciam ecoar, carregadas de um poder que fazia o ar ao redor vibrar. Ele ergueu o cálice e disse:

"Podem beber agora do cálice da união."

 

Briely franziu a testa, sussurrando para si mesma.

"Beber? É para beber o nosso sangue?"

 

O cerimonialista ouviu e deu um pequeno sorriso, quase divertido.

"Sim, para beberem."

 

Morpheus pegou o cálice das mãos do oficiante e levou-o aos lábios, seus olhos  fixos nela enquanto bebia.

O movimento era deliberado, como se quisesse que ela visse cada detalhe.

Quando terminou, passou o cálice para ela e disse, com uma voz que era ao mesmo tempo comando e sedução:

"Beba, minha rainha."

 

Briely olhou ao redor por um instante, relutante, os convidados a observando.

Suas expressões eram indecifráveis, mas carregadas de algo que ela não conseguia nomear – expectativa, talvez.

Sentindo o peso do momento, ela pegou o cálice das mãos de Morpheus, suas mãos trêmulas enquanto o levava aos lábios.

Deu um pequeno gole, e o gosto metálico e estranho do sangue misturado queimou sua garganta, deixando um rastro de calor e desconforto.

 

Morpheus inclinou-se, sussurrando. "Beba tudo, meu amor."

 

Ela balançou a cabeça levemente, com o estômago revirando. "Não consigo..."

 

Ele insistiu, a voz baixa, mas firme. "Você tem que beber tudo. Beba tudo de uma vez."

 

Seus olhos marejaram, mas antes que pudesse protestar mais, Morpheus segurou o cálice junto às mãos dela, guiando-o até seus lábios.

"Feche os olhos e tome," murmurou ele. E Relutante, ela obedeceu, fechando os olhos e engolindo o resto em um único gole.

O líquido queimou sua garganta, o calor se espalhando por seu corpo.

Quando terminou, Morpheus limpou o canto de seus lábios com o polegar, o toque gelado contrastando com a sensação ardente dentro dela.

 

O oficiante ergueu as mãos, pronunciando as palavras finais no mesmo idioma estranho.

"Thar’esh vul’nemar, dra’khalis ul’somn, ash’thar kren’vyl."

Sua voz ressoou pelo salão, e então ele declarou,

"Agora, vocês são um só. Sua união é eterna e inquebrável."

 

Aplausos ecoaram pelo salão,Morpheus a puxou para um beijo profundo, seus lábios frios contra os dela, o gosto residual do sangue ainda presente.

Ele aprofundou o beijo, uma mão em sua nuca, enquanto os aplausos continuavam, quase abafando os pensamentos dela.

 

Quando ele finalmente a soltou, uma onda de calor subiu pelo corpo de Briely, como se algo estivesse queimando-a de dentro para fora.

Era como febre, uma sensação avassaladora que a fez cambalear.

"O que está acontecendo comigo? Eu me sinto quente... isso deveria acontecer?" perguntou ela, trêmula, agarrando o braço de Morpheus para se firmar.

 

Ele a encarou, um sorriso sutil curvando seus lábios.

"Está tudo bem, minha esposa. É apenas o vínculo se estabelecendo.

Essa sensação passará após nossa noite de núpcias. Não se preocupe, você ficará bem. Apenas confie em mim."

 

Sem mais palavras, ele a guiou pelo corredor, em direção à festa de celebração do casamento, agora que eram oficialmente marido e mulher.

Os convidados os seguiram, enquanto Briely sentia o peso daquele vínculo ardendo em sua pele e em sua alma.

 


 

 

 

 

 

O salão de recepção estava deslumbrante, decorado com detalhes  que pareciam saídos de um sonho.

ou talvez de um pesadelo, para Briely.

Lustres de luz prateada flutuavam no ar, flores de cores impossíveis adornavam as mesas, e uma música suave, tocada por instrumentos invisíveis, preenchia o ambiente.

Morpheus conduziu Briely até a mesa reservada para os noivos, sua mão firme em sua cintura, mantendo-a colada a ele de uma forma que a fazia sentir-se mais prisioneira do que esposa.

Antes de se sentar, ela observou o salão, cada detalhe amplificando a sensação de aprisionamento.

Ela não teve escolha alguma a não ser se casar, e agora, bem, ela era casada – com Morpheus, de todas as criaturas possíveis.

 

Seus olhos percorreram o ambiente, tentando fugir dos pensamentos que a sufocavam.

Em um canto, Hera e Afrodite trocavam sussurros, lançando olhares discretos em sua direção.

Briely sentiu um aperto no estômago, certa de que estavam falando dela, ou talvez do casamento.

Afrodite acenou de longe com um sorriso provocador, mas Briely não retribuiu o gesto, desviando o olhar para a multidão.

Seu pai, Poseidon, estava em uma conversa tensa com Zeus, os gestos de seu pai carregados de frustração mal contida, enquanto Zeus mantinha sua postura   impassível.

 

Atena, por outro lado, estava sozinha em um canto, segurando um cálice de néctar.

Seus olhos fixavam a bebida, como se estivesse perdida em pensamentos profundos.

Um som de risadas estrondosas chamou a atenção de Briely. Morpheus também olhou na mesma direção, e lá estava Ares, o rosto já corado pelo vinho, gargalhando alto, aparentemente despreocupado com as sutilezas do momento.

Ao seu lado, Dionísio, igualmente animado, erguia uma taça, claramente desfrutando de sua própria criação.

Briely pensou, com um leve toque de humor amargo,  o Sr. D   ficaria  realmente chateado ao ver  sua contraparte divina bebendo à vontade, sem  ela se transformar em Coca Diet.

 

Em outra mesa, Apolo, que ela não tinha notado na cerimônia  não que tivesse prestado atenção a todos os presentes –também bebia, um sorriso fácil no rosto enquanto conversava com outros convidados.

Antes que pudesse continuar suas observações, Morpheus a envolveu por trás, sua figura alta e imponente engolindo a dela.

O calor de seu corpo contra o dela a fez enrijecer, mas antes que pudesse reagir, uma presença se aproximou.

 

Morte, com sua aura gentil e paradoxalmente reconfortante, parou diante deles.

"Meus parabéns pelo casamento, irmão. Bri," disse ela, sorrindo com uma suavidade genuína.

 

"Obrigado, irmã," respondeu Morpheus. 

 

Morte voltou-se para Briely.

"Bem-vinda à nossa família, Briely." Ela pediu permissão para abraçá-la com um gesto. Morpheus, ainda ao lado dela, soltou-a apenas o suficiente para que o abraço acontecesse.

Enquanto os braços de Morte a envolviam, ela sussurrou baixinho em seu ouvido,

"Eu sinto muito pelo que o idiota do meu irmão fez. Espero que você encontre seu lugar entre nós, mesmo que o caminho pareça nebuloso no começo." Depois, ela a soltou com um último olhar de empatia antes de se afastar.

 

Destino foi o próximo a se aproximar.

"Irmão Sonho, cunhada, parabéns. Que sua jornada juntos seja... esclarecedora," disse ele, antes de se despedir com um aceno.

 

Delírio praticamente pulou em direção aos noivos, sua energia caótica quase derrubando um arranjo de flores próximo.

Ela abraçou Morpheus com força, fazendo-o franzir a testa. "Irmã," murmurou ele, contendo a irritação.

 

"Sonho! Meus parabéns pelo casamento e pela minha nova cunhada!" exclamou ela, soltando-o e correndo para abraçar Briely.

"Parabéns, Briely! Você é tipo um arco-íris sombrio agora, misturado com o preto do Sonho. Vai ser tão estranho e legal!" Disse ela, rindo de um jeito desconexo, antes de se despedir com um pulinho animado.

 

Desespero se aproximou em seguida,  "Parabéns, irmão, Briely, pelo casamento," disse ela, antes de se retirar silenciosamente.

 

 

Desejo apareceu logo depôs  dela, o que fez Morpheus franzir a sobrancelha.

Com olhos brilharam com uma mistura de diversão e provocação enquanto parava diante deles.

"Parabéns, irmão. Você sempre soube como conseguir o que deseja, não é? E Briely... bem, que você também encontre o que seu coração anseia, mesmo com meu irmão," disse ele, antes de se misturar novamente à multidão com um sorriso malicioso.

 

Depois que todos os Perpétuos os cumprimentaram, Morpheus conduziu Briely até a mesa dos noivos.

Lá ele , pegou a mão dela, levou-a aos lábios e depositou um beijo.

"Esses eram meus irmãos. Depois da Morte, veio o Destino. Depois, minha irmã caçula, Delírio, seguida por Desespero e Desejo."

 

Ela assentiu, sem muito a dizer. Seus olhos vagaram pelo salão, buscando algo familiar para se ancorar, qualquer coisa que a ajudasse a desviar do olhar insistente de Morpheus, que não parava de fixá-la.

Ela Viu Luciene em uma conversa animada com Caim e Abel, os três rindo de algo que ela não conseguiu ouvir.

Mais adiante, Mervyn embalava um pequeno bebê gárgula.

 

"Um bebê gárgula?" murmurou ela, quase sem perceber.

 

Morpheus respondeu em voz baixa, um toque de divertimento na voz.

"Esse é Goldie, que está com Mervyn."

 

"Ele é fofo," admitiu Briely, sem pensar.

 

"Se você quiser, posso criar um para você," ofereceu ele.

 

"Não!" respondeu ela rapidamente, não querendo aceitar nada dele, nem mesmo algo tão trivial.

 

Ele inclinou a cabeça, os olhos estreitando-se levemente.

"O que você desejar, minha rainha, eu darei a você, mesmo algo simples."

 

"Então me deixe em paz. Quebre nossa ligação.E  Divorcie-se de mim. É isso que eu desejo. Você pode me dar?" retrucou ela.

 

Morpheus segurou o rosto dela com ambas as mãos. Para os outros no salão, o gesto parecia terno, apaixonado, mas para ela era controlador, sufocante.

"Isso, eu nunca poderia dar a você. Lhe darei qualquer coisa dentro do meu alcance, menos isso. Nunca farei isso. Eu te disse antes que nossa ligação não se quebrará até que eu morra. Nossas vidas estão entrelaçadas para sempre. Divórcio, para nós, não existe."

 

Briely sentiu uma onda de náusea, ela  queria vomitar todo aquele sangue que ele a fez  beber no ritual de casamento, queria  gritar e xingá-lo até não poder mais, e  arrancar aquele olhar presunçoso de seu rosto.

Mas ela não fez nada. Porque Sabia as consequências que viriam se o desafiasse ali, em público.

Ele se inclinou e a beijou, mesmo quando ela tentou desviar o rosto.

O beijo foi insistente, roubando-lhe o ar, e ela começou a engasgar.

Ele a soltou rapidamente, um leve brilho de culpa nos olhos.

 

"Minhas desculpas. Eu me empolguei minha amada esposa. Eu Mal posso esperar pela nossa noite de núpcias," disse ele, o que  a fez estremecer de medo.

 

Briely desviou o olhar, desconfortável, com estômago revirando ao lembrar que, após a festa, teria que dormir com ele.

Tentando mudar de assunto, ela  perguntou, "Onde está Matthew eu não o vi? Ele não vem?"

 

Morpheus voltou seu olhar para ela, um leve brilho de diversão cruzando seus olhos, ele sabia que ela estava desviando do tema de propósito.

"Matthew continua vigiando o vórtice no mundo desperto. Seu papel é indispensável, e ele não pode se permitir distrações no momento, mesmo para algo como o nosso casamento," respondeu ele, calmamente.

 

Briely assentiu, sem nada mais a dizer. Ele se inclinou para mais perto, sussurrando:

"Você deveria comer um pouco, minha esposa. A noite ainda guarda muitas horas, e você precisará de toda a sua força para o que está por vir."

 

As palavras dele a  fizeram perder qualquer resquício de apetite que ela tivesse.

"Não quero comer," disse ela.

 

Ele ergueu uma sobrancelha. "Se está pensando em ficar sem comer, eu mesmo vou alimentá-la." Pegou um pedaço de bolo na mesa com um garfo e inclinou-se em sua direção.

"Vamos, esposa. Abra a boca e coma."

 

"Não tenho nenhuma apetite," insistiu ela, tentando manter a compostura.

 

"Bobagem," retrucou ele, "Até pedi para fazerem comida azul, como você gosta. Veja, o bolo é azul, e alguns biscoitos também."

 

Ela olhou e, de fato, o bolo e os biscoitos tinham tons de azul, uma cor que normalmente a alegraria.

por um breve momento ela Pensou se eu não fosse forçada a esse casamento, talvez eu estivesse estivesse pelo menos um pouco feliz com os detalhes do salão e da comida. Tudo esta incrivelmente bonito, mas o que isso representa  me  deixa profundamente infeliz.

 

Morpheus interrompeu seus devaneios. "Coma," disse ele, insistindo , e oferecendo o garfo pra ela  novamente.

 

Relutante, ela abriu a boca e aceitou o pedaço de bolo. O sabor era doce, delicioso mesmo, e isso só tornava tudo pior.

Ele lhe ofereceu outro pedaço, mas ela logo protestou.

"Posso comer sozinha. Não precisa me alimentar."

 

"Tudo bem," disse ele, entregando o garfo com um leve sorriso.

Ela comeu mais um pouco, o sabor doce contrastando com a amargura de seus pensamentos.

Enquanto seu “marido” estava ao seu lado, seus olhos vagavam pelo salão, observando os deuses dançando, os Perpétuos espalhados entre os convidados, cada um imerso em suas próprias conversas ou provocações.

 

Enquanto a festa continuava ao seu redor, Briely sabia, no fundo de sua alma, que sua vida havia mudado para sempre.

Ela Nunca mais seria a mesma,  não mesmo, não depois de tudo isso.

O peso do vínculo, a presença sufocante de Morpheus, e o futuro incerto que a aguardava agora eram como uma gaiola invisível, da qual ela não via como ela podia escapar.

 

 


 

 

 

 

 

A festa seguia animada, o som pulsante da música enchendo o salão enquanto os convidados dançavam e riam, suas vozes misturando-se ao tilintar constante de taças.

Morpheus e Briely permaneciam sentados à mesa dos noivos, a mão dele firme no encosto da cadeira dela, um gesto que parecia mais de posse do que de afeto.

Ele observava a celebração com um olhar distante, enquanto Briely tentava ignorar o peso de sua presença ao seu lado.

 

De repente, Poseidon emergiu da multidão, caminhando em direção a eles com passos decididos. Sua expressão era séria, mas suavizou ao olhar para a filha. "Morpheus," começou,

"posso levar minha filha para dançar?"

 

Morpheus hesitou, os dedos crispando-se levemente no encosto da cadeira.

Seus olhos se estreitaram por um breve instante, uma relutância clara em seu rosto.

Briely, sentindo a tensão, tocou a mão dele com um gesto quase implorante e o olhou diretamente, pedindo em silêncio por esse pequeno momento de liberdade.

Ele cedeu, embora com um leve franzir de sobrancelha, e soltou a cadeira. "Vá," murmurou, baixo o suficiente para que só ela ouvisse.

 

Briely, aliviada por qualquer pretexto para se afastar da mesa e, sobretudo, de Morpheus, levantou-se com pressa, quase tropeçando no próprio vestido.

Poseidon ofereceu o braço, e ela o aceitou, agradecida pela familiaridade do gesto.

Eles se dirigiram à pista de dança, os passos dela ecoando incertos contra o piso  enquanto os outros deuses e seres próximos os observavam com curiosidade ou indiferença.

 

"Eu não sei dançar, pai," Briely sussurrou, o nervosismo fazendo sua voz vacilar enquanto tentava acompanhar o ritmo dos movimentos dele.

 

"Não se preocupe, querida," ele respondeu, guiando-a com firmeza e calma.

"Eu só quero saber como você está após a cerimônia. Como está se sentindo, filha?"

 

Ela hesitou, os olhos baixos por um momento antes de responder.

"Senti um calor estranho, como se algo queimasse por dentro, mas diminuiu agora," confessou, a lembrança da sensação ainda fresca em sua mente.

 

Poseidon suspirou, o rosto carregado de pesar. "Sinto muito, minha filha. Não posso fazer nada por você nesse processo. Sei que esse tipo de cerimônia que seu marido escolheu é antiga e raramente usada. Não dá pra voltar atrás uma vez que estão unidos."

 

"Mas você logo se sentirá melhor, após completarem a próxima parte do ritual," acrescentou ele, tentando oferecer algum conforto.

 

Briely franziu a testa, confusa. "Você sabe algo mais sobre isso, pai?"

 

Ele assentiu lentamente, os olhos fixos nos dela. "Sei um pouco. Essa ligação os unirá até a morte. Se ele morrer, o vínculo entre vocês se romperá. Mas, pelo menos, estou feliz por ter mais tempo com você. Como você e  metade humana, eu teria pouco tempo ao seu lado. Agora, como você está ligada ao senhor dos sonhos, você se tornara imortal."

 

"Imortal..." repetiu ela, a palavra pesando em sua língua. "Ele me falou que eu não poderia morrer."

 

Poseidon confirmou com um aceno. "Com você ligada a Morpheus, nem mesmo a Morte poderá levá-la. Pelo menos isso é algo bom nesse casamento." Ele a girou suavemente na pista de dança, a música começando a desacelerar, sinalizando seu fim.

 

Antes que pudessem terminar a dança, Afrodite se aproximou, seu vestido reluzente capturando a luz do salão.

Um sorriso doce, mas carregado de intenções, brincava em seus lábios.

"Posso cumprimentar a nossa noiva do momento?" perguntou ela.

 

Poseidon lançou um olhar para Briely, como quem pergunta se ela queria falar com Afrodite.

Briely assentiu levemente, e ele sorriu de volta. "Claro," respondeu para Afrodite, antes de se voltar para a filha e beijar sua testa com ternura. "Se cuide, ok?" sussurrou, antes de se misturar à multidão.

 

Afrodite entrelaçou o braço no de Briely levando-a até a mesa de doces. "Como você está se sentindo? Afinal Hoje é o seu dia," disse ela, enquanto pegava uma pequena fruta cristalina da mesa, girando-a entre os dedos com um ar pensativo.

 

"Estou bem," respondeu Briely, a voz seca, sem vontade de se abrir.

 

Afrodite riu suavemente, colocando a fruta de volta no prato. "Eu sabia que isso ia acontecer em algum momento, sabia?"

 

Briely ergueu uma sobrancelha. "O quê?"

 

"Era tão óbvio que ele te amava," continuou Afrodite.

"Aquele vestido vermelho no jantar... Ele estava te marcando, sabia? Vermelho, como o antigo rubi dele. Vermelho é a cor da paixão, do amor.

E eu senti o laço entre você e Morpheus durante aquele jantar. Você não percebeu realmente, Como ele parecia querer matar Apolo com os olhos? era óbvio que ele estava com ciúmes.

Ele te ama. Mas, da sua parte, você só o via como um amigo, não é?"

 

Briely sentiu um nó na garganta, mas não conseguiu conter a indignação. "Você está achando graça nisso? Nessa situação?"

 

A deusa ergueu as mãos em um gesto apaziguador, ainda sorrindo.

"Acalme-se, querida. Se eu tivesse dito algo, de que adiantaria? Ele faria o que quisesse de qualquer forma," retrucou Afrodite, sem perder o tom provocador.

 

Ela se inclinou um pouco mais perto, baixando a voz.

"Você está preparada para essa noite? a noite de núpcias, apos ela o ritual estará completo.E  Não há volta."

 

Antes que Briely pudesse formular uma resposta, Desejo surgiu ao seu lado, os olhos brilhando com uma malícia divertida, os lábios curvados em um meio-sorriso provocador.

"Posso falar com minha nova cunhada, querida Afrodite?" perguntou, a voz aveludada, mas com um tom cortante.

 

Afrodite assentiu, lançando um último olhar  para Briely antes de se afastar graciosamente.

 

Desejo aproximou-se, Sem dizer uma palavra, ele deslizou um pequeno frasco de vidro em sua mão, comum  líquido rosado dentro dele.

 

Briely olhou para o objeto, franzindo a testa. "O que é isso?"

 

Ele se inclinou, o hálito quente roçando sua orelha enquanto sussurrava: "Beba isso antes das núpcias. Vai ajudá-la a... suportar a noite."

Ele sorriu, um brilho de diversão e nos olhos. "E Um presente de casamento meu cunhada. Bem-vinda à família."

 

Antes que ela pudesse reagir, ele continuou. "Meu irmão sempre foi teimoso. E egoísta. Apenas cuide de si mesma."

Com isso, ele lançou um último olhar de cumplicidade antes de desaparecer na multidão, percebendo a aproximação de Morpheus.

 

Morpheus surgiu logo em seguida, os olhos cravados na direção onde Desejo havia ido, antes de se voltarem para Briely. Sua expressão era uma mistura de suspeita e controle.

"O que ele disse a você?" perguntou pra ela.

 

"Nada de mais. Ele apenas me cumprimentou," respondeu ela rapidamente, deslizando o frasco para dentro de uma dobra do vestido com um movimento discreto, com o coração acelerado enquanto tentava manter a compostura.

 

Morpheus a encarou por um longo momento, como se pudesse enxergar através dela, mas não insistiu.

Em vez disso, aproximou-se mais, sua mão encontrando novamente a cintura dela. "Volte para a mesa comigo," disse ele,  não deixando espaço para ela recusar.

Enquanto a conduzia de volta, Briely segurava frasco contra sua pele, Ela não sabia se tomaria o líquido, mas a mera possibilidade de ter uma escolha naquela noite , que isso poderia ajuda-la por menor que fosse, trouxe um fiapo de alívio.

 

 

Morpheus a conduziu  de volta à mesa dos noivos, o salão ainda vibrando com o som da música e das conversas animadas ao redor.

Eles se sentaram, e ele se inclinou ligeiramente em sua direção.

"Está tudo bem, esposa. Sei que hoje foi... intenso. Mas estamos aqui agora. Fale comigo,"

disse ele, comos dedos roçando os dela sobre a mesa de forma quase casual.

 

Briely mal o ouviu, o olhar perdido em algum ponto distante do salão. "Sim," murmurou, sem  emoção.

 

Ele insistiu. "Você parece distante. O que está pensando?"

 

"Nada," respondeu ela, os lábios apertados, forçando-se a não olhar para ele.

 

Mas o tempo passou, e aquele calor estranho que ela sentiu mais cedo começou a retornar, subindo como uma chama lenta por seu peito.

Suor começou a se formar em sua testa, e ela remexeu-se desconfortavelmente em seu assento, o tecido do vestido de noiva parecendo sufocante contra sua pele.

Ela Tentou se distrair, estendendo a mão para a taça de vinho à sua frente.

 

Mais Morpheus franziu a testa, puxando a taça suavemente para longe dela.

"Não acho que isso seja uma boa ideia."

 

"Por favor," pediu ela, com os olhos fixos na bebida. Sabia que ele não cederia fácil, mas também sabia o que queria: esquecer essa noite, apagar tudo com o torpor do álcool.

 

Ele a observou por um longo momento, os olhos estreitados, ciente do que ela planejava.

"Você quer se embebedar para não lembrar de nada amanhã, não é?" disse, com o tom seco, mas com um leve traço de diversão.

Ainda assim, cedeu parcialmente, enchendo menos de meia taça e empurrando-a de volta para ela.

"Só isso. Quero você sóbria hoje."

 

Briely pegou a taça com dedos trêmulos, bebendo o líquido em pequenos goles, o sabor forte queimando sua garganta.

Ela o odiava por isso, por tudo que ele havia feito, por prendê-la nesse casamento, nesse ritual, nessa vida que ela não escolheu.

Ela Sabia que ele poderia fazer pior, muito pior, então respondia o mínimo necessário, tentando não o irritar.

embora ele não facilitasse. A lembrança do tapa que deu nele no banheiro passou por sua mente, e um pensamento amargo a acompanhou: ele merecia muito mais que um tapa agora.

 

O calor dentro dela intensificou-se, uma sensação de queimação que parecia pulsar sob sua pele, fazendo-a se mexer inquieta no assento.

Ofegou baixinho, virando o rosto para o lado, tentando disfarçar enquanto uma gota de suor escorria por sua testa.

 

Morpheus percebeu imediatamente, os olhos fixos nela. "Você está bem, esposa?" perguntou preocupado com ela.

 

Briely assentiu, mas seu rosto estava tenso, os lábios apertados enquanto respirava fundo, lutando contra a sensação.

 

"Beba um pouco de água," sugeriu ele, empurrando uma taça de cristal em sua direção.

 

Ela obedeceu, os dedos trêmulos ao segurar a taça. O gosto fresco aliviou por um instante, mas o calor persistiu, rastejando por seu corpo, implacável.

Ela Devolveu a taça à mesa com um leve tremor, o cristal tilintando suavemente contra a superfície.

 

Morpheus inclinou-se para a frente, os olhos fixos nos dela. Colocou a mão em seu rosto, sentindo sua temperatura. Estava quente, quase febril. Ela não vai aguentar muito mais assim, pensou.

"Está na hora," 

 

Ele fez um gesto sutil para Luciene, que se aproximou com passos rápidos e precisos. "Cuide dos convidados. Vamos nos ausentar," instruiu, com  o olhar ainda em Briely.

 

"Claro, Mestre," respondeu Luciene com uma reverência breve, antes de voltar sua atenção para o salão, já começando a organizar os convidados com um sorriso ensaiado.

 

Morpheus virou-se para Briely, levantando-se e estendendo a mão para ela.

"Vamos, esposa. Está na hora."

 

Ela hesitou, o coração disparado, o calor dentro dela quase insuportável. "E-espere... só um pouco mais," gaguejou, buscando qualquer desculpa para adiar o inevitável.

 

Ele soltou uma risada baixa, quase divertida, mas com um fundo de impaciência. "Se esperarmos mais, você vai começar a queimar de dentro pra fora. Não quer isso, quer?" Ele Pegou a mão de dela, os dedos dele firmes ao redor dos dela, não deixando espaço para ela recusar.

 

Antes que ela pudesse dizer mais qualquer coisa, o ar ao redor deles pareceu vibrar.

Em um piscar de olhos, teletransportaram-se, deixando para trás apenas alguns grãos de areia que brilharam brevemente no chão do salão antes de desaparecerem.

 

 


 

 

 

O quarto se materializou ao redor deles, o cheiro de cera derretida, misturando no ar Briely colocou a mão sobre o estômago, o calor dentro dela crescendo como uma fogueira descontrolada.

Era como se ela tivesse bebido ambrosia em excesso ela se  lembrava das histórias de Annabeth, de como a substância divina podia queimar um semideus de dentro para fora se consumida além do limite.

Ela gemeu, segurando a barriga com força, o rosto contorcido de desconforto.

 

"Está esquentando," murmurou. "Parece como minha amiga dizia... se bebêssemos ambrosia demais, iríamos queimar de dentro pra fora."

 

Seus olhos encontraram os de Morpheus, uma mistura de medo e acusação neles.

"E pensando nisso... você me fez beber seu sangue junto com o meu. Não é perigoso? Seu sangue não é ichor? Isso Não seria perigoso pra mim?"

 

Morpheus a encarou, a expressão calma, mas com um brilho de certeza nos olhos. "Poderia ser, mas dei a você apenas a quantidade necessária para completar o ritual de casamento.

Esposa, você está se unindo a mim. E Não precisa se preocupar. Apesar da queimação, eu  nunca deixaria nada acontecer com você. Tudo isso vai passar quando consumarmos o casamento. Esse calor... é parte do processo."

 

Ele deu um passo em direção a ela. "Deveríamos fazer isso agora."

 

Briely recuou instintivamente, o coração disparado.

Ela Ainda tinha vívidas memórias do que aconteceu na floresta, e a última coisa que queria era repetir aquela experiência.

Se pudesse, o manteria a meio metro de distância dela  essa noite.

Mas sabia que isso não aconteceria. Ela Ofegou, sentindo a sensação de calor subir novamente, uma onda que a fez cerrar os dentes.

 

Morpheus aproximou-se dela sem hesitar, os olhos intensos, mas  com a voz suave.

"Vou ser gentil. Eu prometo."

Antes que ela pudesse reagir, ele a beijou, as mãos firmes em sua cintura enquanto a levantava no colo com facilidade.

Ele Caminhou até a cama, colocando-a sobre os lençóis macios, pairando acima dela. E  Continuou a beijá-la, os lábios exigentes, explorando os dela com uma fome controlada.

 

Briely tentou se afastar, empurrando-o com as mãos, mas ele a segurou pelos ombros, firme.

"Pare com isso. Pare de tentar fugir," ele ordenou a ela.

 

"Espere, espere!" interrompeu ela, as mãos tremendo enquanto agarrava os braços dele. "Eu preciso ir ao banheiro antes. Por favor, eu realmente preciso muito."

 

Ele hesitou, uma sombra de impaciência cruzando seu rosto. Mas assentiu, um movimento curto, quase relutante. "Vá."

 

Briely correu para o banheiro, fechando a porta atrás de si.

Encostou-se na madeira, com  os olhos fechados, as mãos tremendo ligeiramente. Caminhou até a pia, segurando-a com força enquanto encarava seu reflexo no espelho.

Seus cabelos estavam bagunçados, as bochechas ruborizadas, gotas de suor brilhando na testa.

O vestido de noiva – aquele maldito vestido  parecia zombar dela.

Ela Passou a mão pelo rosto, tentando se recompor, quando se lembrou do presente de Desejo. As palavras dele ecoaram em sua mente: "Beba isso antes das núpcias. Vai ajudá-la a... suportar a noite."

 

Ela Pegou o frasco com o líquido rosado, encarando-o com dúvida. O que será isso? Se eu tomar...ela e claro se lembra dos   avisos de sua mãe, de nunca aceitar comida ou bebida de estranhos.

Mas Desejo não era um estranho agora, era? Ele era irmão de Morpheus, e ela, sua "cunhada". Se ele disse que vai me ajudar a suportar a noite, por que não tomar?

 

Com mãos trêmulas, segurou o frasco, o vidro escorregando um pouco em sua palma úmida.

Abriu a tampa e bebeu o líquido. Era doce, quase enjoativo. E Segundos depois, sentiu o calor dentro dela intensificar-se ainda mais.

Suas bochechas ficaram completamente coradas, o corpo formigando com uma energia incontrolável.

Uma onda de desejo pulsava através dela, cada nervo parecendo eletrificado, a pele hipersensível ao menor toque.

Seu coração disparou, e uma umidade traiçoeira se formou entre suas pernas.

Ela Percebeu rapidamente que havia entrado numa furada.

Aquilo não ia melhorar a noite para ela – talvez melhore para o Morpheus, mas não para ela.

Engoliu em seco ao se dar conta de que aquilo provavelmente era um afrodisíaco.

 

Um toque na porta a assustou.

"Você está bem?" perguntou Morpheus, a paciência desgastando-se na borda de sua voz.

 

"Sim," respondeu ela rapidamente, jogando o frasco na lixeira com pressa.

Na afobação, ela não percebeu que errou, e o vidro caiu no chão ao lado da lixeira.

Ela Abriu a porta, tentando esconder o tremor em seus joelhos.

 

Ele a encarou por um momento, notando o rubor intenso em seu rosto e o brilho de suor em sua pele.

Sem dizer uma palavra, pegou-a no colo com facilidade, o gesto fazendo-a estremecer, a sensibilidade ampliada pelo afrodisíaco correndo em suas veias.

Ele Levou-a de volta à cama, deitando-a sobre os lençóis.

Inclinou-se sobre ela, capturando seus lábios num beijo profundo, a língua dele invadindo sua boca com uma ânsia que a fez ofegar, explorando cada canto, devorando-a enquanto ela tentava não se render à sensação que ameaçava dominá-la.

 

Suas mãos deslizaram pelo corpo dela, traçando cada curva com precisão, os dedos firmes e quentes contra sua pele.

Briely gemeu baixo, o calor dentro dela explodindo em resposta ao toque, amplificado pelo afrodisíaco que parecia inflamar cada terminação nervosa.

Com movimentos deliberados, ele começou a tirar o vestido de noiva, mas, impaciente, fez o tecido desaparecer com um gesto, revelando a lingerie preta que ela usava por baixo.

Os olhos dele brilharam ao vê-la assim, um desejo voraz evidente em seu olhar. Sempre quis isso.e  Agora ela é minha. Toda minha. Oficialmente minha mulher, minha esposa, minha rainha, pensou ele.

 

"Você é minha, esposa. Vou te provar isso. E  Depois dessa noite, você nunca vai esquecer," sussurrou, os lábios roçando sua orelha, o hálito quente enviando arrepios pela espinha dela.

 

Ele Removeu as últimas peças de roupa dela com uma lentidão torturante, os dedos roçando sua pele sensível enquanto tirava o sutiã, deixando-a apenas de calcinha.

Passou os dedos sobre o tecido, fazendo-a estremecer, um sorriso se curvou em  seus lábios.

Depois, removeu a calcinha com cuidado, os dedos deslizando pelas pernas dela, deixando um rastro de fogo onde tocavam.

Ela ficou completamente nua na cama, mexendo-se desconfortavelmente sob o peso de seu olhar.

 

"Eu Não vou precisar te conter hoje, não é, esposa?

Apenas seja boazinha e aproveite. Prometo que vai gostar. E Isso vai compensar nossa primeira vez.

Mas depende de você cooperar. Não vou ter que te amarrar na nossa cama, vou? Ou vou? Diga pra mim," disse ele, com a  voz baixa, e provocadora.

 

"N-não... não vai," gaguejou ela.

"Bom," respondeu ele, satisfeito.

Seus dedos deslizaram por sua intimidade, explorando a umidade que já a traía.

Ele Inclinou-se para beijá-la novamente, a boca devorando a dela enquanto seus  dedos brincavam, preparando-a, cada movimento arrancando suspiros dela.

O afrodisíaco funcionava com eficácia devastadora, intensificando cada toque, cada carícia.

 

Os lençóis se amassaram sob suas mãos enquanto ela os agarrava com força, tentando conter os gemidos, mordendo os lábios.

Ele diminuiu o ritmo, aproximando os lábios de seu ouvido. "Não contenha seus gemidos, minha rainha. Quero ouvir."

 

Ela sentiu uma onda de vergonha e humilhação.

Ela Odiava-o por tudo que ele fez , por tocá-la novamente agora, e se odiava também  por ela não poder impedi-lo. E se sentia pior ainda por  aquilo agora ser tão bom que a fazia chorar.

Ele aumentou o ritmo, os dedos implacáveis enquanto ela apertava ainda com mais força os lençóis.

seu corpo a traindo vergonhosamente. Ofegou, desfazendo-se nos dedos dele, um gemido baixo escapando de seus lábios: "Ahh..."

 

"Muito bem, esposa," disse ele, levando os dedos aos lábios, lambendo-os enquanto a encarava.

Ela desviou o olhar, mas ele a impediu, segurando seu queixo.

"Quero você olhando pra mim essa noite. Não desvie o olhar do seu marido."

 

A palavra "marido" a fez sentir-se pior, mas não ousou desafiá-lo naquele momento.

"Boa esposa," elogiou ele, antes de descer, a boca substituindo os dedos.

Explorou-a com a língua, sugando e lambendo com uma intensidade que a fez gemer mais alto: "Ahh... hnn..." Ele alternava entre movimentos rápidos e lentos, a língua circulando seu clitóris antes de mergulhar dentro dela, cada chupada enviando ondas de prazer que a faziam arquear as costas.

 

"Você gosta disso, não é?" perguntou ele, a voz abafada contra sua pele.

 

"Eu... Morpheus, não..." tentou negar, mas as palavras se perderam em outro gemido.

 

"Minha querida esposa, negue o quanto quiser, mas eu senti você se fechar em volta da minha língua, desesperada por mais. Não se preocupe, seu marido vai te dar tudo o que você precisa," retrucou ele, antes de continuar, implacável.

As pernas dela tremiam enquanto o prazer a atravessava como relâmpagos, cada lambida a levando mais perto da borda.

"Ohh... ahh! Por favor..." gemeu ela, os sons ecoando pelo quarto silencioso enquanto se desfazia na boca dele uma, duas, três vezes tanto que ela perdeu a conta.

Sua mente era uma bagunça, o corpo exausto e ao mesmo tempo faminto por mais.

Quando se desfez pela última vez, respirava pesadamente, o peito subindo e descendo rápido, os lábios entreabertos, o rosto molhado de suor e lágrimas, o corpo trêmulo de espasmos.

 

Ele se levantou, desfazendo-se das próprias roupas, o tecido caindo no chão com um som abafado, expondo o corpo esculpido. Seus olhos nunca deixaram os dela, um predador fixado em sua presa.

"Olha o que você faz comigo," disse, a voz rouca, revelando seu pau já totalmente ereto, grande e pulsante, apontado para ela.

 

Briely recuperou um pouco de juízo, o medo voltando ao vê-lo nu. "Espere..." tentou dizer, mas as mãos dele já envolviam a base do membro, posicionando-o bem na entrada dela. Ele entrou de uma vez, e ela gritou, a dor a invadindo.

Ela Não era mais virgem – ele mesmo havia tirado isso dela –, mas ainda doía. Era grande demais para ela. Lágrimas escorreram por seu rosto enquanto ofegava: "Dói... por favor..."

 

"Eu vou com calma, tá bom, esposa? Não vai doer. Isso é só porque você não se acostumou," murmurou ele, beijando suas lágrimas.

Ele Fez uma pausa, os quadris pressionados firmemente contra os dela, deixando-a se ajustar. "Eu sei, eu sei, mas vai passar logo."

 

As pernas dela tremiam ao lado do corpo dele, e ele sentia-a se apertando ao seu redor, o que o fez gemer levemente.

Suas mãos acariciavam as laterais do corpo dela em movimentos suaves, mas ela estava tão tensa que o apertava ainda mais.

Ele começou a se mover, os quadris projetando-se para a frente em estocadas lentas, beijando seu pescoço.

"Minha doce esposa, você sabe há quanto tempo eu queria isso?" murmurou contra sua pele.

"Tão sensível, tão apertada e quente... Toda minha. Você me pertence para sempre agora.  Você Foi feita pra mim, meu presente do universo."

 

Ela balançou a cabeça em negação. "Não!"

 

"Não?" provocou ele, dando uma estocada particularmente forte que a fez ofegar.

"Você acha que estou errado? Acha que não foi feita pra mim, e eu pra você?

Olhe pra si mesma agora, veja o quanto está errada. Você está gemendo abaixo de mim, do seu marido. Só eu posso ouvi-la assim, vê-la desse jeito.

O que sua família pensaria agora se visse você assim meu amor? E seu amado Luke,  ele está se remoendo no seu  túmulo agora ?" sussurrou em seu ouvido, divertido com a luta dela.

 

Ele agarrou seus pulsos, prendendo-os ao lado da cabeça dela enquanto a penetrava mais fundo e mais rápido, aumentando o ritmo.

A cama rangia sob eles, o corpo dela se esticando para acomodar o tamanho dele repetidamente. Ela gritava e gemia: "Ahh! Morpheus... não consigo... por favor!"

 

"Leve tudo de mim," disse ele no ouvido dela, a voz rouca. "Você foi feita pra isso. Feita pra ser fodida por mim, esposa."

 

"Chega! Morpheus! Eu não consigo... ahh... eu te odeio!" gritou ela, as lágrimas voltando.

 

"Você ainda não entende, não é?

Você é minha esposa, é tudo pra mim. Goste ou não,  e isso não importa.  Nos Temos uma eternidade juntos. Um dia, você vai me desejar como eu desejo, vai me amar como eu te amo. Você não me odeia. Pode fingir agora, mas isso vai acabar. Então pare de me negar," retrucou ele, penetrando-a com ainda mais força, como se estivesse tentando gravar as palavras em sua mente.

 

"Eu te amo!" rosnou ele. "Nunca nos separaremos, nem mesmo na morte. E se isso acontecer, eu  irei procurá-la, não importa onde esteja. Sempre pertenceremos um ao outro, não importa o quanto você negue. Nosso vínculo nunca poderá se romper."

 

Com facilidade, posicionou-a com as pernas sobre seus ombros, os olhos cravados nos dela enquanto a penetrava, permitindo que ela sentisse cada centímetro.

Ela gritou, revirando os olhos enquanto a ponta dele batia em seu colo do útero. Seu corpo se sacudia para frente e para trás a cada estocada brutal. Ele a beijava com uma fome voraz.

"Diga que me ama. Diga que é minha," ordenou, estocando com mais força. "Vamos, diga pra mim. Quero ouvir."

 

"Ahh... eu... eu..." gemeu ela, as palavras presas na garganta.

 

"Diga pra mim ou eu não vou parar nunca. Temos todo o tempo do mundo, afinal.eu Passaria décadas aqui nessa cama com você, esposa," ameaçou ele.

 

"Eu te amo," disse ela, chorosa e ofegante, as palavras saindo quase automáticas.

 

"Diga de novo, esposa. Mais alto. Quero ouvir," insistiu ele.

 

"EU TE AMO!" gritou ela, mais alto, babando enquanto ele a atingia em um ponto que a fazia ver estrelas.

 

"Você ama quem? Diga," ordenou ele.

 

"Eu amo você," respondeu ela, ofegante.

 

"E quem sou eu?" perguntou ele, os olhos brilhando com possessividade.

 

"Você é... Morpheus," tentou ela.

 

"Errado. Eu sou seu marido. Diga de novo, e certo dessa vez," corrigiu ele.

 

"Eu te amo, marido," disse ela, a voz trêmula.

 

"De novo," pediu ele, estocando com mais força.

 

"EU TE AMO, MARIDO!" gritou ela, delirante, desfazendo-se ao redor dele enquanto chorava lágrimas de prazer.

 

"Boa esposa," riu ele, satisfeito. "Muito bom. E você é toda minha, não é?"

 

Ela assentiu, exausta, e ele a beijou, os lábios possessivos contra os dela. Suas investidas ficaram mais desesperadas, fazendo o corpo dela estremecer com mais violência, os seios balançando a cada golpe.

 

"Estou tão perto," ofegou ele. "Você vai tomar meu sêmen como a boa esposa que é. Deixe-me enchê-la..." Seus músculos se contraíram, e ele gemeu. "Eu vou gozar. Este é o momento perfeito para começarmos a ter nossos próprios filhos."

 

"Espere, Morpheus, não faz—" tentou ela, recuperando um fiapo de juízo. "Não... por favor, não..."

 

Mas o clímax o atingiu, e ele liberou dentro dela uma torrente poderosa de esperma espesso, inundando-a enquanto salpicava seu pescoço de beijos e mordidinhas. "Que esposa boa. Você sabe o seu lugar agora, não é?" perguntou ele, ainda ofegante.

 

Ela assentiu, derrotada, e isso só o fez entrar em êxtase. "Temos tempo pra outra rodada, não é? Afinal, temos que aproveitar nossa noite de núpcias, não é, esposa?"

 

"Isso... não... espere," gaguejou ela, o rosto pálido de exaustão e medo, mas ele não lhe deu ouvidos.

A boca dele encontrou a dela em beijos ferozes, os dentes roçando seu lábio inferior.

 

As horas se arrastaram, e ele a tomou em posições que a faziam sentir cada músculo de seu corpo tensionar e ceder, o afrodisíaco amplificando cada toque até que o prazer beirasse a dor.

Depois do que pareciam dias – e foram –, ela finalmente desmaiou em seus braços, completamente esgotada, o corpo marcado por ele, a mente um torpor de prazer e dor.

 

 


 

 

 

 

 

 

Ela acordou, horas mais tarde, com seu corpo pesado.

Ela Encontrou-se aninhada contra o peito de Morpheus, os braços fortes dele a envolvendo, um calor que era ao mesmo tempo reconfortante e sufocante.

Ele estava acordado, claro, observando-a dormir com um olhar que misturava possessividade e algo que ele insistia em chamar de amor.

Ele se inclinou e beijou sua testa ao vê-la acordar. E Ela moveu-se levemente, sentindo a dor em seus músculos, cada movimento lembrando-a da noite anterior.

 

“Bom dia, esposa,” disse ele, a voz profunda, puxando-a para mais perto.

 

“O que aconteceu? Eu desmaiei?” perguntou ela, tentando organizar os fragmentos em sua mente.

Ela se lembrava, claro, de tudo que aconteceu. O afrodisíaco, o maldito afrodisíaco, pensava. Meu deus, como eu pude? Eu estava tão tomada de prazer ontem que até cheguei a gritar que o amava. Que humilhação.

 

“Sim, minha querida esposa, você desmaiou. E o ritual foi concluído,” respondeu ele, o tom carregado de satisfação.

Estamos completamente unidos agora.”

 

Ela ergueu os olhos para Morpheus, o coração apertado. “E agora? Acabou? É isso?”

 

Ele assentiu, os olhos fixos nos dela. “Sim, estamos ligados agora. Minha essência se uniu à sua.”

 

“E eu continuo humana?” perguntou ela, a voz vacilante, quase temendo a resposta.

 

Ele colocou a mão em seu rosto, acariciando-a com uma ternura que contrastava com tudo o que havia feito. “Não totalmente, meu amor.”

 

“O quê?” exclamou ela, o corpo tenso.

 

“Você tem um corpo imortal agora,” explicou ele, a voz calma, como se estivesse falando de algo trivial. “Você não tem mais as necessidades que um humano teria, como precisar de comida. Minha essência em você a torna similar a uma deusa. Você não envelhecerá mais, continuará igual ao que era.”

 

“E pra você, muda alguma coisa?” perguntou ela, tentando entender as implicações disso tudo.

 

Ele sorriu, um brilho predatório nos olhos. “Eu posso sentir você onde estiver. Se algo estiver errado, eu saberei. Minha essência a curaria. Também fica mais fácil pra mim te achar, não importa onde esteja, afinal, você tem minha essência dentro de você, misturada à sua. E, talvez, num futuro próximo, você consiga usar um pouquinho dos meus poderes.”

 

“Então é isso,” disse ela, a voz quase inaudível, carregada de resignação.

“Significa que estamos unidos pra sempre, todo o sempre?”

 

“Sim, isso significa que estamos unidos para sempre, minha esposa,” respondeu ele, os olhos fixos nos dela, intensos e implacáveis. Ele traçou o contorno do rosto dela com os dedos.

“Mas não há por que temer. Eu vou te proteger, te cuidar. Vou dar a você tudo o que sonhar. Eu te amo mais do que você consegue imaginar. Você nunca estará sozinha.”

 

Ela desviou o olhar, sentindo o calor do corpo dele contra o dela, uma prisão de pele e músculo da qual não podia escapar.

“Eu... eu disse coisas ontem,” começou ela, hesitante, a voz trêmula. “Coisas que eu não... que eu não queria dizer.”

 

“Mas, esposa, eu senti algo verdadeiro em você,” interrompeu ele, a voz baixa.

“Seus gemidos, suas palavras... parte disso veio de você.”

 

“Não!” retrucou ela, mais alto do que pretendia, o rosto corando de raiva e humilhação.

“Não veio de mim! Foi tudo... manipulado. Eu não te amo. Eu não queria isso! Eu te odeio!”

 

Ele riu, um som baixo e confiante, como se soubesse algo que ela ainda não entendia.

“Você pode lutar contra isso agora, dizer que me odeia, mas com o tempo vai entender. O que sentimos ontem, o que compartilhamos, não foi apenas físico. Foi o começo de algo maior. Nossa ligação vai se aprofundar, e um dia você vai querer estar aqui comigo, sem precisar de nada para te convencer.”

 

“E se eu nunca quiser?” perguntou ela, os olhos brilhando com lágrimas que se recusava a deixar cair.

“E se eu passar essa eternidade inteira te odiando? Eu posso fazer isso.”

 

“Então teremos uma eternidade para resolver isso,” respondeu ele, sem se abalar.

“Não vou desistir de você, esposa. Nem agora, nem nunca. E, no fundo, você sabe que lutar contra isso só te machuca mais. Por que não tentar... se abrir para mim?”

 

“Porque você me forçou a tudo isso!” exclamou ela, a voz quebrando.

“Você tirou minha escolha, minha liberdade. Você me forçou naquela floresta, Morpheus. Eu fugi de você e, mesmo assim, você me trouxe de volta.

Você me fez casar com você sem perguntar se era isso que eu queria. Mesmo eu dizendo não, você continuou. Como posso me abrir para alguém que fez isso comigo?”

 

Ele ficou em silêncio por um momento, o olhar suavizando-se, mas não perdendo a intensidade.

“Eu sei que o começo foi... difícil. Sei que te machuquei. Mas fiz isso porque não podia suportar a ideia de te perder. Porque você é tudo para mim, antes mesmo de você saber disso.”

 

Ela não respondeu, apenas virou o rosto, encarando o teto do quarto. O peso de suas palavras, a promessa de passar uma eternidade ao lado dele, era sufocante.

A realidade caiu sobre Briely como uma tempestade. Ela percebeu que nunca mais voltaria para casa.

Nunca mais veria sua família, sua mãe, seu irmão gêmeo Percy, nem Grover, Annabeth, nem mesmo seu pai verdadeiro. Nico, seu melhor amigo, o Senhor D, Chiron e os rostos familiares do Acampamento Meio-Sangue também estavam agora além do seu alcance.

 

As lágrimas brotaram sem controle, escorrendo por seu rosto em trilhas quentes e salgadas, manchando a pele ainda sensível da noite anterior. Ele logo a pegou, puxando-a para cima de seu peito.

“Não chore, meu amor. Eu não quero ver você chorar assim,” disse ele, a voz falsamente suave.

 

“É culpa sua,” retrucou ela, a dor tingindo cada palavra. Ele a abraçou, puxando-a para si, mas isso só a fez resistir mais.

 

“Eu nunca mais vou ver minha família, meus amigos,” soluçou ela, a voz rasgada, quase sufocada pelo peso da dor.

“Eu nunca quis ser imortal, nem mesmo no meu universo. Eu nunca quis isso.”

 

Ele depositou beijos leves em sua testa, tentando apaziguá-la, mas isso só a irritou mais.

“Você é minha esposa agora,” sussurrou ele.

“E eu vou cuidar de você. Você nunca mais estará sozinha. Com o tempo, você não vai sentir mais falta deles.”

 

Ela bateu no peito dele, pouco se importando com o que ele poderia fazer com ela agora. O medo dele havia desaparecido naquele momento, substituído por pura raiva e desespero.

“Eu não queria isso,” disse ela, batendo contra o peito dele. “Eu não queria ser sua esposa. Eu não quero estar aqui. Você escolheu isso por mim.”

 

Ele segurou seus braços, impedindo-a de continuar a bater nele, e inclinou o rosto dela para si com um toque delicado no queixo. Seus olhos escuros capturaram os dela antes que seus lábios se encontrassem num beijo profundo, quase sufocante.

Suas mãos deslizaram por suas costas, segurando-a mais perto.

“Você é minha, Briely. Minha rainha, minha esposa,” disse ele, a voz carregada de posse. “E eu vou te proteger, te amar, e te fazer feliz. Você nunca mais estará sozinha. E quanto mais cedo você aceitar isso, mais fácil será. Aqui, comigo, no Sonhar, é o seu lar. Aqui é a sua casa, meu amor. Eu sou sua família a partir de agora. Somos um, e seu lugar é ao lado do seu marido.”

 

Ela chorou até que suas lágrimas se esgotaram, o corpo tremendo de exaustão enquanto os soluços diminuíram.

Finalmente, ela  depois de um tempo ela se acalmou nos braços dele, o peso da realidade se assentando em seu peito.

sua vida havia mudado para sempre, e isso era irreversível agora, e  ela nunca mais seria a mesma.

 


 

 

 

 

 

A água morna acariciava a pele de Briely, o vapor subindo em espirais delicadas, carregando um aroma suave de ervas que deveria ser relaxante, mas não era.

Sentada na enorme banheira, com Morpheus atrás dela, os braços dele envolvendo-a como uma gaiola de carne e músculo, ela sentia o peito pesado.

O silêncio entre os dois era denso, interrompido apenas pelo som ocasional de gotas caindo na superfície da água.

O peito dele estava pressionado contra suas costas, o queixo repousando na curva de seu pescoço, o hálito quente roçando sua pele. Ela não dizia nada. De que adiantaria agora? Ele tinha conseguido o que queria: ela.

 

Seus olhos estavam fixos na água, encarando o reflexo distorcido de seu rosto que a devolvia o olhar, perdido e vazio. Meus poderes… eu não aguentaria ficar sem eles também. Ainda posso usá-los, não é? A essência dele se uniu à minha depois do casamento. Erguendo a mão, os dedos tremendo levemente, ela concentrou-se.

Uma pequena gota de água se elevou da superfície, flutuando no ar por um breve momento.

Um leve sorriso curvou seus lábios, uma fagulha de alegria ao perceber que seus poderes ainda estavam lá, intactos.

 

“Testando seus poderes, meu amor?” A voz de Morpheus cortou o silêncio,  com um toque de diversão.

“Vendo se eles não foram tirados de você? Eu não seria cruel a esse ponto. Eles são seus, e eu nunca poderia tirá-los. Estão na sua essência.”

 

Ela virou o rosto ligeiramente pra ele , o olhar duro.

“Você poderia ter me perguntado se eu tivesse alguma dúvida sobre nossa ligação”.disse ele 

“Não pensei que isso poderia acontecer.”retrucou ela 

 

Ele riu baixo, inclinando-se para beijar a curva de seu pescoço, fazendo-a estremecer contra sua vontade.

“Temos o dia para passarmos juntos,” disse, mudando de assunto com facilidade.

“Já se passaram vários dias desde nosso casamento. Cinco, para ser exato.”

 

Briely congelou, os olhos arregalando-se enquanto se virava mais para encará-lo, a água movendo-se ao redor dela.

“Cinco dias?” Sua voz saiu mais aguda do que pretendia. Ela não tinha noção de que tanto tempo havia passado. Pensava que havia sido apenas um dia, não cinco. Cinco dias naquela cama com ele… como?

Então, ela se lembrou. Seu corpo não era mais totalmente humano. Passar cinco dias acordada deveria ser normal agora.

Claro, ela desmaiou, mas só porque não aguentava mais tanto… prazer.

O calor subiu ao seu rosto com a memória, enquanto ela se via desmaiando nos braços dele.

 

“Passamos a noite do casamento e os próximos quatro dias em nossa noite de núpcias,” explicou Morpheus, a voz carregada de uma satisfação o que  a irritava.

 

Ele a observou por um momento, então seu tom ficou sério.

“O que era aquele frasco que você usou no banheiro?”

 

Briely congelou de novo, os ombros enrijecendo. Ela Tentou se fazer de desentendida.

“Frasco? Que frasco? Eu não sei de frasco algum.”

 

Mas Morpheus não cedeu, inclinando-se ligeiramente para frente, o rosto mais perto do dela.

“Não minta pra mim, esposa. Eu sei que você sabe de qual frasco estou falando. E eu sei que você tomou o conteúdo,” disse, com a  voz agora assustadoramente calma, o que só a deixava mais inquieta.

“E notei que era um afrodisíaco bastante potente. Quem te deu isso?”

 

Briely engoliu em seco, sentindo os olhos dele perfurando-a. Ela Decidiu falar a verdade e  jogar o irmão dele debaixo do ônibus.

Que eles se resolvessem. Afinal, Desejo a enganou, ou pelo menos ela interpretou mal as palavras dele. Ele disse que ajudaria a passar a noite, mas não especificou como.

Mesmo assim, com o olhar de Morpheus pesando sobre ela, decidiu dedurá-lo.

“Foi o seu irmão, Desejo, que me deu como presente. Eu não sabia o que era até beber,” confessou.

 

Morpheus a encarou, a fúria reluzindo em seus olhos, os músculos da mandíbula se tensionando por um instante.

“E você, minha querida esposa, decidiu que seria uma boa ideia beber sem saber o que era,” disse, cada palavra a repreendendo.

E se fosse outra coisa? Veneno, talvez? Não tínhamos terminado o ritual, e você ainda tinha um corpo humano. Você poderia morrer. Entende isso?”

 

“Não faça mais isso,” ordenou a ela com voz cortante.

“Você entendeu? Isso foi perigoso e poderia colocá-la em risco. Eu não quero que você tome nada que não saiba o que é. Eu não quero que você se machuque.”

 

“Não seria ruim se fosse veneno,” murmurou ela baixinho, quase sem pensar.

 

Ele estreitou os olhos. “O que você disse? Diga de novo.”

 

Não seria ruim se fosse veneno,” repetiu ela, mais alto, a voz carregada de desafio.

 

Morpheus puxou o rosto dela para si, apertando sua mandíbula com firmeza, os olhos verdes-mar dela o encarando com fúria. Isso, porém, só pareceu diverti-lo.

Esses olhos dela me olhando assim…pensou ele, um brilho de prazer cruzando seu rosto.

Você acha mesmo que, se morresse, eu não a traria de volta?” disse, a voz baixa e perigosa.

Minha irmã não a levaria. E mesmo se levasse, seu tio Hades devolveria sua alma. Afinal, ele é seu tio aqui nesse universo.

Tenho certeza de que seu pai e o resto do panteão o convenceriam a devolvê-la pra mim. Especialmente sua tia Perséfone.

Ela mandou uma carta com um presente de casamento pra você por não poder vir.

Tenho certeza de que ela o convenceria a me devolver sua alma. Eu mesmo iria até o Submundo buscá-la.

E não me olhe assim, minha amada esposa, senão voltaremos pra cama pelas próximas semanas.”

 

Briely desviou o olhar, o rosto queimando de raiva e vergonha. Ele deu um selinho rápido em seus lábios, depois continuou, sério.

“Agora, eu não quero você bebendo nada que meu irmão te oferecer a partir de agora. Você entendeu? Teve sorte de que foi um afrodisíaco, e eu não estou bravo. Porque se fosse outra coisa…”

 

Briely assentiu, os olhos baixos. “Eu não sabia o que era. Eu sinto muito,” murmurou, a voz quase inaudível.

 

Ele a abraçou novamente, puxando-a contra si, o calor de seu corpo contrastando com o frescor da água.

“Tudo bem, esposa. Mas não faça isso novamente. Apesar de se você tomasse veneno agora  isso não funcionaria mais agora por causa da minha essência em você,” disse, 

“Agora, quero aproveitar o nosso dia juntos.  quero  te mostrar  algo hoje.”

 

Ela não respondeu, apenas deixou o corpo relaxar contra o dele, embora sua mente estivesse a mil.

O que mais ele pode querer de mim agora? Mas, por enquanto, ela apenas ficou ali, deixando a água morna acalmar seu corpo.

 

 

 

 

 

 

Notes:

Eu tentei o meu melhor na obscenidades espero que gostem 🫣

Chapter 11

Notes:

Capítulo editado;)

Chapter Text

 

 

 

O banho havia terminado, e Briely sentia a pele ainda úmida enquanto Morpheus lhe entregava um vestido de tecido leve, de um Preto profundo.

O tecido deslizava sobre sua pele , ajustando-se ao seu corpo  Ele a observava com um olhar que misturava posse e algo mais suave, quase indistinguível.

 

“Está perfeita, minha esposa,” disse ele, a  enquanto estendia a mão para ela.

“Venha comigo. Quero te mostrar algo.”

 

Briely segurou a mão dele,  enquanto ele a guiava para fora do castelo, adentrando os caminhos sinuosos do Sonhar que ela ainda não conhecia.

Jardins exuberantes se abriam ao redor deles, como visões de um sonho eterno. Árvores de copas impossivelmente altas, com folhas que brilhavam em tons de esmeralda e safira, ladeavam o caminho.

Flores de formas surreais desabrochavam em cores que ela nunca havia visto antes, seus aromas doces e inebriantes misturando-se à brisa fresca que acariciava sua pele.

Borboletas dançavam no ar, suas asas coloridas capturando raios de luz, enquanto pássaros cantavam melodias que pareciam entrelaçar-se ao farfalhar das folhas.

 

Morpheus a envolvia de forma protetora, um de seus braços ao redor de sua cintura, o outro ombro dela encostado ao peito dele enquanto caminhavam lado a lado.

“Tenho um presente para você, minha rainha,” disse ele o que fez Briely erguer os olhos para ele por um instante, curiosa apesar de si mesma.

 

“Algo que acho que você vai gostar. Vou dá-lo a você mais tarde,” completou, um leve sorriso curvando seus lábios.

 

Antes que ela pudesse responder, figuras familiares apareceram no caminho.

Caim e Abel, aproximaram-se com passos cuidadosos.

Caim, inclinou a cabeça em cumprimento, enquanto Abel, mais gentil e hesitante, sorriu de forma tímida.

Ao lado dele, a pequena gárgula Goldie batia as asas inquieta.

 

“Mestre Morpheus, Senhorita Briely,” começou Caim.

“Parabéns pelo casamento, mais uma vez. .”

 

“Sim, sim, parabéns!” acrescentou Abel, quase tropeçando nas palavras.

“Que sejam muito felizes.”

 

Morpheus acenou com a cabeça, um gesto firme. “Obrigado, Caim. Abel.”

 

Briely ofereceu um sorriso polido, sem calor, os lábios curvando-se por pura formalidade.

Antes que pudesse se conter, Goldie, com um guincho animado, voou na direção dela, pousando suavemente em sua mão estendida. Abel corou, visivelmente envergonhado.

 

“Goldie! Me desculpe, Majestade,” disse ele, coçando a nuca. “Ele é muito agitado.”

 

“Está tudo bem,” respondeu Briely, a voz mais suave enquanto passava a mão na cabeça da pequena criatura, um sorriso genuíno escapando por um instante.

“Olá, Goldie.”

 

Goldie emitiu um grunhido baixo e satisfeito, aninhando-se contra os dedos dela. Morpheus observava a cena, a mão firme na cintura de Briely.

Por dentro, uma onda de satisfação o percorreu. Ela será uma ótima mãe, pensou, o canto de seus lábios se elevando quase imperceptivelmente.

 

Caim e Abel se despediram com novos acenos, e Goldie, relutante, voltou para o lado de Abel, guinchando baixinho enquanto se afastavam.

 

O dia prosseguiu com Morpheus guiando Briely por cada recanto do Sonhar.

Lugares de beleza indescritível se revelavam a cada passo: lagos de águas que refletiam céus impossíveis, montanhas de cristal que cantavam ao toque do vento, e florestas onde as árvores pareciam sussurrar segredos antigos.

Cada canto do reino parecia uma pintura viva, um testemunho do poder e da imaginação de seu rei.

Diversos residentes do Sonhar os cumprimentaram ao longo do caminho, suas vozes ecoando com respeito e alegria.

 

“Parabéns pelo casamento, Mestre Morpheus, Rainha Briely,” dizia um somho, inclinando-se com graça.

 

“Que sua união fortaleça o Sonhar,” acrescentou outro, batendo o punho no peito em saudação.

 

Briely mantinha o sorriso educado, os olhos arregalando-se com cada nova visão de tirar o fôlego, mas a inquietação dentro dela permanecia.

Um vazio que a magnificência ao seu redor não conseguia preencher.

Ela era a rainha daquele lugar, como Morpheus gostava de lembrá-la a cada instante, mas não se sentia como tal.

Ela nem queria aquele maldito título. Cada “parabéns” que ouvia era como uma faca sutil em seu peito, aprofundando o desconforto.

A mão dele, praticamente estava grudada em sua cintura, o que parecia mais uma corrente do que um gesto de afeto.

 

Depois de horas caminhando, sorrindo falsamente como se estivesse feliz com aquele casamento, a exaustão mental começou a pesar.

Seu corpo não sentia cansaço como antes, mas sua mente implorava por uma pausa. Ela parou por um momento, virando-se para ele com um suspiro.

 

“Morpheus, não podemos parar um pouco? Estou... cansada. Podemos voltar?” pediu.

 

Ele a encarou, uma sobrancelha arqueando-se levemente.

“Não mostrei nem metade do Sonhar para você, minha esposa. Como minha rainha, você deveria conhecer nosso reino. Cada parte dele.”

 

Briely franziu a testa, os pensamentos girando em sua mente.

Como se eu quisesse conhecer seu reino. Se fosse em outra ocasião, talvez eu adorasse, mas agora... se continuarem nos parabenizando pelo casamento a cada quinze segundos e me chamando de rainha, sinto que vou surtar.

No entanto, ela sabia que, em alguns momentos, Morpheus era fraco para seus pedidos – especialmente agora, dependendo do que pedia. Com um tom mais doce, quase implorante, ela tentou novamente.

 

“Por favor, Morpheus. Não podemos voltar? Só por agora? Podemos continuar depois. Você não tinha algo para me mostrar?”

 

Ele a encarou por um longo momento, um brilho de diversão cruzando seus olhos. Estava ciente do jogo dela, da tentativa de manipulação sutil.

“Tudo bem, esposa,” disse finalmente, a voz carregada de um tom que indicava que ele sabia exatamente o que ela estava fazendo.

“Podemos voltar. E como você está cansada, se preferir, posso carregá-la por todo o reino. O que acha?”

 

Briely abriu a boca para recusar, percebendo que sua estratégia havia saído pela culatra. “Não, eu... posso caminhar.”

 

Mas antes que pudesse protestar mais, Morpheus riu baixo e a pegou no colo com facilidade, os braços  a envolvendo como se ela não pesasse nada.

“Não se preocupe, minha rainha. Vou levá-la.”

 

“Morpheus, me coloca no chão!” exclamou ela, as bochechas corando de frustração enquanto se debatia levemente.

 

“Relaxe, esposa. Estou apenas cuidando de você,” respondeu ele, o tom tranquilo, quase provocador, enquanto continuava a caminhar.

“Veja ali, mais adiante, temos o Rio dos Sonhos Perdidos, onde as memórias esquecidas fluem como água.”

 

Ele continuou apontando para lugares e explicando suas histórias, enquanto a carregava de volta ao castelo.

Apesar de sua irritação inicial, Briely não pôde evitar ouvir, mesmo que contra sua vontade, fascinada pelas descrições de um reino tão vasto e estranho.

 

Ao chegarem ao castelo, Morpheus a levou até uma sala que ela nunca havia visto antes.

Ao entrarem, Briely deparou-se com um jardim particular, um oásis de tranquilidade escondido dentro das paredes de pedra.

Flores coloridas desabrochavam em profusão, de tons vibrantes que pareciam desafiar a lógica. Um pequeno lago de águas cristalinas refletia a luz suave que banhava o lugar, cercado por árvores frutíferas carregadas de frutos maduros.

No centro, uma mesa com bancos de madeira polida repousava perto do lago, convidativa.

Era... bonito, ela pensou, quase contra sua vontade.

 

Morpheus a colocou no chão com cuidado, seus olhos fixos nela enquanto ela observava o entorno.

“O que é isso?” perguntou ela, a voz carregada de curiosidade apesar de sua cautela.

 

“É um presente meu para você, minha esposa,” respondeu ele, o tom baixo e sério. “Um lugar só seu, onde pode relaxar. Espero que goste.”

 

Briely o encarou por um momento, sem saber o que dizer.

“É lindo, Morpheus,” respondeu finalmente, os dedos roçando distraidamente a borda de uma folha próxima.

 

Ele se aproximou, o olhar intenso, quase exigente.

“Quero que me chame de marido de agora em diante,” disse, os olhos fixos nos dela. Inclinou-se mais perto, os dedos roçando o rosto dela em um carinho que parecia ao mesmo tempo gentil e possessivo.

“Somos casados agora, meu amor. Eu sou seu marido, e você é minha esposa. Quero ouvir isso de você.”

 

Briely hesitou, um nó se formando em sua garganta. Antes que pudesse responder, ele se inclinou ainda mais, sussurrando em seu ouvido.

“Embora eu não desgoste se você quiser me chama de amor... ou talvez de seu rei.” A voz dele tinha um tom provocador, carregado de intenções.

“Você já gritou para todos ouvirem que ama seu marido na nossa noite de núpcias. Por que não me chamar assim? É o que sou, afinal, não é, esposa?”

 

O rosto dela se aqueceu instantaneamente, a memória da noite de núpcias – e do afrodisíaco – voltando com força.

“Eu não disse aquilo no meu juízo perfeito, você sabe disso. Foi o afrodisíaco, e você sabe disso,” retrucou ela, empurrando-o levemente, mas ele não se moveu nem um centímetro.

 

“É claro, esposa,” respondeu ele, claramente divertido.

“Mas diga para mim. Quero ouvir.”

 

Ela cerrou os punhos, sentindo o peso do olhar dele sobre si. Sabia que ele estava gostando disso, da resistência dela, do jogo de poder.

Com um olhar fulminante, cedeu, a voz carregada de desconforto.

“Obrigada, marido.”

 

Morpheus sorriu, um brilho de satisfação cruzando seu rosto.

“Eu disse antes para você não me olhar assim, se não quisesse passar as próximas semanas na cama, não é?” perguntou, a voz baixa e perigosa.

“Você quer, esposa?”

 

“Não,” respondeu ela rapidamente, virando-se e caminhando até o banquinho perto do lago, tentando escapar da presença sufocante dele.

Mas Morpheus a seguiu, sentando-se ao lado dela antes que pudesse protestar, e com um movimento firme, a puxou para seu colo apesar dos resmungos dela.

 

“Para de lutar por um segundo,” murmurou ele, os braços a envolvendo enquanto a beijava, o toque dos lábios quente e insistente contra os dela.

O beijo foi profundo, quase possessivo, as mãos dele firmes em suas costas, segurando-a contra si como se temesse que ela desaparecesse.

 

Ele se afastou apenas o suficiente para falar, o olhar fixo no dela.

“Você é minha esposa agora, Briely. Eu sou seu marido. Você tem que se conformar com isso porque não vai mudar. Vou cuidar de você, protegê-la e amá-la para sempre. Não seja teimosa e aceite. Isso vai ser melhor para você.”

 

Ela baixou o olhar, a frustração e a resignação misturando-se dentro dela.

“Eu sei que, querendo ou não, você é meu marido agora. Não precisa ficar me lembrando.”

 

“Bom,” disse ele, um leve sorriso satisfeito surgindo.

“Mas tenho outra coisa para te mostrar. Mandei fazer algo para você. Está na sala do trono.”

 

Morpheus a levou até lá, a mão firme em sua cintura enquanto atravessavam os corredores de pedra  do castelo.

Ao entrarem na imensa sala do trono, Briely congelou ao ver um segundo trono ao lado do dele, esculpido com detalhes tão intrincados quanto o primeiro.

Era claramente feito para ela, com entalhes de flores e estrelas, um símbolo de sua posição como rainha.

 

“Este trono é para você, minha esposa,” disse Morpheus, a voz cheia de orgulho.

“Você é a rainha do Sonhar agora e merece um trono digno de sua posição.”

 

Briely assentiu, um movimento pequeno e hesitante, o desconforto apertando seu peito enquanto tentava esconder a inquietação. “É... muito bonito, Morpheus,” murmurou, sentindo os olhos dele avaliando cada reação sua.

 

“Venha,” disse ele, guiando-a pelas escadas até os tronos. Ele se sentou no dele, o corpo relaxado, mas imponente, enquanto ela fazia o mesmo, o assento frio e estranho sob seu toque. “Você gostou, minha esposa?”

 

“Sim,” respondeu ela, a voz baixa. “É bonito.”

 

Morpheus sorriu de leve, inclinando a cabeça na direção dela. “Vem aqui,” pediu, a voz carregada de uma suavidade que a fez hesitar.

Ela o encarou, cautelosa, mas se levantou e foi até ele, cruzando os braços enquanto parava à sua frente.

 

“Sente-se no meu colo,” disse ele, estendendo a mão.

“Adoro ver você ao meu lado, mas quero você junto comigo. Venha.”

 

Ela hesitou por um momento, mas pegou a mão dele, e Morpheus a puxou com facilidade, ajustando-a em seu colo.

Ele repousou a cabeça dela contra seu peito, o calor de seu corpo contrastando com o frio da sala.

Com um gesto sutil, invocou um livro antigo, suas páginas amareladas cheias de runas e ilustrações de tempos esquecidos.

Era a história de um rei poderoso e uma rainha sábia que governavam com justiça e amor.

 

Ele começou a ler, a voz suave, mas carregada de uma cadência que parecia envolver os sentidos, transportando Briely para outro tempo e lugar.

“Era uma vez um reino onde o sol nunca se punha, e seus governantes eram tão fortes quanto sábios. O rei comandava com punho de ferro, enquanto sua rainha... sua rainha era a luz que guiava suas decisões mais difíceis.”

 

Briely ouviu em silêncio, o ritmo da voz dele quase hipnótico. Depois de um tempo, a curiosidade a fez interromper.

“Como vai a situação do vórtice?” perguntou, a voz baixa, quase temerosa de quebrar o momento.

“Matthew disse algo?”

 

Morpheus parou de ler, o olhar endurecendo por um instante antes de suavizar. “Não se preocupe com isso, minha esposa,” respondeu, cortando qualquer tentativa de aprofundar o assunto.

“Eu cuidarei de tudo. Matthew ainda está vigiando no mundo desperto, mas voltará logo. Você não precisa se preocupar com nada.”

 

Briely baixou os olhos para as mãos em seu colo, os dedos entrelaçando-se inquietos. Ele continuou a ler, as horas passando como um sonho lento.

Aos poucos, o cansaço mental venceu, e ela adormeceu contra o peito dele, a respiração suave e regular.

Morpheus deixou o livro de lado, os olhos fixos nela enquanto a observava dormir. Com um pensamento sutil, manipulou um sonho para ela, envolvendo-a em imagens dele próprio, de momentos que ainda não haviam vivido, mas que ele desejava que ela desejasse.

 

De repente, sentiu uma presença familiar. Matthew, seu corvo leal, retornava do mundo desperto.

Suas asas cortaram o céu onírico antes de pousar na entrada da sala do trono, os olhos afiados percorrendo o ambiente.

Ele notou Briely imediatamente, dormindo no colo de Morpheus, e inclinou a cabeça, um grasnido baixo escapando enquanto se aproximava, pousando em uma das colunas próximas.

 

“Mestre Morpheus, voltei do mundo desperto. O vórtice, Rose Walker, está causando ondulações, como esperado,” disse ele, mas seus olhos não saíram de Briely.

Os rumores que ouvira no mundo desperto ecoavam em sua mente.

Ele sabia como Morpheus era com ela, a obsessão que todos no Sonhar podiam sentir. Vê-la ali, no colo dele, confirmava tudo.

“E... parabéns pelo casamento, Mestre.”

 

Morpheus apenas inclinou a cabeça de leve em reconhecimento, enquanto acariciava os cabelos de Briely com um toque gentil.

O corvo grasnou uma despedida, voando em direção à biblioteca, onde sabia que encontraria Lucienne.

Ao chegar, pousou em uma estante próxima, suas asas se dobrando enquanto a observava organizar um tomo antigo.

“Lucienne, ouvi uns rumores no mundo desperto,” começou, hesitante.

“Sobre o Mestre e a Senhorita Briely...”

 

Lucienne lançou um olhar afiado para ele, parando o que fazia.

“É melhor você não saber mais do que precisa, Matthew. Sim, eles se casaram. É tudo o que você precisa saber.”

 

“Mas como—?” insistiu ele, as penas eriçando-se de curiosidade e preocupação. “Ela... ela está bem com isso?”

 

Lucienne suspirou, a expressão severa.

“O Mestre Morpheus deu uma ordem clara. Ninguém no reino deve comentar sobre o que você ouviu que pode ter ocorrido.

A Senhorita Briely não sabe dessa ordem ou talvez sabe, mais e é melhor que continue assim. O panteão grego também tentou abafar a questão. Não insista, Matthew.”

 

“Estou só preocupado com ela,” murmurou o corvo, baixando a cabeça.

 

“Ela está bem,” respondeu Lucienne, o tom mais suave, mas ainda firme.

“Não pergunte a ela, e não fale nada disso perto dela. Entendido?”

 

Matthew grasnou em acordo, sabendo que não adiantaria insistir.

“Tudo bem. Não vou comentar nada.”

 

“Bom,” disse Lucienne, fechando o tomo com um som seco. “Agora, deveríamos discutir o vórtice com o Mestre. Vamos.”

 


 

 

 

 

Lucienne entrou na sala do trono com passos silenciosos, seus olhos atentos varrendo o ambiente antes de se fixarem em Morpheus e Briely.

Ele estava sentado em seu trono, imponente como sempre, enquanto ela dormia em seu colo, a cabeça repousada contra seu peito.

O contraste entre a força dele e a vulnerabilidade aparente dela era quase palpável.

Lucienne hesitou por um instante antes de limpar a garganta suavemente.

 

“Mestre Morpheus, encontrei informações adicionais sobre o vórtice,” disse ela, a voz firme, mas respeitosa.

 

Morpheus assentiu, seus olhos escuros encontrando os dela por um breve momento.

Ele baixou o olhar para Briely, seus dedos roçando levemente os cabelos dela enquanto a acordava com um toque sutil. “querida,” murmurou, a voz baixa e aveludada, quase um sussurro.

 

Ela se mexeu, os olhos se abrindo lentamente, ainda enevoados pelo sono.

Quando focalizou Lucienne à sua frente, endireitou-se um pouco, um leve rubor nas bochechas. “Oi, Lucienne,” disse, a voz hesitante, mas educada.

 

“Minha rainha,” respondeu Lucienne com uma inclinação de cabeça.

Morpheus deslizou o braço ao redor dela, ajudando-a a se levantar de seu colo e a se sentar nos degraus ao lado de seu trono.

Ele não soltou completamente, mantendo o braço protetoramente ao redor de sua cintura enquanto se virava para Lucienne.

“Prossiga,” ordenou, o tom autoritário.

 

Lucienne começou a relatar detalhes sobre Jed Walker, o irmão de Rose, e as possíveis conexões com o vórtice.

Sua voz era precisa, cada palavra escolhida com cuidado, enquanto explicava as últimas descobertas e os potenciais riscos. Morpheus ouvia atentamente, os olhos estreitados em concentração, ocasionalmente fazendo perguntas curtas e diretas.

 

Briely, no entanto, estava longe dali em seus pensamentos.

Seus dedos brincavam distraidamente uns com os outros, entrelaçando-se e soltando-se repetidamente.

Ela mal registrava as palavras de Lucienne. Sua mente vagava para sua família — sua mãe, seu irmão, o calor de suas vozes, os risos compartilhados.

Sentia falta até do acampamento, dos dias caóticos, das brigas com Clarisse, de Nico, seu melhor amigo, cujo sorriso lhe trazia conforto.

O que não ela daria para vê-lo novamente, nem que fosse por um instante? A saudade era uma dor física, apertando seu peito enquanto se perdia em memórias.

 

Até que a atmosfera do salão mudou abruptamente.

 

Uma presença nova e inesperada invadiu o espaço, como uma corrente de ar frio cortando o ar pesado.

Briely ergueu os olhos, surpresa, saindo de seus devaneios. Diante deles, uma jovem se materializava, sua forma tremeluzindo por um instante antes de se solidificar.

Rose Walker. Seus olhos estavam arregalados, cheios de confusão misturada com determinação, enquanto ela olhava ao redor, tentando entender onde estava.

 

Rose varreu o ambiente com o olhar, claramente desorientada, até que seus olhos se fixaram em Morpheus.

Mas, por um breve momento, eles recaíram sobre Briely. As duas pareciam ter idades próximas, notou Rose, e havia algo na expressão de Briely — uma melancolia profunda — que contrastava com sua beleza.

Havia algo de cativante naquela mulher, algo que a fazia parecer deslocada, como se não pertencesse completamente àquele lugar.

Rose sentiu uma estranha empatia por ela, um eco de dor que não conseguia explicar, antes de desviar o olhar de volta para Morpheus.

 

Morpheus, por sua vez, percebeu o olhar de Rose sobre sua esposa.

Seus olhos escureceram por um instante, uma sombra de desagrado cruzando seu rosto.

Ele apertou levemente o braço ao redor de Briely, um gesto possessivo quase inconsciente, antes de se levantar com ela dos degraus.

Seus braços não abandonaram a cintura dela, mantendo-a perto enquanto se postava como uma barreira entre as duas.

 

Briely encarava Rose, curiosa, perguntando-se quem era aquela jovem e por que sua presença parecia carregar tanto peso.

Morpheus, no entanto, não deixou espaço para especulações.

Ele se dirigiu a Rose com uma voz firme, carregada de autoridade inquestionável.

 

“Você é bem-vinda aqui, Rose Walker.”

 

Rose franziu o cenho, ainda confusa. “Quem é você? Quem são vocês?”

 

“De alguma forma, você conseguiu uma audiência com Lorde Morpheus, o Rei dos Sonhos,” respondeu Lucienne.

 

“Então, estou dormindo agora? Estou sonhando?” perguntou Rose, incrédula, suas mãos se fechando em punhos enquanto tentava processar.

 

“Sim, e eu gostaria de saber como você me encontrou,” disse Morpheus, os olhos estreitados, analisando-a.

 

Rose hesitou por um momento, antes de sua determinação voltar. “Ouvi você falando do meu irmão. Ele está aqui?”

 

“Não,” respondeu Morpheus, sem rodeios.

 

“Você sabe onde ele está?” insistiu ela, o desespero vazando em seu tom.

 

“Não. Mas acho que ele pode estar com um dos meus Pesadelos desaparecidos,” explicou ele.

Rose franziu o cenho, a confusão voltando. “Ela é um pesadelo então?” perguntou, apontando para Briely ao lado dele, sua curiosidade misturada com cautela.

 

Morpheus voltou-se para Briely por um instante, seu olhar suavizando de leve antes de retornar a Rose com a mesma frieza. “Não rose. Esta é minha esposa.”

 

Rose piscou, surpresa. “Sua esposa? Ela é sua esposa?”

 

“Sim,” disse ele, o tom final, indicando que não haveria mais perguntas sobre o assunto.

Ele não ofereceu explicações adicionais, e sua postura deixava claro que não toleraria insistência.

 

Rose, ainda intrigada, pensou consigo mesma mais ela parecia ter mais ou menos a minha idade.

Mas decidiu mudar de assunto, voltando ao que realmente importava.

“O que esse pesadelo iria querer com Jed?”

 

“Não sei,” admitiu Morpheus, a voz firme, mas com um leve traço de contemplação. “Mas tenho a sensação de que tem algo a ver com você.”

 

“Eu? Por quê? O que eu fiz?” perguntou Rose, a frustração e o medo misturando-se em sua voz.

 

“Não é o que você fez. É o que você é,” respondeu Morpheus, enigmático como sempre, seus olhos fixos nela.

 

“Desculpe. Não entendo nada disso,” confessou Rose, os ombros caindo levemente enquanto esfregava as têmporas.

 

“Não. Os vórtices dos sonhos são, em grande parte, incompreensíveis,” disse Morpheus.

 

“O que é um vórtice de sonho?” perguntou ela, desesperada por qualquer fragmento de compreensão.

 

“Você é. Veja bem, uma vez a cada poucos milhares de anos, um mortal nasce com uma capacidade de sonhar tão poderosa que pode viajar através dos sonhos dos outros. E, aparentemente, todo o caminho até a minha sala do trono,” explicou ele.

 

Rose balançou a cabeça, incrédula. “Eu só estava procurando meu irmão.”

 

“Se você puder me encontrar no Sonhar, poderá encontrar seu irmão. Não importa onde Gault o escondeu,” disse Morpheus.

 

“Como? Como faço isso?” perguntou Rose, os olhos brilhando com uma mistura de esperança e desespero.

 

“Por enquanto, continue procurando seu irmão no mundo desperto. Matthew cuidará de você lá,” respondeu ele, acenando para o corvo que acabara de entrar na sala.

Matthew inclinou a cabeça em reconhecimento, suas penas eriçando-se levemente.

 

“Ao seu dispor, Rose,” grasnou Matthew.

 

“Quando ele está com você, eu estou com você,” continuou Morpheus, os olhos fixos em Rose.

“Então, esta noite, quando você dormir, você e eu iremos juntos procurar Gault e seu irmão. Nos seus sonhos.”

 

Rose hesitou, os olhos voltando brevemente para Briely, ainda intrigada com a presença dela.

“Ela não é apenas um pesadelo, certo? Ela não pode machucá-lo, pode?” perguntou.

Morpheus não respondeu imediatamente, o olhar endurecendo por um instante enquanto considerava a pergunta.

Antes que pudesse falar, Rose começou a desvanecer, sua forma tremeluzindo enquanto o sonho que a trouxera ali começava a se dissolver.

Briely observava em silêncio, ainda ao lado dele, até que a jovem desapareceu por completo.

 

 


 

 

 

Após o encontro com Rose Walker, Morpheus guiou Briely até a vasta biblioteca do Sonhar,  Ele se sentou a uma mesa larga de madeira escura, folheando as páginas de um tomo antigo.

 

Lucienne estava ao lado, ajustando os óculos enquanto discutia os detalhes sobre Rose Walker com sua habitual compostura.

Briely, ao lado de Morpheus, brincava distraidamente com um livro em suas mãos.

Para sua surpresa, as palavras nas páginas não eram mais um borrão indecifrável — sua dislexia, que sempre a atormentara, parecia ter desaparecido.

Ela podia ler com clareza agora. Deve ser a ligação entre nós, pensou, sentindo o peso de sua nova realidade com mais força do que nunca.

 

“E tudo o que temos sobre Rose Walker?” perguntou Morpheus,  enquanto virava uma página com impaciência.

 

“E Jed Walker. Mas não creio que haja algo ali que você já não saiba. Exceto talvez—” Ele fez uma pausa, os olhos fixos em uma passagem, antes de levantar o olhar para Lucienne.

“Exceto talvez pelo motivo de ela ter conseguido entrar na minha sala do trono. O que você acha? Por que Gault escolheu o irmão dela e não ela?”

 

Lucienne respondeu com sua habitual precisão.

“É difícil dizer, meu senhor. Gault é um pesadelo, e suas ações frequentemente desafiam a lógica. Suspeito que ela viu algo em Jed, talvez uma vulnerabilidade que Rose não possui.

Ou quis atingir Rose indiretamente, sabendo que a ligação entre irmãos é poderosa o suficiente para desestabilizá-la.”

 

Briely interveio,  hesitante enquanto tentava contribuir, mais para se distrair de seus próprios pensamentos do que por convicção.

“E se Gault soubesse que Rose é o vórtice? Não seria mais fácil manipular alguém próximo a ela, alguém que ela faria qualquer coisa para proteger?” Suas palavras carregavam uma empatia que vinha de sua própria dor, de tudo que havia perdido.

 

Morpheus voltou-se para ela. “Possível,” disse ele, a voz suavizando ao se dirigir a ela.

“Um vórtice é uma força imprevisível, mesmo para um pesadelo como Gault. Usar Jed como ferramenta seria uma estratégia... inteligente.” Ele pausou, antes de retornar ao tomo.

 

“Você leu sobre Unity Kincaid?” perguntou Lucienne.

“Meu senhor, no dia em que você foi preso, havia pessoas no mundo todo que dormiram e não conseguiram acordar. Unity Kincaid é a única sobrevivente do que chamam de ‘doença do sono’. No dia em que você voltou, ela acordou. E Rose Walker é sua bisneta.”

 

Briely franziu o cenho, tentando acompanhar.

“Elas são parentes? Então... Rose está ligada a isso?” perguntou.

 

Morpheus a olhou por um momento antes de responder.

“Parece que minha ausência causou o nascimento de um vórtice. Isso não é uma possibilidade?”

 

Lucienne balançou a cabeça. “Vórtices são fenômenos naturais, meu senhor. Ninguém sabe por que acontecem. Nem mesmo você. Mas sei que eles não são causados ou criados. Eles simplesmente acontecem.”

 

“Então tudo isso é uma coincidência?” retrucou Morpheus, a irritação sutil em sua voz.

“E não uma ameaça iminente? Meu instinto diz que não, mas esta noite, quando Rose Walker dormir, verei com mais clareza.”

 

Briely sentiu um arrepio ao notar a irritação na voz dele.

Ultimamente, ela estava mais sensível, talvez por causa da ligação que os unia.

Desde que ela acordou após a noite de núpcias, seus sentidos pareciam amplificados.

Ela não era mais a mesma, e claramente seu corpo também não era.

Ela Sentiu a mão dele se posar em sua perna enquanto ele continuava a ler e falar com Lucienne.

Ela Tentou retirá-la, batendo de leve na mão dele, mas ele apenas a apertou mais forte, um gesto silencioso de controle.

Dentro dela, uma batalha silenciosa se desenrolava. Ela Podia lutar o quanto quisesse, mas ele sempre vencia, como agora.

 

Ela sabia que não havia volta.

Mesmo que houvesse um caminho para seu universo original e ela retornasse, nada seria igual. Ela Ainda estaria ligada a Morpheus, e veria todos os seus amigos e família morrerem enquanto ela permanecia presa a essa eternidade.

E, apesar de tudo — da forma como ele a forçou a se casar, do que ele fez com ela —, decidiu, relutantemente, aceitar, ou pelo menos fingir.

Não por amor, não por desejo, mas porque não havia outra escolha.

Ele ainda estava sendo paciente com ela, e ela sabia disso.

Ele até Achava graça quando ela o afastava, mas ela também sabia que irritá-lo poderia trazer consequências que não estava disposta a enfrentar.

Ninguém poderia ajudá-la agora. O Sonhar era sua prisão e seu lar, e lutar contra ele só a faria sofrer mais.

 

Ela se lembrava dos tempos em que via Morpheus como um amigo, antes de tudo se transformar.

Pelo menos da parte dela, havia afeto genuíno, uma conexão que valorizava. Ele esteve com ela desde que ela chegou a esse universo estranho, ajudando-a bastante quando estavam presos naquela mansão juntos.

Eu Nunca deveria ter confiado nele quando soube quem ele era, pensou.

Annabeth e Nico sempre disseram pra ela  que ela confiava rápido demais, e isso agora voltou para mordê-la.

Ele, à sua maneira, sempre fora carinhoso  um carinho presente nos pequenos gestos, no modo como a protegia e cuidava dela.

“Pelo amor de Deus, ele criava sonhos pra mim  quando estavamos  presos. Eu Deveria ter desconfiado de algo.”

 

Ela não o amava, não mesmo. Odiava-o pelo que ele fez.

Mas sabia que precisava ser cautelosa. Ela Podia irritá-lo? E  Claro.

Recusar seus avanços? Bem, ela tentava, mas quase nunca dava certo, como agora, com a mão dele ainda firme em sua perna.

 

Ele a tirou de seus pensamentos.

“Eu vejo o quanto você está tentando,” murmurou. “E isso me traz uma alegria que palavras não podem expressar.”

 

Ele percebeu a maneira como ela tentava se encaixar na conversa.

Um brilho de satisfação passou por seu rosto, uma felicidade contida, mas genuína, ao ver que ela começava a ceder, mesmo que inconscientemente, a aceitar seu lugar como sua esposa.

Sua mão alcançou a dela, os dedos entrelaçando-se com uma firmeza que transmitia um desejo de conexão.

Ele levou a mão dela aos lábios, depositando um beijo leve.

 

“Em que você está pensando tanto, meu amor?” perguntou ele, a voz baixa, brincalhona, mas com um toque de advertência.

“Não está pensando em fugir de novo de mim, está?”

 

Briely abaixou os olhos, forçando um pequeno sorriso.

“Claro que não estou pensando nisso. Não há mais para onde ir,” disse ela, as palavras saindo com dificuldade, mas pronunciadas com convicção suficiente para soar verdadeiras.

“Então, vou ficar. Aqui. Com você, marido.”

 

Os olhos de Morpheus brilharam ao ouvi-la.

Ele sabia que ela estava mentindo, mas isso não significava que não gostasse de ouvi-la dizer aquelas palavras.

Ele ergueu a mão para tocar seu rosto, os dedos frios deslizando por sua bochecha com uma delicadeza que contrastava com a intensidade de seu olhar.

Sem dizer nada, ele inclinou-se, os lábios encontrando os dela em um beijo lento e profundo.

A pressão era firme, mas controlada, como se ele estivesse marcando sua posse enquanto explorava cada canto da boca dela com uma paciência quase torturante.

Havia uma fome contida naquele beijo,  um desejo de consumi-la completamente, de apagar qualquer distância entre eles.

 

Ele se afastou apenas o suficiente para encará-la, os olhos fixos nos dela, e falou com uma intensidade que fez o ar parecer mais pesado.

“Eu te amo mais do que tudo. Você é meu mundo.”

 

Briely sentiu o peito apertar, as palavras dele ecoando dentro dela.

Não retribuiu o sentimento, mas permitiu, sem lutar, que ele a puxasse para um abraço.

Os braços dele a envolveram com firmeza, quase como uma gaiola de calor e poder.

Ela descansou a cabeça contra o peito dele, forçando-se a relaxar no gesto, sabendo que precisava manter essa fachada, mesmo que seu coração permanecesse distante.

 

Lucienne desviou o olhar para os livros, dando-lhes um momento de privacidade. Morpheus, no entanto, não parecia se importar com a presença dela.

Ele manteve Briely contra si, murmurando contra o topo de sua cabeça. “Minha amada rainha.”

 

Briely engoliu em seco, sentindo o peso dessas palavras.

Apenas permaneceu ali, no abraço dele, por mais que quisesse afastá-lo.

Sabia que isso não seria uma boa ideia.

Ela Tentava se ancorar naquela nova realidade, que, por mais que doesse, era agora tudo o que ela poderia fazer.

 

 

 

Chapter Text

O ar na biblioteca do Sonhar parecia se dissipar lentamente enquanto Morpheus fechava o tomo antigo com um gesto deliberado, os olhos ainda fixos em um ponto invisível, como se pudesse enxergar além das paredes de seu reino.

Briely permanecia perto, sentindo o peso de sua nova realidade, o silêncio entre eles carregado de uma tensão que ela tentava ignorar. Lucienne, percebendo a mudança no ar, inclinou a cabeça respeitosamente antes de se retirar, deixando o casal sozinho.

Morpheus voltou-se para Briely, os olhos escurecendo com uma intensidade que parecia sugar a luz ao redor. Ele se aproximou, cada passo ecoando no vasto salão como um lembrete de sua autoridade, de seu domínio sobre tudo ali — sobretudo sobre ela. “Esta noite, quando Rose Walker dormir, entrarei em seu sonho para encontrar Gault,” disse ele, a voz grave, quase um murmúrio, mas carregada de uma certeza absoluta. “E você virá comigo esposa.”

Briely ergueu os olhos para ele, um tremor sutil percorrendo seu corpo. “Eu... não sei se sou útil nisso,” começou ela, hesitante, a voz baixa, temendo desencadear uma reação que não poderia prever.

Mas antes que pudesse continuar, a mão de Morpheus se ergueu, tocando seu queixo com uma firmeza que não deixava espaço para recusa. Ele inclinou o rosto dela para encará-lo, os olhos dele perfurando os dela como se pudessem ver cada pensamento que ela tentava esconder.

“Você é minha esposa,” falou ele, cada palavra impregnada de uma reivindicação absoluta, um tom profundo que parecia ecoar nas paredes do Sonhar. “Aonde eu for, você estará ao meu lado. Não permitirei que nada nos separe. Nem mesmo suas dúvidas.” Havia uma devoção intensa em suas palavras, uma necessidade de tê-la perto que a envolvia como uma sombra, mas também um compromisso inabalável de mantê-la sob sua guarda.

Briely engoliu em seco, sentindo o coração acelerar, mas forçou um leve aceno de cabeça, sabendo que resistir só tornaria as coisas mais difíceis. “Está bem,” murmurou ela, os olhos baixando para evitar o peso do olhar dele. “Eu irei.”

Um brilho de satisfação passou pelo rosto de Morpheus, e ele soltou o queixo dela, mas não antes de deslizar os dedos por sua bochecha, um gesto que misturava ternura e controle. “Ótimo,” disse ele, a voz suavizando apenas o suficiente para soar como um elogio, mas ainda carregada de determinação. Ele deu um passo para trás, mas manteve os olhos nela, “Prepare-se. Quando a noite cair no mundo dos humanos, partiremos.”

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

Horas depois, quando o mundo desperto cedeu ao domínio dos sonhos, Morpheus e Briely se encontraram na vasta paisagem onírica que se formava ao redor deles.

O céu acima era um caos de cores impossíveis, e o chão sob seus pés parecia mudar a cada passo — ora um campo vasto, ora uma rua esquecida de uma cidade distante. Rose Walker estava ali, em algum lugar, sonhando, e com ela, a promessa de Gault.

Briely caminhava ao lado de Morpheus, sentindo o peso de sua presença como uma corrente invisível. Ele não a deixava se afastar mais do que um braço de distância, a mão ocasionalmente roçando a dela, como se precisasse reafirmar que ela estava ali, sob sua constante vigilância. “Fique perto,” ordenou ele, os olhos varrendo o ambiente com uma intensidade predatória. “Este sonho pode ser instável.
Um vórtice não é algo para se subestimar. Se algo ameaçar você...” Ele parou, a voz cortando como uma lâmina, antes de continuar em um tom mais baixo, mais íntimo. “Não deixarei nada chegar perto. Nenhuma sombra ou perigo cruzará seu caminho enquanto eu estiver aqui.”

Ela assentiu, sentindo o coração apertado, mas forçou a voz a soar firme. “Estou bem. Eu... só quero ajudar.” Era uma meia-verdade, dita mais para apaziguá-lo do que por convicção. Morpheus a encarou por um longo momento, como se pudesse ler a hesitação em seus olhos, mas então desviou o olhar, focando na paisagem à frente.

De repente, uma figura familiar emergiu do nevoeiro do sonho. Rose Walker estava ali, sua expressão uma mistura de confusão e determinação. Morpheus avançou, e Briely o seguiu, o corpo tenso sob o olhar vigilante dele.

“Ela está perdida?” perguntou Rose, a voz carregada de preocupação enquanto olhava a menina e olhando ao redor, tentando se ancorar naquele mundo estranho.

Morpheus respondeu com sua calma habitual, mas havia uma frieza em sua voz que parecia refletir os ventos gelados do Sonhar. “Ela está em casa aqui. É isso que a maioria das pessoas busca quando sonha. Lar. Você sabe onde fica isso para Jed?”

Antes que Rose pudesse responder, um som cortou o ar — corvos grasnando, ecoando como um aviso sombrio. Briely sentiu um arrepio, e instintivamente deu um passo para trás, apenas para sentir a mão de Morpheus agarrar seu pulso com força. “Não se afaste,” murmurou ele, os olhos fixos nela por um instante, intensos como abismos, antes de voltar a atenção para Rose. “Você conhece esse lugar?”

Rose olhou ao redor, a memória iluminando seus olhos. “Essa era a nossa casa quando éramos crianças. Olha.

Você conseguiu. Você encontrou o sonho do seu irmão. Agora, encontramos Gault.”

Um alarme ecoou de repente, estridente e fora de lugar no sonho, e a paisagem começou a tremer, como se algo estivesse se aproximando. Morpheus se posicionou à frente de Briely, o corpo tenso, um escudo entre ela e qualquer ameaça que pudesse surgir. “Fique atrás de mim,” ordenou ele, a voz carregada de uma autoridade que não admitia desobediência. Briely engoliu em seco, mas obedeceu, o coração disparado enquanto observava a cena se desdobrar.

De dentro do nevoeiro, uma nova figura emergiu — Jed, o irmão de Rose, mas havia algo errado, algo distorcido em sua presença. Ele olhou para Morpheus com um misto de medo e desafio.

“Ele não é membro da minha galeria de vilões. Ele é o inimigo mais poderoso que já enfrentamos. O Rei dos Pesadelos. E ele veio para me tirar de você.disse goult

Não vou deixar isso acontecer,” declarou Jed, a voz cheia de bravura infantil. “Obrigado, Sandman. Mas essa batalha é minha. E somente minha.”respondeu goult

Morpheus inclinou a cabeça, os olhos estreitando-se.Briely, ainda atrás dele, sentiu a mão de Morpheus apertar levemente ao redor de seu pulso, como se estivesse se certificando de que ela não se moveria, não se arriscaria.

Rose tentou alcançar Jed, a voz desesperada. “Jed, Jed, volte, por favor. Qual é o nosso próximo passo? Como o encontramos?”perguntou Rose

 

“Jed?” Rose chamou novamente, o desespero crescente. “Eu sou o Guardião dos Adormecidos. Eu sou o Senhor do Domínio dos Sonhos. Eu sou o Sandman,” proclamou jed.

“Você é o Sandman?” morpheus retrucou, incrédulo. “Foi isso que ela te disse? Onde ela está? Seu mestre?”

“Fique para trás,”jed avisou, o tom cortante.

Jed, não estamos aqui para te machucar falou Rose

"É a mim que você quer. Não a ele.”respondeu goult

Rose interveio, o choque em sua voz. “Meu Deus. Mãe?”

Mas Morpheus foi rápido em corrigir. “Aquela não é sua mãe, Rose.”

“Rosa? É você?” A figura ilusória falou, a voz carregada de uma falsa ternura. “Eu estive procurando por você em todos os lugares.”

“Mãe, é a Rose. Ela já cresceu,” Jed murmurou, emocionado.

 

“Jed! Jed, olhe para mim,” Rose implorou. “Ela não é nossa mãe. Nossa mãe não está aqui, mas eu estou, e preciso que você me diga onde está.”

“Estou bem aqui,” Jed respondeu, ainda preso à ilusão.

“Não, Jeddy, isso é um sonho. Quando você acordar, onde estará?” Rose insistiu.

“Olha. Você escreveu isso?” rose apontou para algo invisível no sonho. “O tio Barnaby disse que vai quebrar todos os ossos do meu corpo.”

“Quem é Barnaby?” Rose perguntou, a preocupação crescente. “Tia Clarice não conseguirá detê-lo.”

“Onde estão a tia Clarice e o tio Barnaby?” Rose continuou, tentando extrair informações. “Eles estão em casa. Eles estão na Pátria. Onde fica isso? Onde fica a Terra Natal, Jed?”

Antes que Jed pudesse responder, uma figura sombria emergiu por completo — Gault.

“Vamos, Gault. Temos que ir,” morpheus falou.

“Sinto muito, Sandman,” Gault disse, a voz carregada de um desafio sutil. “É hora de acordar, Jed.”

“Espera, não!” Rose gritou.

“Adeus, Rose Walker" respondeu Morpheus

Pare! Ainda não. Jed, me diga onde você está.”

“Rosa? Rosa? Rosa!” Jed chamou, sua voz ecoando enquanto o sonho começava a se desfazer.

De volta ao mundo desperto, uma campainha tocou. “Você está esperando alguém?” uma voz perguntou no plano físico.

“Não,” veio a resposta.

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

De volta ao Sonhar, Morpheus e Briely retornaram, a tensão ainda palpável no ar. Morpheus segurava a mão de Briely com firmeza.

Gault estava diante deles, agora aprisionada, desafiando-o com os olhos. Antes de falar diretamente com Morpheus, porém, seus olhos se voltaram para Briely, que permanecia ao lado dele, quase colada à sua presença imponente. Gault inclinou a cabeça, um brilho de curiosidade e compreensão cruzando seu olhar sombrio.

“Então, os murmúrios são verdadeiros,” começou Gault, a voz carregada de um tom quase reverente, mas com um toque de provocação. “A filha de um deus, unida ao Perpétuo do Sonho. Nunca imaginei que veria o Senhor do Sonhar tão... apegado. Ele não tira os olhos de você, não é? Como deve ser, carregar o peso de um olhar como o dele? Ou talvez você goste disso?”

Briely não respondeu de imediato, o coração batendo mais rápido sob o escrutínio de Gault. Antes que pudesse formular uma resposta, Morpheus deu meio passo à frente, bloqueando parcialmente a visão de Gault sobre ela, seu corpo uma barreira protetora.

“Cuide de suas palavras, Gault,” advertiu ele, a voz gélida, cortando o ar como uma lâmina afiada. Seus olhos, porém, não deixaram Briely por mais do que um instante, como se precisasse confirmar que ela ainda estava ali, ao alcance de sua mão.

Gault apenas sorriu, um gesto que parecia desafiar e reconhecer ao mesmo tempo, antes de voltar sua atenção para Morpheus.

“Você tem alguma ideia de como é a vida dele no mundo real?” prosseguiu ela, a voz agora carregada de acusação.

“Os humanos não podem viver em sonhos. Enquanto ele permaneceu ali, a criança não teve vida nem chance de ter uma.

O menino está sendo abusado. Ele está sofrendo.

Você abusou desse sofrimento para construir um Sonho que você pudesse governar.”

“Eu não tinha vontade de governar,” Gault rebateu, desafiadora. “Eu apenas desejo ser um Sonho e não um Pesadelo. Para inspirar e não para assustar.”

“A escolha não é sua,” Morpheus declarou, a voz implacável. “Nós não escolhemos ser criados. Nem escolhemos como somos feitos.”

“Isso é verdade. Mas podemos mudar,” Gault insistiu.

“Não,” Morpheus cortou, inflexível. “Cada um de nós nasce com responsabilidades. Nem eu sou livre para escolher ser diferente do que sou. Ninguém também.”

“Se isso fosse verdade, por que todos os outros Sonhos e Pesadelos escolheram deixar este lugar quando você foi embora?” Gault retrucou.

“Nem todos nós escolhemos partir e quase todos retornaram falou Lucienne

Você acha que eles voltaram por amor? Ou porque tinham medo do que você faria com eles se não o fizessem? Porque eu não tenho medo.”

“Você deveria estar,” Morpheus avisou, a voz carregada de uma ameaça gélida. “O propósito de um Pesadelo é revelar os medos do sonhador para que ele possa enfrentá-los. Talvez alguns milhares de anos na escuridão revelem seus medos. Melhor isso do que deixar os outros com medo.”

“Até um pesadelo pode sonhar, meu senhor,” Gault murmurou, quase como um último desafio.

Morpheus voltou-se então para Lucienne, que observava em silêncio, e Briely, ainda ao seu lado, sentia o aperto da mão dele como uma constante lembrança de sua presença vigilante. “Você acha que a punição dela foi injusta?” perguntou ele a Lucienne, a voz mais calma, mas ainda carregada de autoridade.

“Eu costumava ser outra coisa. Antes de você me tornar seu bibliotecário,” Lucienne respondeu, cuidadosa. “Todos nós mudamos, senhor. Até você, talvez. Um dia.”

“Lucienne, percebo que na minha ausência você foi obrigada a tomar decisões em meu lugar, e sou grato a você,” Morpheus falou, o tom formal, mas firme. “Mas agora estou de volta. Você pode retornar à biblioteca.”

Lucienne assentiu, inclinando a cabeça em respeito antes de se retirar.

Morpheus, no entanto, voltou sua atenção para Briely, os olhos suavizando apenas para ela, mas ainda carregados de uma devoção que não se dissipava. Ele ergueu a mão, tocando o rosto dela com uma delicadeza que contrastava com sua natureza imponente, os dedos traçando a linha de sua bochecha como se quisesse memorizar cada detalhe. “Nada neste reino ou além dele chegará perto de você,” murmurou ele, a voz baixa, quase hipnótica. “Eu estarei sempre aqui, guardando cada passo seu. Você é minha.”

Antes que ela pudesse responder, ele inclinou-se, seus lábios encontrando os dela em um beijo firme, carregado de uma intensidade que a envolveu completamente. Era um gesto que selava sua promessa, uma marca de sua dedicação inabalável, deixando-a sem fôlego por um momento. Quando se afastou, seus olhos ainda a prendiam, um brilho feroz neles que parecia garantir que, enquanto ele existisse, nada a tiraria de seu alcance.

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

Após os turbulentos acontecimentos do dia no Sonhar, Briely, exausta, olhou para Morpheus com olhos pesados. “Eu... preciso descansar um pouco antes do jantar,” murmurou ela, a voz fraca, quase sumindo no ar.

Morpheus a encarou por um instante, seus olhos insondáveis como o abismo de um sonho esquecido. Ele assentiu, a expressão suavizando apenas o suficiente para transmitir preocupação. “Como desejar,” disse ele, a voz grave.

Com um gesto sutil de sua mão, o ar ao redor deles ondulou, e em um piscar de olhos, estavam nos aposentos que compartilhavam, uma vasta câmara de tons sombrios e etéreos, onde a luz parecia dançar em padrões impossíveis.

Briely sentiu uma leve tontura ao se materializarem, o mundo girando por um momento. Ela cambaleou, e instintivamente segurou o braço dele para se equilibrar.

Morpheus franziu o cenho, a preocupação agora evidente em seu rosto. “Está bem?” perguntou, o tom carregado que parecia atravessar a alma dela.

“Sim,” respondeu ela rapidamente, forçando um aceno de cabeça, embora seu estômago ainda parecesse se revirar. “Só... cansada.”

Ele a observou por mais um longo momento, como se pudesse enxergar além de suas palavras, mas acabou cedendo. Inclinou-se, seus lábios tocando os dela em um beijo breve, mas firme, antes de se afastar. “Descanse. Estarei na sala do trono se precisar de mim.” Com isso, ele desapareceu em um redemoinho de areia e sombras, deixando-a sozinha no silêncio opressivo do quarto.

Briely caminhou até a cama imensa, deitando-se com a esperança de que o mal-estar passasse. Não era a primeira vez que se sentia assim.

Desde que se casou com Morpheus, esses episódios vinham acontecendo em momentos aleatórios, quase sempre quando estava sozinha. Ela fechou os olhos, tentando ignorar a sensação, e acabou adormecendo em meio a pensamentos desconexos.

Quando acordou, porém, o mal-estar havia piorado. Um enjoo terrível a atingiu como uma onda, e seu corpo parecia fraco, suando frio. Com o coração disparado, ela correu para o banheiro, mal conseguindo chegar ao vaso antes de vomitar. Horas se passaram ali, o corpo tremendo, a mente turva.

Cada vez que tentava se levantar, uma nova onda de náusea a derrubava de volta. Ela se encostou ao vaso, ofegante, o suor escorrendo por sua testa, sem forças para sequer chamar por ajuda.

Enquanto isso, no salão do jantar, Morpheus percebeu a ausência de sua esposa. O tempo passava, e ele sentia, através de sua conexão com o Sonhar, que ela não estava mais dormindo havia horas. Uma inquietação cresceu em seu peito, algo que raramente sentia. Ele chamou Mervyn, o fiel servo com cabeça de abóbora, e ordenou com voz cortante: “Vá até os aposentos reais e chame minha esposa. Diga-lhe que a espero para jantarmos juntos.”

Mervyn assentiu e partiu, batendo na porta dos aposentos com seus dedos nodosos. “Senhora? O mestre solicita sua presença para o jantar.” Não houve resposta. Ele bateu novamente, mais forte, mas o silêncio persistiu.

Preocupado, ele decidiu não arriscar a ira de Morpheus por falhar em sua tarefa e correu até Lucienne, a bibliotecária do Sonhar, que sempre parecia saber o que fazer em situações delicadas.

“Lucienne, algo está errado. A rainha não responde,” disse Mervyn, sua voz rouca cheia de urgência. “Não sei o que fazer. Pode me ajudar?”

Lucienne franziu o cenho, ajustando os óculos enquanto uma sombra de preocupação cruzava seu rosto. “Vou até lá agora. Informe o mestre Morpheus que estou cuidando disso.” Sua voz era calma, mas firme, escondendo a inquietação que sentia. Briely era sua rainha agora, e qualquer problema com ela era uma questão de extrema importância.

Chegando aos aposentos, Lucienne bateu na porta com delicadeza. “Senhora? Sou eu, Lucienne. Está tudo bem?” Novamente, apenas silêncio. Alarmada, ela decidiu entrar, abrindo a porta com cautela. O quarto estava vazio, a cama desfeita, mas a porta do banheiro estava entreaberta. Ao se aproximar, seu coração apertou ao ver Briely encostada ao vaso, o rosto pálido e suado, os olhos semicerrados de exaustão.

“Senhora!” Lucienne correu até ela, ajoelhando-se ao seu lado. “O que houve? Isso não deveria estar acontecendo. Você não tem mais um corpo humano... você é uma deusa agora, imortal. Não deveria adoecer, não mais.”

Sua mente disparou, buscando explicações, até que uma possibilidade emergiu, clara e inevitável. “A não ser que... esteja grávida,” pensou, mas guardou a suspeita por um momento, não querendo alarmá-la sem certeza.

Com suavidade, Lucienne segurou os ombros dela. “Diga-me exatamente o que está sentindo. Cada detalhe. Preciso entender.”

Briely, com a voz fraca e entrecortada, descreveu o enjoo, a tontura, a fraqueza que parecia drená-la. Enquanto falava, os olhos de Lucienne se estreitaram com compreensão. Finalmente, com um tom gentil, quase maternal, ela disse: “Minha senhora... há uma chance de que você esteja grávida. Esses sintomas, eles se alinham com isso.”

O choque atravessou o rosto de Briely como um raio. “Não... não pode ser,” sussurrou ela, os olhos arregalados. Mas então, memórias de conversas antigas com sua mãe sobre os sinais de gravidez começaram a surgir, cada palavra ecoando como um martelo em sua mente. E, pior, ela lembrou das vezes que Morpheus fez sexo com ela, sem jamais se preocupar com proteção — nem na noite de casamento, nem em qualquer outro momento desde então.

Ele havia dito, antes mesmo do casamento, com uma certeza fria, que teriam filhos. O pânico cresceu como uma tempestade dentro dela, as lágrimas escorrendo por seu rosto enquanto sua respiração se tornava rápida e descontrolada. “Não, não, não...” murmurou, o corpo tremendo em um ataque de pânico.

Lucienne tentou acalmá-la, as mãos gentis em seus ombros. “Respire, minha senhora. Estou aqui com você. Vamos resolver isso juntas.” Mas as palavras pareciam se perder no caos da mente de Briely, que apenas chorava mais, o peito apertado, incapaz de se controlar.

Naquele momento, a porta do quarto se abriu com força, e Morpheus entrou, sua presença preenchendo o espaço como uma sombra viva. Seus olhos imediatamente encontraram Briely, em pânico no chão do banheiro, com Lucienne ao seu lado tentando, sem sucesso, acalmá-la. Ele atravessou o quarto em passos rápidos, ajoelhando-se diante dela. “O que aconteceu?” perguntou, a voz baixa, mas carregada de urgência, enquanto lançava um olhar penetrante para Lucienne.

Lucienne hesitou, sabendo que não era seu lugar revelar a suspeita de gravidez sem certeza ou sem o consentimento de Briely. “Ela está se sentindo mal, senhor. Muito mal. Isso não deveria acontecer, como o senhor sabe.” Sua resposta foi cautelosa, deixando os detalhes para o momento apropriado.

Morpheus franziu o cenho, a preocupação misturando-se com frustração. “Isso não é possível. Ela não deveria...” Ele parou, os olhos voltando-se para Briely, que ainda tremia, as lágrimas caindo livremente. “Lucienne, chame alguém. Agora. Traga quem puder ajudar.” Lucienne assentiu rapidamente e saiu, deixando-os sozinhos.

Com cuidado, Morpheus tentou erguê-la do chão, segurando-a pelos braços para levá-la de volta à cama. “Venha comigo,” murmurou ele, a voz mais suave, mas ainda autoritária. No entanto, o toque pareceu desencadear algo em Briely. Ela se debateu, empurrando-o com uma força nascida do desespero. “Não! Me deixe!” gritou, a voz rouca de tanto chorar, o corpo ainda fraco, mas movido por puro pânico.

Morpheus não a soltou, segurando seus pulsos com firmeza, mas sem machucá-la. Ele a puxou para mais perto, os olhos escuros fixos nos dela. “Acalme-se, esposa,” disse ele, a voz como um comando que parecia tentar alcançar o âmago de sua alma. “Respire comigo. Olhe para mim.” Ele manteve o tom firme, mas havia uma urgência nele, uma ânsia de trazê-la de volta do abismo de medo em que ela parecia estar afundando.

Briely continuou a tremer, as lágrimas ainda caindo, mas a força de seus movimentos diminuiu enquanto o peso da presença de Morpheus a ancorava, mesmo contra sua vontade.

Ela o encarou, o peito subindo e descendo rapidamente, sem saber se queria lutar ou se render, enquanto o medo da possibilidade de estar grávida continuava a devorar seus pensamentos.

 

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

 

Morpheus segurou os pulsos dela com firmeza, mas sem brutalidade, seus olhos escuros fixos nos dela como se pudesse enxergar através do pânico que a dominava. “Acalme-se. Estou aqui.
Não vou deixar nada acontecer com você,” disse ele, a voz grave, quase hipnótica, tentando trazer ordem ao caos que se desenrolava dentro dela.

“Respire comigo. Olhe para mim.” Ele manteve o tom autoritário, mas havia uma urgência contida, um desejo de puxá-la de volta do abismo de medo que parecia engoli-la.

Briely tremia, as lágrimas ainda escorrendo por seu rosto, o coração disparado enquanto lutava contra o peso das palavras de Lucienne e a realidade que se formava em sua mente. Seus empurrões contra ele enfraqueceram, não por falta de vontade, mas por pura exaustão.

O corpo dela parecia pesado, como se carregasse o peso de um futuro que ela não queria encarar. Ela o encarou, a respiração ainda irregular, dividida entre o impulso de fugir e a necessidade de se ancorar em algo, mesmo que fosse na presença opressiva dele.

Ele a puxou com cuidado, levantando-a do chão frio do banheiro e guiando-a até a cama. Cada passo era hesitante, o corpo dela ainda tenso, mas incapaz de resistir completamente. Morpheus a deitou sobre os lençóis escuros, sentando-se ao seu lado, uma mão ainda segurando a dela, como se temesse que ela pudesse desaparecer. “Diga-me o que está acontecendo,” pediu, a voz mais baixa agora, quase um murmúrio, enquanto seus olhos a estudavam com uma intensidade que parecia atravessar barreiras.

Ela virou o rosto, evitando o olhar dele, o peito apertado enquanto as palavras de Lucienne ecoavam em sua mente. Grávida. A possibilidade era como uma lâmina cravada em seus pensamentos, cortando qualquer esperança de fuga ou controle sobre sua própria vida. “Eu... eu não sei,” mentiu, a voz fraca, quase um sussurro, enquanto tentava engolir o novo surto de lágrimas que ameaçava surgir.

Morpheus franziu o cenho, claramente insatisfeito com a resposta. Ele inclinou-se mais perto, a mão livre tocando de leve seu rosto, virando-o para que ela o encarasse. “Você não está bem. Isso não deveria acontecer. Fale comigo,” insistiu, o tom carregado de uma mistura de preocupação e impaciência. Havia algo em sua voz, uma nota que fez o estômago dela se revirar ainda mais.

Antes que ela pudesse responder, a porta se abriu novamente, e Lucienne retornou acompanhada de uma figura alta e esguia, envolta em vestes que pareciam tecidas de luz e sombra. Era alguém do Sonhar, talvez um curandeiro ou um conhecedor das leis que regiam corpos imortais. Lucienne lançou um olhar preocupado para Briely antes de se dirigir a Morpheus. “Senhor, esta é Elyndra. Ela tem conhecimento sobre condições... incomuns, mesmo para seres como nós.”

Morpheus assentiu brevemente, levantando-se para dar espaço à recém-chegada, mas seus olhos nunca deixaram Briely. Elyndra aproximou-se da cama, seus movimentos fluidos, quase como se deslizasse pelo ar. Seus olhos, de um tom cinzento como tempestade, fixaram-se em Briely, e sua voz saiu suave, mas firme. “Minha rainha, preciso que me diga exatamente o que sente. Não esconderei nada de você, assim como espero que não esconda de mim.”

Briely hesitou, o medo apertando sua garganta, mas sob o peso de todos aqueles olhares — de Morpheus, de Lucienne, de Elyndra — ela acabou cedendo. Com a voz trêmula, descreveu o enjoo, a fraqueza, as tonturas que vinham e iam como sombras. Enquanto falava, percebeu os olhos de Elyndra se estreitarem, uma compreensão silenciosa surgindo em seu rosto.

Quando ela terminou, Elyndra ficou em silêncio por um momento, como se pesasse cada palavra. Então, voltando-se para Morpheus, mas ainda com a atenção em Briely, falou: “milorde, minha rainha... os sintomas que ela descreve não são de uma doença comum, não para alguém que agora compartilha a essência do Sonhar. Há uma possibilidade, uma forte possibilidade, de que ela esteja carregando uma vida dentro de si.”

O ar no quarto parecia congelar. Briely sentiu o chão desaparecer sob ela, o pânico voltando com força total, enquanto as palavras confirmavam o que ela temia. Seu olhar disparou para Morpheus, buscando sua reação, mas o rosto dele era uma máscara indecifrável, os olhos brilhando com algo que ela não conseguia interpretar — seria surpresa, satisfação, ou algo mais sombrio? O coração dela batia tão rápido que parecia que ia explodir, e ela só conseguiu murmurar, quase para si mesma: “Não... por favor, não.”

 

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

 

O silêncio pesava no quarto após as palavras de Elyndra. O ar parecia denso, carregado de tensão, enquanto Briely tremia na cama, os olhos arregalados, as mãos apertando os lençóis escuros como se pudesse se ancorar na realidade.

Morpheus permaneceu imóvel por um instante, o rosto uma máscara de emoções mistas, até que fez um gesto sutil com a cabeça para Elyndra e Lucienne. “Deixem-nos,” ordenou, a voz grave e firme, sem desviar os olhos dela.

Lucienne hesitou, lançando um olhar preocupado para Briely, mas acabou saindo com Elyndra, fechando a porta atrás delas. O som do clique ecoou no silêncio, deixando os dois sozinhos. Briely sentiu o enjoo subir novamente, uma onda de náusea que fez sua cabeça girar. Ela se curvou, uma mão na boca, o corpo fraco.

Morpheus aproximou-se, pegando um pequeno cálice de prata que Lucienne havia deixado sobre a mesa ao lado da cama. Um aroma herbal, sutil mas reconfortante, vinha do líquido dentro dele. “Beba isso,” disse ele, a voz mais suave agora, enquanto se sentava ao lado dela. “Lucienne preparou. Vai ajudar com o enjoo e acalmar você.”

Ela o encarou, hesitante, as lágrimas ainda brilhando nos olhos, mas acabou pegando o cálice com mãos trêmulas. O líquido estava morno, com um leve gosto de ervas amargas, mas após alguns goles, a náusea começou a recuar, mesmo que só um pouco. Ele observava cada movimento dela, os olhos escuros fixos, e, por um momento, algo novo brilhou neles — uma mistura de fascínio e alegria contida.

Ele se inclinou mais perto, as mãos envolvendo os ombros dela com uma ternura inesperada. “Você... vai me tornar pai,” murmurou, a voz carregada de emoção, quase reverente. Seus lábios encontraram os dela em um beijo profundo, possessivo, enquanto a puxava para um abraço apertado, como se quisesse fundi-la a si mesmo. “Minha rainha, você carrega nosso futuro.”

Briely congelou no abraço, o coração disparando, o peso daquelas palavras esmagando-a. Ela se afastou abruptamente, o rosto molhado de lágrimas frescas, a voz quebrada. “Não. Eu não quero isso. Eu não escolhi essa gravidez.” As palavras saíram sufocadas entre soluços, enquanto ela balançava a cabeça. “A culpa é sua. Você fez isso comigo.”

Morpheus franziu o cenho, a expressão endurecendo, mas ainda havia um brilho de compreensão em seus olhos. Ele respirou fundo, a voz baixa, quase um sussurro. “Sempre esperei que você carregasse meu filho. Mas não tão cedo, admito. Achei que teríamos mais tempo... para você se acostumar a isso, ao Sonhar, a mim.”

Ela o encarou, o desespero tomando conta, as mãos instintivamente indo à barriga, como se pudesse rejeitar o que estava acontecendo. “Eu não quero! Não quero ter esse bebê!” gritou, a voz rasgando o ar, lágrimas escorrendo sem controle. “Eu não posso... por favor, não me faça passar por isso.”

O rosto dele escureceu, a fúria surgindo como uma tempestade em seus olhos. Ele se levantou da cama, a postura rígida, a voz subindo em tom. “Você vai ter nosso filho. Isso está acontecendo, quer você queira ou não. É nosso destino, nossa ligação. Você não pode negar isso.” Cada palavra era cortante, carregada de uma autoridade que não admitia discussão.

Briely soluçou mais alto, o corpo encolhendo-se sobre a cama, as mãos ainda na barriga, como se pudesse proteger-se daquela realidade. O peso da raiva dele a esmagava, misturando-se ao seu próprio medo e desespero. Ela não conseguia parar de chorar, os ombros tremendo violentamente.

Morpheus ficou em silêncio por um momento, a respiração pesada, antes de suavizar a expressão. Ele se aproximou novamente, sentando-se ao lado dela e puxando-a para seus braços, mesmo que ela tentasse resistir de leve. “Shh... vai ficar tudo bem,” murmurou, a voz agora mais calma, quase consoladora, enquanto acariciava seus cabelos. “Você não está sozinha nisso. Estou aqui. Vamos passar por isso juntos.”

Mas as palavras, embora gentis, não conseguiam apagar o peso da sua determinação anterior. Briely continuou chorando em seu peito, o corpo frágil contra a força dele, dividida entre o medo do futuro e a inescapável presença dele ao seu lado.

Chapter Text

O silêncio no quarto era pesado, interrompido apenas pelos soluços baixos de Briely, ainda aninhada contra o peito de Morpheus. Ele a segurava com firmeza, mas uma suavidade rara transparecia em seus gestos, como se temesse que ela pudesse se desfazer em suas mãos. A revelação da gravidez pairava entre eles, um peso que nenhum dos dois sabia como carregar completamente.

De repente, um estrondo distante ecoou pelo Sonhar, fazendo as paredes dos aposentos reais tremerem. Briely se encolheu, seu corpo tenso, enquanto Morpheus ergueu a cabeça, os olhos estreitando-se com uma mistura de irritação e urgência. Ele hesitou por um momento, o conflito claro em seu semblante. Não podia deixá-la sozinha, não agora, não depois de descobrir sobre a gravidez. Com cuidado, ele a deitou de volta nos travesseiros, mas não se levantou de imediato.

“Não posso ficar agora,” disse ele, a voz grave, mas carregada de um tom mais brando. “Mas não a deixarei sozinha.” Ele chamou pela porta, “Elyndra!”

A curandeira entrou rapidamente, seus movimentos fluidos como sempre, inclinando a cabeça em respeito. “Meu senhor?”

“Fique com ela,” ordenou Morpheus, seus olhos fixos em Briely. “Ajude-a. Cuide para que ela tenha o que precisa enquanto resolvo os distúrbios no Sonhar.”

Elyndra assentiu, aproximando-se da rainha com uma expressão de compreensão. Morpheus, então, inclinou-se sobre ela, seus lábios tocando suavemente a testa de Briely em um beijo inesperado, cheio de carinho. Sua mão desceu até a barriga dela, acariciando-a com uma ternura que a fez prender a respiração. “Eu voltarei,” murmurou ele, antes de se levantar e deixar o quarto com um último olhar intenso.

Briely ficou em silêncio, o toque dele ainda reverberando em sua pele, enquanto Elyndra se sentava ao seu lado, oferecendo uma presença calma, mas que mal disfarçava a tensão no ar.

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

Enquanto atravessava os corredores do palácio, Morpheus sentiu outro tremor, mais forte, como se o tecido do Sonhar estivesse sendo rasgado. Ele encontrou Lucienne na biblioteca, os livros tremendo nas estantes enquanto pequenos fragmentos de vidro caíam de uma janela próxima.

“Meu senhor,” Lucienne começou, ajustando os óculos com uma calma tensa. “Os distúrbios estão piorando. Presumi que fosse algo que o senhor…”

“Não sou eu,” ele a interrompeu, a voz como um trovão baixo. “Diga-me, Lucienne, você tem alguma teoria sobre a origem disso?”

Ela hesitou, os lábios apertados, antes de responder. “Falando estritamente como bibliotecária, sim. Mas o senhor não vai gostar.”

“Prossiga,” ordenou ele, os olhos fixos nela.

“Sei que está esperando que o vórtice o leve até os Arcanos desaparecidos, como o Corinthian e o Fiddler’s Green. Mas enquanto espera, ela está rachando as fundações deste reino. Rose Walker pode não ter causado danos antes, mas algo mudou. Algo novo está aqui, e se não foi o senhor quem o criou… como chegou ao Sonhar?”

Morpheus ficou em silêncio por um momento, o rosto uma máscara de pedra. Então, com um aceno breve, disse, “Diga a Matthew que preciso de notícias de Rose Walker. Imediatamente.” Lucienne assentiu, e ele partiu, a mente dividida entre os problemas do reino e a imagem de Briely em seus aposentos.

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

Morpheus confrontou Lyta e Hector Ele entrou no sonho onde os dois estavam, sua presença imponente enchendo o espaço. Lyta, grávida e assustada, segurava Hector, um fantasma que se recusava a abandonar o Sonhar.

Lyta, você se lembra que eu te contei sobre Lorde Morpheus, o Rei dos Sonhos?" disse Rose, tentando mediar, mas a tensão já era palpável

“O que você quer?” perguntou Lyta, a voz trêmula, mas desafiadora.

“Quero que vão embora,” respondeu Morpheus, sua voz fria e implacável. “Um fantasma não pode escapar de seu destino se escondendo no Sonhar. Nenhum ser humano vivo pode fugir de sua dor aqui. Vocês não veem o dano que sua presença causa a este reino? Não posso permitir que fiquem.”

Hector olhou para Lyta, os olhos cheios de dor. “Há algo que possamos fazer?”

“Vocês pertencem aos mortos. Devem ir ao local designado para vocês. Sinto muito, mas precisam se despedir agora,” declarou Morpheus, sem ceder.

“Não,” Lyta soluçou, agarrando-se a Hector. “Não vou perder você de novo.”

“Eu te amo muito,” murmurou Hector, sua voz embargada. “Você não vai a lugar nenhum.”

Mas Morpheus não se moveu. “Saiam da nossa casa,” gritou Lyta, desesperada. “Lyta—” tentou Hector, mas foi interrompido.

“Suficiente,” cortou Morpheus, sua voz como um decreto final. “Diga… diga ao bebê que eu—” Hector começou, mas sua forma começou a se desfazer, dissolvendo-se no ar enquanto Lyta gritava. “Não! Por favor! Pare! Hector!”

Rose, que observava horrorizada, implorou, “Sonhe, por favor, pare! Não! Hector!” Mas era tarde demais. Lyta caiu de joelhos, soluçando, enquanto Hector desaparecia completamente.

Morpheus olhou para ela, os olhos fixos em sua barriga. “Seu marido morreu há muito tempo. Ele era um fantasma, e isso é um sonho. O bebê é seu… por enquanto.”

“O que você quer dizer?” perguntou Lyta, a voz trêmula, cheia de medo.

“A criança foi concebida no Sonhar. Ela e minha. E um dia, eu irei buscá-la,” declarou ele, sua voz carregada de uma certeza inabalável.

“Não, você não vai,” retrucou Lyta, mas Morpheus apenas a encarou, sem resposta, Rose intervinha, furiosa. “Você matou meu amigo na frente da esposa dele e depois ameaça tirar o bebê dela? Não quero que chegue perto de mim ou dos meus amigos nunca mais!”

“Rose, me escute,” tentou Morpheus, mas ela o cortou.

“Não! Não pedi nada disso. Deixe meu universo em paz!”

“Este sonho acabou,” finalizou ele, encerrando a interação, mas com um peso novo em seus pensamentos.

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

De volta ao Sonhar, Morpheus retornou aos aposentos reais, sua presença enchendo o quarto antes mesmo de ele falar. Elyndra, que ainda estava ao lado de Briely, levantou-se imediatamente. “Meu senhor,” disse ela, inclinando a cabeça.

"Pode nos deixar, Elyndra," ele ordenou, a voz firme, mas sem hostilidade. Ela assentiu, saindo silenciosamente e fechando a porta atrás de si.

Briely o encarou, os olhos ainda vermelhos de lágrimas, mas com uma curiosidade cautelosa. "Onde você esteve?" perguntou, a voz fraca, mas firme o suficiente para exigir uma resposta.

Morpheus sentou-se ao seu lado, o rosto sério. “Há algo que você deve saber. No mundo desperto, uma mulher chamada Lyta ficou grávida em um sonho, por causa do vórtice. Eu não esperava por isso. O vórtice está enfraquecendo as paredes entre os reinos de formas que não previ.”

Briely arregalou os olhos, chocada. “Uma humana… grávida em um sonho? Como isso é possível?”

“É o poder do vórtex, Rose Walker,” explicou ele, a voz baixa. “Ele distorce as barreiras do Sonhar, criando possibilidades que não deveriam existir.”

Ela engoliu em seco, processando a informação. “E o que você vai fazer com ela agora? Com essa mulher, Lyta?”

Morpheus a olhou diretamente nos olhos. “Deixarei o bebê com ela, por ora. Mas ele foi concebido no Sonhar. Pertence a mim. Um dia, irei buscá-lo.”

Briely ficou em silêncio, o coração apertado. Não discutiu com ele, mas sentiu uma profunda pena de Lyta, uma mulher humana enfrentando algo tão além de sua compreensão ou controle. Seus olhos baixaram para suas próprias mãos, que descansavam sobre a barriga, o paralelo entre as duas situações a atingindo com força. Ela não disse nada, apenas assentiu levemente, perdida em seus pensamentos.

Morpheus, percebendo a sombra em seu semblante, aproximou-se mais. Ele a envolveu em um abraço, seus braços firmes, mas gentis, e inclinou-se para beijar suavemente a barriga dela, um gesto que carregava gentleza, e também um grande afeto. Erguendo o rosto, ele perguntou, a voz mais suave, “Você está melhor?”

Ela hesitou por um momento, mas respondeu, “Estou melhor do que antes.”

Ele assentiu, satisfeito com a resposta, e então a beijou nos lábios, um beijo profundo, mas contido, como se ainda testasse os limites da conexão entre ambos. Briely retribuiu, ainda incerta, mas permitindo-se, por um instante, buscar conforto naquela proximidade, mesmo que temporária.

O silêncio voltou ao quarto, mas os tremores distantes do Sonhar continuavam, um lembrete constante de que os problemas estavam longe de serem resolvidos — tanto no reino quanto entre eles.

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

O silêncio no quarto era um bálsamo após a tempestade emocional que haviam enfrentado. Briely, ainda recostada na cama, parecia mais calma, o rosto menos pálido, os olhos menos carregados de tensão.

Morpheus a observava com um olhar que misturava preocupação e algo mais profundo, algo que ele raramente deixava transparecer. Ele segurou a mão dela por um momento, o toque firme, mas gentil. “Você precisa descansar,” disse ele, sua voz como um murmúrio baixo, quase hipnótico. Ele a ajudou a deitar completamente, ajustando os travesseiros sob sua cabeça com cuidado

Briely não resistiu, exausta demais para protestar, seus olhos já começando a se fechar enquanto o peso do dia a puxava para o sono. Morpheus inclinou-se sobre ela, seus lábios tocando suavemente a testa dela em um beijo leve, carregado de uma ternura silenciosa.

Ele permaneceu assim por um instante, como se quisesse gravar aquele momento, antes de se levantar. Sem olhar para trás, deixou o quarto, o manto escuro ondulando atrás dele como uma sombra viva. Havia assuntos no Sonhar e no mundo desperto que exigiam sua atenção, e ele não podia mais adiar.

 

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Algum tempo depois, Briely despertou sozinha no vasto quarto real do Sonhar. A luz suave que fluía pelas janelas parecia pulsar com uma energia onírica, e ela se levantou devagar, sentindo o corpo mais leve, mas ainda carregado de uma inquietação que não conseguia nomear.

Ela caminhou até o closet, seus pés descalços tocando o chão frio, e abriu as portas de madeira entalhada. Seus olhos recaíram sobre um vestido azul-escuro, de tecido fluido e delicado, que parecia chamá-la. Ela o vestiu, o tecido abraçando seu corpo com suavidade, e ao se olhar no espelho, notou uma pequena, mas perceptível, saliência em sua barriga.

Sua mão repousou ali por um instante, um misto de surpresa e apreensão atravessando seu rosto. Suspirando, ela decidiu que não ficaria confinada ao quarto. Precisava de respostas.

Briely dirigiu-se à biblioteca do Sonhar, o coração da sabedoria e dos segredos do reino. Ao entrar, o aroma de pergaminhos antigos e o som de páginas sendo viradas a recebeu. Lucienne estava lá, conversando com uma mulher mais velha de presença serena, mas marcada por uma vida de experiências profundas—Unity Kincaid.

Quando Lucienne percebeu a chegada de Briely, seus olhos se estreitaram com preocupação, mas ela inclinou a cabeça em respeito. “minha rainha, você deveria estar descansando,” disse Lucienne, sua voz firme, porém gentil.

Briely ofereceu um leve sorriso, ajustando o vestido azul que caía elegantemente sobre seus ombros. “Não preciso. Estou me sentindo bem, Lucienne. De verdade.” Unity, que até então observava em silêncio, ergueu uma sobrancelha, claramente surpresa.

“Rainha? Então você é a esposa do Rei dos Sonhos?” Seus olhos percorreram Briely, notando o vestido incomum—diferente dos trajes típicos do Sonhar—e a beleza etérea que parecia envolver a jovem como uma aura. “Você é... diferente. Há algo em você que não consigo definir, mas é belo.”

Briely corou ligeiramente, desconfortável com a atenção, mas grata pela gentileza. “Obrigada. Não me sinto muito como uma rainha, para ser sincera. Mas... onde está meu marido? Preciso falar com ele.” Lucienne hesitou por um momento antes de responder, sua expressão se tornando mais grave.

“Ele está resolvendo a situação do vórtex. Uma questão delicada e perigosa, minha rainha.” “Delicada como?” perguntou Briely, franzindo a testa, sentindo um aperto no peito. “Ele pretende... terminar issoRose Walker, o vórtex, precisa ser detida. Ele planeja matá-la para salvar o Sonhar e o mundo desperto,” explicou Lucienne, com um tom de relutância, sabendo o peso que aquelas palavras teriam.

Briely congelou, os olhos arregalados. “Matar? Não... isso não pode estar certo. Ele não pode fazer isso. Eu preciso falar com ele. Agora.” Unity, ainda observando, colocou uma mão reconfortante no ombro de Briely. “Se você acha que pode ajudá-lo a encontrar outro caminho, então vamos.

Eu também tenho assuntos a resolver com ele.” Lucienne assentiu, embora claramente preocupada. “Muito bem. Vamos encontrá-lo juntas.”

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No caminho para encontrar Morpheus, as três mulheres caminharam pelos corredores oníricos do Sonhar, onde a realidade parecia se curvar a cada passo.

Unity, ao lado de Briely, notou a maneira como a jovem ocasionalmente tocava sua barriga, um gesto quase inconsciente. Ela inclinou a cabeça, curiosidade misturada com empatia em seu olhar. “Você está... esperando um filho, não está?” perguntou Unity, sua voz baixa para não atrair demasiada atenção, embora Lucienne, que caminhava um pouco à frente, pudesse ouvir.

Briely hesitou, mas acabou assentindo, os olhos baixos. “Sim. Não foi algo que planejei. Meu casamento com Morpheus... não foi por escolha. Fui forçada a isso. E agora, estou carregando um filho dele. Não sei o que fazer, nem como me sinto sobre isso.” Unity franziu os lábios, pensativa, enquanto Lucienne, embora em silêncio, lançou um olhar de compreensão por cima do ombro. “Às vezes, querida, as coisas que não escolhemos trazem algo inesperado, algo que pode nos dar força,” disse Unity suavemente.

“Mas sei que não é fácil. Só... não deixe o medo consumir você.” Briely ofereceu um sorriso frágil, grata pelas palavras, mesmo que ainda carregasse um peso no coração.

 

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Quando finalmente encontraram Morpheus, ele estava no meio de um confronto tenso, a presença de Rose Walker próxima marcando o ar com urgência. Seus olhos se desviaram para sua esposa assim que ela entrou no espaço, e um vislumbre de preocupação atravessou seu rosto normalmente impassível.

Ele avançou até ela, suas mãos segurando-a pela cintura com firmeza, trazendo-a para perto de si. “esposa, o que você está fazendo aqui?” perguntou ele, sua voz baixa, mas carregada de uma intensidade protetora. “Você deveria estar descansando.” “Eu não podia ficar lá sem saber o que está acontecendo,” retrucou ela, encontrando o olhar dele. “Lucienne me contou sobre Rose.

Você não pode matá-la, Morpheus. Deve haver outro caminho.” “Não há escolha. O vórtex deve ser detido, ou tudo estará perdido,” respondeu ele, o tom firme, mas com uma pontada de dor em seus olhos ao ver a angústia no rosto dela. “Eu não desejo isso, mas todos nós temos responsabilidades. Esta é uma das minhas.”

Antes que Briely pudesse argumentar mais,lucienne interveio, dando um passo à frente. “Meu senhor, pare. Esta é Unity Kincaid."

Eu sou bisavó da Rose. E de acordo com este livro, eu deveria ser o vórtex desta era. Mas como você foi aprisionado e excluído do Sonhar, esse destino foi passado aos meus descendentes.”

“Eu não entendo,” confessou Morpheus, enquanto Unity ria suavemente. “Você não é muito inteligente, né? Vem cá, Rose. Quero que você alcance seu interior e me dê o que quer que seja que faz de você o vórtex.”

“Mas c-como?” perguntou Rose, confusa. “Você está sonhando, querida. Tudo é possível,” respondeu Unity, enquanto Rose entregava o poder do vórtex. “Isso? Ah, obrigada, Rose, querida. Agora sou o vórtex, Rei dos Sonhos, como deveria ter sido há muito tempo. Então, deixe minha bisneta em paz.” Unity gemeu suavemente, o peso do vórtex tomando seu corpo, e quando o momento chegou, ela caiu.

Briely, com lágrimas nos olhos, correu até ela, envolvendo-a em um abraço apertado. O corpo frágil de Unity tremia, mas ela conseguiu sussurrar no ouvido de Briely, sua voz fraca, mas cheia de intenção. “Não tenha raiva, querida. Nem do bebê, nem dele. Às vezes, o que começa com dor pode se tornar algo belo. Cuide de si mesma... e dele. Encontre um caminho para vocês dois.” Briely assentiu, as lágrimas escorrendo por seu rosto enquanto segurava Unity até o último suspiro dela.

Quando finalmente se levantou, ela se voltou para Rose, que observava tudo em um silêncio atordoado. Briely se aproximou dela, colocando as mãos suavemente em seus ombros. “Cuide-se, Rose. E cuide do seu irmão. Vocês merecem paz depois de tudo isso,” disse Briely, sua voz carregada de emoção sincera.

Rose assentiu, os olhos ainda úmidos, antes de murmurar um “obrigada” baixo. Morpheus, ao lado de Briely, observava a cena em silêncio, mas sua mão encontrou a dela, um gesto pequeno, mas significativo, enquanto se despediam de Rose.

“Você e seu irmão são filhos dos Perpétuos. Você já sofreu o suficiente. Você pode sair deste lugar. Adeus, Rose,” disse Morpheus, finalizando a despedida.

Chapter Text

Morpheus segurava a mão de Briely com firmeza enquanto se despediam de Rose Walker. O ar ainda estava pesado com a emoção do momento, mas o Rei dos Sonhos sabia que não podia se demorar.

 

Ele lançou um olhar para sua esposa, a preocupação evidente em seus olhos normalmente impassíveis. “Vamos voltar ao castelo,” disse ele, sua voz um murmúrio baixo, mas carregado de proteção.

 

Briely assentiu, exausta, deixando que ele a guiasse através dos corredores oníricos do Sonhar. O caminho de volta foi silencioso, mas a presença de Morpheus ao seu lado era uma âncora, mesmo que ainda houvesse uma tensão não resolvida entre eles.

 

Ao chegarem ao castelo, ele a deixou brevemente no quarto real, assegurando-se de que ela estivesse confortável, antes de partir. “Fique aqui,” pediu ele. “Há algo que preciso resolver.”

Ele se dirigiu à galeria de Desejo, o ar ao seu redor parecendo se curvar à sua determinação. Quando chegou, Desejo estava recostado em um trono dourado, um sorriso provocador nos lábios. “Ora, doce Sonho. Que surpresa. Quase um evento, eu diria,” sibilou Desejo, os olhos brilhando com malícia.

 

“Estou de passagem,” respondeu Morpheus, sua voz fria como o vazio. “E não desejo nada de você, exceto respostas.”

 

Desejo inclinou a cabeça, o sorriso crescendo. “Ooh, isso é um teste?

 

Unity Kincaid deveria ter sido o vórtex desta era. Mas alguém se aproveitou da minha prisão e teve um filho com ela, sabendo muito bem que ele se tornaria o vórtex, e eu seria forçado a matá-lo.

 

Fui tão óbvio?”

“Não. Você cobriu seus rastros muito bem,” admitiu Morpheus, o tom cortante. “Mas o que você realmente pretendia? Que eu deveria derramar sangue de família? Com tudo o que isso implicaria?”

 

Desejo riu, um som afiado e cruel. “Desta vez quase funcionou, meu irmão.

 

Nós, dos Eternos, somos servos dos vivos, não seus mestres. Existimos apenas porque eles sabem, no fundo de seus corações, que nós existimos. Não os manipulamos. Na verdade, eles nos manipulam. E você, Desespero, e até mesmo o pobre Delírio fariam bem em se lembrar disso.”

 

Morpheus deu um passo à frente, sua presença sufocante. “Mexa comigo ou com os meus de novo e eu vou esquecer que você é da família. Você se considera forte o suficiente para me enfrentar? Contra a Morte? Contra o Destino?”

 

Desejo sibilou, o brilho nos olhos diminuindo por um instante. “Ah, pobre Dream. Eu realmente te irritei dessa vez, não é? Da próxima vez, vou tirar sangue.”

 

Antes dele partir, Desejo lançou um último comentário, o tom carregado de veneno. “A propósito, sua esposa gostou do presente de casamento que dei a ela? Espero que tenha... aquecido as coisas entre vocês.”

 

Os olhos de Morpheus se estreitaram, a raiva queimando dentro dele. Ele sabia do que Desejo falava — um afrodisíaco que Briely havia consumido sem saber, algo que ele só descobriu depois. “Fique longe da minha esposa e da minha família, Desejo. Não vou tolerar mais interferências. Se chegar perto dela novamente, não haverá perdão. Nem mesmo para um dos Eternos.”

 

Sem esperar resposta, Morpheus virou-se, o manto escuro ondulando atrás dele como uma tempestade, deixando Desejo com um sorriso que escondia um leve tremor.

 

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Alguns dias após o confronto com Desejo, Morpheus e Briely estavam na biblioteca do Sonhar, um lugar de imenso poder onde segredos se revelavam em tomos antigos. Lucienne os conduziu até uma mesa onde um livro pulsava com uma luz suave, quase viva. Briely, ainda sem notar qualquer mudança significativa em seu corpo, franziu a testa ao ver o livro aberto por Lucienne.

“Meu lord, minha rainha,” começou Lucienne, sua voz calma, mas com um toque de reverência. “Este tomo revela verdades do Sonhar. Hoje, ele mostra algo... extraordinário.”

Morpheus aproximou-se, seus olhos estreitando-se enquanto imagens tomavam forma na página. Briely segurou a mão dele, sentindo um aperto no peito ao ver duas pequenas formas brilhantes dentro de uma representação etérea de si mesma. “Gêmeos?” sussurrou ela, a voz carregada de surpresa.

“Sim,” respondeu Lucienne, ajustando os óculos. “Dois herdeiros do Sonhar. Mas há mais. A gravidez não segue o tempo do mundo desperto. Aqui, no Sonhar, ela é acelerada. O que seriam meses no mundo mortal podem ser semanas ou até dias. Vocês verão mudanças rápidas.”

Briely tocou a barriga instintivamente, ainda achando difícil acreditar. Morpheus apertou sua mão, seu olhar normalmente distante agora cheio de algo mais suave. “Nós os protegeremos,” murmurou ele. “E a você.”

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Naquela mesma tarde, enquanto descansava no quarto real, um pergaminho surgiu magicamente sobre a mesa.

Briely o pegou, reconhecendo o selo do tridente. Era uma carta de seu pai, Poseidon. Com as mãos trêmulas, ela leu as palavras escritas em tinta azul profunda:

*Minha querida filha, ouvi sobre sua gravidez e estou cheio de alegria. Meus primeiros netos! Saiba que, mesmo de longe, envio minhas bênçãos do fundo dos oceanos. Que eles cresçam fortes como as marés e tão destemidos quanto você. Seu pai, Poseidon.*

Lágrimas rolaram por seu rosto ao ler a mensagem, sentindo uma conexão com seu pai, mesmo que ele não fosse seu pai de verdade e sim sua contraparte do seu pai daquele universo. Morpheus, ao entrar no quarto, notou sua emoção e se aproximou, colocando uma mão em seu ombro. “Boas notícias?” perguntou ele, suavemente.

“Sim,” respondeu ela, mostrando a carta. “Meu pai... ele está feliz por nós.”

 

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Algumas semanas depois, Briely, agora com o que pareceria quatro meses de gravidez no mundo desperto, estava sozinha no jardim onírico do castelo.

Sentada sob uma árvore de flores luminescentes, ela sentiu um movimento leve, mas inconfundível, dentro de si. Um chute. Depois outro. Sua mão voou para a barriga, e uma onda de emoção a atingiu. Lágrimas escorreram enquanto ela sussurrava para si mesma: “Eu sinto muito. Eu... pensei em rejeitar vocês. Mas agora, sentindo-os aqui, não consigo. Sou uma idiota por ter pensado nisso. Lembro da minha mãe dizendo que ficou tão feliz quando soube de mim e do Percy. Quero ser como ela para vocês.”

Naquele momento, ela decidiu que os amaria, independentemente de como vieram ao mundo. Quando Morpheus a encontrou ali, viu as lágrimas e se ajoelhou ao seu lado. “O que houve?” perguntou, a voz carregada de preocupação.

“Eles se mexeram,” disse ela, sorrindo entre lágrimas. “Eu os senti. E... prometo que vou ser uma boa mãe.”

Ele a abraçou, um gesto raro, mas genuíno. “Você será. E estarei com você.”

 

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Conforme o tempo passava, Briely começou a se apegar a Morpheus, mesmo que questionasse seus próprios sentimentos, temendo ser vítima da síndrome de Estocolmo.

Ele, por sua vez, demonstrava um cuidado incessante. À noite, ele se sentava ao lado dela na cama, lendo contos do Sonhar em voz baixa, sua mão repousando na barriga dela, acariciando suavemente enquanto as palavras enchiam o silêncio.

Em manhãs de enjoo, ele estava lá, segurando seu cabelo enquanto ela vomitava, trazendo um pano úmido para seu rosto. “Você está bem?” perguntava ele, sempre com aquele tom grave, mas gentil.

“Sim, só... um pouco fraca,” respondia ela, agradecendo com um sorriso tímido.

Quando ela tinha desejos estranhos, como querer frutas que não existiam no Sonhar, ele moldava sonhos para recriá-las, entregando-lhe uma bandeja com sabores que só poderiam existir na imaginação. “É o suficiente?” perguntava ele, observando-a comer com um brilho de satisfação nos olhos.

“Mais do que suficiente,” ria ela, lambendo os dedos.

Durante caminhadas na praia onírica, ele a segurava pela cintura, guiando-a enquanto ela molhava os pés nas águas que brilhavam como estrelas líquidas. “Cuidado,” murmurava ele, certificando-se de que ela não escorregasse.

Em um momento de vulnerabilidade, enquanto tomavam banho juntos em uma banheira de mármore negro preenchida com água quente e fragrâncias oníricas, ele lavava seus cabelos com cuidado.

Ela inclinou a cabeça para trás, deixando-o beijá-la no pescoço. O beijo se aprofundou, e ela, surpreendentemente, correspondeu com fervor, suas mãos encontrando os ombros dele. “Você quer isso?” perguntou ele, a voz rouca contra sua pele.

“Quero,” respondeu ela, quase sem pensar, enquanto a água os envolvia. Ele a puxou para mais perto, as mãos deslizando por suas costas molhadas, explorando cada curva com desejo contido. Ela gemeu baixo quando ele a levantou levemente, posicionando-a contra a borda da banheira. O ritmo era lento, mas intenso, seus corpos se movendo juntos na água, o som dos suspiros misturando-se ao barulho das pequenas ondas que criavam. “Você é tão... perfeita,” sussurrou ele, beijando-a novamente enquanto alcançavam o auge, ofegantes e entrelaçados.

Depois, enquanto se secavam, ela riu de si mesma. “Acho que tenho síndrome de Estocolmo. Como posso gostar de você assim?”

Ele apenas sorriu, um raro toque de humor em seus olhos.

 

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Semanas depois, com Briely já exibindo uma barriga de sete meses no tempo onírico, eles estavam deitados juntos na cama do quarto real.

A luz suave pulsava ao redor enquanto ela se virava para ele, os olhos cheios de emoção crua. “Preciso falar sobre tudo,” começou ela. “Você me forçou a casar, Me estuprou naquela floresta, Me tirou da minha vida. E eu Fiz sexo com você, mesmo achando que talvez seja só minha mente me enganando. Mas... eu te perdoo por tudo. Eu so Quero paz para nós e para nossos filhos.”

Ele a ouviu em silêncio, então segurou seu rosto. “Eu não posso desfazer o passado. Mas prometo um futuro digno de você e deles.” Ele a beijou, e ela não resistiu, aprofundando o contato.

Logo, estavam entrelaçados novamente, a roupa sendo descartada com cuidado. Ele a posicionou de lado, cuidando da barriga volumosa, suas mãos explorando-a com um misto de reverência e desejo. “Me diga se estiver desconfortável,” murmurou ele, enquanto se movia dentro dela, lento, mas firme.

“Não estou,” respondeu ela, ofegante, as mãos agarrando os lençóis enquanto o prazer crescia. Ele acelerou um pouco, respondendo aos gemidos dela, beijando seu ombro enquanto atingiam o clímax juntos, os corpos tremendo de intensidade.

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Alguns dias depois, Briely, agora com uma barriga que parecia de oito meses, acompanhava Morpheus em uma praia onírica dentro do Sonhar.
O vestido azul fluía ao vento, acentuando sua gravidez. Morpheus moldava novos sonhos com gestos precisos, enquanto ela o observava, sentada em uma rocha próxima, os pés descalços na areia etérea.

De repente, Lucienne apareceu, caminhando rapidamente pela areia, sua expressão séria, mas com um toque de alívio. “Meu lord, desculpe incomodá-lo enquanto está trabalhando, mas...”

Morpheus parou, virando-se para ela com uma sobrancelha erguida. “Há algo errado?”

“Não, na verdade é algo adorável,” respondeu Lucienne, um leve sorriso surgindo. “Um novo livro apareceu na biblioteca esta manhã, escrito por Rose Walker.”

“E como é?” perguntou ele, curioso.

“Você pode discordar da representação do rei na história, mas... eu adorei.

Ela é uma filha dos Perpétuos com uma grande história para contar.”

Morpheus assentiu, pensativo, enquanto Briely sorria ao ouvir a notícia. Depois que Lucienne se retirou, ela se aproximou dele, tocando seu braço. “Marido, por que não dá uma chance a Gault? Transforme-a em um novo Sonho. Ela quer mudar, você viu isso.”

Ele olhou para Gault ao longe, então para Briely, um leve sorriso curvando seus lábios. “Você tem um coração bondoso, minha esposa. Talvez eu deva ouvir mais suas sugestões.” Ele caminhou até Gault, enquanto Briely assistia, satisfeita, sentindo os bebês chutarem dentro dela. Pela primeira vez, sentiu que o Sonhar poderia realmente ser um lar.

Chapter 15

Notes:

(See the end of the chapter for notes.)

Chapter Text

O Sonhar estava envolto em uma calma aparente naquela tarde, mas o ar parecia carregado de eletricidade, como se algo estivesse à espreita. Briely, já sentindo o peso avançado da gravidez, estava em uma câmara especial dentro do castelo, usada para rituais e visões.

Sua conexão com a água, um poder herdado de sua linhagem divina, vinha se intensificando, mas também se descontrolando. Pequenos riachos surgiam do nada ao seu redor, e o ar ficava úmido sempre que ela se agitava ou sentia fortes emoções.

Lucienne, com sua habitual compostura, conduzia um ritual onírico para tentar "visualizar" os bebês. Morpheus estava presente, de pé, braços cruzados e expressão indecifrável, mas seus olhos não deixavam sua esposa por um segundo.

Uma bacia de água onírica, que refletia visões como um espelho, estava no centro da sala. Lucienne murmurava palavras antigas, e a superfície da água começou a ondular.

Briely, sentada com dificuldade por causa da barriga, segurava as bordas da bacia com tensão. “E se não conseguirmos ver nada?” perguntou, a voz carregada de ansiedade.

Uma pequena onda surgiu na bacia, ecoando seu nervosismo, e gotas de água começaram a flutuar ao seu redor, sem controle.

Morpheus deu um passo à frente, colocando uma mão firme no ombro dela. “Relaxe meu amor. Seus poderes estão reagindo a você. Controle sua respiração.” Sua voz era um comando suave, e cheia de preocupação ali.

Ela respirou fundo, tentando se acalmar, e aos poucos as gotas de água caíram. Lucienne continuou o ritual, e finalmente a água na bacia formou imagens. Duas pequenas figuras, envoltas em brilhos, começaram a se revelar.

Uma era um pouco maior, com traços mais definidos, e a outra, menor, parecia mais delicada. Lucienne sorriu levemente. “É um menino e uma menina. O menino é o mais velho, e a menina, a mais nova.”

Briely sentiu lágrimas brotarem nos olhos, um sorriso iluminando seu rosto. “Um menino e uma menina... eu sabia que eram dois, mas agora... agora é real.”

Ela riu, uma risada de pura alegria, mas a emoção fez com que uma pequena onda de água surgisse da bacia, molhando o chão ao redor. “Desculpe, não consigo controlar isso.”

Morpheus não se moveu, mas sua expressão suavizou por um breve momento. “Não se preocupe com isso minha querida esposa.” Ele não disse mais, mas permaneceu ao lado dela, observando enquanto Lucienne anotava os detalhes do ritual.

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Alguns dias depois, o Sonhar foi abalado por uma presença inesperada. Um portal de água espumante se abriu nos portões do castelo, e de lá emergiu Poseidon, o deus dos mares, com sua postura imponente e tridente reluzente.

Sua presença era como uma tempestade contida, o ar ao seu redor carregado de sal e fúria. Ele não havia sido convidado, mas isso claramente não o deteve.

Morpheus, alertado pelos dos guardas, apareceu diante do portão antes que Poseidon pudesse avançar mais. Seu manto escuro parecia absorver a luz ao redor, e sua expressão era de frieza absoluta. “Poseidon. Sogro, a que devo a intrusão?” perguntou, a voz cortante como uma lâmina.

O deus dos mares o encarou, os olhos brilhando profundo e perigoso. “Não vim por você, Sonho. Vim ver minha filha. Não me faça esperar.” Ele bateu o tridente no chão, fazendo o solo do Sonhar tremer levemente, água surgindo em poças ao seu redor.

Morpheus cerrou os punhos por um instante, mas seu rosto permaneceu impassível. “Você não foi convidado. Mas, por ela, permitirei que a veja. Siga-me. E Controle sua tempestade.” Havia um aviso claro em suas palavras, mas Poseidon apenas deu um sorriso sombrio, seguindo-o pelo castelo.

Briely estava no jardim, sentada sob uma árvore onírica que emitia uma luz suave. Sua gravidez estava avançada, e ela parecia cansada, mas os olhos brilharam de felicidade ao ver a figura de Poseidon se aproximando. “Pai!” exclamou, levantando-se com dificuldade, um sorriso genuíno no rosto.

Embora soubesse que ele era a contraparte do pai de seu universo, o laço emocional que sentia era real.

Poseidon correu até ela, apoiando-a com uma mão forte e gentil. “Minha menina, olhe para você. Tão forte, e carregando vida.” Ele a abraçou com cuidado, e ela sentiu lágrimas de emoção.

“Trouxe algo para você e para meus netos.” Ele tirou de seu manto dois pequenos amuletos feitos de coral e conchas, pulsando com energia marítima. “Para protegê-los. E para você, um bracelete. Que a força do mar esteja sempre com você.”

Briely pegou os presentes, os olhos brilhando. “Obrigada, pai. E... eu descobri algumas semanas atrás. É um menino e uma menina.” Sua voz estava cheia de orgulho.

O rosto de Poseidon se iluminou com um sorriso largo, quase infantil. “Um menino e uma menina! Meus primeiros netos! Que os mares os abençoem com força e coragem.” Ele riu, um som grave como o rugido das ondas, e passou a mão pela cabeça dela com carinho.

Antes de partir, Poseidon se aproximou de Morpheus, que observava a cena de longe com um olhar gélido. O deus dos mares baixou a voz, mas o tom era puro veneno. “Escute bem, Sonho.

Não te perdoo pelo que fez com ela. Forçá-la a isso, é também a esse casamento, depois de tudo... Se eu descobrir que a machucou de novo, ou que algo acontece aos meus netos, nem o Sonhar te protegerá. Vou arrastar você até o fundo do oceano e fazer você sentir cada onda como uma lâmina. Está avisado.”

Morpheus não se moveu, os olhos fixos nos de Poseidon. “Cuide de suas ameaças, deus do mar. Ela e minha esposa, assim como os filhos dela são meus filhos também. Se veio apenas para isso, sua visita terminou.” Sua voz era um murmúrio perigoso, mas ele não recuou.

Poseidon bufou, mas voltou-se para sua filha,seu rosto suavizando imediatamente. “Cuide-se, minha filha. Logo virei para conhecer meus netos.” Ele a abraçou mais uma vez, beijando sua testa, antes de lançar um último olhar cortante para Morpheus.

“Cuide bem dela e dos meus netos, Sonho. Ou não haverá reino que te salve.” Com isso, ele abriu um portal de água e desapareceu, deixando o ar carregado de sal e tensão.

Briely olhou para Morpheus, com a troca de olhares, mas não disse nada. Ela apenas segurou os presentes de Poseidon contra o peito, um sorriso ainda nos lábios enquanto voltava a se sentar.

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Os dias seguintes foram de crescente inquietação no Sonhar. Os poderes de água de Briely estavam cada vez mais instáveis.

Pequenas tempestades se formavam ao seu redor sem motivo aparente, e riachos brotavam do chão do castelo sempre que ela sentia dor ou ansiedade.

As contrações, agora mais frequentes, só pioravam a situação. O próprio Sonhar parecia reagir a ela, o céu onírico frequentemente coberto por leves chuvas e nuvens escuras.

 

alguns dias depois, Briely estava no escritório de Morpheus, tentando se distrair com um livro enquanto ele trabalhava. Uma contração forte a atingiu de repente, fazendo-a largar o livro e segurar a borda da poltrona com força.

“Ahh...” gemeu ela, tentando respirar, mas então sentiu um jorro quente entre as pernas. A bolsa havia estourado.

“Morpheus!” gritou, o pânico tomando conta. Água começou a se formar ao seu redor, um pequeno redemoinho girando no chão, refletindo seu descontrole emocional.

Ele se virou instantaneamente, abandonando o trabalho, e estava ao lado dela em um piscar de olhos. “O que aconteceu?” perguntou, a voz firme, mas os olhos percorrendo-a com urgência.

“Minha bolsa... estourou. Os bebês, Eles estão vindo agora!” disse ela, a voz tremendo, enquanto outra contração a fez se curvar de dor.

O redemoinho ao seu redor cresceu, e gotas de chuva começaram a cair dentro do escritório, como se o próprio Sonhar sentisse sua agonia.

Morpheus a pegou no colo, um braço sob os joelhos, outro nas costas, carregando-a com facilidade. “Respire. Estou aqui. Vai ficar tudo bem,” disse ele, enquanto a levava para a câmara preparada.

Sua voz tentava ser um ponto fixo no caos, mas Briely mal conseguia ouvi-lo por causa da dor. Ele chamou: “Lucienne! Elyndra!” O eco de seu comando ressoou pelo castelo.

Enquanto a carregava, a chuva no Sonhar se intensificou. O céu onírico, antes apenas nublado, agora despejava uma tempestade, raios cortando o horizonte.

Os ventos uivavam, e os sonhos de muitos mortais começaram a refletir a turbulência, cheios de inundações e mares revoltos. Os poderes dela, descontrolados, moldavam o reino à sua volta.

No quarto, Lucienne e Elyndra já esperavam. Elyndra, com seus cabelos de névoa e olhos de luz, aproximou-se imediatamente.

“Minha rainha, vamos ajudá-la. Confie em nós,” disse, a voz como um sussurro calmante, enquanto colocava as mãos sobre a barriga dela, tentando estabilizar a dor.

Briely foi deitada na cama, a dor das contrações a fazendo gritar. “Dói tanto... não consigo parar isso!” soluçou, enquanto a chuva entrava pela janela aberta da câmara, molhando o chão.

Sua mão apertava a de Morpheus com força desumana. Entre os gritos, a raiva e o desespero transbordaram. “Isso é culpa sua, Morpheus! Por que você fez isso comigo? Eu não estaria sofrendo assim se não fosse por você!” gritou ela, lágrimas de dor e frustração escorrendo pelo rosto enquanto outra contração forte a atingia, fazendo-a chorar alto. “Eu te odeio por isso!”

Morpheus não recuou, mesmo com as palavras cortantes. Ele se inclinou sobre ela, beijando sua testa suavemente, o gesto carregado de uma ternura. “Eu sei, eu sei meu amor. Mas vai ficar tudo bem. Estou aqui. Você está indo bem, esposa. Continue,” murmurou ele, segurando firme sua mão, sem soltá-la por um segundo. Seus olhos, estavam fixos nos dela, cheios de uma intensidade.

Lucienne orientava os movimentos, enquanto Elyndra canalizava energia para aliviar a dor. “Empurre agora minha rainha!” comandou Lucienne, a voz firme. Briely obedeceu, gritando com o esforço, o corpo tremendo. O Sonhar rugia lá fora, a tempestade em perfeita sintonia com seus gritos.

Após horas de agonia, o primeiro choro cortou o ar. Elyndra pegou o bebê, limpando-o com um tecido. “É o menino, o mais velho,” anunciou, entregando-o a um servo para que fosse limpo. Mas não havia tempo para alívio. Briely gritou novamente, a dor do segundo nascimento ainda mais intensa.

“Não para... por favor, ajudem!” implorou, exausta, enquanto a chuva se tornava um dilúvio do lado de fora, rios se formando nos corredores do castelo. Elyndra colocou as mãos sobre ela novamente, murmurando encantamentos para acalmar lá, mas até sua magia tinha limites contra o descontrole de Briely.

Morpheus continuou ao lado dela, a voz rouca de emoção contida. “Só mais um pouco meu amor. Você consegue. Estou aqui.” Ele não deixou que ela desviasse o olhar, mantendo-a ancorada enquanto beijava sua testa mais uma vez. “Você está indo bem. Continue.”

Finalmente, após um esforço que quase a fez desmaiar, o segundo choro ecoou. Lucienne segurou a pequena figura. “A menina. Estão ambos bem,” disse, aliviada. Elyndra ajudou a preparar os bebês, envolvendo-os em tecidos que brilhavam suavemente, antes de colocá-los gentilmente na cama ao lado de Briely.

Com um leve aceno respeitoso, Elyndra, Lucienne e os outros servos recuaram, saindo da câmara em silêncio para deixar os pais a sós com os recém-nascidos.

Briely, exausta e pálida, olhou para os bebês ao seu lado na cama, lágrimas de alegria e alívio misturando-se no rosto. “Vocês... vocês estão aqui,” sussurrou, a voz entrecortada por soluços. Ela estendeu as mãos trêmulas, querendo tocá-los, mas mal tinha forças.

Morpheus sentou-se na cama ao lado dela, inclinando-se para beijá-la suavemente na testa mais uma vez. “Você foi incrível esposa,” disse ele, a voz baixa, cheia de algo que parecia admiração. Ele pegou a menina no colo com um cuidado quase reverente, enquanto Briely pegava e segurava o menino, trazendo-o para perto de seu peito. Seus olhos se encontraram por um momento, um silêncio carregado de emoções entre eles.

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Ele observou os bebês, claramente encantado, os traços suavizando ao notar as semelhanças. “Eles se parecem tanto conosco,” murmurou, quase para si mesmo.

O menino tinha os olhos intensos de Morpheus, enquanto a menina carregava os traços delicados de Briely, mas com um brilho que parecia ecoar o Sonhar. Ele passou o braço pela cintura de Briely, puxando-a gentilmente para mais perto, o gesto protetor e íntimo. Inclinou-se e a beijou nos lábios, um beijo lento, carregado de emoções.

Depois, ele afastou-se apenas o suficiente para passar a mão pelo cabelo do menino no colo da esposa, acariciando-o com carinho.

“Eles são perfeitos,” disse, a voz quase um sussurro, os olhos voltando-se para a menina em seus braços, como se não pudesse acreditar que eram reais.

Briely apoiou a cabeça no ombro dele, ainda chorando suavemente, mas agora de felicidade. O Sonhar, lá fora, havia se acalmado, a tempestade dando lugar a uma brisa suave e a um céu limpo, como se refletisse a paz que, pelo menos por aquele momento, tomava conta da câmara.

Briely, ainda com a respiração ofegante e os olhos marejados de felicidade, levantou a cabeça apenas o suficiente para olhar para a menina no colo de Morpheus. Um sorriso fraco, mas genuíno, curvou seus lábios. “Ela é tão linda,” sussurrou, a voz carregada de emoção.

Com um movimento lento e cuidadoso, ela estendeu os braços, pedindo silenciosamente para segurá-la também.

Morpheus entregou a menina com um cuidado quase solene, seus dedos demorando um pouco ao passar a pequena para os braços da mãe. Em troca, ele pegou o menino do colo de Briely, segurando-o com firmeza, mas com uma ternura.

Enquanto olhava para o rosto do bebê, seus pensamentos se voltaram para um lugar de certeza absoluta. Eles eram uma família agora, completa, e nada, nem qualquer força do universo — os separaria. Ele segurou o menino mais perto, como se pudesse proteger aquele momento para sempre.

Briely, com ambos os bebês agora em seus braços, ajustou-se na cama com dificuldade, o corpo ainda exausto do parto. Morpheus percebeu e se aproximou ainda mais, ajudando-a a se posicionar. “Deixe-me ajudar,” murmurou, a voz baixa enquanto suas mãos guiavam os bebês para que ela pudesse amamentá-los.

Ele ficou ao lado dela, um braço ao redor de seus ombros como um pilar de apoio, enquanto ela, mesmo trêmula, conseguia alimentar os pequenos.

Os bebês eram quietos, quase angelicais, fazendo pequenos sons suaves enquanto se aconchegavam a ela. Seus rostinhos eram fofos, redondos, com traços delicados que misturavam os pais de uma forma que parecia quase mágica.

“Eles são tão calmos,” disse Briely, a voz fraca, mas cheia de espanto. Ela olhou para Morpheus, os olhos brilhando com uma ideia. “Eu... eu tenho nomes em mente para eles. O que acha de...” Ela hesitou, como se quisesse ouvir a opinião dele

antes de continuar, mas antes que pudesse terminar, um bocejo profundo a interrompeu. Seus olhos começaram a pesar, o cansaço finalmente vencendo a adrenalina do momento.

Morpheus notou imediatamente. Ele inclinou-se para perto, os lábios roçando suavemente a testa dela em um beijo gentil. “Descanse agora meu amor. Você fez mais do que o suficiente,” disse, a voz quase um sussurro, carregada de um carinho que raramente demonstrava abertamente. “Eu cuido de tudo.”

Briely tentou protestar, mas suas pálpebras já se fechavam. “Só... só um pouco,” murmurou, antes de ceder completamente, adormecendo com os bebês ainda em seus braços. Seu rosto, mesmo no sono, parecia em paz, um contraste gritante com a agonia de horas antes.

Com um cuidado infinito, Morpheus pegou os bebês, um em cada braço, para que ela não fosse perturbada. Ele se levantou devagar, levando a esposa no colo com uma força que parecia não exigir esforço.

Caminhou até o quarto deles, os corredores do Sonhar agora silenciosos, a tempestade de antes reduzida a uma brisa calma lá fora. Ele a deitou na cama com delicadeza, ajeitando os cobertores ao redor dela para que ficasse confortável. Depois, voltou sua atenção aos bebês.

No canto do quarto, um berço duplo que ele mesmo havia preparado semanas antes esperava, moldado a partir de sonhos de aconchego e segurança. Era feito de um material onírico que parecia madeira estrelada, com detalhes que brilhavam suavemente como constelações.

Ele colocou os bebês ali, um ao lado do outro, ajustando os tecidos que os envolviam para que ficassem aquecidos. Por um longo momento, ele apenas ficou ali, parado, olhando para eles.

Seus dedos roçaram de leve a bochecha do menino, depois a da menina, como se quisesse se convencer de que eram reais. “Vocês são a minha força agora,” murmurou, a voz tão baixa que mal era audível, apenas para eles.

Seus olhos, estavam cheios de algo que parecia vulnerabilidade. Ele ficou ali, vigiando os pequenos, o peso de ser pai — e tudo o que isso significava em um reino como o Sonhar — começando a se instalar em seu peito. Pela primeira vez em eras, Morpheus sentiu algo além do dever ou da eternidade: ele sentiu propósito.

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Morpheus permaneceu ao lado do berço por horas, os olhos fixos nos bebês como se estivesse guardando um tesouro. A luz suave do Sonhar refletia nos rostinhos deles, e ele não conseguia desviar o olhar, fascinado por cada pequeno movimento, cada respiração tranquila.

Era mais do que proteção. Eles eram a prova de que Briely era sua. Ele moldou secretamente um sonho para ela enquanto dormia, um sonho doce e vívido de sua nova família, os quatro juntos.

Ele sorriu para si mesmo, um sorriso frio e calculista, enquanto plantava as imagens em sua mente, garantindo que até em seus sonhos, ela só pensasse nele e no que ele havia construído para ela.

Quando Briely acordou, horas depois, seus olhos ainda estavam pesados, mas um brilho de contentamento pairava neles, um resquício do sonho que Morpheus havia tecido.

Ela se levantou devagar, o corpo dolorido, e o viu ao lado do berço. Ele a observou com um olhar intenso. Sem dizer uma palavra, ele se aproximou, puxando-a para seu colo enquanto se sentava em uma cadeira próxima ao berço.

Ela não resistiu, acomodando-se contra ele, enquanto seus olhos se voltavam para os bebês adormecidos.

Morpheus repousou o queixo no ombro dela, os braços envolvendo-a por trás em um abraço. Seu toque era gentil, mas havia uma firmeza que lembrava a ela quem estava no controle.

Em sua mente, um pensamento sombrio se formou, tingido de uma certeza doentia. “Agora ela nunca mais tentará me deixar. Nunca. Esses bebês, essa família... ela está presa a mim para sempre.” Ele apertou um pouco mais os braços ao redor dela, como se pudesse fundi-la a si mesmo, um gesto que parecia amor, mas carregava a sombra de sua obsessão.

Ele respirou fundo contra o pescoço dela, então falou, a voz baixa e carregada de intenção. “Vamos tomar banho. Você precisa se cuidar agora.” Ele não esperou por uma resposta, levantando-se com ela ainda nos braços, levando-a para o banheiro anexo ao quarto.

O espaço era vasto, moldado pelo Sonhar, com uma banheira de bordas escuras que parecia mais um lago onírico, a água já quente e fumegante, como se ele houvesse preparado tudo antecipadamente.

Eles entraram juntos, a água envolvendo seus corpos enquanto Morpheus se posicionava atrás dela, os braços envolvendo sua cintura com cuidado, mas sem soltá-la por um segundo.

Ele descansou o queixo no ombro dela novamente, “Você mencionou nomes para eles,” murmurou, a voz suave, mas com um tom que parecia testar cada palavra dela. “Quais são?”

Briely hesitou por um momento, sentindo a presença dele tão próxima, quase sufocante, mas respondeu com um sussurro. “Eu sempre gostei do nome Helena... Quero dalo para a nossa filha.”

Ele inclinou a cabeça levemente, os lábios roçando a pele dela enquanto pensava. ”Helena. É bonito, eu Concordo. Helena será o nome dela.” Sua voz tinha um tom de aprovação, mas era claro que ele só secretamente aceitava porque o nome não carregava nenhuma ameaça, nenhum eco do passado dela.

“E para o nosso filho?” perguntou, os dedos traçando círculos leves na cintura dela, um gesto carinhoso.

Ela respirou fundo, sabendo que precisava escolher as palavras com cuidado. “Tenho algumas opções em mente... Perseu, em homenagem ao meu irmão gêmeo, Ethan, Lucerys... ou Luke.”

No instante em que ela pronunciou “Luke”, os dedos de Morpheus se cravaram em sua cintura, um aperto súbito e possessivo que a fez congelar.

Seus olhos escureceram, e a tensão no ar se tornou palpável. Ele sabia exatamente quem era Luke — o nome de alguém que ela havia amado no passado, no universo dela, alguém que, felizmente, estava morto há muito tempo. “Não,” disse ele, a voz cortante, sem espaço para discussão. “Nosso filho não terá esse nome.”

Briely virou o rosto para ele, tentando justificar, a voz trêmula. “Mas... é só um nome, eu só achei que—”

“Não,” ele interrompeu, o tom mais duro, os olhos brilhando com uma ira contida, mas crescente. “Eu disse que não. Não vou permitir que o nome de outra pessoa manche o que é nosso.” Seu aperto relaxou apenas o suficiente para não machucá-la, mas a mensagem era clara. Ele não toleraria nenhum resquício do passado dela, nem mesmo em algo tão pequeno quanto um nome.

Percebendo a raiva que se formava nele, Briely tentou apaziguá-lo rapidamente, o medo misturado com a exaustão em sua voz. “Então... que tal Perseu? Em homenagem ao meu irmão. Que tal? Só isso. Por favor.”

Morpheus ficou em silêncio por um momento, avaliando as palavras dela, os olhos percorrendo o rosto dela como se procurasse qualquer sinal de resistência. Então, assentiu, a expressão suavizando apenas um pouco. “Perseu. Sim, pode ser. Em homenagem ao seu irmão.” Ele aceitou, mas havia uma frieza em sua concessão, uma lembrança de que até isso era uma permissão dada por ele, não uma escolha livre dela.

A conversa terminou ali, o silêncio pesado entre eles enquanto terminavam o banho. Ele a ajudou a se secar e trocar, Depois, eles voltaram juntos ao quarto, aproximando-se do berço onde os bebês ainda dormiam pacificamente.

Briely os observou, um sorriso frágil nos lábios, enquanto acariciava a cabeça de cada um com delicadeza. Morpheus ficou ao lado dela, a mão deslizando para sua cintura, segurando-a com firmeza enquanto a puxava mais para perto de si.

“Preparei um quarto para eles,” disse ele, a voz baixa, quase um teste para ver a reação dela.

Ela assentiu, mas logo acrescentou, hesitantemente. “Podemos... podemos deixá-los aqui conosco por um tempo? No nosso quarto? Só por enquanto.”

Ele olhou para ela, os olhos estreitando-se por um breve segundo, mas então suavizaram. Incapaz de negar algo tão simples a ela — não quando isso a mantinha ainda mais perto dele —, ele cedeu. “Está bem. Por enquanto, eles ficam aqui.” Sua voz era gentil, mas havia um brilho sombrio em seus olhos, uma satisfação.

Briely se inclinou um pouco mais sobre o berço, os dedos ainda acariciando os cabelos finos dos bebês. “Helena,” murmurou para a menina, depois virou-se para o menino, “e Perseu.” Sua voz era doce, cheia de amor, mas também carregava uma melancolia que Morpheus percebia, mesmo que não comentasse.

Ele ficou ao lado dela, o braço em sua cintura se apertando levemente.

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Briely permaneceu inclinada sobre o berço, os dedos suaves deslizando pelos cabelos finos de Helena e Perseu. Seus olhos refletiam uma ternura que parecia desafiar o ambiente opressivo do quarto

Ele estava ao lado dela, o braço firme em sua cintura, um lembrete constante de sua posse. O silêncio entre eles era denso, mas, para ela, havia algo mais profundo, algo que ia além do medo e da resignação.

Mesmo depois de tudo que ele havia feito, a estuprar, aprisioná-la, arrancar dela qualquer chance de voltar ao seu mundo, forçala a se casar com ele, o coração bondoso dela ainda buscava uma forma de reconciliar-se com a situação, de encontrar paz onde não parecia haver nenhuma.

Ela se endireitou devagar, virando o rosto para ele. Seus olhos encontraram os abismos negros dele, cheios de uma obsessão que nunca diminuía, e por um momento, ela hesitou. Então, com uma voz baixa, quase um sussurro, falou algo que ecoava um sentimento que já tinha expressado antes.

“Eu já te perdoei uma vez, você sabe disso. Quando eu estava grávida... eu te disse que não queria viver com ódio, eu queria paz e precisava deixar isso para trás por mim e por eles. E eu ainda sinto o mesmo. Não posso carregar raiva para sempre. Não quero que isso me destrua. Então, eu te perdoo de novo, ou melhor, eu reafirmo isso. Por eles, é Por mim.”

Morpheus a encarou, os olhos se estreitando por uma fração de segundo, como se estivesse revisitando aquele momento meses atrás, durante a gravidez, quando ela, com lágrimas nos olhos e exaustão no corpo, havia pronunciado palavras similares.

Ele lembrava vividamente da vulnerabilidade dela naquela época, da forma como sua voz tremia enquanto dizia que o perdoava, mesmo que ele nunca tivesse pedido por isso.

Naquele dia, ele havia sentido algo próximo a triunfo, mas também uma pontada de incompreensão. Como alguém podia perdoar tanto depois de ter tudo tirado? Agora, ouvindo-a reafirmar aquele perdão, ele sentiu o mesmo misto de satisfação e estranheza.

Sua mão na cintura dela se apertou levemente, um movimento instintivo de posse, antes de relaxar. Um sorriso frio e calculado curvou seus lábios. “Você me perdoa esposa ... de novo,” repetiu, a voz baixa, quase como se estivesse saboreando as palavras. Ele inclinou a cabeça, o rosto tão perto do dela que ela pôde sentir a frieza de sua presença.

“Você é um enigma, minha querida esposa. Tão disposta a abrir mão de sua raiva, mesmo quando eu não peço por isso. Mesmo quando eu não me arrependo de nada.”

Ela baixou o olhar por um instante, as mãos ainda perto do berço, como se tocar os filhos pudesse ancorar seus sentimentos tumultuados. “Eu sei que você não se arrepende,” murmurou, a voz carregada de uma tristeza resignada.

“E eu não estou dizendo isso porque acho que você vai mudar. Não é sobre você... é sobre mim. Quando eu estava grávida, percebi que odiar você só me machucava mais. Eu estava tão... tão assustada, mas carregar esse peso no coração não mudava nada.

Então, decidi te perdoar. E agora, com eles aqui, eu preciso manter essa escolha. Não por você, mas para que eu possa ser uma mãe para eles sem estar quebrada por dentro.”

Morpheus a observou em silêncio por um longo momento, os olhos percorrendo cada traço do rosto dela, como se tentasse dissecar aquela bondade que parecia tão alheia a ele.

Então, ele a puxou mais para perto, os braços envolvendo-a por completo enquanto enterrava o rosto no pescoço dela, inspirando profundamente, um gesto que era tanto de afeição quanto de domínio. “Sua bondade é... desconcertante,” disse contra a pele dela, a voz rouca. “Você me perdoou antes, no auge da sua vulnerabilidade, carregando meus filhos, e agora de novo, mesmo sabendo que não vou soltá-la nunca.

Eu não entendo isso, mas aceito. " E vou usar esse perdão para mantê-la ainda mais perto. Você é minha, e agora, com Helena e Perseu, esse laço é inquebrável. Seu coração bondoso só torna isso mais doce.” pensou ele.

Ela sentiu um arrepio, não de conforto, mas da percepção clara de que seu perdão, para ele, era apenas mais uma ferramenta, mais uma prova de que ela estava se rendendo ao mundo que ele havia construído ao seu redor.

Ainda assim, não retrucou. Apenas assentiu quase imperceptivelmente, os olhos voltando para os bebês no berço. “Eu só quero que eles sejam felizes,” sussurrou, a voz cheia de um desejo tão puro que parecia deslocado ali. “Quero que eles tenham algo bom, mesmo aqui.

"Algo que eu não tive por um tempo.” Era uma confissão, um eco da dor de ter sido arrancada de sua vida, da chance de voltar pra casa pra sua família, o Acampamento Meio-Sangue, de seus amigos, de tudo que conhecia, mas ela também tem uma esperança teimosa que seu bom coração se recusava a abandonar.

Morpheus ergueu a cabeça, o sorriso ainda presente, os olhos brilhando com uma satisfação sombria. “Eles terão tudo o que precisarem. Eu garanto. Assim como você terá tudo... comigo.

Não há mais nada além disso, além de nós.” Ele depositou um beijo lento na testa dela, um gesto que parecia carinhoso, mas que carregava o peso de uma reivindicação.

Na mente dele, o perdão dela, tanto o primeiro quanto este, era um troféu, uma vitória silenciosa. Quando ela o perdoou pela primeira vez, grávida e vulnerável, ele viu aquilo como o começo do fim de sua resistência.

Agora, essa reafirmação só solidifica sua crença de que ela estava se moldando a ele, de que o passado dela estava se dissolvendo. Ele secretamente usaria essa bondade contra ela, transformaria cada pedaço de sua vontade até que só restasse o que ele queria que restasse.

Enquanto permaneciam diante do berço, o silêncio voltou a cair sobre eles. Briely sentiu o aperto do braço dele em sua cintura, a proximidade sufocante de seu corpo, e, por um instante, deixou-se acreditar que talvez pudesse sobreviver ali, que seu perdão, mesmo sendo uma escolha para si mesma, poderia trazer algum tipo de paz para sua nova realidade.

Mas no fundo, sabia que isso não mudava a essência de sua situação: apesar de tudo Morpheus nunca a deixaria escapar.

Ele, enquanto isso, observava os bebês com um olhar de posse inabalável. O perdão dela, repetido agora, era mais um degrau na escada que ele havia construído para mantê-la presa.

“Vocês são meus,” sussurrou, tão baixo que ela não ouviu, os olhos fixos em Helena e Perseu, mas a mente centrada nela. “Todos vocês. Para sempre.”

Notes:

Conhecemos os pequenos gêmeos perseu e Helena ✧

Chapter Text

Os dias seguintes ao nascimento de Helena e Perseu trouxeram uma nova energia ao Sonhar, algo que parecia quase tangível, reverberando pelas paisagens oníricas e pelos corredores do castelo.

A notícia do nascimento dos filhos do Senhor dos Sonhos se espalhou rapidamente, um murmúrio que ecoava entre os habitantes do reino. Dos corvos aos sonhos e pesadelos que habitavam os domínios de Morpheus, todos sabiam que algo monumental havia acontecido.

Briely, nesses primeiros dias, parecia transformada. A melancolia que antes pesava em seus ombros, que a fazia parecer uma sombra de si mesma, havia sido substituída por uma luz suave, um brilho de esperança que ela carregava nos olhos ao olhar para seus bebês.

Pela primeira vez em muito tempo, havia um sorriso genuíno em seus lábios, um que não era forçado ou tingido de resignação.

Ela passava horas com Helena e Perseu, ninando-os, cantando baixinho melodias que lembrava de sua mãe cantando pra ela na infância, enquanto Morpheus a observava de perto, sempre presente, o braço constantemente em sua cintura ou ombro, como se temesse que ela pudesse desaparecer.

Naquela manhã, o castelo estava mais animado do que de costume. Os moradores do Sonhar, curiosos e respeitosos, vieram prestar suas homenagens. Briely, com um bebê em cada braço, desceu as escadas de mármore negro do salão principal, seus passos leves, quase dançantes, enquanto exibia seus filhos.

Morpheus caminhava ao lado dela, a mão firme em sua cintura, os olhos brilhando com uma mistura de posse e um orgulho genuíno que poucos no Sonhar haviam visto antes. Seu manto negro ondulava atrás dele como uma sombra viva, mas seu rosto, normalmente impassível, carregava um leve sorriso, quase imperceptível, enquanto observava a esposa e seus filhos.

“Venham, quero que conheçam Helena e Perseu,” disse ela, a voz cheia de entusiasmo enquanto se aproximava de um pequeno grupo que os aguardava. Matthew, o corvo de olhos afiados, estava empoleirado em um candelabro próximo, inclinando a cabeça com curiosidade.

Mervyn, o zelador rabugento, estava ao lado de Lucienne, a bibliotecária de expressão serena, enquanto Cain e Abel, sempre em sua dinâmica de conflito e reconciliação, trocavam olhares ansiosos.

“Olha só isso,” crocitou Matthew, voando para mais perto e pousando no ombro de Morpheus, que não pareceu se importar. “Dois pequenos Sonhos! Quem diria, hein?”

Briely riu suavemente, ajustando Perseu em seu braço esquerdo para que todos pudessem ver seu rostinho. “Este é Perseu, e esta,” ela inclinou o braço direito com ternura, mostrando a menina, “é Helena. Meus pequenos.”

Morpheus, com um movimento fluido, estendeu as mãos e pegou Helena gentilmente do braço da esposa, segurando-a contra o peito com um cuidado que contrastava com a intensidade de seu olhar.

A menina bocejou em seus braços, os olhinhos fechados, e ele a observou com uma devoção quase tangível. “Minha pequena Helena,” murmurou, baixo o suficiente para que apenas Briely ouvisse, mas o tom carregava uma posse inquestionável.

Lucienne, ajustando os óculos com um leve sorriso, deu um passo à frente. “Eles são adoráveis, minha senhora. É bom vê-la tão feliz.” Havia uma sinceridade em suas palavras, mas também uma pitada de alívio.

Lucienne, que testemunhara os dias sombrios de Briely no Sonhar, sabia que aquele sorriso era uma raridade, um vislumbre de luz em meio à escuridão que a cercava.

“Obrigada, Lucienne,” respondeu Briely, seus olhos brilhando enquanto acariciava a cabecinha de Perseu. “Eles... eles mudaram tudo.”

Morpheus, ainda segurando Helena com um braço, voltou sua atenção para a esposa. Seus olhos percorreram o rosto dela, absorvendo cada traço de sua felicidade, e um pensamento sombrio, mas cálido, formou-se em sua mente.

*Ela está radiante. Essa luz... eu quero mais disso. Mais dela. Mais filhos nossos, para que essa felicidade nunca desapareça, para que ela nunca pense em nada além de mim e do que construímos.* Ele inclinou a cabeça levemente, os lábios curvando-se em um sorriso calculado, enquanto a outra mão apertava a cintura dela com firmeza.

“Você está magnífica, minha querida,” disse, a voz baixa e cheia de intenções que só ele compreendia por completo. “Ver você assim, com nossos filhos... é um presente.”

Briely, sentindo o peso de seu olhar, mas não retrucou, apenas desviou os olhos para Perseu, como se buscasse refúgio na presença do filho. Morpheus, no entanto, não tirou os olhos dela, sua mente já girando com planos, com o desejo de expandir ainda mais o laço que os unia.

De repente, ele ergueu a voz, chamando a atenção de todos no salão. “Haverá uma celebração,” anunciou, o tom firme, mas carregado de uma alegria controlada. “Um banquete, uma festa em honra ao nascimento dos meus filhos, Helena e Perseu. O Sonhar inteiro deve comemorar este momento.”

Lucienne assentiu imediatamente, sempre prática. “Deixarei tudo preparado, meu senhor. Os convites serão enviados, os salões decorados, e cuidarei de cada detalhe para que a celebração esteja à altura de tal ocasião.”

“Excelente,” respondeu Morpheus, seus olhos ainda fixos em Briely, como se o resto do mundo fosse irrelevante. Ele se inclinou para ela, depositando um beijo suave em sua testa, um gesto que parecia doce para os outros, mas que carregava o peso de sua posse.

“Quero que todos vejam o que construímos, minha amada. Quero que saibam que você é minha, e que nossos filhos são a prova disso.”

Briely sentiu um arrepio com suas palavras, mas forçou um sorriso, tentando manter o foco na felicidade do momento. “Será bom ter uma festa,” disse suavemente, ajustando Perseu em seu braço. “Quero que Helena e Perseu sejam bem-vindos por todos aqui.”

Mervyn resmungou algo sobre ter mais trabalho para limpar depois, mas até ele parecia incapaz de resistir ao charme dos bebês, lançando um olhar quase terno na direção deles.

Cain e Abel, por sua vez, começaram a discutir sobre quem daria o melhor presente para as crianças, mas logo se calaram ao perceberem o olhar cortante de Morpheus.

Enquanto os habitantes do Sonhar se dispersavam, cada um voltando a suas tarefas ou comentando sobre a festa que viria, Morpheus puxou Briely para mais perto, ainda segurando Helena com um braço.

“Você está feliz, não está?” perguntou, a voz rouca, quase como se estivesse buscando uma confirmação que já sabia que teria. “Com eles, conosco... com tudo isso.”

Ela hesitou por um instante, os olhos voltando-se para Perseu, depois para Helena nos braços dele. Então, assentiu lentamente. “Sim... estou. Eles me fazem feliz. Mesmo aqui, mesmo depois de tudo... eles são minha luz.”

Os olhos de Morpheus brilharam com uma satisfação sombria. Ele inclinou-se mais uma vez, os lábios roçando a orelha dela enquanto sussurrava.

“E eu farei de tudo para que essa luz nunca se apague. Farei de tudo para que você nunca precise de nada além de mim e do que temos. Mais filhos, mais laços... tudo o que for preciso.”

Briely congelou por um momento, sentindo o peso de suas palavras, mas não respondeu. Apenas apertou Perseu um pouco mais contra o peito, como se buscasse conforto na presença de seu filho, enquanto Morpheus a segurava com firmeza, seu olhar fixo no futuro que ele já estava planejando para eles.

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O dia da grande festa no Sonhar amanheceu com uma energia vibrante, os ventos oníricos carregando sussurros pelos corredores do castelo.

Horas antes do evento, o quarto de Briely e Morpheus estava envolto em uma calma temporária, quebrada apenas pelos sons suaves dos bebês e pelos movimentos delicados dela enquanto os arrumava. Helena e Perseu, ainda tão pequenos, pareciam alheios à grandiosidade que os aguardava, descansando em seus berços enquanto a mãe se preparava para vesti-los.

Briely, com um vestido simples mas elegante de tons azulados que remetiam ao mar de sua linhagem, pegou dois pequenos amuletos que repousavam sobre uma mesinha ao lado do berço.

Eram os presentes que Poseidon,ele havia lhe dado durante a gravidez — dois objetos de coral e conchas, pulsando com uma energia marítima que parecia viva, quase como se o próprio oceano estivesse encapsulado neles.

“Para protegê-los,” ele havia dito com sua voz profunda e retumbante, e ela segurava os amuletos agora com um carinho reverente, sentindo a conexão com seu pai e seu passado.

Com delicadeza, ela colocou um amuleto ao redor do pescoço de Perseu, ajustando a fina corrente para que não o incomodasse, e depois fez o mesmo com Helena, murmurando baixinho enquanto o fazia.

“Que o mar os proteja sempre, meus amores.” Seus olhos brilharam com uma mistura de saudade e esperança, e então ela olhou para a penteadeira, onde descansava o bracelete que Poseidon também havia lhe dado.

Ele era feito do mesmo material, mas mais intricado, com detalhes que lembravam ondas e tritões, um lembrete constante da força que corria em seu sangue.

Antes que pudesse colocá-lo, a porta do quarto se abriu suavemente, e Morpheus entrou, sua presença imediatamente preenchendo o espaço com uma intensidade palpável.

Ele caminhou até ela, os olhos escurecendo ao notar os amuletos nos bebês e o bracelete sobre a penteadeira. Por um breve momento, uma sombra de desagrado cruzou seu rosto, mas ele rapidamente a mascarou, aproximando-se da esposa com passos calculados.

Sem dizer uma palavra, ele envolveu a cintura dela por trás, os braços firmes, e depositou um beijo lento no pescoço dela, seus lábios frios contra a pele quente. “Você está radiante, minha querida,” murmurou contra sua orelha, enquanto ela segurava Helena nos braços, ajustando um delicado vestidinho azul como o céu ao amanhecer sobre a menina.

Briely sorriu levemente, sentindo o calor de sua presença, mas também a tensão que sempre o acompanhava. “Obrigada. Estou quase terminando de arrumar a Helena. Pode me ajudar com o Perseu?”

Morpheus assentiu, soltando-a com relutância para pegar o menino do berço. Ele o vestiu com um pequeno conjunto preto, um reflexo de suas próprias vestes escuras, o tecido parecendo quase uma extensão de sua sombra.

Quando terminou, segurou Perseu contra o peito por um momento, os olhos brilhando com posse e orgulho.

Briely, ao ver isso, não pôde evitar um comentário, a voz carregada de um tom brincalhão, mas com um fundo de curiosidade. “Você o vestiu igual a você. Preto como a noite. Não acha que é um pouco... sombrio para um bebê?”

Ele virou-se para ela, um sorrisinho frio e calculado curvando seus lábios. “Ele é meu filho. Carrega minha essência. Não há nada de sombrio nisso, minha amada esposa.” O tom era final, e Briely, percebendo que não valia a pena insistir, apenas balançou a cabeça com um leve suspiro, voltando sua atenção para Helena.

Morpheus se aproximou novamente, agora com Perseu ainda nos braços, e a beijou nos lábios, um beijo profundo e possessivo que a fez corar. “Você está maravilhosa,” disse ele, os olhos percorrendo-a de cima a baixo como se pudesse devorá-la com o olhar.

Então, com cuidado, colocou Perseu de volta no berço e, pegando Helena gentilmente dos braços de Briely, fez o mesmo com a menina.

Sem dar espaço para que ela se afastasse, ele a tomou pela mão e a guiou até a cama, sentando-se e puxando-a para seu colo.

Ela se acomodou contra ele, a cabeça repousando em seu peito, enquanto os dedos dele deslizavam por seus cabelos, acariciando-os com uma ternura que contrastava com a intensidade de seus olhos.

“Os preparativos estão prontos,” murmurou ele, a voz baixa, quase hipnótica. “O Sonhar inteiro celebrará nossos filhos esta noite.”

Briely ergueu o rosto para encará-lo, uma pergunta hesitante nos lábios. “Você... convidou meu pai? Ou alguém da minha família?”

O rosto de Morpheus endureceu por um instante, os olhos se estreitando com um brilho de desagrado. “Não,” respondeu, o tom cortante, mas controlado. “Este é um evento do Sonhar. Não vi necessidade de envolvê-los.”

Ela franziu o cenho, uma onda de indignação subindo em seu peito. “Mas são meus filhos também. Meu pai... Poseidon... ele tem o direito de estar aqui, de conhecer os netos dele. Não acho justo que não tenha sido chamado.”

Morpheus suspirou, o som carregado de impaciência, mas também de uma concessão relutante. Internamente, ele pensou que, convocando-os em cima da hora, era quase certo que nenhum dos deuses gregos apareceria — um insulto velado, já que tais seres valorizavam protocolo e tempo.

*Que venham se puderem. Duvido que o orgulho deles permita uma aparição tão tardia,* refletiu com um toque de satisfação sombria. Ainda assim, forçou um tom mais suave ao responder. “Tudo bem, minha querida. Se é tão importante para você, resolverei isso. Mandarei uma mensagem a ele e à sua família.”

Briely o encarou, surpresa pela concessão, mas ainda com um traço de dúvida nos olhos. Antes que pudesse dizer mais, Morpheus a puxou para si, beijando-a ferozmente, os lábios exigentes e possessivos.

O beijo a deixou um pouco desgrenhada, o cabelo escapando do penteado simples que ela havia feito, e o coração acelerado pela intensidade do gesto.

Quando ele finalmente se afastou, seus olhos brilhavam com uma mistura de desejo e controle. Com um toque gentil, mas firme, ele a ajudou a arrumar o cabelo, os dedos deslizando pelos fios com precisão. “Está perfeito agora,” murmurou, quase para si mesmo, antes de se levantar, ainda segurando-a pela cintura por um momento. “Vou mandar a mensagem para eles. Não se preocupe com isso.”

Ela assentiu, sentindo o peso de sua presença mesmo quando ele se afastou, deixando o quarto com passos silenciosos, mas determinados.

Sozinha por um instante, Briely voltou-se para os bebês no berço, tocando os amuletos que repousavam contra seus pequenos peitos. “Espero que ele venha,” sussurrou para si mesma, um desejo quieto por uma conexão, com seu pai, mesmo sabendo que, no Sonhar, tudo parecia girar ao redor da vontade de Morpheus.

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A festa no Sonhar estava em pleno esplendor, o salão principal do castelo transformado em um cenário de sonhos impossíveis.

 

Lustres de luz estelar pendiam do teto, refletindo tons de azul profundo e prata, enquanto o chão parecia pulsar com uma energia viva, como se fosse feito de nuvens ou de um mar onírico.

Criaturas de todas as formas e naturezas — desde figuras etéreas de sonhos até pesadelos disfarçados de beldades — enchiam o espaço, suas vozes misturando-se em um coro de murmúrios que ecoava como um vento distante.

Tudo era uma celebração aos novos herdeiros do Sonhar, Helena e Perseu, cujos berços dourados estavam posicionados em um canto elevado do salão, guardados por sombras leais de Morpheus.

Briely caminhava pelo salão ao lado do marido, o bracelete de coral e conchas reluzindo em seu pulso, harmonizando com o vestido azul que parecia ondular como água a cada passo.

Ela sentia os olhares de todos sobre si, não apenas como a consorte do Senhor dos Sonhos, mas como um eco do oceano que corria em seu sangue. No entanto, uma inquietação a impedia de se entregar completamente à celebração.

Seus pensamentos giravam em torno da mensagem que Morpheus havia prometido enviar a Poseidon e à sua família. Será que ele realmente a enviara? Ou seria apenas mais um de seus jogos sutis de controle?

Morpheus, ao seu lado, estava impecável em vestes escuras que pareciam absorver a luz ao seu redor, um contraste gritante com a vivacidade do ambiente. Seus olhos percorriam o salão com uma mistura de satisfação e vigilância, como se cada detalhe da festa estivesse sob seu comando absoluto.

Ele segurava a mão da esposa com uma firmeza possessiva, os dedos frios contra a pele quente dela, quase como se temesse que ela pudesse escapar. “Está tudo como deve ser,” murmurou, a voz baixa, quase hipnótica contra o ruído da multidão. “Nosso reino celebra nossos filhos. Você deveria estar orgulhosa, minha amada.”

Ela esboçou um sorriso, mas seus olhos varriam as entradas do salão, ansiando por um sinal de sua família. “Eu estou,” respondeu, a voz suave, mas com um traço de hesitação. “Mas... você mandou mesmo a mensagem ao meu pai? Aos outros? Ainda não vi nenhum sinal deles.”

O rosto de Morpheus permaneceu impassível, mas uma sombra de irritação cruzou seus olhos. Ele inclinou a cabeça, como se pesasse a pergunta, antes de responder com um tom frio e cortante. “Eu fiz o que prometi, meu amor.

Enviei a mensagem. Mas os deuses têm seus próprios caprichos e tempos. Não posso forçar a presença deles” Havia um leve desdém em suas palavras, uma crítica velada ao orgulho dos deuses gregos, mas ele suavizou a expressão rapidamente, apertando a mão dela de forma quase sufocante. “Eles virão se quiserem. Ou não. Isso não muda o que esta noite representa para nós.”

Briely franziu o cenho, a frustração crescendo em seu peito. Sabia que Morpheus era mestre em manipular com palavras, em apaziguar sem ceder. “Não é só sobre eles quererem vir,” retrucou, mantendo a voz baixa para não atrair atenção. “É sobre terem a chance.

Se a mensagem foi enviada tão tarde, como você mesmo disse que poderia ser, então talvez eles nem tenham tido tempo de se preparar. Isso não é justo.”

Ele virou o rosto para ela, os olhos escurecendo com uma intensidade que a fez tremer. O salão inteiro pareceu silenciar por um instante, como se o Sonhar respondesse ao humor sombrio de seu senhor. “Justiça,” repetiu ele, a palavra saindo como um sussurro afiado.

“Você fala de justiça no meu reino, onde eu sou a lei? Se seu pai ou qualquer outro sentir que foi desprezado, que venham até mim e reclamem.

Mas esta noite não é sobre eles. É sobre você, sobre mim, e sobre nossos filhos.” Ele aproximou o rosto do dela, os lábios quase roçando os seus enquanto falava, o tom carregado de desejo e posse. “Não deixe que isso ofusque o presente, minha amada.”

Ela sentiu o calor de sua respiração, a força avassaladora de sua presença, e por um momento quase cedeu àquela intensidade.

Mas o peso do bracelete em seu pulso, o pulsar da energia marítima contra sua pele, a lembrava de sua própria identidade. “Eu só quero que eles os conheçam e meus filhos os conheçam também” insistiu, a voz firme, mas emocionada. “Não só a sua, mas a minha também.

Morpheus a encarou por um longo momento, os olhos estreitados, como se dissecasse cada palavra. Então, um sorriso frio e enigmático curvou seus lábios. “Eles conhecerão,” respondeu, a voz agora mais suave, mas carregada de uma promessa ambígua. “Eu assegurei isso. Mas por agora, deixe isso de lado. Esta noite é de celebração, não de conflito.”

Antes que ela pudesse retrucar, um murmúrio percorreu o salão, e os dois se voltaram para a entrada principal.

Uma figura alta, envolta em vestes que pareciam feitas de espuma do mar, carregando um tridente reluzente com poder antigo, cruzou o limiar.

Poseidon. O deus do mar havia chegado, sua presença tão avassaladora quanto a de Morpheus, mas de uma natureza diferente — não onírica, mas tangível, como uma tempestade prestes a desabar. Seus olhos, encontraram os de Briely quase imediatamente, e um sorriso raro, carregado de afeto, suavizou sua expressão dura.

Ao lado dela, Morpheus enrijeceu, os dedos apertando a mão de Briely com mais força por um instante. Internamente, ele fervia com indignação.

Como ousava Poseidon aparecer, mesmo com um convite enviado em cima da hora? Ele havia calculado que o orgulho do deus do mar o impediria de comparecer a um evento tão tardiamente anunciado, mas ali estava ele, desafiando as expectativas do Senhor dos Sonhos.

Morpheus mascarou sua irritação com uma expressão neutra, mas seus olhos brilhavam com um desagrado contido enquanto observava a aproximação do deus.

Briely, por sua vez, sentiu o coração disparar, uma mistura de alívio e alegria, e deu um passo à frente, quase esquecendo a mão possessiva de Morpheus.

Ele, no entanto, não a soltou de imediato, sua relutância evidente antes de finalmente afrouxar o aperto, como se doesse deixá-la ir.

“Parece que sua preocupação era desnecessária,” murmurou, o tom carregado de uma frieza cortante que escondia um toque de desgosto. “Seu pai está aqui. Vamos recebê-lo, então.”

Juntos, eles caminharam em direção a Poseidon, o salão abrindo caminho para os dois poderes que ali se confrontavam. O deus do mar inclinou a cabeça em um cumprimento formal para Morpheus, mas seus olhos logo se voltaram para Briely, cheios de calor.

“Minha filha,” disse ele, a voz profunda ecoando como o rugido das ondas. “É uma honra estar aqui para celebrar o nascimento dos meus netos.” Então, com um leve brilho de humor nos olhos e um tom que carregava uma alfinetada sutil, ele acrescentou, dirigindo-se a Morpheus: “Devo dizer, Senhor dos Sonhos, que um convite tão... repentino é quase um teste à paciência de um deus.

Mas eu não perderia esta ocasião por nada. Meus irmãos do Panteão, no entanto, não puderam comparecer por causa do curto prazo. Mais eles enviaram presentes e mensagen.”

Morpheus esboçou um sorriso fino, os olhos estreitando-se perigosamente, mas ele não respondeu à provocação diretamente.

Em vez disso, assentiu com uma cortesia gélida. “Sua presença é... apreciada,” disse, a palavra saindo com um peso que deixava claro o quanto ele desejava que não fosse. Ele puxou a esposa um pouco mais para perto de si, o gesto sutil, mas carregado de posse, como se marcasse seu território diante do deus do mar.

Enquanto isso, Lucienne, a fiel bibliotecária do Sonhar, aproximou-se com um carrinho repleto de presentes e pequenas cartas, a expressão séria, mas com um brilho de curiosidade nos olhos.

“Milorde, minha rainha” disse ela, inclinando a cabeça para ambos. “Os presentes do Panteão Grego chegaram, assim como outros de... fontes inesperadas. Posso mostrá-los?”

Morpheus franziu o cenho, mas acenou para que ela continuasse, enquanto guiava Briely até uma mesa próxima, onde poderiam inspecionar os itens com mais privacidade.

Poseidon se afastou por um momento para observar os bebês nos berços, agora sob os cuidados atentos de Matthew. Briely abriu os pacotes com cuidado, suas mãos tremendo levemente de emoção.

De Atena, havia um pequeno elmo de bronze em miniatura, um símbolo de sabedoria, acompanhado de uma carta que parabenizava os “novos membros do Panteão” e mencionava, com um toque de humor seco, que “esperava um convite mais antecipado na próxima vez”.

Hera enviara um colar de pérolas, com uma nota afetuosa para sua sobrinha, mas com uma linha sutil de desaprovação pela “pressa do evento”.

Apolo, por sua vez, presenteou os bebês com uma lira em miniatura, sua carta cheia de poesia e uma leve sátira sobre os “sonhos que chegam tarde demais para serem vividos”.

Briely sorriu ao ler as mensagens, sentindo uma conexão, mas não pôde ignorar a tensão que emanava de Morpheus ao seu lado.

Ele pegou uma das cartas, seus dedos quase esmagando o pergaminho delicado, enquanto lia as palavras com um silêncio gélido. Cada linha parecia um insulto velado a ele, e seu olhar escureceu ainda mais quando Lucienne revelou outros presentes — não apenas do Panteão Grego, mas de outras fontes.

De seus irmãos, os Eternos, vieram presentes e mensagens que o pegaram de surpresa, já que ele deliberadamente não os convidara somente a sua irmã morte.

Morte enviara duas pequenas flores prensadas que nunca murcham, com uma nota calorosa para a cunhada, parabenizando-a pelos bebês e pela sua força e resiliência, quase como se soubesse das dificuldades que ela enfrenta.

 

Destino mandou um livro em branco, suas páginas ainda por serem preenchidas, com uma frase enigmática: “Para os caminhos que os aguardam.”

 

Delírio enviou um mobile colorido e caótico, que parecia mudar de forma a cada olhar, acompanhado de rabiscos quase ilegíveis que desejavam aos seus sobrinhos “os melhores sonhos malucos”.

 

Desespero enviou dois espelhos pequenos, opacos e frios, com uma nota de parabéns que parecia mais um lamento.

E então, de Desejo, veio um presente que fez Morpheus cerrar os dentes: um par de anéis de ouro com pedras que mudavam de cor, junto a uma carta endereçada diretamente a Briely.
“Para a mulher que capturou o coração do meu irmão, de uma forma ou de outra,” dizia a mensagem, o tom provocador e carregado de duplo sentido, uma alfinetada leve, mas afiada, que lembrava a todos os Eternos — que sabiam da história sombria do início do relacionamento de Morpheus e Briely — sem mencioná-la diretamente.

 

Morpheus amassou a carta de desejo com um gesto brusco, os olhos brilhando com uma raiva contida, antes de forçar um sorriso tenso para Briely. “Meus irmãos parecem... inusitadamente generosos,” murmurou, a voz carregada de desdém.

Entre os presentes, Briely notou algo que a fez hesitar: uma pequena caixa preta, envolta em um tecido que parecia brilhar com uma luz fria.

Quando abriu, encontrou uma estrela em miniatura, pulsando suavemente com energia, e uma nota escrita em uma caligrafia elegante: “Para os novos herdeiros do Sonhar, com os cumprimentos da Estrela da Manhã."

O nome de Lúcifer estava assinado no final. Briely ergueu os olhos para Morpheus, surpresa, mas ele apenas encarou o presente com um olhar de puro desgosto, antes de virar-se para Lucienne com uma ordem cortante. “Guarde todos esses... itens em uma sala segura. Não quero distrações esta noite.”

Lucienne assentiu, recolhendo os presentes rapidamente, enquanto Morpheus puxava Briely para mais perto, os braços envolvendo-a de forma protetora e possessiva, como se quisesse apagar qualquer influência externa sobre ela.

“Vamos aos nossos filhos,” murmurou ele, a voz baixa, quase um comando, enquanto a guidava até os berços onde Helena e Perseu descansavam, ainda sob a vigilância de Matthew.

Chegando lá, Morpheus pegou Perseu com um cuidado que contrastava com a intensidade de seus olhos, segurando o menino contra o peito como se declarasse ao mundo inteiro que ele era seu.

Briely pegou Helena, um sorriso suave iluminando seu rosto ao sentir o peso leve da filha nos braços. Juntos, eles se voltaram para o salão, e Morpheus ergueu a voz, poderosa e ressonante, para apresentar os herdeiros do Sonhar a todos os presentes.

“Meus súditos, meus sonhos, meus pesadelos... estes são Helena e Perseu, meus filhos, herdeiros de meu reino. Que todos os reconheçam e os honrem!”

O salão explodiu em murmúrios de reverência, e Briely sentiu uma onda denervosismo. Morpheus, satisfeito, guiou-a até uma das mesas próximas, sentando-se com ela enquanto ainda segurava Perseu.

Ele observava a esposa com um olhar intenso, notando a felicidade em seu rosto enquanto ela olhava para os sonhos dançando pelo salão, suas formas etéreas girando em padrões hipnóticos.

Uma faísca de ciúme brilhou em seus olhos — ele queria toda a atenção dela para si. Com um gesto, chamou Lucienne novamente, entregando Perseu a ela com um cuidado relutante, mas firme.

“Cuide deles por um momento,” ordenou, antes de se levantar e estender a mão para Briely, os olhos escuros brilhando com desejo e posse. “Venha comigo, minha amada esposa. Vamos dançar.”

Briely hesitou por um instante, mas o peso de seu olhar a puxou como uma corrente. Ela deixou Helena com Lucienne e aceitou a mão dele, sentindo o frio de seus dedos contra os seus enquanto ele a conduzia ao centro do salão.

 

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O salão principal do Sonhar vibrava com uma música etérea, um som que parecia nascer dos próprios sonhos, flutuando como névoa entre os presentes. Morpheus guiou Briely até o centro do espaço, sua mão firme na cintura dela, os dedos pressionando levemente contra o tecido fluido de seu vestido azul-marinho. O gesto, tão casual para ele, fez um murmúrio surpreso percorrer os habitantes do Sonhar. Sonhos e pesadelos, criaturas de luz e sombra, trocaram olhares incrédulos, sussurrando entre si. Até mesmo Poseidon, que observava de um canto do salão com seu tridente repousando ao lado como um cetro, ergueu uma sobrancelha, os olhos oceânicos estreitando-se em curiosidade.

Nunca, em toda a história do Sonhar, Morpheus havia dançado publicamente. Nem mesmo com Calliope, sua esposa anterior, ele se permitira tal demonstração de intimidade diante de outros. Era um ato tão fora de sua natureza fria e distante que os habitantes do reino não podiam evitar o choque. Um pesadelo de garras afiadas murmurou a um sonho de asas translúcidas: “O Senhor dos Sonhos... dançando? Será que o mundo desperto desabou?” Outro, uma figura de névoa, apenas balançou a cabeça, incapaz de processar.

Briely, alheia aos olhares por um momento, sentiu o peso da mão de Morpheus guiando-a. Ele a posicionou com precisão, uma mão firme em sua cintura, a outra segurando a dela com uma delicadeza que escondia sua força. Seus olhos, negros e insondáveis como o vazio, fixaram-se nos dela, e um leve sorriso curvou seus lábios pálidos. “Siga-me,” murmurou, a voz baixa, quase um comando, mas carregada de uma promessa.

A música os envolveu, e eles começaram a se mover. Morpheus dançava com uma graciosidade impossível, cada passo fluido, cada giro calculado, como se ele próprio fosse a personificação de um sonho elegante. Seu corpo se movia como sombra líquida, os pés mal parecendo tocar o chão polido do salão, a capa negra esvoaçando suavemente atrás dele. Briely, por outro lado, era um contraste hilário. Apesar de toda a sua herança divina, ela não tinha a mesma coordenação para algo tão... terreno quanto uma dança. Seus passos hesitavam, e não demorou muito até que seu pé encontrasse o dele pela primeira vez.

“Ah! Desculpe, desculpe!” ela exclamou, o rosto corando de vergonha enquanto tentava ajustar o ritmo, seus olhos baixando para os pés dele como se temesse que eles pudessem retaliar. “Eu não quis, juro, é que... eu sou péssima nisso!”

Morpheus apenas inclinou a cabeça, os olhos brilhando com um raro toque de diversão. “Não há dano, minha querida esposa,” disse, a voz suave, mas com um fundo de indiferença que mostrava que ele realmente não se importava. “Continue.”

Ela tentou, de verdade, mas não passou nem meio minuto antes que seu pé esbarrasse no dele novamente, dessa vez com mais força. “Ai, não, de novo!” gemeu, parando por um segundo, as mãos apertando as dele enquanto o encarava com uma mistura de horror e constrangimento. “Eu vou acabar quebrando seu pé, ou sei lá, te fazendo tropeçar na frente de todo mundo! Desculpe mesmo, eu sou um desastre!”

Ele riu — um som baixo, quase imperceptível, mas genuíno o suficiente para surpreendê-la. “Meu pé sobreviverá, meu amor. E eu não tropeço. Nunca.” Ele a puxou mais para perto, eliminando qualquer espaço entre seus corpos, o peito firme contra o dela, enquanto continuava a guiá-la. “Relaxe. Deixe-me conduzir.”

Ela bufou, ainda nervosa, mas tentou relaxar nos braços dele. A mão dele em sua cintura a mantinha firme, enquanto a outra guiava a dela com paciência infinita. Ele a girou suavemente, o movimento tão preciso que por um instante ela se sentiu elegante, parte do sonho que ele criava ao seu redor. Mas então, inevitavelmente, ela pisou nele de novo — pela terceira, ou talvez quarta vez, ela já tinha perdido a conta.

“Por favor, me diz que você não sentiu isso,” implorou, os olhos arregalados enquanto tentava não rir de si mesma. “Eu não sou tão desajeitada, mas aqui... parece que meus pés têm vida própria!”

“Eu senti,” respondeu ele, o tom seco, mas os olhos suavizando enquanto a olhava. “E ainda assim, não me importa. Você está aqui comigo. Isso é o que importa.” Ele inclinou o rosto mais para perto, a voz baixando a um sussurro possessivo. “Deixe os outros assistirem. Deixe-os verem que você é minha.”

As palavras a fizeram, o coração disparar, mas ela não teve tempo de responder. Ele continuou a dançar, os movimentos suaves e hipnóticos, mesmo enquanto ela tropeçava ocasionalmente. Cada passo dele parecia compensar os erros dela, puxando-a de volta ao ritmo, os corpos movendo-se em uma sincronia imperfeita, mas estranhamente complementar. A capa dele roçava contra o vestido dela a cada giro, e os olhares dos habitantes do Sonhar pesavam sobre eles, mas Morpheus parecia alheio a tudo, exceto a ela. Poseidon, do outro lado do salão, observava com uma expressão indecifrável, os dedos apertando o tridente enquanto via sua filha nos braços do Senhor dos Sonhos.

Quando a música finalmente desacelerou, chegando a um final melancólico, Morpheus parou, mas não a soltou. Em vez disso, inclinou-se sobre ela, uma mão subindo para segurar seu queixo enquanto a outra permanecia firme em sua cintura. Seus olhos brilharam com uma intensidade predatória, e antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, ele a beijou — um beijo feroz, possessivo, que parecia reivindicar cada parte dela diante de todos os presentes. Seus lábios eram exigentes, movendo-se contra os dela com uma fome que a fez perder o fôlego, o corpo dobrando-se ligeiramente sob a força do gesto. Ele não se importava com os olhares, com os sussurros, ou com o pai dela observando a distância. Naquele momento, o Sonhar inteiro poderia ter desmoronado, e ele ainda a teria beijado da mesma forma.

Quando finalmente se afastou, Briely estava ofegante, os lábios inchados e o rosto vermelho, os olhos marejados de surpresa e algo mais profundo. Ele a encarou, um sorriso sombrio curvando seus lábios, antes de murmurar contra sua pele. “Minha. Sempre.”

Ela engoliu em seco, ainda atordoada, enquanto os habitantes do Sonhar desviavam os olhares, alguns com constrangimento, outros com fascínio. Poseidon, no canto, soltou um grunhido baixo, quase inaudível, mas não se moveu, apenas observando enquanto o Senhor dos Sonhos marcava seu território de maneira tão descarada.

Briely, tentando recuperar a compostura, deu um passo hesitante para trás, mas a mão de Morpheus em sua cintura a manteve perto. “Vamos voltar para os nossos filhos,” sugeriu ela, a voz um pouco trêmula, mas com um toque de humor. “Antes que eu pise no seu pé de novo e estrague o resto da noite.”

Ele deu um meio-sorriso, deixando-a guiá-lo de volta ao berço ornamental onde Helena e Perseu descansavam, mas sua presença ao lado dela era uma promessa silenciosa de que a noite ainda não havia terminado.

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O salão do Sonhar ainda pulsava com a energia da festa, os ecos da música etérea misturando-se aos murmúrios dos habitantes do reino. Briely caminhava ao lado de Morpheus, os braços de ambos carregando os frutos de sua união — ele segurava Helena com um cuidado quase reverente, a pequena cabeça da bebê repousando contra seu peito, enquanto ela carregava Perseu, o peso quente do filho aconchegado contra si. Seus passos eram lentos, quase como se o momento exigisse uma pausa, uma reflexão, enquanto se aproximavam do berço ornamental onde os bebês haviam descansado mais cedo.

Morpheus lançou um olhar de soslaio para Briely, notando a sombra que cruzava seus olhos verdes como o mar. Ela parecia distante, perdida em pensamentos que ele não podia alcançar, e isso o inquietava mais do que gostaria de admitir. Briely, enquanto olhava para Perseu, sentiu uma onda de melancolia apertar seu peito. Seus dedos acariciaram suavemente os cabelos do bebê, mas sua mente estava longe, pensando no seu universo, nas pessoas que deixara para trás. *Mamãe... Sally,* pensou, o coração pesado. *Percy. Como eu queria que estivessem aqui, que pudessem conhecer Helena e Perseu. Que pudessem me ver agora, mesmo que eu mal me reconheça.*

Ela nunca imaginara que sua vida tomaria esse rumo. Ser forçada a casar com um Perpétuo, um ser de um universo tão distante do dela, era algo que jamais cruzara seus sonhos mais selvagens. Ter filhos com ele, tão jovem, ainda tentando entender quem era... e então, tornar-se uma deusa, elevada por um matrimonio que não escolhera. O peso disso tudo a esmagava em momentos como este, quando a alegria da festa era ofuscada pela saudade do que perdera.

Seu transe foi interrompido por um toque gentil e inesperado. Morpheus, ainda segurando Helena, inclinou-se e pressionou um beijo leve em sua testa, o gesto a fez congelar por um instante. Seus olhos negros a estudaram, inquisitivos, enquanto ele murmurava, “O que tanto ocupa sua mente, minha querida?”

Briely piscou, o coração acelerando com medo de que sua resposta pudesse irritá-lo. Ela sabia como ele podia ser possessivo, como qualquer menção ao seu passado ou às pessoas que deixara para trás podia acender algo sombrio nele. “Nada,” disse rapidamente, forçando um sorriso fraco enquanto ajustava Perseu no colo. “Não é nada, de verdade. Só... estou com fome. Podemos ir comer algo?”

Ele a observou por um momento, claramente não convencido, mas não insistiu. Em vez disso, assentiu, a expressão suavizando apenas o suficiente para mostrar que cederia a ela. “Venha, então,” disse, oferecendo o braço livre enquanto ainda segurava Helena com o outro. Juntos, caminharam até uma das mesas cobertas de iguarias oníricas, os habitantes do Sonhar abrindo espaço para eles com reverência.

Briely sentou-se ao lado dele, Perseu ainda em seus braços, enquanto seus olhos percorriam a mesa. Havia alimentos que só poderiam existir no Sonhar — frutas que mudavam de cor a cada mordida, bebidas que pareciam capturar estrelas líquidas. Mas algo pequeno e familiar chamou sua atenção: um prato de balinhas azuis, vibrantes como o mar que tanto amava. Um sorriso genuíno curvou seus lábios enquanto ela as pegava, lembrando-se de um jantar há muito tempo, quando ainda era apenas uma convidada no Sonhar. Naquela noite, sentada à mesa com Morpheus, ela mencionara casualmente que gostava de comidas azuis — uma peculiaridade de sua criação, um traço de sua conexão com sua mãe e com Percy.

Ela pegou algumas balinhas, colocendo uma na boca. O sabor doce e ligeiramente ácido explodiu em sua língua, trazendo um conforto inesperado. Morpheus a observava, os olhos fixos em cada movimento dela, a intensidade de seu olhar quase tangível. Ele não disse nada, mas a curva sutil de seus lábios sugeria que lembrava daquela conversa tanto quanto ela.

Briely olhou ao redor, distraindo-se momentaneamente enquanto mastigava. Viu seu pai, Poseidon, conversando com alguns habitantes do Sonhar a distância, seu tridente repousando como um símbolo imponente de sua autoridade. Outros sonhos e pesadelos circulavam pelo salão, suas formas mudando e se adaptando como a própria natureza do reino.

Depois de comer mais algumas balinhas, ela se virou para Morpheus, hesitante. “Podemos ir até meu pai?” perguntou, a voz suave, quase temendo uma recusa. “Quero passar um tempo com ele e quero que ele conheça a Helena e Perseu.”

Ele a encarou por um longo momento, claramente pouco inclinado a dividir a atenção dela com Poseidon. Mas algo em seu olhar suplicante o amoleceu, ou talvez ele simplesmente não conseguisse negar-lhe algo tão pequeno. Com um suspiro quase inaudível, ele assentiu. “Como desejar,” disse, oferecendo o braço novamente. Ele segurava Helena com o outro, enquanto Briely carregava Perseu, e juntos caminharam até onde Poseidon estava.

O deus do mar os viu se aproximar, seu rosto severo suavizando ao pousar os olhos na filha e nos netos. “minha filha,” cumprimentou, a voz grave e gentil. Ele se inclinou para olhar os bebês, um leve sorriso quebrando sua fachada rígida. “E meus pequenos Netos.”

Briely sorriu, ajustando Perseu para que ele pudesse vê-lo melhor. Poseidon estendeu o braço, convidando-a a caminhar com ele pelo salão, longe o suficiente de Morpheus para que pudessem falar em privacidade, mas ainda sob o olhar vigilante do Senhor dos Sonhos. Morpheus ficou para trás, os olhos estreitados, segurando Helena com uma tensão que não escondia seu desagrado.

Enquanto pai e filha caminhavam lado a lado, Poseidon começou a falar em grego antigo, a língua fluindo como água de seus lábios. “Os membros do nosso panteão estão... digamos, indignados com seu marido,” disse, o tom carregado de um humor ácido. “Eles não o suportam, para ser honesto. E eu, bom, não sou exatamente um fã, como você pode imaginar.”

Briely riu, o som leve e genuíno, mesmo que um pouco amargo. “Bem feito para ele,” respondeu, também em grego, lançando um olhar rápido para Morpheus, que os observava como um falcão. “Ele não faz questão de ser querido, não é?”

Poseidon bufou, uma risada curta. “Não, de fato. Mas você, minha filha, eles adoram. Todos nós. Esperávamos ter mais tempo com você, antes que tudo... mudasse.” Havia uma tristeza em sua voz, um peso que ecoava o que ela própria sentia.

Ela baixou os olhos, a melancolia voltando por um instante. “Eu queria que isso tivesse acontecido,” murmurou, apertando Perseu contra si. “Se ao menos eu tivesse aceitado sua proposta, de ir morar com você em Atlântida quando perguntou... Talvez tudo fosse diferente.”

Poseidon parou de andar por um momento, voltando-se para ela. Seus olhos, profundos como o abismo do oceano, carregavam uma dor antiga. “Eu me lembro daquele jantar, quando a conheci. O jeito que ele te olhava, como se já tivesse decidido que você era dele. Eu não deveria ter te deixado com ele, Briely. Deveria ter lutado mais.”

Ela balançou a cabeça, um sorriso triste nos lábios. “Não tinha como, pai. Independente do que acontecesse naquele dia, Morpheus nunca me deixaria em paz. Ele daria um jeito de conseguir o que queria. Ninguém poderia impedi-lo. Nem você, nem o panteão inteiro.”

Poseidon grunhiu, claramente insatisfeito, mas não refutou suas palavras. Ele sabia, no fundo, que ela estava certa. O Senhor dos Sonhos era uma força além até mesmo dos deuses do Olimpo, um ser de um universo que não se curvava às leis deles. Ele segurou o braço dela com mais força, como se pudesse protegê-la agora, mesmo que tarde demais, e continuaram a caminhar, os bebê entre eles como um lembrete agridoce do que fora perdido e do que ainda poderiam construir.

A distância, Morpheus os observava, os dedos apertando levemente ao redor de Helena. Ele não podia ouvir o que diziam, mas o jeito como Poseidon segurava o braço dela, como ela ria com ele, acendia algo sombrio em seu peito. Ainda assim, permaneceu onde estava, no salão iluminado, esperando o momento em que ela voltaria para ele — porque ela sempre voltaria. Ele garantiria isso.

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Poseidon guiou Briely de volta pelo salão do Sonhar, os passos firmes, mas carregados de uma relutância silenciosa. Ele sentia o peso do olhar de Morpheus sobre eles, como uma sombra fria que parecia perfurar a distância. Antes de se separarem, ele se inclinou para a filha, a voz baixa e carregada de afeto em grego antigo. “Se decidir me visitar, ou se precisar escapar por um tempo das portas do Sonhar, saiba que sempre terá um lugar comigo. Eu a acolheria, e aos pequenos, sem hesitar.” Ele fez uma pausa, um brilho astuto nos olhos. “Tenho uma casa no mundo desperto, uma bela residência à beira do mar. Quero dá-la a você, como presente. Um refúgio, se precisar respirar fora deste reino.”

Ela sorriu, o humor do pai aliviando um pouco da tensão que carregava no peito. “Obrigada, pai. Isso significa muito,” respondeu, também em grego, o tom suavizado por uma genuína gratidão.

Poseidon riu baixo, o som ressoando como ondas suaves. “Agora, acho melhor voltarmos antes que seu marido me mate com os olhos. Ele tem me fuzilado desde que começamos a conversar.” Ele lançou um olhar rápido para Morpheus, cujos olhos negros pareciam de fato carregados de uma intensidade mortal.

Briely assentiu, rindo de leve enquanto caminhava ao lado do pai de volta até onde Morpheus aguardava. Ele estava de pé como uma estátua de obsidiana, segurando Helena nos braços com uma rigidez que traía sua impaciência. Poseidon se aproximou com um sorriso diplomático, mas os olhos brilharam com um toque de provocação. “Posso segurar meus pequenos netos por um momento?” perguntou, estendendo os braços.

Briely sorriu, feliz com o pedido, e entregou Perseu ao pai com cuidado. Ela olhou para Helena, ainda nos braços de Morpheus, e percebeu a careta quase imperceptível que cruzou o rosto dele, um leve franzir de sobrancelhas que não passou despercebido por ela. Com um gesto gentil, ela pegou a filha dos braços do marido e a entregou a Poseidon, que pareceu radiante ao segurar os dois bebês, murmurando algo carinhoso em grego para eles.

Ela se virou para Morpheus, a voz suave, mas firme. “Deixe-os um pouco a sós com meu pai. Só um momento.”

Ele a encarou, claramente pouco satisfeito com a ideia, mas depois de um instante de silêncio, assentiu. “Tudo bem,” disse, o tom baixo, quase relutante, mas cedendo a ela como sempre acabava fazendo.

Briely tomou a iniciativa, pegando a mão dele e o puxando gentilmente para longe, em direção a uma das mesas carregadas de doces. Enquanto caminhavam, Morpheus fez um gesto sutil com a cabeça, e Matthew, seu fiel corvo, pousou discretamente perto de Poseidon, os olhos atentos do pássaro fixos no deus do mar. Briely percebeu o movimento e não pôde evitar um sorriso divertido. “Sério? Mandando Matthew vigiar meu pai?” perguntou, levantando uma sobrancelha.

“Precaução nunca é demais,” respondeu ele, o tom seco, mas com um brilho de humor sombrio nos olhos.

Chegando à mesa, Briely se deixou levar pela tentação dos doces, pegando pequenos bolos, trufas e pedaços de chocolate que pareciam brilhar com um toque de magia. Ela comia com uma felicidade quase infantil, esquecendo por um momento as tensões do salão. Morpheus a observava, os olhos fixos em seus movimentos, a intensidade de seu olhar quase tangível. Em um gesto inesperado, ele estendeu a mão, o polegar roçando os lábios dela para limpar um traço de chocolate derretido. Sem desviar os olhos dos dela, ele levou o dedo à própria boca, provando o doce com uma lentidão deliberada.

Antes que ela pudesse reagir, ele se inclinou e a beijou, os lábios firmes contra os dela, o gosto do chocolate misturando-se ao calor de sua boca. O beijo era profundo, possessivo, como se ele estivesse reivindicando não apenas ela, mas até mesmo o sabor que ainda permanecia em sua língua. Quando se afastou, os olhos negros brilharam com algo que era tanto desejo quanto satisfação. “Os bebês receberam muitos presentes hoje,” murmurou, a voz baixa, quase um sussurro. “Até de quem não foi convidado.”

Ela piscou, ainda um pouco atordoada pelo beijo, mas conseguiu sorrir. “Quem não foi convidado conseguiu mandar presentes? Como?” perguntou, curiosa, enquanto pegava mais um pedaço de chocolate.

Ele deu um meio-sorriso, misterioso como sempre. “O Sonhar tem suas maneiras de receber mensagens, mesmo de reinos distantes. Digamos que Helena e Perseu já têm admiradores em lugares que você nem imagina.”

Briely riu suavemente, balançando a cabeça enquanto mordia outro doce. Por um instante, ali, com o sabor do chocolate na boca e o calor do olhar de Morpheus sobre ela, as tensões do dia pareceram se dissipar. •°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°••°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

Enquanto Briely mordiscava outro doce, o sabor açucarado ainda dançando em sua língua, Morpheus inclinou-se ligeiramente para ela, a voz baixa e firme. “Terminaremos a comemoração em breve,” disse, os olhos negros fixos nos dela, não deixando espaço para objeções.

Ela não discutiu, apenas assentiu, sentindo o peso de sua autoridade no tom dele. Enquanto mastigava, ele se aproximou mais, a presença dele como uma sombra inevitável. “O que você e Poseidon conversaram há pouco?” perguntou, a voz carregada de uma curiosidade cortante.

Briely hesitou, sentindo o olhar dele perfurar suas defesas. “Não foi nada de mais,” respondeu, tentando soar casual enquanto engolia o doce. “Só ele dizendo que está feliz com os netos.”

Ele estreitou os olhos, o rosto pálido endurecendo com uma desconfiança evidente. Ele sabia que ela estava mentindo, e não fez questão de esconder isso. Inclinando-se até que seus lábios roçassem a concha de sua orelha, ele sussurrou, “Conversaremos sobre isso mais tarde, minha querida.”

Um arrepio frio desceu por sua espinha ao ouvir o tom sombrio e promissor na voz dele. Ela sabia exatamente que tipo de “conversa” seria — não uma troca de palavras, mas algo muito mais íntimo e controlador. Tentando ganhar algum terreno, ela murmurou, o tom nervoso, “Eu dei à luz há poucos dias, você sabe...”

Ele não se moveu, mas a mão dele encontrou sua cintura, puxando-a para mais perto com uma força possessiva que a fez prender o fôlego. “Está tudo bem,” disse, o rosto muito perto do dela, os lábios roçando sua pele enquanto falava. “Você não tem mais um corpo humano, lembra? Não precisa mais se preocupar com essas limitações.” Ele fez uma pausa, a voz baixando ainda mais, quase um ronronar. “Mal posso esperar para dar mais irmãos aos nossos filhos.”

O coração dela disparou, um misto de choque e medo apertando seu peito. “Não quero mais filhos,” deixou escapar, a voz trêmula, os olhos arregalados enquanto o encarava. “Não agora, por favor.”

Ele apenas sorriu, um sorriso pequeno e perigoso, enquanto a mão em sua cintura apertava ligeiramente. “Não se preocupe com isso ainda,” murmurou, o tom carregado de uma certeza que a fez sentir um nó no estômago.

Antes que pudesse responder, a voz grave de Poseidon cortou o momento como uma onda quebrando na costa. “filha, os pequenos estão um pouco agitados. Estão começando a chorar,” disse, aproximando-se com Helena e Perseu nos braços, os rostinhos deles contorcidos em desconforto.

Ela se levantou rapidamente, o alívio misturado ao temor ainda pulsando em suas veias. “Eu vou alimentá-los,” falou, pegando os bebês com um cuidado gentil, mas apressado, como se precisasse de algo para se ancorar. Olhou para Morpheus por um momento, depois para o pai. “Vou me despedir aqui, pai. Preciso descansar um pouco.”

Poseidon assentiu, os olhos cheios de preocupação, mas não disse mais nada. Ele apenas tocou a testa dela com um gesto afetuoso antes de se afastar. Morpheus, sem perder tempo, sinalizou para Lucienne, que estava por perto. “Encerrar a festa,” ordenou, a voz cortante. A bibliotecária assentiu, movendo-se para organizar o fim da celebração.

Ele então guiou Briely para fora do salão, a mão firme em suas costas enquanto caminhavam pelos corredores oníricos até o quarto deles. Os bebês ainda choramingavam, os sons ecoando no silêncio do caminho. Ela tentava acalmá-los, murmurando docemente enquanto os ninava contra si, mas sua mente estava em turbilhão.

Ao chegar ao quarto, a escuridão aconchegante os envolveu. Briely removeu o vestido um pouco com um movimento rápido, e se sentou na cama ampla, o torso nu enquanto preparava os seios para amamentar. Morpheus ficou ao lado dela, os olhos fixos em seu corpo com uma intensidade. Ele se aproximou, pegando Perseu e ajudando-a a posicionar Helena em um dos seios. Então, com uma lentidão deliberada, ele roçou os dedos no outro seio, o toque quente contra a pele sensível, antes de guiar Perseu para mamar ali.

“Estão ainda maiores do que durante a gravidez,” comentou, a voz baixa, um pequeno sorriso curvando seus lábios enquanto a encarava.

Ela desviou o olhar, o rosto queimando sob a atenção dele. “Sim, eu acho que sim,” murmurou, focando nos bebês para evitar o peso daquele olhar.

Ele não disse mais nada, apenas se levantou e caminhou até o closet, deixando-a sozinha com os filhos. Enquanto os bebês mamavam, o silêncio do quarto a envolveu, e um pânico silencioso começou a crescer em sua mente. Ela olhou para Helena e Perseu, os rostinhos calmos agora que estavam sendo alimentados, e sentiu um aperto no peito. *Ele quer mais filhos,* pensou, o medo rastejando como uma sombra. *E eu não posso lutar contra ele. Não posso fugir. Se ele decidir que quer isso, ele pode me engravidar de novo, querendo eu ou não.*

Seus dedos tremblaram levemente enquanto acariciava a cabeça de Perseu, os pensamentos girando em um ciclo de impotência. O Sonhar era o domínio dele, e ela, mesmo sendo uma deusa agora, ainda era uma prisioneira de sua vontade. O peso disso a esmagava, mesmo enquanto segurava os filhos nos braços, sabendo que Morpheus sempre conseguiria o que queria, independente de seus desejos.

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Após amamentar Helena e Perseu, Briely sentiu o alívio de vê-los finalmente adormecerem, os pequenos corpos relaxando em seus braços. Com cuidado, ela os colocou no berço ornamentado ao lado da cama, ajustando os cobertores delicados que brilhavam com um toque de magia do Sonhar. Seu corpo ainda estava tenso, a mente girando com os eventos do dia e as palavras de Morpheus ecoando como um presságio sombrio. Antes que pudesse se recompor, e ele retornou, segurando um robe negro de tecido fino, quase translúcido, que parecia absorver a escuridão do ambiente.

“Para você,” disse, a voz grave, estendendo o tecido com um olhar que prometia mais do que apenas descanso.

Ela pegou o robe, os dedos tremendo levemente, e murmurou um agradecimento baixo antes de se dirigir ao banheiro anexo ao quarto. Precisava de um momento sozinha, de água quente para lavar não só o corpo, mas também os pensamentos que a atormentavam. Despiu-se completamente, deixando o vestido anterior no chão, e entrou na banheira ampla, o vapor subindo ao seu redor enquanto a água morna a envolvia. Fechou os olhos por um instante, tentando encontrar paz, mas o som da porta se abrindo novamente a fez congelar.

Morpheus entrou, os olhos negros fixos nela como um predador que encontrou sua presa. Ele não pediu permissão, não hesitou. Caminhou diretamente até a banheira, o tecido de sua roupa escura roçando as bordas enquanto se ajoelhava ao lado dela. Antes que pudesse reagir, ele inclinou-se e capturou seus lábios em um beijo feroz, os lábios frios contrastando com o calor da água e de sua pele.

“Não,” ela tentou dizer, a voz fraca, empurrando-o com as mãos molhadas, tentando se afastar. “Eu só quero descansar.”

Ele não a deixou escapar. Seus braços a envolveram, segurando-a firmemente contra a borda da banheira, o corpo dele bloqueando qualquer tentativa de distância. “Shhh,” sussurrou contra sua boca, antes de beijá-la novamente, mais fundo, a língua invadindo sem piedade, dominando cada tentativa de resistência. Sua mão livre deslizou pela pele escorregadia dela sob a água, traçando um caminho lento e provocador ao longo de sua coxa, os dedos roçando a pele sensível até alcançarem sua vagina. O toque era deliberado, possessivo, enquanto ele acariciava a entrada com uma suavidade cruel que contrastava com a força de seu aperto.

Ela se contorceu, o corpo reagindo mesmo contra sua vontade, um gemido baixo escapando enquanto tentava se concentrar. “Por favor, eu só quero descansar,” implorou, ofegante, mas suas palavras eram engolidas pelo sorriso sombrio que curvava os lábios dele.

“Você não precisa de descanso como os humanos,” murmurou, a voz como um ronronar sombrio no ouvido dela, enquanto dois de seus dedos longos e frios deslizavam dentro dela com uma precisão implacável. Ela arqueou contra a borda da banheira, um gemido forçado saindo de sua garganta enquanto ele começava a movê-los, explorando-a sem hesitação, o ritmo firme e profundo. “Você é minha, em todos os sentidos.”

Ela tentou dizer não novamente, a palavra saindo como um sussurro frágil, mas o prazer que ele arrancava dela a deixava tonta, as sensações misturando-se com o medo e a impotência. Ele inclinou a cabeça, capturando um de seus seios na boca, a língua circulando o mamilo sensível antes de sugar, o sabor doce do leite materno enchendo sua boca. Ele gemeu baixo, o som quase animalesco. “Uma iguaria,” disse, levantando o olhar para ela, os olhos brilhando com algo entre desejo e obsessão. “Doce.”

“Morpheus,” ela gemeu o nome dele, o corpo tremendo enquanto os dedos dele continuavam seu ataque implacável, agora adicionando um terceiro, esticando-a ainda mais, o ritmo acelerando até que sua mente girasse de prazer e confusão.

“Chame-me de marido,” ordenou, a voz rouca contra sua pele, os dedos movendo-se mais rápido, mais fundo, enquanto o polegar encontrava seu clitóris, pressionando e circulando até que ela não pudesse mais lutar contra a onda que se construía dentro dela. Ela gritou, o corpo convulsionando enquanto gozava, o prazer a cegando por um momento, a mente nublada enquanto se agarrava à borda da banheira.

Mal teve tempo de notar quando ele a ergueu da água, os braços fortes a puxando para o colo dele. Só percebeu quando os dedos dele deixaram sua vagina, o vazio momentâneo a fazendo ofegar, até que sentiu algo mais quente, mais duro, pressionando contra sua entrada. O pau dele, já livre da roupa, cutucava sua carne sensível, a promessa de mais fazendo seu coração disparar de novo. Ela estava ofegante, o corpo ainda tremendo do orgasmo, quando ele a segurou pela cintura com uma mão e agarrou sua bunda com a outra, encaixando-a sobre ele com uma determinação brutal.

Ela o sentiu por inteiro de uma só vez, o tamanho dele a preenchendo de forma avassaladora, um gemido alto escapando enquanto suas unhas arranhavam as escápulas dele, marcando a pele pálida com linhas vermelhas. Ele grunhiu, os olhos escurecendo ainda mais com o prazer da dor que ela infligia. “Hoje você vai me cavalgar,” disse, a voz carregada de comando enquanto se recostava contra a borda da banheira, as mãos firmes em sua cintura, movendo-a para cima e para baixo sobre ele, o ritmo implacável desde o início.

“Mova-se, minha querida,” murmurou no ouvido dela, os lábios roçando sua orelha antes de descerem para morder levemente o lobo. “Quero sentir você me apertando, me engolindo inteiro. Você é minha, e vai me dar tudo o que eu quiser.” As palavras sujas, ditas em um tom baixo e sedutor, a faziam corar e tremer, o corpo obedecendo mesmo que sua mente gritasse por controle. Ele a movia com força, cada estocada profunda e possessiva, os sons de pele contra pele misturando-se ao splash da água que transbordava da banheira.

Horas pareceram se passar, o ritmo nunca diminuindo, o prazer e a exaustão se misturando até que ela perdesse a noção de tempo. Ele gozou dentro dela várias vezes, mais do que ela podia contar, o calor de cada liberação a preenchendo até que sentisse que não poderia conter mais nada. Mas ele não parou. A levantou da banheira, a água escorrendo de seus corpos enquanto a levava para outros cantos do banheiro, tomando-a em posições que a deixavam ainda mais vulnerável à sua vontade.

Primeiro, ele a pressionou contra o balcão de mármore frio, as costas dela arqueadas enquanto ele a penetrava por trás, uma mão segurando seus quadris e a outra puxando seus cabelos molhados, inclinando sua cabeça para trás para que pudesse beijar e morder seu pescoço. “Olhe para si mesma,” ordenou, apontando para o espelho embaçado à frente, onde ela mal conseguia distinguir seu reflexo ofegante e submetido. “Veja como você é perfeita para mim.” Cada estocada era punitiva, o corpo dele colado ao dela, os gemidos dela ecoando no espaço fechado.

Depois, ele a levantou contra a parede do chuveiro, as pernas dela envolvendo sua cintura enquanto ele a segurava como se ela não pesasse nada, movendo-se dentro dela com uma força que fazia os azulejos tremerem sob suas costas. A água morna ainda caía sobre eles, misturando-se ao suor e ao calor de seus corpos, enquanto ele sussurrava mais obscenidades contra sua pele. “Você vai me dar mais filhos,” dizia, a voz rouca de desejo. “Seu corpo foi feito para isso, para mim. Sinta como você me quer, como você se aperta ao meu redor.”

Por fim, de volta à banheira, ele a colocou de bruços sobre a borda, metade de seu corpo ainda na água enquanto ele se posicionava atrás dela, segurando seus pulsos acima de sua cabeça com uma mão enquanto a outra guiava seu pau de volta para dentro dela. O ângulo era devastador, cada movimento acertando pontos que a faziam gritar seu nome, o prazer beirando a dor enquanto ele a tomava sem pausa, sem piedade. “Você é minha rainha,” grunhiu, os dentes roçando sua nuca. “E este reino será preenchido com nossa linhagem, quer você queira ou não.”

Quando finalmente pararam, ela estava exausta, o corpo mole e trêmulo, sentindo-se cheia de uma forma que era tanto física quanto emocionalmente esmagadora. Enquanto ele a segurava contra a parede do banheiro, beijando-a com uma fome que parecia nunca saciar, ela viu pequenas linhas brancas de sêmen escorrendo por suas pernas, misturando-se à água que ainda pingava de sua pele. O contraste contra sua pele a fez sentir algo entre vergonha e rendição, sua respiração irregular enquanto tentava se ancorar em algo além da presença esmagadora dele.

Com um cuidado surpreendente depois de tanta intensidade, ele a banhou, as mãos agora gentis enquanto limpavam sua pele, retirando os vestígios de sua união. Ele pegou o robe negro que trouxera mais cedo, envolvendo-a no tecido macio. Então, sem dizer uma palavra, ele a levantou no colo, os braços fortes a segurando como se ela fosse uma criança, e a levou de volta ao quarto.

Colocou-a na cama ampla, o colchão afundando sob seu peso enquanto a deitava com cuidado. Ele se juntou a ela, puxando-a contra seu peito, o calor de sua pele contrastando com a frieza de sua essência. Ela estava exausta demais para lutar, para pensar, e enquanto o sono a reivindicava, a última coisa que sentiu foi o batimento constante do coração dele sob sua cabeça, um lembrete de que, no Sonhar, ela nunca estaria verdadeiramente livre de sua vontade.

A escuridão do quarto os envolveu como um manto, e mesmo em seus sonhos, ela sentia o peso da presença dele, uma sombra que a perseguia até nos recantos mais profundos de sua mente. O futuro que ele queria para ela — mais filhos, mais laços — pairava como uma ameaça inevitável, e mesmo enquanto dormia, seu corpo ainda tremia com os ecos do que haviam feito, um lembrete cruel de que, no reino de Morpheus, o desejo dele sempre prevaleceria.

Chapter 17

Notes:

(See the end of the chapter for notes.)

Chapter Text

Ela acordou com o corpo meio dolorido, cada músculo reclamando da intensidade da noite anterior. Sua cabeça repousava no peito de Morpheus, o calor da pele dele contrastando com a frieza de sua essência.

O batimento constante do coração dele sob seu ouvido era quase hipnótico, mas a sensação de desconforto a fez se mexer, tentando se soltar dos braços que a envolviam como uma prisão de ferro.

Ele a segurou com mais força, os braços apertando ao redor dela antes que pudesse se afastar. Os olhos negros se abriram, fixando-se nos dela com uma intensidade que a fez engolir em seco. "Onde vai?" perguntou, a voz grave ecoando no quarto escuro.

"Quero ver os nossos filhos... e me trocar," respondeu ela, a voz rouca, tentando manter um tom firme apesar da exaustão que pesava em cada palavra.

Um sorriso lento curvou os lábios dele enquanto ele se inclinava, capturando a boca dela num beijo que começou suave, mas logo se aprofundou, a língua invadindo sem hesitação, explorando-a com uma fome que parecia nunca se saciar.

Antes que ela pudesse reagir, ele rolou sobre ela, o peso do corpo dele a prendendo contra o colchão macio, o movimento fazendo-a ofegar.

Ofegante, ela conseguiu desviar o rosto, interrompendo o beijo. Rapidamente, enterrou a cabeça no peito dele, abraçando-o com força, os dedos apertando as costas pálidas.

"Não faça isso... os bebês estão no berço, aqui no quarto," murmurou, a voz trêmula, tentando encontrar qualquer desculpa para deter o avanço dele.

Ele a puxou com facilidade, os dois agora sentados na cama, com ela ainda o abraçando, o corpo dela colado ao dele.

Uma das mãos dele deslizou para os cabelos dela, acariciando as mechas com um toque quase terno, enquanto a outra repousava em sua cintura. "Antes de você acordar, levei os pequenos para o quarto que preparei para eles," disse, a voz baixa, carregada de uma calma perigosa. "Designuei Matthew para vigiá-los enquanto dormem."

Ela ergueu a cabeça do peito dele, os olhos buscando o berço vazio ao lado da cama, a ausência dos filhos confirmando as palavras dele. Ele inclinou a cabeça, o olhar fixo nela com um brilho possessivo. "Este quarto é todo nosso agora," murmurou, os lábios roçando a têmpora dela.

"Estou dolorida... da noite passada," confessou ela, a voz quase um sussurro, na esperança de que isso o fizesse recuar, de que pudesse ter um momento de respiro.

"Então serei gentil," respondeu ele, a voz rouca, mas carregada de uma promessa suave. Ele inclinou a cabeça, depositando beijos leves e delicados ao longo do pescoço dela, cada toque enviando pequenos choques de calor por sua pele.

Com cuidado, ele a deitou de volta na cama, o corpo dele pairando sobre o dela, mas sem o peso opressivo de antes. Suas mãos a acariciavam suavemente, deslizando pelos ombros, descendo pelos braços e voltando para os quadris, os dedos traçando padrões leves que faziam sua pele arder com uma sensibilidade agridoce.

Desta vez, ela não tentou negá-lo, o medo de que ele voltasse atrás em sua palavra de gentileza a mantendo quieta, o corpo tenso, mas submisso sob o toque dele.

Ele sorriu contra a pele dela, notando a rendição silenciosa, e seus dedos desceram mais, encontrando a umidade entre suas pernas.

Com movimentos lentos e deliberados, ele os deslizou dentro dela, apenas dois a princípio, explorando-a com uma suavidade que contrastava com a intensidade da noite anterior.

Ela não pôde conter o gemido baixo que escapou de seus lábios, o corpo reagindo mesmo enquanto a dor ainda ecoava sob o prazer. "Isso mesmo," murmurou ele, a boca ainda roçando seu pescoço enquanto os dedos se moviam em um ritmo constante, entrando e saindo com uma paciência que a deixava à beira da sanidade. "Deixe-me ouvir você."

Ele ergueu a cabeça, capturando a boca dela em um beijo profundo, a língua dançando com a dela enquanto seus dedos aceleravam apenas o suficiente para fazê-la se contorcer de prazer sob ele.

Ela gemeu contra os lábios dele, o som abafado pelo beijo, e sussurrou o nome dele entre arfadas, "Morpheus..." O som parecia alimentá-lo, seus movimentos tornando-se um pouco mais firmes, mas ainda controlados, os dedos curvando-se dentro dela para acertar aquele ponto que a fazia tremer.

Ela gozou nos dedos dele com um grito abafado, o corpo arqueando contra a cama enquanto ondas de prazer a atravessavam, deixando-a ofegante e trêmula. Ele retirou os dedos lentamente, os olhos fixos nos dela com um brilho de posse, e os levou à boca, lambendo-os com um prazer evidente.

Ela corou, o rosto quente sob o olhar predatório dele, enquanto ele saboreava o gosto dela. "Divino," disse ele, a voz grave, um sorriso sombrio curvando seus lábios. "Seu sabor é sempre divino."

Sem desviar o olhar, ele alcançou o robe negro que a cobria, desatando o tecido com dedos ágeis e puxando-o para longe, deixando-a completamente nua sob ele.

O ar fresco do quarto roçou sua pele sensível, fazendo-a estremecer enquanto ele se livrava de sua própria roupa escura, o tecido caindo ao lado da cama, revelando a dureza de seu desejo. Ele se posicionou entre as pernas dela, o pau já pulsando contra a entrada dela, quente e insistente. "Vou devagar," prometeu, a voz baixa enquanto se inclinava para beijar a clavícula dela, e então começou a entrar, centímetro por centímetro, o estiramento lento e deliberado fazendo-a ofegar.

Ele estocava suavemente, cada movimento controlado, mas profundo, preenchendo-a de uma forma que misturava prazer e uma doce dor residual. Lágrimas de prazer escorreram pelos cantos dos olhos dela, o corpo sobrecarregado pela intensidade lenta, enquanto ela entrelaçava as pernas ao redor da cintura dele, puxando-o mais para perto instintivamente.

Seus braços subiram, envolvendo o pescoço dele, os dedos se perdendo nos cabelos escuros enquanto, surpreendentemente, ela tomava a iniciativa e o beijava, os lábios buscando os dele com uma urgência que não conseguia conter.

Ele hesitou por uma fração de segundo, os olhos piscando com surpresa diante da ação dela, mas logo um sorriso mental curvou sua mente, uma satisfação sombria tomando conta dele.

Ele segurou a nuca dela com uma mão, os dedos firmes enquanto aprofundava o beijo, a língua reclamando cada canto da boca dela com uma possessividade que a fez gemer.

Ele continuava a estocá-la lentamente, os quadris movendo-se em um ritmo que era quase torturante de tão preciso, cada investida fazendo-a sentir cada detalhe dele dentro dela.

Ela gemeu no ouvido dele, a cabeça caindo contra o ombro dele enquanto o prazer a deixava tonta, a mente girando com a sensação. "Marido..." sussurrou, a palavra escapando entre gemidos, carregada de rendição e êxtase.

O som pareceu acender algo nele, os olhos escurecendo ainda mais enquanto ele mantinha o ritmo, o corpo dela tremendo sob ele.

Ela gozou novamente, o orgasmo a atingindo como uma onda, seu interior apertando ao redor dele, extraindo um grunhido baixo da garganta dele. Mas ele não parou, as estocadas ainda lentas, mas agora mais profundas, prolongando a sensação para ela. "Não consigo mais," murmurou ela, a voz fraca, os olhos marejados de tanto prazer, a boca entreaberta enquanto um fio de saliva escorria pelo canto dos lábios, o corpo mole sob ele.

"Você aguenta mais um," disse ele, a voz rouca, inclinando-se para lamber a lágrima que rolava pelo rosto dela. "Vamos gozar juntos. Só mais um pouco, minha querida. Aguente para mim." Ele segurou os quadris dela com mais firmeza, mas sem perder a gentileza prometida, os movimentos agora um pouco mais rápidos, o som de pele contra pele enchendo o quarto enquanto ele se aproximava do limite.

"Estou vindo," grunhiu, os dentes cerrados enquanto o prazer o tomava, e ele gozou dentro dela, o calor de sua liberação a preenchendo enquanto ela o seguia, o corpo convulsionando com um último orgasmo que a deixou ofegante, os gemidos ecoando no silêncio do quarto.

Ela suspirou, o corpo exausto, enquanto ele a puxava para cima de seu peito, ainda dentro dela, o calor de seus corpos misturando-se enquanto ele a segurava contra si.

Uma das mãos dele deslizou para a bochecha dela, o toque surpreendentemente gentil enquanto ele a olhava, os olhos negros brilhando com algo que parecia amor, ou pelo menos a versão dele disso. "Você foi perfeita," murmurou, a voz carregada de satisfação enquanto se inclinava para depositar um beijo suave na testa dela, o gesto contrastando com a intensidade de momentos antes.

Ela não respondeu, apenas fechou os olhos, a respiração irregular enquanto tentava se ancorar na sensação do peito dele subindo e descendo sob sua cabeça.

 

•*´¨`*•.¸¸.•*´¨`*•.¸¸.•*´¨`*•.¸¸.•*•*´¨`*•.¸¸.•*´¨`*•.¸¸.•*´¨`*•.¸¸.•*

Após alguns minutos de silêncio, o quarto permanecia envolto em uma quietude densa, apenas o som da respiração dela, ainda irregular, quebrava o vazio.

Deitada sobre o peito de Morpheus, ela sentia o calor da pele dele contra sua bochecha, o batimento constante de seu coração como uma âncora em meio à exaustão que pesava sobre seu corpo.

Ele a segurava com firmeza, os braços ao redor dela como uma jaula invisível, mas havia um certo conforto naquela prisão, um paradoxo que ela não conseguia — ou não queria — decifrar.

Ele quebrou o silêncio primeiro, a voz grave ecoando suavemente no espaço escuro. “Quer ficar deitada mais um pouco?” perguntou, os dedos deslizando preguiçosamente pelas costas dela, traçando padrões que enviavam pequenos arrepios por sua pele sensível.

Ela assentiu, o movimento quase imperceptível contra o peito dele, e murmurou um “Sim” fraco, a voz carregada de cansaço.

Seus olhos já pesavam, as pálpebras lutando para não se fecharem completamente, mas a presença dele, tão imponente e inescapável, a mantinha em um estado de semi-alerta, mesmo na exaustão.

Morpheus inclinou a cabeça, os lábios curvando-se em um leve sorriso, embora seus olhos negros permanecessem insondáveis, como poços infinitos de escuridão. “Então durma mais um pouco,” disse ele, a voz um comando disfarçado de sugestão. Com um movimento fluido, ele puxou o lençol negro sobre os dois, o tecido macio roçando a pele nua dela enquanto ele a guiava para deitar de lado.

Eles ficaram frente a frente, os rostos a poucos centímetros de distância, o olhar dele fixo no dela com uma intensidade que a fez engolir em seco, mesmo sem forças para reagir.

Ele a puxou mais para perto, até que suas testas se tocassem, a pele fria dele contrastando com o calor febril que ainda queimava nas bochechas dela.

Seus braços a envolveram completamente, os dedos apertando levemente suas costas, como se temesse que ela pudesse escapar, mesmo naquele momento de vulnerabilidade total. “Durma,” sussurrou ele novamente, o tom baixo e hipnótico, quase como se estivesse moldando a própria essência do sono ao redor dela.

Ela não resistiu. Seus olhos se fecharam, o corpo finalmente cedendo ao peso do cansaço, a respiração ficando mais lenta e profunda enquanto mergulhava no sono.

Morpheus a observou por alguns instantes, o rosto impassível, mas os olhos brilhando com algo sombrio, algo que misturava posse e uma obsessão que parecia crescer a cada segundo que passava.

Ele esperou até ter certeza de que ela estava completamente adormecida, seu corpo relaxado contra o dele, antes de se mover.

Como o Senhor dos Sonhos, ele não precisava de esforço para entrar no reino etéreo que era sua verdadeira casa. Sua consciência deslizou para dentro do sonho dela com a facilidade de uma sombra atravessando a luz, seus sentidos se ajustando imediatamente ao cenário que se desdobrava diante dele.

Ele viu onde ela estava antes mesmo de compreender completamente o que via: Nova York, ou pelo menos uma versão onírica da cidade, pulsante com energia e caos controlado. As ruas estavam cheias de sons, de vozes e risadas, e ele a viu — sua esposa, sua amada, caminhando com um sorriso que ele não via há tanto tempo, um sorriso de liberdade, de uma leveza que ela não exibia no Sonhar, não ao lado dele.

A visão fez algo apertar dentro dele, uma sensação que ele não nomearia, mas que queimava como ácido em sua essência.

Ao lado dela, havia um homem que era quase um reflexo dela mesma, os mesmos traços, os mesmos olhos, mas com uma energia mais selvagem, mais indomada. Morpheus soube de imediato quem era: Percy, o irmão gêmeo dela, alguém que ela mencionara tantas vezes com um tom de saudade que o irritava profundamente.

A mulher que os acompanhava, de olhar afetuoso e gestos protetores, ele também reconheceu pelas descrições que ela fizera — a mãe mortal dela, que parecia ter um lugar permanente na mente e no coração de sua esposa.

Havia outros ao redor, um rapaz de aparência desleixada com cabelos desgrenhados e uma jovem de olhos penetrantes e postura determinada — figuras que ele não conhecia, mas que claramente significavam algo para ela, amigos ou aliados de um passado que ele não controlava.

Ele os observou com desdém, sua presença ali já o incomodando, mas o que fez sua raiva explodir, uma fúria visceral que distorceu até mesmo o tecido do sonho ao seu redor, foi o jovem ao lado dela.

Ele segura a mão dela com uma familiaridade que fez os olhos de Morpheus escurecerem como uma tempestade. Alto, de cabelos loiros bagunçados e um sorriso confiante, quase arrogante, o rapaz olhava para ela com algo que Morpheus reconheceu imediatamente: desejo, admiração, talvez até amor. E ela... ela retribuía aquele olhar, os dedos entrelaçados com os dele, o corpo relaxado, como se estar ao lado daquele mortal fosse o lugar mais natural do mundo.

O nome daquele homem bateu em sua mente como um trovão, lembrado de conversas fragmentadas que ela deixara escapar. Luke. O nome queimou em sua consciência, cada sílaba alimentando um ciúme tão profundo que o próprio sonho começou a tremer. As ruas de Nova York se distorceram, as cores desvanecendo para tons de cinza, o ar ficando pesado como se uma tempestade estivesse se formando.

Morpheus avançou no sonho como uma força da natureza, sua presença imponente e inevitável, e com um pensamento, ele fez Luke desaparecer.

Não apenas desaparecer — ele o destruiu, a figura do jovem se despedaçando em sombras escuras que se dissolveram no nada, um grito ecoando brevemente antes de ser silenciado. O caos se instalou no sonho, as outras figuras gritando, o pânico tomando conta enquanto o mundo ao redor dela desmoronava em escuridão.

Ela o notou então. Seus olhos se encontraram no meio do pesadelo que ele criara, e ele viu a semi-consciência brilhar neles, o reconhecimento misturado com medo.

Ela sabia que ele estava ali, sabia que isso não era apenas um sonho, mas uma manipulação, uma invasão. E, ainda assim, havia algo em seu olhar — uma rendição, um entendimento de que não havia como escapar dele, nem mesmo no reino dos sonhos.

Morpheus não se demorou no caos que criara. Com um gesto de sua vontade, ele moldou o sonho, arrancando-a daquele mundo que ele tanto desprezava e trazendo-a de volta para onde ela pertencia: ao lado dele, no Sonhar.

O cenário mudou, a escuridão dando lugar a um jardim vasto e etéreo, banhado por uma luz suave e irreal que parecia emanar de lugar nenhum e de todos os lugares ao mesmo tempo.

O jardim do Sonhar era um lugar de beleza impossível, com flores que brilhavam como estrelas e grama que parecia pulsar com vida própria.

No centro desse espaço, ele a viu, de pé, com um bebê em seus braços — um bebê que era a imagem exata dele, os olhos negros profundos mesmo na tenra idade, cabelos escuros caindo sobre a testa minúscula. E, visível sob o tecido leve de seu vestido, sua barriga estava inchada, marcando uma gravidez de cerca de cinco meses, um símbolo de sua ligação inquebrável com ele.

Ao redor dela, correndo e rindo com uma energia infantil e despreocupada, estavam seus outros filhos, Helena e Perseus, agora com a aparência de crianças de cerca de cinco anos.

Helena, com seus cabelos negros como os do pai, perseguia o irmão, que tinha os traços da mãe, mas os olhos de Morpheus, um brilho sombrio que contrastava com seu sorriso travesso. As risadas deles enchiam o ar, um som que deveria ser reconfortante, mas que, para ela, parecia carregar um peso, uma lembrança de que mesmo seus filhos eram moldados pela essência dele.

Ela suspirou, ainda atordoada pela transição abrupta do sonho anterior para este, o coração acelerado enquanto tentava se ancorar na nova realidade onírica.

Seus olhos passearam pelo jardim, pelos filhos, pelo bebê em seus braços, e finalmente pousaram na figura atrás dela. Morpheus estava lá, como sempre estivera, sua presença inevitável.

Ele se aproximou, os passos silenciosos sobre a grama, e ela viu o rosto dele — furioso, os olhos negros brilhando com uma raiva que parecia consumir até mesmo o tecido do sonho ao seu redor. O ciúme, a obsessão, a posse — tudo estava estampado em sua expressão, e ela sentiu um arrepio percorrer sua espinha, mesmo sabendo que isso era apenas um sonho. Ou talvez, justamente porque sabia que não era apenas um sonho.

Sem dizer nada, ela se aproximou dele, os braços ainda segurando o bebê, e o abraçou. O gesto foi hesitante, quase instintivo, como se soubesse que precisava acalmá-lo, que precisava aplacar aquela tempestade antes que se tornasse algo pior.

O contato pareceu surtir efeito. A raiva nos olhos dele se suavizou, embora não desaparecesse completamente, e ele retribuiu o abraço, os braços envolvendo-a com uma força que era tanto protetora quanto possessiva. O calor do corpo dele contra o dela era quase sufocante, mas havia um alívio nisso, uma segurança distorcida que ela não conseguia evitar sentir.

“Você está aqui comigo,” murmurou ele, a voz grave e carregada de algo que parecia alívio, mas também uma advertência. “É aqui que você pertence. Comigo. Com nossa família.”

Ela não respondeu, apenas assentiu contra o peito dele, o bebê ainda aninhado entre eles. Ele a soltou apenas o suficiente para guiá-la até a grama, sentando-se com ela ao seu lado, o bebê agora no colo dela enquanto ele estendia uma mão para acariciar sua barriga inchada no sonho. O toque era surpreendentemente gentil, os dedos traçando a curva com uma reverência que contrastava com a fúria de momentos antes. Ele observava Helena e Perseus correndo à distância, suas risadas ecoando pelo jardim, e então voltou o olhar para ela, os olhos ainda carregados de uma intensidade que a fazia engolir em seco.

“Eles são lindos, não são?” perguntou ele, a voz baixa, quase hipnótica. “Nossos filhos. Nossa família. Nada mais importa além disso.”

Ela assentiu novamente, os olhos fixos nas crianças, tentando se ancorar na visão delas, no som de suas risadas, em vez de na presença opressiva ao seu lado. Mas então ele inclinou a cabeça, os lábios roçando a têmpora dela em um beijo suave, quase terno, que enviou um arrepio por sua pele. “Você é minha,” sussurrou contra sua pele, cada palavra carregada de uma certeza inabalável. “E eu não permitirei que nada, nem ninguém, tire você de mim. Nem mesmo em seus sonhos.”

O peso daquelas palavras a atingiu como um golpe, e no mesmo instante, ela sentiu algo mudar, uma sensação de tontura que indicava que estava acordando.

O jardim do Sonhar começou a desvanecer, as cores se misturando em borrões, as risadas dos filhos se tornando ecos distantes. O rosto dele foi a última coisa que ela viu antes de abrir os olhos, de volta ao quarto escuro, deitada ao lado dele na cama, o lençol ainda envolvendo seus corpos.

Ele a observava, os olhos negros fixos nos dela, um brilho de satisfação misturado com algo mais sombrio, mais perigoso. Ele sabia o que ela sonhara. Sabia o que ele fizera. E, mais importante, sabia que ela também sabia.

Um sorriso lento curvou seus lábios enquanto ele se inclinava para depositar um beijo leve em sua testa, o gesto carinhoso, mas carregado de um significado que a fez estremecer.

“Dormiu bem?” perguntou ele, a voz suave, mas com um tom de provocação que a lembrou de que, no reino do Sonhar ou fora dele, ela nunca estaria verdadeiramente livre de sua influência.

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Após o beijo leve na testa, ele recuou apenas o suficiente para encará-la, os olhos negros brilhando com um misto de satisfação e algo mais profundo, mais sombrio.

Um sorriso lento curvou seus lábios enquanto ele perguntava, a voz grave e carregada de uma curiosidade quase perigosa: “Dormiu bem?”

Ela engoliu em seco, sentindo o peso daquele olhar sobre si, mas assentiu, murmurando um “Sim” baixo, quase hesitante. Sua respiração ainda estava levemente irregular, o corpo pesado contra o peito dele, mas seus olhos não conseguiram sustentar o contato por muito tempo, desviando para o lençol que os cobria.

Ele sorriu mais abertamente, um gesto que não alcançou os olhos, e inclinou a cabeça, o tom de voz suavizando, mas ainda carregado de intenção. “E gostou do sonho?”

Ela hesitou por um instante, os dedos apertando levemente o tecido sob sua mão antes de responder, a voz baixa. “Sonhei com você... e com filhos.”

Os olhos dele brilharam, um lampejo de aprovação cruzando sua expressão, mas então ele se inclinou mais para perto, o rosto a poucos centímetros do dela.

“E o anterior? Gostou daquele também?” perguntou, o sorriso se alargando de uma forma que fez arrepios percorrerem a espinha dela. Havia algo ali, uma ira contida, uma tempestade pronta para explodir, mesmo por trás da fachada de calma.

Ela sentiu o coração acelerar, o medo misturando-se com a necessidade de apaziguá-lo. Sem pensar muito, inclinou-se para frente, os lábios encontrando os dele em um beijo rápido, quase desesperado. Quando se afastou, sua voz saiu trêmula, mas firme o suficiente para tentar desviar o foco. “Isso não importa.”

Ele a encarou por um longo momento, os olhos escurecendo ainda mais, mas então um som baixo, quase um grunhido de satisfação, escapou de sua garganta. “Não importa onde você vá, ou quanto tempo demore... eu a encontrarei. Até mesmo nos seus sonhos,” disse ele, cada palavra carregada de uma certeza inabalável, um aviso que parecia gravado no Sonhar.

Ela não respondeu com palavras, apenas se aproximou mais, os braços o envolvendo em um abraço apertado, a cabeça repousando contra o peito dele.

Sentiu os músculos dele relaxarem sob seu toque, a raiva dele se dissipando, substituída por uma satisfação palpável. Ele descansou o queixo sobre a cabeça dela, os dedos deslizando por suas costas em um gesto possessivo, mas momentaneamente calmo.

“Vamos tomar banho,” murmurou ele após alguns instantes, a voz mais leve agora, quase como se estivesse oferecendo um momento de trégua. Sem esperar resposta, ele se levantou, puxando-a junto com ele, o lençol deslizando de seus corpos enquanto a guiava em direção ao banheiro anexo ao quarto.

A banheira imensa dominava o centro, já cheia de água fumegante, como se o próprio ambiente soubesse das intenções dele antes mesmo de chegarem.

Ele a guiou até a borda, ajudando-a a entrar antes de se juntar a ela, a água envolvendo seus corpos com um calor reconfortante que contrastava com a frieza de sua essência.

Ele se sentou atrás dela, puxando-a para que se encostasse em seu peito, as mãos deslizando pelos ombros dela, massageando levemente os músculos ainda tensos. “Está melhor agora?” perguntou, a voz rouca, os lábios roçando a nuca dela enquanto falava.

“Sim... um pouco,” respondeu ela, a voz baixa, quase um sussurro, enquanto fechava os olhos por um momento, deixando o calor da água e o toque dele aliviarem a dor persistente em seu corpo.

Ele deu um leve sorriso contra a pele dela, as mãos descendo para os braços dela, os dedos traçando padrões na pele molhada. “Você parece exausta. Vou tomar conta de você,” disse ele.

Ela apenas assentiu, deixando-o guiar os movimentos, enquanto ele começava a lavar a pele dela, os gestos gentis. “Você gosta disso, não é? De ser cuidada por mim,” comentou ele, o tom carregado de uma satisfação quase presunçosa.

“É... bom,” admitiu ela, hesitante, sentindo o rosto esquentar sob o olhar que sabia que ele tinha fixo nela, mesmo sem encará-lo.

Ele riu baixo, o som reverberando no espaço fechado, e inclinou-se para depositar um beijo leve no ombro dela. “Então deixe-me fazer mais por você.”

Após o banho, ele a ajudou a sair da banheira, envolvendo-a em uma toalha macia eantes de guiá-la de volta ao quarto.

Sem dizer muito, ele se dirigiu ao closet, Vestiu-se rapidamente, e deu a ela um vestido

 

Ela pegou o vestido, sentindo o tecido sedoso escorrer entre os dedos, e lançou um breve olhar a ele antes de começar a vesti-lo.

Ele se aproximou, as mãos ajustando o tecido sobre a pele dela com uma precisão calculada, os dedos roçando-a de forma intencional, marcando a cada toque.

“Você está impecável,” murmurou ele, a voz profunda, enquanto dava um passo atrás para admirá-la. Seus olhos negros, insondáveis como o vazio do Sonhar, fixaram-se nela com uma intensidade que a fez desviar o olhar. “Todos saberão a quem você pertence.”

“Parece com as suas roupas,” disse ela, a voz quase um sussurro, enquanto alisava o tecido sobre os quadris, tentando escapar do peso daquele olhar. O coração dela batia rápido.

Ele curvou os lábios num sorriso lento, inclinando a cabeça de leve. “Exatamente. Você carrega minha marca, em cada detalhe. Todos sabem isso.” Suas palavras carregavam, um lembrete de que ela estava irrevogavelmente ligada a ele, ao Senhor dos Sonhos.

Ela não respondeu, apenas sentiu o impacto da declaração enquanto ele a guiava até a penteadeira.

Sentou-se, pegando uma escova para deslizar pelos cabelos ainda úmidos do banho. Ele tomou assento ao lado dela, o corpo aparentemente relaxado, mas os olhos cravados no reflexo dela no espelho, como se pudesse decifrar cada pensamento que atravessava sua mente.

Quando terminou de arrumar os cabelos, deixou a escova de lado e virou-se para ele, os olhos encontrando os dele por um instante antes de vacilarem, tomados por uma hesitação familiar.

As mãos dela ficaram suspensas no ar por um momento, o coração acelerado com a tensão que sempre acompanhava a proximidade dele. Ainda assim, algo a impulsionou a seguir adiante. Lentamente, seus dedos tocaram o cabelo molhado dele, rearrumando uma mecha que caía sobre a testa, o gesto tímido, quase temeroso.

Ele inclinou a cabeça de leve, uma faísca de surpresa cruzando sua expressão normalmente impassível. Era raro que ela tomasse a iniciativa, que ousasse tocá-lo sem ser guiada por ele. Seus olhos se estreitaram por um segundo, mas logo um brilho de pura satisfação tomou conta deles, uma realização que parecia iluminá-lo por dentro. “Você está me tocando esposa,” disse ele, a voz grave, quase um ronronar de contentamento. “Por vontade própria. Isso significa que está se entregando a mim, não é? Que aceita plenamente o lugar ao meu lado.”

Ela engoliu em seco, as mãos tremendo por um instante antes de continuarem a ajustar o cabelo dele, evitando encará-lo enquanto o medo ainda apertava seu peito. “Eu... só pensei que precisava ajeitar isso,” murmurou, a voz tão baixa que mal se fez ouvir.

Ele soltou uma risada profunda, o som ecoando com uma alegria sombria. “Não finja comigo. Você quer estar perto de mim. E eu farei com que nunca deseje estar em outro lugar.” Ele capturou a mão dela, levando-a aos lábios para um beijo que parecia tanto uma promessa quanto uma reivindicação, os olhos nunca deixando os dela. “Continue. Toque-me quanto quiser. Estou aqui para você, como você está para mim.”

Ela hesitou, mas prosseguiu por mais alguns instantes, os dedos deslizando pelas mechas úmidas antes de finalmente baixarem as mãos. “Quero ver os nossos filhos,” disse, mudando o foco, a voz carregada de um anseio.

Ele assentiu de imediato, levantando-se e estendendo a mão com uma autoridade que não admitia recusa. “Vamos até eles.” Assim que os dedos dela tocaram os dele, uma nuvem de areia escura os envolveu, o Sonhar se moldando ao desejo dele.

O mundo ao redor dissolveu-se num turbilhão, e quando cessou, estavam em outro aposento, um espaço sereno envolto em uma luz suave e etérea, onde dois berços repousavam no centro. Mathew, vigiava os pequenos. Ao perceber a chegada deles, ele inclinou a cabeça em respeito. “Senhor. Senhora.”

“Obrigada por cuidar deles, Mathew,” disse ela, a gratidão genuína na voz enquanto o corvo batia as asas brevemente antes de se retirar deixando-os a sós.

Ela caminhou em direção aos berços, os passos leves como se temesse romper a quietude. Seus olhos suavizaram-se ao observar os bebês, seus rostos tranquilos envoltos em mantas delicadas.

Seus dedos roçaram a bochecha do perseu, a pele tão macia que parecia quase irreal. “Nunca vi crianças tão doces e quietas como eles,” sussurrou, a emoção transbordando em sua voz enquanto os encarava com um amor que parecia consumir cada canto de seu ser.

Morpheus aproximou-se, posicionando-se ao lado dela, a mão repousando na curva de suas costas com uma firmeza que a ancorava a ele.

“Eles são perfeitos, assim como você,” murmurou, a voz baixa, carregada de uma reverência que só ele poderia expressar. “Meus sonhos mais preciosos, todos aqui, ao meu alcance.” Seus olhos brilharam com uma intensidade, um lembrete de que ela e os filhos estavam sob seu domínio absoluto.

Ela o olhou por um instante, antes de voltar a atenção para os bebês, inclinando-se para depositar um beijo leve na testa de cada um, buscando consolo na presença deles.

 

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Eles ficaram sentados por alguns minutos, envoltos na quietude do quarto, os olhos fixos nos bebês que descansavam nos berços.

A luz do Sonhar dançava suavemente pelo ambiente, lançando sombras delicadas sobre os rostinhos tranquilos.

O silêncio era quase palpável, interrompido apenas pelo som suave da respiração dos pequenos.De repente, um barulhinho agudo cortou o ar.

Helena, com seus olhinhos brilhantes abertos, olhou diretamente para a mãe, erguendo as mãozinhas minúsculas em sua direção, emitindo gorgolejos animados.

Ela sorriu, um calor genuíno se espalhando pelo peito enquanto se levantava e se aproximava do berço. "Oi, minha pequena," sussurrou, pegando a filha no colo com um cuidado. Helena riu, um som doce que parecia iluminar o espaço, e ela a segurou mais perto, balançando-a suavemente. "Você acordou tão animada hoje."

Morpheus aproximou-se, seu corpo uma presença imponente ao lado delas. Ele estendeu a mão, os dedos longos e pálidos deslizando pelas mechas finas de cabelo de Helena, um toque delicado que contrastava com a intensidade de seus olhos. "Ela é perfeita," murmurou, a voz grave carregada de uma satisfação profunda. "Assim como a mãe dela."

Ela sentiu um arrepio com aquelas palavras, mas manteve o foco na filha, sorrindo enquanto Helena agarrava seu dedo com força surpreendente.

Logo, sentou-se novamente, ajustando a posição para amamentar a pequena. Helena se aninhou contra ela, os barulhinhos satisfeitos enchendo o ar enquanto começava a mamar.

Do outro berço, um leve choramingo ecoou. Perseu havia acordado, seus olhinhos curiosos procurando ao redor.

Morpheus foi até ele com uma rapidez quase instintiva, pegando o filho no colo com uma segurança que parecia natural.

O bebê sorriu ao ver o pai, um sorriso banguela e puro que suavizou a expressão normalmente impassível do Senhor dos Sonhos.

"Traga-o aqui," disse ela, a voz suave, mas com uma urgência maternal. "Quero alimentá-lo também."

Morpheus obedeceu sem hesitação, entregando Perseu a ela com um cuidado calculado. Quando Helena terminou, eles trocaram os bebês.

Ela acomodou Perseu para amamentá-lo, enquanto Morpheus segurou Helena com um braço, levantando-se e caminhando até uma prateleira próxima.

Ele pegou um ursinho de pelúcia em forma de corvo, com olhos negros brilhantes, e o balançou na frente da filha. Helena gargalhou, estendendo as mãozinhas para tentar agarrá-lo, os olhos cheios de fascínio.

"Veja como ela é determinada," falou ele, um sorriso curvando seus lábios enquanto movia o brinquedo fora do alcance dela, só para vê-la rir de novo.

Enquanto isso, ela observava Perseu mamar, mas seus olhos começaram a vagar pelo quarto, notando detalhes que antes haviam escapado.

O espaço era vasto, em sua perfeição, com prateleiras cheias de bichinhos de pelúcia, berços ornamentados, um cercadinho delicado e até um pequeno closet embutido com portas entalhadas. Tudo parecia cuidadosamente pensado, cada canto imbuído de uma estética que refletia o Sonhar – e, inevitavelmente, a influência de Morpheus.

Ele percebeu o olhar dela explorando o ambiente e virou-se, ainda segurando Helena e o ursinho. "Gostou do quarto dos nossos filhos?" perguntou, a voz carregada de uma curiosidade satisfeita, como se já soubesse a resposta.

Ela assentiu, os lábios se curvando num leve sorriso enquanto Perseu ainda mamava. "É... lindo. Tudo aqui é tão detalhado. Os bichinhos, os móveis... parece um sonho dentro do Sonhar."

"E é," respondeu ele, os olhos brilhando com um orgulho sombrio. "Tudo aqui foi moldado para eles. E para você."

Ela não respondeu de imediato, apenas levantou-se com Perseu ainda no colo, caminhando até uma das prateleiras.

Pegou um ursinho de pelúcia em forma de coelho, o tecido macio entre seus dedos, e o aproximou do filho. A atenção de Perseu desviou-se instantaneamente do peito dela para o brinquedo, os olhinhos brilhando enquanto ele largava de mamar para tentar pegá-lo.

Ela riu baixo, um som suave, e caminhou até Morpheus, sentando-se ao lado dele.

"Ele gostou desse coelho," disse ela, balançando o ursinho na frente de Perseu, que gargalhava, as mãozinhas se agitando no ar.

Morpheus observou a cena, um brilho de contentamento em seus olhos enquanto Helena ainda tentava pegar o corvo de pelúcia em suas mãos. "Ele tem bom gosto," comentou, a voz grave, mas com um leve toque de diversão. "Embora eu ache que o corvo seja mais... apropriado para os herdeiros do Sonhar."

Ela ergueu uma sobrancelha, um leve sorriso brincando em seus lábios, mesmo com o peso constante do medo em seu peito. "Talvez. Mas um coelho também tem seu charme, não acha?"

Ele inclinou a cabeça, como se considerasse a ideia, o olhar fixo nela com uma intensidade que a fez desviar os olhos por um momento. "Se você diz, então deve ser verdade," respondeu.

Após um breve silêncio, ela falou novamente, a voz mais hesitante. "Onde estão os presentes que eles ganharam na festa? Gostaria de vê-los."

Morpheus assentiu, como se já esperasse a pergunta. "Lucienne os guardou em uma sala próxima. Podemos ir até lá quando estiver pronta."

"Quero vê-los agora," disse ela, o tom firme, mas ainda carregado de uma cautela ao falar com ele. "Mas primeiro, vou dar banho neles e trocá-los."

Ele não contestou, apenas levantou-se, ainda segurando Helena. "Vamos, então."

Juntos, eles caminharam até um banheiro adjacente, um espaço com uma banheira pequena, perfeitamente adaptada para os bebês, com detalhes de estrelas e luas entalhados nas bordas.

Ela começou a preparar a água, testando a temperatura com cuidado, enquanto Morpheus segurava Helena, observando-a com atenção.

Como mãe de primeira viagem, seus movimentos eram um pouco inseguros, e ele percebeu isso. Sem uma palavra, ele se aproximou, ajudando-a a ajustar a posição de Perseu enquanto ela o despia para o banho.

"Assim," murmurou ele, a mão guiando a dela com uma firmeza calma enquanto mergulhavam Perseu na água morna. O bebê riu, batendo as mãozinhas na água, espirrando gotículas que fizeram ela sorrir.

"Obrigada," disse ela, a voz baixa, quase inaudível, enquanto lavava Perseu com cuidado.

Ele apenas assentiu, pegando Helena, enquanto ela terminava com Perseu. Juntos, banharam os dois, os sons de risadas infantis enchendo o espaço. Quando terminaram, ela os enrolou em toalhas macias, levando-os de volta ao quarto.

"Vou pegar roupas para eles," disse, caminhando até o closet. Ao abrir as portas, notou que a maioria das roupas tinha tons escuros – preto dominava, com algumas peças em azul profundo e roxo.

Para Helena, ela escolheu um vestidinho azul delicado, com bordados sutis, e sapatinhos pretos. Para Perseu, pegou um conjunto preto simples, mas charmoso, com sapatinhos da mesma cor. Carregando as roupas, voltou até Morpheus, que já havia colocado as fraldas nos dois.

Enquanto vestiam os bebês juntos, com ele a auxiliando a ajustar as pequenas peças, ela falou, um tom leve, quase brincalhão, mas ainda com um pouco de cautela. "Sabe, eles precisam de um pouco mais de cor nas roupas. Especialmente Perseu. Ele não pode viver só de preto como o pai."

Morpheus ergueu o olhar para ela, um sorriso lento e sombrio curvando seus lábios enquanto terminava de ajustar o sapatinho de Helena. "Acha que o preto não combina com ele?, a cor do mistério. Ele é meu herdeiro."

Ela soltou uma risada baixa, quase nervosa, enquanto abotoava o conjunto de Perseu. "Sim, mas um pouco de verde, ou talvez amarelo, não faria mal. Ele não precisa parecer um mini Senhor dos Sonhos o tempo todo."

Ele inclinou a cabeça, os olhos brilhando com uma diversão enquanto pegava Helena no colo, já vestida. "Talvez eu permita uma ou duas cores. Mas só porque você pediu."

Ela segurou Perseu, agora vestido, e o aninhou contra o peito, sentindo o peso reconfortante do filho "Vamos ver os presentes agora?" perguntou, a voz suave, buscando manter o momento leve.

"Sim," respondeu ele, a mão repousando nas costas dela com aquela firmeza familiar, enquanto segurava Helena no outro braço. "Vamos."

 

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Eles caminharam pelo Sonhar, a presença de Morpheus guiando-a enquanto carregavam os bebês, até chegarem a uma sala

No centro, uma mesa longa exibia uma pilha de presentes meticulosamente organizados, separados com etiquetas e embrulhos que variavam de dourado reluzente a tons terrosos e marinhos.

Ela percebeu de imediato que Lucienne, sempre eficiente, provavelmente havia cuidado da arrumação.

Olhando para a mesa, seus olhos brilharam ao reconhecer os nomes nas etiquetas – membros do seu panteão. "Quero abrir esses primeiro," disse, apontando para os presentes com os nomes de Afrodite, Ares, Hermes, Zeus, Dionísio, Deméter, Ártemis, Hefesto e, claro, o de seu pai, Poseidon. Sua voz tinha um toque de nostalgia misturada com curiosidade.

Morpheus assentiu, o rosto impassível, mas com um brilho de resignação nos olhos negros. Com um leve gesto de sua mão, a areia do Sonhar se moldou em um berço temporário. Ele colocou Helena e Perseu ali, os bebês gorgolejando contentes enquanto se acomodavam. "Prossiga," murmurou, a voz grave, posicionando-se ao lado dela com os braços cruzados, observando-a com sua intensidade habitual.

Ela pegou o primeiro presente, de Afrodite, desembrulhando o tecido rosa-pérola para revelar um par de pulseiras minúsculas de ouro, incrustadas com pequenas pedras que brilhavam como lágrimas de orvalho. Junto, havia uma carta escrita em caligrafia elegante. Ela a abriu e leu em voz alta, um sorriso se formando enquanto as palavras ecoavam.

 

"Minha querida briely,
Parabéns pelo nascimento dos seus pequenos. Que eles herdem sua luz e beleza, e que cresçam sob os melhores ventos do destino. Quanto ao Senhor dos Sonhos, bem, parabéns a ele também, suponho – embora deva admitir que fomos pegos de surpresa com o convite de última hora. Espero que ele aprenda a nos avisar com mais antecedência da próxima vez. Com amor eterno,
Afrodite."

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Ela soltou uma risada baixa, o som escapando antes que pudesse contê-lo, enquanto olhava para Morpheus. Ele ergueu uma sobrancelha, a expressão endurecendo, claramente pouco satisfeito com o tom da carta. "Eles têm coragem de sobra para escreverem isso," murmurou, a voz gélida, mas ela apenas riu mais, achando graça na indignação dele.

"Não leve tão a sério," disse ela, ainda sorrindo, enquanto pegava o presente de Ares – um par de pequenos escudos decorativos, gravados com símbolos de força. A carta acompanhava o mesmo tom.

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"Prima amada,
Seus filhos são uma bênção, e espero que sejam tão ferozes quanto nossa linhagem. Parabéns, e ao seu... esposo, também, embora tenha sido um choque receber um convite tão apressado. Ele acha que somos guerreiros que marcham sem planejamento? De qualquer forma, meus melhores desejos.
Ares."

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A cada carta que ela lia, o desdém sutil por Morpheus ficava mais evidente, e suas risadas se tornaram impossíveis de conter.

As mensagens de Hermes traziam brincadeiras sobre a " lentidão onírica" de avisar os outros, enquanto Zeus, com sua habitual arrogância, parabenizava-a efusivamente, mas mal mencionava Morpheus além de um "parabéns relutante".

Dionísio enviou pequenos vasos de vinho doce para os pais, com um bilhete sugerindo que o Senhor dos Sonhos precisava "beber mais para relaxar e avisar as pessoas com tempo". Deméter ofereceu sementes encantadas para plantar no Sonhar, com um comentário ácido sobre a "pressa indelicada" do convite.

Ártemis enviou arcos minúsculos como enfeites, parabenizando os bebês, mas alfinetando que esperava "melhor organização na próxima celebração". Hefesto presenteou com brinquedos forjados de metal leve, sua carta igualmente mordaz sobre o aviso tardio.

Finalmente, o presente do seu pai, era um par de conchas que ecoavam o som do mar, com uma carta mais afetuosa, mas ainda carregada de desdém.

 

"Minha filha querida,
Seus filhos são a luz do oceano, e meu coração se enche de orgulho por você. Que eles cresçam fortes como as marés. Ao Senhor dos Sonhos, meus parabéns... acho. Embora, devo dizer, um aviso com antecedência teria sido mais digno de um rei como ele se diz ser. Com todo meu amor,
Poseidon."

 

Ela riu alto dessa vez, cobrindo a boca enquanto os olhos de Morpheus se estreitavam, o rosto uma máscara de irritação contida. "Eles realmente não gostam de você, não é?" provocou ela.

"Não me importo com a opinião deles," respondeu ele, a voz cortante como a borda de um sonho sombrio. "Mas parece que você está se divertindo com isso."

"Um pouco," admitiu ela, dando de ombros enquanto colocava as cartas de lado e examinava os presentes com um sorriso. "Mas eles adoram os bebês. Isso é o que importa."

Depois de esgotar os presentes do seu panteão, ela notou outra pilha menor, embrulhada em estilos que não reconhecia – tons de vermelho flamejante, preto profundo e dourado ofuscante, com nomes que não lhe eram familiares: Anúbis, Kali, Quetzalcóatl e outros que ela nunca havia encontrado. Franzindo a testa, virou-se para Morpheus. "De quem são esses? Não os convidamos para a festa."

Ele olhou para os presentes, um leve brilho de reconhecimento cruzando seus olhos. "Deuses de outros panteões," explicou, a voz neutra, mas com um toque de conhecimento que ela não possuía. "Eles sabem da existência dos meus herdeiros e enviaram tributos, mesmo sem convite. É... costume em alguns reinos reconhecer nascimentos de seres como os nossos filhos."

"E você os conhece?" perguntou ela, pegando um dos embrulhos – um pequeno amuleto de obsidiana com gravuras estranhas, de Kali, segundo a etiqueta.

"Sim," respondeu ele, o tom fechado, como se não quisesse se aprofundar. "Já cruzei caminhos com eles em eras passadas. Não os convidei porque não vejo necessidade de envolver todos os reinos no nascimento dos meus filhos. Mas aceito os presentes como cortesia."

Ela assentiu, ainda curiosa, mas decidiu não pressionar. Pôs o amuleto de volta na mesa, voltando a atenção para Helena e Perseu, que brincavam no berço conjurado. "Eles gostarão de todos esses presentes um dia," murmurou, mais para si mesma, enquanto um sorriso suave cruzava seu rosto.

Morpheus aproximou-se, a mão repousando nas costas dela com aquela firmeza familiar que sempre a ancorava a ele. "Eles terão tudo o que o Sonhar pode oferecer," disse, a voz baixa, mas carregada de uma promessa inabalável. "Assim como você."

Ela sentiu o peso daquelas palavras, mas apenas acenou em silêncio, os olhos fixos nos filhos enquanto tentava ancorar-se na paz daquele momento.

Notes:

A reunião dos perpétuos no próximo capítulo ✧⁠◝⁠(⁠⁰⁠▿⁠⁰⁠)⁠◜⁠✧,